Não apenas a melhor animação do ano, mas também um dos melhores e mais humanos filmes de 2015. Incrível como sua estética é imaginativa (a caracterização dos personagens com mandíbulas que se desacoplam) e ao mesmo tempo muito crível. Charlie Kaufman sempre gostou de brincar no limiar da verdade e fantasia, ao final de contas. Além disso, este é um dos melhores roteiros escritos por Kaufman, com diálogos afiados (destaque para toda a cena pré-sexo do casal) e uma trama muito mais preocupada em analisar com escarnio e inquietação nossa situação cotidiana. Belíssimo filme, emocionante e engrandecedor.
Dentre tantas provas de genialidade legadas pelo diretor, eis uma das maiores: mesmo em um filme menor como este "Rapsódia em Agosto" e mesmo já idoso, Kurosawa entrega uma obra de extrema inteligência visual e grande poesia. Ao se voltar à feridas de sua própria nação, traça um panorama muito belo da forma como o Japão encara hoje (e como encarou anteriormente) a bomba atômica, além de discorrer sobre o choque de gerações e culturas. Fala de ressentimento, culpa, fraternidade e companheirismo de forma delicada e muito singela.
O filme é grandioso justamente em sua pequenez. Entende seu lugar e o trabalha da melhor maneira possível. Palmas para o roteiro inspirado que consegue pintar os protagonistas como figuras ambíguas (não existem heróis ou vilões absolutos), à fotografia que é muito hábil em nos transportar diretamente ao universo e ponto de vista do garotinho e, principalmente, à direção, com um coração gigante, que consegue adaptar uma história difícil, de temas muito complexos, de forma sucinta e sincera. Destaque maior para a sequência
Embora dono de uma filmografia pequena (porém muito relevante), Amenábar não é iniciante. E para uma personalidade envolvida em cinema há mais de 20 anos, não era de se esperar um projeto tão meia boca e pedestre como este. O grande problema não é a narrativa aos moldes televisivos de sábado à noite, mas a forma inapta que o diretor utiliza para levar sua abordagem adiante. São personagens estereotipados, aos quais Amenábar recorre sempre a muletas óbvias para representar suas personalidades (quando estão estressados, esbarram em outras pessoas, quando estão vulneráveis, são filmados em um plongé indiscreto), além de dizerem falas desinspiradas de um roteirista que, sabemos, já fez coisas muito melhores. É, na verdade, um filme sem identidade. Erro cabal, portanto: é melhor um filme ruim dirigido com personalidade que um medíocre dirigido no modo automático.
Desta temporada de premiações, este talvez tenha sido um dos maiores acertos de indicação. "Spotlight" é de fato um dos melhores filmes do ano principalmente pela sutileza e destreza com a qual aborda o tema. É um filme confiante o suficiente para não cair em clichês e extremismos do gênero - sabe que vai se fazer entender com um roteiro perspicaz e uma direção sincera. Passa a abordar a temática através do ponto de vista das vítimas e, com isso, acrescenta muito mais pessoalidade à narrativa. Dono de uma montagem e fotografia exemplares, o longa ainda acerta por um elenco de primeira classe (Mark Ruffalo está em uma de suas melhores performances em anos). O típico filme que engrandece o jornalismo e traz à tona polêmicas como religiosidade e jogo de interesse, em uma produção muito bem ácida e, ainda assim, respeitosa.
Por ser meu primeiro contato com o cinema de Miike, estava esperando uma obra com quase duas horas de cenas escabrosas e de gore perverso. Foi impressionante, então, perceber que o diretor compreendeu que, para sua história funcionar, deveria antes fazer seus personagens funcionarem. Portanto, ao longo de mais de 60 minutos somos apresentados à interação entre as personas em cena e nos instigamos para saber a conclusão de um suspense que, com certeza, não iria acabar bem. Se pode notar, inclusive, sutilezas muito grandes de fotografia e mise-en-scène vindas de um diretor muito mais aclamado pelo extremismo do que mostra. O encerramento, porém, vem para alimentar a fama do realizador e, sim: é horrendo, angustiante e perturbador - tudo isso pelo terreno que ficou preparado desde o início da projeção. Só achei covardia incluir temáticas de sonho em uma situação que soaria muito mais pesada se filmada de forma sóbria.
O grande trunfo aqui é entender que muitas vezes a sutileza é a chave para certos contextos. Haynes entrega um longa de grande elegância, onde muito se diz com pouco. Gostei particularmente da química entre Blanchett e Mara.
Devo ser sincero: juro que não vejo nenhum diferencial deste para tantos outros filmes patrióticos norte americanos dos últimos anos. Todos os elementos estão lá, com direito até à população balançando bandeirinhas dos EUA. Poucas vezes (enquanto não tinha surtos de genialidade ou declínios de burrice) Ridley Scott esteve tão no piloto automático. Parece se enquadrar apenas nas convenções do gênero e não traz nada que o diferenciei dos demais blockbusters do ano. Tecnicamente, o filme é deslumbrante - um show de efeitos belíssimos e uma fotografia que concede vida até mesmo à paisagem morta de Marte. Fora isso, há um roteiro genérico, que tenta não muito bem sucedidamente acrescentar comédia às situações menos convenientes. Ridley Scott já fez coisas bem melhores. E já se mostrou diretor bem mais hábil que aqui.
A real beleza de um documentário é a de engrandecer a luta de um artista por seus ideais. O que dizer, então, de um filme cuja primeira cena emociona por vermos uma Nina Simone engajada, que carrega as dores do passado sozinha em suas costas? "What Happened, Miss Simone?" vai muito mais além de narrar a trajetória da cantora ativista: é um retrato sobre opressão e libertação, seja ela violenta ou pacífica. E não tem para ninguém: "WHat Happened..." é o documentário mais humano do ano!
"Black bodies Swinging in the southern breeze Strange fruit hangin' From the poplar trees"
Embora seja impossível não comparar este filme com uma das maiores obras-primas de Dreyer, deve-se entender que as propostas são diferentes, embora o tema seja o mesmo. O que Bresson entrega aqui é uma obra sóbria e quase documental sobre o julgamento de Joana. Como sugerem os letreiros na abertura do longa, o roteiro foi inteiramente baseado nos anais do processo (seria possível?), sendo assim, é de se imaginar que o que vemos é uma representação, ao menos, fidedigna do ocorrido. Fora isso, é minimalista até para o cinema do próprio Robert. Extremamente econômico em qualquer alegoria cinematográfica, "O Processo de Joana D'Arc" é um filme simples, direto, mas sem deixar de ser muito bonito e comovente em sua cena apoteótica.
O maior ironia deste filme é tratar de um roteirista, mas possuir um péssimo roteiro. Talvez um dos piores scripts dentre os filmes de premiação desta temporada. Usa e abusa de estereótipos para narrar uma história grandiosa, que acaba perdendo a força por diálogos toscos que transformam cenas de promissor apelo dramático em novelões baratos e sem vida. De fato, a única coisa relevante é a performance de Bryan Cranston, já que até a recriação de personalidades do cinema (que poderia ser um atrativo à parte) é feita da forma mais deplorável possível. Vide a desastrosa representação de John Wayne.
Deve-se analisar este filme sob dois aspectos: sua pretensão e sua realização. Ao que parece, os próprios diretores não entenderam que estavam entregando um filme cujo material, por si só, justifica qualquer abordagem. Embora tenham um ótimo conteúdo em mãos e o abordem de forma bem coerente e respeitosa, sentem a necessidade de justificar cada imagem e cada virada no documentário. Não é à toa que adotam uma narração em off totalmente desnecessária ao fim, sobre lendas urbanas. Além disso, pode-se questionar a legitimidade da cena em que o casal de documentaristas entra no asilo abandonado. Mas, fora isso, é inegável que funcione muito bem. Um verdadeiro filme de terror que fica mais apavorante por sabermos que tudo o que vimos de fato ocorreu. Ao lançar diversas especulações, o longa encurrala o espectador a escolher aquela que este julga ser "menos pior".
Para além de um filme muito belo, a fotografia e a direção de arte andam juntas para apresentar um personagem angustiado, quase claustrofóbico (notem como a floresta possui árvores mais altas e lineares - profundidade e claustrofobia - enquanto o personagem está perdido e a ambientação adota locações mais externas à floresta a medida que o protagonista vai encerrando sua jornada). O que mais me agradou longa é a verossimilhança com que trata cada aspecto da aventura em si. Com planos mais longos e enquadramentos fechados, realmente sentimos o que o personagem de DiCaprio sente e lutamos com ele para sua convalescença. "O Regresso" pode não ser o melhor filme de 2015, mas com certeza é um dos mais significativos.
A beleza de um filme reside não apenas em sua narrativa, mas principalmente nos elementos que representa nas entrelinhas. A história de "O Indomado" é básica e não traz nada de novo, o trunfo aqui é a estética inteligente que expande a experiência de assistir a este filme, em uma jornada de praticamente dois filmes simultâneos. Um é aquele que vemos, o outro é aquele que sentimos e entendemos pela sua técnica rigorosa. Toda a mise-èn-scene, a montagem e a fotografia cuidam de expressar a relação entre os personagens e mostrar o quão conflitantes são suas personalidades. Se estabelece aquele que domina, aquele que aprende e evolui e aqueles que não possuem voz ativa. Uma parábola sofrida dos - então - tempos modernos, onde a vida no campo deixa de ser um lugar de conquistas para se tornar cada vez mais um fardo a se carregar.
"Fitzcarraldo" não poderia se encaixar mais em um diretor como em Herzog. Possui aquela atmosfera de loucura sem degringolar para a psicodelia explícita. E apresenta uma direção engenhosa e perspicaz, que sabe utilizar seus pontos mais fortes (a performance de Kinski, a belíssima fotografia e a grandiosidade da trama) para conquistar quem o assiste.
Incrível como logo em seu primeiro filme, Visconti entrega uma obra-prima primorosa, com um trabalho de direção que muitos diretores veteranos morreriam para reprisar. A começar que sua abordagem, sempre acertada, transpira pulso firme e sempre recorre às opções narrativas mais inteligentes e bem resolvidas. Apesar da forte carga dramática carregada pelos atores muito bem coordenados, há ainda momentos para sutilezas de pista e recompensa que nos fazem encarar tudo como um jogo de cartas marcadas. Um jogo onde Luchino tem o controle completo de como tudo vai transcorrer e encerrar - ao melhor estilo dramático neo-realista.
Esmagado pela grandiosidade do império de animações norte-americano, surge “O Menino e o Mundo”, uma obra muito bonita, pessoal e emotiva que, além de emocionar, ainda faz pensar com sua mensagem de preservação. Tudo isso sob a inteligência de um desenho minimalista e – quase – desleixado. E falo de inteligência porque a sensibilidade para estética que esse filme exprime é muito grande. Com pequenos detalhes, consegue fazer refletir de forma muito mais profunda. Notem, por exemplo, como o design de produção desenha as máquinas vistas como versões robóticas de animais. Além disso, é muito hábil em criar uma ambientação genérica, não regionalizada, capaz de ser transportada para qualquer lugar e tempo no mundo. Isso transforma, de forma muito sutil, a problemática em algo universal e atemporal.
Conheci David O. Russel em “O Vencedor”, indicado a vários Oscar em 2011. Desde lá, nunca gostei de seus trabalhos de direção. Mas, por mais que falhasse em diversas instâncias e sempre (sem exceção) entregasse projetos, no máximo, regulares, nunca havia desempenhado seu papel como diretor de forma tão desastrosa quanto aqui. Seus erros habituais ainda permanecem: claramente tem uma dificuldade de utilizar seu elenco em papéis coerentes a seus intérpretes, não consegue fugir de clichês óbvios para personagens mais óbvios ainda e aposta todas as fichas em uma Jennifer Lawrence sempre medíocre. Mas o problema real surge quando o realizador tenta inserir uma nova linguagem a seu filme, apostando na estética novelesca para contar a história de Joy. Com isso, traz diversos novos erros à luz, como sua indecisão constante de abordagem (o filme é confuso em sua estética e nunca sabemos quando o exagero é proposital ou não – temo que grande parte deles não sejam), seu desperdício de personagem com um roteiro pavoroso, capaz de transformar todos em figuras caricatas e sem vida própria (só existem para servir à protagonista de alguma forma) e, o mais grave de todos: apresenta uma visão machista e desatenta das causas feministas. Russel se colocou em saia justa com esse longa justamente por se mostrar um completo ignorante sobre o tema e optar por tratar tudo da forma mais batida possível, sem saber (espero!) que estava entregando uma obra mais machista e imbecil que tantas outras sem a temática. Por fim, “Joy” não só é o pior filme do diretor, mas um ultraje ao movimento que busca defender. É o tipo da coisa: se não quer ajudar ao menos não atrapalhe!
O grande diferencial aqui é tratar da relação na terceira idade. Afinal, são duas pessoas que viveram praticamente uma vida inteira juntos, recheados de bagagem e experiências compartilhadas. A vida os ensinou que muitas vezes mais vale relevar e guardar a situação para si que iniciar uma discussão sem fim sobre um argumento que talvez nem seja assim tão importante. No filme, portanto, não há brigas nem lavagem de roupa suja. Tudo é muito velado, sugerido com olhares e frases de duplo sentido. Nisso, a performance de Charlotte Rampling se revela mais que precisa e muito metódica. É mais complexo transmitir emoções com pouco, e Rampling faz isso de forma brilhante, acrescentando características marcantes a um personagem extremamente comum. Pena que o longa não apresente muitas outras características que o destaquem da massa de filmes sobre relacionamento, sendo um projeto que, com certeza, não irá marcar de muitas formas quem o assistir. Apenas a simplicidade do roteiro muito bem trabalhado e a performance de Charlotte que salvam este filme do completo mar de esquecimento.
Para além de qualquer comentário que se possa fazer, um fica mais evidente: a evolução de Adam McKay como diretor. Saído de um festival de comédias de gosto duvidoso, ele trabalha aqui com um roteiro inteligente, ágil e desempenha um papel de direção muito perspicaz. Certo que o script incomoda um tanto pela quantidade de termos técnicos, mas a montagem acrescenta um ritmo fenomenal ao longa e costura muito bem um fato a outro, mostrando que o que vemos é uma cadeia de eventos interligados.
Sejamos francos: Rocky Balboa não pode mais existir da forma como existia em seus tempos áureos de lutador. Seu intérprete e seu legado já atingiram uma idade que mantê-lo da mesma forma não iria convencer ninguém. Portanto, é louvável a intenção de transforma-lo em um personagem coadjuvante de seu próprio filme. Isso mostra um respeito gigante pela franquia, assim como uma chance ímpar de transportar os fãs do personagem mais a fundo em seu universo. "Creed" é um filme perspicaz – sabe inserir as referências sem ser óbvio (muita coisa é ‘escondida’ nos cenários, nos figurinos e na trilha sonora) e apresenta uma composição muito mais melodramática a Rocky. Palmas para Stallone que concebe uma persona castigada pelo tempo e por recorrentes traumas de sua vida. Um dos grandes papéis que interpretou principalmente pela nova perspectiva que entregou a uma personalidade já conhecida. Além disso, o longa merece aplausos pela sua coragem em filmar grande parte das cenas de luta com poucos cortes (notem o emprego recorrente de pequenos planos-sequência) confiando em uma coreografia caprichada para transpassar o peso da cena. Pena que alguns méritos sejam abafados por uma abordagem muitas vezes exagerada e saturada demais. Pequenos acontecimentos são narrados com a dramaticidade exagerada de uma completa catástrofe. Além disso, há alguns floreios que não precisavam existir (como o uso de slow motion ou os letreiros que apresentam os boxeadores), que desvirtuam um pouco a trama de sua frieza. No mais, “Creed” é um filme sincero e respeitoso. Um dos melhores de Rocky – atrás apenas do longa de 76 – principalmente por entender que muitas vezes vale mais deixar o universo criado por um personagem caminhar por conta própria, sabendo que tudo tem seu tempo, e o de Balboa já passou.
O que mais instiga no cinema de Ruy Guerra é a forma como a violência se faz presente constantemente em todos os lugares: nos diálogos, nas performances, no enredo, no cenário... sem precisar de fato mostrar a violência gráfica em si. Não é à toa que a sequência onde
o Coronel é desafiado por seu oponente em praça lotada não dá o gosto de mostrar a luta ao espectador
, pois o que importa para o diretor são as consequências da violência sobre os personagens e a forma como estes a mantém presa dentro de si. Uma abordagem bem incomum no cinema novo, e por isso mesmo digna de nota.
Se faz notar fortemente a influência de "A Noiva de Frankenstein" neste filme (a mecha branca no cabelo da protagonista, a trama de cientista louco), mas ainda com o toque especial, sincero e criativo de Browning, um dos maiores cineastas do terror da década de 30.
É sempre um prazer assistir à dobradinha Corman e Price, ainda mais sob tema tão alegórico e macabro assim. O que dá o toque especial a esta obra é justamente a falta de habilidade de Corman na direção – sempre muito mais interessado em explorar as excentricidades de seu ator favorito que propriamente criar e manter uma tensão e sentimento de horror. Tudo é muito satírico e (por que não¿) charmoso. Não sei se o descompromisso era proposital, mas com certeza foi o que eternizou este longa nas carreiras de seu diretor e ator.
Anomalisa
3.8 497 Assista AgoraNão apenas a melhor animação do ano, mas também um dos melhores e mais humanos filmes de 2015. Incrível como sua estética é imaginativa (a caracterização dos personagens com mandíbulas que se desacoplam) e ao mesmo tempo muito crível. Charlie Kaufman sempre gostou de brincar no limiar da verdade e fantasia, ao final de contas. Além disso, este é um dos melhores roteiros escritos por Kaufman, com diálogos afiados (destaque para toda a cena pré-sexo do casal) e uma trama muito mais preocupada em analisar com escarnio e inquietação nossa situação cotidiana. Belíssimo filme, emocionante e engrandecedor.
Rapsódia em Agosto
4.0 85Dentre tantas provas de genialidade legadas pelo diretor, eis uma das maiores: mesmo em um filme menor como este "Rapsódia em Agosto" e mesmo já idoso, Kurosawa entrega uma obra de extrema inteligência visual e grande poesia. Ao se voltar à feridas de sua própria nação, traça um panorama muito belo da forma como o Japão encara hoje (e como encarou anteriormente) a bomba atômica, além de discorrer sobre o choque de gerações e culturas. Fala de ressentimento, culpa, fraternidade e companheirismo de forma delicada e muito singela.
O Quarto de Jack
4.4 3,3K Assista AgoraO filme é grandioso justamente em sua pequenez. Entende seu lugar e o trabalha da melhor maneira possível. Palmas para o roteiro inspirado que consegue pintar os protagonistas como figuras ambíguas (não existem heróis ou vilões absolutos), à fotografia que é muito hábil em nos transportar diretamente ao universo e ponto de vista do garotinho e, principalmente, à direção, com um coração gigante, que consegue adaptar uma história difícil, de temas muito complexos, de forma sucinta e sincera. Destaque maior para a sequência
desde que o garoto escapa até a libertação de sua mãe
Regressão
2.8 535 Assista AgoraEmbora dono de uma filmografia pequena (porém muito relevante), Amenábar não é iniciante. E para uma personalidade envolvida em cinema há mais de 20 anos, não era de se esperar um projeto tão meia boca e pedestre como este. O grande problema não é a narrativa aos moldes televisivos de sábado à noite, mas a forma inapta que o diretor utiliza para levar sua abordagem adiante. São personagens estereotipados, aos quais Amenábar recorre sempre a muletas óbvias para representar suas personalidades (quando estão estressados, esbarram em outras pessoas, quando estão vulneráveis, são filmados em um plongé indiscreto), além de dizerem falas desinspiradas de um roteirista que, sabemos, já fez coisas muito melhores. É, na verdade, um filme sem identidade. Erro cabal, portanto: é melhor um filme ruim dirigido com personalidade que um medíocre dirigido no modo automático.
Spotlight - Segredos Revelados
4.1 1,7K Assista AgoraDesta temporada de premiações, este talvez tenha sido um dos maiores acertos de indicação. "Spotlight" é de fato um dos melhores filmes do ano principalmente pela sutileza e destreza com a qual aborda o tema. É um filme confiante o suficiente para não cair em clichês e extremismos do gênero - sabe que vai se fazer entender com um roteiro perspicaz e uma direção sincera. Passa a abordar a temática através do ponto de vista das vítimas e, com isso, acrescenta muito mais pessoalidade à narrativa. Dono de uma montagem e fotografia exemplares, o longa ainda acerta por um elenco de primeira classe (Mark Ruffalo está em uma de suas melhores performances em anos). O típico filme que engrandece o jornalismo e traz à tona polêmicas como religiosidade e jogo de interesse, em uma produção muito bem ácida e, ainda assim, respeitosa.
O Teste Decisivo
3.6 381Por ser meu primeiro contato com o cinema de Miike, estava esperando uma obra com quase duas horas de cenas escabrosas e de gore perverso. Foi impressionante, então, perceber que o diretor compreendeu que, para sua história funcionar, deveria antes fazer seus personagens funcionarem. Portanto, ao longo de mais de 60 minutos somos apresentados à interação entre as personas em cena e nos instigamos para saber a conclusão de um suspense que, com certeza, não iria acabar bem. Se pode notar, inclusive, sutilezas muito grandes de fotografia e mise-en-scène vindas de um diretor muito mais aclamado pelo extremismo do que mostra. O encerramento, porém, vem para alimentar a fama do realizador e, sim: é horrendo, angustiante e perturbador - tudo isso pelo terreno que ficou preparado desde o início da projeção. Só achei covardia incluir temáticas de sonho em uma situação que soaria muito mais pesada se filmada de forma sóbria.
Carol
3.9 1,5K Assista AgoraO grande trunfo aqui é entender que muitas vezes a sutileza é a chave para certos contextos. Haynes entrega um longa de grande elegância, onde muito se diz com pouco. Gostei particularmente da química entre Blanchett e Mara.
Perdido em Marte
4.0 2,3K Assista AgoraDevo ser sincero: juro que não vejo nenhum diferencial deste para tantos outros filmes patrióticos norte americanos dos últimos anos. Todos os elementos estão lá, com direito até à população balançando bandeirinhas dos EUA. Poucas vezes (enquanto não tinha surtos de genialidade ou declínios de burrice) Ridley Scott esteve tão no piloto automático. Parece se enquadrar apenas nas convenções do gênero e não traz nada que o diferenciei dos demais blockbusters do ano. Tecnicamente, o filme é deslumbrante - um show de efeitos belíssimos e uma fotografia que concede vida até mesmo à paisagem morta de Marte. Fora isso, há um roteiro genérico, que tenta não muito bem sucedidamente acrescentar comédia às situações menos convenientes. Ridley Scott já fez coisas bem melhores. E já se mostrou diretor bem mais hábil que aqui.
What Happened, Miss Simone?
4.4 401 Assista AgoraA real beleza de um documentário é a de engrandecer a luta de um artista por seus ideais. O que dizer, então, de um filme cuja primeira cena emociona por vermos uma Nina Simone engajada, que carrega as dores do passado sozinha em suas costas? "What Happened, Miss Simone?" vai muito mais além de narrar a trajetória da cantora ativista: é um retrato sobre opressão e libertação, seja ela violenta ou pacífica. E não tem para ninguém: "WHat Happened..." é o documentário mais humano do ano!
"Black bodies
Swinging in the southern breeze
Strange fruit hangin'
From the poplar trees"
O Processo de Joana D'arc
4.0 19Embora seja impossível não comparar este filme com uma das maiores obras-primas de Dreyer, deve-se entender que as propostas são diferentes, embora o tema seja o mesmo. O que Bresson entrega aqui é uma obra sóbria e quase documental sobre o julgamento de Joana. Como sugerem os letreiros na abertura do longa, o roteiro foi inteiramente baseado nos anais do processo (seria possível?), sendo assim, é de se imaginar que o que vemos é uma representação, ao menos, fidedigna do ocorrido. Fora isso, é minimalista até para o cinema do próprio Robert. Extremamente econômico em qualquer alegoria cinematográfica, "O Processo de Joana D'Arc" é um filme simples, direto, mas sem deixar de ser muito bonito e comovente em sua cena apoteótica.
Trumbo: Lista Negra
3.9 375 Assista AgoraO maior ironia deste filme é tratar de um roteirista, mas possuir um péssimo roteiro. Talvez um dos piores scripts dentre os filmes de premiação desta temporada. Usa e abusa de estereótipos para narrar uma história grandiosa, que acaba perdendo a força por diálogos toscos que transformam cenas de promissor apelo dramático em novelões baratos e sem vida. De fato, a única coisa relevante é a performance de Bryan Cranston, já que até a recriação de personalidades do cinema (que poderia ser um atrativo à parte) é feita da forma mais deplorável possível. Vide a desastrosa representação de John Wayne.
Cropsey
3.3 21 Assista AgoraDeve-se analisar este filme sob dois aspectos: sua pretensão e sua realização. Ao que parece, os próprios diretores não entenderam que estavam entregando um filme cujo material, por si só, justifica qualquer abordagem. Embora tenham um ótimo conteúdo em mãos e o abordem de forma bem coerente e respeitosa, sentem a necessidade de justificar cada imagem e cada virada no documentário. Não é à toa que adotam uma narração em off totalmente desnecessária ao fim, sobre lendas urbanas. Além disso, pode-se questionar a legitimidade da cena em que o casal de documentaristas entra no asilo abandonado. Mas, fora isso, é inegável que funcione muito bem. Um verdadeiro filme de terror que fica mais apavorante por sabermos que tudo o que vimos de fato ocorreu. Ao lançar diversas especulações, o longa encurrala o espectador a escolher aquela que este julga ser "menos pior".
O Regresso
4.0 3,5K Assista AgoraPara além de um filme muito belo, a fotografia e a direção de arte andam juntas para apresentar um personagem angustiado, quase claustrofóbico (notem como a floresta possui árvores mais altas e lineares - profundidade e claustrofobia - enquanto o personagem está perdido e a ambientação adota locações mais externas à floresta a medida que o protagonista vai encerrando sua jornada). O que mais me agradou longa é a verossimilhança com que trata cada aspecto da aventura em si. Com planos mais longos e enquadramentos fechados, realmente sentimos o que o personagem de DiCaprio sente e lutamos com ele para sua convalescença. "O Regresso" pode não ser o melhor filme de 2015, mas com certeza é um dos mais significativos.
O Indomado
4.0 52 Assista AgoraA beleza de um filme reside não apenas em sua narrativa, mas principalmente nos elementos que representa nas entrelinhas. A história de "O Indomado" é básica e não traz nada de novo, o trunfo aqui é a estética inteligente que expande a experiência de assistir a este filme, em uma jornada de praticamente dois filmes simultâneos. Um é aquele que vemos, o outro é aquele que sentimos e entendemos pela sua técnica rigorosa. Toda a mise-èn-scene, a montagem e a fotografia cuidam de expressar a relação entre os personagens e mostrar o quão conflitantes são suas personalidades. Se estabelece aquele que domina, aquele que aprende e evolui e aqueles que não possuem voz ativa. Uma parábola sofrida dos - então - tempos modernos, onde a vida no campo deixa de ser um lugar de conquistas para se tornar cada vez mais um fardo a se carregar.
Fitzcarraldo
4.2 148 Assista Agora"Fitzcarraldo" não poderia se encaixar mais em um diretor como em Herzog. Possui aquela atmosfera de loucura sem degringolar para a psicodelia explícita. E apresenta uma direção engenhosa e perspicaz, que sabe utilizar seus pontos mais fortes (a performance de Kinski, a belíssima fotografia e a grandiosidade da trama) para conquistar quem o assiste.
Obsessão
3.9 32 Assista AgoraIncrível como logo em seu primeiro filme, Visconti entrega uma obra-prima primorosa, com um trabalho de direção que muitos diretores veteranos morreriam para reprisar. A começar que sua abordagem, sempre acertada, transpira pulso firme e sempre recorre às opções narrativas mais inteligentes e bem resolvidas. Apesar da forte carga dramática carregada pelos atores muito bem coordenados, há ainda momentos para sutilezas de pista e recompensa que nos fazem encarar tudo como um jogo de cartas marcadas. Um jogo onde Luchino tem o controle completo de como tudo vai transcorrer e encerrar - ao melhor estilo dramático neo-realista.
O Menino e o Mundo
4.3 734 Assista AgoraEsmagado pela grandiosidade do império de animações norte-americano, surge “O Menino e o Mundo”, uma obra muito bonita, pessoal e emotiva que, além de emocionar, ainda faz pensar com sua mensagem de preservação. Tudo isso sob a inteligência de um desenho minimalista e – quase – desleixado. E falo de inteligência porque a sensibilidade para estética que esse filme exprime é muito grande. Com pequenos detalhes, consegue fazer refletir de forma muito mais profunda. Notem, por exemplo, como o design de produção desenha as máquinas vistas como versões robóticas de animais. Além disso, é muito hábil em criar uma ambientação genérica, não regionalizada, capaz de ser transportada para qualquer lugar e tempo no mundo. Isso transforma, de forma muito sutil, a problemática em algo universal e atemporal.
Joy: O Nome do Sucesso
3.4 778 Assista AgoraConheci David O. Russel em “O Vencedor”, indicado a vários Oscar em 2011. Desde lá, nunca gostei de seus trabalhos de direção. Mas, por mais que falhasse em diversas instâncias e sempre (sem exceção) entregasse projetos, no máximo, regulares, nunca havia desempenhado seu papel como diretor de forma tão desastrosa quanto aqui. Seus erros habituais ainda permanecem: claramente tem uma dificuldade de utilizar seu elenco em papéis coerentes a seus intérpretes, não consegue fugir de clichês óbvios para personagens mais óbvios ainda e aposta todas as fichas em uma Jennifer Lawrence sempre medíocre. Mas o problema real surge quando o realizador tenta inserir uma nova linguagem a seu filme, apostando na estética novelesca para contar a história de Joy. Com isso, traz diversos novos erros à luz, como sua indecisão constante de abordagem (o filme é confuso em sua estética e nunca sabemos quando o exagero é proposital ou não – temo que grande parte deles não sejam), seu desperdício de personagem com um roteiro pavoroso, capaz de transformar todos em figuras caricatas e sem vida própria (só existem para servir à protagonista de alguma forma) e, o mais grave de todos: apresenta uma visão machista e desatenta das causas feministas. Russel se colocou em saia justa com esse longa justamente por se mostrar um completo ignorante sobre o tema e optar por tratar tudo da forma mais batida possível, sem saber (espero!) que estava entregando uma obra mais machista e imbecil que tantas outras sem a temática. Por fim, “Joy” não só é o pior filme do diretor, mas um ultraje ao movimento que busca defender. É o tipo da coisa: se não quer ajudar ao menos não atrapalhe!
45 Anos
3.7 254 Assista AgoraO grande diferencial aqui é tratar da relação na terceira idade. Afinal, são duas pessoas que viveram praticamente uma vida inteira juntos, recheados de bagagem e experiências compartilhadas. A vida os ensinou que muitas vezes mais vale relevar e guardar a situação para si que iniciar uma discussão sem fim sobre um argumento que talvez nem seja assim tão importante. No filme, portanto, não há brigas nem lavagem de roupa suja. Tudo é muito velado, sugerido com olhares e frases de duplo sentido. Nisso, a performance de Charlotte Rampling se revela mais que precisa e muito metódica. É mais complexo transmitir emoções com pouco, e Rampling faz isso de forma brilhante, acrescentando características marcantes a um personagem extremamente comum. Pena que o longa não apresente muitas outras características que o destaquem da massa de filmes sobre relacionamento, sendo um projeto que, com certeza, não irá marcar de muitas formas quem o assistir. Apenas a simplicidade do roteiro muito bem trabalhado e a performance de Charlotte que salvam este filme do completo mar de esquecimento.
A Grande Aposta
3.7 1,3KPara além de qualquer comentário que se possa fazer, um fica mais evidente: a evolução de Adam McKay como diretor. Saído de um festival de comédias de gosto duvidoso, ele trabalha aqui com um roteiro inteligente, ágil e desempenha um papel de direção muito perspicaz. Certo que o script incomoda um tanto pela quantidade de termos técnicos, mas a montagem acrescenta um ritmo fenomenal ao longa e costura muito bem um fato a outro, mostrando que o que vemos é uma cadeia de eventos interligados.
Creed: Nascido para Lutar
4.0 1,1K Assista AgoraSejamos francos: Rocky Balboa não pode mais existir da forma como existia em seus tempos áureos de lutador. Seu intérprete e seu legado já atingiram uma idade que mantê-lo da mesma forma não iria convencer ninguém. Portanto, é louvável a intenção de transforma-lo em um personagem coadjuvante de seu próprio filme. Isso mostra um respeito gigante pela franquia, assim como uma chance ímpar de transportar os fãs do personagem mais a fundo em seu universo. "Creed" é um filme perspicaz – sabe inserir as referências sem ser óbvio (muita coisa é ‘escondida’ nos cenários, nos figurinos e na trilha sonora) e apresenta uma composição muito mais melodramática a Rocky. Palmas para Stallone que concebe uma persona castigada pelo tempo e por recorrentes traumas de sua vida. Um dos grandes papéis que interpretou principalmente pela nova perspectiva que entregou a uma personalidade já conhecida. Além disso, o longa merece aplausos pela sua coragem em filmar grande parte das cenas de luta com poucos cortes (notem o emprego recorrente de pequenos planos-sequência) confiando em uma coreografia caprichada para transpassar o peso da cena. Pena que alguns méritos sejam abafados por uma abordagem muitas vezes exagerada e saturada demais. Pequenos acontecimentos são narrados com a dramaticidade exagerada de uma completa catástrofe. Além disso, há alguns floreios que não precisavam existir (como o uso de slow motion ou os letreiros que apresentam os boxeadores), que desvirtuam um pouco a trama de sua frieza. No mais, “Creed” é um filme sincero e respeitoso. Um dos melhores de Rocky – atrás apenas do longa de 76 – principalmente por entender que muitas vezes vale mais deixar o universo criado por um personagem caminhar por conta própria, sabendo que tudo tem seu tempo, e o de Balboa já passou.
Os Deuses e os Mortos
3.6 15O que mais instiga no cinema de Ruy Guerra é a forma como a violência se faz presente constantemente em todos os lugares: nos diálogos, nas performances, no enredo, no cenário... sem precisar de fato mostrar a violência gráfica em si. Não é à toa que a sequência onde
o Coronel é desafiado por seu oponente em praça lotada não dá o gosto de mostrar a luta ao espectador
A Boneca do Diabo
3.5 22Se faz notar fortemente a influência de "A Noiva de Frankenstein" neste filme (a mecha branca no cabelo da protagonista, a trama de cientista louco), mas ainda com o toque especial, sincero e criativo de Browning, um dos maiores cineastas do terror da década de 30.
A Orgia da Morte
3.8 112É sempre um prazer assistir à dobradinha Corman e Price, ainda mais sob tema tão alegórico e macabro assim. O que dá o toque especial a esta obra é justamente a falta de habilidade de Corman na direção – sempre muito mais interessado em explorar as excentricidades de seu ator favorito que propriamente criar e manter uma tensão e sentimento de horror. Tudo é muito satírico e (por que não¿) charmoso. Não sei se o descompromisso era proposital, mas com certeza foi o que eternizou este longa nas carreiras de seu diretor e ator.