Há algum tempo eu já cogitava assistir "You Won't Be Alone" (2022) (desde o lançamento de seu trailer, na verdade) mas apenas recentemente tive a oportunidade de conferi-lo.
A habilidade que a jovem bruxa possui relembrou-me, em certa medida, a capacidade dos "troca-peles", da saga literária martiniana "As Crônicas de Gelo e Fogo", de "possuir" o corpo de outro ser vivo, sejam animais ou - mais dificilmente - seres humanos. Ainda recém-nascida, Nevena, a protagonista, recebe uma maldição de uma velha bruxa conhecida pela alcunha de "Devoradora de Lobos": está condenada a também ser uma bruxa, durante toda a sua vida. E como característica elementar de sua nova condição, Nevena será capaz de "possuir" os corpos de outros indivíduos, especialmente pessoas. Porém, tal habilidade, longe de ser objeto de mero divertimento, em verdade, é uma tentativa da jovem para compreender o complexo significado do que é ser humano.
Confesso: acompanhar a experiências da protagonista, em suas múltiplas vivências, mostrou-se muitíssimo interessante. As suas novas identidades são como janelas pelas quais a jovem (e nós), vemos os elementos do mundo ganharem novas significações; os habituais dramas humanos, bem como o turbilhão de emoções que deles provém adquirem outras dimensões, uma vez que tudo ali é um processo de aprendizado para a protagonista
(a subtrama da relação amorosa que Nevena constrói com seu parceiro emocionou-me bastante, por exemplo)
. O diálogo interno que é construído de forma progressiva, mas eficiente, também foi um excelente acerto. Porém, apesar de considerar muito criativa tal abordagem do diretor e roteirista Goran Stolevski, penso que poderia ser melhor explorada,
como as vivências de Nevena sob a pele de outras pessoas.
A atuação de certas pessoas atoras também foi mediana, e a escolha de Anamaria Marinca como a principal antagonista foi um pouco frustrante; seu papel infelizmente não conquistou-me. No entanto, Noomi Rapace e Alice Englert, em especial, foram incríveis em seus pápeis: as suas habilidades de expressarem-se tão somente por gestos lembrou-me da era silenciosa do cinema, em que tal modo de atuação era essencial para cativar a empatia do público.
Por fim, deixo aqui a minha recomendação de "You Won't Be Alone": se você gosta de histórias que exploram a natureza humana, conduzidas com sobriedade, mas com um toque de fantasia, essa produção será uma ótima escolha.
A trama de Manhandled (1924), comédia dramática estadunidense da era silenciosa, à um primeiro contato, pode iludir-nos. Ora, um casal de jovens de classe média-baixa, que se apercebe dissaboroso com a situação financeira em que se encontra, e cujas partes decidem, cada qual à sua maneira, conquistar uma condição de vida mais abastada para ambos - certamente, já vimos ao menos uma história similar a essa.
No entanto, o enredo desta produção oculta problemáticas mais complexas, especialmente no que toca à comportamentos machistas tão naturalizados na sociedade.
Tessie McGuire, a protagonista do longa, é uma mulher independente, no sentido de que aspira conseguir uma vida de opulência mediante os esforços de seu próprio trabalho; seu namorado, Jim, também deseja tal resultado, mas, de modo oposto, deposita a sua confiança numa invenção mecânica que ele está a desenvolver; há alguns homens que, em suas propostas de emprego para Tessie, demonstram apenas uma pretensão sexual para com a jovem (e acabam despertando desconfianças por parte de Jim, as quais recaem sobre Tessie); e, por fim, vê-se que até uma "amiga" de Tessie, visando ajudá-la, lhe recomenda que esta aja de forma a atrair a atenção daqueles abonados homens para lograr regalias
Bem, fica claro que certos personagens masculinos, principalmente aqueles libertinos, persistem em suprimir o corpo, o espaço e as decisões de Tessie, e para isso utilizam-se de diferentes artifícios. Apesar de tudo, Tessie sempre busca resistir - seu devotado amor ao seu amado é maior do que uma conquista fácil à riqueza material.
Outrossim, Tessie sofre - sofre com os constantes assédios a que está submetida, sofre com as infundadas suspeitas de seu namorado de que ela estaria cometendo adultério (ressalto aqui a cena na qual Jim culpabiliza Tessie de adúltera, ao comentar de sua vestimenta, sendo que aquela, na verdade, tinha sido vítima de violência sexual)... enfim, sofre, entre outros, com a discriminação de gênero alimentada pela sociedade patriarcal em que (sobre)vive
.
Em tempo, gostaria de comentar outros aspectos da produção do diretor canadense Allan Dwan. Quanto às atuações, meu destaque vai para Gloria Swanson. A performance da diva é ímpar: a naturalidade com que encena, a sutileza de suas expressões corporais e faciais, combinada com a sua estonteante beleza, fascinaram-me deveras. Antes da sessão, eu já havia assistido outro filme com a atriz - "Sunset Boulevard" (1950), de Billy Wilder - inclusive, recomendo-o fortemente, pois o considero uma das obras-primas cinquentistas -, e já havia me deleitado com a sua interpretação. Mas com "Manhandled", Gloria Swanson conquistou-me de vez. Ademais, Tom Moore estava ótimo como Jimmy,
confesso que fiquei surpreso! O cunho melodramático que permeia a película culmina num final alentador, ante o infeliz e crescente cenário opressor que persiste no século XXI
Confesso que, ao iniciar a sessão de "The Rainmaker", eu subestimara a película. A atuação de Lancaster me parecera um tanto caricata demais, Hepburn não estava em um de seus melhores momentos... mas o enredo despretencioso foi conquistando-me aos poucos, e logo me apercebi imerso naquele universo cinquentista com ares de velho-oeste.
Assim sendo, pude assimilar, na simplicidade do roteiro, as interessantes metáforas contidas nas entrelinhas. Bill Starbuck - que se revelou para mim a verdadeira estrela do show -, que, em sua vivência errante, estava sempre à procura de sua satisfação material, não obstante ansiava por algo que o fizesse sentir-se especial: a esperança dele próprio fazer chover sobre aquela terra castigada pela seca.
Entretanto, penso que a verdadeira missão de Starbuck - e que talvez ele nem se dera conta - em suas andanças era a de ir em auxílio às pessoas, atuando como uma espécie de conselheiro, fabricando, assim, mudanças positivas na vida de pessoas com quem ele encontrava. O exemplo inicial é a alegria que ele despertou na vida daquela criança no começo da história; e o mais notável é certamente a reconciliação familiar dos Curry e a autoconfiança que Lizzie e File passaram a cultivar, por influência precípua de Starbuck.
A abençoada chuva que finalmente sobreveio naquela terra árida, creio, representa mais que um fenômeno meteorológico; é um acalento para o coração dos habitantes, da modesta família Curry e, sobretudo, para Starbuck, que, cumprindo a sua missão de ajudar aquelas pessoas, enfim obteve uma dádiva dos céus, o que também simboliza a consumação de suas íntimas aspirações - embora não ocorrera da forma como ele almejava. De fato, Starbuck fez jus ao título da produção, pois fez chover alegria e esperança no seio daquelas vivências.
É assombroso como a película guarda alguns traços de identificação com o contexto da pandemia da COVID-19, especialmente quando esta se apresentava nos seus estágios iniciais (com enfoque, é claro, na realidade norte-americana): a preocupação da grande maioria das autoridades e dos profissionais da saúde (especialmente o Dr. Ben Wood, muito bem interpretado por Willian Bishop) com a súbita disseminação do vírus, com a imunização em massa da população e o isolamento das pessoas contaminadas pela doença, e questões afins.
A fotografia é primorosa, a atuação é convincente e as cenas de perseguição, ainda que escassas, são muito empolgantes. Acredito que a opção por um narrador da história foi um tanto supérflua, o que em parte comprometeu minha imersão na trama. O roteiro, por sua vez, tem lá as suas conveniências também - mas isso realmente importa, rsrs?
Enfim, esta produção cinquentista foi um ótimo achado, sobretudo porque tem sua parcela de relevância em nossas vivências atuais.
Confesso que fiquei impressionado com a atuação de Jack Elam em Kansas City Confidential, um noir de 1952. O pôster engana: no início da sessão, até mesmo pensei que o personagem de Elam protagonizaria o longa! Embora tenha sido coadjuvante, a sua performance austera e dotada de certo tom vilanesco não muito padrão é memorável, sendo um dos destaques do filme sobredito.
Não obstante a falta de certos fatores que motivariam uma melhor experiência fílmica, como a escolha dos atores e decisões do roteiro mais acertadas, acredito que a produção tenha os seus méritos.
Para além da fotografia e do gore bem trabalhados, "The Green Inferno" suscita um interessante debate que é fulcral nos tempos em que vivemos: reconhecer e defender a existência de um povo nativo que tem suas tradições e valores ameaçados pela ambição desenfreada de certos sujeitos formadores da cultura "civilizada" ocidental.
Indigesto (sem trocadilhos). Após ter assistido o primeiro longa-metragem, que apresentou-me a este universo concomitante sádico e misteriosamente envolvente, resolvi esperar um intervalo de tempo para acompanhar a sequência. E confesso: de fato, em referência ao conteúdo violento e explícito, ela supera o primeiro (creio que seja esse o ponto alto da obra).
Excisão dos tendões da articulação patelofemoral, exodontia (ou deveria dizer, martelamento dentário?), e a adição do elemento mais nauseante: coprofagia forçada.
Aprecio a escolha de Laurence R. Harvey como o vilão protagonista; sua performance é tão realista que me senti desconfortável. As outras pessoas atoras tem atuação mediana, embora ligeiramente caiam no esquecimento.
Sem dúvida, a fotografia em preto e branco foi uma escolha primorosa.
Entretanto, outros aspectos fílmicos sinalizam a carência sixiana de inovação. Questiono fortemente a metalinguagem empregada: a autenticidade da narrativa pregressa anula-se. Outro caso: um recém-nascido involuntariamente aniquilado pela mãe, cujo rumo pós-fuga não é-nos dado nenhum indício?
Inocentemente, em dado momento considerei um recôndito diálogo do filme com a psicanálise, com ênfase no conflito edipiano. Kkkkkk. Bem que o diretor poderia ter explorado esta faceta, mas nem sempre é como desejamos...
Ainda conservava certa esperança de uma reviravolta na história. Pudera... absolutamente revoltante, ao meu ver. Depois de tudo, recebemos mero escárnio autoral.
Quiçá eu veja a terceira produção, mas não me vejo mais com a euforia de outrora.
Analisando, creio que seja possível elaborar um debate interseccional: a obra denuncia a realidade de ser mulher, negra, e em condição de marginalização, bem como desvela os resquícios do colonialismo na sociedade hodierna, sobretudo a exploração da mulher negra africana nas relações de trabalho sob a ótica segregacionista: neste caso, no serviço doméstico. Fica exposto o silenciamento forçado (instrumento de violência do poder dominante) do sujeito feminino negro, e as suas nefastas sequelas. Estendo: é a realidade sofrida por uma pluralidade de pessoas negras. Com cerca de 58 minutos, a produção independente tem caráter revolucionário, sendo um clássico que, de fato, merece ter mais visibilidade.
Indispensável ao fãs da saga Harry Potter. Minha única crítica se deve ao fato de alguns atores importantíssimos não terem participado do documentário, a exemplo de Maggie Smith e Michael Gambon (nossos eternos Minerva McGonagall e Albus Dumbledore, respectivamente), os representantes da família Dursley - salvo o saudoso Richard Griffiths (1947-2013) - e Imelda Staunton, a inesquecível Dolores Umbridge.
Essa foi a primeira produção que assisto em que a renomada (e controversa) cineasta alemã Leni Riefenstahl (1902-2003) participa como atriz. As atuações em geral são aceitáveis, mas a capacidade atlética de Riefenstahl em escalar rochas certamente sobressaiu-se. Entretanto, o verdadeiro destaque do longa-metragem fica para a admirável cinematografia; a cadeia montanhosa das Dolomitas no inverno, em especial, quase configura-se numa verdadeira viagem aos Alpes italianos.
"Battle Royal High School" é, basicamente, uma combinação entre os gêneros ação, fantasia e terror, elaborados da forma mais clichê possível. O enredo foi excessivamente mal desenvolvido, tornando-se complicado apreciar a história somente sob esse ponto de vista. Isso não significa, entretanto, que a produção é de toda medíocre.
Particularmente, gostei bastante do design da animação (arte bem detalhada); em pouquíssimos momentos esta deixou a desejar, levando-se em conta o contexto da época. O subgênero cinematográfico "splatter" também faz-se presente nesse OVA (não sem razão, a violência gráfica é um dos motivos que mais sobressaem-se no anime), fazendo-se aceitável para os fãs. Achei marcante a cena em que
foi a em que o protagonista usa os seus poderes para reconstruir (literalmente) o corpo de Megumi (que havia sido destruído pelo próprio Riki).
A trilha sonora, por sua vez, é satisfatória. Achei prazerosa a canção final "Medusa", interpretada por Yuuri Sugimoto. Heavy metal oitentista com um ritmo bem envolvente.
Em suma, é um filme mediano, mas válido como recomendação para aqueles que não se importarem com o enredo ordinário.
Um grupo de pessoas bastante heterogêneo se encontra confinado em uma ilha, após um acidente de avião.
Um dos personagens, Parker, se destaca nas cenas de ação. Ele avança para a linha de frente e tenta matar o maior número possível de soldados inimigos, parecendo imbatível diante dos terroristas. Também é um sujeito inusitado.
Em alguns momentos da história, Parker aparece, ao redor do seu pescoço, com orelhas mutiladas dos soldados inimigos que ele abateu, alegando ser uma espécie de troféu.
As mulheres protagonizam bons momentos de ação aqui.
O mesmo idiota que torturou o sacerdote, ordena, para um de seus homens, chamado de SIDA (que é portador de AIDS), que ele escolha uma das mulheres reféns para uma relação sexual entre ambos. O objetivo seria espalhar a doença para todas as regiões dos Estados Unidos.
Em suma: produção de orçamento reduzido, roteiro ordinário, e elenco sofrível. Para os admiradores de películas trash, é uma boa alternativa de entretenimento.
O longa-metragem revela-se, como indica a sinopse, uma combinação entre um contexto futurístico e o estilo new wave, este uma singular característica da década de 1980. Os efeitos especiais, como já seria de se esperar, são de má qualidade, não sendo uma grande surpresa.
Em relação ao roteiro e às atuações das personagens, considero-os como medianos, visto que a obra se inclui no gênero trash. Cabe destacar, entretanto, a personagem Judy Jetson, vocalista da banda, interpretada de forma expressiva pela atriz Dru-Anne Perry, em especial nas cenas dos shows.
Mas é a trilha sonora, sem dúvidas, que se apresenta como uma excelente ideia para o filme; a divertidíssima "Lunar Madness" é a melhor entre as músicas reproduzidas, ao meu ver.
A película superou as minhas expectativas positivamente; decerto é uma diversão garantida.
A atuação, os diálogos e o desenvolvimento dos personagens se apresentam insatisfatórios, porém dignos de produções trash. Acho que o "gore" deveria ter sido melhor utilizado, mas digo isso como um apreciador do subgênero. Destaque para a ótima trilha sonora, que se mostrou uma agradável surpresa para mim. As cenas do show que finaliza o filme são interessantes, levando em conta a qualidade do roteiro. Confesso que dei algumas risadas em momentos que não deveriam ser cômicos.
Documentário de extrema relevância para um melhor entendimento acerca do levante paulista de 1932. Com uma temática completa, é composto por meio de notáveis registros e por um time de especialistas renomados. Particurlarmente, considero a intensa participação do povo nos esforços da guerra um dos destaques da película. Sem dúvida, foi uma nova aquisição de saberes para mim.
Pessoalmente, considero a produção deveras enriquecedora. Para quem já dispunha de um entendimento básico sobre o assunto, observar os relatos através de sobreviventes e seus familiares, sem dúvida, foi o fator crucial para que houvesse a aquisição de novos saberes e uma melhor imersão na história.
Então, The Human Centipede. Uma breve concepção deste que vos escreve. Considero a história em si, sem dúvida, uma das mais perturbadoras que já pude conhecer. Entretanto, em relação à obra cinematográfica, confesso que ansiava por mais gore e por uma maior exposição da grotesca "centopeia". Sobre os personagens, destaque para o Dr. Heiter, interpretado brilhantemente pelo ator Dieter Laser, que conseguiu nos mostrar, ainda que parcialmente, o mecanismo doentio de um psicopata. A fotografia é excelente, e o ambiente claustrofóbico da mansão de fato nos faz experienciar a tensão enfrentada pelas desafortunadas cobaias. Não recomendado para indivíduos facilmente sensíveis com temas pertubadores, semelhantes ou não ao abordado na película.
Comprar Ingressos
Este site usa cookies para oferecer a melhor experiência possível. Ao navegar em nosso site, você concorda com o uso de cookies.
Se você precisar de mais informações e / ou não quiser que os cookies sejam colocados ao usar o site, visite a página da Política de Privacidade.
Você Não Estará Só
3.6 124 Assista AgoraHá algum tempo eu já cogitava assistir "You Won't Be Alone" (2022) (desde o lançamento de seu trailer, na verdade) mas apenas recentemente tive a oportunidade de conferi-lo.
A habilidade que a jovem bruxa possui relembrou-me, em certa medida, a capacidade dos "troca-peles", da saga literária martiniana "As Crônicas de Gelo e Fogo", de "possuir" o corpo de outro ser vivo, sejam animais ou - mais dificilmente - seres humanos. Ainda recém-nascida, Nevena, a protagonista, recebe uma maldição de uma velha bruxa conhecida pela alcunha de "Devoradora de Lobos": está condenada a também ser uma bruxa, durante toda a sua vida. E como característica elementar de sua nova condição, Nevena será capaz de "possuir" os corpos de outros indivíduos, especialmente pessoas. Porém, tal habilidade, longe de ser objeto de mero divertimento, em verdade, é uma tentativa da jovem para compreender o complexo significado do que é ser humano.
Confesso: acompanhar a experiências da protagonista, em suas múltiplas vivências, mostrou-se muitíssimo interessante. As suas novas identidades são como janelas pelas quais a jovem (e nós), vemos os elementos do mundo ganharem novas significações; os habituais dramas humanos, bem como o turbilhão de emoções que deles provém adquirem outras dimensões, uma vez que tudo ali é um processo de aprendizado para a protagonista
(a subtrama da relação amorosa que Nevena constrói com seu parceiro emocionou-me bastante, por exemplo)
como as vivências de Nevena sob a pele de outras pessoas.
A atuação de certas pessoas atoras também foi mediana, e a escolha de Anamaria Marinca como a principal antagonista foi um pouco frustrante; seu papel infelizmente não conquistou-me. No entanto, Noomi Rapace e Alice Englert, em especial, foram incríveis em seus pápeis: as suas habilidades de expressarem-se tão somente por gestos lembrou-me da era silenciosa do cinema, em que tal modo de atuação era essencial para cativar a empatia do público.
Por fim, deixo aqui a minha recomendação de "You Won't Be Alone": se você gosta de histórias que exploram a natureza humana, conduzidas com sobriedade, mas com um toque de fantasia, essa produção será uma ótima escolha.
Manhandled
3.9 4A trama de Manhandled (1924), comédia dramática estadunidense da era silenciosa, à um primeiro contato, pode iludir-nos. Ora, um casal de jovens de classe média-baixa, que se apercebe dissaboroso com a situação financeira em que se encontra, e cujas partes decidem, cada qual à sua maneira, conquistar uma condição de vida mais abastada para ambos - certamente, já vimos ao menos uma história similar a essa.
No entanto, o enredo desta produção oculta problemáticas mais complexas, especialmente no que toca à comportamentos machistas tão naturalizados na sociedade.
Tessie McGuire, a protagonista do longa, é uma mulher independente, no sentido de que aspira conseguir uma vida de opulência mediante os esforços de seu próprio trabalho; seu namorado, Jim, também deseja tal resultado, mas, de modo oposto, deposita a sua confiança numa invenção mecânica que ele está a desenvolver; há alguns homens que, em suas propostas de emprego para Tessie, demonstram apenas uma pretensão sexual para com a jovem (e acabam despertando desconfianças por parte de Jim, as quais recaem sobre Tessie); e, por fim, vê-se que até uma "amiga" de Tessie, visando ajudá-la, lhe recomenda que esta aja de forma a atrair a atenção daqueles abonados homens para lograr regalias
Bem, fica claro que certos personagens masculinos, principalmente aqueles libertinos, persistem em suprimir o corpo, o espaço e as decisões de Tessie, e para isso utilizam-se de diferentes artifícios. Apesar de tudo, Tessie sempre busca resistir - seu devotado amor ao seu amado é maior do que uma conquista fácil à riqueza material.
Outrossim, Tessie sofre - sofre com os constantes assédios a que está submetida, sofre com as infundadas suspeitas de seu namorado de que ela estaria cometendo adultério (ressalto aqui a cena na qual Jim culpabiliza Tessie de adúltera, ao comentar de sua vestimenta, sendo que aquela, na verdade, tinha sido vítima de violência sexual)... enfim, sofre, entre outros, com a discriminação de gênero alimentada pela sociedade patriarcal em que (sobre)vive
Em tempo, gostaria de comentar outros aspectos da produção do diretor canadense Allan Dwan. Quanto às atuações, meu destaque vai para Gloria Swanson. A performance da diva é ímpar: a naturalidade com que encena, a sutileza de suas expressões corporais e faciais, combinada com a sua estonteante beleza, fascinaram-me deveras. Antes da sessão, eu já havia assistido outro filme com a atriz - "Sunset Boulevard" (1950), de Billy Wilder - inclusive, recomendo-o fortemente, pois o considero uma das obras-primas cinquentistas -, e já havia me deleitado com a sua interpretação. Mas com "Manhandled", Gloria Swanson conquistou-me de vez. Ademais, Tom Moore estava ótimo como Jimmy,
apesar de, em certos momentos, a atitude machista do personagem ser insurportável - e, ainda sim,
(contraditário, sim, mas fiquei torcendo por eles até o desfecho do filme, hahaha).
Para concluir, uma vez que falei no desfecho,
confesso que fiquei surpreso! O cunho melodramático que permeia a película culmina num final alentador, ante o infeliz e crescente cenário opressor que persiste no século XXI
Lágrimas do Céu
3.7 11 Assista AgoraConfesso que, ao iniciar a sessão de "The Rainmaker", eu subestimara a película. A atuação de Lancaster me parecera um tanto caricata demais, Hepburn não estava em um de seus melhores momentos... mas o enredo despretencioso foi conquistando-me aos poucos, e logo me apercebi imerso naquele universo cinquentista com ares de velho-oeste.
Assim sendo, pude assimilar, na simplicidade do roteiro, as interessantes metáforas contidas nas entrelinhas. Bill Starbuck - que se revelou para mim a verdadeira estrela do show -, que, em sua vivência errante, estava sempre à procura de sua satisfação material, não obstante ansiava por algo que o fizesse sentir-se especial: a esperança dele próprio fazer chover sobre aquela terra castigada pela seca.
Entretanto, penso que a verdadeira missão de Starbuck - e que talvez ele nem se dera conta - em suas andanças era a de ir em auxílio às pessoas, atuando como uma espécie de conselheiro, fabricando, assim, mudanças positivas na vida de pessoas com quem ele encontrava. O exemplo inicial é a alegria que ele despertou na vida daquela criança no começo da história; e o mais notável é certamente a reconciliação familiar dos Curry e a autoconfiança que Lizzie e File passaram a cultivar, por influência precípua de Starbuck.
A abençoada chuva que finalmente sobreveio naquela terra árida, creio, representa mais que um fenômeno meteorológico; é um acalento para o coração dos habitantes, da modesta família Curry e, sobretudo, para Starbuck, que, cumprindo a sua missão de ajudar aquelas pessoas, enfim obteve uma dádiva dos céus, o que também simboliza a consumação de suas íntimas aspirações - embora não ocorrera da forma como ele almejava. De fato, Starbuck fez jus ao título da produção, pois fez chover alegria e esperança no seio daquelas vivências.
Cidade Apavorada
3.7 6É assombroso como a película guarda alguns traços de identificação com o contexto da pandemia da COVID-19, especialmente quando esta se apresentava nos seus estágios iniciais (com enfoque, é claro, na realidade norte-americana): a preocupação da grande maioria das autoridades e dos profissionais da saúde (especialmente o Dr. Ben Wood, muito bem interpretado por Willian Bishop) com a súbita disseminação do vírus, com a imunização em massa da população e o isolamento das pessoas contaminadas pela doença, e questões afins.
A fotografia é primorosa, a atuação é convincente e as cenas de perseguição, ainda que escassas, são muito empolgantes. Acredito que a opção por um narrador da história foi um tanto supérflua, o que em parte comprometeu minha imersão na trama. O roteiro, por sua vez, tem lá as suas conveniências também - mas isso realmente importa, rsrs?
Enfim, esta produção cinquentista foi um ótimo achado, sobretudo porque tem sua parcela de relevância em nossas vivências atuais.
Os Quatro Desconhecidos
3.8 20 Assista AgoraConfesso que fiquei impressionado com a atuação de Jack Elam em Kansas City Confidential, um noir de 1952. O pôster engana: no início da sessão, até mesmo pensei que o personagem de Elam protagonizaria o longa! Embora tenha sido coadjuvante, a sua performance austera e dotada de certo tom vilanesco não muito padrão é memorável, sendo um dos destaques do filme sobredito.
Canibais
2.6 518 Assista AgoraNão obstante a falta de certos fatores que motivariam uma melhor experiência fílmica, como a escolha dos atores e decisões do roteiro mais acertadas, acredito que a produção tenha os seus méritos.
Para além da fotografia e do gore bem trabalhados, "The Green Inferno" suscita um interessante debate que é fulcral nos tempos em que vivemos: reconhecer e defender a existência de um povo nativo que tem suas tradições e valores ameaçados pela ambição desenfreada de certos sujeitos formadores da cultura "civilizada" ocidental.
A Centopéia Humana 2
2.6 936Indigesto (sem trocadilhos). Após ter assistido o primeiro longa-metragem, que apresentou-me a este universo concomitante sádico e misteriosamente envolvente, resolvi esperar um intervalo de tempo para acompanhar a sequência. E confesso: de fato, em referência ao conteúdo violento e explícito, ela supera o primeiro (creio que seja esse o ponto alto da obra).
Excisão dos tendões da articulação patelofemoral, exodontia (ou deveria dizer, martelamento dentário?), e a adição do elemento mais nauseante: coprofagia forçada.
Aprecio a escolha de Laurence R. Harvey como o vilão protagonista; sua performance é tão realista que me senti desconfortável. As outras pessoas atoras tem atuação mediana, embora ligeiramente caiam no esquecimento.
Sem dúvida, a fotografia em preto e branco foi uma escolha primorosa.
Ainda que a opção pelos esguichos dejetais - e em cores - na tela seja risível...
Entretanto, outros aspectos fílmicos sinalizam a carência sixiana de inovação. Questiono fortemente a metalinguagem empregada: a autenticidade da narrativa pregressa anula-se.
Outro caso: um recém-nascido involuntariamente aniquilado pela mãe, cujo rumo pós-fuga não é-nos dado nenhum indício?
Inocentemente, em dado momento considerei um recôndito diálogo do filme com a psicanálise, com ênfase no conflito edipiano. Kkkkkk. Bem que o diretor poderia ter explorado esta faceta, mas nem sempre é como desejamos...
E temos o desfecho.
Ainda conservava certa esperança de uma reviravolta na história. Pudera... absolutamente revoltante, ao meu ver. Depois de tudo, recebemos mero escárnio autoral.
Quiçá eu veja a terceira produção, mas não me vejo mais com a euforia de outrora.
A Negra de...
4.4 71Analisando, creio que seja possível elaborar um debate interseccional: a obra denuncia a realidade de ser mulher, negra, e em condição de marginalização, bem como desvela os resquícios do colonialismo na sociedade hodierna, sobretudo a exploração da mulher negra africana nas relações de trabalho sob a ótica segregacionista: neste caso, no serviço doméstico. Fica exposto o silenciamento forçado (instrumento de violência do poder dominante) do sujeito feminino negro, e as suas nefastas sequelas. Estendo: é a realidade sofrida por uma pluralidade de pessoas negras. Com cerca de 58 minutos, a produção independente tem caráter revolucionário, sendo um clássico que, de fato, merece ter mais visibilidade.
Comemoração de 20 Anos de Harry Potter: De Volta a …
4.3 363 Assista AgoraIndispensável ao fãs da saga Harry Potter. Minha única crítica se deve ao fato de alguns atores importantíssimos não terem participado do documentário, a exemplo de Maggie Smith e Michael Gambon (nossos eternos Minerva McGonagall e Albus Dumbledore, respectivamente), os representantes da família Dursley - salvo o saudoso Richard Griffiths (1947-2013) - e Imelda Staunton, a inesquecível Dolores Umbridge.
O Grande Salto
3.0 1Essa foi a primeira produção que assisto em que a renomada (e controversa) cineasta alemã Leni Riefenstahl (1902-2003) participa como atriz. As atuações em geral são aceitáveis, mas a capacidade atlética de Riefenstahl em escalar rochas certamente sobressaiu-se. Entretanto, o verdadeiro destaque do longa-metragem fica para a admirável cinematografia; a cadeia montanhosa das Dolomitas no inverno, em especial, quase configura-se numa verdadeira viagem aos Alpes italianos.
Battle Royal High School
3.4 5"Battle Royal High School" é, basicamente, uma combinação entre os gêneros ação, fantasia e terror, elaborados da forma mais clichê possível. O enredo foi excessivamente mal desenvolvido, tornando-se complicado apreciar a história somente sob esse ponto de vista. Isso não significa, entretanto, que a produção é de toda medíocre.
Particularmente, gostei bastante do design da animação (arte bem detalhada); em pouquíssimos momentos esta deixou a desejar, levando-se em conta o contexto da época. O subgênero cinematográfico "splatter" também faz-se presente nesse OVA (não sem razão, a violência gráfica é um dos motivos que mais sobressaem-se no anime), fazendo-se aceitável para os fãs. Achei marcante a cena em que
um clima romântico é evocado entre os personagens Riki Hyoudo e Megumi Koyama, apenas para, logo em seguida, a garota ser transformada em uma demônio.
Outra das cenas mais interessantes de se assistir
foi a em que o protagonista usa os seus poderes para reconstruir (literalmente) o corpo de Megumi (que havia sido destruído pelo próprio Riki).
A trilha sonora, por sua vez, é satisfatória. Achei prazerosa a canção final "Medusa", interpretada por Yuuri Sugimoto. Heavy metal oitentista com um ritmo bem envolvente.
Em suma, é um filme mediano, mas válido como recomendação para aqueles que não se importarem com o enredo ordinário.
Porkos' I: Uma Guerra Muito Louca
2.9 6Um grupo de pessoas bastante heterogêneo se encontra confinado em uma ilha, após um acidente de avião.
Um dos personagens, Parker, se destaca nas cenas de ação. Ele avança para a linha de frente e tenta matar o maior número possível de soldados inimigos, parecendo imbatível diante dos terroristas. Também é um sujeito inusitado.
Em alguns momentos da história, Parker aparece, ao redor do seu pescoço, com orelhas mutiladas dos soldados inimigos que ele abateu, alegando ser uma espécie de troféu.
As mulheres protagonizam bons momentos de ação aqui.
Este é o primeiro filme que vejo em que uma língua é arrancada. (Tal fato acontece com um padre, e é realizado por um estúpido personagem secundário).
Humor negro incomum:
O mesmo idiota que torturou o sacerdote, ordena, para um de seus homens, chamado de SIDA (que é portador de AIDS), que ele escolha uma das mulheres reféns para uma relação sexual entre ambos. O objetivo seria espalhar a doença para todas as regiões dos Estados Unidos.
Em suma: produção de orçamento reduzido, roteiro ordinário, e elenco sofrível. Para os admiradores de películas trash, é uma boa alternativa de entretenimento.
Planeta dos Prazeres
2.4 11O longa-metragem revela-se, como indica a sinopse, uma combinação entre um contexto futurístico e o estilo new wave, este uma singular característica da década de 1980. Os efeitos especiais, como já seria de se esperar, são de má qualidade, não sendo uma grande surpresa.
Em relação ao roteiro e às atuações das personagens, considero-os como medianos, visto que a obra se inclui no gênero trash. Cabe destacar, entretanto, a personagem Judy Jetson, vocalista da banda, interpretada de forma expressiva pela atriz Dru-Anne Perry, em especial nas cenas dos shows.
Mas é a trilha sonora, sem dúvidas, que se apresenta como uma excelente ideia para o filme; a divertidíssima "Lunar Madness" é a melhor entre as músicas reproduzidas, ao meu ver.
A película superou as minhas expectativas positivamente; decerto é uma diversão garantida.
Concerto do Horror
2.3 12A atuação, os diálogos e o desenvolvimento dos personagens se apresentam insatisfatórios, porém dignos de produções trash. Acho que o "gore" deveria ter sido melhor utilizado, mas digo isso como um apreciador do subgênero. Destaque para a ótima trilha sonora, que se mostrou uma agradável surpresa para mim. As cenas do show que finaliza o filme são interessantes, levando em conta a qualidade do roteiro. Confesso que dei algumas risadas em momentos que não deveriam ser cômicos.
32: A Guerra Civil
4.2 2Documentário de extrema relevância para um melhor entendimento acerca do levante paulista de 1932. Com uma temática completa, é composto por meio de notáveis registros e por um time de especialistas renomados. Particurlarmente, considero a intensa participação do povo nos esforços da guerra um dos destaques da película. Sem dúvida, foi uma nova aquisição de saberes para mim.
Sobreviventes - Filhos da Guerra de Canudos
4.3 10Pessoalmente, considero a produção deveras enriquecedora. Para quem já dispunha de um entendimento básico sobre o assunto, observar os relatos através de sobreviventes e seus familiares, sem dúvida, foi o fator crucial para que houvesse a aquisição de novos saberes e uma melhor imersão na história.
A Centopéia Humana
2.6 1,8KEntão, The Human Centipede. Uma breve concepção deste que vos escreve. Considero a história em si, sem dúvida, uma das mais perturbadoras que já pude conhecer. Entretanto, em relação à obra cinematográfica, confesso que ansiava por mais gore e por uma maior exposição da grotesca "centopeia". Sobre os personagens, destaque para o Dr. Heiter, interpretado brilhantemente pelo ator Dieter Laser, que conseguiu nos mostrar, ainda que parcialmente, o mecanismo doentio de um psicopata. A fotografia é excelente, e o ambiente claustrofóbico da mansão de fato nos faz experienciar a tensão enfrentada pelas desafortunadas cobaias. Não recomendado para indivíduos facilmente sensíveis com temas pertubadores, semelhantes ou não ao abordado na película.