Dirigido magistralmente e interpretado por um quinteto de classe, Providence é um filme impenetrável, genial e fascinante, como um labiríntico jogo de espelhos em que os fantasmas da imaginação (e do inconsciente) convivem lado a lado com os personagens reais.
Godard é sempre Godard. Sempre experimentando, sempre à procura, sempre incapaz de dar limites ao próprio ego. Mas é também igualmente capaz de oferecer momentos de pura poesia visual. Páginas em branco transformadas em imagens poéticas, qualitativamente perfeitas, pintadas como se realmente saíssem de um quadro impressionista, onde as cores asseguram a sobrevivência da memória.
Nas mãos de Mungiu, a dicotomia bem/mal se estilhaça em uma confusão de interpretações internas e externas à estória (por parte dos próprios personagens e por parte do espectador) e inversões do próprio sentido: ninguém é totalmente culpado, ninguém é totalmente inocente, nem mesmo as vítimas, sobre as quais recai o peso de um cruel determinismo social. As boas intenções se transformam (por ignorância ou má fé?) em ações criminosas. Amor terreno e fé em Deus bebem do mesmo veneno.
O verdadeiro sentido de Koridorius está do lado de fora daquelas paredes, daquelas janelas quebradas, lar do pequeno vândalo que aponta seu rifle que não atira mais, lar de pensamentos daqueles que não conseguem mais se lembrar nem amar. Ninguém fala porque não há conteúdo a ser expresso, a realidade existe simplesmente porque a vida ainda não acabou, os corpos ainda estão de pé porque há um pouco de energia a ser consumida. Com este filme, Sharunas Bartas retoma a poética reflexiva de Trys Dienos, para convertê-la em uma forma original de realismo artístico: uma visão quase musical, que marca o tempo mentalmente, com um ritmo apático e sonolento que faz da inutilidade poesia.
Sang-soo Hong se nutre de ações cotidianas confrontadas com um fluxo narrativo em que o surreal se mistura com o onírico e o real, oferecendo à casualidade dos eventos o espaço para impor sua presença em uma dimensão na qual o desdobramento do eventos não segue uma ordem cronológica, mas uma alternância de situações que nos impede de atribuir um antes ou um depois. Se valendo com grande rigor desse estilo de contar estórias, Book chon bang hyang gera um forte sentimento de perda existencial, mas ao mesmo tempo que cria uma linha de pensamento que constitui a própria razão.
A relação do cidadão com o sistema burocrático soviético em uma viagem (física e existencial) envolta por uma espontaneidade genuína e uma poética melancólica que equilibra os dramas pessoais e coletivos com leves e refinados toques de ironia. Intimista e atenta ao estudo dos personagens que animam a película, Larisa Shepitko descreve adequadamente todos os mecanismos humanos (incluindo suas contradições) que levam um indivíduo a começar uma nova vida. O resultado é louvável.
Iko Shashvi Mgalobeli tem o mérito de ser moldado não só no comportamento, mas no ritmo de seu personagem (em parte autobiográfico), seguido pela câmera em suas idas e vindas com uma fluência tão casual que demonstra todo o poder da observação.
Talvez a parceria entre Armand Salacrou e René Clair peque pelo desequilíbrio entre o ceticismo do intelectual e o lirismo do poeta. Um filme inteligente e interessante, mas sem alma.
Imagens grotescas, trechos documentais, música de Bach, imagens surreais, música de Vivaldi, testemunhos e testemunhas interessados e desinteressados. Mais que um documentário sobre um tirano acusado de crimes hediondos (até mesmo de canibalismo), Ecos de um Reino Sombrio é um estudo sobre a natureza do poder despótico, sobre a instabilidade, a mentira e os horrores da realidade.
Momentos de poesia que se fundem tanto na parte berlinense quanto na descrição translúcida e visionária dos EUA. Impossível separar o intérprete do personagem.
Filme laico sobre a bruxaria, sem romantismo nem misticismo. As imagens dizem mais que as palavras (responsáveis pela dimensão racional e discursiva). Domina a presença simbólica da água, também como representação da libido feminina.
Patrice Leconte e seu cinema feito de nada, como uma bolha de sabão diante do espectador: te deixa vislumbrar a transparência, as cores, o reflexo mas depois, inevitavelmente, se dissolve.
Um êxodo épico, mas afetuoso e divertido. Sem heróis. mas com muito humor. Não concordo que seja um filme "menor" do diretor devido aos poucos meios à disposição e pelo caráter rapsódico do plano narrativo.
Primeiro filme italiano a entrar em uma fabrica analisando seu sistema de maneira impiedosa e furiosa em vários aspectos contraditórios, incluindo a relação entre homem e máquina, sindicato e "nova esquerda", protestos estudantis e luta operária, repressão patronal e progresso tecnológico etc. Filme corajoso que escandalizou a esquerda italiana com Mariangela Melato em uma de suas atuações mais bizarras.
Frequentemente criticado por sua suposta adesão à política governamental do Japão Imperialista, Todake no kyodai na verdade está em compasso com seus filmes precedentes, não apenas estilisticamente, mas também por antecipar temas habituais de Ozu nos anos cinquenta.
Interessante, mas rígido e muito demonstrativo em seu determinismo. Kieslowski já era Kieslowski em 1981, mas ainda lhe faltava o toque da parceria com Krzysztof Piesiewicz.
Filme amargo que conjuga um apaixonado e dialético empenho civil com uma certa ternura em relação aos sentimentos e uma incursão no território do sobrenatural. Quando lançado foi atacado pela igreja por motivos éticos e pelo governo e oposição por razões políticas.
O branco e preto das aldeias cobertas de neve, a umidade que transpira nos porões da prisão são utilizados com o máximo da intensidade dramática, construindo um clima dostoievskyano de violência insuportável.
A contemplação desconsolada do fracasso da civilização ocidental, mas com a esperança de que ainda se pode salvar alguma coisa. Pessimista, não resignado.
Providence
4.2 24Dirigido magistralmente e interpretado por um quinteto de classe, Providence é um filme impenetrável, genial e fascinante, como um labiríntico jogo de espelhos em que os fantasmas da imaginação (e do inconsciente) convivem lado a lado com os personagens reais.
Elogio ao Amor
3.9 24Godard é sempre Godard. Sempre experimentando, sempre à procura, sempre incapaz de dar limites ao próprio ego. Mas é também igualmente capaz de oferecer momentos de pura poesia visual. Páginas em branco transformadas em imagens poéticas, qualitativamente perfeitas, pintadas como se realmente saíssem de um quadro impressionista, onde as cores asseguram a sobrevivência da memória.
"A memória não tem deveres, mas é um direito"
Além das Montanhas
3.9 117Nas mãos de Mungiu, a dicotomia bem/mal se estilhaça em uma confusão de interpretações internas e externas à estória (por parte dos próprios personagens e por parte do espectador) e inversões do próprio sentido: ninguém é totalmente culpado, ninguém é totalmente inocente, nem mesmo as vítimas, sobre as quais recai o peso de um cruel determinismo social. As boas intenções se transformam (por ignorância ou má fé?) em ações criminosas. Amor terreno e fé em Deus bebem do mesmo veneno.
Rio Grande
3.5 55 Assista AgoraBem irônico, mas não o suficiente para escrachar os valores estúpidos que transmite. Se o fizesse, seria realmente um grande filme.
O Corredor
3.9 7O verdadeiro sentido de Koridorius está do lado de fora daquelas paredes, daquelas janelas quebradas, lar do pequeno vândalo que aponta seu rifle que não atira mais, lar de pensamentos daqueles que não conseguem mais se lembrar nem amar. Ninguém fala porque não há conteúdo a ser expresso, a realidade existe simplesmente porque a vida ainda não acabou, os corpos ainda estão de pé porque há um pouco de energia a ser consumida. Com este filme, Sharunas Bartas retoma a poética reflexiva de Trys Dienos, para convertê-la em uma forma original de realismo artístico: uma visão quase musical, que marca o tempo mentalmente, com um ritmo apático e sonolento que faz da inutilidade poesia.
O Dia em que Ele Chegar
3.8 17Sang-soo Hong se nutre de ações cotidianas confrontadas com um fluxo narrativo em que o surreal se mistura com o onírico e o real, oferecendo à casualidade dos eventos o espaço para impor sua presença em uma dimensão na qual o desdobramento do eventos não segue uma ordem cronológica, mas uma alternância de situações que nos impede de atribuir um antes ou um depois. Se valendo com grande rigor desse estilo de contar estórias, Book chon bang hyang gera um forte sentimento de perda existencial, mas ao mesmo tempo que cria uma linha de pensamento que constitui a própria razão.
Você e Eu
3.5 3A relação do cidadão com o sistema burocrático soviético em uma viagem (física e existencial) envolta por uma espontaneidade genuína e uma poética melancólica que equilibra os dramas pessoais e coletivos com leves e refinados toques de ironia. Intimista e atenta ao estudo dos personagens que animam a película, Larisa Shepitko descreve adequadamente todos os mecanismos humanos (incluindo suas contradições) que levam um indivíduo a começar uma nova vida. O resultado é louvável.
Era Uma Vez Um Melro Cantor
3.9 4Iko Shashvi Mgalobeli tem o mérito de ser moldado não só no comportamento, mas no ritmo de seu personagem (em parte autobiográfico), seguido pela câmera em suas idas e vindas com uma fluência tão casual que demonstra todo o poder da observação.
A Beleza do Diabo
3.7 7Talvez a parceria entre Armand Salacrou e René Clair peque pelo desequilíbrio entre o ceticismo do intelectual e o lirismo do poeta. Um filme inteligente e interessante, mas sem alma.
Ecos de um Reino Sombrio
4.2 5Imagens grotescas, trechos documentais, música de Bach, imagens surreais, música de Vivaldi, testemunhos e testemunhas interessados e desinteressados. Mais que um documentário sobre um tirano acusado de crimes hediondos (até mesmo de canibalismo), Ecos de um Reino Sombrio é um estudo sobre a natureza do poder despótico, sobre a instabilidade, a mentira e os horrores da realidade.
Stroszek
4.1 77Momentos de poesia que se fundem tanto na parte berlinense quanto na descrição translúcida e visionária dos EUA. Impossível separar o intérprete do personagem.
Em Nome Do Diabo
2.6 4Filme laico sobre a bruxaria, sem romantismo nem misticismo. As imagens dizem mais que as palavras (responsáveis pela dimensão racional e discursiva). Domina a presença simbólica da água, também como representação da libido feminina.
Félix e Lola
3.0 7Patrice Leconte e seu cinema feito de nada, como uma bolha de sabão diante do espectador: te deixa vislumbrar a transparência, as cores, o reflexo mas depois, inevitavelmente, se dissolve.
Caravana de Bravos
3.7 13Um êxodo épico, mas afetuoso e divertido. Sem heróis. mas com muito humor. Não concordo que seja um filme "menor" do diretor devido aos poucos meios à disposição e pelo caráter rapsódico do plano narrativo.
A Classe Operária Vai ao Paraíso
4.1 60Primeiro filme italiano a entrar em uma fabrica analisando seu sistema de maneira impiedosa e furiosa em vários aspectos contraditórios, incluindo a relação entre homem e máquina, sindicato e "nova esquerda", protestos estudantis e luta operária, repressão patronal e progresso tecnológico etc. Filme corajoso que escandalizou a esquerda italiana com Mariangela Melato em uma de suas atuações mais bizarras.
Os Irmãos e Irmãs Toda
4.0 5Frequentemente criticado por sua suposta adesão à política governamental do Japão Imperialista, Todake no kyodai na verdade está em compasso com seus filmes precedentes, não apenas estilisticamente, mas também por antecipar temas habituais de Ozu nos anos cinquenta.
A Floresta dos Lamentos
4.0 40Metáforas que não invadem a tela, mas quase a acariciam. Direção refinada, um cinema que sussurra mas deixa cicatrizes profundas.
Sorte Cega
4.1 62 Assista AgoraInteressante, mas rígido e muito demonstrativo em seu determinismo. Kieslowski já era Kieslowski em 1981, mas ainda lhe faltava o toque da parceria com Krzysztof Piesiewicz.
Sem Fim
3.8 12 Assista AgoraFilme amargo que conjuga um apaixonado e dialético empenho civil com uma certa ternura em relação aos sentimentos e uma incursão no território do sobrenatural. Quando lançado foi atacado pela igreja por motivos éticos e pelo governo e oposição por razões políticas.
O Trovador Kerib
4.2 11Enquadramentos, movimentos, objetos e pessoas fazem parte de enormes telas de pintura que se transformam em cinema.
Cobra Verde
3.8 20Imagens potentes com traços de academicismo.
A Ascensão
4.3 61O branco e preto das aldeias cobertas de neve, a umidade que transpira nos porões da prisão são utilizados com o máximo da intensidade dramática, construindo um clima dostoievskyano de violência insuportável.
Onde Sonham as Formigas Verdes
4.0 13A contemplação desconsolada do fracasso da civilização ocidental, mas com a esperança de que ainda se pode salvar alguma coisa. Pessimista, não resignado.
A Luz
3.7 24Uma estória baseada em um mito africano sem meditações psicológicas, em termos de emoções e sensações, com uma linguagem arcaica e muito refinada.