Excelente noir de Huston, em um de seus melhores trabalhos de direção. Repleto de sutilezas narrativas e simbologias, além de uma sequência memorável durante a tempestade. Há também um roteiro primoroso, populado por personagens multifacetados e diversas questões étnicas que fazem refletir.
Talvez este seja o documentário mais amplo já filmado por Moore. Principalmente no que tange sua abordagem narrativa, o cineasta me pareceu ir de encontro à sua estética usual. Ao invés de criticar os E.U.A e fornecer exemplos e contra-argumentos sobre suas alegações, prefere fazer com que o próprio espectador crie suas próprias críticas e questionamentos. E consegue este trunfo quando abandona a agressividade de sua direção e a substitui pela humildade de dar a volta ao mundo tentando aprender com o que o vizinho tem de melhor. Em certo ponto a narrativa se incha um tanto, uma vez que já havíamos compreendido as intenções do longa, mas nada que comprometa o resultado final significativamente. Grande filme.
Noir absolutamente bem conduzido, cativante e esperto: consegue criar uma empatia gigante pelo vilão que mataria a sangue frio, mas parece apresentar noções apuradas de ética e moral - típico da direção sempre poderosa de Walsh.
Certo que o filme se apressa em momentos que não deveria ou poderia, mas é inegável a eficiência de Lang em nos transportar para o universo proposto de delírios e intrigas de estado. Não fosse o desenvolvimento tão corrido ou o final abrupto e anti-clímax, certamente teria mais efeito e sobreviveria muito mais que de fato sobreviveu.
A magnífica direção de Vidor só encontra rival na performance poderosa da sempre impecável Bette Davis - em uma personagem que parece ter sido escrita para ela. Roteiro poderoso, montagem inteligente e uma fotografia belíssima fazem deste mais um grande filme da estrela em seu auge. Só é difícil entender como uma dobradinha tão eficaz como esta não se repetiu dentro da filmografia de Vidor.
De uma sutileza irrepreensível, "Ausência" consegue extrair ternura do ambiente mais hostil possível e transformar uma realidade distorcida em uma jornada de esperança. O grande mérito é o cuidado com que trata de assuntos delicados e confia na inteligência do espectador em captar a essência nas entrelinhas.
O que atraiu minha atenção neste longa foi seu contexto muito atípico às produções slasher - não me lembro de ter visto um outro filme do gênero que se situasse em plena década de 40, no fim da 2ª GM. O problema é que muito pouco se explora o ambiente de época. Parece que acha mais importante apelar para personagens desinteressantes e um alívio cômico que nunca funciona para cativar. Além disso, a montagem é absolutamente pavorosa, a ponto de transformar a lógica de uma simples cena de perseguição em uma sequência quase ininteligível. E apesar de ter surgido em uma época onde muito pouco se conhecia de slasher, não funciona como filme, mesmo que tenha influenciado algumas gerações de cineastas no ramo. A diferença é que estes souberam usar os erros daqui como aprendizado.
Um dos filmes anti-guerra mais geniais que tive o prazer de conferir. Não apenas por trazer à tona essa questão de forma tão bem discutida, mas por todo o capricho narrativo e imagético que demonstra. A montagem é ágil, assim como a fotografia é metódica e extremamente perspicaz. E, de quebra, o roteiro ainda reserva diálogos emocionantes e personagens significativos.
Noir absolutamente genial de Otto Preminger, onde cada personagem é conectado à história por um passado obscuro. É um quebra-cabeças onde apenas o espectador sabe a real versão dos acontecimentos. Roteiro muito bem costurado por um direção exuberante e deveras perspicaz. Repleto de performances destacáveis e um clima sombrio muito bem aproveitado, típico do sub-gênero.
Não sei se pela inexperiência de Herzog ao tratar de tema tão clássico, mas o diretor apresenta aqui um roteiro muito aquém das expectativas, que recorre constantemente a clichês batidos do gênero, um jogo de pista e recompensa desnecessário e mal empregado, além de tentar justificar cada atitude que vemos em tela através de diálogos expositivos - como se o que víssemos não é suficiente para entender a lógica do filme. Além disso, todo o elenco me pareceu forçado - principalmente no que tange Nicole Kidman (que desde o fraco "Reencontrando a Felicidade" não entrega uma performance digna de nota). Mas tenho que confessar: a fotografia moderna e deslumbrante (que remete muito ao estilo documental do diretor) acrescentou uma roupagem atual à trama, além do que a trilha sonora é belíssima. No fundo, me pareceu uma aventura não muito bem sucedida de Werner por um estilo de cinema que ainda não está acostumado, mesmo com tantas décadas de experiência em cinema.
É um filme engrandecido justamente por sua simplicidade. O roteiro se obriga a adotar soluções narrativas inteligentes para contornar o baixo orçamento e entrega situações inusitadas que surpreendem. Possui uma narrativa bem cuidada e direção atenta. Daqueles noir clássicos que expiram paixão.
A ambientação é impecável e o charme do gênero só engrandece a experiência. O grande problema é o filme entregar seu final logo no início, quebrando parte do clima de suspense tão bem instaurado pela direção de arte e fotografia. Mas temos que dar o braço à torcer: diversas sequências funcionam, tal qual o filme como um todo, que ainda conta com uma mensagem relevante nas entrelinhas.
Dentre as obras de arte de Angelopoulos, esta talvez seja a mais acessível. Não apenas por ser um de seus filmes mais reconhecidos, mas principalmente por adotar uma postura menos extrema quanto a sua estética. Aqui, o diretor se permite brincar com cortes e opta por planos-sequência menos arrojados que já havia feito e faria posteriormente. Mas ainda assim, é um filme lindo, um verdadeiro libelo de amor, com porte de obra-prima da primeira à última cena. De certa forma Angelopoulos aqui consegue capturar um pouco da elegância estética oitentista e dissecá-la através de sua montagem e fotografia - ainda que narre uma jornada tão trágica, como em tantos outros filmes seus: uma verdadeira tragédia grega.
Sempre se pode justificar um filme ruim, mas nunca se pode defender um filme cuja ideologia esteja tão errada quanto este aqui: é, acima de tudo, um filme oportunista. Surgindo na nova onda do cinema grego, parece se apoiar neste contexto para desculpar erros grosseiros na narrativa. A sátira aqui é nada além de deplorável, descontextualizada e enojante. A química entre as atrizes é péssima, a condução narrativa é mais que aborrecida e, para um filme de personagens, comete o maior erro de todos: apresentar uma protagonista enjoada, pouco interessante e tratá-la como se fosse do interesse do espectador conhecer seus dramas. Assim, se não nos importamos com ela, até o martírio de seu pai se torna inócuo e o filme de pouco mais de 90 minutos parece testar a paciência em um show de exageros e estranheza da pior espécie possível. E mesmo que seja dirigido por uma mulher, é incrível como prega uma personagem tão objetificada ao universo masculino. Ao fim, é um projeto metido a espertinho, que menospreza o espectador e não caminha com as próprias pernas.
Épico absolutamente genial, que engloba desde comédia com as gags mais bem arranjadas, até sequências de batalha de tirar o fôlego. É Kurosawa atestando mais uma vez sua genialidade, mostrando que é, além de tudo, um professor de cinema. Em apenas 15 minutos de filme já dá diversas aulas sobre o fazer cinematográfico melhor que muita teoria por aí. Um show de fotografia (profundidade de campo, enquadramento, simetria), montagem, narrativa e abordagem de personagens. Cada figura é única e cada acontecimento importa grandemente à trama. A longa duração passa voando, já que o diretor a utiliza de forma sublime, não perdendo o ritmo em momento algum. Impecável épico que, não sem motivo, influenciou George Lucas ao fazer "Star Wars".
Não é à toa que este filme seja tão pouco comentado: apesar de brotar na efervescência do movimento e resumir esteticamente tudo que este se tornaria, é um filme morno, que carece de personagens e situações mais atrativas. Leva às telas um roteiro fraco, sem grandes diálogos ou questionamentos, além de atores não tão bons assim. O resultado foi o esquecimento, e se não fosse a caixa temática da Versátil, provavelmente não o teria visto.
"A Bruxa" é um filme que teria tudo para dar errado nas mãos de um diretor qualquer, pois arrisca muito e fornece o troco nas entrelinhas. E para o espectador disposto a enxergar além do que é dito, com certeza o longa será um prato cheio de perturbação e horror. Para mim, é um dos melhores do gênero nos últimos anos. Merece atenção o estreante Eggers, que manifesta um talento nato de diretor experiente: além de adotar diversas soluções narrativas inteligentes e conseguir nos transportar perfeitamente ao universo proposto, alcança algo que poucos novatos no ramo têm o prazer de ostentar: fazer com que cada elemento de seu filme trabalhe em sintonia para exercer um efeito em quem o assiste. A fotografia espetacular (que exige ser visto em tela grande) casa perfeitamente com a montagem inteligente (que mantém o espectador preso à narrativa mesmo com sua lentidão) e trilha sonora inspirada e sugestiva. Além disso, o roteiro usa sua trama quase como propulsor para discorrer sobre diversos temas sempre oportunos, como sexismo, patriarcado, fanatismo religioso e a própria natureza humana. E, como se não bastasse, ainda fornece algumas das sequências mais aterrorizantes e perturbadoras do cinema nos últimos anos. Para os dispostos, este filme vai representar muito mais que um resgate do bom e velho cinema de horror, mas uma viagem a um universo alternativo, onde bem e mal coexistem a cada momento. É um filme que incita e constrói o terror em cada indivíduo em particular. E deixa marcar profundas na mente de quem o assiste.
Embora muito menos atrelado a estética regular do diretor (Cassavetes começava a chamar a atenção dos grandes estúdios, presumo), ainda assim é fresco e renovador, com uma montagem atenta e fotografia simples e precisa. Grande filme que enaltece a música como elemento narrativo e extrai dela o que há de mais belo: sua relação com os sentimentos humanos.
O novato diretor Lygizios já se mostra engajado com o novo cinema grego e acompanha o ritmo de seus colegas conterrâneos: entrega uma obra densa, crua e severamente crítica. Através de enquadramentos fechados e a câmera sempre nervosa, somos obrigados a encarar tudo com sentimento de culpa, através de um diário de degradação física e psicológica. E, de quebra, o desenvolvimento inteiro parece tecer uma metáfora inteligente à situação econômica grega na época.
Quem me conhece sabe que não engulo muito o cinema de Fassbinder. Mas este filme foi tiro certo! É um deslumbre visual com um comentário social muito bem construído. Se enquadra na mesma temática de obras-primas como "Crepúsculo dos Deuses" e "Noite de Estreia", ao abordar a loucura gerada pela opressão da fama. Montagem excelente e fotografia majestosa (talvez a melhor dentre a obra do diretor), com direito a uma homenagem ao cinema norte americano dos 40's e 50's.
De fato, Tamahori se perde um pouco na direção de atores (alguns parecem um tanto deslocados) e em um estética óbvia e nada sutil mas, deslizes à parte de um diretor ainda iniciante, não se pode ignorar a importância deste filme ainda tão atual. É um ótimo estudo da violência urbana, descendências de personalidades e marginalização. A riqueza dos personagens e das subtramas que permeiam a narrativa é digno de nota! Além disso, "O Amor e a Fúria" faz pensar pelo choque do que mostra, sem maneirismos ou distrações. É um filme direto, que toca na ferida de forma profunda e muito pungente. Uma pena ser tão pouco conhecido.
Não é um bom sinal de sucesso quando a sessão de um filme como esse se encerra e ninguém na platéia parece minimamente comovida. Não que o filme de fato seja emocionante ou consiga inspirar alguma sensação concreta, mas digo pelo estilo apelativamente dramático. Com direito a todo clichê possível do gênero (mesmo que em prol de uma história não tão comum assim), o longa ainda tem grande dificuldade de se comunicar com o espectador médio. Por quê? Simples: a direção de Tom Hooper mais uma vez sabota o próprio filme e quase consegue anular os pontos positivos da narrativa. Assim, para cada sutileza na performance de Alicia Vikander ou ousadia de tratar alguns momentos sem puder, existe um diretor desnorteado que não sabe bem como contar sua história. Basta notar a total falta de tato da fotografia, enjoativa, óbvia e ineficiente, ou mesmo a montagem pavorosa. Certas cenas beiram o absurdo de tão confusamente filmadas e montadas. Além disso, o roteiro obriga seus protagonistas a dizerem frases supostamente poéticas, que não passam de puro sentimentalismo barato. Nunca gostei de Tom Hooper e tenho que dizer que "A Garota Dinamarquesa" possui sua pior performance como diretor. Ainda que, ironicamente, este seja seu melhor filme - o que não quer dizer grande coisa.
Cinema é universal e atemporal. Basta assistir a este filme e comprovar: a forma como trata de um acontecimento contextualizado e localizado é apenas um motivo para estudar o senso de união de pessoas por uma causa em comum. Lindo documentário, que a cada minuto se revela mais e mais intimista. Mas principalmente: totalmente atual e inexorável, já que o espírito humano não morre - e nem sua força de vontade!
Por ser um filme de Malick, já vale a experiência, embora nem sempre tenha algo para contar. Aqui, o que parece é justamente isso: belíssimas imagens, uma narração poética em off também muito bela e só. Diferente de seus outros filmes, senti que o diretor não sabia bem para onde ir, se deixando livre demais. Assim, são duas horas de projeção que não constroem ou deixam nada ao espectador quando a projeção se encerra. Apenas a sensação de uma preciosidade dispersa em um mar de interjeições e reflexões espalhadas e sem muita conexão.
Paixões em Fúria
3.8 30 Assista AgoraExcelente noir de Huston, em um de seus melhores trabalhos de direção. Repleto de sutilezas narrativas e simbologias, além de uma sequência memorável durante a tempestade. Há também um roteiro primoroso, populado por personagens multifacetados e diversas questões étnicas que fazem refletir.
O Invasor Americano
4.2 75 Assista AgoraTalvez este seja o documentário mais amplo já filmado por Moore. Principalmente no que tange sua abordagem narrativa, o cineasta me pareceu ir de encontro à sua estética usual. Ao invés de criticar os E.U.A e fornecer exemplos e contra-argumentos sobre suas alegações, prefere fazer com que o próprio espectador crie suas próprias críticas e questionamentos. E consegue este trunfo quando abandona a agressividade de sua direção e a substitui pela humildade de dar a volta ao mundo tentando aprender com o que o vizinho tem de melhor. Em certo ponto a narrativa se incha um tanto, uma vez que já havíamos compreendido as intenções do longa, mas nada que comprometa o resultado final significativamente. Grande filme.
Seu Último Refúgio
3.8 30 Assista AgoraNoir absolutamente bem conduzido, cativante e esperto: consegue criar uma empatia gigante pelo vilão que mataria a sangue frio, mas parece apresentar noções apuradas de ética e moral - típico da direção sempre poderosa de Walsh.
Quando Desceram As Trevas
3.6 16Certo que o filme se apressa em momentos que não deveria ou poderia, mas é inegável a eficiência de Lang em nos transportar para o universo proposto de delírios e intrigas de estado. Não fosse o desenvolvimento tão corrido ou o final abrupto e anti-clímax, certamente teria mais efeito e sobreviveria muito mais que de fato sobreviveu.
A Filha de Satanás
3.8 21A magnífica direção de Vidor só encontra rival na performance poderosa da sempre impecável Bette Davis - em uma personagem que parece ter sido escrita para ela. Roteiro poderoso, montagem inteligente e uma fotografia belíssima fazem deste mais um grande filme da estrela em seu auge. Só é difícil entender como uma dobradinha tão eficaz como esta não se repetiu dentro da filmografia de Vidor.
Ausência
3.4 71De uma sutileza irrepreensível, "Ausência" consegue extrair ternura do ambiente mais hostil possível e transformar uma realidade distorcida em uma jornada de esperança. O grande mérito é o cuidado com que trata de assuntos delicados e confia na inteligência do espectador em captar a essência nas entrelinhas.
Pânico ao Anoitecer
2.9 73O que atraiu minha atenção neste longa foi seu contexto muito atípico às produções slasher - não me lembro de ter visto um outro filme do gênero que se situasse em plena década de 40, no fim da 2ª GM. O problema é que muito pouco se explora o ambiente de época. Parece que acha mais importante apelar para personagens desinteressantes e um alívio cômico que nunca funciona para cativar. Além disso, a montagem é absolutamente pavorosa, a ponto de transformar a lógica de uma simples cena de perseguição em uma sequência quase ininteligível. E apesar de ter surgido em uma época onde muito pouco se conhecia de slasher, não funciona como filme, mesmo que tenha influenciado algumas gerações de cineastas no ramo. A diferença é que estes souberam usar os erros daqui como aprendizado.
Sem Novidade no Front
4.3 140 Assista AgoraUm dos filmes anti-guerra mais geniais que tive o prazer de conferir. Não apenas por trazer à tona essa questão de forma tão bem discutida, mas por todo o capricho narrativo e imagético que demonstra. A montagem é ágil, assim como a fotografia é metódica e extremamente perspicaz. E, de quebra, o roteiro ainda reserva diálogos emocionantes e personagens significativos.
Passos na Noite
4.0 29 Assista AgoraNoir absolutamente genial de Otto Preminger, onde cada personagem é conectado à história por um passado obscuro. É um quebra-cabeças onde apenas o espectador sabe a real versão dos acontecimentos. Roteiro muito bem costurado por um direção exuberante e deveras perspicaz. Repleto de performances destacáveis e um clima sombrio muito bem aproveitado, típico do sub-gênero.
Rainha do Deserto
2.9 43Não sei se pela inexperiência de Herzog ao tratar de tema tão clássico, mas o diretor apresenta aqui um roteiro muito aquém das expectativas, que recorre constantemente a clichês batidos do gênero, um jogo de pista e recompensa desnecessário e mal empregado, além de tentar justificar cada atitude que vemos em tela através de diálogos expositivos - como se o que víssemos não é suficiente para entender a lógica do filme. Além disso, todo o elenco me pareceu forçado - principalmente no que tange Nicole Kidman (que desde o fraco "Reencontrando a Felicidade" não entrega uma performance digna de nota). Mas tenho que confessar: a fotografia moderna e deslumbrante (que remete muito ao estilo documental do diretor) acrescentou uma roupagem atual à trama, além do que a trilha sonora é belíssima. No fundo, me pareceu uma aventura não muito bem sucedida de Werner por um estilo de cinema que ainda não está acostumado, mesmo com tantas décadas de experiência em cinema.
A Curva do Destino
3.8 49 Assista AgoraÉ um filme engrandecido justamente por sua simplicidade. O roteiro se obriga a adotar soluções narrativas inteligentes para contornar o baixo orçamento e entrega situações inusitadas que surpreendem. Possui uma narrativa bem cuidada e direção atenta. Daqueles noir clássicos que expiram paixão.
Silêncio nas Trevas
3.8 48 Assista AgoraA ambientação é impecável e o charme do gênero só engrandece a experiência. O grande problema é o filme entregar seu final logo no início, quebrando parte do clima de suspense tão bem instaurado pela direção de arte e fotografia. Mas temos que dar o braço à torcer: diversas sequências funcionam, tal qual o filme como um todo, que ainda conta com uma mensagem relevante nas entrelinhas.
Paisagem na Neblina
4.3 129Dentre as obras de arte de Angelopoulos, esta talvez seja a mais acessível. Não apenas por ser um de seus filmes mais reconhecidos, mas principalmente por adotar uma postura menos extrema quanto a sua estética. Aqui, o diretor se permite brincar com cortes e opta por planos-sequência menos arrojados que já havia feito e faria posteriormente. Mas ainda assim, é um filme lindo, um verdadeiro libelo de amor, com porte de obra-prima da primeira à última cena. De certa forma Angelopoulos aqui consegue capturar um pouco da elegância estética oitentista e dissecá-la através de sua montagem e fotografia - ainda que narre uma jornada tão trágica, como em tantos outros filmes seus: uma verdadeira tragédia grega.
Attenberg
3.3 74 Assista AgoraSempre se pode justificar um filme ruim, mas nunca se pode defender um filme cuja ideologia esteja tão errada quanto este aqui: é, acima de tudo, um filme oportunista. Surgindo na nova onda do cinema grego, parece se apoiar neste contexto para desculpar erros grosseiros na narrativa. A sátira aqui é nada além de deplorável, descontextualizada e enojante. A química entre as atrizes é péssima, a condução narrativa é mais que aborrecida e, para um filme de personagens, comete o maior erro de todos: apresentar uma protagonista enjoada, pouco interessante e tratá-la como se fosse do interesse do espectador conhecer seus dramas. Assim, se não nos importamos com ela, até o martírio de seu pai se torna inócuo e o filme de pouco mais de 90 minutos parece testar a paciência em um show de exageros e estranheza da pior espécie possível. E mesmo que seja dirigido por uma mulher, é incrível como prega uma personagem tão objetificada ao universo masculino. Ao fim, é um projeto metido a espertinho, que menospreza o espectador e não caminha com as próprias pernas.
A Fortaleza Escondida
4.2 54Épico absolutamente genial, que engloba desde comédia com as gags mais bem arranjadas, até sequências de batalha de tirar o fôlego. É Kurosawa atestando mais uma vez sua genialidade, mostrando que é, além de tudo, um professor de cinema. Em apenas 15 minutos de filme já dá diversas aulas sobre o fazer cinematográfico melhor que muita teoria por aí. Um show de fotografia (profundidade de campo, enquadramento, simetria), montagem, narrativa e abordagem de personagens. Cada figura é única e cada acontecimento importa grandemente à trama. A longa duração passa voando, já que o diretor a utiliza de forma sublime, não perdendo o ritmo em momento algum. Impecável épico que, não sem motivo, influenciou George Lucas ao fazer "Star Wars".
Os Libertinos
3.6 8Não é à toa que este filme seja tão pouco comentado: apesar de brotar na efervescência do movimento e resumir esteticamente tudo que este se tornaria, é um filme morno, que carece de personagens e situações mais atrativas. Leva às telas um roteiro fraco, sem grandes diálogos ou questionamentos, além de atores não tão bons assim. O resultado foi o esquecimento, e se não fosse a caixa temática da Versátil, provavelmente não o teria visto.
A Bruxa
3.6 3,4K Assista Agora"A Bruxa" é um filme que teria tudo para dar errado nas mãos de um diretor qualquer, pois arrisca muito e fornece o troco nas entrelinhas. E para o espectador disposto a enxergar além do que é dito, com certeza o longa será um prato cheio de perturbação e horror. Para mim, é um dos melhores do gênero nos últimos anos. Merece atenção o estreante Eggers, que manifesta um talento nato de diretor experiente: além de adotar diversas soluções narrativas inteligentes e conseguir nos transportar perfeitamente ao universo proposto, alcança algo que poucos novatos no ramo têm o prazer de ostentar: fazer com que cada elemento de seu filme trabalhe em sintonia para exercer um efeito em quem o assiste. A fotografia espetacular (que exige ser visto em tela grande) casa perfeitamente com a montagem inteligente (que mantém o espectador preso à narrativa mesmo com sua lentidão) e trilha sonora inspirada e sugestiva. Além disso, o roteiro usa sua trama quase como propulsor para discorrer sobre diversos temas sempre oportunos, como sexismo, patriarcado, fanatismo religioso e a própria natureza humana. E, como se não bastasse, ainda fornece algumas das sequências mais aterrorizantes e perturbadoras do cinema nos últimos anos. Para os dispostos, este filme vai representar muito mais que um resgate do bom e velho cinema de horror, mas uma viagem a um universo alternativo, onde bem e mal coexistem a cada momento. É um filme que incita e constrói o terror em cada indivíduo em particular. E deixa marcar profundas na mente de quem o assiste.
A Canção da Esperança
3.7 11Embora muito menos atrelado a estética regular do diretor (Cassavetes começava a chamar a atenção dos grandes estúdios, presumo), ainda assim é fresco e renovador, com uma montagem atenta e fotografia simples e precisa. Grande filme que enaltece a música como elemento narrativo e extrai dela o que há de mais belo: sua relação com os sentimentos humanos.
O Garoto que Come Alpiste
3.5 50O novato diretor Lygizios já se mostra engajado com o novo cinema grego e acompanha o ritmo de seus colegas conterrâneos: entrega uma obra densa, crua e severamente crítica. Através de enquadramentos fechados e a câmera sempre nervosa, somos obrigados a encarar tudo com sentimento de culpa, através de um diário de degradação física e psicológica. E, de quebra, o desenvolvimento inteiro parece tecer uma metáfora inteligente à situação econômica grega na época.
O Desespero de Veronika Voss
4.1 47Quem me conhece sabe que não engulo muito o cinema de Fassbinder. Mas este filme foi tiro certo! É um deslumbre visual com um comentário social muito bem construído. Se enquadra na mesma temática de obras-primas como "Crepúsculo dos Deuses" e "Noite de Estreia", ao abordar a loucura gerada pela opressão da fama. Montagem excelente e fotografia majestosa (talvez a melhor dentre a obra do diretor), com direito a uma homenagem ao cinema norte americano dos 40's e 50's.
O Amor e a Fúria
4.0 30De fato, Tamahori se perde um pouco na direção de atores (alguns parecem um tanto deslocados) e em um estética óbvia e nada sutil mas, deslizes à parte de um diretor ainda iniciante, não se pode ignorar a importância deste filme ainda tão atual. É um ótimo estudo da violência urbana, descendências de personalidades e marginalização. A riqueza dos personagens e das subtramas que permeiam a narrativa é digno de nota! Além disso, "O Amor e a Fúria" faz pensar pelo choque do que mostra, sem maneirismos ou distrações. É um filme direto, que toca na ferida de forma profunda e muito pungente. Uma pena ser tão pouco conhecido.
A Garota Dinamarquesa
4.0 2,2K Assista AgoraNão é um bom sinal de sucesso quando a sessão de um filme como esse se encerra e ninguém na platéia parece minimamente comovida. Não que o filme de fato seja emocionante ou consiga inspirar alguma sensação concreta, mas digo pelo estilo apelativamente dramático. Com direito a todo clichê possível do gênero (mesmo que em prol de uma história não tão comum assim), o longa ainda tem grande dificuldade de se comunicar com o espectador médio. Por quê? Simples: a direção de Tom Hooper mais uma vez sabota o próprio filme e quase consegue anular os pontos positivos da narrativa. Assim, para cada sutileza na performance de Alicia Vikander ou ousadia de tratar alguns momentos sem puder, existe um diretor desnorteado que não sabe bem como contar sua história. Basta notar a total falta de tato da fotografia, enjoativa, óbvia e ineficiente, ou mesmo a montagem pavorosa. Certas cenas beiram o absurdo de tão confusamente filmadas e montadas. Além disso, o roteiro obriga seus protagonistas a dizerem frases supostamente poéticas, que não passam de puro sentimentalismo barato. Nunca gostei de Tom Hooper e tenho que dizer que "A Garota Dinamarquesa" possui sua pior performance como diretor. Ainda que, ironicamente, este seja seu melhor filme - o que não quer dizer grande coisa.
Winter on Fire: Ukraine's Fight for Freedom
4.3 184 Assista AgoraCinema é universal e atemporal. Basta assistir a este filme e comprovar: a forma como trata de um acontecimento contextualizado e localizado é apenas um motivo para estudar o senso de união de pessoas por uma causa em comum. Lindo documentário, que a cada minuto se revela mais e mais intimista. Mas principalmente: totalmente atual e inexorável, já que o espírito humano não morre - e nem sua força de vontade!
Cavaleiro de Copas
3.2 412 Assista AgoraPor ser um filme de Malick, já vale a experiência, embora nem sempre tenha algo para contar. Aqui, o que parece é justamente isso: belíssimas imagens, uma narração poética em off também muito bela e só. Diferente de seus outros filmes, senti que o diretor não sabia bem para onde ir, se deixando livre demais. Assim, são duas horas de projeção que não constroem ou deixam nada ao espectador quando a projeção se encerra. Apenas a sensação de uma preciosidade dispersa em um mar de interjeições e reflexões espalhadas e sem muita conexão.