Sempre que vejo algum filme provocativo, desses que ninguém consegue ficar indiferente -ou se ama ou se odeia- me lembro de Michael Haneke que certa vez disse: “Eu me interesso por filmes que me confrontam com coisas novas, por filmes que me fazem questionar a mim mesmo, por filmes que me ajudam a refletir sobre assuntos em que eu não havia pensado antes, filmes que me ajudam a progredir e avançar. Para mim, pessoalmente, penso que assistir a um filme que simplesmente confirma meus sentimentos é uma perda de tempo." E é cercado dessa expectativa que sempre me ponho diante de uma obra do Kim Ki-duk. Obra esta que estou acompanhando em ordem cronológica. Algo que acredito ser benéfico, já que vejo nos comentários que a maioria das pessoas chegam em "Bad Guy" influenciados por outros trabalhos mais renomados do diretor como "Primavera, Verão..." e "Casa Vazia". O problema é que há nesse filme uma romantização da exploração sexual que beira o ridículo e que joga por terra tudo que há de instigante na estória.
Nada contra estórias com uma certa Síndrome de Estocolmo. Eu mesmo já presenciei relações abusivas de pessoas próximas. Casos de mulheres que sofrem sucessivas agressões dos parceiros e se mantêm no relacionamento sem prestar queixas. É possível que o ocorrido em "Bad Guy" aconteça em algum lugar no mundo. É possível que alguém se apaixone por alguém que destruiu sua vida, (me fez lembrar Passageiros com a J. Law) é possível a vítima não tenha nenhum parente a quem pedir emprestimo e aceite se prostituir, é possível que uma pessoa seja surrada, esfaqueada, vidraçada, tijloda e continue voltando das cinzas como um Exterminador do Futuro! Hahah O que não dá pra engolir é a tentativa de apresentar esse tipo de personagem como um herói, por lentes bondosas, de mostrar o lado "sensível" de suas ações.
A trilha sonora melancólica com acordeon dá a deixa, estamos acompanhando um cara que sofreu muito na vida, o que se confirma pela cicatriz no pescoço e a falta de comunicação. Logo de inicio vemos o protagonista masculino de maneira sugestiva comendo uma linguiça e em seguida tentando um beijo a força na protagonista feminina. Daí aparecem três soldados (representando a ordem, que conviniente!) que de maneira bem caricata tomam uma surra do nosso bad guy e de alguma forma conseguem colocá-lo diante da moça para um devido pedido de desculpas. Mas pasmem! O diretor deixar transparecer que a reação dela é que foi humilhante. Tapas na cara, empurra pra cá, agarra pra lá, pula em cima e mais tapa na cara. Essas brigas e mais brigas são um defeito até aqui na filmografia do Kim. Não sei se é algo cultural, mas me parece que seus perssonagens estão sempre tentando expressar seus sentimentos atravéz dessa explosões de raiva. Sempre exageradas.
A cenografia é de baixa qualidade. Tem uma cena piegas em que a câmera fica trêmula mostrando o ponto de vista de um homem bêbado, que lembra mais uma simulação de cena de crime do programa do Marcelo Rezende. Uma outra cena pretenciosa envolvendo iluminação e um espelho que não merece nem comentário. (cof, cof Paris! cof, cof Texas!) É como se O Nascimento de Uma Nação fosse um filme tecnicamente ruim. Um filme que passou uma menssagem podre, mas que contribuiu pro cinema, que o fez evoluir, que ensinou ao espectador uma nova linguagem cinematográfica, não é mesmo Haneke? Mas se você tirar as inovações de Griffith não sobra nada. Aqui, Kim Ki-duk não foi ao menos capaz de criar um bom filme que justificasse sua menssagem podre.
É triste ver esse tipo de filme receber uma nota maior que 2. Notas claramente influenciadas por opiniões pré-estabelecidas sobre o diretor, o que eu pretendo evitar assistindo seus filmes em ordem cronológica. Como já foi dito aqui em baixo "só no filmow mesmo!". E o maior motivo dessa tristeza é que se o protagonista masculino retratado nesse filme se tornasse de carne e osso e fosse trago diante do público num cenário da vida real, certamente o público clamaria por justiça. No entanto ele é retratado atrás das lentes de uma câmera e de repente... ele é simplesmente incompreendido. A única diferença pra ele e o rapaz que ejaculou numa mulher dentro de um ônibus em São Paulo é que o da vida real alegou "problemas psiquiátricos" e ainda assim tinha gente querendo pena de morte. Mas no cinema pode!
O filme termina ao som do hino gospel "Blott en dag" (Apenas Um Dia) escrito pela poetisa sueca Linda Sandell, anos após ela testemunhar a morte do pai por afogamento. Esta canção se tornou popular em funerais na Suécia. Algo que me faz lembrar de duas coisas: a Síndrome de Estocolmo acima mencionada; e a cena das cartas na praia com o "afogamento" da mulher de vermelho.
Acho incrível o quanto exageram nos comentários sobre o "teor poético" do filme, o quanto as pessoas são facilmente impressionados por subjetividade, o que explica o sucesso merecido de diretores como Lynch, Malick, Tarkovsky, Buñuel, Bergman e por ai vai. O próprio Kim tem uma cena final em A Ilha que é poesia pura, mas aqui o lance das cartas não oferece uma recompensa! Sendo elas um simples dispositivo de distorção do tempo, ou funcionando de maneira subjetiva como metáfora da reconstrução emocional e aceitação da nova vida da protagonista, ao final do filme você percebe que é OK sequestrar e explorar sexualmente se for por amor.
Acho que é consenso que a mensagem do filme é a de que pobre é substituível assim como cachorros. O que eu não concordo é que o final seja ambíguo. Pra mim ela atropelou o garoto, sim! Lembra da radiografia que havia sumido e que um cara tinha ido buscar pra ela? Agora não lembro se era parente ou amigo da família, mas no momento ficou bem claro que buscar os resultados no lugar dela foi desnecessário, ela poderia perfeitamente fazer isso. No final do filme os registros no hotel também somem. Não seriam os parentes e amigos tentando apagar os rastros e provas? Lembrem-se que a família tinha um histórico de loucura. Talvez o pessoal se juntou pra ajudar e evitar que ela fosse presa, mas como nós vemos o filme do ponto de vista dela podemos apenas vislumbrar uma imagem borrada em câmera lenta, sem ter certeza do que tá acontecendo a nossa volta.
O filme foi inspirado por por um artigo de jornal que a diretora Barbara Loden leu em 1960 sobre uma mulher que foi cúmplice de um assalto e condenada a 20 anos de prisão, quando o juiz leu a sentença ela agradeceu. Foi a busca pelo estado emocional que poderia ter engatilhado essa estranha gratidão que produziu "Wanda." A diretora provavelmente se sentiu intrigada por esse paradoxo: uma mulher agradecendo um homem na posição de autoridade por privá-la de sua liberdade.
Talvez o que Loden sentiu nesse caso não tenha sido a noção de que a ré queria cumprir a pena pelos seus erros de bom grado; mas a ideia de que essa punição coloca um fim na falsa ideia de liberdade, um aspecto da ideologia contracultural dos anos 1960 que o filme questiona. No final das contas apenas certos grupos de pessoas experimentaram liberdade da maneira que aquela era prometia em seus mais utópicos sonhos de revolução.
Um trecho da crítica do Roger Ebert que define esse filme perfeitamente:
This is the first film by writer-director Lucrecia Martel, who doesn't want to tell a story so much as re-create the experience of living in the same houses with these people. Her film is like everyday life in the way events do not always fit together, characters don't know what happens while they're offscreen, and crucial events, even a death, can go unobserved. It's better to know going in that you're not expected to be able to fit everything together, that you may lose track of some members of the large cast, that it's like attending a family reunion when it's not your family and your hosts are too drunk to introduce you around.
Essa metáfora com o pássaro preso dentro da casa foi tão delicada como um coice de mula. Achei essa cena forçada. A busca por libertação do ambiente familiar do personagem já havia ficado óbvia quando ele abraça a mãe e olha pela janela. Como se quisesse fugir dali. E a música no final? Trilha sonora onde a música narra exatamente o que tá acontecendo ou casa com o que os personagens estão sentindo sempre me pareceu tão brega. Só funciona em comédia, pra mim. Novelão esse filme do dollynho! Elenco desperdiçado, personagens sem desenvolvimento. Dava pra saber nos primeiros 20 minutos de filme como seria o desfecho.
Por falar em desfecho, suspeito que ele nem tava doente. No inicio do filme ele fala sobre "Fazer a viagem para anunciar minha morte" de maneira muito subjetiva. Assim como Shakespeare falava sobre a viagem ao "undiscovery country". Depois ele conversa com alguém no celular e a pessoa aparentemente o pergunta se já havia contado a família, ele por sua vez diz que ainda não, e nada nos indica que ele esteja falando de uma doença. Talvez essa morte que ele queria anunciar seja uma morte simbólica. Talvez ele queria contar que ia fazer cirurgia de mudança de sexo. Tema já explorado na filmografia do Dolan e que certa forma, representa uma morte física. A morte do corpo como era antes. Creio que o foco do filme é mais nas relações, mais em como ele se sente pressionado naquele ambiente escuro que na notícia, e por isso essa notícia poderia ser qualquer coisa. O importante é que essa notícia fosse algo que o forçasse a retornar a um lugar que ele vinha evitando por 12 anos. Mas é só um palpite meu. Sei que o filme é baseado numa peça e que o foco da peça é incomunicabilidade. Mas foi isso que absolvi da estória.
Só no filmow mesmo pra esse filme ter uma nota tão alta (3.5 e espero que futuramente caia haha). Mas eu só vim aqui pra ver se achava aquele tipo de comentário "se achou ruim é pq não entendeu o filme". Não consigo achar um adjetivo pra isso. Sério! Sem contar o elenco com 382 personagens homens e duas mulheres com participação relevante. Tá vendo!? Não é só Hollywood que produz lixo!!
O terceiro ato quase estraga o filme todo. Não gosto de pensar que isso é feito deliberadamente. Sim, o diretor busca a todo momento desconectar as três partes da história como proposta do filme, desconectar todas as relações presentes (vide o título). Apresenta novos protagonistas na terceira parte para isso, usa até formatos de tela diferentes pra cada uma. Mas duvido que nessa terceira parte sua intensão era fazer um drama com atuações tão ruins (mais especificamente o protagonista adolescente), e utilizar tantos clichês americanos, como montagens melancólicas de personagens narrando frases de efeito com uma trilha sonora de fundo. A última história é simplesmente fraca! A relação dos personagens no inicio tava parecendo Morro dos ventos Uivantes, algo grandioso, dava pra perceber um toque de genialidade. Já tava preparando pra ficar de boca aberta no final. Mas ainda assim acho a experiencia satisfatória se analisar o filme como um todo.
É curioso o fato de que o diretor desse filme teve um caso extraconjugal com a atriz principal na vida real mais ou menos na época das filmagens. Esse filme é uma mistura de Amor a Flor da Pele com Paterson. Claro, se você excluir toda a sensualidade do primeiro, que mesmo sem nenhuma cena de beijo consegue passar uma história de amor acalentadora, e aliar a toda a sutileza poética do segundo.
Como já foi dito aqui é um filme sobre arrependimento, reparação, segundas chances. Sobre como cada detalhe faz a diferença nas relações das pessoas. O que falar dessa narrativa? Foi a primeira vez que vi um filme desse cara e confesso que a metalinguagem me incomodou um pouco no inicio por já saber da história dele com a atriz de A Criada. Mas ao chegar na segunda metade e sobrepô-la a primeira pude aproveitar muito mais e agradecer pois já tava começando a pensar que ia jogar duas horas da minha vida fora.
Não sei se foi impressão minha mas no final do filme ela tava louca pra beijar o cara e ele nada. uheauhua Ela se reclinava sobre a poltrona chegava o rosto perto dele e o cara não quis tomar uma atitude. Ela ainda tinha avisado "a próxima vez que eu te beijar vai ser na boca." Talvez por isso ele não arriscou dar nem um beijo no rosto e se despediu com um aperto de mão. Isso de ficar só na vontade que me fez lembra o filme de Wong Kar-wai e execrar o filme de qualquer comparação com Antes do por do sol, que é um filme que investe claramente no dialogo pra entregar suas ideias. Pra essa comparação ser possível só se tivessem dois pores-do-sol. Ou um Feitiço do Tempo em que Bill Murray só tivesse duas chances. Diferente desses, o prazer de ver esse filme não está no diálogo.
O maior trunfo desse filme é também o seu maior defeito, na verdade, o filme é quase perfeito em sua execução, mas deixa a desejar na originalidade. O trabalho do diretor em desenvolver a ambientação, o ritimo (que não é, de forma alguma, um defeito aqui), e o clima da trama é quase impecável. Há um pouquinho de Bergman aqui, Antonioni ali, Bresson acolá e até mesmo aquela icônica imagem de uma trilha na colina faz lembrar Onde Fica a Casa do Meu Amigo? de Kiarostami. Enquanto o trabalho de um grande diretor apenas evoca lembranças de outros grandes diretores é possível admirar. Mas quando essa influência ultrapassa a linha da criação, a obra perde todo seu encanto. Se não fosse aquela constante sensação de que enquanto filma, Zvyagintsev vai assistindo Tarkovsky em um laptop e copiando o que vê, o filme seria uma obra-prima.
Tem uma cena em que a câmera segue lentamente uma corrente d'água ladeira abaixo em meio a lixos, matos e objetos diversos. Você pode colocá-la frame por frame ao lado de sequências em Stalker, Nostalgia, O Sacrifício e O Espelho que mal vai notar a diferença. Na cena final deste último por exemplo, a câmera vai seguindo uma senhora e um garoto no primeiro plano. Enquanto eles se afastam no segundo plano a câmera segue um tracking shot de lado em meio as árvores. Aqui, basta substituir o garoto e a senhora pelo carro e as árvores pelas trabalhadoras, e voilà! (e claro, inverter o lado do tracking shot) Mesma cena!
Andrei Zvyagintsev a essa altura da carreira não precisava provar pra ninguém que era um grande diretor pelo certo reconhecimento conquistado com O Retorno e talvez resolveu prestar uma homenagem a seus ídolos. (?) Não sei! O que fica claro é que essa semelhança óbvia e arbitrária da obra de seu conterrâneo acaba por ser desnecessária e anti-climática. O próprio Tarkovsky detestava isso! Dizia que se percebesse que um filme estava se parecendo com o de outros autores ele refazia o que deu errado e se preciso descartava todo o material e começava de novo. Em O Desterro quase todas as cenas evocam muito mais as influências do diretor que sua própria assinatura.
Vale também dar um destaque pra atuação dos dois atores principais. Em especial Konstantin Lavronenko que levou o prêmio de melhor ator em Cannes naquele ano e apresentou um pai bem mais realista que o de O Retorno, que mais parecia um vilão de Malhação. Méritos de um roteiro bem mais maduro.
As motivações do pai não ficaram claras pra mim. Ele parecia vilão de Malhação enquanto o filho caçula o típico pré-adolescente revoltato que foi motivo de chacota em Deadpool huehue (Que moleque chato). Não to justificando as ações do pai, mas pro roteiro funcionar o pai teria que ser exatamente daquela forma pra antagonizar a altura a chatice do garoto.
Quanto ao pai, pra quê ser tão ruim pros filhos, assim do nada? Porque ficou tanto tempo longe e onde esteve? Na guerra do Afeganistão ou da Chechênia? Na prisão? Será por isso que ele foi buscar aquele baú que o filme não se dá o trabalho de explicar o que era, e o afunda junto com barco no final? Poderia aquilo ser fruto de algum crime dele antes de ir pra cadeia e agora voltou pra buscar? Porque o filme não o assumiu como vilão? O cara larga uma criança na chuva no meio do nada e o filme parece querer que o espectador sinta peninha no final.
E por fim como, é trágico saber que o ator que fez o filho mais velho morreu sem ver o filme, e sem saber que venceriam o festival de Veneza.
Pianista prodígio troca de vida em busca de sua identidade. Five Easy Peacies, é você? A diferença é o que excepcional estudo de personagem presente neste, só acontece na mente de quem escreveu o texto de Desconhecida. E um roteiro envolvendo reviravoltas, e uma temática diferente. (Lê-se mentiras compulsivas). No mais, apenas uma tentativa de dizer algo grandioso e acabar por não dizer nada.
O mais Bergminiano dos filmes americanos. Não é atoa que o mestre gostava bastante desse filme. Todos os elementos estão aqui: o personagem à beira da sociedade do inicio da carreira como em Tortura de um Desejo, Crise, Chove em Nosso Amor e Mônica e o Desejo; a nostalgia de Morangos Silvestres (a cena da carona é bem parecida); e a eminencia da morte de quase todos os seus grandes filmes.
É interessante o contraste do comportamento de Dupea entre duas cenas. Na carona quando sua companheira é ofendida ele não toma partido, não a defente em frente àquelas "hippies", talvez por quê compartilhasse da visão delas. Elas tentam discutir temas profundos mas com uma argumentação leiga. E ele não vê maldade ou não se incomoda com elas. Em contrapartida no jantar, e já incomodado com a rejeição da cunhada, ele se enfurece com os convidados que, em sua opinião eram pretensiosos, e fizeram o mesmo com sua companheira. Ta certo que o motivo daquele surto não foi somente o tratamento à Rayette mas dá pra observar uma evolução no personagem. O que torna o final tão melancólico.
Quase desisti de ver com cinco minutos. Não me venha com essa de que "é tão ruim que chega a ser bom." É só ruim mesmo! Não é como Hausu (1977) que usa do absurdo, mas pelo menos faz você se importar com os personagens e tem uma boa cinematografia. Aqui nem roteiro, nem figurino, nem elenco, NADA se salva! Acho que o Joe queria testar a paciência do expectador. É um gênio mesmo huehueh
Todo filme tem uma imagem que fica na sua cabeça pra sempre. Como um acervo que você acessa sempre que quer lembrar de algum filme e uma imagem principal vem a tona.
Quase me deixei enganar pelas notas que vi aqui e em outros sites na internet. Que estudo de personagem! Que filme excelente! Difícil, mas excelente! A primeira história deu sono, mas a partir da segunda você começa a se acostumar com a estrutura do filme. Quando chegou na terceira (que na verdade é a maior e ocupa toda a segunda metade do filme), eu estava fisgado, completamente interessado nas três personagens, completamente interessado em saber onde a história iria chegar. Sério, o último ato lembra O Cavalo de Turim! Não só por causa do cavalo, mas pela repetição da rotina. Mais um discípulo de Jeanne Dielman. Com três atrizes de peso a que mais chama atenção é uma que nunca tinha ouvido falar. Vou guardar o nome dela.
Nesta, um terceiro ato inteiro é omitido, (não vejo problema nisso) Jude Law copia a atuação de Caine na versão de 1972, (principalmente nas partes do inspetor, e isso incomoda um pouco) e o pior de tudo é que o fundo do poço nesse jogo de humilhação acaba sendo a homossexualidade (e isso é inaceitável).
Sempre achei a mentalidade dos personagens dessa peça deplorável. Dois machistas que acreditam no velho conceito de que para se manter uma mulher é preciso dinheiro. São exatamente esses personagens tão detestáveis e tão bem escritos que fazem a peça e o filme de 1972 serem tão intrigantes. Por quê o filme de Joseph L. Mankiewicz deixa claro que eles são patéticos. Já essa versão de Kenneth Branagh me deixa na dúvida se era realmente necessário ser produzida.
Na tentativa de escapar da banalidade midiática em torno da crise de refugiados, a proposta narrativa desse filme acaba por ser inconvencional e quase experimental. Não vai agradar todo mundo que gosta de um narrador com um texto sentimental/emocional ao som de uma trilha melancólica. Ao contrário carrega sutilezas como:
O mergulhador tendo dificuldades no mar a noite mesmo com todos os aparatos necessários. O que nos faz pensar na dificuldade passada por quem tem menos estrutura no mesmo mar turbulento. O garoto que serve como uma analogia a Europa. Ele é destemido mas só quando está diante do que é conhecido, do seu habitat. Quando é apresentado a algo novo, como o remo, fica perdido, desesperado. Assim como a Europa e os EUA nesse período da história. Além disso ele sofre com seu olho preguiçoso, que nada mais é que não querer ou não conseguir enxergar as coisas de forma completa.
Talvez essa seja a principal mensagem do documentário. Precisamos aceitar o novo, as diferenças. Precisamos ser solidários e curar os olhos preguiçosos. Olhos que se dão por satisfeitos apenas com o que veem na mídia. Isso serve na politica e até, de um ponto de vista cinematográfico, serve para o próprio filme. As pessoas o assistem como um simples documentário informativo/educacional esperando que o realizador siga a cartilha de explorar o sofrimento dos refugiados, e mostrar apenas isso como se fosse regra. Pra isso se tem Google e Jornal Nacional. Se há pouco conteúdo dos refugiados é algo que acontece deliberadamente, como parte da proposta do filme.
Afinal, só passamos a ver cenas fortes após o garoto/Europa começar a cuidar dos olhos. E ele faz o tratamento com médico, que também trabalha como voluntário assistindo os refugiados e é único link entre estes e o povo da ilha.
Tentar filmar essa obra do Bardo em um plano sequência de uma hora é como tentar defender um pênalti com mãos e pés algemados: a chance de falhar miseravelmente é enorme. Aqui Bela Tarr falha, mas não miseravelmente. Pois apesar de não ser a melhor das experiencias cinematográficas, dá pra observar, com essa obra, o tamanho da coragem desse realizador magnífico.
A premissa é bergminiana; o roteiro tá mais pra Agatha Christie mesmo. Como disse o colega abaixo. Mas o tema escolhido, pra mim, foi bem explorado. Aquela parábola que o médico conta sobre a anestesia que deu errado ilustra bem o sofrimento de vitimas de pedofilia e, de certo modo, a própria condição humana diante do Silêncio de Deus. Choca até mais que o sem sal Spotlight. Sem contar a descomunal beleza dessa atriz Kelly Reilly que parece mais uma mistura de Diane Keaton com Jessica Chastain. A atuação dela é segura e marcante, assim como a de Brendan Gleeson que tomou conta do clima pesado do filme.
Em determinado momento o personagem principal profere: "Vou contar o segredo da verdadeira arte: é feita quando você está infeliz!" Acho intrigante pensar que na decada seguinte um dos maiores monstros da música brasileira compôs o Samba da Bênção, onde o narrador profere: "Pra fazer samba é preciso um bocado de tristeza."
Apesar de Vinícius de Moraes escrever críticas de cinema e ser um cinéfilo assíduo (tinha amizade com ninguém menos que Orson Welles) eu prefiro não cair na bobagem de procurar referência em tudo. Qualquer coisa hoje em dia é referência. Eu prefiro pensar em gênialidade compartilhada. Coincidência, se preferir!
Em A Liberdade é Azul vemos uma cena de um flautista de rua tocando exatamente a mesma melodia que um renomado compositor criou. Ele não divulgou essa composição e depois de sua morte sua esposa a destruiu. É possível pensar numa simples frase ao mesmo tempo que outra pessoa, um conceito, mas uma composição inteira? Krzysztof Kieslowski está, nesse momento, nos contando que a vida é cheia dessas surpresas. Pessoas completamente diferentes podem pensar nas mesmas coisas em diferentes partes do mundo. Como o teorema do macaco infinito. Como Ingmar Bergman e Vinícius de Moraes.
É quase palpável a influência que esse filme tem sobre a Nouvelle Vague. Não é atoa que Godard utilizou partes desse filme na sua série Histoire(s) du cinéma (1988-1998). Em sua crítica ao filme no Cahiers du Cinema, disse que esse era "o mais original filme do mais original realizador" e completou, "Mônica e o Desejo é para os dias de hoje (anos 1950) o que O Nascimento de uma Nação foi para o cinema clássico." O diretor que adorava desconstruir o cinema provavelmente se inspirou na mais icônica imagem de Mônica e o Desejo: a quebra de quarta parede na cena do bar.
Acontece logo depois deles terem o filho e se estabelecerem em uma casinha na cidade. Harry vai trabalhar e assim que poem os pés pra fora de casa vemos Mônica gastando o dinheiro que ele deixou em um bar na companhia de um homem que acende seu cigarro.
Bergman foca no rosto de Harriet Andersson por uns 30 segundos e ela nos encara de volta. As luzes se apagam, o cenário todo some e o filme some com cenário. Tudo que sobra é a personagem. Como se Bergman a retirasse do filme e a colocasse diante do espectador, o convidando para julgá-la. E você tem aqui, logo no início da carreira desse gênio, algo sem precedente no cinema.
Bad Guy
3.3 47 Assista AgoraSempre que vejo algum filme provocativo, desses que ninguém consegue ficar indiferente -ou se ama ou se odeia- me lembro de Michael Haneke que certa vez disse: “Eu me interesso por filmes que me confrontam com coisas novas, por filmes que me fazem questionar a mim mesmo, por filmes que me ajudam a refletir sobre assuntos em que eu não havia pensado antes, filmes que me ajudam a progredir e avançar. Para mim, pessoalmente, penso que assistir a um filme que simplesmente confirma meus sentimentos é uma perda de tempo." E é cercado dessa expectativa que sempre me ponho diante de uma obra do Kim Ki-duk. Obra esta que estou acompanhando em ordem cronológica. Algo que acredito ser benéfico, já que vejo nos comentários que a maioria das pessoas chegam em "Bad Guy" influenciados por outros trabalhos mais renomados do diretor como "Primavera, Verão..." e "Casa Vazia". O problema é que há nesse filme uma romantização da exploração sexual que beira o ridículo e que joga por terra tudo que há de instigante na estória.
Nada contra estórias com uma certa Síndrome de Estocolmo. Eu mesmo já presenciei relações abusivas de pessoas próximas. Casos de mulheres que sofrem sucessivas agressões dos parceiros e se mantêm no relacionamento sem prestar queixas. É possível que o ocorrido em "Bad Guy" aconteça em algum lugar no mundo. É possível que alguém se apaixone por alguém que destruiu sua vida, (me fez lembrar Passageiros com a J. Law) é possível a vítima não tenha nenhum parente a quem pedir emprestimo e aceite se prostituir, é possível que uma pessoa seja surrada, esfaqueada, vidraçada, tijloda e continue voltando das cinzas como um Exterminador do Futuro! Hahah O que não dá pra engolir é a tentativa de apresentar esse tipo de personagem como um herói, por lentes bondosas, de mostrar o lado "sensível" de suas ações.
A trilha sonora melancólica com acordeon dá a deixa, estamos acompanhando um cara que sofreu muito na vida, o que se confirma pela cicatriz no pescoço e a falta de comunicação. Logo de inicio vemos o protagonista masculino de maneira sugestiva comendo uma linguiça e em seguida tentando um beijo a força na protagonista feminina. Daí aparecem três soldados (representando a ordem, que conviniente!) que de maneira bem caricata tomam uma surra do nosso bad guy e de alguma forma conseguem colocá-lo diante da moça para um devido pedido de desculpas. Mas pasmem! O diretor deixar transparecer que a reação dela é que foi humilhante. Tapas na cara, empurra pra cá, agarra pra lá, pula em cima e mais tapa na cara. Essas brigas e mais brigas são um defeito até aqui na filmografia do Kim. Não sei se é algo cultural, mas me parece que seus perssonagens estão sempre tentando expressar seus sentimentos atravéz dessa explosões de raiva. Sempre exageradas.
A cenografia é de baixa qualidade. Tem uma cena piegas em que a câmera fica trêmula mostrando o ponto de vista de um homem bêbado, que lembra mais uma simulação de cena de crime do programa do Marcelo Rezende. Uma outra cena pretenciosa envolvendo iluminação e um espelho que não merece nem comentário. (cof, cof Paris! cof, cof Texas!) É como se O Nascimento de Uma Nação fosse um filme tecnicamente ruim. Um filme que passou uma menssagem podre, mas que contribuiu pro cinema, que o fez evoluir, que ensinou ao espectador uma nova linguagem cinematográfica, não é mesmo Haneke? Mas se você tirar as inovações de Griffith não sobra nada. Aqui, Kim Ki-duk não foi ao menos capaz de criar um bom filme que justificasse sua menssagem podre.
É triste ver esse tipo de filme receber uma nota maior que 2. Notas claramente influenciadas por opiniões pré-estabelecidas sobre o diretor, o que eu pretendo evitar assistindo seus filmes em ordem cronológica. Como já foi dito aqui em baixo "só no filmow mesmo!". E o maior motivo dessa tristeza é que se o protagonista masculino retratado nesse filme se tornasse de carne e osso e fosse trago diante do público num cenário da vida real, certamente o público clamaria por justiça. No entanto ele é retratado atrás das lentes de uma câmera e de repente... ele é simplesmente incompreendido. A única diferença pra ele e o rapaz que ejaculou numa mulher dentro de um ônibus em São Paulo é que o da vida real alegou "problemas psiquiátricos" e ainda assim tinha gente querendo pena de morte. Mas no cinema pode!
O filme termina ao som do hino gospel "Blott en dag" (Apenas Um Dia) escrito pela poetisa sueca Linda Sandell, anos após ela testemunhar a morte do pai por afogamento. Esta canção se tornou popular em funerais na Suécia. Algo que me faz lembrar de duas coisas: a Síndrome de Estocolmo acima mencionada; e a cena das cartas na praia com o "afogamento" da mulher de vermelho.
Sobre as cartas:
Acho incrível o quanto exageram nos comentários sobre o "teor poético" do filme, o quanto as pessoas são facilmente impressionados por subjetividade, o que explica o sucesso merecido de diretores como Lynch, Malick, Tarkovsky, Buñuel, Bergman e por ai vai. O próprio Kim tem uma cena final em A Ilha que é poesia pura, mas aqui o lance das cartas não oferece uma recompensa! Sendo elas um simples dispositivo de distorção do tempo, ou funcionando de maneira subjetiva como metáfora da reconstrução emocional e aceitação da nova vida da protagonista, ao final do filme você percebe que é OK sequestrar e explorar sexualmente se for por amor.
Margarita com Canudinho
3.8 93 Assista AgoraO mais legal de tudo é descobrir, depois de assistir o filme, que a atriz principal não tem paralisia cerebral. Atuação magnifica!
A Mulher Sem Cabeça
3.5 63Acho que é consenso que a mensagem do filme é a de que pobre é substituível assim como cachorros. O que eu não concordo é que o final seja ambíguo. Pra mim ela atropelou o garoto, sim! Lembra da radiografia que havia sumido e que um cara tinha ido buscar pra ela? Agora não lembro se era parente ou amigo da família, mas no momento ficou bem claro que buscar os resultados no lugar dela foi desnecessário, ela poderia perfeitamente fazer isso. No final do filme os registros no hotel também somem. Não seriam os parentes e amigos tentando apagar os rastros e provas? Lembrem-se que a família tinha um histórico de loucura. Talvez o pessoal se juntou pra ajudar e evitar que ela fosse presa, mas como nós vemos o filme do ponto de vista dela podemos apenas vislumbrar uma imagem borrada em câmera lenta, sem ter certeza do que tá acontecendo a nossa volta.
Wanda
3.8 18O filme foi inspirado por por um artigo de jornal que a diretora Barbara Loden leu em 1960 sobre uma mulher que foi cúmplice de um assalto e condenada a 20 anos de prisão, quando o juiz leu a sentença ela agradeceu. Foi a busca pelo estado emocional que poderia ter engatilhado essa estranha gratidão que produziu "Wanda." A diretora provavelmente se sentiu intrigada por esse paradoxo: uma mulher agradecendo um homem na posição de autoridade por privá-la de sua liberdade.
Talvez o que Loden sentiu nesse caso não tenha sido a noção de que a ré queria cumprir a pena pelos seus erros de bom grado; mas a ideia de que essa punição coloca um fim na falsa ideia de liberdade, um aspecto da ideologia contracultural dos anos 1960 que o filme questiona. No final das contas apenas certos grupos de pessoas experimentaram liberdade da maneira que aquela era prometia em seus mais utópicos sonhos de revolução.
A cena em que Wanda desiste da guarda dos filhos sem fazer nenhum esforço é a essência do filme e a síntese dessa busca da diretora.
O Pântano
3.8 94 Assista AgoraUm trecho da crítica do Roger Ebert que define esse filme perfeitamente:
This is the first film by writer-director Lucrecia Martel, who doesn't want to tell a story so much as re-create the experience of living in the same houses with these people. Her film is like everyday life in the way events do not always fit together, characters don't know what happens while they're offscreen, and crucial events, even a death, can go unobserved. It's better to know going in that you're not expected to be able to fit everything together, that you may lose track of some members of the large cast, that it's like attending a family reunion when it's not your family and your hosts are too drunk to introduce you around.
É Apenas o Fim do Mundo
3.5 302 Assista AgoraEssa metáfora com o pássaro preso dentro da casa foi tão delicada como um coice de mula. Achei essa cena forçada. A busca por libertação do ambiente familiar do personagem já havia ficado óbvia quando ele abraça a mãe e olha pela janela. Como se quisesse fugir dali. E a música no final? Trilha sonora onde a música narra exatamente o que tá acontecendo ou casa com o que os personagens estão sentindo sempre me pareceu tão brega. Só funciona em comédia, pra mim. Novelão esse filme do dollynho! Elenco desperdiçado, personagens sem desenvolvimento. Dava pra saber nos primeiros 20 minutos de filme como seria o desfecho.
Por falar em desfecho, suspeito que ele nem tava doente. No inicio do filme ele fala sobre "Fazer a viagem para anunciar minha morte" de maneira muito subjetiva.
Assim como Shakespeare falava sobre a viagem ao "undiscovery country". Depois ele conversa com alguém no celular e a pessoa aparentemente o pergunta se já havia contado a família, ele por sua vez diz que ainda não, e nada nos indica que ele esteja falando de uma doença. Talvez essa morte que ele queria anunciar seja uma morte simbólica. Talvez ele queria contar que ia fazer cirurgia de mudança de sexo. Tema já explorado na filmografia do Dolan e que certa forma, representa uma morte física. A morte do corpo como era antes. Creio que o foco do filme é mais nas relações, mais em como ele se sente pressionado naquele ambiente escuro que na notícia, e por isso essa notícia poderia ser qualquer coisa. O importante é que essa notícia fosse algo que o forçasse a retornar a um lugar que ele vinha evitando por 12 anos. Mas é só um palpite meu. Sei que o filme é baseado numa peça e que o foco da peça é incomunicabilidade. Mas foi isso que absolvi da estória.
Shin Godzilla
3.6 153 Assista AgoraSó no filmow mesmo pra esse filme ter uma nota tão alta (3.5 e espero que futuramente caia haha). Mas eu só vim aqui pra ver se achava aquele tipo de comentário "se achou ruim é pq não entendeu o filme". Não consigo achar um adjetivo pra isso. Sério! Sem contar o elenco com 382 personagens homens e duas mulheres com participação relevante. Tá vendo!? Não é só Hollywood que produz lixo!!
As Montanhas Se Separam
3.7 47 Assista AgoraO terceiro ato quase estraga o filme todo. Não gosto de pensar que isso é feito deliberadamente. Sim, o diretor busca a todo momento desconectar as três partes da história como proposta do filme, desconectar todas as relações presentes (vide o título). Apresenta novos protagonistas na terceira parte para isso, usa até formatos de tela diferentes pra cada uma. Mas duvido que nessa terceira parte sua intensão era fazer um drama com atuações tão ruins (mais especificamente o protagonista adolescente), e utilizar tantos clichês americanos, como montagens melancólicas de personagens narrando frases de efeito com uma trilha sonora de fundo. A última história é simplesmente fraca! A relação dos personagens no inicio tava parecendo Morro dos ventos Uivantes, algo grandioso, dava pra perceber um toque de genialidade. Já tava preparando pra ficar de boca aberta no final. Mas ainda assim acho a experiencia satisfatória se analisar o filme como um todo.
Certo Agora, Errado Antes
3.8 49 Assista AgoraÉ curioso o fato de que o diretor desse filme teve um caso extraconjugal com a atriz principal na vida real mais ou menos na época das filmagens. Esse filme é uma mistura
de Amor a Flor da Pele com Paterson. Claro, se você excluir toda a sensualidade do primeiro, que mesmo sem nenhuma cena de beijo consegue passar uma história de amor acalentadora, e aliar a toda a sutileza poética do segundo.
Como já foi dito aqui é um filme sobre arrependimento, reparação, segundas chances. Sobre como cada detalhe faz a diferença nas relações das pessoas. O que falar dessa narrativa? Foi a primeira vez que vi um filme desse cara e confesso que a metalinguagem me incomodou um pouco no inicio por já saber da história dele com a atriz de A Criada. Mas ao chegar na segunda metade e sobrepô-la a primeira pude aproveitar muito mais e agradecer pois já tava começando a pensar que ia jogar duas horas da minha vida fora.
Não sei se foi impressão minha mas no final do filme ela tava louca pra beijar o cara e ele nada. uheauhua Ela se reclinava sobre a poltrona chegava o rosto perto dele e o cara não quis tomar uma atitude. Ela ainda tinha avisado "a próxima vez que eu te beijar vai ser na boca." Talvez por isso ele não arriscou dar nem um beijo no rosto e se despediu com um aperto de mão. Isso de ficar só na vontade que me fez lembra o filme de Wong Kar-wai e execrar o filme de qualquer comparação com Antes do por do sol, que é um filme que investe claramente no dialogo pra entregar suas ideias. Pra essa comparação ser possível só se tivessem dois pores-do-sol. Ou um Feitiço do Tempo em que Bill Murray só tivesse duas chances. Diferente desses, o prazer de ver esse filme não está no diálogo.
O Desterro
3.9 25O maior trunfo desse filme é também o seu maior defeito, na verdade, o filme é quase perfeito em sua execução, mas deixa a desejar na originalidade. O trabalho do diretor em desenvolver a ambientação, o ritimo (que não é, de forma alguma, um defeito aqui), e o clima da trama é quase impecável. Há um pouquinho de Bergman aqui, Antonioni ali, Bresson acolá e até mesmo aquela icônica imagem de uma trilha na colina faz lembrar Onde Fica a Casa do Meu Amigo? de Kiarostami. Enquanto o trabalho de um grande diretor apenas evoca lembranças de outros grandes diretores é possível admirar. Mas quando essa influência ultrapassa a linha da criação, a obra perde todo seu encanto. Se não fosse aquela constante sensação de que enquanto filma, Zvyagintsev vai assistindo Tarkovsky em um laptop e copiando o que vê, o filme seria uma obra-prima.
Tem uma cena em que a câmera segue lentamente uma corrente d'água ladeira abaixo em meio a lixos, matos e objetos diversos. Você pode colocá-la frame por frame ao lado de sequências em Stalker, Nostalgia, O Sacrifício e O Espelho que mal vai notar a diferença. Na cena final deste último por exemplo, a câmera vai seguindo uma senhora e um garoto no primeiro plano. Enquanto eles se afastam no segundo plano a câmera segue um tracking shot de lado em meio as árvores. Aqui, basta substituir o garoto e a senhora pelo carro e as árvores pelas trabalhadoras, e voilà! (e claro, inverter o lado do tracking shot) Mesma cena!
Andrei Zvyagintsev a essa altura da carreira não precisava provar pra ninguém que era um grande diretor pelo certo reconhecimento conquistado com O Retorno e talvez resolveu prestar uma homenagem a seus ídolos. (?) Não sei! O que fica claro é que essa semelhança óbvia e arbitrária da obra de seu conterrâneo acaba por ser desnecessária e anti-climática. O próprio Tarkovsky detestava isso! Dizia que se percebesse que um filme estava se parecendo com o de outros autores ele refazia o que deu errado e se preciso descartava todo o material e começava de novo. Em O Desterro quase todas as cenas evocam muito mais as influências do diretor que sua própria assinatura.
Vale também dar um destaque pra atuação dos dois atores principais. Em especial Konstantin Lavronenko que levou o prêmio de melhor ator em Cannes naquele ano e apresentou um pai bem mais realista que o de O Retorno, que mais parecia um vilão de Malhação. Méritos de um roteiro bem mais maduro.
O Retorno
4.0 90As motivações do pai não ficaram claras pra mim. Ele parecia vilão de Malhação enquanto o filho caçula o típico pré-adolescente revoltato que foi motivo de chacota em Deadpool huehue (Que moleque chato). Não to justificando as ações do pai, mas pro roteiro funcionar o pai teria que ser exatamente daquela forma pra antagonizar a altura a chatice do garoto.
Quanto ao pai, pra quê ser tão ruim pros filhos, assim do nada? Porque ficou tanto tempo longe e onde esteve? Na guerra do Afeganistão ou da Chechênia? Na prisão? Será por isso que ele foi buscar aquele baú que o filme não se dá o trabalho de explicar o que era, e o afunda junto com barco no final? Poderia aquilo ser fruto de algum crime dele antes de ir pra cadeia e agora voltou pra buscar? Porque o filme não o assumiu como vilão? O cara larga uma criança na chuva no meio do nada e o filme parece querer que o espectador sinta peninha no final.
E por fim como, é trágico saber que o ator que fez o filho mais velho morreu sem ver o filme, e sem saber que venceriam o festival de Veneza.
Desconhecida
2.7 56 Assista AgoraPianista prodígio troca de vida em busca de sua identidade. Five Easy Peacies, é você? A diferença é o que excepcional estudo de personagem presente neste, só acontece na mente de quem escreveu o texto de Desconhecida. E um roteiro envolvendo reviravoltas, e uma temática diferente. (Lê-se mentiras compulsivas). No mais, apenas uma tentativa de dizer algo grandioso e acabar por não dizer nada.
Cada Um Vive Como Quer
3.7 78 Assista AgoraO mais Bergminiano dos filmes americanos. Não é atoa que o mestre gostava bastante desse filme. Todos os elementos estão aqui: o personagem à beira da sociedade do inicio da carreira como em Tortura de um Desejo, Crise, Chove em Nosso Amor e Mônica e o Desejo; a nostalgia de Morangos Silvestres (a cena da carona é bem parecida); e a eminencia da morte de quase todos os seus grandes filmes.
É interessante o contraste do comportamento de Dupea entre duas cenas.
Na carona quando sua companheira é ofendida ele não toma partido, não a defente em frente àquelas "hippies", talvez por quê compartilhasse da visão delas. Elas tentam discutir temas profundos mas com uma argumentação leiga. E ele não vê maldade ou não se incomoda com elas. Em contrapartida no jantar, e já incomodado com a rejeição da cunhada, ele se enfurece com os convidados que, em sua opinião eram pretensiosos, e fizeram o mesmo com sua companheira. Ta certo que o motivo daquele surto não foi somente o tratamento à Rayette mas dá pra observar uma evolução no personagem. O que torna o final tão melancólico.
A Aventura de Iron Pussy
2.6 14Quase desisti de ver com cinco minutos. Não me venha com essa de que "é tão ruim que chega a ser bom." É só ruim mesmo! Não é como Hausu (1977) que usa do absurdo, mas pelo menos faz você se importar com os personagens e tem uma boa cinematografia. Aqui nem roteiro, nem figurino, nem elenco, NADA se salva! Acho que o Joe queria testar a paciência do expectador. É um gênio mesmo huehueh
Sunita
3.1 4Todo filme tem uma imagem que fica na sua cabeça pra sempre. Como um acervo que você acessa sempre que quer lembrar de algum filme e uma imagem principal vem a tona.
A que vou lembrar no caso deste filme é a cena do suicídio. Aquele corpo rolando ribanceira abaixo.
Certas Mulheres
3.1 76 Assista AgoraQuase me deixei enganar pelas notas que vi aqui e em outros sites na internet. Que estudo de personagem! Que filme excelente! Difícil, mas excelente! A primeira história deu sono, mas a partir da segunda você começa a se acostumar com a estrutura do filme. Quando chegou na terceira (que na verdade é a maior e ocupa toda a segunda metade do filme), eu estava fisgado, completamente interessado nas três personagens, completamente interessado em saber onde a história iria chegar. Sério, o último ato lembra O Cavalo de Turim! Não só por causa do cavalo, mas pela repetição da rotina. Mais um discípulo de Jeanne Dielman. Com três atrizes de peso a que mais chama atenção é uma que nunca tinha ouvido falar. Vou guardar o nome dela.
Um Jogo de Vida ou Morte
3.4 104 Assista AgoraAcho que a primeira e mais fiel adaptação da peça tinha o enfoque em grandes reviravoltas da trama e nas atuações de dois monstros do cinema.
Nesta, um terceiro ato inteiro é omitido, (não vejo problema nisso) Jude Law copia a atuação de Caine na versão de 1972, (principalmente nas partes do inspetor, e isso incomoda um pouco) e o pior de tudo é que o fundo do poço nesse jogo de humilhação acaba sendo a homossexualidade (e isso é inaceitável).
Sempre achei a mentalidade dos personagens dessa peça deplorável. Dois machistas que acreditam no velho conceito de que para se manter uma mulher é preciso dinheiro. São exatamente esses personagens tão detestáveis e tão bem escritos que fazem a peça e o filme de 1972 serem tão intrigantes. Por quê o filme de Joseph L. Mankiewicz deixa claro que eles são patéticos. Já essa versão de Kenneth Branagh me deixa na dúvida se era realmente necessário ser produzida.
Fogo no Mar
3.2 69 Assista AgoraNa tentativa de escapar da banalidade midiática em torno da crise de refugiados, a proposta narrativa desse filme acaba por ser inconvencional e quase experimental. Não vai agradar todo mundo que gosta de um narrador com um texto sentimental/emocional ao som de uma trilha melancólica. Ao contrário carrega sutilezas como:
O mergulhador tendo dificuldades no mar a noite mesmo com todos os aparatos necessários. O que nos faz pensar na dificuldade passada por quem tem menos estrutura no mesmo mar turbulento. O garoto que serve como uma analogia a Europa. Ele é destemido mas só quando está diante do que é conhecido, do seu habitat. Quando é apresentado a algo novo, como o remo, fica perdido, desesperado. Assim como a Europa e os EUA nesse período da história. Além disso ele sofre com seu olho preguiçoso, que nada mais é que não querer ou não conseguir enxergar as coisas de forma completa.
Talvez essa seja a principal mensagem do documentário. Precisamos aceitar o novo, as diferenças. Precisamos ser solidários e curar os olhos preguiçosos. Olhos que se dão por satisfeitos apenas com o que veem na mídia. Isso serve na politica e até, de um ponto de vista cinematográfico, serve para o próprio filme. As pessoas o assistem como um simples documentário informativo/educacional esperando que o realizador siga a cartilha de explorar o sofrimento dos refugiados, e mostrar apenas isso como se fosse regra. Pra isso se tem Google e Jornal Nacional. Se há pouco conteúdo dos refugiados é algo que acontece deliberadamente, como parte da proposta do filme.
Afinal, só passamos a ver cenas fortes após o garoto/Europa começar a cuidar dos olhos. E ele faz o tratamento com médico, que também trabalha como voluntário assistindo os refugiados e é único link entre estes e o povo da ilha.
Macbeth
3.6 3Tentar filmar essa obra do Bardo em um plano sequência de uma hora é como tentar defender um pênalti com mãos e pés algemados: a chance de falhar miseravelmente é enorme. Aqui Bela Tarr falha, mas não miseravelmente. Pois apesar de não ser a melhor das experiencias cinematográficas, dá pra observar, com essa obra, o tamanho da coragem desse realizador magnífico.
Calvário
3.6 134A premissa é bergminiana; o roteiro tá mais pra Agatha Christie mesmo. Como disse o colega abaixo. Mas o tema escolhido, pra mim, foi bem explorado. Aquela parábola que o médico conta sobre a anestesia que deu errado ilustra bem o sofrimento de vitimas de pedofilia e, de certo modo, a própria condição humana diante do Silêncio de Deus. Choca até mais que o sem sal Spotlight. Sem contar a descomunal beleza dessa atriz Kelly Reilly que parece mais uma mistura de Diane Keaton com Jessica Chastain. A atuação dela é segura e marcante, assim como a de Brendan Gleeson que tomou conta do clima pesado do filme.
Rumo à Felicidade
3.9 21Em determinado momento o personagem principal profere: "Vou contar o segredo da verdadeira arte: é feita quando você está infeliz!" Acho intrigante pensar que na decada seguinte um dos maiores monstros da música brasileira compôs o Samba da Bênção, onde o narrador profere: "Pra fazer samba é preciso um bocado de tristeza."
Apesar de Vinícius de Moraes escrever críticas de cinema e ser um cinéfilo assíduo (tinha amizade com ninguém menos que Orson Welles) eu prefiro não cair na bobagem de procurar referência em tudo. Qualquer coisa hoje em dia é referência. Eu prefiro pensar em gênialidade compartilhada. Coincidência, se preferir!
Em A Liberdade é Azul vemos uma cena de um flautista de rua tocando exatamente a mesma melodia que um renomado compositor criou. Ele não divulgou essa composição e depois de sua morte sua esposa a destruiu. É possível pensar numa simples frase ao mesmo tempo que outra pessoa, um conceito, mas uma composição inteira? Krzysztof Kieslowski está, nesse momento, nos contando que a vida é cheia dessas surpresas. Pessoas completamente diferentes podem pensar nas mesmas coisas em diferentes partes do mundo. Como o teorema do macaco infinito. Como Ingmar Bergman e Vinícius de Moraes.
Monika e o Desejo
4.0 120 Assista AgoraÉ quase palpável a influência que esse filme tem sobre a Nouvelle Vague. Não é atoa que Godard utilizou partes desse filme na sua série Histoire(s) du cinéma (1988-1998). Em sua crítica ao filme no Cahiers du Cinema, disse que esse era "o mais original filme do mais original realizador" e completou, "Mônica e o Desejo é para os dias de hoje (anos 1950) o que O Nascimento de uma Nação foi para o cinema clássico." O diretor que adorava desconstruir o cinema provavelmente se inspirou na mais icônica imagem de Mônica e o Desejo: a quebra de quarta parede na cena do bar.
Acontece logo depois deles terem o filho e se estabelecerem em uma casinha na cidade. Harry vai trabalhar e assim que poem os pés pra fora de casa vemos Mônica gastando o dinheiro que ele deixou em um bar na companhia de um homem que acende seu cigarro.
Bergman foca no rosto de Harriet Andersson por uns 30 segundos e ela nos encara de volta. As luzes se apagam, o cenário todo some e o filme some com cenário. Tudo que sobra é a personagem. Como se Bergman a retirasse do filme e a colocasse diante do espectador, o convidando para julgá-la. E você tem aqui, logo no início da carreira desse gênio, algo sem precedente no cinema.