J'accuse é um filme escrito e dirigido por Abel Gance em 1919 enquanto o sangue dos combatentes das batalhas ainda estava quente e o povo francês se perguntava qual o sentido daquela carnificina que havia sepultado a humanidade. Gance narra uma história que não perde a poesia devido a uma guerra feita por uma humanidade traída por si mesma. Um grande discurso sobre a Grande Guerra, com uma clareza extraordinária, opondo o brilho do mar e o sol da Provença ao sangrento cinza de de Verdun. Gance sabia que a guerra traía a poesia, e como dostoiévskiano, sabia que só a beleza poderia salvar o mundo, pois a guerra não é poesia. Poesia é a fuga da guerra, e quando esta se cala ouve-se somente os gritos de uma humanidade perdida.
Luchino Visconti consegue conciliar uma visão crítica da história com melodrama, mas com muita clareza racional e ainda se valendo de Il trovatore, do Verdi. Sem contar essa vocação para expor a decadência e os ideais progressistas.
Em Mekong Hotel, o diretor Apichatpong Weerasethakul compõe uma balada melancólica nas margens do rio que atravessa a história de dois países em conflito. O filme tem o som melancólico de uma melodia sussurrada com delicadeza por um violão que com o tempo perdeu algumas notas. É emocionante em sua implacabilidade, ao confrontar-se com a dimensão "real", com a História e com o presente em um complexo imaginário.
Discurso muito coerente sobre a intolerância, a discriminação, a ignorância e a superstição. Dreyer domina a complexa estrutura narrativa estendendo-a pra uma reflexão "Kierkegaardiana" sobre a condição existencial do ser humano.
Cruel, deliberadamente chocante e magnificamente fotografado, Häxan tem um poder incrível em termos de comparação no dias de hoje. Se crenças e crendices medievais atualmente parecem tão fora da nossa realidade, como serão vistas as nossas em seiscentos anos?
Ao som de do primeiro ato de La Traviata, de Giuseppe Verdi, a morte nunca soou tão atroz e sublime como no filme de estreia do diretor italiano Marco Bellocchio. Uma obra que, apresar de flertar com as nouvelles vagues européia e americana do período, concentra toda sua eficácia nas novidades das escolhas estilísticas do diretor, capazes de enterrar o passado com uma mise-en-scène desvinculada dos dogmas cinematográficos e através da veemência com que o diretor trata de temas “delicados” como relações familiares e doença física e mental.
Obra prima pouco conhecida do cinema mudo, este filme de 1926, nasceu da convergência de importantes personalidades artísticas da época. A primeira delas é o diretor Teinosuke Kinugasa, com seu passado de ator de teatro. Nos anos vinte, Teinosuke decidiu então passar para trás das câmeras, fundando uma produtora independente e tornando-se assim o primeiro cineasta japonês de avant-garde.
Jia Zhangke é hoje um dos nomes mais importantes e respeitados do novo cinema asiático, em atividade desde 1997, ano de estreia de seu primeiro longa metragem bressoniano Xiao Wu. Com Sanxia haoren (Still Life em inglês e Em Busca da Vida em português), o cineasta conseguiu, enfim, o reconhecimento internacional. Em concurso no Festival de Veneza em 2006, muitos o esnobaram e as exibições do filme ficaram com o horário de menos prestígio, às vinte e três horas. Mas felizmente não pelos jurados, que sabiamente o premiaram com o Leão de Ouro e Sanxia haoren, até então pouco comentado, se tornou a grande surpresa do festival.
Uma espécie de kammerspiel que foi indicado pelos críticos e cineastas da Nouvelle Vague como um de seus precursores. Melville arcou com as despesas e o produziu na casa onde Vercors escreveu a novela homônima, um dos símbolos da resistência à ocupação alemã. Pouco a pouco os monólogos do oficial vão se tornando tão delirantes quanto sua ideia de um "casamento" entre Alemanha e França através da guerra e a invasão.
Contra as proclamações do cinema gritado de hoje, Uzak sussurra com força a sua mensagem, mostrando a verdadeira dimensão do indescritível com uma sutil e irônica melancolia, revelando a fragilidade de dois homens incapazes de cruzar o perímetro da inação que construíram ao redor de si, preferindo a incerteza de uma solidão autossuficiente.
Cenários reais, ausência de acompanhamento musical, tomadas em ordem cronológica, roteiro limitado à descrição detalhada das cenas e personagens, diálogos confiados à inspiração dos intérpretes. É o método de Ulrich Seidl, cineasta sui generis adorado por Werner Herzog, que através deste modelo se dedicou à produção de uma trilogia inspirada no tema da felicidade, aos vários caminhos diferentes pelos quais os indivíduos buscam seu paraíso pessoal.
The Lady Vanishes é ambientado em contexto histórico e político bem preciso: a iminência da Segunda Guerra com suas ameaças e ambiguidades. Os obstáculos que a protagonista tem que superar, que nutrem todo o suspense do filme, são também motivos para denunciar a indiferença, o egoísmo e a estupidez da natureza humana em geral, mas acima de tudo a britânica.
Último filme da dupla Carné-Prévert que funde a mitologia do ambiente do Prévert com um ambiente social e historicamente bem definido como o do pós-guerra. Não é dos melhores, mas definitivamente um filme que só poderia ter sido dirigido por Marcel Carné. O papel de Malou originalmente foi previsto para Marlene Dietrich e o de Jean Diego para Jean Gabin, mas "Les feuilles mortes" acabou, indissoluvelmente, ligada ao nome de Yves Montand.
Na linguagem dos especialistas, “the angels’ share” ou “a parte dos anjos”, é aquele percentual do precioso whisky que se dissolve no ar no momento da abertura dos barris, marcando o nascimento de uma bebida que é fruto de um minucioso trabalho de anos de envelhecimento. Assim Ken Loach voltou a pisar em seu familiar tapete vermelho da Croisette, com uma comédia, gênero que o diretor afirmou ter escolhido em contraposição à estória que queria contar: uma estória em que o drama da desocupação juvenil implica no próprio reverso da medalha, feito de sonhos e expectativas, muita energia e desejo de redenção.
Um Assunto de Mulheres
4.2 77Uma análise impiedosa da França de Philippe Pétain.
Eu Acuso!
4.3 4J'accuse é um filme escrito e dirigido por Abel Gance em 1919 enquanto o sangue dos combatentes das batalhas ainda estava quente e o povo francês se perguntava qual o sentido daquela carnificina que havia sepultado a humanidade. Gance narra uma história que não perde a poesia devido a uma guerra feita por uma humanidade traída por si mesma. Um grande discurso sobre a Grande Guerra, com uma clareza extraordinária, opondo o brilho do mar e o sol da Provença ao sangrento cinza de de Verdun. Gance sabia que a guerra traía a poesia, e como dostoiévskiano, sabia que só a beleza poderia salvar o mundo, pois a guerra não é poesia. Poesia é a fuga da guerra, e quando esta se cala ouve-se somente os gritos de uma humanidade perdida.
Sedução da Carne
3.9 22Luchino Visconti consegue conciliar uma visão crítica da história com melodrama, mas com muita clareza racional e ainda se valendo de Il trovatore, do Verdi. Sem contar essa vocação para expor a decadência e os ideais progressistas.
Anjo
4.2 20A mais dramática e dolorida das comédias sofisticadas do Lubitsch que já assisti. Talvez a mais melancólica...
Mekong Hotel
3.3 22Em Mekong Hotel, o diretor Apichatpong Weerasethakul compõe uma balada melancólica nas margens do rio que atravessa a história de dois países em conflito. O filme tem o som melancólico de uma melodia sussurrada com delicadeza por um violão que com o tempo perdeu algumas notas. É emocionante em sua implacabilidade, ao confrontar-se com a dimensão "real", com a História e com o presente em um complexo imaginário.
O Contrato do Amor
3.6 10Um excelente ensaio crítico sobre o direito de propriedade como motor da vida social. Congruência das partes com o todo extremamente bem calculada.
Os Estigmatizados/ Amai-vos uns aos Outros
3.2 7Discurso muito coerente sobre a intolerância, a discriminação, a ignorância e a superstição. Dreyer domina a complexa estrutura narrativa estendendo-a pra uma reflexão "Kierkegaardiana" sobre a condição existencial do ser humano.
Haxan: A Feitiçaria Através dos Tempos
4.2 182 Assista AgoraCruel, deliberadamente chocante e magnificamente fotografado, Häxan tem um poder incrível em termos de comparação no dias de hoje. Se crenças e crendices medievais atualmente parecem tão fora da nossa realidade, como serão vistas as nossas em seiscentos anos?
Vítimas da Tormenta
4.4 47A questão social não parte de uma fator ideológico, mas humano.
Golias e o Dragão
2.9 6 Assista AgoraVale pelo urso mais fake da história do cinema.
Páginas do Livro de Satã
3.6 8Dreyer deu uma deslizadinha no episódio da Revolução Francesa, mas nada que estrague a obra.
De Punhos Cerrados
4.1 33 Assista AgoraAo som de do primeiro ato de La Traviata, de Giuseppe Verdi, a morte nunca soou tão atroz e sublime como no filme de estreia do diretor italiano Marco Bellocchio. Uma obra que, apresar de flertar com as nouvelles vagues européia e americana do período, concentra toda sua eficácia nas novidades das escolhas estilísticas do diretor, capazes de enterrar o passado com uma mise-en-scène desvinculada dos dogmas cinematográficos e através da veemência com que o diretor trata de temas “delicados” como relações familiares e doença física e mental.
Obsessão
3.9 32 Assista AgoraUma das estreias mais estrondosas e autorais de um diretor na história do cinema italiano.
A Revolução Dos Bichos
3.8 111Que final porco...
Uma Página de Loucura
4.1 46 Assista AgoraObra prima pouco conhecida do cinema mudo, este filme de 1926, nasceu da convergência de importantes personalidades artísticas da época. A primeira delas é o diretor Teinosuke Kinugasa, com seu passado de ator de teatro. Nos anos vinte, Teinosuke decidiu então passar para trás das câmeras, fundando uma produtora independente e tornando-se assim o primeiro cineasta japonês de avant-garde.
Em Busca da Vida
3.9 34Jia Zhangke é hoje um dos nomes mais importantes e respeitados do novo cinema asiático, em atividade desde 1997, ano de estreia de seu primeiro longa metragem bressoniano Xiao Wu. Com Sanxia haoren (Still Life em inglês e Em Busca da Vida em português), o cineasta conseguiu, enfim, o reconhecimento internacional. Em concurso no Festival de Veneza em 2006, muitos o esnobaram e as exibições do filme ficaram com o horário de menos prestígio, às vinte e três horas. Mas felizmente não pelos jurados, que sabiamente o premiaram com o Leão de Ouro e Sanxia haoren, até então pouco comentado, se tornou a grande surpresa do festival.
A Turba
4.3 24The Crowd se destaca muito do cinema hollywoodiano do período, principalmente pela influência do cinema europeu, em especial o do Murnau.
Flor Seca
4.0 15Uso memorável de música do Purcell durante a cena do assassinato, quase sublima a corporalidade crua das imagens.
O Silêncio do Mar
4.0 16Uma espécie de kammerspiel que foi indicado pelos críticos e cineastas da Nouvelle Vague como um de seus precursores. Melville arcou com as despesas e o produziu na casa onde Vercors escreveu a novela homônima, um dos símbolos da resistência à ocupação alemã. Pouco a pouco os monólogos do oficial vão se tornando tão delirantes quanto sua ideia de um "casamento" entre Alemanha e França através da guerra e a invasão.
Distante
3.7 32Contra as proclamações do cinema gritado de hoje, Uzak sussurra com força a sua mensagem, mostrando a verdadeira dimensão do indescritível com uma sutil e irônica melancolia, revelando a fragilidade de dois homens incapazes de cruzar o perímetro da inação que construíram ao redor de si, preferindo a incerteza de uma solidão autossuficiente.
Paraíso: Amor
3.8 70 Assista AgoraCenários reais, ausência de acompanhamento musical, tomadas em ordem cronológica, roteiro limitado à descrição detalhada das cenas e personagens, diálogos confiados à inspiração dos intérpretes. É o método de Ulrich Seidl, cineasta sui generis adorado por Werner Herzog, que através deste modelo se dedicou à produção de uma trilogia inspirada no tema da felicidade, aos vários caminhos diferentes pelos quais os indivíduos buscam seu paraíso pessoal.
A Dama Oculta
4.0 142 Assista AgoraThe Lady Vanishes é ambientado em contexto histórico e político bem preciso: a iminência da Segunda Guerra com suas ameaças e ambiguidades. Os obstáculos que a protagonista tem que superar, que nutrem todo o suspense do filme, são também motivos para denunciar a indiferença, o egoísmo e a estupidez da natureza humana em geral, mas acima de tudo a britânica.
Portas da Noite
3.6 4 Assista AgoraÚltimo filme da dupla Carné-Prévert que funde a mitologia do ambiente do Prévert com um ambiente social e historicamente bem definido como o do pós-guerra. Não é dos melhores, mas definitivamente um filme que só poderia ter sido dirigido por Marcel Carné. O papel de Malou originalmente foi previsto para Marlene Dietrich e o de Jean Diego para Jean Gabin, mas "Les feuilles mortes" acabou, indissoluvelmente, ligada ao nome de Yves Montand.
A Parte dos Anjos
3.5 98 Assista AgoraNa linguagem dos especialistas, “the angels’ share” ou “a parte dos anjos”, é aquele percentual do precioso whisky que se dissolve no ar no momento da abertura dos barris, marcando o nascimento de uma bebida que é fruto de um minucioso trabalho de anos de envelhecimento. Assim Ken Loach voltou a pisar em seu familiar tapete vermelho da Croisette, com uma comédia, gênero que o diretor afirmou ter escolhido em contraposição à estória que queria contar: uma estória em que o drama da desocupação juvenil implica no próprio reverso da medalha, feito de sonhos e expectativas, muita energia e desejo de redenção.