O grande trunfo aqui é Wes Craven ter reconhecido a fragilidade e inexperiência de seu trabalho de direção e sabido utilizar estes deméritos em prol da narrativa, para transformar "Aniversário Macabro" em um projeto que encontra sua força - por incrível que pareça - em sua inocência.
Claramente um dos filmes que mais delinearam os rumos da carreira de Von Trier. Aqui já se mostram grandes traços que irão ser desenvolvidos com mais afinco ao longo de sua obra e temas que virá a abordar com muito mais frequência. Podem notar como o uso dos animais (cachorros e cavalos) se assemelha àquele de "Anticristo" e - principalmente - "Melancolia". Além do que o uso de cores e angulações típicas do realizador, além de sobreposições de película e montagem fragmentada, já se fazia notar por aqui.
A beleza deste filme ultrapassa sua fotografia excepcional ou sua trilha inspirada e transborda principalmente na forma como a narrativa se desenvolve sobre temas tão delicados. Usa de lirismo para discorrer sobre fanatismo religioso e cuida para que nenhum dos personagens em cena seja pintado como vilão. Há de se entender o contexto para avaliar cada uma das atitudes dos convidados do jantar. Filme encantador, que traz muito à tona e sobrevive na memória. Uma aula de altruísmo, dedicação e amor ao próximo.
Certo que o filme possui alguns problemas relativos a forma de abordar seu contexto e muitas vezes tenta abraçar diversas causas não discorrendo efetivamente sobre nenhuma. Mas ainda assim é um filme muito bem acabado, que fomenta discussões (mesmo que de forma bem menos eficiente que sua obra-prima "Que Horas Ela Volta?") e entrega um elenco com performances homogeneamente acima da média.
Brilhante desconstrução da opressão sexual em um sociedade conservadora. Além de ser um excepcional estudo de personagens e possuir performances notáveis, ainda leva crédito como um dos melhores trabalhos de direção de Kazan - muito semelhante a seu desempenho atrás das câmeras no sublime "Boneca de Carne". É incrível (e preocupante) como ainda hoje este filme é atual.
Kleber Mendonça criou um cinema de memórias. Sua estética clássica e seus temas abordados praticamente nos transportam a uma realidade que nos tira da zona de conforto e nos faz enxergar coisas as quais muitas vezes viramos o rosto. Tive o prazer de assistir a esta obra-prima em sua estreia no festival de cinema de Gramado este ano e me senti absolutamente encantado com o passeio pelo qual Kleber me guiou. É absolutamente atordoante o domínio da técnica cinematográfica demonstrada pelo cineasta e sua forma de condução da narrativa. Ainda que de mais fácil absorção que sua obra-prima anterior, "O Som ao Redor", "Aquarius" apresenta uma protagonista multifacetada, complexa, que ergue as bandeiras das quais acredita com muito fervor. A construtora aqui é apenas uma metáfora à ganância que destrói gerações. O que mais fica em voga durante a projeção é a gana de lutar pelo que é certo e por ideais concretos. E neste ponto, Sonia Braga incorpora a persona de Clara com maestria estonteante nesta que talvez seja a maior performance de sua carreira. Não obstante, "Aquarius" possui o tipo de roteiro (talvez um dos melhores de nosso cinema nos últimos anos) que pode ser lido sob tantas camadas e ópticas que analisá-lo como uma mera história de perseverança seria reducionista demais. Assim, encerrei a sessão emocionado, extasiado e mais que satisfeito - "Aquarius" é, desde já, o melhor filme do ano. Um triunfo retumbante sobre amor e força de vontade. Um elogio às lembranças que não deveríamos deixar morrer.
Meu primeiro contato com o cinema de Minnelli - com o péssimo "Paixões Sem Freios" - quase me fez perder o ânimo de assistir a este filme. Felizmente, logo nos primeiros minutos de projeção já se percebe uma abordagem totalmente diversa daquele deslize de 55. "Assim Estava Escrito" leva às telas um roteiro intrigante, que parte de uma premissa inicialmente desinteressante e vai se ramificando para abordar diversos temas, dentre eles uma crítica ácida à maior indústria de cinema do mundo. Kirk Douglas está excepcional e a direção de Vincente mostra saber o que faz sob um pulso firme que me parece ser característica do realizador.
James Wan de fato é um dos grandes nomes do cinema de terror contemporâneo justamente por sua habilidade em mesclar o clássico e o novo. Aprende com o cinema do gênero da década de 70/80 e traz à realidade de nossa nova década. Nisto, portanto, "Paranormal" cumpre o que promete. Além de soar como uma grande homenagem ao cinema clássico de terror, ainda consegue incomodar, assustar e manter uma aura de terror e tensão durante toda a projeção. O grande problema é tudo se resumir a isso. A impressão que lega ao espectador é a de que diversas cenas foram pensadas fora do contexto e encaixadas quase que como obrigação, sem grandes intuitos à narrativa. Além disso, possui um roteiro absolutamente medonho e mal escrito, recheado de diálogos vergonhosos e situações despropositais. Além disso, as performances são péssimas e claramente demonstram uma ineficiência do próprio Wan na direção. Em diversos momentos ficam confusas as intenções do diretor quanto à montagem ou aos rumos que quer dar a sua narrativa. À parte alguns momentos que funcionam muito bem, "Sobrenatural" é mal conduzido, escrito e produzido. Quase como uma sobra de diversos outros longas do próprio diretor feito às pressas.
Performance absolutamente magistral de Fernanda Montenegro, em um roteiro que fala muito nas entrelinhas. Uma história no mínimo peculiar levada à cabo com toda a sutileza e elegância de Hirszman, que mostra habilidade ao lidar com um assunto tão polêmico e pesado quanto a morte (ou o tema mais oportuno seria suicídio?) e todos que dela tiram algum proveito. Vale também destacar a magnífica cena da chuva. Certamente uma das mais viscerais e inspiradas da atriz e de seu diretor.
Assisti a poucos filmes de Humberto Mauro (certamente um cineasta a se conhecer) mas já pude perceber que seu cinema funciona, além de arte, como um impressionante registro histórico e social. "Ganga Bruta" é incrível ainda hoje não apenas pelo uso apurado da técnica cinematográfica (a montagem excelente, a forma como a trilha sonora se funde à narrativa), mas também pelas imagens de um Brasil arcaico, de costumes perdidos. Foi ótimo perceber a forma como se lidava com a profissão de engenharia em outros tempos e - por que não? - como se enxergavam os distúrbios sociopatas naquela época.
O filme começa muito bem mas acaba se perdendo com um roteiro pouco focado, que dissolve os bons momentos da trama em um conjunto de cenas que parecem não levar a lugar algum - ainda mais quando se tem um trio de personagens pouco interessantes como este aqui.
De certa forma, perdeu a chance de emplacar com uma discussão mais concreta dos temas que propõe. Acaba ficando na superfície da discussão de gênero e quebra de clichês. Mas ainda funciona e certos momentos são de uma beleza inspiradora.
Como de costume em sua quase imaculada filmografia, Visconti aborda aqui um tema polêmico de forma sutil e sensualizada. O que vemos soa quase como um pesadelo, através do contraste e escuridão da fotografia ou da trilha sonora orquestrada para mergulhar o espectador em uma catarse de sentimentos. O roteiro é desenvolvido com maestria e constrói cada um dos três protagonistas como personagens fortes e figuras marcantes. Mais uma obra-prima do mestre italiano, para ficar guardada na lembrança por muito e muito tempo.
Retrato satírio pungente da elite decadente brasileira, que muio conversa com a obra-prima contemporânea "O Som ao Redor". Ao contrário do que dizem, não considero que este filme tenha envelhecido tão mal. Sua temática e abordagem continuam muito atuais ainda hoje (por serem universais) e por diversas vezes me peguei rindo durante a projeção. Sem dúvidas um dos melhores trabalhos de direção de Jabor, com um elenco de primeira afinadíssimo e em sintonia.
"Kwaidan" é o tipo de cinema que faz viajar. Seja pela beleza da teatralidade dos cenários, pelas coreografias meticulosas ou pelo onirismo lancinante em cada quadro. Kobayashi é um cineasta meticuloso muito mais preocupado em estabelecer um clima de conto de fadas durante as 3 horas de projeção que adotar caminhos fáceis e óbvios para o desenrolar das quatro narrativas. Destaque para a excepcional sequência de Hoichi - macabra e bela na medida certa para se eternizar.
O tipo de filme muito mais interessado em abordar as consequências de uma série de crimes que os crimes em si - e é, por isso mesmo, tão relevante. Bong Joon-ho sem dúvidas é um dos maiores cineastas coreanos não apenas pela agilidade e interesse que traz à narrativa, mas também pelo domínio impecável de técnica cinematográfica que consegue trazer o espectador aos seus pés, o manipulando em jogos estéticos magistrais. O senso de dúvida emana em cada uma das sequências e a tensão e desesperança vão crescendo gradualmente até atingirem níveis desesperadores. Excelente filme, cujo encerramento ficará marcado em minha memória cinéfila por muito tempo.
Acima de tudo, "As Feras" é uma afirmação do gênero feminino. Em determinado momento, uma das atrizes da peça ensaiada comenta: "... no mundo real, as verdadeiras feras somos nós." E assim é este penúltimo longa do gênio Khouri: quase como um direito de resposta feminino, um direito de revolução.
Bong Joon-ho sempre foi um cineasta ocidentalizado. Para ele, portanto, filmar em uma outra realidade cinematográfica não deve ter sido tão difícil. O resultado é um longa coeso, muito fiel às origens coreanas do diretor, que transporta todos os elementos que o consagraram em um filme (por que não?) comercial e de apelo popular. O melhor é Joon-ho entender a importância de um filme desses e utilizá-lo para fazer a massa que o assiste refletir sobre diversas questões de divisão de classe e capitalismo que o filme deixa transparente logo nos primeiros minutos. Fora isso, uma excelente fotografia, uma ótima montagem e uma direção segura e pulso firme fazem eu refletir o motivo de ter demorado tanto pra conferir este filme.
Kiarostami era puro coração. Será inigualável principalmente porque soube aliar a simplicidade do cinema iraniano à originalidade e metalinguagem de um cinema avant-garde. "Através das Oliveiras" é a poesia de quando a vida se une a arte e vice-versa. A alegria do povoado em assistir a uma filmagem, a mudança que aquilo traz à pacata cidade rodeada de oliveiras. Kiarostami entende todo o contexto da problemática e cuida de extrair a maior beleza dela através de um simplicidade fora do comum - basta observar a longa sequência final.
Esteticamente esta animação de Wes Anderson é um deleite aos olhos. Fotografia impecável, com uso de cores e posicionamento em campo fora do comum. Mas me pareceu que Anderson estava muito mais preocupado em assinar sua marca registrada no projeto, através de sua estética e seus diálogos trabalhados, que propriamente em evoluir uma narrativa mais sólida. Assim, algumas cenas soam um tanto aleatórias e parece que colocadas lá apenas para inflar a jornada do protagonista.
Os filmes de Cassavetes ensinam a fazer cinema. Mesmo com seu estilo despojado de filmar, tem domínio total da linguagem cinematográfica e de suas intenções como cineasta. A construção das cenas aqui é brilhante, ousada e faz pensar. Cassavetes consegue caminhar por diversos gêneros em uma mesma sequência (da comédia escrachada ao drama intenso), criando uma jornada de emoções que intriga e fascina quem assiste. E nem preciso citar a performance estonteante da sempre impecável Gena Rowlands, provando ser, sem sombra de dúvidas, uma das maiores atrizes que o cinema norte americano já apresentou ao mundo.
Trabalho absolutamente deslumbrante de Kobayashi que, como no também impecável "Harakiri", se preocupa muito mais com as consequências dos acontecimentos que com os atos em si. Tecnicamente é irrepreensível, dono de uma fotografia entorpecente do primeiro ao último plano e uma montagem perspicaz e fluida (que muito se assemelha a do cinema de seu contemporâneo e conterrâneo Kurosawa), Masaki entrega uma obra-prima regida para ser grandiosa. A peso dramático do roteiro só vai crescendo e transformando toda a projeção em uma tragédia sofrida, ainda que muito bela.
Poucos cineastas na história do cinema souberam usar o movimento de forma tão genial quanto Kurosawa. Assistir a um filme deste gênio é o mesmo que atender à uma aula de cinema. "Sanjuro" surge como uma sequência muito digna do também excelente "Yojimbo" e remonta com precisão aquilo que o diretor sabe tão bem fazer: criar personalidades fortes e cativantes através de uma montagem precisa e uma fotografia inebriante.
O grande mérito aqui é criar uma obra única e esteticamente muito coerente. Além de passear pelo drama e terror de forma muito eficaz, ainda demonstra um grande cuidado para fazer da montagem uma personagem na narrativa. Destaque também para a trilha sonora excepcional. Só peca no encerramento, que vai abrandando demais a trama e acaba como tantos outros projetos que vemos por aí. Mas até lá, há um desfile de originalidade que faz valer a pena.
Aniversário Macabro
3.1 233 Assista AgoraO grande trunfo aqui é Wes Craven ter reconhecido a fragilidade e inexperiência de seu trabalho de direção e sabido utilizar estes deméritos em prol da narrativa, para transformar "Aniversário Macabro" em um projeto que encontra sua força - por incrível que pareça - em sua inocência.
Medéia
3.8 74Claramente um dos filmes que mais delinearam os rumos da carreira de Von Trier. Aqui já se mostram grandes traços que irão ser desenvolvidos com mais afinco ao longo de sua obra e temas que virá a abordar com muito mais frequência. Podem notar como o uso dos animais (cachorros e cavalos) se assemelha àquele de "Anticristo" e - principalmente - "Melancolia". Além do que o uso de cores e angulações típicas do realizador, além de sobreposições de película e montagem fragmentada, já se fazia notar por aqui.
A Festa de Babette
4.0 243A beleza deste filme ultrapassa sua fotografia excepcional ou sua trilha inspirada e transborda principalmente na forma como a narrativa se desenvolve sobre temas tão delicados. Usa de lirismo para discorrer sobre fanatismo religioso e cuida para que nenhum dos personagens em cena seja pintado como vilão. Há de se entender o contexto para avaliar cada uma das atitudes dos convidados do jantar. Filme encantador, que traz muito à tona e sobrevive na memória. Uma aula de altruísmo, dedicação e amor ao próximo.
Mãe Só Há Uma
3.5 408 Assista AgoraCerto que o filme possui alguns problemas relativos a forma de abordar seu contexto e muitas vezes tenta abraçar diversas causas não discorrendo efetivamente sobre nenhuma. Mas ainda assim é um filme muito bem acabado, que fomenta discussões (mesmo que de forma bem menos eficiente que sua obra-prima "Que Horas Ela Volta?") e entrega um elenco com performances homogeneamente acima da média.
Clamor do Sexo
4.2 92 Assista AgoraBrilhante desconstrução da opressão sexual em um sociedade conservadora. Além de ser um excepcional estudo de personagens e possuir performances notáveis, ainda leva crédito como um dos melhores trabalhos de direção de Kazan - muito semelhante a seu desempenho atrás das câmeras no sublime "Boneca de Carne". É incrível (e preocupante) como ainda hoje este filme é atual.
Aquarius
4.2 1,9K Assista AgoraKleber Mendonça criou um cinema de memórias. Sua estética clássica e seus temas abordados praticamente nos transportam a uma realidade que nos tira da zona de conforto e nos faz enxergar coisas as quais muitas vezes viramos o rosto. Tive o prazer de assistir a esta obra-prima em sua estreia no festival de cinema de Gramado este ano e me senti absolutamente encantado com o passeio pelo qual Kleber me guiou. É absolutamente atordoante o domínio da técnica cinematográfica demonstrada pelo cineasta e sua forma de condução da narrativa. Ainda que de mais fácil absorção que sua obra-prima anterior, "O Som ao Redor", "Aquarius" apresenta uma protagonista multifacetada, complexa, que ergue as bandeiras das quais acredita com muito fervor. A construtora aqui é apenas uma metáfora à ganância que destrói gerações. O que mais fica em voga durante a projeção é a gana de lutar pelo que é certo e por ideais concretos. E neste ponto, Sonia Braga incorpora a persona de Clara com maestria estonteante nesta que talvez seja a maior performance de sua carreira. Não obstante, "Aquarius" possui o tipo de roteiro (talvez um dos melhores de nosso cinema nos últimos anos) que pode ser lido sob tantas camadas e ópticas que analisá-lo como uma mera história de perseverança seria reducionista demais. Assim, encerrei a sessão emocionado, extasiado e mais que satisfeito - "Aquarius" é, desde já, o melhor filme do ano. Um triunfo retumbante sobre amor e força de vontade. Um elogio às lembranças que não deveríamos deixar morrer.
Assim Estava Escrito
4.2 56 Assista AgoraMeu primeiro contato com o cinema de Minnelli - com o péssimo "Paixões Sem Freios" - quase me fez perder o ânimo de assistir a este filme. Felizmente, logo nos primeiros minutos de projeção já se percebe uma abordagem totalmente diversa daquele deslize de 55. "Assim Estava Escrito" leva às telas um roteiro intrigante, que parte de uma premissa inicialmente desinteressante e vai se ramificando para abordar diversos temas, dentre eles uma crítica ácida à maior indústria de cinema do mundo. Kirk Douglas está excepcional e a direção de Vincente mostra saber o que faz sob um pulso firme que me parece ser característica do realizador.
Sobrenatural
3.4 2,4K Assista AgoraJames Wan de fato é um dos grandes nomes do cinema de terror contemporâneo justamente por sua habilidade em mesclar o clássico e o novo. Aprende com o cinema do gênero da década de 70/80 e traz à realidade de nossa nova década. Nisto, portanto, "Paranormal" cumpre o que promete. Além de soar como uma grande homenagem ao cinema clássico de terror, ainda consegue incomodar, assustar e manter uma aura de terror e tensão durante toda a projeção. O grande problema é tudo se resumir a isso. A impressão que lega ao espectador é a de que diversas cenas foram pensadas fora do contexto e encaixadas quase que como obrigação, sem grandes intuitos à narrativa. Além disso, possui um roteiro absolutamente medonho e mal escrito, recheado de diálogos vergonhosos e situações despropositais. Além disso, as performances são péssimas e claramente demonstram uma ineficiência do próprio Wan na direção. Em diversos momentos ficam confusas as intenções do diretor quanto à montagem ou aos rumos que quer dar a sua narrativa. À parte alguns momentos que funcionam muito bem, "Sobrenatural" é mal conduzido, escrito e produzido. Quase como uma sobra de diversos outros longas do próprio diretor feito às pressas.
A Falecida
4.1 106Performance absolutamente magistral de Fernanda Montenegro, em um roteiro que fala muito nas entrelinhas. Uma história no mínimo peculiar levada à cabo com toda a sutileza e elegância de Hirszman, que mostra habilidade ao lidar com um assunto tão polêmico e pesado quanto a morte (ou o tema mais oportuno seria suicídio?) e todos que dela tiram algum proveito. Vale também destacar a magnífica cena da chuva. Certamente uma das mais viscerais e inspiradas da atriz e de seu diretor.
Ganga Bruta
3.4 51Assisti a poucos filmes de Humberto Mauro (certamente um cineasta a se conhecer) mas já pude perceber que seu cinema funciona, além de arte, como um impressionante registro histórico e social. "Ganga Bruta" é incrível ainda hoje não apenas pelo uso apurado da técnica cinematográfica (a montagem excelente, a forma como a trilha sonora se funde à narrativa), mas também pelas imagens de um Brasil arcaico, de costumes perdidos. Foi ótimo perceber a forma como se lidava com a profissão de engenharia em outros tempos e - por que não? - como se enxergavam os distúrbios sociopatas naquela época.
A Faca na Água
3.8 69 Assista AgoraO filme começa muito bem mas acaba se perdendo com um roteiro pouco focado, que dissolve os bons momentos da trama em um conjunto de cenas que parecem não levar a lugar algum - ainda mais quando se tem um trio de personagens pouco interessantes como este aqui.
Boi Neon
3.6 461De certa forma, perdeu a chance de emplacar com uma discussão mais concreta dos temas que propõe. Acaba ficando na superfície da discussão de gênero e quebra de clichês. Mas ainda funciona e certos momentos são de uma beleza inspiradora.
Vagas Estrelas da Ursa
4.1 27Como de costume em sua quase imaculada filmografia, Visconti aborda aqui um tema polêmico de forma sutil e sensualizada. O que vemos soa quase como um pesadelo, através do contraste e escuridão da fotografia ou da trilha sonora orquestrada para mergulhar o espectador em uma catarse de sentimentos. O roteiro é desenvolvido com maestria e constrói cada um dos três protagonistas como personagens fortes e figuras marcantes. Mais uma obra-prima do mestre italiano, para ficar guardada na lembrança por muito e muito tempo.
Tudo Bem
3.6 28Retrato satírio pungente da elite decadente brasileira, que muio conversa com a obra-prima contemporânea "O Som ao Redor". Ao contrário do que dizem, não considero que este filme tenha envelhecido tão mal. Sua temática e abordagem continuam muito atuais ainda hoje (por serem universais) e por diversas vezes me peguei rindo durante a projeção. Sem dúvidas um dos melhores trabalhos de direção de Jabor, com um elenco de primeira afinadíssimo e em sintonia.
Kwaidan: As Quatro Faces do Medo
4.2 74"Kwaidan" é o tipo de cinema que faz viajar. Seja pela beleza da teatralidade dos cenários, pelas coreografias meticulosas ou pelo onirismo lancinante em cada quadro. Kobayashi é um cineasta meticuloso muito mais preocupado em estabelecer um clima de conto de fadas durante as 3 horas de projeção que adotar caminhos fáceis e óbvios para o desenrolar das quatro narrativas. Destaque para a excepcional sequência de Hoichi - macabra e bela na medida certa para se eternizar.
Memórias de um Assassino
4.2 366 Assista AgoraO tipo de filme muito mais interessado em abordar as consequências de uma série de crimes que os crimes em si - e é, por isso mesmo, tão relevante. Bong Joon-ho sem dúvidas é um dos maiores cineastas coreanos não apenas pela agilidade e interesse que traz à narrativa, mas também pelo domínio impecável de técnica cinematográfica que consegue trazer o espectador aos seus pés, o manipulando em jogos estéticos magistrais. O senso de dúvida emana em cada uma das sequências e a tensão e desesperança vão crescendo gradualmente até atingirem níveis desesperadores. Excelente filme, cujo encerramento ficará marcado em minha memória cinéfila por muito tempo.
As Feras
3.2 20Acima de tudo, "As Feras" é uma afirmação do gênero feminino. Em determinado momento, uma das atrizes da peça ensaiada comenta: "... no mundo real, as verdadeiras feras somos nós." E assim é este penúltimo longa do gênio Khouri: quase como um direito de resposta feminino, um direito de revolução.
Expresso do Amanhã
3.5 1,3K Assista grátisBong Joon-ho sempre foi um cineasta ocidentalizado. Para ele, portanto, filmar em uma outra realidade cinematográfica não deve ter sido tão difícil. O resultado é um longa coeso, muito fiel às origens coreanas do diretor, que transporta todos os elementos que o consagraram em um filme (por que não?) comercial e de apelo popular. O melhor é Joon-ho entender a importância de um filme desses e utilizá-lo para fazer a massa que o assiste refletir sobre diversas questões de divisão de classe e capitalismo que o filme deixa transparente logo nos primeiros minutos. Fora isso, uma excelente fotografia, uma ótima montagem e uma direção segura e pulso firme fazem eu refletir o motivo de ter demorado tanto pra conferir este filme.
Através das Oliveiras
4.0 56 Assista AgoraKiarostami era puro coração. Será inigualável principalmente porque soube aliar a simplicidade do cinema iraniano à originalidade e metalinguagem de um cinema avant-garde. "Através das Oliveiras" é a poesia de quando a vida se une a arte e vice-versa. A alegria do povoado em assistir a uma filmagem, a mudança que aquilo traz à pacata cidade rodeada de oliveiras. Kiarostami entende todo o contexto da problemática e cuida de extrair a maior beleza dela através de um simplicidade fora do comum - basta observar a longa sequência final.
O Fantástico Sr. Raposo
4.2 933 Assista AgoraEsteticamente esta animação de Wes Anderson é um deleite aos olhos. Fotografia impecável, com uso de cores e posicionamento em campo fora do comum. Mas me pareceu que Anderson estava muito mais preocupado em assinar sua marca registrada no projeto, através de sua estética e seus diálogos trabalhados, que propriamente em evoluir uma narrativa mais sólida. Assim, algumas cenas soam um tanto aleatórias e parece que colocadas lá apenas para inflar a jornada do protagonista.
Assim Falou o Amor
4.1 24Os filmes de Cassavetes ensinam a fazer cinema. Mesmo com seu estilo despojado de filmar, tem domínio total da linguagem cinematográfica e de suas intenções como cineasta. A construção das cenas aqui é brilhante, ousada e faz pensar. Cassavetes consegue caminhar por diversos gêneros em uma mesma sequência (da comédia escrachada ao drama intenso), criando uma jornada de emoções que intriga e fascina quem assiste. E nem preciso citar a performance estonteante da sempre impecável Gena Rowlands, provando ser, sem sombra de dúvidas, uma das maiores atrizes que o cinema norte americano já apresentou ao mundo.
Rebelião
4.5 37Trabalho absolutamente deslumbrante de Kobayashi que, como no também impecável "Harakiri", se preocupa muito mais com as consequências dos acontecimentos que com os atos em si. Tecnicamente é irrepreensível, dono de uma fotografia entorpecente do primeiro ao último plano e uma montagem perspicaz e fluida (que muito se assemelha a do cinema de seu contemporâneo e conterrâneo Kurosawa), Masaki entrega uma obra-prima regida para ser grandiosa. A peso dramático do roteiro só vai crescendo e transformando toda a projeção em uma tragédia sofrida, ainda que muito bela.
Sanjuro
4.2 51Poucos cineastas na história do cinema souberam usar o movimento de forma tão genial quanto Kurosawa. Assistir a um filme deste gênio é o mesmo que atender à uma aula de cinema. "Sanjuro" surge como uma sequência muito digna do também excelente "Yojimbo" e remonta com precisão aquilo que o diretor sabe tão bem fazer: criar personalidades fortes e cativantes através de uma montagem precisa e uma fotografia inebriante.
Demon
3.2 52O grande mérito aqui é criar uma obra única e esteticamente muito coerente. Além de passear pelo drama e terror de forma muito eficaz, ainda demonstra um grande cuidado para fazer da montagem uma personagem na narrativa. Destaque também para a trilha sonora excepcional. Só peca no encerramento, que vai abrandando demais a trama e acaba como tantos outros projetos que vemos por aí. Mas até lá, há um desfile de originalidade que faz valer a pena.