O mais interessante desse filme é ele ser exatamente algo que você jamais imaginaria de um filme nesta linha. Com promessa de muita movimentação, o filme é lento, conduzido com extrema paciência, ao ponto de nos cativar justamente pela forma sóbria que conta a história, sem enchê-la de superficialidades para torná-la mais digestível. O que podemos ver aqui é um exemplo de como contar uma história: apresenta os personagens e suas características com clareza, expõe o relacionamento repleto de atrito entre eles, e culmina em um clímax sem pompas. Os últimos vinte minutos, quando Ford colhe as consequências de seu ato, refletem o quão sublime o cinema pode ser, quando bem feito.
Bill Condon surgiu como a solução para criar uma apoteótica obra que seria o final derradeiro do maior fenômeno teen visto nos últimos anos. Para fins comerciais, o último livro acabou sendo separado em duas partes (mal teria conteúdo para um de 90 minutos, imagina dois de 120 minutos), o que amplificou o desastre prenunciado. Depois de um primeiro filme tortuoso, ele retoma a história para preparar o clímax do fechamento da série, uma épica batalha entre vampiros, por conta de um mal entendido. Todo o filme é pautado na preparação para o evento épico, revelando os novos dotes de Bella, apresentando inúmeros novos personagens, e sublinhando as características sem escrúpulos dos antagonistas. Quando você pensa que tudo isso é irrelevante e a forma patética que todo esse conflito é resolvido, questiona-se efusivamente qual caminho está seguindo a juventude dos dias atuais.
Affleck tem se consolidado como um diretor focado em criar sufoco/tensão, com um sincronismo complexo de tempo x espaço, pautado pelo mistério x revelação. Em seu terceiro filme, ARGO, Affleck atinge maturidade em todos os exercícios que tem praticado, criando não somente uma obra envolvente aos moldes hollywodianos, como também, potencializando na tela o conflito entre ocidente x oriente médio, relevando acontecimentos determinantes que despertaram o ódio entre nações, que até hoje ainda são feridas não cicatrizadas. Affleck cria um misto entre cinemão (que remete aos thrillers dos anos 70) e proximidade com a realidade (de forma semidocumental), para criar um filme com densidade e que mexe com o fôlego do espectador.
Andrés Wood é o responsável pelo comovente melodrama de integração entre classes “Machuca”, que se diferenciava dos demais a partir da percepção das crianças perante o abismo social que as separava, mas que contribuía para ampliar a união, demonstrando maturidade ao assimilar integralmente o olhar daquelas crianças – em um retrato próximo ao movimento neorrealismo italiano. Qualidades não repetidas neste - um tanto - insípido retrato de Violeta Parra, que se perde como cinema, para virar uma obra de excessiva reverência e autocelebração, amenizando o interesse dos aspectos biográficos e conflituosos. Para quem não conhecia Violeta Parra, continuará sem conhecê-la, e quem conhecia e buscava dissecar suas ideias, verá apenas resquícios, em forma de rascunho, de sua inquietude.
Esse debut de David Michôd impressiona pela maturidade que lida com uma complexa rede de personagens ambíguos e a ação praticamente letárgica do protagonista, que causa um enorme desconforto no espectador, por ser apático em se desligar daquele ambiente corrompido, sujo e perigoso – uma selva onde prevalece a lei do mais forte. Nós, através dos olhos do protagonista, entramos naquela família em uma espécie de terceiro momento, já que todo o desastre está armado, falta apenas esperar pelas consequências – que tem início em uma sucessão de mortes, vingança e perseguições. Um filme sobre um império familiar destroçado, viciado em corromper e ser corrompido, que lida com a violência de forma banal, trazendo consequências para todos os envolvidos, sejam eles inocentes ou não.
O grande problema do filme é seu tom falsamente anárquico utilizado no começo, que em poucos instantes, se esconde – de forma escancarada – atrás de uma aventura padrão, aos moldes de “filme para a família”. Os personagens são meros fantoches, inclusive o interpretado pelo Stiller, que tem “n” conflitos, sendo um mais imbecil que o outro (suas atitudes ora conservadoras ora democráticas, a relação com a esposa, à militância reacionária), sendo os outros, mais inúteis ainda (Vaughn e a filha funciona muito mal e o Crudup é 100% descartável).
Curiosamente, o filme funciona muito bem no formato de esquete no primeiro ato, quando apresenta os personagens e introduz situações pautadas na criação dos estereótipos que irão, no segundo ato, se conflitar. Com uma montagem eficiente nos aspectos rítmicos, as esquetes conseguem ser convergentes e promovem a uniformidade nos momentos em que os amigos se encontram e contam suas experiências com as parceiras. Infelizmente, no derradeiro terceiro ato, o filme desaba vertiginosamente, chegando a ser desastroso, muito por conta da preguiça que tem para a formulação de um “happy end”, que chega a ser constrangedor o amadorismo.
É possível que ANVIL seja mais apreciado pelos amantes do rock’n roll, ou especificamente, do trash metal, já que o documentário cria um retrato da desconhecida banda que influenciou grandes expoentes do gênero, como Slayer, Metallica, Anthrax, Megadeth, etc. Porém, vejo este documentário como algo que vai além (muito além) dos aspectos musicais, sendo na realidade, um filme fundamentado a partir de uma relação humana intensa que busca de todas as formas o reconhecimento que acredita ser merecido. Muitas coisas no documentário parecem forjadas, situações exageradas, ou com coincidência grande em estar filmando, mas os depoimentos e a própria relação obsessiva pelo sucesso, fazem desse documentário um dos grandes representantes do gênero, não pela música, mas por aspectos humanos.
Inquestionável a importância histórica de O ATALANTE, último filme do precocemente falecido Jean Vigo, porém da mesma forma inquestionável como ficou datado e engessado, mostrando claramente uma falta de articulação em lidar com os aspectos sonoros, herdando ainda muitos “trejeitos” do cinema mudo, parecendo ainda pertencer a outra época. Recentemente classificou-se como 12º melhor filme de todos os tempos pela prestigiosa Sight & Sound, um grande trunfo para um filme tão, em termos de enredo, corriqueiro e desgastado, ainda que relembrando, fundamental para a criação e influência do romance clássico do cinema.
Está realmente muito distante de ser uma obra memorável na filmografia de Scott, porém vale ressaltar que se trata de um filme, ainda que minimamente, cativante e divertido. É possível apontar falhar incontáveis - desde o envolvimento mecanizado entre o casal e o arco dramático abrupto do protagonista – mas Scott tem pleno domínio de como fazer um filme que pouco evolui, mas mantém o espectador envolvido na rede de personagens que vai, sutilmente, soltando na tela. É um filme onde metade pode ser jogado fora, tamanha inutilidade para a evolução narrativa da obra, mas que é inegável o sentimento de satisfação que fica após assisti-lo, ainda que seu propósito moralista seja pra lá de manjada.
Evidente que Nanouk Leopold está querendo dizer algo durante o filme, mas assim como título enigmático perante a premissa/enredo, tudo o que é dito não é absorvido pelo espectador por ser sobrecarregado de subterfúgios e situações circulares (aquelas andam e duram uma eternidade para cair no mesmo lugar). O primeiro ato é interessante, deixa a impressão de que teremos um filme no mínimo instigante psicologicamente, mas no segundo e no ato final, vira conversa de buteco e livro de auto-ajuda. Fica insuportável.
Cantet realiza um filme que transpira angustia da abertura até o ato final, pelas circunstancias que levam o personagem a um labirinto sem saída constituído de mentiras, que inevitavelmente, irão cair por terra, e nós - como espectadores - queremos evitar ao máximo esse momento, pois apesar das atitudes imorais – e sacanas – do personagem, parecemos estar sempre sendo cúmplices dele, por suas atitudes serem nobres, potencializando o desespero que se encontra e como a sociedade pressiona quem cai fora do sistema. Um filme que machuca e deixa uma marca dura de cicatrizar.
Hoje é difícil alguém que faz gargalhar com tanta naturalidade, espontaneidade e com admiração ímpar pelo gênero. Mel Brooks é daqueles caras geniais que a gente quer ter como amigo, dar risada junto, participar da farra, ou, armar um banzé em algum lugar. Durante boa parte deste faroeste, ele cria uma trama cômica divertida, que envolve, que faz rir,- mas na verdade, o segredo - ou a magia completa - do filme está concentrado no terceiro ato, non-sense, maluco, metalinguístico, genial, autoreferencial, festejar e divertir-se simplesmente. Daqueles filmes para, com todo carinho do mundo, ter obrigatoriamente na coleção, ao lado de Monty Phyton, Chaplin, Farrellys. Uma prova concreta de como é saudável fazer humor, de altíssimo nível.
“Operação França” sofre pelo mal de ter servido de referência para “n” autores (e não autores) que, sem constrangimento, “homenagearam” o filme a um ponto de quase torná-lo um subgênero, desgastando a narrativa até torná-la uma fórmula. Mas é inegável as virtudes em termos de tensão, e sua refinada ação frenética que toma o terceiro ato, com um ritmo alucinante de perseguições e cenas antológicas, para colocar inveja em qualquer CGI virtuoso. Bate uma saudade de filmes feita na raça, e por conta disso, é sempre um prazer ver e rever um filme de Friedkin, um genuíno – e raro – autor de cinema.
Depois de alguns filmes feitos para serem esquecidos (a enfadonha intriga de guerra “Regras do Jogo” e o sonífero de ação “Caçado”), Friedkin parece ter reencontrado seu cinema no mergulho profundo na alma dos personagens. Dessa reestruturação, nasceu o primoroso (genial e eloquente) “Bug” (Possuídos) e agora esse devastador “Killer Joe”, um filme muito mais de personagens e suas razões existenciais (sujos, torpes, imorais), do que de enredo. A grande virtude do filme é a imersão que faz no âmago daquelas pessoas, tangíveis, críveis, cruéis, e inacreditavelmente estúpidas. Todo o cenário parece teatral (o que nos remete também ao “Bug”), onde aqueles personagens bizarros habitam isoladamente o Universo, e da simples relação entre si, nasce toda a comédia de humor negro, que nos remete ao mais inspirador cinema dos irmãos Coen.
Um filme como MICHAEL tinha tudo para ser escandaloso, daqueles que berram na tela, tentam ganhar o espectador com uma contundência forjada. Mas o debutante Markus Schleinzer faz um filme muito sutil, com um clima até sereno, sem escandalizar, ou subir o tom para chamar atenção, ser percebido. Discorre durante um bom tempo sobre a relação entre os dois, mas seu objeto de estudo, conforme o título já nos convida, é conhecer um pouco Michael, mesmo que não seja para compreender nada mais além de “um homem comum com problemas incompreensíveis”. Um filme muito promissor, que fica abaixo por não percebemos o olhar/ideias do autor por trás da obra, fazendo dessa forma que simplesmente o tema, seja mais forte que a percepção do cineasta acerca do que está falando, configurando assim, uma visão de autor sucumbida por um tema maior.
Este é o segundo filme de Trapero, que já sinaliza algo que será recorrente em sua trajetória: um cinema urbano, engajado nos problemas que afligem a sociedade, com corrupção, aqui mostrando, um processo intenso de transformação de um personagem, em decorrência do cenário e das influencias que o cerca. Seria uma catarse invertida, revelando um personagem sendo corrompido pelo sistema, comprado pela admiração dos superiores, precário em ideais e valores. Quase um processo inverso do personagem de Darín no, ótimo, “Abutres”.
Este quarto longa-metragem do argentino Pablo Trapero é um roadmovie pelas escabrosas estradas argentinas. É possível sentir o calor, a sujeira, o odor. Tudo isso para criar um filme de convívio familiar, que parece algo intrínseco, e convidativo, para conflitos árduos, repleto de intimidade e sublinhado em dor. Os podres começam a surgir, os segredos saem debaixo do tapete, e as diferenças começam a ficar acentuadas, e a lavagem de roupa suja começa, com personagens extremamente humanos, mas que temos dificuldade em conhecê-los de verdade.
Um filme muito mais na linha contemplativa, do que a trama de “A separação”, que é uma teia que vai se desenrolando de forma extremamente envolvente. Aqui a proposta de Farhadi também é trabalhar com um elemento chave de mistério para prender e apresentar de forma sucinta, um pouco da cultura e do comportamento de seu país. Para nós, ocidentais, que adoramos nos ver na crista da onda como os “seres supremos da sabedoria”, nos deparamos com pessoas engajadas e compromissadas com valores cada vez mais fora de moda, como honra e dignidade. São pessoas tangíveis, reais, que passam a ter comportamentos pra lá de humanos em momentos de dificuldade, existindo de forma ininterrupta, um conflito árduo, que nos deixa com os olhos fisgados na tela.
As “caras e bocas” dos personagens podem, vez ou outra, tapear o espectador, e iludir, causando uma sensação positiva, um risinho de canto de boca, à lá gato de botas do “Shrek”. Só que nem isso é o suficiente para maquiar um desenvolvimento grotesco de personagens, e acima disso, uma trama pra lá de batida, manjada, e que parece constantemente soar redundante. A distinção de raças que o filme propõe poderia abrir uma singela, honesta e sublime discussão alegórica a respeito dos diversos problemas que o mundo enfrenta, funcionando dessa forma, também para adultos. Mas o filme fica na zona de conforto, onde a superficialidade é seu ápice criativo, com apego a futilidades, em prol de cinema esquecível com um protocolo debaixo do braço de que “o importante é divertir”. Recentemente, “Paranorman” mostrou que o cinema de animação, ainda que, focando as crianças, consegue ir muito mais longe que isso, ainda que divirta.
O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford
3.6 479 Assista AgoraO mais interessante desse filme é ele ser exatamente algo que você jamais imaginaria de um filme nesta linha. Com promessa de muita movimentação, o filme é lento, conduzido com extrema paciência, ao ponto de nos cativar justamente pela forma sóbria que conta a história, sem enchê-la de superficialidades para torná-la mais digestível. O que podemos ver aqui é um exemplo de como contar uma história: apresenta os personagens e suas características com clareza, expõe o relacionamento repleto de atrito entre eles, e culmina em um clímax sem pompas. Os últimos vinte minutos, quando Ford colhe as consequências de seu ato, refletem o quão sublime o cinema pode ser, quando bem feito.
A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 2
3.0 4,0K Assista AgoraBill Condon surgiu como a solução para criar uma apoteótica obra que seria o final derradeiro do maior fenômeno teen visto nos últimos anos. Para fins comerciais, o último livro acabou sendo separado em duas partes (mal teria conteúdo para um de 90 minutos, imagina dois de 120 minutos), o que amplificou o desastre prenunciado. Depois de um primeiro filme tortuoso, ele retoma a história para preparar o clímax do fechamento da série, uma épica batalha entre vampiros, por conta de um mal entendido. Todo o filme é pautado na preparação para o evento épico, revelando os novos dotes de Bella, apresentando inúmeros novos personagens, e sublinhando as características sem escrúpulos dos antagonistas. Quando você pensa que tudo isso é irrelevante e a forma patética que todo esse conflito é resolvido, questiona-se efusivamente qual caminho está seguindo a juventude dos dias atuais.
Argo
3.9 2,5KAffleck tem se consolidado como um diretor focado em criar sufoco/tensão, com um sincronismo complexo de tempo x espaço, pautado pelo mistério x revelação. Em seu terceiro filme, ARGO, Affleck atinge maturidade em todos os exercícios que tem praticado, criando não somente uma obra envolvente aos moldes hollywodianos, como também, potencializando na tela o conflito entre ocidente x oriente médio, relevando acontecimentos determinantes que despertaram o ódio entre nações, que até hoje ainda são feridas não cicatrizadas. Affleck cria um misto entre cinemão (que remete aos thrillers dos anos 70) e proximidade com a realidade (de forma semidocumental), para criar um filme com densidade e que mexe com o fôlego do espectador.
Violeta Foi para o Céu
4.0 107 Assista AgoraAndrés Wood é o responsável pelo comovente melodrama de integração entre classes “Machuca”, que se diferenciava dos demais a partir da percepção das crianças perante o abismo social que as separava, mas que contribuía para ampliar a união, demonstrando maturidade ao assimilar integralmente o olhar daquelas crianças – em um retrato próximo ao movimento neorrealismo italiano. Qualidades não repetidas neste - um tanto - insípido retrato de Violeta Parra, que se perde como cinema, para virar uma obra de excessiva reverência e autocelebração, amenizando o interesse dos aspectos biográficos e conflituosos. Para quem não conhecia Violeta Parra, continuará sem conhecê-la, e quem conhecia e buscava dissecar suas ideias, verá apenas resquícios, em forma de rascunho, de sua inquietude.
Reino Animal
3.6 172 Assista AgoraEsse debut de David Michôd impressiona pela maturidade que lida com uma complexa rede de personagens ambíguos e a ação praticamente letárgica do protagonista, que causa um enorme desconforto no espectador, por ser apático em se desligar daquele ambiente corrompido, sujo e perigoso – uma selva onde prevalece a lei do mais forte. Nós, através dos olhos do protagonista, entramos naquela família em uma espécie de terceiro momento, já que todo o desastre está armado, falta apenas esperar pelas consequências – que tem início em uma sucessão de mortes, vingança e perseguições. Um filme sobre um império familiar destroçado, viciado em corromper e ser corrompido, que lida com a violência de forma banal, trazendo consequências para todos os envolvidos, sejam eles inocentes ou não.
Vizinhos Imediatos de 3º Grau
2.8 567 Assista AgoraO grande problema do filme é seu tom falsamente anárquico utilizado no começo, que em poucos instantes, se esconde – de forma escancarada – atrás de uma aventura padrão, aos moldes de “filme para a família”. Os personagens são meros fantoches, inclusive o interpretado pelo Stiller, que tem “n” conflitos, sendo um mais imbecil que o outro (suas atitudes ora conservadoras ora democráticas, a relação com a esposa, à militância reacionária), sendo os outros, mais inúteis ainda (Vaughn e a filha funciona muito mal e o Crudup é 100% descartável).
Pense como Eles
3.4 292 Assista AgoraCuriosamente, o filme funciona muito bem no formato de esquete no primeiro ato, quando apresenta os personagens e introduz situações pautadas na criação dos estereótipos que irão, no segundo ato, se conflitar. Com uma montagem eficiente nos aspectos rítmicos, as esquetes conseguem ser convergentes e promovem a uniformidade nos momentos em que os amigos se encontram e contam suas experiências com as parceiras. Infelizmente, no derradeiro terceiro ato, o filme desaba vertiginosamente, chegando a ser desastroso, muito por conta da preguiça que tem para a formulação de um “happy end”, que chega a ser constrangedor o amadorismo.
Anvil! A História de Anvil
4.3 68É possível que ANVIL seja mais apreciado pelos amantes do rock’n roll, ou especificamente, do trash metal, já que o documentário cria um retrato da desconhecida banda que influenciou grandes expoentes do gênero, como Slayer, Metallica, Anthrax, Megadeth, etc. Porém, vejo este documentário como algo que vai além (muito além) dos aspectos musicais, sendo na realidade, um filme fundamentado a partir de uma relação humana intensa que busca de todas as formas o reconhecimento que acredita ser merecido. Muitas coisas no documentário parecem forjadas, situações exageradas, ou com coincidência grande em estar filmando, mas os depoimentos e a própria relação obsessiva pelo sucesso, fazem desse documentário um dos grandes representantes do gênero, não pela música, mas por aspectos humanos.
O Atalante
4.1 60 Assista AgoraInquestionável a importância histórica de O ATALANTE, último filme do precocemente falecido Jean Vigo, porém da mesma forma inquestionável como ficou datado e engessado, mostrando claramente uma falta de articulação em lidar com os aspectos sonoros, herdando ainda muitos “trejeitos” do cinema mudo, parecendo ainda pertencer a outra época. Recentemente classificou-se como 12º melhor filme de todos os tempos pela prestigiosa Sight & Sound, um grande trunfo para um filme tão, em termos de enredo, corriqueiro e desgastado, ainda que relembrando, fundamental para a criação e influência do romance clássico do cinema.
Um Bom Ano
3.5 328 Assista AgoraEstá realmente muito distante de ser uma obra memorável na filmografia de Scott, porém vale ressaltar que se trata de um filme, ainda que minimamente, cativante e divertido. É possível apontar falhar incontáveis - desde o envolvimento mecanizado entre o casal e o arco dramático abrupto do protagonista – mas Scott tem pleno domínio de como fazer um filme que pouco evolui, mas mantém o espectador envolvido na rede de personagens que vai, sutilmente, soltando na tela. É um filme onde metade pode ser jogado fora, tamanha inutilidade para a evolução narrativa da obra, mas que é inegável o sentimento de satisfação que fica após assisti-lo, ainda que seu propósito moralista seja pra lá de manjada.
Movimento Browniano
2.4 111Evidente que Nanouk Leopold está querendo dizer algo durante o filme, mas assim como título enigmático perante a premissa/enredo, tudo o que é dito não é absorvido pelo espectador por ser sobrecarregado de subterfúgios e situações circulares (aquelas andam e duram uma eternidade para cair no mesmo lugar). O primeiro ato é interessante, deixa a impressão de que teremos um filme no mínimo instigante psicologicamente, mas no segundo e no ato final, vira conversa de buteco e livro de auto-ajuda. Fica insuportável.
A Agenda
3.4 10Cantet realiza um filme que transpira angustia da abertura até o ato final, pelas circunstancias que levam o personagem a um labirinto sem saída constituído de mentiras, que inevitavelmente, irão cair por terra, e nós - como espectadores - queremos evitar ao máximo esse momento, pois apesar das atitudes imorais – e sacanas – do personagem, parecemos estar sempre sendo cúmplices dele, por suas atitudes serem nobres, potencializando o desespero que se encontra e como a sociedade pressiona quem cai fora do sistema. Um filme que machuca e deixa uma marca dura de cicatrizar.
Banzé no Oeste
3.7 117 Assista AgoraHoje é difícil alguém que faz gargalhar com tanta naturalidade, espontaneidade e com admiração ímpar pelo gênero. Mel Brooks é daqueles caras geniais que a gente quer ter como amigo, dar risada junto, participar da farra, ou, armar um banzé em algum lugar. Durante boa parte deste faroeste, ele cria uma trama cômica divertida, que envolve, que faz rir,- mas na verdade, o segredo - ou a magia completa - do filme está concentrado no terceiro ato, non-sense, maluco, metalinguístico, genial, autoreferencial, festejar e divertir-se simplesmente. Daqueles filmes para, com todo carinho do mundo, ter obrigatoriamente na coleção, ao lado de Monty Phyton, Chaplin, Farrellys. Uma prova concreta de como é saudável fazer humor, de altíssimo nível.
Operação França
3.9 253 Assista Agora“Operação França” sofre pelo mal de ter servido de referência para “n” autores (e não autores) que, sem constrangimento, “homenagearam” o filme a um ponto de quase torná-lo um subgênero, desgastando a narrativa até torná-la uma fórmula. Mas é inegável as virtudes em termos de tensão, e sua refinada ação frenética que toma o terceiro ato, com um ritmo alucinante de perseguições e cenas antológicas, para colocar inveja em qualquer CGI virtuoso. Bate uma saudade de filmes feita na raça, e por conta disso, é sempre um prazer ver e rever um filme de Friedkin, um genuíno – e raro – autor de cinema.
Killer Joe: Matador de Aluguel
3.6 878 Assista AgoraDepois de alguns filmes feitos para serem esquecidos (a enfadonha intriga de guerra “Regras do Jogo” e o sonífero de ação “Caçado”), Friedkin parece ter reencontrado seu cinema no mergulho profundo na alma dos personagens. Dessa reestruturação, nasceu o primoroso (genial e eloquente) “Bug” (Possuídos) e agora esse devastador “Killer Joe”, um filme muito mais de personagens e suas razões existenciais (sujos, torpes, imorais), do que de enredo. A grande virtude do filme é a imersão que faz no âmago daquelas pessoas, tangíveis, críveis, cruéis, e inacreditavelmente estúpidas. Todo o cenário parece teatral (o que nos remete também ao “Bug”), onde aqueles personagens bizarros habitam isoladamente o Universo, e da simples relação entre si, nasce toda a comédia de humor negro, que nos remete ao mais inspirador cinema dos irmãos Coen.
Hasta La Vista: Venha Como Você É
4.1 90 Assista AgoraHASTA LA VISTA! poderia facilmente ser um "filme piedade",mas aborda os deficientes de forma horizontal.
Ruby Sparks - A Namorada Perfeita
3.8 1,4KRUBY SPARKS se apoia tanto em ser "diferente"," excêntrico", "estranho", que no fim, não cria significado, sendo uma miscelânea de vento.
Colombiana: Em Busca de Vingança
3.4 615 Assista AgoraCOLOMBIANA é um filme de ação do Olivier Megaton, que acende uma luz de nunca mais enfrentar algo dessa pessoa.
Os Candidatos
3.0 274 Assista AgoraOS CANDIDATOS faz Will Ferrell parecer realmente engraçado, depois vira repeteco e tem um final que beira o desastre
Michael
3.5 194Um filme como MICHAEL tinha tudo para ser escandaloso, daqueles que berram na tela, tentam ganhar o espectador com uma contundência forjada. Mas o debutante Markus Schleinzer faz um filme muito sutil, com um clima até sereno, sem escandalizar, ou subir o tom para chamar atenção, ser percebido. Discorre durante um bom tempo sobre a relação entre os dois, mas seu objeto de estudo, conforme o título já nos convida, é conhecer um pouco Michael, mesmo que não seja para compreender nada mais além de “um homem comum com problemas incompreensíveis”. Um filme muito promissor, que fica abaixo por não percebemos o olhar/ideias do autor por trás da obra, fazendo dessa forma que simplesmente o tema, seja mais forte que a percepção do cineasta acerca do que está falando, configurando assim, uma visão de autor sucumbida por um tema maior.
Do Outro Lado da Lei
3.3 16 Assista AgoraEste é o segundo filme de Trapero, que já sinaliza algo que será recorrente em sua trajetória: um cinema urbano, engajado nos problemas que afligem a sociedade, com corrupção, aqui mostrando, um processo intenso de transformação de um personagem, em decorrência do cenário e das influencias que o cerca. Seria uma catarse invertida, revelando um personagem sendo corrompido pelo sistema, comprado pela admiração dos superiores, precário em ideais e valores. Quase um processo inverso do personagem de Darín no, ótimo, “Abutres”.
Família Rodante
3.5 33Este quarto longa-metragem do argentino Pablo Trapero é um roadmovie pelas escabrosas estradas argentinas. É possível sentir o calor, a sujeira, o odor. Tudo isso para criar um filme de convívio familiar, que parece algo intrínseco, e convidativo, para conflitos árduos, repleto de intimidade e sublinhado em dor. Os podres começam a surgir, os segredos saem debaixo do tapete, e as diferenças começam a ficar acentuadas, e a lavagem de roupa suja começa, com personagens extremamente humanos, mas que temos dificuldade em conhecê-los de verdade.
À Procura de Elly
4.0 147Um filme muito mais na linha contemplativa, do que a trama de “A separação”, que é uma teia que vai se desenrolando de forma extremamente envolvente. Aqui a proposta de Farhadi também é trabalhar com um elemento chave de mistério para prender e apresentar de forma sucinta, um pouco da cultura e do comportamento de seu país. Para nós, ocidentais, que adoramos nos ver na crista da onda como os “seres supremos da sabedoria”, nos deparamos com pessoas engajadas e compromissadas com valores cada vez mais fora de moda, como honra e dignidade. São pessoas tangíveis, reais, que passam a ter comportamentos pra lá de humanos em momentos de dificuldade, existindo de forma ininterrupta, um conflito árduo, que nos deixa com os olhos fisgados na tela.
Hotel Transilvânia
3.6 1,5K Assista AgoraAs “caras e bocas” dos personagens podem, vez ou outra, tapear o espectador, e iludir, causando uma sensação positiva, um risinho de canto de boca, à lá gato de botas do “Shrek”. Só que nem isso é o suficiente para maquiar um desenvolvimento grotesco de personagens, e acima disso, uma trama pra lá de batida, manjada, e que parece constantemente soar redundante. A distinção de raças que o filme propõe poderia abrir uma singela, honesta e sublime discussão alegórica a respeito dos diversos problemas que o mundo enfrenta, funcionando dessa forma, também para adultos. Mas o filme fica na zona de conforto, onde a superficialidade é seu ápice criativo, com apego a futilidades, em prol de cinema esquecível com um protocolo debaixo do braço de que “o importante é divertir”. Recentemente, “Paranorman” mostrou que o cinema de animação, ainda que, focando as crianças, consegue ir muito mais longe que isso, ainda que divirta.