Malick dá continuidade a seu cinema de abstração, de pontas soltas e sem assertividade. É daquele cinema fissurado no alheamento da percepção autoral ou da diegese, apoiando-se mera e unicamente na absorção de seu receptor. Refém passivo da subjetividade de seu espectador nas possibilidades de extração daquelas colagens fraseadas ou visuais, que parecem provenientes de correntes best-sellers em PPT sonorizados. Tem seu público, sem dúvida, que mais do que nunca, precisa tirar leite de pedra – já que nos filmes de Malick, o espectador é praticamente único responsável pela concepção da obra (e, consequentemente, o “culpado” pelo filme ser “bom” ou “ruim”). Só não é pior que sua história de amor no nascer da civilização/América de “O Novo Mundo”.
A reciclagem descarada não é algo ruim em um filme que dá a cara a tapa como uma autêntica fita genérica das produções norte-americanas. O problema reside mesmo na displicente atenção dada ao desenvolvimento dos personagens; um subaproveitamento tão gritante, que fica difícil compreender a decisão do filme em trabalhar o grupo (sweeney) e não o indivíduo como elemento central (na incoerência, nenhum dos dois apresenta força suficiente para sustentar). Além do subaproveitamento dos personagens, suas relações também capengam na tela – seja no insosso caso entre o líder e uma funcionária ou a de chefe x pupilo – enfraquecendo o filme em conflitos. Por fim, é uma fita de acerto de contas que culmina em uma rima situacional que envergonha até o mais picareta produtor de filme B.
Roberto e Alejandra terão suas vidas modificadas, depois de Lúcia. Precisam mudar para deixar para trás os fantasmas que lhes acompanham. Como um recomeçar, daqueles doloridos – onde a cumplicidade entre pai e filha será fundamental para conduzi-los a uma nova vida. Alejandra parece mais forte, mais disposta, mais vívida para esse recomeço (e para dar suporte ao pai) – apesar da dificuldade de deixar para trás seus amigos, o surfe, suas histórias de Vallarta. Roberto apresenta desequilíbrio e instabilidade emocional – com dificuldade para conviver socialmente. Explode poderosamente na tela o surgimento misantrópico em seu peito, que lhe arde, que o faz estourar uma fúria ilimitada – seja no trabalho, seja no transito, seja contra tudo e todos. É uma alma amargurada e penosa, que parece rastrear oportunidades para descontar sua fúria com justiça a qualquer preço. Surge então o depois de Alejandra e o filme cria um enunciado trágico repleto de camadas, de uma violência psicológica estafante, que torna a experiência desagradável para discutir não simplesmente o bullyng, mas sim, o comportamento das pessoas e uma analise social que estamos cansados de saber que existe – mas que aqui surge com um berro de pare que embrulha o estômago e que acende uma luz vermelha sombria. A naturalidade que Michel Franco dá ao tom do filme somente sublinha a passividade e o conformismo que encaramos essas situações no dia a dia, cada dia mais encarando atrocidades com normalidade – mas que nos autosabotam.
Nicolas Winding Refn errou muito até acertar maravilhosamente bem em "Drive". Aqui existe um exagero na atuação de Hard, que vive uma narrativa circular de violência e impetuosidade. Pouco a falar e um tédio que testa rigorosamente a paciência.
Delicioso. Simples assim. Wilder em seus momentos de grande inspiração, formulando diálogos memoráveis em uma plot muito bem estruturada em seu estilo favorito: o da farsa.
Como pode um filme de 1952 soar tão atual? A dor sentida por Umberto D. é pura e verdadeira, e crível ao sofrimento dos aposentados dos dias de hoje, renegados como estorvo do governo. Quanta humilhação, desigualdade. Em meio aos requintes de sua senhoria, a miséria daquele que para pagar a moradia precisa abrir mão da comida. Sobra-lhe a companhia de seu fiel escudeiro vira-lata, que nos brinda com uma sequência de cenas comoventes e de partir o coração (cena do trem tirará lágrimas). Não é um filme gostoso ou agradável de assistir, pois abrem feridas que nos mostram o quanto somos incapazes de viver em um mundo minimamente justo.
Feliz e inspirador o título abrasileirado “A Incrível Suzana”. Mais conveniente e fiel à obra do que o preterido ritmado “O Major e a Menor”. Suzana é o coração e também a alma do filme. Na atuação de Rogers que o filme se segura, na forma incrível com que ela, aos poucos, vai conquistando não só todos os personagens, como a nós espectadores também. É uma típica – e fácil – comédia de farsa, que mais cedo ou mais tarde, sabemos que a personagem terá que enfrentar as consequências de seus atos no clímax. Mas Wilder, o mestre Wilder, sabe como ninguém como fechar suas obras de forma emblemática, sem firulas (algo inadmissível nos dias atuais), e com uma ternura cativante. Um aperitivo de onde aquele cineasta iniciante seria capaz de chegar – sendo o maior realizador de comédias românticas de todos os tempos.
Temos um grande filme oculto pelo excesso de sutileza. Faltou pulso, força, contundência e coragem para conduzir um filme tão espinhoso; que envolve incesto, neonazismo e ciganos no mesmo pacote. Tadzik é o centro de um turbilhão de emoções e relações intensas que se cruzam como uma bomba relógio prestes a explodir. Desenha-se em nossa mente uma tragédia épica – oriunda das mais célebres gregas – que nunca mostra realmente sua cara, sua verdadeira identidade. Um protótipo de grande filme.
A intenção não é ser um mergulho profundo sobre o cinema italiano. A ideia, resumida de forma bem simples ao final, é revelar as obras e as ideias dos diretores/mitos italianos – portanto, aos cinéfilos iniciados, não encontrarão obras obscuras, artes raras, algo novo e desconhecido. Scorsese pega seus diretores favoritos – e tão logo, os mais importantes – para dissecar alguns filmes, expor os movimentos (em especial, o neorrealismo) e fazer analises na concepção das obras. Tenta criar uma estrutura cronológica que mescla duas linhas: a ordem por artista e a ordem que acompanha o tempo de lançamento. Dessa forma, na primeira parte (ponto alto do filme), estamos diante de um profundo estudo das obras de Rossellini, De Sica e Visconti – um pouco de suas histórias, a relação com o cinema, o que representavam para a época, e claro, como concebiam seus filmes. Na segunda parte, ainda existe resquícios de Rossellini, mas é quase que totalmente composto por sua admiração por Fellini e Michelangelo Antonioni. Assim como fez com o cinema americano, Scorsese faz um filme que serve muito menos como referencial (para descobrir coisas novas), mas que absorve e consome os filmes de uma maneira tão apaixonada, que tudo parece realmente ser maravilhoso. Até Fellini.
Existe um paradoxo na forma de avaliar o filme. Seu mérito também é seu grande demérito. Algo explicável. A trinca formada por Wilder, Lemmon e Matthau, foi responsável pelas principais comédias produzidas por Hollywood – e essa penúltima parceria, passa longe de lembrar até os momentos menos inspirados naquelas comédias. Por outro lado, é no charme do reencontro dessas três figuras, as boas lembranças que despertam, que “A Primeira Página” sobrevive – na memória afetiva que desperta nos cinéfilos rever essas figuras se divertindo, onde grande parte da ação é composta em uma única sala, repleta de gags recicladas, em que até a própria plot é uma reimaginação da obra-prima de Howard Hawks, “His Girl Friday”, de 1940. Está muito longe de ser um filme ruim, mas quando pensamos em Wilder, é difícil não vê-lo acomodado e preguiçoso – quase como no piloto automático.
Duplamente entorpecidos. Física e mentalmente pelo álcool e emocionalmente pelas lembranças, ou precisamente, pelas memórias de amar. Dois personagens que vivem situações iguais, de lados opostos. Ela enfrentando as dores de um relacionamento com um homem casado e ele um homem casado adúltero. A província de Kangwon é o purgatório onde essas duas histórias de encontram. Aclamado pela nova geração de críticos da Cahiers du Cinéma, Sang-soo é um entusiasta da nouvelle vague francesa, reconhecido por alguns como o Godard sul-coreano, mas que parece conversar muito mais com o cinema de Resnais e suas histórias de amor afetadas pela lembrança;- onde a memória desempenha papel fundamental naqueles personagens transformados pelo amor, por uma intensa relação – com grande destaque ao papel do tempo e o espaço. Este não é um grandíssimo filme por sofrer de uma apatia crônica do foco na trivialidade de alguns momentos que o deixam com gordura excessiva, mas é inegável como brotam boas ideias em seu decorrer, como o uso estático da câmera que age como um personagem, testemunhando como voyeur sóbrio, o âmago do papel do amor naquelas pessoas.
Algo existe para ser dito e até tenta arranhar alguns pensamentos na criação de conflito entre os jovens que formam a resistência. Mas independente de qual seja realmente a ideia, ela está sucumbida a uma forma fragilmente latente, oculta pelo escapismo e o entretenimento, onde a diversão briga para ofuscar qualquer espécie de reflexão. A preocupação está muito mais em realizar um filme inócuo divertido do que realmente trazer a tona uma profusão dialética sobre os atos cometidos por aqueles garotos, além de todo o macroambiente político que permeia integralmente o tempo da obra, sem realmente dizer a que veio.
Hitchcock remetendo ao neorrealismo italiano foi algo que me surpreendeu no primeiro olhar de Fonda envolto a injustiça. Sobrancelhas caídas, falta de dinheiro, problema de saúde com a mulher, conflito árduo com a mulher, degradação. Apesar de ser um thriller à lá Hitchcock, existe algo muito mais latente nesse filme. Algo que envereda pelo lado social, inclusive. Daqueles engajados, feitos com os requintes que Hitchcock era mestre em criar. Pena que o final opte pelas soluções mais simples e preguiçosas. Se não fosse isso, entraria para o hall dos grandes filmes do diretor – não sendo atípico aquilo que o marcou (homem errado buscando provar a inocência), mas indo mais longe do que o consagrou (um aprofundamento dos problemas sociais no convívio e mente das pessoas).
Nem vejo problema em autores, tão logo, filmes misantrópicos. Mas incomoda quando isso é um manifesto tão simplista, raso, que parece extraído de qualquer descrição formal de um relatório básico sobre o ódio ao ser humano e suas convenções. Coloca-nos para acompanhar um personagem desprezível em uma jornada de autodepreciação, de relações perturbadas e um sadismo torpe. Noé apoia-se muito no texto para conseguir transmitir ideias e tentar gerar seu discurso, e assim como em seu tão repudiável quanto “Irreversível”, constrói imagens de deleite ao grotesco (apaixonado pelo estupro de Bellucci, parece fascinado por personagens agonizantes, como um sofrimento visto de forma prazerosa aqui também), tudo parece vazio, sem substância, excessivo. Passando do ponto, em prol de uma extravagância nociva a inteligência e ao debate.
É possível vê-lo como um manifesto antirracismo. Mas ele vai muito mais longe que isso, ainda que essa lhe seja uma virtude notável. Vejo nele muito mais méritos narrativos, ou seja, como se contar uma história, ter uma lição, desenvolver uma bela mensagem, sem ser preso a uma plot aparentemente fácil contra o racismo. Isso está lá, sim, e muito bem feito. Mas é na percepção da garotinha sobre os acontecimentos, seja do misterioso vizinho como na atmosfera gradualmente soturna no tom de fábula, que mora o grande encanto do filme – com uma aula de como se utilizar uma narração em off. O final está lá para firmar isso, em uma sequência de testar o coração até dos mais fortes, tamanho o toque de sensibilidade que Mulligan consegue criar até nos mais acentuados momentos de tensão.
Carpenter é um inventor. E como um inventor, seus filmes são constantemente um experimento. E por ser experimento, as chances de dar certo são parelhas as chances de dar errado. E essa é a diversão de seu cinema. Ainda que com um estilo inconfundível, é difícil assistir um filme de Carpenter e saber ao certo o que esperar. Esse filme vem a dialogar com os filmes trash gore, com doses homeopáticas de bizarrices; bem controlado, sem deixar-se realmente levar pelo grafismo, apegando-se muito mais aquilo que não é mostrado, ao suspense, a construção de atmosfera, ao desenvolvimento de um ambiente completamente contaminado e aos poucos dominado pela escatologia, simbolicamente representados pela infestação de insetos no local, dominando-os. É um filme muito mais interessante pelo contexto que representa ao cinema de terror e a filmografia de Carpenter, do que propriamente como uma obra isolada.
Wilder conseguia fazer grande cinema de forma muito simples. Direto ao ponto, porém com nuances que aos poucos vão transformando não somente a intensa relação dos personagens, como os construindo de forma impecável. A dubiedade de Barbara Stanwyck. A mutação de Fred MacMurray. Tudo isso, com uma trama extremamente envolvente, inteligente, escrita com esmero por um dos maiores roteiristas que o cinema americano já teve. Pra prender os olhos na tela durante quase duas horas sem piscar.
O estilo de cinema adotado por Werneck e Carvalho é nada atrativo. Apropria-se da forma lendária e mitológica do artista e faz um filme musical para fã; subtrai a pessoa e superexpõe o artista. São longuíssimas sequências musicais que intercalam os frágeis momentos de conflito do músico com quem o cerca, seja na parte familiar como na sua participação no Barão Vermelho (a caracterização de Frejat pateta é rasa ao ponto de envergonhar). Talvez vá se divertir bastante com o filme quem buscar uma homenagem em forma de covers interpretados por Oliveira, estrela solitária do filme. Quem busca um cinema que vá mais longe que isso, encontrará um filme oco, mal resolvido na própria concepção do personagem, jamais buscando um entendimento de como aquele burguês carioca tornou-se uma referência à cultura popular brasileira. E mais, o que lhe movia, indo mais longe do que o retrato de garoto mimado sufocado.
Olhando hoje “Testemunha de Acusação” formamos em nossa cabeça uma ideia de um filme atípico na cinematografia de Wilder, por nosso consciente ter construído de forma sólida suas maravilhosas comédias românticas, suas investidas na screwball comedy.
Nessa época, porém, ele ainda não havia realizado sua principal trinca – “Quanto mais quente melhor”, “Se meu apartamento falasse” e “Irma La Douce” – e tinha um olhar e uma percepção muito mais “amargurada” do mundo, das pessoas, das relações. Uma visão mais crítica do que a que viria a consagrá-lo, apesar de sua principal característica estar sólida na tela: diálogos acidamente memoráveis e bem construídos, sem pontas soltas.
Wilder foi o mestre de realizar filmes onde cada segundo era indispensável, e melhor, era extremamente bem justificável dentro da trama. Talvez o melhor roteirista que Hollywood já viu. Aqui ele trabalha com espaços bem delimitados (do escritório/casa para o tribunal e vice-versa), o que poderia causar um desconforto estafante no ritmo, mas Wilder nunca foi um cara que sofreu com isso. A dinâmica de seus diálogos que sempre foram imprescindíveis para a construção de suas narrativas, volta a fazer a diferença. São nas palavras afiadas do advogado brilhante interpretado por Laughton que tudo se forma, ainda que de forma perspicaz, Wilder seja um maestro na concepção de imagens que carregam a trama para frente.
Se não me engano foi o único filme tipicamente de tribunal que Wilder fez, e como habitual em sua carreira, realizou um dos melhores existentes – ficando no páreo com grandes obras-primas como “A mulher faz o homem”, do Capra, e o supra-sumo do gênero “Anatomia de um Crime”, do Preminger.
Parece um filme com excelentes ideias. Até o momento que excede. Fala, com propriedade, sobre um grupo de pessoas perdidas – sem perspectivas. Um olhar vitimizado de uma geração esforçada, de bom coração, mas mau uso. Ora sem oportunidades e ora com as oportunidades erradas. Talvez soe preguiçoso e conformista na forma dita, mas o filme é muito bem delineado neste aspecto de concepção dos personagens e seu engajamento político é explosivo na tela. Não tem receio em apontar culpados, e como mencionado acima, colocar a geração como vítima da corrupção. Não à toa levanta uma enorme bandeira com a emblemática frase proferida por Raymond: "A gente é educado pra não roubar, mas não é educado pra não ser roubado". No momento em que é dito, arrepia. Por tudo o que acompanhamos, o abandono, as últimas consequências, o desespero. Não temos educação, não temos saúde pública, não temos segurança. Muitos estão com a vida condicionada. Todos cooptados em um sistema trabalhista injusto, organizacionalmente circular e mal distribuídos. Filme para ver mais uma vez e absorver melhor seu turbilhão de ideias.
As imagens em sobreposição estão lá como um elemento saudosista. Para ser cinema falando de cinema, resgatando recursos defasados para encorpá-los em um novo estilo de cinema. Aquele cinema que vive de olhar para trás, de buscar no antigo as inspirações para o novo. Foi isso que Michel Hazanavicius fez com seu premiado “O Artista”, e mais a fundo, Miguel Gomes fez no seu primoroso “Tabu”. Um cinema que volta a falar através de imagens, sua origem e característica essencial, fundamental. Um cinema de escola, bem academicista. Sua técnica é apurada, com requintes que sobressaltam aos olhos. Falta-lhe, porém, cuidado em lidar com o roteiro e o excesso de personagens, deixando-os capengando na tela – como o ex-assessor do pai, todos os anões, mas acima disso, alma. Seja alma na protagonista, ou alma da obra em si, uma ideia consistente que suporte a trama manjada, contada e recontada milhares de vezes. Acreditar que simplesmente contar uma história notória no formato mudo, preto e branco e com elementos da cultura local homenageando o cinema seria o suficiente para a realização de um grande filme, é excesso de presunção técnica e uma displicência artística/autoral imperdoável.
Quer constantemente aparentar ser uma comédia atípica. Sua acidez religiosa aparece na tela como se fosse um acontecimento, mas mal consegue disfarçar o conservadorismo comum do politicamente correto norte-americano. Ousadia a nível bem acima fizeram os britânicos com “A Vida de Brian”, mordaz, daqueles que provocam ranhuras. Aqui tudo parece surgir na tela já com um pedido de desculpas, com preocupação e delimitações que ultrapassam o medo de ser alvo de grupos de fanáticos. Mas a ingenuidade e a inofensividade são tão grandes, que certamente ninguém se preocupou (ou se preocupará) com essa comédia populista mal disfarçada de engajada. Seu olhar crítico é tão raso, que sobra somente a vergonha alheia por um humor que não funciona e apoiado unicamente nos esquetes de brincar com a supersinceridade inerentemente existencial dos personagens – ao que se ri na primeira, talvez na segunda vez, mas depois disso, vira uma pataquada igual aos exemplares mais boçais da televisão.
Sobra amadorismo para lidar com um tema tão extenso e profundo como as consequências do capitalismo selvagem e a economia predatória. O uso da rede WalMart parece aleatória, uma vez que inúmeras empresas cabem nas acusações que o documentário faz. Isso é a consequência da ação proveniente do capitalismo, da lucratividade e das bolsas. O uso do nome da rede está lá para chamar a atenção, foca-se tanto em uma única unidade do problema, que o que sobressalta a tela é o descuido para dialogar com as situações vividas. Uma visão limitada da micro e da macro economia e seus ambientes, o que interfere no giro do capital, cheio de apelações emocionais. “Trabalho Interno” é um exemplo de filme maduro, singelo, cru, verdadeiro e extremamente bem instruído para falar desses aspectos com profundidade e autoridade com o tema. E ninguém chora.
Amor Pleno
3.0 558Malick dá continuidade a seu cinema de abstração, de pontas soltas e sem assertividade. É daquele cinema fissurado no alheamento da percepção autoral ou da diegese, apoiando-se mera e unicamente na absorção de seu receptor. Refém passivo da subjetividade de seu espectador nas possibilidades de extração daquelas colagens fraseadas ou visuais, que parecem provenientes de correntes best-sellers em PPT sonorizados. Tem seu público, sem dúvida, que mais do que nunca, precisa tirar leite de pedra – já que nos filmes de Malick, o espectador é praticamente único responsável pela concepção da obra (e, consequentemente, o “culpado” pelo filme ser “bom” ou “ruim”). Só não é pior que sua história de amor no nascer da civilização/América de “O Novo Mundo”.
Esquadrão Sem Limites
3.0 56 Assista AgoraA reciclagem descarada não é algo ruim em um filme que dá a cara a tapa como uma autêntica fita genérica das produções norte-americanas. O problema reside mesmo na displicente atenção dada ao desenvolvimento dos personagens; um subaproveitamento tão gritante, que fica difícil compreender a decisão do filme em trabalhar o grupo (sweeney) e não o indivíduo como elemento central (na incoerência, nenhum dos dois apresenta força suficiente para sustentar). Além do subaproveitamento dos personagens, suas relações também capengam na tela – seja no insosso caso entre o líder e uma funcionária ou a de chefe x pupilo – enfraquecendo o filme em conflitos. Por fim, é uma fita de acerto de contas que culmina em uma rima situacional que envergonha até o mais picareta produtor de filme B.
Depois de Lúcia
3.8 1,1K Assista AgoraRoberto e Alejandra terão suas vidas modificadas, depois de Lúcia. Precisam mudar para deixar para trás os fantasmas que lhes acompanham. Como um recomeçar, daqueles doloridos – onde a cumplicidade entre pai e filha será fundamental para conduzi-los a uma nova vida. Alejandra parece mais forte, mais disposta, mais vívida para esse recomeço (e para dar suporte ao pai) – apesar da dificuldade de deixar para trás seus amigos, o surfe, suas histórias de Vallarta. Roberto apresenta desequilíbrio e instabilidade emocional – com dificuldade para conviver socialmente. Explode poderosamente na tela o surgimento misantrópico em seu peito, que lhe arde, que o faz estourar uma fúria ilimitada – seja no trabalho, seja no transito, seja contra tudo e todos. É uma alma amargurada e penosa, que parece rastrear oportunidades para descontar sua fúria com justiça a qualquer preço. Surge então o depois de Alejandra e o filme cria um enunciado trágico repleto de camadas, de uma violência psicológica estafante, que torna a experiência desagradável para discutir não simplesmente o bullyng, mas sim, o comportamento das pessoas e uma analise social que estamos cansados de saber que existe – mas que aqui surge com um berro de pare que embrulha o estômago e que acende uma luz vermelha sombria. A naturalidade que Michel Franco dá ao tom do filme somente sublinha a passividade e o conformismo que encaramos essas situações no dia a dia, cada dia mais encarando atrocidades com normalidade – mas que nos autosabotam.
Bronson
3.8 426Nicolas Winding Refn errou muito até acertar maravilhosamente bem em "Drive". Aqui existe um exagero na atuação de Hard, que vive uma narrativa circular de violência e impetuosidade. Pouco a falar e um tédio que testa rigorosamente a paciência.
Cinco Covas no Egito
3.9 28 Assista AgoraDelicioso. Simples assim. Wilder em seus momentos de grande inspiração, formulando diálogos memoráveis em uma plot muito bem estruturada em seu estilo favorito: o da farsa.
Umberto D.
4.4 124 Assista AgoraComo pode um filme de 1952 soar tão atual? A dor sentida por Umberto D. é pura e verdadeira, e crível ao sofrimento dos aposentados dos dias de hoje, renegados como estorvo do governo. Quanta humilhação, desigualdade. Em meio aos requintes de sua senhoria, a miséria daquele que para pagar a moradia precisa abrir mão da comida. Sobra-lhe a companhia de seu fiel escudeiro vira-lata, que nos brinda com uma sequência de cenas comoventes e de partir o coração (cena do trem tirará lágrimas). Não é um filme gostoso ou agradável de assistir, pois abrem feridas que nos mostram o quanto somos incapazes de viver em um mundo minimamente justo.
A Incrível Suzana
4.2 33Feliz e inspirador o título abrasileirado “A Incrível Suzana”. Mais conveniente e fiel à obra do que o preterido ritmado “O Major e a Menor”. Suzana é o coração e também a alma do filme. Na atuação de Rogers que o filme se segura, na forma incrível com que ela, aos poucos, vai conquistando não só todos os personagens, como a nós espectadores também. É uma típica – e fácil – comédia de farsa, que mais cedo ou mais tarde, sabemos que a personagem terá que enfrentar as consequências de seus atos no clímax. Mas Wilder, o mestre Wilder, sabe como ninguém como fechar suas obras de forma emblemática, sem firulas (algo inadmissível nos dias atuais), e com uma ternura cativante. Um aperitivo de onde aquele cineasta iniciante seria capaz de chegar – sendo o maior realizador de comédias românticas de todos os tempos.
Sem Pudor
2.6 38Temos um grande filme oculto pelo excesso de sutileza. Faltou pulso, força, contundência e coragem para conduzir um filme tão espinhoso; que envolve incesto, neonazismo e ciganos no mesmo pacote. Tadzik é o centro de um turbilhão de emoções e relações intensas que se cruzam como uma bomba relógio prestes a explodir. Desenha-se em nossa mente uma tragédia épica – oriunda das mais célebres gregas – que nunca mostra realmente sua cara, sua verdadeira identidade. Um protótipo de grande filme.
Minha Viagem à Itália
4.5 24A intenção não é ser um mergulho profundo sobre o cinema italiano. A ideia, resumida de forma bem simples ao final, é revelar as obras e as ideias dos diretores/mitos italianos – portanto, aos cinéfilos iniciados, não encontrarão obras obscuras, artes raras, algo novo e desconhecido. Scorsese pega seus diretores favoritos – e tão logo, os mais importantes – para dissecar alguns filmes, expor os movimentos (em especial, o neorrealismo) e fazer analises na concepção das obras. Tenta criar uma estrutura cronológica que mescla duas linhas: a ordem por artista e a ordem que acompanha o tempo de lançamento. Dessa forma, na primeira parte (ponto alto do filme), estamos diante de um profundo estudo das obras de Rossellini, De Sica e Visconti – um pouco de suas histórias, a relação com o cinema, o que representavam para a época, e claro, como concebiam seus filmes. Na segunda parte, ainda existe resquícios de Rossellini, mas é quase que totalmente composto por sua admiração por Fellini e Michelangelo Antonioni. Assim como fez com o cinema americano, Scorsese faz um filme que serve muito menos como referencial (para descobrir coisas novas), mas que absorve e consome os filmes de uma maneira tão apaixonada, que tudo parece realmente ser maravilhoso. Até Fellini.
A Primeira Página
3.8 38Existe um paradoxo na forma de avaliar o filme. Seu mérito também é seu grande demérito. Algo explicável. A trinca formada por Wilder, Lemmon e Matthau, foi responsável pelas principais comédias produzidas por Hollywood – e essa penúltima parceria, passa longe de lembrar até os momentos menos inspirados naquelas comédias. Por outro lado, é no charme do reencontro dessas três figuras, as boas lembranças que despertam, que “A Primeira Página” sobrevive – na memória afetiva que desperta nos cinéfilos rever essas figuras se divertindo, onde grande parte da ação é composta em uma única sala, repleta de gags recicladas, em que até a própria plot é uma reimaginação da obra-prima de Howard Hawks, “His Girl Friday”, de 1940. Está muito longe de ser um filme ruim, mas quando pensamos em Wilder, é difícil não vê-lo acomodado e preguiçoso – quase como no piloto automático.
O Poder da Província de Kangwon
3.7 2Duplamente entorpecidos. Física e mentalmente pelo álcool e emocionalmente pelas lembranças, ou precisamente, pelas memórias de amar. Dois personagens que vivem situações iguais, de lados opostos. Ela enfrentando as dores de um relacionamento com um homem casado e ele um homem casado adúltero. A província de Kangwon é o purgatório onde essas duas histórias de encontram. Aclamado pela nova geração de críticos da Cahiers du Cinéma, Sang-soo é um entusiasta da nouvelle vague francesa, reconhecido por alguns como o Godard sul-coreano, mas que parece conversar muito mais com o cinema de Resnais e suas histórias de amor afetadas pela lembrança;- onde a memória desempenha papel fundamental naqueles personagens transformados pelo amor, por uma intensa relação – com grande destaque ao papel do tempo e o espaço. Este não é um grandíssimo filme por sofrer de uma apatia crônica do foco na trivialidade de alguns momentos que o deixam com gordura excessiva, mas é inegável como brotam boas ideias em seu decorrer, como o uso estático da câmera que age como um personagem, testemunhando como voyeur sóbrio, o âmago do papel do amor naquelas pessoas.
Amanhecer Violento
3.0 81 Assista AgoraAlgo existe para ser dito e até tenta arranhar alguns pensamentos na criação de conflito entre os jovens que formam a resistência. Mas independente de qual seja realmente a ideia, ela está sucumbida a uma forma fragilmente latente, oculta pelo escapismo e o entretenimento, onde a diversão briga para ofuscar qualquer espécie de reflexão. A preocupação está muito mais em realizar um filme inócuo divertido do que realmente trazer a tona uma profusão dialética sobre os atos cometidos por aqueles garotos, além de todo o macroambiente político que permeia integralmente o tempo da obra, sem realmente dizer a que veio.
O Homem Errado
3.9 96 Assista AgoraHitchcock remetendo ao neorrealismo italiano foi algo que me surpreendeu no primeiro olhar de Fonda envolto a injustiça. Sobrancelhas caídas, falta de dinheiro, problema de saúde com a mulher, conflito árduo com a mulher, degradação. Apesar de ser um thriller à lá Hitchcock, existe algo muito mais latente nesse filme. Algo que envereda pelo lado social, inclusive. Daqueles engajados, feitos com os requintes que Hitchcock era mestre em criar. Pena que o final opte pelas soluções mais simples e preguiçosas. Se não fosse isso, entraria para o hall dos grandes filmes do diretor – não sendo atípico aquilo que o marcou (homem errado buscando provar a inocência), mas indo mais longe do que o consagrou (um aprofundamento dos problemas sociais no convívio e mente das pessoas).
Sozinho Contra Todos
4.0 313Nem vejo problema em autores, tão logo, filmes misantrópicos. Mas incomoda quando isso é um manifesto tão simplista, raso, que parece extraído de qualquer descrição formal de um relatório básico sobre o ódio ao ser humano e suas convenções. Coloca-nos para acompanhar um personagem desprezível em uma jornada de autodepreciação, de relações perturbadas e um sadismo torpe. Noé apoia-se muito no texto para conseguir transmitir ideias e tentar gerar seu discurso, e assim como em seu tão repudiável quanto “Irreversível”, constrói imagens de deleite ao grotesco (apaixonado pelo estupro de Bellucci, parece fascinado por personagens agonizantes, como um sofrimento visto de forma prazerosa aqui também), tudo parece vazio, sem substância, excessivo. Passando do ponto, em prol de uma extravagância nociva a inteligência e ao debate.
O Sol É Para Todos
4.3 414 Assista AgoraÉ possível vê-lo como um manifesto antirracismo. Mas ele vai muito mais longe que isso, ainda que essa lhe seja uma virtude notável. Vejo nele muito mais méritos narrativos, ou seja, como se contar uma história, ter uma lição, desenvolver uma bela mensagem, sem ser preso a uma plot aparentemente fácil contra o racismo. Isso está lá, sim, e muito bem feito. Mas é na percepção da garotinha sobre os acontecimentos, seja do misterioso vizinho como na atmosfera gradualmente soturna no tom de fábula, que mora o grande encanto do filme – com uma aula de como se utilizar uma narração em off. O final está lá para firmar isso, em uma sequência de testar o coração até dos mais fortes, tamanho o toque de sensibilidade que Mulligan consegue criar até nos mais acentuados momentos de tensão.
Príncipe das Sombras
3.5 151Carpenter é um inventor. E como um inventor, seus filmes são constantemente um experimento. E por ser experimento, as chances de dar certo são parelhas as chances de dar errado. E essa é a diversão de seu cinema. Ainda que com um estilo inconfundível, é difícil assistir um filme de Carpenter e saber ao certo o que esperar. Esse filme vem a dialogar com os filmes trash gore, com doses homeopáticas de bizarrices; bem controlado, sem deixar-se realmente levar pelo grafismo, apegando-se muito mais aquilo que não é mostrado, ao suspense, a construção de atmosfera, ao desenvolvimento de um ambiente completamente contaminado e aos poucos dominado pela escatologia, simbolicamente representados pela infestação de insetos no local, dominando-os. É um filme muito mais interessante pelo contexto que representa ao cinema de terror e a filmografia de Carpenter, do que propriamente como uma obra isolada.
Pacto de Sangue
4.3 247 Assista AgoraWilder conseguia fazer grande cinema de forma muito simples. Direto ao ponto, porém com nuances que aos poucos vão transformando não somente a intensa relação dos personagens, como os construindo de forma impecável. A dubiedade de Barbara Stanwyck. A mutação de Fred MacMurray. Tudo isso, com uma trama extremamente envolvente, inteligente, escrita com esmero por um dos maiores roteiristas que o cinema americano já teve. Pra prender os olhos na tela durante quase duas horas sem piscar.
Cazuza: O Tempo Não Pára
3.6 977 Assista AgoraO estilo de cinema adotado por Werneck e Carvalho é nada atrativo. Apropria-se da forma lendária e mitológica do artista e faz um filme musical para fã; subtrai a pessoa e superexpõe o artista. São longuíssimas sequências musicais que intercalam os frágeis momentos de conflito do músico com quem o cerca, seja na parte familiar como na sua participação no Barão Vermelho (a caracterização de Frejat pateta é rasa ao ponto de envergonhar). Talvez vá se divertir bastante com o filme quem buscar uma homenagem em forma de covers interpretados por Oliveira, estrela solitária do filme. Quem busca um cinema que vá mais longe que isso, encontrará um filme oco, mal resolvido na própria concepção do personagem, jamais buscando um entendimento de como aquele burguês carioca tornou-se uma referência à cultura popular brasileira. E mais, o que lhe movia, indo mais longe do que o retrato de garoto mimado sufocado.
Testemunha de Acusação
4.5 353 Assista AgoraOlhando hoje “Testemunha de Acusação” formamos em nossa cabeça uma ideia de um filme atípico na cinematografia de Wilder, por nosso consciente ter construído de forma sólida suas maravilhosas comédias românticas, suas investidas na screwball comedy.
Nessa época, porém, ele ainda não havia realizado sua principal trinca – “Quanto mais quente melhor”, “Se meu apartamento falasse” e “Irma La Douce” – e tinha um olhar e uma percepção muito mais “amargurada” do mundo, das pessoas, das relações. Uma visão mais crítica do que a que viria a consagrá-lo, apesar de sua principal característica estar sólida na tela: diálogos acidamente memoráveis e bem construídos, sem pontas soltas.
Wilder foi o mestre de realizar filmes onde cada segundo era indispensável, e melhor, era extremamente bem justificável dentro da trama. Talvez o melhor roteirista que Hollywood já viu. Aqui ele trabalha com espaços bem delimitados (do escritório/casa para o tribunal e vice-versa), o que poderia causar um desconforto estafante no ritmo, mas Wilder nunca foi um cara que sofreu com isso. A dinâmica de seus diálogos que sempre foram imprescindíveis para a construção de suas narrativas, volta a fazer a diferença. São nas palavras afiadas do advogado brilhante interpretado por Laughton que tudo se forma, ainda que de forma perspicaz, Wilder seja um maestro na concepção de imagens que carregam a trama para frente.
Se não me engano foi o único filme tipicamente de tribunal que Wilder fez, e como habitual em sua carreira, realizou um dos melhores existentes – ficando no páreo com grandes obras-primas como “A mulher faz o homem”, do Capra, e o supra-sumo do gênero “Anatomia de um Crime”, do Preminger.
Se Nada Mais Der Certo
3.6 114Parece um filme com excelentes ideias. Até o momento que excede. Fala, com propriedade, sobre um grupo de pessoas perdidas – sem perspectivas. Um olhar vitimizado de uma geração esforçada, de bom coração, mas mau uso. Ora sem oportunidades e ora com as oportunidades erradas. Talvez soe preguiçoso e conformista na forma dita, mas o filme é muito bem delineado neste aspecto de concepção dos personagens e seu engajamento político é explosivo na tela. Não tem receio em apontar culpados, e como mencionado acima, colocar a geração como vítima da corrupção. Não à toa levanta uma enorme bandeira com a emblemática frase proferida por Raymond: "A gente é educado pra não roubar, mas não é educado pra não ser roubado". No momento em que é dito, arrepia. Por tudo o que acompanhamos, o abandono, as últimas consequências, o desespero. Não temos educação, não temos saúde pública, não temos segurança. Muitos estão com a vida condicionada. Todos cooptados em um sistema trabalhista injusto, organizacionalmente circular e mal distribuídos. Filme para ver mais uma vez e absorver melhor seu turbilhão de ideias.
Branca de Neve
4.1 124 Assista AgoraAs imagens em sobreposição estão lá como um elemento saudosista. Para ser cinema falando de cinema, resgatando recursos defasados para encorpá-los em um novo estilo de cinema. Aquele cinema que vive de olhar para trás, de buscar no antigo as inspirações para o novo. Foi isso que Michel Hazanavicius fez com seu premiado “O Artista”, e mais a fundo, Miguel Gomes fez no seu primoroso “Tabu”. Um cinema que volta a falar através de imagens, sua origem e característica essencial, fundamental. Um cinema de escola, bem academicista. Sua técnica é apurada, com requintes que sobressaltam aos olhos. Falta-lhe, porém, cuidado em lidar com o roteiro e o excesso de personagens, deixando-os capengando na tela – como o ex-assessor do pai, todos os anões, mas acima disso, alma. Seja alma na protagonista, ou alma da obra em si, uma ideia consistente que suporte a trama manjada, contada e recontada milhares de vezes. Acreditar que simplesmente contar uma história notória no formato mudo, preto e branco e com elementos da cultura local homenageando o cinema seria o suficiente para a realização de um grande filme, é excesso de presunção técnica e uma displicência artística/autoral imperdoável.
O Primeiro Mentiroso
3.4 809 Assista AgoraQuer constantemente aparentar ser uma comédia atípica. Sua acidez religiosa aparece na tela como se fosse um acontecimento, mas mal consegue disfarçar o conservadorismo comum do politicamente correto norte-americano. Ousadia a nível bem acima fizeram os britânicos com “A Vida de Brian”, mordaz, daqueles que provocam ranhuras. Aqui tudo parece surgir na tela já com um pedido de desculpas, com preocupação e delimitações que ultrapassam o medo de ser alvo de grupos de fanáticos. Mas a ingenuidade e a inofensividade são tão grandes, que certamente ninguém se preocupou (ou se preocupará) com essa comédia populista mal disfarçada de engajada. Seu olhar crítico é tão raso, que sobra somente a vergonha alheia por um humor que não funciona e apoiado unicamente nos esquetes de brincar com a supersinceridade inerentemente existencial dos personagens – ao que se ri na primeira, talvez na segunda vez, mas depois disso, vira uma pataquada igual aos exemplares mais boçais da televisão.
O Reino Gelado
2.6 85Esse filme é refilmagem ou somente inspirado no "A Rainha da Neve" de 1957?
O Wal-Mart - O Custo Alto do Preço Baixo
3.6 14Sobra amadorismo para lidar com um tema tão extenso e profundo como as consequências do capitalismo selvagem e a economia predatória. O uso da rede WalMart parece aleatória, uma vez que inúmeras empresas cabem nas acusações que o documentário faz. Isso é a consequência da ação proveniente do capitalismo, da lucratividade e das bolsas. O uso do nome da rede está lá para chamar a atenção, foca-se tanto em uma única unidade do problema, que o que sobressalta a tela é o descuido para dialogar com as situações vividas. Uma visão limitada da micro e da macro economia e seus ambientes, o que interfere no giro do capital, cheio de apelações emocionais. “Trabalho Interno” é um exemplo de filme maduro, singelo, cru, verdadeiro e extremamente bem instruído para falar desses aspectos com profundidade e autoridade com o tema. E ninguém chora.