"O Exorcista" foi dirigido por William Friedkin a partir de um roteiro de William Peter Blatty, baseado em seu romance de 1971 com o mesmo nome. O filme é estrelado por Ellen Burstyn, Max von Sydow, Jason Miller e Linda Blair. "O Exorcista" conta a história de Regan McNeil (Blair), uma menina que era doce e meiga até ficar possuída pelo demônio pazuzu, e a tentativa de sua mãe de resgatá-la por meio de um exorcismo realizado por dois padres católicos.
Sobre o livro: A obra-prima de William Peter Blatty é um verdadeiro clássico apoteótico do terror com mais de 13 milhões de exemplares vendidos em todo o planeta. Uma obra que mudou a cultura pop para sempre, se tornando um verdadeiro "marco" como uma das maiores obras da história da literatura. Uma obra-prima literária que mescla o sagrado, o ceticismo, a fé, a crença, o profano, juntamente com o investigativo e um estudo das camadas do ser humano ao ser exposto ao seu limite mental e espiritual.
Uma obra categórica que impactou e assombrou com o seu poder em criar um verdadeiro embate entre a ciência e a fé. Este é exatamente o ponto-chave do livro que dita todo o contexto da sua história. Ou seja, temos aqui uma história que navega com bastante eficiência e relevância no ocultismo, no mistério, no suspense e no terror, e ainda cria todo um ambiente que desenvolve o drama, o trauma, a frustração e o sofrimento.
Sem falar que o livro vai ainda mais além ao nos imergir em um verdadeiro terror psicológico durante toda a leitura. Ou seja, a leitura é fluida e dinâmica, e tem um início até leve e natural, dada a toda proporção da história. Este é o ponto que surpreende o leitor, por teoricamente ser confrontado com uma história que não demonstra um terror visível e palpável, mas desenvolve um terror psicológico, sobrenatural, algo que mexe com a nossa crença, com a nossa fé, que nos causa um desconforto mental e espiritual, pois o livro fala muito mais de fé do que sobre o medo. Durante toda a leitura nos sentimos Como se estivéssemos presos em um labirinto psicológico criado pela nossa própria mente - é bizarro!
Os personagens são incríveis, inteligentes, bem desenvolvidos, bem trabalhados, onde naturalmente o leitor irá facilmente se apegar, criar uma empatia, começar a se importar com cada um. O próprio Padre Damien Karras carrega nas costas o peso de suas escolhas feitas no passado, e essas escolhas viraram traumas atuais que refletem em suas frustrações durante o embate com o demônio. O demônio é outro personagem muito importante da história, que obviamente não criamos empatia, mas sentimos o peso da sua maldade ao expor a sua fase mais destruidora ao corromper a alma da menina Regan.
E toda esta incrível história é vagamente baseada no real caso de "O exorcismo de Roland Doe" no final da década de 1940, nos Estados Unidos. O livro é considerado pela Igreja Católica como um dos maiores relatos sobre um exorcismo já realizado desde a Idade Média.
"O exorcista" é uma verdadeira obra-prima da literatura sombria. Aquela obra de arte literária obrigatória para todos os amantes do terror. Pois esta obra não se trata apenas de uma simples história sobre o bem contra o mal, ou sobre Deus contra o demônio, mas também sobre a renovação e o poder da fé.
Sobre o filme: "O exorcista" é mundialmente conhecido como o maior filme de terror do século XX. E eu vou mais além: eu o considero simplesmente como "o melhor filme de terror de toda a história do cinema". Uma obra extremamente conceituada que chocou o mundo inteiro com sua metáfora do combate entre o sagrado e o profano, entre o poder da ciência e a força da fé, em um dos roteiros mais macabros já escritos em toda a história. O longa supera qualquer outra obra do gênero no quesito terror e possessão, se destacando como um filme completamente influente e revolucionário, um pioneiro que ditou novos rumos ao cinema, mudando e moldando o jeito de se fazer cinema, mais especificamente aos filmes de terror.
O longa-metragem traz uma adaptação completamente fiel com sua obra literária. Ou seja, temos uma abordagem fiel e relevante em como o mal assume várias formas, várias faces, em como ele é responsável em mexer com o nosso psicológico, em quebrar a nossa barreira mental e espiritual nos provocando um certo desconforto, um certo incômodo, ao representar essa essência do nosso lado mais reprovável que reproduz um verdadeiro labirinto psicológico criado por nossa própria mente enquanto somos mergulhados nesse submundo sombrio e macabro. Esta obra é tão grandiosa, tão imponente, tão impactante, tão visceral, que vai além dos nossos medos visíveis. Ou seja, aqui o ponto-chave não é você sentir medo, se assustar, é algo mais palatável, mais sombrio, mais misterioso, mais soturno, um terror sobrenatural criado a partir do nosso medo psicológico em representações com figuras tais como monstros, fantasmas ou demônios, e principalmente com reação às profanações.
Outro ponto que surpreende e se sobressai na obra é toda a abordagem referente ao drama que cada personagem apresenta na trama, e isso especificamente falando de um filme de terror. Temos todo o drama de Chris MacNeil (Ellen Burstyn) referente à sua filha e os problemas que ela passa a apresentar, pois quando todos os esforços da ciência para descobrir o que há de errado com a menina falham uma personalidade demoníaca parece vir à tona. Por outro lado a própria Chris sofre o drama da frustração de ter sido abandonada pelo marido e não poder contar com ele nessas horas. O Padre Karras (Jason Miller) carrega toda suas frustrações e traumas, e cabe a ele salvar a alma de Regan e ao mesmo tempo tentar restabelecer a própria fé, abalada desde a morte de sua mãe.
O grande e notável escritor William Peter Blatty (falecido em 2017), que também era cineasta, é o grande nome por trás do longa-metragem. Além de ser o escritor do livro, ele foi o roteirista e produtor do filme, e partiu dele a escolha pelo diretor que dirigiria a sua adaptação. O diretor escolhido foi o saudoso mestre William Friedkin (falecido recentemente, no dia 7 de agosto de 2023). Ambos tiveram dificuldades para escalar o elenco para o filme. A escolha dos relativamente desconhecidos Ellen Burstyn, Linda Blair e Jason Miller, em vez de grandes estrelas do cinema, atraiu oposição dos executivos da produtora Warner Bros. Porém, eles se mantiveram firmes em suas escolhas sobre o elenco, tanto que a produção demorou o dobro do programado e custou quase três vezes o orçamento inicial.
Devo afirmar que o diretor William Friedkin faz um trabalho completamente impecável por trás das câmeras. Como os seus takes mais próximos dos rostos dos personagens, que aumentava ainda mais o nosso desconforto, principalmente em ângulos fechados diretamente no rosto possuído da Regan. Todos os seus movimentos com a câmera nos causava um certo incômodo, principalmente com aqueles cortes e avanços nas retomadas das cenas, onde parecia que sua câmera desfilava pelos cenários, como se ela tivesse vida própria. Friedkin dominava com muita maestria todo o seu elenco, tinha todos nas mãos, onde ele conseguia tirar o melhor e máximo de cada ator em cena.
Sobre a produção: Além de ser mundialmente cultuado e respeitado, "O exorcista" causou um grande impacto cultural por desafiar as regras cinematográficas da época. O longa carrega o peso de ser o maior filme de terror de todos os tempos, e também carrega o título das polêmicas e das histórias mais bizarras e absurdas que aconteceram na produção nos sets de filmagens. Temos várias histórias de bastidores sobre as histórias que a produção carrega, como as condições precárias e desumanas em que os atores foram colocados para filmar e também os acidentes que aconteceram ao longo de sua produção. Às filmagens ocorreram tanto em desertos quentes quanto em cenários refrigerados. Muitos elenco e equipe ficaram feridos, alguns morreram e acidentes incomuns atrasaram as filmagens. Os muitos contratempos levaram à crença de que o filme teria sido amaldiçoado.
Ao todo, nove pessoas ligadas a produção do filme morreram de forma misteriosa, entre elas os atores Jack MacGowran e Vasiliki Maliaros, o avô de Linda Blair, um segurança do estúdio e um dos especialistas em efeitos especiais. Durante as gravações, o set de filmagem pegou fogo de forma misteriosa. No entanto, apenas o quarto da Regan não foi atingido, de acordo com os relatos da época. Devido às mortes e acidentes inesperados, o diretor William Friedkin consultou o Reverendo Thomas Birmingham sobre a possibilidade de exorcizar o set de filmagens. Em todas as vezes, o reverendo recusou o pedido, dizendo que isto causaria ainda mais ansiedade no elenco. Mas por diversas vezes ele visitou os sets para benzê-los e tranquilizar o elenco. Assim, após os eventos misteriosos envolvendo a equipe, o reverendo passou a acompanhar as gravações.
De acordo com as investigações da época, o ator Paul Bateson fez uma breve participação no filme. No entanto, anos mais tarde, foi condenado pelo assassinato de Addison Verrill. Sem provas, Bateson ainda foi ligado a um serial killer responsável pela morte de outras pessoas, todas encontradas dentro do rio Hudson. Considerado muito assustador, o trailer original foi removido, pois mostrava partes do filme em preto e branco, em que as imagens se misturavam com as dos demônios. Além disso, apresentava Regan MacNeil possuída.
Sobre o elenco: Com apenas 13 anos na época das gravações, a pequena Linda Blair é o grande nome e o principal destaque por trás de "O exorcista". Blair já era uma garota prodígio na época, com 12 anos ela já tinha aparecido em 75 comerciais e centenas de capas de revistas. "O exorcista" é seu filme de estreia nos cinemas, e devo afirmar que ela foi complemente fantástica, impecável e assustadora em sua atuação. A sua caracterização é impecavelmente bizarra, e isso se deve as várias sessões de maquiagem que levavam de duas a cinco horas para serem finalizadas. Blair virou uma das principais crianças em filmes de terror, sendo referência e influência para todas as atuações cinematográficas mirins em filmes de terror a partir dela. Ela é reconhecida e carrega este título até hoje, 50 anos depois. Porém, na época a Linda Blair sofreu muito com o peso dessa personagem, tanto no set de filmagem quanto fora dele. Durante a produção, Blair foi exposta a diversas dificuldades, como o quarto onde ela ficava, que teve que ser constantemente refrigerado, para que se pudesse capturar com exatidão a respiração gélida dos atores. Para tanto, foram usados quatro aparelhos de ar condicionado, todos ligados simultaneamente. Blair recebeu várias ameaças de morte e foi perseguida após o lançamento de "O exorcista", o que fez com que a Warner Bros. contratasse seguranças para viver com sua família durante 6 meses. Mesmo com todo o sucesso conquistado em "O exorcista", a carreira de Linda Blair não decolou, não teve o sucesso que todos esperavam, de certa forma ela ficou marcada pela produção, algo como uma maldição em toda a sua carreira.
Ellen Burstyn é o segundo grande destaque do filme, que também ficou estigmatizada pelo seu papel de Chris MacNeil, a mãe de Regan. Ellen fez um trabalho gigantesco e fantástico ao personificar a figura de uma mãe que ama a sua filha, que sempre se preocupa com o seu bem estar, que sempre se mostra presente em sua vida, demonstrando muito carinho e amor. E sua personagem é marcada pela virada em sua vida, por ter que lidar com novos problemas relacionados à saúde de sua filha, o que logo põe à prova a sua crença entre a ciência e a religião (e logo ela que dizia não ter uma religião). Ellen Burstyn também ficou marcada por eventos misteriosos durante a produção do filme. O principal foi o trauma que ela enfrentou em uma determinada cena, onde sua personagem é arremessada para longe por sua filha possuída e ela bate violentamente com o coccix contra a cama e cai no chão. A verdade é que seu grito de dor foi real nessa cena. Esta cena foi filmada e mantida no filme. Ellen também estabeleceu uma condição durante as filmagens: que sua personagem não dissesse a frase "I believe in the devil!" ("Eu acredito no demônio!"), contida no roteiro original. Os produtores atenderam o pedido e esta frase foi retirada da história. As atrizes Jane Fonda e Shirley MacLaine chegaram a ser sondadas sobre a possibilidade de interpretarem a personagem Chris MacNeil. Mas ainda bem que a personagem ficou com a Ellen Burstyn.
Jason Miller completa o trio de ouro de "O exorcista". Jason faz uma interpretação muito fina e muito competente do Padre Damien Karras. O interessante de seu personagem é o fato que inicialmente ele não faz parte daquela história, ele vai chegando com uma certa modéstia e aos poucos vai se estabelecendo dentro daquele universo. Além do que, Jason entrega uma atuação na medida certa, que mescla seus traumas do passado envolvendo sua mãe, com a atual situação envolvendo Chris e sua filha possuída. O mesmo vale para o Max von Sydow, o experiente Padre Lankester Merrin. Max entra com seu personagem mais na parte final da história e rapidamente já nos conquista. O Padre Merrin tem uma participação fundamental na história e um grande peso na parte final.
Sobre as qualidades técnicas: "O exorcista" trouxe todo um trabalho técnico e artístico muito à frente do seu tempo. Como posso destacar os efeitos especiais, que era uma novidade naquela época. O trabalho de maquiagem e representação artística foi um avanço tecnológico, ou seja, um trabalho impecável. A trilha sonora de Krzysztof Penderecki e George Crumb é uma coisa do outro mundo. Incrível como a trilha sonora de "O exorcista" é maravilhosa, é penetrante, é estridente, é incômoda, principalmente pela clássica composição instrumental de "Tubular bells de Mike Oldfield" (que está completando 50 anos). Este instrumental tocará no meu casamento e no meu velório. A cinematografia é magnífica, e traz uma fotografia de Owen Roizman completamente colossal. A direção de arte é minunciosamente bem detalhada, onde nos apresenta cenários com bastante fidelidade com a obra. A edição é outro grande acerto, assim como a própria mixagem e efeitos sonoros, que nos dava uma dimensão exata acerca de todos os acontecimentos que permeava o quarto da Regan possuída.
Curiosidades sobre a produção: "O Exorcista" foi lançado nos Estados Unidos em 26 de dezembro de 1973, um dia depois do Natal. O público esperou em longas filas durante o tempo frio; os shows esgotados foram ainda mais lucrativos para a Warner, uma vez que eles os reservaram para esses cinemas sob quatro contratos de aluguel de distribuição de parede, a primeira vez que um grande estúdio fez isso.
Alguns espectadores sofreram reações físicas adversas, desmaios ou vômitos em cenas chocantes, como uma angiografia cerebral realista. Muitas crianças foram autorizadas a assisti-lo, o que levou a acusações de que o conselho de classificação da MPAA havia acomodado a Warner, dando ao filme uma classificação R em vez da classificação X para garantir a produção problemática e seu sucesso comercial. Várias cidades tentaram proibi-lo totalmente ou impedir a participação de crianças. No final de sua exibição teatral original, o filme arrecadou US$ 193 milhões e teve um faturamento bruto vitalício de US$ 441 milhões com relançamentos subsequentes.
"O Exorcista" foi banido no Reino Unido durante 11 anos. Foi alegado desde grupos religiosos denunciando seu conteúdo como supostamente imoral, até espectadores desmaiando e vomitando durante sua exibição nos cinemas, tudo isso ajudou a construir a mística de "o filme mais assustador já feito". E não foi só no Reino Unido: durante algum tempo, inúmeras tentativas de censurá-lo ocorreram também nos Estados Unidos, mas foram mal-sucedidas.
As filmagens do longa envolveram dezenas de profissionais e também exigiram soluções criativas da equipe, como por exemplo o uso da sopa de ervilha para simular o vômito.
Os gritos sobrenaturais foram feitos a partir de efeitos sonoros insólitos de mixagens de gritos de porcos quando são enviados para o abate. Inicialmente, a voz do demônio seria da própria Linda Blair. Entretanto, após 150 horas de trabalho em cima do som do filme, o diretor resolveu substituí-la pela voz de Mercedes McCambridge que, para fazer a voz do demônio, comeu ovos crus, tomou muito álcool e fumou diversos cigarros. A atriz McCambridge chegou a processar a Warner Bros., para que seu nome como a dona da voz do demônio entrasse nos créditos do filme.
Além da história de "O exorcista" ter sido baseada no real caso de "O exorcismo de Roland Doe", existem teorias que por sua vez, que a história é também baseado em relatos curiosos de um ex-engenheiro da NASA.
Diferenças entre livro e filme: Eu pude notar que a principal diferença entre ambos está no quesito de que no livro a possibilidade do problema da menina Regan ser psiquiátrico é sempre mantido e questionado até o fim. Já no filme fica mais evidente que o problema da Regan sempre foi possessão, por mais que inicialmente temos as cenas da mãe levando ela para fazer alguns exames médicos. Isso eu nem considero como uma falha de adaptação, eu considero como uma escolha de roteiro por uma liberdade criativa na narrativa do longa-metragem.
Um ponto que foi deixado de lado no filme: é o fato que em nenhum momento é mencionado sobre a filha do casal de empregados Karl e Willi (Rudolf Schündler e Gina Petrushka). Esta é uma parte evidente e importante no livro. Temos aqui outra escolha criativa do roteiro.
Cenas clássicas: "O exorcista" é composto por inúmeras cenas clássicas que sempre foram inesquecíveis e serão lembradas e cultuadas até o fim dos tempos. - Temos a clássica cena da Regan descendo de seu quarto no meio da festa e fazendo xixi no tapete na frente dos convidados. - A Regan descendo pelas escadas de costas com a boca cheia de sangue. - A clássica cena que virou pôster, quadros e papel de parede: o Padre Merrin chegando de táxi à noite na casa da Chris e logo após se pondo de pé em frente ao local. - Regan levitando na cama durante a sessão de exorcismo. - Regan possuída girando completamente a sua cabeça. - Regan se masturbando com o crucifixo até sangrar. E todas essas cenas são lembradas também por ter virado paródias, memes, por ser de alguma forma imitadas e nunca esquecidas.
Um versão estendida de "O exorcista" foi relançado nos cinemas americanos em 2000, com uma nova cópia, som digital e 12 minutos de cenas extras inseridas ao longo do filme.
Premiações: "O Exorcista" é o verdadeiro "Pioneiro do Terror", pois ele foi o primeiro e único filme de terror a ser indicado ao Oscar de melhor filme. Tal revolução foi impulsionada pelo sucesso do filme, que o levou a vencer a resistência das grandes premiações aos filmes de gênero e conquistou dez indicações ao Oscar de 1974: Som, Edição, Direção de Arte, Fotografia, Roteiro Adaptado, Atriz Coadjuvante (Linda Blair), Ator Coadjuvante (Jason Miller), Atriz (Ellen Burstyn), Direção e Melhor Filme. Saindo vencedor em duas estatuetas, de Roteiro adaptado e Som. Ganhou quatro Globos de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama, Melhor Diretor, Melhor Roteiro e Melhor Atriz Coadjuvante (Linda Blair). Recebeu ainda outras três indicações: Melhor Atriz - Drama (Ellen Burstyn), Melhor Ator coadjuvante (Max von Sydow) e Melhor Revelação Feminina (Linda Blair). Foi indicado ao BAFTA na categoria de Melhor Som. Ao Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films - ganhou nas categorias de Melhor Filme de Terror, Melhor Maquiagem, Melhores Efeitos Especiais e Melhor Roteiro.
Continuações: "O Exorcista" foi o primeiro de uma série de quatro filmes baseados nos personagens. Os demais foram "O Exorcista II - O Herege" (1977), "O Exorcista III" (1990) e "O Exorcista - O Início" (2004). Além de "Dominion: Prequel to the Exorcist" (2005) e "O Exorcista - O Devoto", lançado no Brasil no dia 12 de outubro de 2023.
"O Exorcista" teve uma influência significativa na cultura pop e diversas publicações o consideram um dos maiores filmes de terror já feitos. Em 2010, a Biblioteca do Congresso selecionou o filme para preservação no Registro Nacional de Filmes dos Estados Unidos como sendo "cultural, histórico ou esteticamente significativo".
Por fim: "O Exorcista" é um dos maiores filmes de todos os tempos, que chocou e traumatizou o mundo em sua estreia, e hoje, com quase 50 anos de lançamento, continua a impactar o público com uma história pesada, macabra, soturna, misteriosa, sombria, onde temos uma narrativa tensa e incômoda, com cenas perturbadoras, atuações primorosas, diálogos tenebrosos e um terror sobrenatural e psicológico que mexe com o nosso estado mental e espiritual.
Temos aqui a obra-prima do terror, a obra de arte do horror, o suprassumo da possessão e a quinta-essência do medo. O verdadeiro masterpiece do incômodo, do desconforto, do perturbador e do assustador.
Senhoras e senhores: o medo revela a sua face no maior filme de terror da história do cinema - "O Exorcista".
"Mas se todo o mal do mundo faz você pensar que pode existir um diabo, como explica todo o bem do mundo?"
A terceira temporada de "Bates Motel" é novamente constituída em 10 episódios e foi transmitida pela A&E de 9 de março a 11 de maio de 2015, com exibição às segundas-feiras às 21h.
Na primeira e na segunda temporada de "Bates Motel" tivemos o início e o desenvolvimento da psicose de Norman Bates (Freddie Highmore). Ou seja, podíamos notar os primeiros indícios do seu lado psicótico, que de fato ainda acontecia em casos mais raros. Nessa terceira temporada esse quadro se agrava ainda mais, ficando cada vez mais específico e tomando uma proporção ainda maior. Norman passa a sofrer apagões mais constantes e passa a ter vagas memórias de suas ações nos momentos desses apagões. É como se ele sofresse para distinguir as criações de sua mente daquilo que realmente aconteceu.
O primeiro episódio já inicia de forma bastante peculiar com uma cena intrigante do Norman dormindo na cama com a Norma (Vera Farmiga), o que deixa o Dylan (Max Thieriot) incomodado ao presenciar esta situação. E mais bizarro ainda é o fato do Dylan confrontar a Norma sobre o caso e ela simplesmente dizer que acha isso tudo normal. É justamente nessa temporada que passamos a observar um comportamento cada vez mais estranho do Norman com sua mãe. Era como se o Norman sentisse algum tipo de desejo pela mãe, e ela em contrapartida acaba contribuindo para esse seu comportamento. Outro fato intrigante é justamente a cena em que a Norma recebe um telefonema informando que sua mãe havia falecido, e ela fica incomodada mas reage naturalmente como se não se importasse. E é muito curiosos a Norma dizer que não liga para o fato da morte de sua mãe por já ter 20 anos que não fala com ela, porém ela sofre com essa notícia por algum trauma do passado.
Norman ainda não superou a morte da professora Blaire Watson (Keegan Connor Tracy) e não consegue voltar para a escola, porém sua mãe o obriga. Várias plantações de maconhas da cidade foram queimadas pela narcóticos. Muito estranha essa atitude do Norman em querer namorar com a Emma (Olivia Cooke) agora, depois de tanto tempo. Eu acho que isso foi uma atitude tomada por pena dela, por ela ter informado que sua doença progrediu bastante. Norman decide largar a escola e passar a estudar em casa, sendo uma atitude apoiada pela sua mãe. Emma toda encantada pelo início do namoro também decide seguir os mesmos passos do Norman e também abandona a escola. Uma hóspede misteriosa chega no Motel e deixa o Norman bem impressionado. A garota se chama Annika Johnson (Tracy Spiridakos) e acaba revelando para o Norman que ela é uma garota de programa e está na cidade por causa de uma festa.
Temos o primeiro mistério da temporada: o desaparecimento de Annika. Como sempre acontece, o desaparecimento da moça levanta uma grande tensão na cidade. O fato do Norman ter retornado para o Motel no carro da moça deixa a Norma com vários pensamentos em relação ao seu filho. Norma vai investigar o local da festa que Annika disse que iria e acaba descobrindo a verdade sobre o Arcanum Club. A relação de Dylan e Caleb (Kenny Johnson), que retornou para a cidade após a morte de sua mãe, não está nos melhores dias. E pra piorar a situação, eles encontram um vizinho bem misterioso. O Xerife Romero (Nestor Carbonell) vai embora do Motel pelo fato da sua casa ter ficado pronta após 3 meses de hospedagem. Norma fica visivelmente chateada com a partida de Romero.
Como o Norman foi a última pessoa que esteve com a Annika antes de seu desaparecimento, o Xerife Romero decide investigá-lo. Norma hesita quando Romero faz perguntas complicadas a Norman. Norman está sofrendo uma pressão psicológica muito grande da mãe, ao ponto de deixá-lo completamente transtornado. A partir daí temos algumas revelações curiosas na temporada; como o fato do Xerife Romero conhecer o seu adversário para reeleição. Um corpo de uma garota misteriosa foi encontrado boiando em um lago da cidade, o que fatalmente pensaríamos que pudesse ser o corpo de Annika. Mas não era o corpo de Annika, era de outra garota, já que Annika reaparece no Bates Motel gravemente ferida e entrega um pen drive para a Norma e morre ali mesmo em seus braços.
A cidade de White Pine Bay continua com suas mortes misteriosas. O Xerife Romero investiga as mortes misteriosas de Lidsay e Annika, as duas garotas assassinadas que trabalhavam no Arcanum Club. Segredos enterrados vêm à tona para Caleb e Dylan. Norma decide voltar para a faculdade e acaba conhecendo o professor James Finnegan (Joshua Leonard). James por sua vez acaba se envolvendo com Norma e passa a conhecer um pouco dos seus problemas familiares, o quê ele se arrependeu mortalmente. A relação do Xerife Romero com a Norma tinha tudo para dar certo, mas a constante desconfiança dele sobre ela e o Norman impossibilita essa aproximação. E o fato da própria Norma querer acobertar o filho a todo custo acaba dificultando cada vez mais essa aproximação.
Em cada temporada temos a figura de um vilão, aquele maioral que dá as cartas na cidade de White Pine Bay. Nessa temporada esta figura é o misterioso Bob Paris (Kevin Rahm). Bob é o dono do Arcanum Club, que dá grandes festas na cidade regado a orgias sexuais e várias personalidades importantes. Mais tarde descobrimos que Bob é o homem responsável pela morte das duas garotas, além de ter colocado um concorrente ao posto de Xerife no caminho de Romero, e ter planejado uma tentativa de assassinato do próprio Romero. A principal subtrama da temporada consiste no Bob Paris em resgatar aquele pen drive que a Annika deu para a Norma em seu leito de morte. Este pen drive possui um conteúdo sigiloso que envolve todo o reinado de Bob Paris na cidade.
Por outro lado, Dylan faz uma tentativa de pedir para a Norma considerar falar com seu irmão Caleb. Esta tentativa não deu certo, já que a Norma ficou revoltada e acabou saindo de casa. Norma realmente considera uma vida fora de White Pine Bay, deixando Norman em uma posição vulnerável. Com a saída da Norma de casa, Norman ficou completamente transtornado, o que aproximou Dylan e Emma quando ambos se uniram para ajudar o Norman. O Xerife Romero descobre sobre a sua tentativa de assassinato e assim ele consegue ir atrás do seu concorrente no cargo de Xerife e matá-lo (uma cena espetacular, diga-se de passagem). Norma se encontra totalmente desequilibrada e perdida emocionalmente. Aquela cena com ela indo até o Caleb e o perdoando diz muito a respeito. Preciso destacar uma cena do sexto episódio: que é a cena com a Norma chegando na agência de carros e pedindo para trocar seu carro. Logo me lembrou a mesma cena que aconteceu no filme clássico de 1960.
Com a aproximação de Dylan e Emma, ele acaba descobrindo notícias chocantes sobre a saúde de Emma. Emma precisa de um transplante de pulmão urgente ou poderá morrer e Dylan está tentando ajudá-la. Caleb e Dylan aceitam um trabalho que envolve certo risco. Dylan pretende vender toda a entrega de maconha para o transplante de pulmão da Emma. Incrível como Norman sente ciúmes das pessoas que a Norma dorme, como ele implica com ela, sente desejos sexuais por ela, e ainda olha seu corpo de relance.
Surpreendendo um total de zero pessoas, Bradley Martin (Nicola Peltz) está de volta. Esta volta de Bradley na série é bem questionável, e ela volta a atormentar o Norman com as suas loucuras. Dylan dá 50 mil dólares para o pai da Emma para a sua cirurgia. Emma tem uma reação surpreendente a notícias aparentemente positivas sobre sua chance de fazer o transplante de pulmão, mas ela não sabe que foi o Dylan que pagou. Parece rolar uma química entre o Dylan e a Emma, e finalmente rola um beijo entre eles. Eu acho que o Dylan se mostrou muito mais preocupado com o estado de saúde da Emma do que o Norman. Disto isto: eu prefiro muito mais o casal Emma e Dylan do que Emma e Norman.
Norma chega ao limite com os problemas de Norman e decide que quer interná-lo em uma clínica psiquiátrica. No final da temporada temos a morte de Bob Paris pelo Xerife Romero. Também temos Norman em um estado psicótico quando incorpora sua mãe e mata a Bradley. No final Norman faz exatamente como no filme clássico: ele coloca o corpo da Bradley no porta-malas do carro e o empurra até um lago. E assim termina a terceira temporada de "Bates Motel".
Um dos principais problemas das temporadas anteriores era exatamente na questão do roteiro, por querer contar várias histórias todas ao mesmo tempo e no fim não desenvolver bem nenhuma. Especificamente nessa temporada não temos este problema relacionado ao número de histórias paralelas desnecessárias. Temos algumas subtramas, é claro, como no caso do Bob Paris e sua incansável busca pelo pen drive. Que sim, foi uma história paralela bem desnecessária e totalmente cansativa, por se repetir demais. Mas eu confesso que no geral esta terceira temporada é mais direta ao ponto, é mais centrada na trama principal, que é justamente o desenvolvimento tóxico do Norman e da Norma. A história principal de "Bates Motel" tem uma alavancada nessa temporada justamente pelos problemas mentais de Norman se aflorarem e ele ficar cada vez mais descontrolado.
Porém, o excesso de personagens desnecessários é um ponto que me incomoda bastante na série. Nessa terceira temporada não é diferente, temos vários personagens desnecessários, que são trazidos para a série apenas para servirem de muletas para o desenvolvimento de uma história de um personagem principal da série. Como no caso das personagens Lidsay e Annika, e aquele postulante ao cargo de Xerife da cidade, que serviram de muletas para o encaixe do personagem Bob Paris na temporada. Bob Paris por sua vez é mais um personagem desnecessário que mantém aquele legado de vilão de temporada que é sempre morto no final. Na primeira temporada foi o Jake Abernathy (Jere Burns), na segunda temporada foi o Nick Ford (Michael O'Neill) e nessa temporada é o Bob Paris. Uma personagem que foi extremamente importante na série, que teve a sua época, e que foi trazida de volta nessa temporada se tornando uma personagem completamente desnecessária, é exatamente a Bradley Martin. Quando a Bradley foi embora da cidade o seu retorno era só questão de tempo, e eu tinha certeza que isso mais cedo ou mais tarde iria acontecer. Bradley teve o seu auge e a sua relevância nas temporadas passadas, principalmente na segunda temporada, mas a sua volta nessa terceira temporada foi completamente infundada e desnecessária, servindo apenas para compor mais uma morte do Norman. Eu não duvido nem um pouco se nas próximas temporadas não irão trazer de volta a Cody Brannan (Paloma Kwiatkowski) para servir de vítima para o Norman.
Sobre o elenco: Vera Farmiga como sempre é o principal destaque da temporada e da série. Em cada temporada é cada vez mais notável o seu crescimento e o desenvolvimento impecável de sua personagem Norma Louise Bates. Freddie Highmore só cresce na série cada vez mais. Incrível como o Freddie vem em uma constante crescente, em uma constante evolução, que só melhora e nos surpreende em cada temporada. Especificamente nessa temporada a dupla Vera Farmiga e Freddie Highmore estão com mais sintonia e com mais química, cujo as cenas onde ambos estão contracenando juntos é tomada por um forte clima de tensão e desconforto para nós espectadores. Max Thieriot ganha mais espaço na trama e logo seu personagem ganha mais destaque pelo o local que ele ocupa na série. O mesmo vale para o Nestor Carbonell, que também se destaca em razão da importância que seu personagem tem com os vários problemas que surgem ao longo da temporada. Olivia Cooke continua na mesma linha da temporada passada, com uma participação mais contida, mas eu confesso que fiquei bastante animado com as possibilidades da personagem para a quarta temporada. Já que agora temos uma aproximação da Emma com o Dylan e logo ela fará o transplante de pulmão. Kenny Johnson finalmente consegue conquistar o seu espaço na série, e algo me diz que ele será importante nas próximas temporadas. E pra finalizar o elenco, Nicola Peltz, que voltou para a série apenas para compor o final da temporada com o Norman liberando toda a sua fúria e descontrole do seu lado psicótico.
A terceira temporada de "Bates Motel" recebeu 72 de 100 da Metacritic, com base em 5 críticas de críticos de televisão, indicando "críticas geralmente favoráveis". O Rotten Tomatoes relatou que 11 das 12 respostas críticas foram positivas, com média de 92% da classificação." O episódio de estreia da temporada atraiu um total de 2,14 milhões de telespectadores. Por suas atuações nesta temporada, Vera Farmiga e Freddie Highmore foram indicados ao Critics' Choice Television Awards de Melhor Atriz e Melhor Ator em Série Dramática, respectivamente. A terceira temporada ficou em quarto lugar na lista de final de ano dos principais programas ao vivo + 7 dias da Nielsen, ganhando uma média de 201,8% de espectadores em DVR.
Tecnicamente a temporada também se destaca: A trilha sonora é boa e agrega bastante na história. A fotografia se sobressai em cada cena apresentada. A direção de arte é muito bem representada. A edição é muito boa, assim como a mixagem de som. Cada detalhe técnico conta muito para a qualidade da temporada e consequentemente da série.
A terceira temporada de "Bates Motel" melhora em relação as temporadas anteriores. E muito dessa melhoria se dá exatamente por focar mais na trama central e deixar um pouco de lado as inúmeras histórias paralelas e desnecessárias. A temporada também se sobressai na questão da construção e no desenvolvimento do Norman Bates, que se mostra cada vez mais psicótico e insano, que vai perdendo o seu autocontrole gradativamente com o passar do tempo. No começo o Norman se mostrava assustado e coagido pelos seus apagões e a sua dupla personalidade, agora ele já parece dominar o seu caráter imprevisível, dúbio, e parece cada vez mais a vontade ao explorar a sua mente psicótica. Esta temporada é também a responsável em nos elucidar sobre o comportamento e as atitudes da Norma Bates em relação ao seu filho. Que logo nos mostra quem é a verdadeira personalidade psicopata da história.
Acredito que agora a série irá crescer cada vez mais nas próximas temporadas. Potencial sempre teve, só não estava sendo totalmente explorado. [12/10/2023]
A segunda temporada de "Bates Motel" teve novamente 10 episódios e estreou na TV a cabo A&E em 3 de março de 2014. A temporada foi ao ar às segundas-feiras às 21h e foi concluída em 5 de maio de 2014.
Em sua segunda temporada, "Bates Motel" continua na mesma linha da temporada passada, porém constrói uma história mais complexa e com várias subtramas. Temos novos conflitos que envolve, dessa vez, duas famílias que controlam as plantações de maconha da cidade de White Pine Bay. Dentro desse contexto, Norma (Vera Farmiga), Norman (Freddie Highmore) e Dylan (Max Thieriot) se encontram em situações delicadas.
A segunda temporada gira em torno de situações distintas: Norman fica obcecado em uma espécie de trauma pessoal referente à morte da professora Blaire Watson (Keegan Connor Tracy), que aconteceu no final da temporada passada. O passado sombrio de Norma se volta contra ela com o aparecimento de seu misterioso irmão. Bradley Martin (Nicola Peltz) está obcecada na busca pelo verdadeiro assassino de seu pai. Emma Decody (Olivia Cooke) vive seu drama pessoal ao se sentir excluída da família Bates, e logo se envolve em um novo interesse amoroso. Já o Xerife Alex Romero (Nestor Carbonell) se vê ameaçado ao ser perseguido e descoberto em suas investigações.
O primeiro episódio é muito bom e já se destaca relevando alguns segredos que até então estavam guardados: Norman não se conforma com a morte da Sra. Watson e não consegue se desprender desse acontecimento, passando a visitar seu túmulo no cemitério constantemente. Isso, claro, incomoda muito a Norma. No enterro da Sra. Watson o Norman chora copiosamente, talvez por culpa ou por remorso. Assim como o cinto do Keith Summers, Norman também guarda o colar da Sra. Watson. Bradley está totalmente descontrolada e transtornada pela morte do pai, o que a leva a tentar um suicídio ao se jogar de uma ponte, principalmente pelo fato dela ter descoberto que o seu pai estava tendo um caso com a Sra. Watson. Nesse ponto é interessante nos atentarmos que Bradley havia encontrado algumas cartas de amor que seu pai estava trocando com uma mulher que se identificava apenas como "B" (Blaire Watson). Norman está cada vez mais se dedicando ao empalhamento de animais no porão de sua casa. Bradley recebe alta do hospital psiquiátrico em que estava internada e quer buscar vingança contra o assassino de seu pai. E aqui temos um final de episódio surpreendente, que é justamente a Bradley indo até a casa de Gil Turner (Vincent Gale) e o matando com um tiro na testa. Ela havia descoberto que ele era o assassino de seu pai.
O segundo episódio mostra a Norma preocupada com aquela obsessão doentia de Norman pela morte da Sra. Watson, o que a leva a convencê-lo a participar de uma peça musical na cidade. Após ter matado o assassino de seu pai, Bradley se vê desesperada e busca a ajuda de Norman, que a esconde no porão de sua casa. Ela quer a ajuda de Norman para fugir da cidade, e com isso o Dylan, atendendo um pedido de Norman, ajuda ela a fugir. Com a morte de Gil a cidade fica bastante impactada, já que Zane Morgan (Michael Eklund), o chefe de Dylan, acredita que tem uma outra família no ramo das drogas, liderada por Nick Ford (Michael O'Neill), que está envolvida com o ocorrido, o que gera uma guerra de drogas na cidade.
A temporada segue nos mostrando o empenho da Norma na luta contra a construção da nova estrada. E podemos notar que finalmente o Bates Motel está prosperando, ao começar a receber hóspedes (mesmo aqueles hóspedes estranhos). Norma toma uma atitude de certa forma até precipitada, ao tomar conhecimento que o conselho da cidade fará uma reunião sobre o tema, e ela decidir confrontar os superiores expondo o seu descontentamento com a construção da estrada. De certa forma podemos até entender esta postura da Norma, já que realmente aquela nova estrada interferiria diretamente no movimento do seu Motel. Porém, a forma como ela contesta em seu discurso acaba sendo confrontada pelo pelo vereador Lee Berman (Robert Moloney), onde logo ela perde o controle da situação e acaba expondo as atividades ilegais que existem na cidade (o império da maconha).
Nos episódios seguintes temos uma revelação enigmática, que é justamente o aparecimento do irmão da Norma, Caleb Calhoun (Kenny Johnson). E este aparecimento revive lembranças traumáticas para Norma, o que a leva a revelar um segredo do seu passado. Em contrapartida Caleb tenta se aproximar de Dylan, que o leva até a casa da Norma, causando uma trágica situação com a própria Norma quando chega e dá de cara com seu irmão dentro de sua casa. Norma fica transtornada ao ver o irmão e o expulsa da sua casa. Em uma discursão Norma revela que ela era estuprada pelo seu irmão quando tinha 13 anos. Logo após ela revela que ele é o pai de Dylan. Na sequência temos outra cena impactante, que é justamente o momento em que Norma revela para Dylan que Caleb é o seu pai.
Temos outra revelação traumática para Norman, que acontece justamente quando Emma leva para ele a notícia de que Bradley havia se suicidado e deixado um bilhete junto com suas roupas na margem da praia (este foi um acordo que Bradley havia feito com Dylan antes dela fugir da cidade). Norman fica visivelmente transtornado com esta notícia referente a Bradley. A partir daí Norman começa uma amizade com Cody Brennan (Paloma Kwiatkowski). Cody conhece Norman em um mercado, quando ele estava fazendo compras para preparar um disfarce para a fuga de Bradley. Logo esta amizade toma um outro rumo, quando Norman transa com Cody, o que faz com que os dois se aproximem e Norman começa a tomar conhecimento da complicada vida de Cody, mas como ela é uma jovem rebelde, Norma não quer que o filho conviva com ela.
Cody tem uma importante participação na temporada ao colaborar (de forma negativa) no despertar dos "apagões" de Norman (um espécie de estado traumático, um transe psicótico). E justamente a Cody convence Norman a ir até o motel que Caleb estava hospedado e confrontá-lo (após Norman ter revelado este segredo para ela). A intenção de Cody era que Norman desse um susto em Caleb na intenção que ele se afastasse de Norma, porém Norman acaba desistindo da ideia no meio do caminho, onde logo após ele tem o seu primeiro apagão. Depois Norman volta até lá e confronta Caleb. Incrível que logo vemos como Norman entra em transe e passa a se identificar com as memórias da mãe diante de Caleb, que sofreu os abusos, como se ele fosse a Norma em um estado psicótico. Nesse mesmo episódio temos um final que revela que em meio a todas as questões investigativas que o Xerife Romero passou, ele acaba tendo a sua casa incendiada e ele precisa passar um tempo morando em um dos quartos do Motel Bates.
Norma se torna amiga de Christine Heldens (Rebecca Creskoff), a ex-diretora daquela peça musical que ela levou o Norman, e até comparece a uma festa na casa dela. A partir dessa amizade Christine leva Norma para a vida social de White Pine Bay. É interessante que a partir dessa amizade com Cristine, Norma conhece o misterioso Nick Ford, que também se mostra contra a construção da nova estrada. Norma acaba se envolvendo com Nick Ford sem saber que ele é o chefe da outra família de drogas, rival daquela para quem Dylan trabalha. Norma acaba entrando em uma teia de aranha com este envolvimento, ao aceitar a ajuda de Nick Ford onde rapidamente a construção da estrada é paralisada. O maior problema para Norma é que Nick Ford acaba cobrando a ajuda que ele deu para ela, e isso traz um problema seríssimo para Norma.
O quinto episódio nos mostra como Dylan precisa lutar por sua vida na guerra iniciada por Zane. Como o Xerife Romero foi se hospedar no Motel Bates, com o contato diário a sua relação com Norma vai aos poucos melhorando. Logo temos mais uma nova personagem chegando na série, trata-se da misteriosa Jodi Morgan (Kathleen Robertson), a irmã de Zane, que já se auto intitula como a verdadeira chefe de Dylan. Norma está cada vez mais se envolvendo com a política da cidade, o que lhe traz sérios problemas. Os constantes apagões de Norman acaba preocupando à todos, principalmente a Norma, que sabe os reais motivos desses apagões mas se recusa a contar a verdade para ele. O sexto episódio termina justamente em uma discursão entre Norman e Cody, quando o pai da Cody aparece e entra na discursão, e na sequência Norman acaba o empurrando da escada, matando o pai da Cody.
O sétimo episódio nos revela que Norman foi considerado inocente pela a morte do pai da Cody, que foi considerado como um acidente (e na real não foi). Cody rompe a amizade com Norman e vai morar com a tia em outra cidade. Por fim é confirmado, através de um exame, que o sêmen no útero da Sra. Watson é de Norman Bates, o que prova que foi ele mesmo quem a matou. E logo após temos a cena que revela que Norman fez sexo com a Sra. Watson naquela noite e depois cortou sua garganta com um canivete. Já no último episódio da temporada temos aquela já famosa matança descontrolada, que é justamente o Nick Ford sendo morto pelo Dylan. E logo após temos o resgate do Norman do cativeiro em que ele estava preso. No fim vemos que Norman está sempre com sua mãe dentro da sua mente, como se ela o controlasse o tempo todo, o fazendo negar até o seu assassinato da Sra. Watson. Gostei muito desse final de temporada.
Porém: a segunda temporada de "Bates Motel" continua insistindo nos mesmos erros da temporada anterior, que é justamente no desenvolvimento do roteiro, por novamente querer contar várias histórias todas ao mesmo tempo e no fim não desenvolver bem nenhuma. Por exemplo: em cada temporada aparece uma figura para ser o grande vilão do final de temporada (o que pode ser normal). Na primeira temporada foi o Jake Abernathy (Jere Burns) e nessa temporada é o Nick Ford. Me parece mais uma tentativa forçada de querer sempre por obrigação implantar um grande vilão, o manda-chuva, o big boss, sempre com aquele ar de poderoso, de superior, e no fim terminar como um morto qualquer sem nenhum sentido. No fim o grande vilão de temporada não passa de um personagem raso, falho e sem nenhuma relevância para o contexto da temporada e principalmente da série.
Outro ponto: criam histórias na primeira temporada e não tem uma relevância na próxima; como no caso do assassinato de Keith Summers, que foi completamente esquecido. A história da morte do pai da Bradley até deram uma certa continuidade nessa segunda temporada, mas depois esqueceram, e muito pelo fato da própria Bradley ter fugido da cidade (mas acredito que ela voltará na próxima temporada). Parecem que querem contar tantas histórias ao mesmo tempo que se perdem em diversas vezes e não dão continuidades e nem finalizam nenhuma, todas ficam como pontas soltas. Várias histórias paralelas que tiram o foco da série, como essa briga das gangues de maconha. Todo esse envolvimento da Norma com o Nick Ford na tentativa de ajudá-la com a estrada nova, o que resultou em todo esses arcos de histórias paralelas, rasas, falhas e sem sentido. Tudo isso só para integrar cada vez mais personagens na série, o que fatalmente mascara a história principal e faz com que toda essa inserção de novos personagens faz com que os protagonistas apareçam menos.
Sobre o elenco: Vera Farmiga (atualmente em cartaz nos cinemas em "A Freira 2") é novamente o grande destaque da temporada. Dessa vez ainda mais atuante nos comportamentos e atitudes de Norman, o que começa a trazer cada vez mais problemas para ele. Mais uma excelente atuação de Vera Farmiga. Freddie Highmore ("The Good Doctor"), assim como a Vera, é também mais um belíssimo destaque da temporada. Nessa temporada o Norman começa a lidar com os seus constantes apagões, o que logo resulta em seus transes psicóticos. Ele passa a reviver e conviver cada vez mais com as memórias de sua mãe, ou seja, praticamente se transformando nela. Aquela cena no final da temporada, com ele esboçando aquele olhar e aquele sorriso, é sensacional. Nos mostra o grandioso talento que Freddie Highmore tem. Max Thieriot ("SEAL Team") está melhor nessa temporada e muito mais participativo. Ele tem participações cruciais em vários pontos importantes dentro da história. Nicola Peltz ("Transformers: A Era da Extinção") tem uma transformação gigantesca nessa temporada. Ela deixa de ser aquela patricinha mimada da primeira temporada e passa a ser uma personagem muito importante dentro do contexto da série. Aquelas cenas em que ela aparece descontrolada no carro e logo após se jogando da ponte, é genial. Sem falar na cena em que ela vai toda sedutora e vestida para matar - maravilhosa! Olivia Cooke ("Jogador Nº1") novamente tem sua importância dentro da temporada (assim como na anterior), mas eu confesso que esperava mais da sua personagem. Sinceramente, eu queria ver a Emma mais participativa nos pontos cruciais da história, que ela fosse mais fundamental (como no início da temporada passada, nas investigações sobre a garota asiática). Mas aqui me parece que ela tem seus momentos de destaques, tem novamente a sua paixão, mas no fim ela se sente excluída e passa a ser escanteada. Nestor Carbonell ("The Morning Show") tem uma participação muito mais relevante nessa temporada. O Xerife Romero tem participações mais fundamentais na história e sua aproximação com a Norma pode resultar em novas subtramas nas próximas temporadas. Não posso deixar de destacar a excelente participação de Paloma Kwiatkowski, que trouxe uma personagem muito importante para o desenrolar da temporada.
A segunda temporada de "Bates Motel" recebeu críticas positivas de críticos de televisão, e o episódio de estreia atraiu um total de 3,07 milhões de espectadores. A série foi renovada para uma terceira temporada depois que cinco episódios da segunda temporada foram ao ar. Por sua atuação, Vera Farmiga recebeu indicações para o Critics' Choice Television Award de Melhor Atriz em Série Dramática e o Saturn Award de 2014 para Melhor Atriz na Televisão.
A segunda temporada de "Bates Motel" recebeu uma pontuação de 67 em 100 no Metacritic, a partir de 11 comentários. O Rotten Tomatoes relatou uma classificação de 86% a partir de 12 comentários para a segunda temporada.
Apesar das falhas de roteiro e do desenvolvimento das histórias paralelas serem vagas e rasas, esta temporada continua em um bom nível de suspense, de mistério, conseguindo um bom aprofundamento no drama e na construção do terror psicológico. É interessante notar esse relacionamento que soa tóxico e doentio entre mãe e filho, o que logo nos leva a perceber que esse estado de possessão controladora da Norma é o principal fio condutor para o desenvolvimento dos comportamentos psicóticos do Norman. É também a partir dessa temporada que começamos a notar as principais diferenças comportamentais do Norman, o que logo resultará na sua transformação em um dos maiores maníacos e psicopatas da história do cinema.
Por fim, "Bates Motel" consegue novamente nos entregar uma boa temporada (por mais que persista no mesmos erros da anterior), com uma boa história central que começa a tomar o principal rumo da série, e uma boa construção em elementos que poderá ser melhor utilizados nas próximas temporadas. [24/09/2023]
"À Espera de Um Milagre" é escrito e dirigido por Frank Darabont e baseado no romance de Stephen King de 1996 com o mesmo nome. O longa-metragem é estrelado por Tom Hanks como Paul Edgecomb, um guarda penitenciário no corredor da morte durante a "Grande Depressão" (a maior crise financeira da história dos Estados Unidos), que narra o filme em flash-back ao testemunhar eventos sobrenaturais após a chegada de um enigmático condenado (John Coffey, magistralmente interpretado por Michael Clarke Duncan) às suas instalações. David Morse, Bonnie Hunt, Sam Rockwell e James Cromwell aparecem em papéis coadjuvantes.
Sobre o livro: King se inspirou na história real do adolescente George Stinney Jr. de ascendência africana, que cuja história foi a pessoa mais jovem condenada à morte no século 20 nos Estados Unidos. Ele tinha apenas 14 anos quando foi executado em uma cadeira elétrica. Ele foi acusado de matar duas meninas Brancas, Betty de 11 anos e Mary de 7, os corpos foram encontrados perto da casa onde o adolescente residia com seus pais. Durante o julgamento, até o dia de sua execução, ele sempre carregava uma Bíblia nas mãos, alegando inocência. Naquela época, todos os jurados eram brancos. O julgamento durou apenas 2 horas e a sentença foi dada 10 minutos depois. George foi eletrocutado com 5.380 volts na cabeça. 70 anos depois, sua inocência foi finalmente comprovada por um juiz da Carolina do Sul. O adolescente era inocente, a sociedade em si fez de tudo para culpá-lo apenas por ele ser negro.
Ao longo da minha vida eu me lembro de já ter assistido o filme "À Espera de um Milagre" algumas vezes, mas até então nunca tinha lido a obra magnífica do mestre Stephen King. Ao terminar a leitura, eu só confirmei o que eu sempre achei dessa obra; que é simplesmente um livro incrível, com uma história arrebatadora, que nos comove até o fundo da nossa alma.
King traz uma leitura fácil, fluida, dinâmica, com abordagens mais detalhadas, que é justamente a sua marca registrada ao trazer a nossa atenção para vários tópicos da história, como a abordagem em personagens secundários. Aqui, no caso, até o camundongo (Sr. Guizos) ganha várias páginas para ilustrar partes da sua história com bastante eficiência. Sem contar que toda essa abordagem mais aprofundada na história do camundongo serviu justamente para elucidar os outros guardas da penitenciária a acreditarem naquele dom que John Coffey possuía - o poder da cura.
Esta obra do mestre King é autêntica, é influente, é extremamente importante como contexto histórico justamente por mostrar uma abordagem sobre a injustiça, a impunidade, a crueldade, a humilhação, o racismo, o preconceito e a redenção. Além, é claro, toda narrativa que é construída e desenvolvida sobre a linda, comovente e breve relação de amizade verdadeira entre Paul e John Coffey.
"À Espera de um Milagre" traz uma história muito forte, muito pesada, muito comovente, que chega a nos incomodar durante a leitura. Principalmente nas partes finais, onde temos a última parte que antecede a execução de John Coffey. Sem nenhuma dúvida foi a parte mais difícil e mais cruel que eu já li em um livro em toda a minha vida, pois de fato é muito triste, fiquei com um nó na garganta e os pingos das lágrimas molharam as páginas do livro. Nunca esquecerei! Esta é simplesmente uma das maiores obras de toda a carreira do mestre King. "À Espera de um Milagre" não é somente uma das suas melhores histórias, como é sem dúvida a sua obra mais impactante e mais emocionante. Uma obra-prima da literatura!
Sobre o filme: Contando com hoje, eu assisti "À Espera de um Milagre" apenas 4 vezes em toda a minha vida: a primeira vez foi no ano de 2000, e justamente por todo burburinho e toda badalação que o longa estava causando na época. O sucesso era estrondoso, principalmente pelo Oscar e pela divulgação no boca a boca, já que na época a internet era escassa. Porém, devo dizer que nesta primeira vez o filme não me impactou tanto assim, pois eu era um adolescente e ainda não conseguia sentir o peso, o poder e a dimensão dessa obra. A segunda vez foi no ano de 2008, e ela aconteceu unicamente pela incansável insistência de uma ex-namorada, que queria muito assistir este filme comigo. A terceira vez foi no ano de 2017, e aconteceu porque eu queria muito escrever um texto sobre ele aqui no Filmow, e no fim nem o texto eu consegui escrever. Foi nessa terceira vez que eu jurei que nunca mais em toda a minha vida eu voltaria a assistir este filme. O motivo desse juramento? Exatamente por ser um filme extremamente pesado, difícil, perturbador e incomodo. Uma obra que mexe e aflora nossos mais profundos sentimentos de tristeza, comoção, piedade, empatia e amor. Junto com com "Titanic" e "A Lista de Schindler", são os três filmes que mais me emocionou em toda a minha vida. Assistir "À Espera de um Milagre" me deixa muito triste, eu fico muito mal, mexe muito comigo, é um sacrifício muito grande, ao ponto de eu ficar pensativo durantes horas ao término do filme. Porém, como eu nunca tinha lido a obra em que o filme foi adaptado, ao terminar a leitura em me vi na obrigação de me sacrificar mais uma vez e assistir o filme para finalmente elaborar meu texto.
Eu sempre me pergunto: o que é necessário para um filme ser considerado uma obra-prima? Pois é muito difícil você achar um filme perfeito, uma obra irretocável, uma obra de arte do cinema, aquele verdadeiro clássico que marca gerações. E aqui eu posso afirmar com 101% de convicção que "À Espera de um Milagre" é este filme, é esta obra perfeita, irretocável, magnífica, comovente, uma verdadeira pérola da sétima arte, uma verdadeira obra de arte do cinema, um clássico, uma obra-prima que está na prateleira dos melhores filmes da década de 90 e de todos os tempos.
Eu considero um filme como uma obra-prima quando ele mexe com todos os meus sentimentos, quando ele me eleva a enésima sensação de satisfação, quando ele me desperta inúmeras reações; eu fico feliz, fico triste, me emociono, fico em êxtase, fico nervoso, fico eufórico, fico alucinado, fico nostálgico, fico em estado de choque e comoção, e aqui temos todos esses sentimentos aflorados em um misto de reações.
Novamente eu tenho que citar aqui como a década de 1990 foi importante para a história do cinema, como ela mudou, moldou e influenciou toda uma geração cinematográfica à sua frente. Principalmente se falarmos especificamente sobre o ano de 1999 e o que ele representou para a história do cinema: pois nesse ano tivemos filmes como "Matrix", "Clube da Luta", "Beleza Americana", "Garota, Interrompida", entre várias outras obras-primas que ficaram marcadas na história da sétima arte. E "À Espera de um Milagre" faz parte desse seleto grupo.
O mestre Stephen King estava muito satisfeito com o resultado da última adaptação feita por Frank Darabont, que era simplesmente a obra-prima "Um Sonho de Liberdade" (1994). Sendo assim o próprio King fez questão que sua obra literária fosse novamente adaptada por Darabont. King convidou Darabont que logo em seu primeiro contato com a obra ficou um tanto quanto receoso, afinal de contas seria novamente um roteiro que se passaria dentro de uma prisão, porém dessa vez com a base de um condenado à cadeira elétrica por estrupo seguido por assassinato. Darabont aceitou novamente o desafio e eu dei graças aos deuses do cinema, pois eu não vejo outro diretor com a capacidade e a genialidade de Darabont para construir esta adaptação que se tornou simplesmente um dos maiores dramas dos anos 90 e de todos os tempos.
Eu sou fã declarado de Frank Darabont, obviamente por obras como "Um Sonho de Liberdade" e "À Espera de um Milagre", e também por ele ser o criador e o desenvolvedor, em minha opinião, de uma das maiores séries de todos os tempos - "The Walking Dead". Sendo a segunda vez que Darabont trabalhava com um roteiro baseado num livro de Stephen King, ele deu tudo de si ao adaptar um roteiro com tamanha competência e genialidade. O próprio Stephen King chamou este filme como a adaptação mais fiel de sua obra. E eu concordo plenamente com o mestre, e vou além, eu não só acho este filme com a melhor adaptação de uma obra do King, como a melhor adaptação da histórias das adaptações de livros para o cinema. E olha que temos ótimas adaptações de obras do Stephen King: como "Carrie" (1976), "Misery" (1990) e "It" (1990). Porém, nenhuma chega na tamanha perfeição da adaptação de "À Espera de um Milagre".
Darabont empregou uma fidelidade absoluta em sua obra onde tínhamos praticamente o livro transplantado para a tela. Darabont conseguiu sintonizar com maestria todos os elementos do livro como cenários, ambientação, acontecimentos, originalidade à história, cenas marcantes, diálogos marcantes. Por falar em diálogos, é absurdo como alguns diálogos em cenas mais impactantes são exatamente os mesmos diálogos do livro, exatamente com as mesmas palavras e as mesmas reações - eu fiquei boquiaberto com tamanha fidelidade à obra original. O livro possui 400 páginas, ou seja, a sua adaptação exigiria um tempo maior de duração, e assim foi, pois o filme possui 3h 09min. E é completamente incrível como um filme de 3h não cansa, não é monótono, não é enfadonho, e ainda por cima sendo um filme em um ritmo morno, que demora para relatar seus acontecimentos cruciais, porém ele vai construindo uma base sólida, vai preparando o terreno e o ambiente para os acontecimentos que impactará os presentes - exatamente como também acontece no livro.
Os pontos cruciais e as abordagens mais relevantes do livro também foram muito bem adaptadas. Darabont conseguiu empregar uma veracidade absurda em temas como injustiça, impunidade, crueldade, humilhação, preconceito e redenção. Pois o longa traz uma clara e singela mensagem acerca do nosso comportamento como princípios em uma sociedade. Eu diria que o filme funciona como uma forte reflexão ao abordar temas complexos e necessários quando estamos diante de um mundo em que a aparência encanta, convence e quase sempre dá o veredito final em nossas decisões. Outro ponto muito bem desenvolvido ao longo do filme é a forma como a narrativa explora a relação que vai se construindo entre a amizade e a confiança entre Paul e Coffey. Com o passar do tempo vamos sendo confrontados com os personagens secundários e suas histórias pessoais, que logo se entrelaçam, revelando um quadro complexo de emoções humanas e moralidade.
Todos que adentram naquela penitenciária estão fadados à execução pelos crimes que cometeram. Mas o que nos chama a atenção é a forma como aquele local funciona como uma espécie de clínica de reabilitação, redenção, aceitação e arrependimento (pelo menos para alguns). O próprio personagem Eduard Delacroix (Michael Jeter) é a clara mensagem da redenção, do arrependimento e da humanização. Ele que foi condenado por estuprar uma menininha e, ao tentar esconder a prova do crime, acabou incendiando várias pessoas. Pois é difícil você não se afeiçoar por ele, é difícil você não estabelecer uma empatia por ele, que nos mostra exatamente as características humanas quanto a oportunidade da segunda chance, do perdão e do arrependimento (por mais que eu não acredite nesses pontos). E quando ele encontra o ratinho Mr. Jingles é que você se dá conta do seu profundo arrependimento de ter sido aquele louco no passado e ter cometido tudo que cometeu. Por outro lado não são todos que aquele local funciona como uma clínica de reabilitação e arrependimento; vemos isso no próprio Wild Bill' Wharton (Sam Rockwell).
Outro ponto muito bem abordado aqui é diretamente sobre o racismo. Pois as gêmeas Detterick eram duas garotinhas brancas e o John Coffey era um negro. Ou seja, mais um motivo claro para incriminá-lo diretamente sem restar nenhuma dúvida, e nem cogitar a possibilidade de não ter sido ele o assassino. O que nos deixa ainda mais revoltados, pois assim como no livro, na parte final do filme é revelado que John Coffey é de fato inocente do assassinato das meninas, mas ainda assim é executado na cadeira elétrica, o que é devastador e desolador tanto para o Paul quanto para os outros guardas e, claro, para todos nós. Logo ficamos sabendo que o verdadeiro assassino das garotas é o repugnante Wharton, que trabalhava na casa da família Detterick.
Eu sou uma das pessoas que acredita fielmente que toda a trajetória de John Coffey é uma espécie de alegoria à Jesus Cristo. Já que John Coffey usava os seus poderes para fazer o bem, para curar as pessoas e trazê-las de volta à vida. Mesmo que algumas pessoas não acreditassem, ou duvidassem, porém ele foi injustamente condenado à morte e deu a sua vida e prol da salvação. Também podemos considerar o fato de John Coffey ser um negro que possui um dom divino, que também funciona como uma alusão à Jesus Cristo, só que sendo negro, o que fatalmente o impossibilitaria a sua trajetória por puro preconceito e desigualdade humana. Esta é de fato uma bela reflexão filosófica usando o sobrenatural em contrapartida com a fé. No fim somos impactados por uma cena com um diálogo belíssimo, comovente e marcante; que é exatamente a parte em que Paul pergunta para John o que ele responderia para Deus no dia do julgamento final por ter permitido que seu milagre divino fosse executado. Paul ainda insiste ao perguntar para John o que ele queria que ele fizesse referente aquela situação. Já o John responde estar cansado da sua trajetória, cansado das pessoas serem más, serem cruéis, que isso o fere profundamente (como naquela cena em que ele entra no local da execução e diz sentir que ali tem muitas pessoas que o odeia, e que ele sente aquele ódio ferindo o seu corpo como picadas de abelhas). Por fim, John Coffey diz aceitar a sua condenação como algo necessário para sua vida e sua trajetória na terra, ou seja, ele aceita o seu destino cruel.
John Coffey é mais um personagem iluminado dentro do Kingverso, pois com seus dons ele é capaz de injetar vida nos seres que toca, retirando o mal que ali existe. Também pode transferir sua imensa vitalidade (a força da vida eterna) às pessoas de que gosta, exatamente como aconteceu no final com o Paul e o ratinho Mr. Jingles. Dessa forma eu tenho que destacar aquela belíssima cena final em que mostra o Mr. Jingles bem velho (com cerca de 64 anos) saindo da caixa de charutos. Paul conta para Elaine (Eve Brent) que John Coffey lhe deu uma parte do seu poder e outra parte para o Mr. Jingles, ou seja, a vida eterna. Paul já tem 108 anos e seu castigo é justamente ter que observar todos que ele ama ao seu redor morrerem e ele continuar vivo, por ter permitido que John Coffey fosse eletrocutado, por ter matado um milagre de Deus. Paul foi condenado a maldição da vida eterna.
Sobre o elenco: O saudoso Michael Clarke Duncan (falecido em 2012) é a grande estrela do filme. Michael foi a escolha certa, a personificação perfeita do John Coffey do livro. Esbanjando muito carisma, muita simpatia, muito talento, muita entrega, com uma atuação grandiosa, magistral, que nos passava exatamente aquele ar de inocência, de timidez, de bondade, de misericórdia, fazendo um contraponto com a escuridão, o medo, a brutalidade e a crueldade das pessoas. Impecável, irretocável, fantástica, perfeita, uma atuação que nos assustava de tamanha entrega e nos comovia verdadeiramente pelo seu desfecho. Michael Clarke Duncan merecia demais aquele Oscar de Ator Coadjuvante. O mestre Michael Caine vai me desculpar, sua atuação em "Regras da Vida" é realmente fantástica, mas o que o Michael Clarke Duncan fez em "À Espera de um Milagre" ninguém fez naquele ano.
Tom Hanks vivia o seu maior auge da carreira nos anos 90, já que ele vinha de obras como "Filadélfia" (1993), "Forrest Gump" (1994) e "O Resgate do Soldado Ryan" (1998). Aqui Tom faz um personagem com um nível de competência muito fiel, com uma atuação sempre muito requintada e com uma ótima entrega de carga dramática, que era justamente o que o seu personagem no livro pedia. Tudo muito bom mas muito normal, sem um grande impacto, apenas compondo o seu papel com muito vigor.
O trio de guardas e amigos de Paul era formado por Brutus Howell (David Morse), Harry Terwilliger (Jeffrey DeMunn) e Dean Stanton (Barry Pepper). Impressionante como cada um consegue conquistar a nossa atenção e consequentemente a nossa empatia. Os três personagens trata-se de uma homenagem ao ator Harry Dean Stanton, que participa do filme interpretando o condenado que é sempre chamado para testar a cadeira elétrica, o hilário Toot-Toot. Doug Hutchison completa o grupo dos guardas da penitenciária com seu personagem Percy Wetmore. Doug esteve incrível, ele conseguiu demonstrar todo o comportamento tempestuoso de um guarda corrupto, cruel, desequilibrado, que sempre tomava atitudes infundadas. Michael Jeter (falecido em 2003) trouxe um Dell, que assim como já destaquei anteriormente, conseguiu conquistar a nossa empatia e nos mostrou um arrependimento verdadeiro e a força de uma amizade verdadeira - com sua amizade com seu ratinho Mr. Jingles. Sam Rockwell traz um personagem que possivelmente foi o grande responsável em alavancar a sua carreira cinematográfica. O que ele entregou na pele do bizarro 'Wild Bill' Wharton é brincadeira. Uma atuação estupenda de uma pessoa doente, desequilibrada, com uma entrega e uma leitura monumental de um psicopata.
Completando o elenco: Ainda tivemos a ótima participação da Bonnie Hunt, Jan Edgecomb, a esposa de Paul. James Cromwell como Warden Hal Moores, o chefe da penitenciária. Graham Greene como Arlen Bitterbuck. Gary Sinise como Burt Hammersmith. E Patricia Clarkson como Melinda Moores, a esposa de Hal, que foi curada por John Coffey.
Algumas curiosidades e comparações entre livro e filme: Inicialmente a obra do mestre King foi publicada nos Estados Unidos em seis volumes. O nome da série de livros vem do fato da cor do chão do corredor da morte ser verde e se estender por uma milha (Green Mile), que de fato é o nome original do filme.
O filme começa exatamente como no livro, com Paul já idoso em um asilo contando partes da sua trajetória ao regressar em suas memórias e narrar suas experiências como chefe dos guardas no corredor da morte da penitenciária de Cold Mountain durante a Grande Depressão. As partes que antecedem a hora em que acham o John Coffey sentado e gritando com as duas meninas no braço é mais longa e mais detalhada no livro, no filme deram uma resumida.
A cena em que o John Coffey assisti um filme como seu desejo antes de sua execução é uma cena exclusiva do filme, não existe no livro. Porém foi um encaixe excelente, uma ideia fantástica, que serviu para nos arrancar mais lágrimas.
O rato no livro se chama Sr. Guizos, no filme é Mr. Jingles. Sendo que trinta ratos de verdade se revezaram em cena para interpretar o ratinho Mr. Jingles.
A forma como o filme é narrado me remete ao épico "Titanic", pois são muito parecidos. Ambos são narrados com o começo da história sendo contada a partir do protagonista idoso, e ao término da história a cena volta para o mesmo protagonista idoso, exatamente da mesma forma como aconteceu com a Rose idosa ao narrar a sua linda história de amor.
Sobre as qualidades técnicas: No quesito direção a obra é impecável, realmente o Frank Darabont deu uma aula de cinema na direção desta magnífica obra. A trilha sonora do mestre Thomas Newman (que no mesmo ano trabalhou na composição da trilha de "À Espera de um Milagre" e "Beleza Americana") é estupidamente perfeita, arrojada, potente, conseguindo se destacar nos momentos cruciais da história, e principalmente sendo a grande responsável nos momentos de maior comoção. A fotografia de David Tattersall (que no mesmo ano também trabalhou em dois filmes, este e "Star Wars: A Ameaça Fantasma") é rica, é esplendorosa, é triunfal, casa perfeitamente em cena e destaca o grandioso trabalho da cinematografia no filme. A direção de arte de Richard Francis-Bruce (também foi o responsável no clássico "Um Sonho de Liberdade") é completamente fiel com o livro, por compor cenários com uma perfeição invejável. O longa-metragem é muito bem montado, muito bem editado, muito bem mixado, muito bem adaptado, muito bem escrito, sendo perfeito tanto tecnicamente como artisticamente.
"À Espera de um Milagre" ganhou a reputação de ser um dos filmes mais emocionantes de todos os tempos (que eu concordo plenamente). O longa foi extremamente cultuado e respeitado. Foi um sucesso comercial, arrecadando US$ 286 milhões de seu orçamento de US$ 60 milhões, e foi indicado a quatro Oscars: Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante para Michael Clarke Duncan, Melhor Som e Melhor Roteiro Adaptado. Além da indicação de Ator Coadjuvante no Globo de Ouro.
Frank Darabont conseguiu brilhar mais uma vez ao adaptar mais uma obra do mestre King, e muito por conseguir construir uma experiência pesada, profunda, tocante, imponente, cativante, verdadeira, importante, necessária, relevante e emocionalmente poderosa ao extremo. Sem dúvidas ele conseguiu elaborar uma excelente adaptação que funciona como uma fábula, como um conto, que nos traz reflexões acerca da força da abordagem sobre a amizade, o destino, o amor, mesclando temas complexos e necessários como o racismo e a redenção, e funcionando diretamente como um drama com uma fantasia misteriosa com elementos sobrenaturais.
Como livro, "À Espera de um Milagre" está no top 5 das melhores obras literárias de toda a bibliografia do mestre Stephen King. Como filme, "À Espera de um Milagre" está no top 10 das pérolas cinematográficas, das obras de artes e das obras-primas da década de 1990. E sem nenhuma dúvida o longa está presente na lista dos melhores filmes de dramas da história do cinema.
Isso aqui é cinema em seu mais alto e puro estado de perfeição! Sem mais! [22/09/2023]
"Speak No Evil" (dinamarquês: Gæsterne, lit. 'Os Convidados') é dirigido por Christian Tafdrup a partir de um roteiro que ele co-escreveu com seu irmão Mads Tafdrup. É produzido por Jacob Jarek e distribuído pela Nordisk Film. As filmagens ocorreram na Dinamarca, Holanda e Itália, e a maior parte do filme é rodada em inglês, com algumas cenas em dinamarquês e holandês. O filme é centrado em Bjørn (Morten Burian) e Louise (Sidsel Siem Koch), um casal dinamarquês que é convidado por Patrick (Fedja van Huêt) e Karin (Karina Smulders), um casal holandês, para passar um fim de semana em sua casa de campo; os anfitriões logo começam a testar os limites de seus convidados à medida que a situação piora.
Devo confessar que eu conheço pouco do cinema europeu, especificamente do terror psicológico europeu, que é justamente o tema em questão aqui nessa produção dinamarquesa. "Speak No Evil" é o terceiro longa-metragem de Christian Tafdrup, que atua principalmente como ator, e seu primeiro filme de gênero, no qual ele tenta combinar o gênero dramático com comentários sociais e elementos de terror psicológico. O filme combina perfeitamente o drama presente com o suspense de terror psicológico, sendo que o roteiro é desenvolvido na base do mistério, do suspense, do intrigante, do suspeito, da inquietação, nos levando ao incômodo, ao sufocante, ao desconforto, misturando uma agonia, uma tensão e uma afobação. Ou seja, temos aqui um terror psicológico que se torna chocante na medida que levanta polêmicas que dialoga com a crua e violenta natureza humana.
Podemos considerar que o longa também aborda uma sátira gelada dos costumes da classe média europeia, que está diretamente ligada com a questão da cultura europeia em diversos países, onde encontramos a passividade, o conformismo e a omissão. Ou seja, especificamente falando, são aquelas pessoas que tem o costume de querer agradar sempre, de se negar a dispensar um convite (como vimos na cena em que a família dinamarquesa diz que seria errado negar o convite da família holandesa), que tem dificuldades em dizer um simples e objetivo "não".
O ponto principal do roteiro é desenvolver a normalidade inicial de cada acontecimento na trama, seja pelo lado da família dinamarquesa ou principalmente pelo lado da família holandesa. Toda essa normalidade é justamente o ponto-chave, o ponto de partida de toda a história, e que nos leva a considerar o nosso próprio cotidiano quando nos encontramos em situações onde temos que ser gentis, passivos, pensando primeiramente em agradar a outra pessoa e não se passar por uma pessoa antissocial (como normalmente acontece no dia a dia).
O longa-metragem é pautado exatamente em cima dessa questão do conformismo, da omissão, da imparcialidade, da passividade, como presenciamos logo de cara com a pressão psicológica que a família dinamarquesa sofre pelo simples motivo em dizer um não. A partir daí vamos observando que a família dinamarquesa age unicamente e exclusivamente na proposta de agradar a família holandesa. Aquela velha questão de você não pensar primeiramente em si, mas se desagradar para agradar outra pessoa pelo simples motivo de querer ser legal, ser sociável e criar um clima agradável (quem nunca). Como presenciamos na cena em que a Louise é coagida a aceitar comer um pedaço de carne mesmo já tendo evidenciado que era vegetariana (ou seja, só para agradar e deixar o ambiente agradável).
É realmente incrível como a família dinamarquesa se colocava em situações desagradáveis e muitas das vezes até desnecessárias só com o intuito de querer sempre agradar e se manter sociável. Por outro lado toda essa passividade, complacência e excesso de gentileza foi o que os levaram a cometerem erros irreversíveis. Esse é exatamente o ponto em que o filme nos causa mais desconforto, se torna cada vez mais intragável e difícil de digerir. Pois além de sermos confrontados com toda omissão, passividade e complacência, ainda somos confrontados com um excesso de flexibilidade absurda; que é exatamente a cena em que o Bjørn decide ceder a pressão psicológica do choro da filha para retornar à casa na busca pelo seu coelho de pelúcia. E aqui podemos observar que esta é uma das cenas (se não for a principal) que nos causa mais raiva pela burrice do casal. Mas não é uma cena aleatória apenas para nos causar repulsa, tem todo um contexto por trás, que é o fato do Bjørn se sentir responsável pela bem-estar da filha (ou querer se provar capaz), pois no começo somos enfatizados por uma cena parecida quando ele sai na procura pelo bichinho perdido. Nessa mesma cena o Patrick o parabeniza como um herói da filha, o que o deixa pensativo sobre aquela declaração de um desconhecido. Outro ponto: também podemos interpretar que o Bjørn usou o motivo de retornar na casa para pegar o bichinho de pelúcia da filha como uma forma de se desculpar por ter saído assim no meio da noite sem se despedir. De fato esta cena abre margens para várias interpretações.
Como já destaquei, o maior acerto do longa é a criar e condessar aquele clima do suspense, da aflição, do mistério, do medo, de que a qualquer momento alguma coisa vai acontecer. E realmente ficamos esperando o tempo todo alguma coisa acontecer mas nada acontece, ou talvez não aconteça visivelmente, mas dentro da nossa mente já estamos desde o começo do filme sofrendo uma pressão com um suspense psicológico, um terror psicológico acerca de que possivelmente irá acontecer. Tanto que passamos cerca de 1 hora de filme sem uma gota de sangue, ou seja, o diretor vai nos conduzindo pelo nosso próprio medo, pela nossa própria aflição, vamos sendo levados apenas com o peso do terror psicológico. Nesse quesito o filme funciona perfeitamente.
Porém, eu não posso simplesmente ignorar vários pontos que me incomodou excessivamente durante o filme: o ponto principal aqui é a burrice dos personagens, que eleva um nível absurdo de irritabilidade. Outro ponto é a forma como o longa constrói uma inquietação que se confundi com irritação, que de fato são as atitudes irreais e infundadas tomadas pelos personagens da família dinamarquesa. É fato que o que mais nos surpreende no filme nem é a violência explícita mas sim a incompetência, a burrice e o excesso de passividade dos personagens em questão. O casal dinamarquês são pessoas totalmente condescendentes, passivas, que aceitam todas as imposições sem nenhum questionamento, sem nenhuma objeção, e ainda agem de forma estúpida quando são ameaçados. Aquela cena onde cortam a língua da pequena Agnes (Liva Forsberg) é patética com a submissão dos pais, e olha que a Karin estava ameaçando a Louise apenas com uma pequena tesoura. Mesmo que eu entenda que o filme queria realmente frisar a passividade e a submissão do casal dinamarquês nessa cena, mas é impossível não se irritar com personagens tão estúpidos. O plot (se é que temos um) é muito previsível e chega a ser até banal, principalmente se levarmos em conta que logo no começo o pequeno Abel (Marius Damslev) mostra a sua língua cortada para o Bjørn como uma forma de alertá-lo, mas ele pouco se importa. A partir dessa cena já temos certeza do que aconteceu com o garotinho, ainda mais após aquela revelação da família holandesa que ele possuía uma doença que o limitava de falar. Nesse ponto já construímos todas as possibilidades que irá acontecer no final do filme, e realmente acontece. Por mais que ficamos presos no clima de suspense e tensão em boa parte do filme, mas esse plot não deixa de ser escandalosamente previsível, o que tira o impacto da revelação final. Realmente eu acho que o longa erra descaradamente ao desafiar a nossa inteligência com situações e atitudes dos personagens que beiram o ridículo.
Em questões de elenco não tenho o que destacar. Acredito que cada ator entregou o que o seu personagem pedia. Agora é fato que nenhum se destaca, nenhum se sobressai, nenhum eleva o nível do personagem em relação com a história que estava sendo contada. É basicamente um feijão com arroz misturado com muitas caras e bocas.
Tecnicamente o filme também não se destaca! Temos uma trilha sonora modesta, ok, que até tenta gerar um impacto, uma tensão em momentos oportunos, mas soa artificial e torna as cenas previsíveis. A cinematografia é básica, a direção de arte é básica, a montagem é básica, tecnicamente o filme é todo básico.
"Speak No Evil" arrecadou cerca de US$ 631 milhões contra um orçamento de produção de cerca de US$ 3,1 milhões.
Sobre a crítica especializada: No Rotten Tomatoes, 84% das 90 críticas dos críticos são positivas, com uma classificação média de 7,5/10. O consenso do site diz: "Uma sátira social com dentes afiados, "Speak No Evil" oferece um prazer sombrio e delicioso para os fãs de thrillers misantrópicos." Já o Metacritic, que usa uma média ponderada, atribuiu ao filme uma pontuação de 78 de 100, com base em 17 críticos, indicando "críticas geralmente favoráveis". O Festival de Cinema de Sundance elogiou o filme como uma "obra satírica de terror brilhantemente provocativa e fervilhante que incrimina ambos os lados".
Em abril de 2023, foi anunciado que a Blumhouse Productions estava desenvolvendo um remake de mesmo nome, com James McAvoy contratado como estrela e James Watkins escrevendo e dirigindo. O filme está programado para ser lançado nos cinemas em 9 de agosto de 2024 pela Universal Pictures.
Por fim, "Speak No Evil" tem uma premissa interessante, consegue nos prender pelo suspense, pela tensão, pelo mistério e consegue nos causar uma agonia e uma aflição. O suspense psicológico é bem administrado e pontual nas cenas para nos causar um certo desconforto. Por outro lado o filme falha miseravelmente ao construir personagens estúpidos, burros e dementes, que agem com a inteligência de uma porta. De fato é um filme mediano, que erra tentando acertar.
Já a lição que o longa deixa é exatamente sobre como devemos impor limites em tudo, como devemos nos agradar primeiramente antes de agradarmos os outros, como devemos agir nos momentos certos e aproveitarmos as oportunidades que a vida nos dá, porque às vezes pode ser a última vez. Além, é claro, da crítica ácida que o filme faz sobre pessoas passivas, omissas, submissas e complacentes, que não conseguem dizer um não para não desagradar os outros. Nesse sentido "Speak No Evil" funciona e até se destaca ao nos fazer refletir sobre nossas atitudes perante a nossa permissividade e a nossa tolerância, que é exatamente a lição que o longa nos deixa ao nos evidenciarmos com aquele diálogo final: - Por que vocês estão fazendo isso? - Porque vocês deixaram. [08/09/2023]
"Bates Motel" foi criado por Anthony Cipriano e desenvolvido por Jeff Wadlow (diretor de "Quebrando Regras", de 2008), Carlton Cuse (produtor da série "Jack Ryan"), Kerry Ehrin (roteirista da série "The Morning Show"), e é produzido pela Universal Television e American Genre para a rede de TV a cabo A&E. A primeira temporada foi ao ar em 18 de março de 2013 com 10 episódios.
A série é vista como uma "prequela contemporânea" do clássico "Psicose", de Alfred Hitchcock, de 1960 (baseado no romance homônimo de Robert Bloch, de 1959), que retrata a vida de Norman Bates (Freddie Highmore) e sua mãe Norma (Vera Farmiga) antes dos eventos retratados no filme, embora em uma cidade fictícia diferente (White Pine Bay, Oregon, em oposição a Fairvale, Califórnia) e em um cenário moderno.
Após a misteriosa morte de seu marido, Norma Bates decidiu começar uma nova vida longe do Arizona, na pequena cidade de White Pine Bay, e leva o filho Norman, de 17 anos, com ela. Ela comprou um velho motel abandonado e a mansão ao lado.
Este ano eu finalmente consegui realizar um antigo desejo, que era ler a obra-prima de Robert Bloch, rever o clássico do mestre Hitchcock e assistir todos os filmes subsequentes da franquia "Psicose". Posso dizer que foi uma experiência incrível, uma das maiores experiências que eu já vivi em toda a minha vida literária e bibliófila. O livro é magnífico, excelente, uma verdadeira obra-prima da literatura sombria e um dos melhores livros que eu já li na vida. Já o clássico de 1960 fala por si só, simplesmente por ser um dos maiores suspense de toda a história do cinema, que foi conduzido justamente pelo mestre do suspense. Os filmes subsequentes não estão no mesmo nível, não estão na mesma prateleira do livro e do clássico. Eles seguem histórias próprias, paralelas e até continuações dentro do universo de "Psicose". O que pode até ser interessante, ou simplesmente horroroso, como é o caso do remake de 1998. E logo após ter lido o livro e assistido todos os filmes da franquia "Psicose", chegou a vez de conferir a série "Bates Motel", que também faz parte do universo e nos conta uma história sobre o início de tudo. Algo parecido com o que foi feito no filme "Psicose 4: O Começo", de 1990.
A série é bem intrigante e ao mesmo tempo interessante, pois obviamente ela constrói toda uma abordagem sobre o universo de "Psicose" servindo justamente como um prelúdio do clássico ao nos mergulhar naquela trama que futuramente irá nos nos contar sobre todo desenvolvimento de Norman Bates. Ou seja, a trama nos levará ao lado sombrio e psicótico entre a infância e a adolescência de Norman, explicando como o amor incontrolável de sua mãe ajudou a moldar um dos maiores maníacos e psicopatas da história do cinema.
O primeiro episódio já inicia de modo surpreendente com uma pessoa morta. Esta pessoa é simplesmente o pai de Norman, que está ali morto na garagem de forma bastante misteriosa (ou não, como vemos mais à frente na temporada). Logo após este início já temos um salto no tempo de 6 meses e chegamos até a cena da Norma chegando em seu mais novo Motel. O seu novo empreendimento antes tinha o nome de Seafarer's Motel, e em uma cena bem interessante vemos a troca do letreiro para Bates Motel. Por sinal a réplica que foi construída do Motel e da casa ficou excelente, com uma fidelidade ao clássico incrível. Este primeiro episódio já é um dos melhores da temporada por já nos confrontar com aquela sequência que vai desde a chegada do ex-proprietário do Motel (Keith Summers, interpretado por W. Earl Brown), passando pela invasão na casa, o estupro na Norma e a sua morte. Onde aconteceu em um momento de fúria incontrolável de Norma quando o esfaqueou brutalmente até a morte (por sinal, uma excelente cena). O episódio termina de forma intrigante ao revelar uma certa garota aprisionada.
O segundo episódio é muito revelador e diferente, eu diria. Simplesmente por acrescentar na trama a presença de Dylan Massett (Max Thieriot), o filho mais velho de Norma e meio-irmão de Norman. Pelo o que me consta, tanto pelo livro quanto pelo clássico sessentista, o Norman não tinha um meio-irmão assim dessa forma como foi abordado na série. Bem, achei interessante esse contexto trazido para a série. O episódio segue com os dramas e as aflições de Norman ao tentar se introduzir na nova cidade e conhecer novas pessoas. Como é justamente o caso do seu primeiro interesse - a jovem Bradley Martin (a belíssima Nicola Peltz). Aqui também fica claro que Norman tem muitos ciúmes da mãe e da forma como as pessoas se referem à ela. Até por isso vemos os constantes conflitos de Norman com Dylan.
O terceiro episódio segue mergulhado no mistério e no suspense pelo fato da polícia está no encalço da Norma pelo suspeita referente ao desaparecimento de Keith Summers. Aqui já temos vários envolvimentos na história; como é o caso do antigo dono do Motel parecer ter ligações com as garotas chinesas desaparecidas que está sendo investigada pela Emma Decody (Olivia Cooke). Logo essa ligação com o desaparecimento das garota cai sobre o policial Zach (Mike Vogel), pelo fato do Norman ter invadido sua casa procurando pelo cinto de Keith Summers, e ter sido confrontado com a garota oriental presa em seu porão.
A partir do quarto episódio temos cada vez mais revelações e acontecimentos surpreendentes. Norma está envolvida em uma verdadeira bola de neve, ao estar envolvida com o policial Zach como uma forma de se safar das investigações sobre a morte de Keith Summers. Por outro lado ela se recusa a acreditar em Norman sobre a possível garota presa no porão da casa de Zach. O que a leva a entrar em transe e levantar suspeitas sobre o estado mental e a sanidade de Norman com esta descoberta bizarra. Temos aqui a primeira transa de Norman, que aconteceu com a Bradley, e a prisão de Norma pelo assassinato de Keith Summers.
A história segue em uma verdadeira teia de aranha com cada vez mais confrontos: a garota oriental que era mantida como escrava sexual de Zach é encontrada e levada para o Motel. Zach por sua vez encontra a garota em um dos quartos do Motel e corre atrás dela pela floresta (não foi revelado, mas ao que tudo indica ele matou a garota). Logo após temos mais uma ótima sequência de cenas, que é todo confronto de Zach com a Norma e o Dylan na casa. O que termina brutalmente com um tiro no olho de Zach disparado por Dylan.
O desfecho do assassinato de Zach proposto pelo Xerife Alex Romero (Nestor Carbonell) é tudo muito suspeito. Por fim temos a aparição de um hóspede misterioso no Bates Motel, que parece saber demais. Já o Norman passa a enfrentar as complicadas garotas populares e o descaso da Bradley com ele. Essa é um situação bem complicada: a Emma é apaixonada pelo Norman e vive correndo atrás dele, já ele se rasteja pela Bradley e ela passa a desprezá-lo. Sem falar que é tudo muito estranho essa repentina aproximação da Bradley com o Dylan.
No oitavo episódio é onde o Norman desperta o interesse pela taxidermia (animais empalhados), com o pai da Emma. No filme clássico temos toda a dimensão desse amor que ele tem por essa arte. Norma está mais preocupada com a possível construção da nova estrada principal, o que vai mudar o trajeto das pessoas que passariam pelo seu Motel. A relação de Norma e Dylan parece melhorar. O episódio termina com aquele cadáver do Zach na cama da Norma.
O nono e o décimo episódio é a construção (e ligação) do fechamento dessa temporada. Norma sofre com as constantes ameaças de Jake Abernathy (Jere Burns), o hóspede misterioso. Norma decide que quer vender o Motel e recomeçar a vida novamente no Havaí, mas o Norman não quer ir. Norman por sua vez está cada vez mais apegado na cadela empalhada. E temos aquela cena onde a Norma vai ao encontro de Jake e é surpreendida pelo Xerife Alex confrontando justamente o Jake. Que termina com o Xerife dando um tiro em Jake.
Sobre o elenco: Vera Farmiga (atualmente em cartaz nos cinemas em "A Freira 2") é sensacional, é sem dúvida a principal e mais destacável da série. É realmente impressionante como a Vera escolhe bem as suas personagens e sempre eleva o nível em cada trabalho apresentado. Em "Bates Motel" ela se encaixa como um luva na pele da Norma Louise Bates mais jovem. Ela traz esse lado mais jovial da mãe do Norman, que pretende recomeçar sua vida após os recentes acontecimentos, que mantém os seus dramas e os seus conflitos íntimos, justamente ao confrontar os seus traumas em relação à criação do jovem Norman.
Já o Freddie Highmore ("The Good Doctor") é outro que também se encaixa como uma luva na pele da versão adolescente do lendário Norman Bates. Caracteristicamente falando, o Freddie traz uma versão impecável do Norman jovem, que está se descobrindo, que está se conhecendo, que está conhecendo o mundo ao seu redor e as pessoas (e principalmente as garotas) ao seu redor. O Norman de Freddie pode soar como ingênuo, inocente, inexperiente, indefeso, tímido, ao mesmo tempo também soa como misterioso, enigmático, introspectivo e principalmente letal - como vimos na cena final do décimo episódio com aquele assassinato brutal da Srta. Watson (Keegan Connor Tracy).
Max Thieriot ("SEAL Team") começa em um ritmo mais morno em seu personagem Dylan, até pela forma como ele entra na série. Porém, com o passar dos episódios vamos nos afeiçoando à ele, vamos conhecendo ele melhor, vamos entendendo melhor os seus dramas e seus traumas. No fim da temporada ele já passa a ser um personagem que nos importamos. Nicola Peltz ("Transformers: A Era da Extinção") traz uma personagem que faz o caminho inverso do Dylan. A Bradley Martin é uma personagem que eu até simpatizei no início, que eu acreditava no seu drama em relação a terrível morte de seu pai, porém com o tempo eu fui começando a questionar as suas atitudes com o Norman e principalmente a sua aproximação com o Dylan. No fim ela não passou de uma patricinha mimada que usou o Norman no momento em que ela estava frágil e vulnerável. Olivia Cooke ("Jogador Nº1") com sua personagem Emma Decody me fez vê-la ao inverso da Bradley. Justamente por ela se apegar verdadeiramente ao Norman, por ela realmente criar um amor verdadeiro por ele, que realmente se importava com ele e não queria só usá-lo. Por fim ela vivia correndo atrás do Norman na intenção dele notar a presença dela, e ele não tirava a Bradley da cabeça. O que uma transa não faz!
"Bates Motel" acerta muito bem no suspense, no mistério, no enigmático e na construção do drama. Acredito que em si a história é sobre o amor incondicional de uma mãe por seu filho. Temos um relacionamento que é explorado através da premissa de que o jovem é excessivamente temperamental e ambos estão cercados por um ambiente com problemas, que os conduz ao extremo. No caso, cada um ali presente tinha os seus medos, os seus traumas, os seus conflitos e os seus dramas. Principalmente no caso da Norma e do Norman, que ora pareciam muito próximos e apegados, ora pareciam distantes e completamente diferentes.
Porém, tem alguns pontos dentro dessa temporada que me incomodou bastante: como o fato da história ser modernizada para a atualidade e se passar em um cenário moderno, onde temos os avanços tecnológicos como o uso constantes de notebooks e afins. Eu até entendo esse avanço na modernização da série, até para se encaixar com o público atual, mas particularmente eu não consegui engolir e me adaptar com essa proposta dentro do universo de "Psicose" (algo parecido com o que me aconteceu com a versão modernizada do filme "Carrie - A Estranha", de 2013). Outro ponto que me incomodou (aqui eu já acho uma falha mesmo da série), é o fato de cada história ser mal desenvolvida, mal planejada, vaga, rasa, pobre, sem um aprofundamento que pudéssemos sentir o peso de cada acontecimento de cada personagem envolvido. Por exemplo: temos três personagens com histórias distintas que começou e terminou nessa temporada, e de forma totalmente rasa e aleatória. Que é o caso da personagem Jiao (Diana Bang), a garota presa no porão, o Zack Shelby e o Jake Abernathy. Sinceramente eu não sei o que os roteirista pretendiam, mas acredito que eles queria impactar, queriam nos surpreender com mortes repentinas quando não estivéssemos esperando, com de fato aconteceu. Eu entendo o fato de não quererem construir uma temporada ou mais elaborando subtramas e desenvolvendo histórias paralelas com a trama central, mas você não pode simplesmente jogar vários personagens em uma série, tentar construir uma história diferente pra cada um, onde você desperta o interesse do espectador, e simplesmente decidir matar os personagens assim do nada, só pra gerar impacto sem a mínima coerência. Eu achei um erro grotesco do roteiro da série.
Tecnicamente a série é muito boa! Acredito que a direção de arte é o principal destaque aqui, e muito por construir cenários fiéis com o clássico e encaixá-los com harmonia na forma moderna adotada pela série. A fotografia é bem destacada, bem organizada, muito bem projetada em cada cena. Assim como a trilha sonora, que acompanha bem a série em sua versão modernizada.
"Bates Motel" é a série dramática com roteiro original de maior duração na história do canal A&E. Os atores principais da série, Vera Farmiga e Freddie Highmore, receberam elogios especiais por suas atuações na série, com a Vera recebendo uma indicação ao Primetime Emmy Award e ganhando o Saturn Award de Melhor Atriz de Televisão. A série também ganhou três People's Choice Awards de Drama Favorito de TV a Cabo e de Atriz Favorita de TV a Cabo (Vera Farmiga) e Ator (Freddie Highmore).
A primeira temporada recebeu críticas positivas dos críticos: no Metacritic, a temporada detém uma pontuação de 66 em 100, com base em 34 críticos, indicando "críticas geralmente favoráveis". No agregador de resenhas Rotten Tomatoes, a temporada tem uma classificação de 84% "fresco certificado" com uma pontuação média de 7,11/10, com base em 43 resenhas. O consenso crítico do site diz: "Bates Motel utiliza manipulação mental e táticas de medo de suspense, além de um trabalho de personagem consistentemente nítido e relacionamentos familiares maravilhosamente desconfortáveis".
A primeira temporada de "Bates Motel" é muito boa, muito bem apresentada, com um início bastante cativante, onde conta com um ótimo elenco e ótimas apresentações. Acredito que a temporada deixa muito a desejar no quesito roteiro, por querer contar várias histórias todas ao mesmo tempo e no fim não desenvolver e não finalizar nenhuma com coerência e relevância. Porém, ainda assim eu acredito que a série tem potencial para desenvolver melhor os roteiros das próximas temporadas e entregar uma série que no fim honre o nome de uma das maiores franquias de suspense de todos os tempos - "Psicose". [03/09/2023]
A quinta e última temporada de "Breaking Bad" estreou em 15 de julho de 2012 e foi concluída em 29 de setembro de 2013 na AMC nos Estados Unidos e Canadá. A temporada de 16 episódios é dividida em duas partes, cada uma contendo oito episódios. A primeira parte da temporada foi transmitida de 15 de julho a 2 de setembro de 2012 e foi ao ar aos domingos às 22:00 horário do leste dos EUA. A segunda parte foi transmitida de 11 de agosto a 29 de setembro de 2013 e foi ao ar aos domingos às 21:00.
Na vida é muito difícil encontrarmos algo perfeito, uma obra perfeita, ainda mais quando estamos se referindo ao audiovisual, que é justamente o caso aqui. "Breaking Bad" é uma série que eu aprendi a amar desde o seu lançamento lá em 2008 e hoje, ao finalizar o 16ª episódio da última temporada, eu só pude comprovar a magnífica obra de arte da história dos seriados de TV que a série sempre foi. Sem nenhuma dúvida "Breaking Bad" é a melhor série do século, a verdadeira obra-prima das séries e está simplesmente entre as melhores séries já criadas em toda a história, sendo completamente perfeita em todos os sentidos.
A quinta temporada é icônica, é emblemática, é completamente apoteótica! O primeiro episódio já inicia de forma catártica ao nos revelar aquela versão quase irreconhecível do Walter White (Bryan Cranston) com barba e cabelo sendo chamado pelo codinome de "Lambert", que estava naquele local negociando armas. Logo tomamos conhecimento da atualidade com Walter tendo que conviver com o assassinato do Gus (Giancarlo Esposito). Skyler (Anna Gunn) está muito assustada com os últimos acontecimentos. Mike (Jonathan Banks) está se recuperando do tiro que ele levou na temporada passada. Walter quer encontrar as gravações do laboratório de metanfetamina que o Gus fazia. A partir dessa busca, Walter, Mike e Jesse (Aaron Paul) decidem que precisam destruir o laptop do Gus que foi apreendido pela polícia. Eles utilizam aquele ímã gigante e poderoso para conseguir destruir todas as evidências e provas que estava no laptop (por sinal, uma belíssima cena). Ainda no primeiro episódio somos confrontados com o Ted (Christopher Cousins) em estado terminal em uma cama de hospital pelos seus acontecimentos da temporada passada. Curioso que no final do episódio o Walter diz para a Skyler que ficou sabendo o que aconteceu com o Ted e revela para ela que a perdoa.
O segundo episódio começa bastante curioso e intrigante ao nos revelar uma cena em uma cozinha de teste na "Eletromotriz Madrigal", onde o executivo Peter Schuler realiza sua última "refeição" e caminha para o banheiro para cometer suicídio. No caminho, deparamos com a remoção do logo dos "Los Pollos Hermanos" (a marca do Gus), mas antes, vimos outros logos, respectivos às outras empresas financiadas pela Madrigal. Nesse mesmo episódio Jesse encontra aquele cigarro de "ricina" que ele achou que o Walter havia roubado para envenenar o garoto Brock na temporada passada. Jesse entra em uma crise de consciência, um verdadeiro remorso. Muito interessante que nesse episódio temos a revelação que Mike foi um ex-policial no passado na Filadélfia. Hank (Dean Norris) está agora no encalço do Mike, querendo arrancar informações dele. Como o Mike perdeu todo o seu dinheiro que ele havia reservado para sua neta, e como o Walter quer voltar a cozinhar a metanfetamina, eles se juntam para voltar com a velha produção.
Os episódios seguintes são bastante reveladores e surpreendentes: Temos uma personagem bastante enigmática e misteriosa - Lydia (Laura Fraser). Temos uma versão da Skyler completamente perturbada e descontrolada, por todos os acontecimentos que ela está enfrentando com Walter. Tanto que temos uma cena em que ela surta com a Marie (Betsy Brandt) e a outra que ela decide se afogar na piscina na frente de todos. Walter e Jesse voltam a produzir a metanfetamina utilizando dessa vez os locais que estavam fechados para dedetização (ótima ideia e bela jogada do Walter). Por fim temos aquela cena emblemática do roubo de metilamina (que é utilizada na produção da metanfetamina ) no trem, com a presença de Walter, Jesse, Mike e Todd (Jesse Plemons). Que cena magnífica, icônica, apoteótica, um roubo no maior estilo de "Velozes e Furiosos" e "Red Dead Redemption 2".
No final do episódio do roubo do trem, Todd dá um tiro em um garoto que sem querer acaba vendo todos os integrantes daquela ação. O que logo desperta um estado de fúria e comoção em Jesse, que sempre se revoltou quando o assunto era atacar os garotos. Diante desse acontecimento, Jesse revela para Walter que deseja sair da parceria de produção de metanfetamina, assim como o próprio Mike, que também deseja abandonar o barco. Nesse ponto temos aquela parte onde cada um decide que quer vender a sua parte nos galões de metilamina e sair da parceria com Walter, mas Walter está mais ambicioso do que nunca, ele não quer só o dinheiro para deixar para sua família, como ele queria quando começou no ramo, ele quer ser a referência e construir um império de metanfetamina.
No sétimo episódio temos uma das cenas mais icônica e emblemática de toda a história de "Breaking Bad". Que é justamente a cena do Walter indo pessoalmente negociar com o Declan (Louis Ferreira) para ele ser o seu distribuidor de metanfetamina, onde temos a famigerada cena: "Say My Name". Há muito tempo que Walter já rompeu todos os limites da compaixão, da empatia, da misericórdia, está cada vez mais no lado sombrio, obscuro, com uma ambição incontrolável e destruível. Walter não tem mais nenhum limite em relação ao seu desejo de tomar o lugar que era do Gus, em ser o novo Manda-Chuva, o Big Boss, construindo o seu verdadeiro império de metanfetamina.
O oitavo episódio é outro episódio surpreendente e emblemático, pois é quando temos aquele confronto do Walter com o Mike, o que resulta na morte do Mike pelo Walter (não perdoo o Walter, eu gostava muito do Mike). Interessante que após o Walter assassinar o Mike ele está sentado e se depara novamente com aquela famigerada mosca, e bem em um momento que ele está em uma guerra pessoal com sua consciência. Jesse se afasta de Walter e Todd está como o seu mais novo pupilo, aprendendo o processo da produção de metanfetamina. Está cada vez mais nítido que Walter não precisa de mais dinheiro, ele não tem mais aonde guardar. E é exatamente este o pedido que a Skyler faz para ele, que ele pare de produzir a metanfetamina. Diante desse pedido, Walter finalmente decidi se aposentar da produção. O episódio termina de forma muito intrigante, com o Hank tentando ligar os pontos e chegando na pista WW, que liga diretamente com Walter White.
O nono e o décimo episódio são completamente surpreendentes! Hank está transtornado com a possibilidade que ele levantou sobre o seu algoz ser mesmo o Walter. Jesse por sua vez está completamente perturbado, transtornado e em crise ao descobrir que foi realmente o Walter o responsável pelo envenenamento do garoto Brock. Sendo assim ele entra em um profundo estado de descontrole emocional e mental e sai atirando os maços de dinheiro pelas ruas. O cerco está cada vez mais se fechando ao redor do Walter e Hank finalmente descobre toda a verdade sobre seu cunhado: Walter White matou o Gus e ele é a personalidade que Hank esteve na caça por mais de um ano, se revelando como o verdadeiro "Heisenberg". O episódio termina de forma apoteótica!
A partir do momento que Hank descobre que Walter é o "Heisenberg" ele parte para cima da Skyler, a pressionando e a coagindo para que ela revele tudo que sabe a respeito do marido. Porém, inicialmente Skyler não revela nada para o Hank, o que muito me surpreende esta sua postura. Para tentar reunir provas ao invés de suspeitas, Hank decidi ir ao encontro de Jesse, que estava transtornado ao ponto de colocar fogo na casa do Walter. Realmente o Jesse está em seu limite, está tomado por um sentimento de culpa, de revolta, de remorso, de tristeza, uma forte crise existencial. Dessa forma Hank tenta uma espécie de acordo com Jesse, afinal ambos querem pegar o Walter.
No décimo primeiro episódio temos a revelação que o Câncer de Walter voltou, e logo ele tem um desmaio no banheiro e revela mais tarde para seu filho Jr. É nesse episódio que temos aquele icônico vídeo do Walter incriminando o Hank com a sua participação em seu império de metanfetamina. Vou confessar que eu achei essa ideia incrível, genial, ousada, que só poderia ter saído da mente brilhante do "Heisenberg". Sem falar na ligação que ele fez com o dinheiro que a Marie usou no tratamento e recuperação do Hank como prova do seu envolvimento em todo o esquema. O que obviamente deixa o Hank completamente transtornado e desacreditado.
Os últimos episódios da temporada são magníficos, atinge um alto nível que eu nunca vi em nenhuma outra série. Temos aquela armadilha que o Hank e o Jesse prepara para o Walter com a foto do tambor com seu dinheiro, o que o obriga a ir até o local no deserto em que todo o seu dinheiro está enterrado (por sinal, é o mesmo local que o Walter e o Jesse começaram a cozinhar a metanfetamina lá na primeira temporada). Temos aquela cena absurda dos tiroteios no deserto entre o Hank e o agente Gómez contra a gangue do Tio Jack. Jack Welker (Michael Bowen) é o tio do Toddy, que lidera o grupo de neonazistas sempre fazendo trabalhos encomendados por outros. O grupo aparece de acordo quando Walter pede uma ajuda para eliminar o Jesse em troca de ensinar o Todd a produzir a metanfetamina mais pura possível. O episódio termina com a surpreende morte do Hank com o tiro disparado pelo Tio Jack.
Ozymandias é o décimo sexto episódio, o episódio final da série "Breaking Bad". Este episódio é incrível, icônico, emblemático, apoteótico. É um episódio que fecha com chave de ouro toda a saga de "Breaking Bad", que nos faz revelações surpreendentes, que nos impacta e nos emociona, que nos desperta todos os mistos de sentimentos que estavam guardados por muito tempo. Aquela cena da metralhadora no porta-malas do carro estraçalhando todo mundo na casa é absurdamente incrível, genial e bizarra. Uma cena completamente apoteótica. Ozymandias é sem dúvida um dos melhores episódios de toda a história dos seriados de TV, e ainda com um fechamento que traz um final catártico.
Sobre o icônico elenco de "Breaking Bad". Bryan Cranston é um gênio, um mestre, um lord. Ele soube incorporar um personagem com maestria, com elegância, com grandeza, com uma competência absurda e antológica. Bryan Cranston deu vida para o Walter White, que é incontestavelmente um dos melhores personagens de séries de todos os tempos! Assim como o icônico "Heisenberg", que é simplesmente uma das maiores personalidades do mundo do entretenimento e da cultura pop. Anna Gunn é uma atriz genial e poderosa. É realmente incrível a forma como a Anna conseguiu criar e interpretar uma personagem que transcendia todos os limites de uma simples mãe de família. Que soube se reinventar a cada episódio, a cada temporada, sempre entregando uma personagem que era amada e odiada praticamente ao mesmo tempo. Nessa quinta temporada a Anna Gunn está no ápice da sua personagem, conseguindo nos comover e nos impactar com um trabalho impecável e irretocável.
Aaron Paul é sem dúvida o personagem mais desacreditado do início da série. Acredito que o público (assim como eu) no início teve um pouco de pé-atrás com ele ao interpretar o jovem viciado Jesse Pinkman. Talvez por não conhecer muito do seu trabalho, talvez apenas por desconfianças mesmo, mas devo dizer que ele surpreendeu todo um planeta ao incorporar o Jesse. Aaron Paul é o ator que mais cresceu dentro da série, que mais desenvolveu o seu personagem ao longo das temporadas, que provou ser o ator magnífico que é pela competência de um trabalho fenomenal e impecável. Nessa quinta temporada o que o Aaron Paul entrega na pele do Jesse é absurdo, principalmente no quesito peso dramático e carga dramática - como podemos comprovar naquela cena absurda em que ele presencia o assassinato da Andrea (Emily Rios) - que cena impactante! Dean Norris é um ator que eu gosto muito e aqui como Hank Schrader ele sempre foi colossal. Dean soube construir um personagem que facilmente poderíamos criar uma grande empatia, principalmente pelo seu grande crescimento e relevância dentro do contexto de toda a história. E o mais interessante em seu personagem é exatamente esse jogo de gato e rato com Walter, sempre no encalço da sua maior missão enquanto agente da DEA, que sempre esteve ali na frente do seu nariz, embaixo do próprio teto. Hank Schrader é mais um personagem icônico desse universo de "Breaking Bad", e tudo graças ao trabalho fantástico de Dean Norris.
Bob Odenkirk é sem dúvida a personificação do personagem mais hilário de toda a série - o grande Saul Goodman. Já o Jonathan Banks trouxe aquele personagem que também tem um crescimento absurdo na série, indo na mesma linha de crescimento do Hank. Mike sempre esteve na defesa do Gus, sempre funcionava com o seu cão de guarda, porém nessa temporada observamos mais do outro lado do Mike, sem aquela casca que ele sempre carregava. Betsy Brandt trouxe uma personagem que ora funcionava no contexto da série, ora fica mais escanteada, mas no geral a Marie foi fundamental na construção final das motivações do Hank. RJ Mitte é outro ator muito bom, que também contribuiu diretamente para a grandeza da série, e nessa temporada o Walter Jr. foi primordial ao tomar a atitude em relação ao pai. E pra finalizar temos a excelente participação do Jesse Plemons (novinho na época), que também teve a sua contribuição fundamental na série.
Precisamos voltar a falar de Walter White: É incrível a grandeza desse personagem na série, é incrível como ele toma uma postura inicial e aos poucos vai deixando de lado, se descaracterizando, se desconstruindo. Aquele simples professor de química do ensino médio mal pago, superqualificado e desanimado que está lutando com um diagnóstico recente de câncer de pulmão. Que decide usar das suas extremas habilidades químicas para produzir uma metanfetamina mais pura o possível para deixar sua família estável financeiramente quando ele morrer. Este é um ponto abrangido com maestria na série: a desconstrução do ser humano, a ambição humana, a supervalorização, a briga de ego, a forma como uma pessoa deixa de lado todos os seus princípios e se torna um monstro, um sociopata, muda de personalidade, se entrega ao desejo incontrolável da ambição, ao lado sombrio e com uma mudança obscura em seu caráter.
É incrível como até hoje muitas pessoas se frustram ao ver a forma como o Walter se tornou dentro da série e principalmente a forma como ele termina. Muitos acham que a série não deveria ter transformado o Walter em um monstro, mas o Walter White sempre foi um monstro, ele só não tinha desenvolvido esse seu lado. Ele sempre teve aquele complexo de superioridade, de ser o centro das atenções, sempre com a mesma desculpa que tudo que ele fazia era pela sua família. Talvez no início até poderia ser, mas depois só constatamos que não, que ele fez tudo aquilo porque ele queria e porque ele gostava. Como observamos naquela conversa com a Skyler, que ele revela para ela que fez aquilo por ele, porque ele quis, porque ela achava bom ser o mais inteligente, ser o superior, construir o seu império, inflar o seu ego. Ou seja, Walter White sempre foi o "Heisenberg".
Tecnicamente e artisticamente a temporada e a série é completamente impecável! O roteiro de "Breaking Bad" é estupidamente perfeito, Vince Gilligan aplicou uma genialidade absurda ao escrever um texto tão competente, tão abrangente, tão magnífico. O mesmo vale para a direção da série, que foi feita sempre de forma impecável. A trilha sonora da série sempre foi um destaque, sempre foi um show à parte, sempre foi relevante no quesito inovação e criatividade. O elenco é outro show, é uma obra-prima, daqueles elencos memoráveis, que vai ficar em nossa mente pelo resto de nossas vidas. O mesmo vale para cada personagem que foi criado e construído na série, que atingiu um nível de grandeza e excelência nunca visto anteriormente em questões de seriados de TV. A cinematografia da série é outra perfeição, sempre com um fotografia que nos maravilhava em cada temporada, em cada episódio, em cada cena, um nível de genialidade que não se vê mais hoje em dia.
"Breaking Bad" recebeu críticas positivas, enquanto o restante recebeu aclamação unânime da crítica, com elogios às performances, direção, cinematografia, roteiro, história e desenvolvimento de personagens. Desde sua conclusão, a série foi elogiada pela crítica como uma das maiores séries de televisão de todos os tempos. Teve uma audiência razoável em suas três primeiras temporadas, mas a quarta e a quinta temporadas tiveram um aumento moderado na audiência quando foi disponibilizado na Netflix pouco antes da estreia da quarta temporada. A audiência aumentou drasticamente após a estreia da segunda metade da quinta temporada em 2013. Quando o final da série foi ao ar, estava entre os programas a cabo mais assistidos da história da televisão americana.
"Breaking Bad" recebeu inúmeros prêmios, incluindo 16 Primetime Emmy Awards, oito Satellite Awards, dois Golden Globe Awards, dois Peabody Awards, dois Critics' Choice Awards e quatro Television Critics Association Awards. Bryan Cranston ganhou o Primetime Emmy Award de Melhor Ator Principal em Série Dramática quatro vezes, enquanto Aaron Paul ganhou o Primetime Emmy Award de Melhor Ator Coadjuvante em Série Dramática três vezes; Anna Gunn ganhou o Primetime Emmy Award de Melhor Atriz Coadjuvante em Série Dramática duas vezes. Em 2013, "Breaking Bad" entrou no "Guinness World Records" como o programa de TV mais aclamado pela crítica de todos os tempos.
A série deu origem à maior franquia "Breaking Bad". "Better Call Saul" é uma série prequela com Bob Odenkirk, Jonathan Banks e Giancarlo Esposito reprisando seus papéis em "Breaking Bad", bem como muitos outros em participações especiais e recorrentes, estreou na AMC em 8 de fevereiro de 2015 e foi concluída em 15 de agosto de 2022. Uma sequência O filme "El Camino: A Breaking Bad Movie", estrelado por Aaron Paul, foi lançado na Netflix e nos cinemas em 11 de outubro de 2019.
"Breaking Bad" estreou na AMC em 20 de janeiro de 2008 e foi concluído em 29 de setembro de 2013, após cinco temporadas com 62 episódios.
Por fim, chegamos ao final da melhor série de TV que eu já assisti em toda a minha vida. "Breaking Bad" é simplesmente o suprassumo, a quinta-essência, o masterpiece da história das séries. Uma obra completamente impecável, irretocável, perfeita, triunfal, atemporal, relevante, influente, antológica, colossal, apoteótica, emblemática e icônica.
Simplesmente a melhor série de todos os tempos!
Vince Gilligan eu te amo!
(R.I.P. Mark Margolis - nosso eterno Hector Salamanca) [19/08/2023]
Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças - 2004 (Eternal Sunshine of the Spotless Mind)
"Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" é dirigido por Michel Gondry e escrito por Charlie Kaufman, baseado em uma história de Gondry, Kaufman e Pierre Bismuth. É estrelado por Jim Carrey e Kate Winslet, com Kirsten Dunst, Mark Ruffalo, Elijah Wood e Tom Wilkinson em papéis coadjuvantes. O filme segue duas pessoas que passam por um procedimento para apagar um ao outro de suas memórias após a dissolução de seu relacionamento.
Michel Gondry e Charlie Kaufman foram os nomes principais que fizeram "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" de fato acontecer. Michel Gondry é conhecido por dirigir vários videoclipes famosos de várias personalidades famosas dentro da indústria musical pela MTV americana ao longo da sua carreira. No cinema, Gondry iniciou como diretor em 2001, com o longa-metragem "A Natureza Quase Humana". Depois ele dirigiu "Sonhando Mesmo Acordado" (2005), "Rebobine, Por Favor" (2008) e "O Besouro Verde" (2011). Já o roteirista Charlie Kaufman ficou conhecido após o roteiro badalado de "Quero Ser John Malkovich" (1999), onde ele conseguiu sua primeira indicação ao Oscar. Em 2001 Kaufman trabalharia com o Gondry pela primeira vez justamente em "A Natureza Quase Humana", e em 2004 eles se reencontrariam em "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças", onde ambos ganhariam o Oscar de Melhor Roteiro Original.
"Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" é simplesmente uma pérola, uma obra de arte em forma de cinema, uma obra-prima da sétima arte, um dos melhores filmes da década de 2000. Um filme extremamente tocante, profundo, singelo, poético, verdadeiro, emocionante, lindo, belo, encantador, inovador, surpreendente, exuberante e reflexivo, ao mesmo tempo que nos confronta com o medo, a perda, o trauma, a decepção, a desilusão, a depressão e a aflição. O roteiro é de uma genialidade absurda sendo muito competente, muito inteligente, muito bem escrito, muito bem desenvolvido, muito bem transplantado para a tela, onde nos passa uma linha de pensamento acerca do passado, do presente e do futuro, que obviamente vai nos retratar sobre a humanização, a descaracterização, a desconstrução e a superação do ser humano em seu alto grau emocional e espiritual.
O fio condutor do roteiro é exatamente a forma como exploramos o passado, como encaramos os nossos sentimentos e as nossas lembranças, a forma como analisamos os nossos próprios atos, a forma como fazemos uma autoavaliação, a forma como confrontamos a nossa própria memória. É interessante notar que o texto aqui conversa diretamente com o espectador com base em um drama, em um romance e até misturando elementos de ficção científica para construir uma narrativa não linear com base na exploração da mente humana. O texto de "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" é tão inteligente, tão estratosférico, tão absurdo, que ainda podemos ir além ao analisarmos uma abordagem com elementos de um drama psicológico, um estudo da mente humana, do comportamento humano após uma perda e após uma grande decepção, um estudo de psicanálise, que é o ponto aqui ao discutimos os comportamentos disfuncionais, os traumas e até os pensamentos equivocados dos personagens em questão.
E o mais interessante no texto do longa-metragem é nos passar a percepção de simplicidade, pois de fato estamos falando de um fim de relacionamento, a famosa "dor de cotovelo", que é justamente a narrativa em questão ao nos confrontarmos com os esforços que somos capazes de fazer para esquecer um antigo/grande amor. É inegável que todos nós já passamos por um fim de relacionamento que às vezes é trágico, às vezes traumático, às vezes destruidor, às vezes conturbado, mas fato é: após um fim de relacionamento todos nós queríamos esquecer a pessoa amada. E se você pudesse de fato apagar toda a sua memória do relacionamento passado? E se nós pudéssemos simplesmente apagar da memória aqueles que mais amamos? Você se submeteria ao um processo científico para apagar aquela pessoa para sempre das suas lembranças? Até que ponto você iria para atingir esse objetivo?
Este é o principal motivo para que "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" tenha um dos melhores roteiros daquela década. Exatamente um texto que conversa diretamente com todos nós, que é de fácil identificação, que nos faz refletir, que nos faz pensar com uma trama que soa familiar, pois quem aqui nunca sofreu por amor? Quem aqui nunca sofreu com o término de um romance? E quem aqui não sentiu o desejo de apagar todas as memórias daquelas pessoas que outrora nos fizeram tão felizes? Mas fato é: nem sempre o que queremos conseguimos, às vezes essas próprias memórias nos fere e nos magoa profundamente quando são remexidas. Eu sou um exemplo vivo de já ter sofrido com o término de um grande amor, de um grande relacionamento. Eu me coloquei no lugar do Joel (Jim Carrey), eu também sofri uma decepção e queria apagar a pessoa da minha memória para sempre. Eu só não busquei um método científico como ele buscou, mas fiz de tudo para esquecer, para apagar, mas também não consegui. Na verdade você nunca consegue deletar esta pessoa da sua memória, você pode até esquecer por algum tempo, mas apagar jamais.
Sobre os personagens: É muito interessante acompanhar toda a construção e desconstrução do casal Joel e Clementine (Kate Winslet). Joel sofre com aquela desilusão amorosa e principalmente ao descobrir que Clementine queria esquecê-lo para sempre quando tomou a decisão de entrar no processo de deletar suas memórias. Até por um certo orgulho, uma certa mágoa e um certo rancor Joel decidi fazer o mesmo, que é passar pelo mesmo processo. O ponto-chave é exatamente o arrependimento de Joel durante o processo, onde logo ele tenta de todas as formas uma maneira de parar o procedimento. Dessa forma Joel tenta de todas as maneiras uma forma de aprisionar as memórias de Clementine que já estão desaparecendo de sua mente. Ou seja, o mundo no qual a Clementine pertence está ruindo, e é a partir daí que Joel percebe que está cometendo um grande erro, que ele não é capaz de apagá-la de sua memória, que ele não é capaz de conceber a felicidade sem aquela pessoa que ele tanto ama. Se analisarmos friamente esta é a cereja do bolo desse roteiro que é tão genial. Exatamente a abordagem de um grande amor que falhou, que deu errado, e tudo isso acontecendo dentro da mente do Joel, que logo está em guerra com sua própria mente sobre o que de fato pode ter dado tão errado. De fato o roteiro desse filme é estupidamente genial, um dos melhores que eu já vi em toda a minha vida cinéfila.
"Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" tem um roteiro teoricamente simples mas não é assim tão fácil de entender e de acompanhar em todos os seus acontecimentos. Pois o longa não conta os seus eventos em uma ordem cronológica, temos que ir construindo as nossas percepções e resolvendo os quebra-cabeça em cena após cena. O quê muita das vezes vai nos confundir acerca do presente e do passado, que logo será auxiliado por flashbacks e monólogos para nos elucidar tal acontecimento. Eu acredito que esta decisão mais embaraçosa em nos contar os fatos seja até como uma metáfora para a nossa própria memória, pois é exatamente dessa forma que acontece quando estamos buscando por nossas lembranças, que na maioria das vezes elas vão surgir de forma desordenada e totalmente aleatória. Eu achei uma grande sacada do roteiro!
O elenco é outro show à parte: A maioria das pessoas conhecem o Jim Carrey por seus personagens irreverentes e cômicos, mas aqui ele sai dessa sua zona de conforto e nos impacta com a talvez melhor atuação de toda a sua carreira. É sempre um grande prazer poder acompanhar o Jim Carrey em um personagem mais sério, mais dramático, mais contundente, até mais que os personagens Truman Burbank ("O Show de Truman", de 1998) e Andy Kaufman ("O Mundo de Andy", de1999). Jim Carrey incorpora um personagem introspectivo, frio, obscuro, extremamente reservado, que não se abre fácil, que não demonstra seus sentimentos, que prefere expor seus sentimentos através do seu diário. Jim Carrey está perfeito, está fabuloso, está colossal, uma atuação rica em emoções e sentimentos, carregada dramaticamente, que nos desperta a comoção, a empatia e o sentimento de amor carregado com a tristeza. Eu nunca vou entender o total desprezo e preconceito que a academia sempre teve pela pessoa Jim Carrey, ao ponto de sempre esnobar todas as suas atuações, de não reconhecer o seu talento no drama. Claramente ele merecia pelo menos uma indicação ao Oscar de Melhor Ator em 2005. Mas não veio, como já não vinha nos trabalhos anteriores a este. Jim Carrey ficou com as indicações no BAFTA e no Globo de Ouro.
Kate Winslet definitivamente sempre foi a rainha da p@#$ toda! Kate sempre será lembrada como a eterna e inesquecível "Rose DeWitt Bukater", isso é inegável. Porém, ao longo da carreira ela já nos entregou outras personagens que também se tornaram inesquecíveis; como é o caso da magnífica Hanna Schmitz de "O Leitor" (2008). Clementine Kruczynski é outra personagem eternizada e humanizada da Kate Winslet, que ficou para sempre em nossas memórias e jamais queremos apagá-la. Kate deu vida para a complicada Clementine, que por si só já se mostra com uma personalidade forte, potente, impulsiva, espontânea, rebelde, desbocada, comunicativa, ciumenta e problemática. Clementine usava seu cabelo de diversas cores, e isso traz uma alusão ao momento atual de sua vida: como o azul de esperança quando ela conhece o Joel, logo após o vermelho da paixão avassaladora e depois o verde desbotado que simboliza o desgaste emocional e sentimental. Kate criou mais uma personagem inesquecível, que entrou para a história da cultura pop dos anos 2000. Uma atuação impecável e irretocável, que lhe rendeu a sua quarta indicação ao Oscar de Melhor Atriz.
Kirsten Dunst com apenas 21 aninhos vinha da sua personagem mais lembrada na carreira até os dias de hoje - a incrível Mary Jane Watson de "Homem Aranha"(2002). Aqui Kirsten trouxe a personagem Mary, que é a recepcionista da clínica Lacuna, que fornece o serviço de apagar as lembranças. Mary é encantada pelo trabalho que a clínica pratica e possui uma admiração (e um interesse) pelo seu chefe. Temos todo um contexto por trás da personagem que descobre que foi uma cobaia da clínica ao ter as suas lembranças também apagadas, o que a leva a revelar a verdade para todos os pacientes da clínica. Gostei muito da atuação da lindíssima Kirsten Dunst.
O mestre Tom Wilkinson sempre esteve no auge da carreira e já nos entregou cada personagem memorável que fica até difícil comentar. Posso citar o fabuloso Padre Moore do clássico cult "O Exorcismo de Emily Rose" (2005). Tom é Howard, o dono da clínica Lacuna, sendo o principal responsável pelas intervenções na mente dos pacientes. Howard já se utilizou dos interesses amorosos da Mary anteriormente, já fez o procedimento de apagar as memórias nela, e sempre defende que sua causa é estar fazendo o bem para as pessoas, lhe dando a chance de começar uma vida do zero. Mais um trabalho memorável do grande Tom Wilkinson.
Elijah Wood, o eterno e icônico Frodo Bolseiro da franquia "O Senhor dos Anéis"(2001). Elijah é o empenhado (e talarico - kkk) Patrick, um dos dos técnicos que a empresa Lacuna envia para a casa dos pacientes, para apagar suas lembranças enquanto dormem. Interessante que o Patrick começa a se interessar pela Clementine enquanto ela está dormindo durante o processo. O que logo o leva a roubar os objetos do Joel na intenção de se passar pelas memórias dele para conquistar ela. Elijah Wood conseguiu gerar cenas bem interessantes para todo o contexto da história. Mark Ruffalo, o eterno Bruce Banner de "Os Vingadores" (2012). Mark era o Stan, outro dos técnicos que auxiliava o processo da clínica na casa dos clientes. Stan tinha um relacionamento com a Mary, enquanto ele não sabia de grande parte dos acontecimentos dela. Mark Ruffalo está bem convincente no personagem.
Tecnicamente e artisticamente o longa-metragem é ainda mais perfeito: A trilha sonora do filme foi composto pelo músico de Los Angeles Jon Brion, que por sinal é impecável, magnânima, elegante, penetrante e emocionante. Aquela versão de "Everybody's Got to Learn Sometime" é pra chorar no banho de tão emocionante em cena. A fotografia de Ellen Kuras é potente, é avassaladora, é bastante perceptível e se destaca com bastante harmonia. A direção de arte de David Stein (o homem por trás da direção de arte de "12 Anos de Escravidão" e "Cisne Negro") é outra peculiaridade, sempre agregando os detalhes mais minuciosos, sempre atento com os padrões de cenários mais contemporâneos. "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" se sobressai principalmente por ser bem montado, bem editado, bem mixado, bem arquitetado, com detalhes técnicos que saltam aos nossos olhos pela excelência de uma qualidade em altíssimo nível.
Não posso deixar de destacar a direção elegantérrima e acertadíssima do diretor Michel Gondry, que teve a ideia de fazer um filme como "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças" após seu amigo artista plástico Pierre Bismuth sugerir a história de um personagem que encontra um cartão no caixa de correio com a mensagem: "alguém que você conhece apagou você da memória".
Já a origem do título do filme foi retirado do poema "Eloisa to Abelard", de autoria de Alexander Pope. O mesmo poema já havia sido usado pelo roteirista Charlie Kaufman em "Quero ser John Malkovich".
"Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" foi um sucesso de bilheteria, arrecadando $ 74 milhões em um orçamento de $ 20 milhões, e foi nomeado pelo American Film Institute um dos 10 melhores filmes de 2004.
Prêmios: OSCAR 2005 Ganhou: Melhor Roteiro Original Indicação: Melhor Atriz - Kate Winslet GLOBO DE OURO 2005 Indicações: Melhor Filme - Comédia/Musical Melhor Ator - Comédia/Musical - Jim Carrey Melhor Atriz - Comédia/Musical - Kate Winslet Melhor Roteiro BAFTA 2005 Ganhou: Melhor Roteiro Original e Melhor Edição Indicações: Melhor Filme Melhor Diretor - Michel Gondry Melhor Ator - Jim Carrey Melhor Atriz - Kate Winslet
Em outubro de 2016, o Anonymous Content anunciou que trabalharia com a Universal Cable Productions para produzir uma série de televisão baseada no filme. Charlie Kaufman não está envolvido na escrita do show. O projeto ainda está em fase de planejamento. Em 2023, ainda não havia sido lançado, apesar de seis anos de trabalho no roteiro.
No Rotten Tomatoes, o longa tem um índice de aprovação de 92% com base em 250 resenhas, com nota média de 8,50/10. No Metacritic, o filme tem uma pontuação de 89 de 100, com base em 41 críticas, indicando "aclamação universal". No CinemaScore, o filme tem uma nota média de "B-" na escala A + a F.
O desempenho de Kate Winslet ficou em 81.º lugar da lista das "100 maiores atuações de todos os tempos" da revista Premiere. Em 2013, o filme ficou em 24.º lugar da lista dos "101 maiores roteiros" da Writers Guild of America. O filme ficou em 78.º lugar na lista dos "301 Melhores Filmes De Todos os Tempos" da revista Empire em 2014.
"Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" é aquele clássico cult amado, respeitado e idolatrado por todos os seres que respiram. Uma obra extremamente importante, influente, contundente, peculiar, singela e contemporânea, que nos leva a bordo de uma história de perdas e recomeços, de decepções e ilusões, de traumas e conquistas, expondo um olhar mais ríspido e sincero sobre relacionamentos e mágoas. Uma obra que transmite sentimentos, que nos toca verdadeiramente, que nos emociona instantaneamente, que nos transmite uma aura de realismo e nos impacta com lições sobre como um verdadeiro amor pode ser lembrado, renovado e muitas das vezes reconquistado.
O longa nos ensina que nem sempre iremos aprender com nossos erros, mas precisamos persistir, ir além, não se dar por vencido. Também aprendemos que as lembranças existem e sempre vão estar ali, no fundo da nossa memória, impossíveis de serem apagadas, pois as lembranças podem ser ruins por nos fazer sofrer com sentimentos perdidos no passado, mas também podem ser benéficas nos ensinando lições importantes para nosso futuro.
"Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" é um clássico de amor dos tempos modernos. Uma verdadeira lição de vida. A representação mais pura do amor em seu estado mais bruto e poético. Um dos romances mais aclamados da década de 2000. Um dos responsável em definir o cinema da década de 2000. Um dos roteiros mais geniais da década de 2000. Presente em qualquer lista dos melhores filmes da década de 2000. Um clássico eterno! Uma obra-prima da sétima arte! Meu filme de cabeceira! Meu filme da vida! ⭐⭐⭐⭐⭐ [03/08/2023]
"Breaking Bad" é a única série que mantém uma crescente em cada temporada. Ou seja, cada temporada é um desenvolvimento da anterior, cada história é melhor desenvolvida na temporada seguinte, cada acontecimento que nos surpreende na temporada passada é cada vez mais impactante na próxima temporada. Por esses fatos que eu considero "Breaking Bad" como uma série impecável, por sempre elevar o nível em cada temporada, por sempre manter uma linha de interesse e desenvolvimento totalmente coerente e relevante, por sempre nos prender com um roteiro fabuloso, inteligente, dinâmico, bem estruturado e bem desenvolvido.
Como sempre afirmei: cada temporada é surpreendente e supera a temporada anterior, e esta quarta temporada não seria diferente.
No final do décimo terceiro episódio da temporada passada fomos surpreendidos com todos os acontecimentos em volta do Walter (Bryan Cranston) e do Jesse (Aaron Paul) relacionados ao Gus (Giancarlo Esposito). O episódio termina exatamente com o Jesse disparando contra o Gale (David Costabile) em seu apartamento. A partir desse fechamento de temporada que fica inúmeras perguntas como: será que o Jesse realmente acertou o tiro em Gale? Ou será que ele só quis assustá-lo? Se ele realmente matou o Gale qual será a postura do Gus a partir dessa afronta? Como ficará a vida de Jesse e principalmente do Walter na próxima temporada?
O primeiro episódio da quarta temporada já nos revela grande parte das respostas para todas essas perguntas: Jesse realmente acertou o tiro na cabeça do Gale. Gus se sentiu ameaçado e resolveu mostrar quem manda no pedaço ao construir aquela cena bizarra, onde ele corta a garganta do Victor (Jeremiah Bitsui) com um estilete a sangue frio na frente do Jesse e do Walter. Por sinal mais uma cena emblemática da série, pois é a primeira vez que eu vejo o Gus cometendo um assassinato daquela forma e naquela pompa, com requintes de crueldade e muita classe.
A partir do segundo episódio entramos de cabeça naquele jogo de gato e rato do Walter contra o Gus. A desconfiança e a incerteza de Walter faz com que ele compre uma arma para tentar se defender, tanto do Gus como até do próprio Mike (Jonathan Banks). Jesse por sua vez liga o modo foda-se e passa a viver uma vida de festas e drogas em sua casa que no momento mais se parece com um chiqueiro. Skyler (Anna Gunn) parece ter deixado um pouco de lado o Ted (Christopher Cousins) e se concentrar totalmente na compra do lava-rápido. Por sinal todo o empenho da Skyler em fazer aquela jogada de fiscalização para fechar o lava-rápido e facilitar a sua compra foi uma ideia genial, acredito que uma das melhores jogadas que ela já fez em toda a série.
Outro ponto interessante dessa temporada é o fato da própria Skyler voltar a se entender com o Walter após aquela sua postura traidora da temporada anterior. Lógico que a Skyler está agindo por interesse próprio, mas confesso ter gostado de vê-la junto do Walter novamente. E aqui já temos uma Skyler cada vez mais empenhada na lavagem de dinheiro no lava-rápido, onde a própria chega a revelar toda a armação do Walter ser um jogador para o Hank (Dean Norris). Logo eles voltam a transar depois de algum tempo, para oficializar e comemorar o esquema de lavagem de dinheiro. Temos aqui praticamente uma nova versão de Bonnie e Clyde.
Uma grande jogada do Gus nessa temporada foi voltar sua atenção para o Jesse, que estava frágil, vulnerável, com um psicológico e uma mente perturbada. É nessa hora que o Gus quer usar o Jesse para vê se ele pode ser confiável para o seu projeto de matar o Walter e assumir o laboratório de metanfetamina. E o mais interessante é saber que de fato o Jesse está tentando se provar útil na missão com o Mike para chegar até o Gus, já que o próprio Jesse está com a ideia de matar o Gus com o veneno do cigarro.
Hank foi um personagem extremamente importante na temporada passada, e agora ele está se recuperando e voltando na ativa das suas investigações. Todos nós sabemos que a maior obsessão de Hank sempre foi o enigmático e misterioso Heisenberg, e é a partir das investigações das pista encontradas no apartamento do Gale que ele passa a suspeitar do todo poderoso Gustavo Fring. O cerco está se fechando contra o Gus, a DEA está em seu encalço. Já o Gus por sua vez é um ser extremamente hábil, inteligente, liso, astuto, aquele que escapa por entre os dedos, por onde não tem saídas. Naquela cena do interrogatório o Gus sequer titubeava nas respostas, sempre muito seguro de si. É muito interessante toda aquela revelação do passado do Gus, mostrando o porque não se acha mais vestígios dele no Chile, pois foi tudo apagado. É surpreendente a grande rivalidade (ou ódio) de Gus com Hector Salamanca (Mark Margolis) e Don Eladio (Steven Bauer).
Os últimos cinco episódios da temporada são ainda mais colossais e apoteóticos: temos o Walter fazendo de tudo para conseguir despistar a atenção do Hank em relação à investigação do Gus. Temos a volta do asqueroso Ted onde a Skyler o ajuda com uma parte do dinheiro do Walter (para todo seu desespero). Temo o Gus sendo forçado a manter (pelo menos inicialmente) um acordo com o Cartel Mexicano. E o final do décimo episódio é estratosférico, com aquela presença em território Mexicano do Gus, Mike e Jesse enfrentando o Don Eladio e sua trupe.
A partir do décimo primeiro episódio é onde o Gus afirma diretamente para o Walter que toda a sua família está ameaçada caso ele interfira na missão de acabar com o Hank. Temos grandes reviravoltas nos últimos episódios da temporada, como o fato do Gus entrar na mente do Jesse para que ele concorde com a morte do Walter, e se possível até executá-lo. Temos todos os acontecimentos envolvendo o possível envenenamento do garotinho Brock, o filho de Andrea (Emily Rios), que Jesse acreditava ter sido o Walter o responsável. Também acompanhamos a aproximação de Walter com o Tio Salamanca, como para usá-lo para conseguir matar o Gus, já que o Tio Salamanca também queria uma vingança contra o próprio Gus. Diante disso chegamos em uma das cenas mais emblemáticas e apoteóticas de toda a história da série "Breaking Bad". Que é justamente a cena da explosão da bomba na cadeira de roda do Tio Salamanca, que atinge tanto o Tio quanto o próprio Gus. Esta cena é icônica, principalmente por nos mostrar todo requinte e elegância de um verdadeiro gentleman do Gus antes de morrer. Senhoras e senhores, que cena!
Walter White é o verdadeiro vilão de toda a história. Ele é o vilão do Jesse, ele é o vilão da Skyler, ele é o vilão do Hank, ele é o vilão de sua própria família, ele é o vilão dele próprio. Aquele Walter omisso, indefeso, preocupado, resguardado, tentando ser inofensivo, já não existe mais. Walter está mais do que nunca tomado pela ambição, pela escuridão, pela destruição, assumindo todos os riscos, enfrentando tudo e todos, tomado pelo sede insaciável de vingança e poder. Walter está longe daquele pai, daquele esposo, daquele professor, daquele herói para seu filho, ele já é a personificação do traficante, do assassino, sempre traçado como um ser vingativo, cruel e impiedoso.
Nessa temporada temos várias atitudes do Walter que nos faz olhar para ele de um forma ainda mais diferente das temporadas anteriores. Posso citar a parte do possível envenenamento do Brock, que pode sim de fato ter sido o Walter como uma forma de trazer o Jesse novamente para o seu lado no império da metanfetamina (algo um pouco parecido com o que aconteceu com a Jane na segunda temporada). Walter não se preocupa mais em atacar seu algoz, mesmo que isso interfira diretamente em pessoas inocentes e indefesas. Nesse caso do Brock, ele sobreviveu por causa da percepção do Jesse, porque se dependesse do Walter ele realmente teria morrido. Sem falar que temos algumas cenas em que mostra um Walter totalmente perturbado e fora de si, praticamente incorporando um Coringa: como na cena que a Skyler fala para ele que deu o dinheiro para ajudar o Ted e ele cai na gargalhada, e no último episódio, quando ele faz toda armação para acabar com o Gus e consegue. Ali vemos um Walter tomado pelo desejo de vingança a qualquer custo, principalmente na cena que ele vai até o laboratório e salva o Jesse e logo após ele destrói o laboratório, e ainda liga para Skyler para dizer: "Eu Venci" - com aquele ar de soberano.
Elogiar o Bryan Cranston como Walter White é praticamente chover no molhado. Então vou escrever aqui o mesmo que escrevi nas temporadas passada: "Bryan Cranston é incontestavelmente um dos melhores personagens de séries de todos os tempos!" Anna Gunn e sua eterna personagem "ame ou odeie". Confesso que na temporada passada eu tive mais raiva da Skyler, pois eu não aprovava as suas atitudes, mas nessa temporada ela volta a me agradar em grande parte. Talvez a única parte em que eu não aprovei sua decisão foi na parte em que ela decide dar o dinheiro para ajudar o Ted. Mas de qualquer forma é aceitável que ela tome esta decisão, afinal de contas as fraudes poderia chegar até ela, uma vez que ela fez parte de todo o esquema junto com o Ted.
Aaron Paul sempre impecável e surpreendente: Jesse é um misto de sentimentos em cada temporada, pois ele tem o dom de nos impactar com variações mais dramáticas, mais agressivas, mais perturbadas, e aqui ele está exatamente dentro desse padrão. Nessa temporada temos um Jesse que inicialmente liga o modo foda-se e quer viver na esbórnia da sua casa. Logo após ele quer se provar útil e não descartável. Depois ele é tomado pela fúria do drama do acontecimento com o pequeno Brock. E no final o vemos novamente fortalecendo os laços com o Walter. Ou seja, mais uma temporada irretocável de Aaron Paul como Jesse Pinkman. Dean Norris Não tem a mesma proporção da temporada passada, até pelos acontecimentos que ocorreu com ele, mas ainda assim ele se mostra extremamente importante, principalmente em pegar os atalhos da investigação do assassinato do Gale para chegar no Gus. Giancarlo Esposito é talvez o personagem mais importante de toda a temporada depois do Walter. Gus é aquele vilão perfeito, com uma postura perfeita, com atitudes perfeitas, que nunca desperta suspeitas. Um homem pomposo, requintado, elegante, influente, extremamente educado, que tinha nas mãos todos os seus negócios, todos os seus rivais e, principalmente, a polícia. Gus sempre estava um passo na frente de tudo e de todos, que mantinha um discurso com um alto poder de persuasão, se destacando como um líder, como um chefe, como um pastor de uma igreja, que tinha todos os seus féis e seus seguidores dentro do seu regime. Giancarlo Esposito está magnífico na pele do envolvente e poderoso Gustavo Fring.
Bob Odenkirk é muito hilário na pele do envolvente Saúl Goodman. Incrível como o Saúl é um personagem importante dentro de todo o contexto da história. Por mais que ele não esteja sempre no foco, mas ele ataca sempre na hora certa, sempre com bastante oportunismo, tanto pelo lado do Walter, quanto pelo lado da Skyler e do Jesse. O mesmo vale para o personagem do Jonathan Banks, que sempre mantém aquela postura de cão de guarda e braço direito do Gus. Porém, logo após ele ter sido baleado no México eu me questionei exatamente sobre essa questão, de parecer que o Gus não se importava com ele, que ele era apenas mais um empregado totalmente descartável.
Completando o elenco temos o RJ Mitte, o Walter Jr. Walter Jr. tem algumas participações pontuais e interessantes na temporada, como na parte que ele fica feliz com o pai por ter ganhado seu super carro, e logo após a revolta com a mãe por ter devolvido. Já a Betsy Brandt teve um crescimento notável na temporada passada e aqui ela mantém esse destaque. Marie volta a atacar de cleptomaníaca com suas histórias mentirosas.
Com a morte do Gus nessa temporada, que era o maior confronto com o Walter e seus planos, a quinta temporada abre um leque de possibilidades. Sem o Gus no caminho, Walter está teoricamente livre e com o caminho aberto para ir cada vez mais fundo com a sua ganância e com a sua ambição no mundo do tráfico e do enriquecimento ilegal. A sua ganância irá crescer, a sua ambição irá crescer, a sua motivação irá crescer, pela oportunidade de ser a única referência e dominar todo o negócio do tráfico de metanfetamina. Walter White está no topo e ele precisa se manter lá.
A quarta temporada de "Breaking Bad" se mantém no topo, se mantém cada vez mais importante e cada vez mais relevante dentro do contexto de toda a história. Agora é partir para a última temporada da série, que irá trazer o fechamento mais apoteótico e icônico da história das séries. [02/08/2023]
"A Estrada" é dirigido por John Hillcoat (diretor do bom "Os Infratores", de 2012) e escrito por Joe Penhall (um roteirista que também é pouco conhecido, cujo seu último trabalho foi em "Rei dos Ladrões", de 2018), baseado no romance de 2006 de mesmo nome de Cormac McCarthy. O filme é estrelado por Viggo Mortensen e Kodi Smit-McPhee como pai e filho em mundo pós-apocalíptico que foi destruído há mais de 10 anos, mas ninguém sabe o que exatamente aconteceu. Como resultado, não há energia, vegetação ou comida. Milhões de pessoas morreram, devido aos incêndios, inundações ou queimadas que se seguiram ao cataclisma.
Sobre o livro: Temos aqui uma obra que inicialmente parece ser muito interessante, pois a sinopse do livro vai te deixar muito curioso, principalmente se você gostar de temas como um mundo pós-apocalíptico. E realmente este é aquele típico livro que tem tudo para dar certo, pois a história parece ser muito boa, é uma temática que sempre me agrada, porém a forma como toda a história foi contada é simplesmente horrível.
Ao terminar o livro eu cheguei na conclusão que a história é desinteressante, é vaga, é rasa, não engrena, não te prende, parece que os personagens não avançam, parece que eles estão sempre andando em círculos. O tema fim do mundo poderia ter sido melhor explorado. O livro não possui capítulos, o que deixa a leitura ainda mais cansada. A falta de capítulos faz uma grande diferença na história que está sendo contada. Sem falar que a história acontece no meio do nada, pois não temos nenhuma localização, nenhuma noção de região, absolutamente nada mesmo.
A leitura não é boa, pelo contrário, é muito cansativa, monótona, enfadonha, desgastante e desinteressante. Os diálogos são vagos, sem sentido, pois chega a irritar o tanto de "Está Bem" que tem nas conversas entre o homem e o menino. A empatia com os personagens é zero, a química é zero, a nossa preocupação é zero. Em nenhum momento eu consegui me conectar com os personagens para assim poder sentir o peso daquele sofrimento, para que aquela história de fim do mundo realmente me abalasse. Definitivamente os personagens são todos desinteressantes.
O único momento em que eu fiquei abalado e incomodado durante toda a leitura...
Foi na parte onde o menino é o primeiro a encontrar um corpo de um bebê humano carbonizado e sem a cabeça sendo assado em uma fogueira. Ali me deu um nó na garganta e uma profunda tristeza. Mas também só ali, nem nos acontecimentos finais eu me senti impactado ou triste, que eu acredito ter sido o principal intuito.
"A estrada" foi um livro que me decepcionou muito, pois eu realmente achava que iria gostar da história, dos personagens, que ao final eu iria ficar impactado. Mas definitivamente nada disso aconteceu, pelo contrário, eu quase abandonei a leitura e fiquei aliviado quando o livro terminou.
Sobre o filme: Temos aqui uma obra melancólica, fria, devastada, cinzenta, densa, triste, onde nos mostra todo sofrimento e desolação de uma sobrevivência em um mundo pós-apocalíptico. Este é um dos principais pontos na história, a construção da última fagulha de esperança, de fé, de luta, de poder sobreviver em meio a todo caos e acreditar em uma possível civilização. É nesse fio de esperança que o pai se apega ao proteger e defender seu filho de todos os perigos, de todas as ameaças, de todas as catástrofes naturais. Sem falar que eles ainda precisam evitar os confrontos com as gangues de humanos selvagens, que também estão vagando e querem transformá-los em escravos ou uma coisa muito pior.
"A Estrada" é uma adaptação quase 100% fiel ao livro, pois muitas coisas e muitas passagens que você encontra no filme está no livro. Os diálogos são muito fiéis, os cenários são muito fiéis, a execução das cenas também são muito fiéis. Acredito que a principal diferença é o fato do filme em si ser mais melodramático em relação ao livro. Pois no filme temos um olhar mais dramático, uma construção acerca de cada acontecimento mais dramática. Já o livro é mais cruel, mais pesado, mais sofrido, principalmente naquela cena em spoilers que eu citei acima e que não tem no filme (ainda bem). Os personagens do livro também me parece ser mais sofridos e menos dramáticos, principalmente a figura do garoto. Também achei muito interessante aquele contraponto no filme mostrando os acontecimentos do passado, envolvendo a esposa grávida, com os fatos do presente. Tudo sendo revivido em uma espécie de sonho (ou pesadelo).
O principal acerto do longa-metragem é nos evidenciar sobre a fé, sobre a esperança, sobre a sobrevivência. É nos relatar sobre um elo de confiança entre pai e filho, um laço de amizade verdadeira, uma construção de um verdadeiro amor. "A Estrada" é um filme que está inserido na devastação, na desolação, em todos os tipos de sofrimentos de um mundo pós-apocalíptico, mas por outro lado é também um filme que nos ensina e nos comove com uma história sobre amadurecimento, esperança, fé e sobre as profundas relações entre um pai e seu filho.
Sobre o elenco principal: Viggo Mortensen ("Crimes do Futuro", de 2022) está muito bem ao representar a figura de um pai desolado, sofrido, desacreditado, mas que sempre mantém o amor e a esperança ao proteger seu filho de tudo e de todos. Kodi Smit-McPhee ("Ataque dos Cães", de 2021) estava com apenas 12 anos na época das filmagens. Devo dizer que ele até representa bem o garotinho do livro, talvez um pouco mais chatinho, mas como um todo está até aceitável. Charlize Theron ("Velozes & Furiosos 10", de 2023) traz a figura da esposa, que por sinal é uma figura bem enigmática e misteriosa. O diretor John Hillcoat quis expandir a sua personagem na história, tanto que ela tem um papel maior no filme do que no livro.
Sobre o elenco secundário: Michael K. Williams (falecido em setembro de 2021) faz o ladrão que rouba o carrinho de suprimentos na praia. Por sinal outra cena completamente fiel ao livro. Robert Duvall ("O Pálido Olho Azul", de 2022) faz Ely, um velho homem que aparece no caminho e que é ajudado pelo pai por insistência do filho. Robert Duvall está completamente irreconhecível. Irreconhecível está também o Guy Pearce ("Mare of Easttown", de 2021), que faz um veterano pai de família ao final da história. Molly Parker ("Pieces of a Woman", de 2021) é a esposa do veterano.
Tecnicamente o filme se destaca: O principal destaque é a fotografia, que remonta todo aquele cenário depressivo, desolado, destruído, onde o sofrimento e a sobrevivência andavam de mãos dadas. A trilha sonora também se sobressai, com um instrumental estridente, penetrante e inquietante. A direção de arte é outro grande acerto, por construir os devastados cenários pós-apocalípticos.
"A Estrada" alcançou 76% no ranking Fresh do Rotten Tomatoes, baseado em 167 revisões, e também alcançou um escore de 64/100 no Metacritic, baseado em 32 revisões. Inicialmente a ideia da produtora era fazer uma campanha visando possíveis indicações ao Oscar. Apesar disso, o filme não foi indicado à nenhum prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Ainda assim o longa obteve uma indicação ao BAFTA 2010 na categoria de Melhor Fotografia, que por sinal achei muito justo, já que este é um dos principais destaques do filme.
Infelizmente o livro "A Estrada" é muito ruim, facilmente um dos piores livros que já li este ano (e o livro ganhou o Prêmio Pulitzer em 2006). Em pensar que Cormac McCarthy (falecido no mês passado, em 13 de junho) é o autor da obra literária que foi baseado o magnífico "Onde os Fracos Não Têm Vez" (2007).
Por incrível que pareça e como um caso raríssimo, eu gostei mais do filme do que do livro, até pelo fato das atuações, cenários, trilha sonora e fotografia. Acredito que no audiovisual a obra funcionou melhor do que no livro. [29/07/2023]
É realmente impressionante o poder que esta série tem em nos surpreender e nos impactar em todas as temporadas. É absurdo como cada temporada de "Breaking Bad" é melhor do que a outra. É genial como tudo funciona impecavelmente na série, como o excelente roteiro, a magnífica direção, o elenco irretocável e as maravilhosas qualidades técnicas e artísticas. Um ponto que eu sempre gosto de destacar em cada temporada é sobre o crescimento e o desenvolvimento da série, do roteiro e principalmente de cada personagem. Eu considero este como o principal fator para toda relevância e magnitude da série em uma visão geral.
Esta terceira temporada de "Breaking Bad" é absurdamente "FODA" em todos os sentidos. Eu fico cada vez mais impressionado como tudo funciona bem dentro da temporada, como tudo se liga e se conecta com perfeição em cada contexto da história, como cada personagem tem o poder em nos fazer amá-lo ou odiá-lo assim em questão de segundos, como cada episódio complementa o outro, sendo extremamente necessário e não uma encheção de linguiça (nem mesmo o episódio da mosca).
A temporada já inicia com o pé na porta com o primeiro episódio, que por sinal é um dos melhores da temporada. Logo somos surpreendidos com aquele cenário no México muito curioso com aquele ritual das pessoas se arrastando no chão até um altar, que por sinal nesse altar contém uma foto do Sr. Walter (Bryan Cranston). E nesse episódio entra um ponto muito curioso da segunda temporada, que é justamente o fato de observarmos que a colisão dos aviões no céu de Albuquerque se deu pela negligência de Donald Margolis (John de Lancie) por estar visivelmente transtornado pela morte de sua filha Janne (Krysten Ritter). Este é o cenário do início da terceira temporada: Skyler (Anna Gunn) e Walter estão separados e ela quer pedir o divórcio. Jesse Pinkman (Aaron Paul) está passando por uma reabilitação internado em uma clínica. O Walter Jr. (RJ Mitte) muda totalmente o seu semblante, pois ele se sente excluído da família por não saber o porque do pai ter saído de casa, sendo que ele ama esse pai que na temporada passada o chamava de herói. Enquanto Hank Schrader (Dean Norris) continua com sua incontrolável obsessão pela captura de Heisenberg.
Um ponto muito interessante é justamente todos aqueles depoimentos na escola das pessoas sobre o acidente aéreo. É ai que vemos o Walter visivelmente incomodado e abalado, por ele pensar que indiretamente ele é o principal responsável por toda aquela tragédia, por ele ter permitido que a Jane morresse quando ele não fez absolutamente nada para salvá-la. E é ainda mais incrível e bizarro como o Walter sempre acha que as coisas ruins que acontecem sempre pode ter um lado positivo, como aquele seu intrigante discurso na escola, onde visivelmente deixou todos incomodados. Temos o ponto alto da temporada, que é justamente a cena do Walter revelando para a Skyler que ele é fabricante de metanfetamina. A partir daí Walter percebe que perdeu sua família e decide que quer dar um basta na produção de meta, porque ele não se vê como um criminoso.
Essa terceira temporada também serviu para integrar novos personagens na série, além de promover personagens secundários da temporada passada para o elenco principal. Este é o caso de Gus Fring (Giancarlo Esposito), que surpreende todos nós e ao Walter quando ele aparece com aquela proposta de 3 milhões por 3 meses de trabalho para ele, o que logo deixa o Walter completamente perturbado. Sem falar naqueles dois primos do Tuco (Raymond Cruz), Leonel Salamanca (Daniel Moncada) e Victor (Jeremiah Bitsui), que são completamente tomados pelo mistério e pela sede de vingança. Além da reaparição do Tio Salamanca (Mark Margolis), que é resgatado do asilo pelos sobrinhos.
A temporada segue nos surpreendendo ao nos revelar aquela cena no México nos mostrando como se deu aquela icônica cena da temporada passada, que é a cabeça do Tortuga (Danny Trejo) em cima da tartaruga. Outra cena emblemática é justamente quando o Walter conta para a Skyler sobre tudo que ele fez para levantar o dinheiro pensando no bem estar de sua família, que obviamente é ilegal. Por outro lado somos impactado com o Jesse ligando no celular da Jane somente para ouvir a gravação da voz dela. Ele realmente está inconsolado e por isso resolve voltar para a fabricação de metanfetamina.
Um dos pontos alto dessa terceira temporada está no desenvolvimento do Hank. Pois ele passa a tomar uma nova postura sobre as ordens que recebe em seu departamento, como no caso daquela recusa em ir para uma nova missão em El Paso (Texas) só para ficar no rastro do Heisenberg. Nessa parte temos uma sequência de cenas emblemáticas, que é a partir da cena da perseguição do Hank ao Jesse até o trailer, onde ele quase captura não só o Jesse mas também o Walter. Logo após temos aquela falsa notícia sobre de saúde da Marie (Betsy Brandt), o desespero do Hank e a destruição do lendário trailer.
O sétimo episódio é o meu preferido da temporada, que é justamente o episódio de crescimento e desenvolvimento do Hank. Eu vejo um crescimento absurdo do personagem, exatamente por ele sair daquela postura de agente certinho da DEA ao ir confrontar e espancar o Jesse. Hank está perdendo todo o seu controle de policial pela obsessão em chegar no Heisenberg. Aquela cena do tiroteio dos primos contra o Hank no estacionamento é sensacional, colossal, apoteótica. Sem dúvida é uma das melhores cenas de toda a história de "Breaking Bad".
O décimo episódio é um dos episódios mais contestado e mais polêmico de toda a temporada e toda a série. Muitos consideram o episódio como um completo filler - o famoso encheção de linguiça. Eu já vejo o episódio da mosca por outro lado, por uma outra perspectiva. Eu vejo como um episódio extremamente marcante e importante em toda a trajetória da série, principalmente por representar toda a culpa que o Walter carrega nas costas por suas decisões. Decisões como entrar para o mundo do tráfico ao decidir trabalhar criando sua própria metanfetamina, e principalmente a decisão em deixar a Jane morrer para teoricamente salvar seu parceiro Jesse. Eu acredito que a mosca é uma alusão para toda essa culpa que o Walter decidiu carregar, e justamente pela representação da mosca em ser um inseto que incomoda, que aborrece, que desafia, sendo exatamente a atual situação que o Walter se encontra com sua mente, se incomodando e se aborrecendo com seu remorso e seu sentimento de culpa. Toda aquela luta ali naquele laboratório não era do Walter com uma simples mosca que o estava incomodando, mas sim uma luta travada com sua mente, com esse sentimento pesando em suas costas. Não existe nada mais pesado do que um remorso, um sentimento de culpa, essa era a contaminação que o Walter dizia para o Jesse que a mosca estava fazendo naquele ambiente. Eu achei um episódio importante, marcante, poético, comovente, reflexivo e extremamente necessário para todo o contexto da série. Sem falar naquela cena em que o Walter pede desculpas para o Jesse pelo o que ele fez com a Jane, mas indiretamente, sem o Jesse realmente perceber sobre o que ele estava falando. O episódio 10 é fenomenal!
Bryan Cranston e Walter White já virou uma única pessoa, isso é fato. Toda aquela mudança de postura e personalidade que observamos acontecer na temporada anterior aqui está cada vez mais aflorada. Walter já está totalmente imergido no seu lado sombrio, ambicioso, incontrolável e assassino. Só observarmos por exemplo aquela cena em que ele atropela os traficantes e depois atira contra o outro a queima roupa. Bryan Cranston é incontestavelmente um dos melhores personagens de séries de todos os tempos!
Falando dessa cena apoteótica em que o Walter atropela e mata os traficantes, temos mais uma interpretação monstruosa do Aaron Paul. Paul é outro que já está completamente encarnado no Jesse, e desde a temporada passada que vemos todo o seu crescimento e todo o seu desenvolvimento, principalmente no que diz respeito a sua dramaticidade em cena. Já nessa temporada ele vai ainda mais além, ao mostrar todo o seu descontrole, toda a sua raiva, tomado pelo sentimento de culpa e de vingança. Uma apresentação completamente impecável de Aaron Paul.
Que a Anna Gunn interpreta a personagem mais "ame ou odeie" da série, isso sempre foi incontestável. Porém nessa temporada a Skyler ultrapassa todos os limites e chuta o balde sem dó. Eu sempre achei muito curioso todo o hater que se criou em volta da Skyler, e até confesso que nunca concordei mas também nunca discordei. Já nessa temporada é difícil defendê-la, até porque todas as atitudes que ela toma é contestável: primeiro ela se separa do Walter alegando que ele mente muito para ela (ok, eu entendo). Depois ela quer o divórcio e exige que o Walter não more mais em casa o distanciando de seus filhos. Depois que ela fica sabendo que o Walter fabrica metanfetamina ela o condena de todas as formas e ameaça denunciá-lo. Logo após ela decide trair o Walter transando com seu chefe e ainda vai como uma sínica contar a traição para o próprio Walter, como um engrandecimento do seu próprio ego. Já depois ela inventa toda aquela história de que o Walter é viciado em jogos e ganhou uma bolada, como uma forma para ajudar financeiramente a Marie com as despesas do tratamento do Hank. Depois ela já encabeça na organização da lavagem de dinheiro, induzindo o Walter a comprar o lava-rápido que ele trabalhou e ainda colocá-la como contadora da empresa. O maior problema da Skyler é ser dúbia, mau-caráter, julgadora, querer ser a dona da verdade, quando na verdade ela não olha para o próprio "rabo" com suas atitudes. A Skyler condena o Walter pela decisão da fabricação de metanfetamina, que sim é errado, mas ela própria é conivente com a falsificação e a sonegação da empresa do Ted (Christopher Cousins), seu chefe/amante. As decisões e as atitudes do Walter são erradas, mas a Skyler é a última pessoa no planeta que teria moral para julgá-lo.
RJ Mitte volta a ter uma certa relevância na série com seu personagem Walter Jr. É interessante a forma fria que ele passa a tratar a Skyler pela sua decisão em afastá-lo do pai. Com isso ele se revolta sem saber os reais motivos. Ótima apresentação de RJ Mitte.
Dean Norris é estratosférico, magnífico, completamente impecável nessa temporada! Por tudo que eu já destaquei do seu personagem Hank mais acima, ele sobe cada vez mais de patamar dentro da série. Dean Norris é aquele ator perfeito para o personagem perfeito, isso é inegável!
Betsy Brandt finalmente volta a ter um destaque e uma relevância nessa temporada, visto que na anterior ela ficou bem escanteada. Após os acontecimentos envolvendo o Hank, a Marie toma para si todo o protagonismo desse caso e nos mostra uma ótima atuação mesclando sua veia dramática e cômica. O que dizer daquela cena em que ela tem a melhor estratégia para tirar o Hank do hospital; que é apostar que ela conseguiria fazer ele ter uma ereção. A cara do Hank saindo da sala na cadeira de rodas com a caixa de flores no colo é completamente impagável.
Na temporada passada eu comentei sobre a introdução na série de três figuras completamente icônicas em todo o universo de "Breaking Bad". Que são os atores Bob Odenkirk, Giancarlo Esposito e Jonathan Banks, que interpretam Saul, Gus e Mike. Nessa terceira temporada todos os três foram promovidos para o elenco principal da série. Giancarlo Esposito traz o todo poderoso, o big boss, o manda-chuva Gus, que tem uma voz suave, uma postura sisuda e um discurso imponente, mas que esconde todo o seu poder e o seu lado mais letal. Bob Odenkirk traz o charme e a pompa do Saul Goodman, aquele advogado engraçado e que sempre está tentando passar uma certa confiança mas sempre falha. Jonathan Banks traz o Mike, que mescla seu lado de homem de confiança e braço direito, com o seu lado improvável de pai.
O último episódio da temporada é uma verdadeira montanha-russa de sentimentos. Pois é nele que temos todo mistério do Gus em relação ao que irá acontecer com o Walter. Também temos um certo protagonismo do Gale (David Costabile) em relação a sua provável (ou não) promoção no laboratório do Gus. Com isso cria-se um ambiente completamente instável tanto para o Walter quanto para o Jesse, que tem que obedecer uma ordem direta do próprio Walter em relação à vida do Gale. O décimo terceiro episódio da terceira temporada de "Breaking Bad" termina exatamente com um disparo do Jesse contra o Gale.
Por fim, a terceira temporada de "Breaking Bad" é incontestavelmente impecável! Aquela temporada perfeita em todos os sentidos e em todos os requisitos, que eleva o nível da série cada vez mais. Não é à toa que eu considero "Breaking Bad" como a melhor série de todos os tempos. Vince Gilligan eu te amo! [17/07/2023]
Hiya, Barbie Hi, Ken You want to go for a ride? Sure, Ken Jump in I'm a Barbie girl, in the Barbie world Life in plastic, it's fantastic You can brush my hair, undress me everywhere Imagination, life is your creation Come on, Barbie, let's go party I'm a Barbie girl, in the Barbie world Life in plastic, it's fantastic You can brush my hair, undress me everywhere Imagination, life is your creation I'm a blonde bimbo girl in a fantasy world Dress me up, make it tight, I'm your dolly You're my doll, rock'n'roll, feel the glamour in pink Kiss me here, touch me there, hanky panky You can touch You can play If you say, "I'm always yours" (ooh, oh) I'm a Barbie girl, in the Barbie world Life in plastic, it's fantastic You can brush my hair, undress me everywhere Imagination, life is your creation Come on, Barbie, let's go party (ah ah ah yeah) Come on, Barbie, let's go party (ooh oh, ooh oh) Come on, Barbie, let's go party (ah ah ah yeah) Come on, Barbie, let's go party (ooh oh, ooh oh) Make me walk, make me talk, do whatever you please I can act like a star, I can beg on my knees Come jump in, bimbo friend, let us do it again Hit the town, fool around, let's go party You can touch You can play If you say, "I'm always yours" You can touch You can play If you say, "I'm always yours" Come on, Barbie, let's go party (ah ah ah yeah) Come on, Barbie, let's go party (ooh oh, ooh oh) Come on, Barbie, let's go party (ah ah ah yeah) Come on, Barbie, let's go party (ooh oh, ooh oh) I'm a Barbie girl, in the Barbie world Life in plastic, it's fantastic You can brush my hair, undress me everywhere Imagination, life is your creation I'm a Barbie girl, in the Barbie world Life in plastic, it's fantastic You can brush my hair, undress me everywhere Imagination, life is your creation Come on, Barbie, let's go party (ah ah ah yeah) Come on, Barbie, let's go party (ooh oh, ooh oh) Come on, Barbie, let's go party (ah ah ah yeah) Come on, Barbie, let's go party (ooh oh, ooh oh) Oh, I'm having so much fun Well, Barbie, we're just getting started Oh, I love you, Ken
Essa música deveria ser a música-tema da versão original. 😂🤣😅
Sou a Barbie Girl Cantora: Kelly Key Álbum: Kelly Key Ano: 2005
Gabily, Kelly Key Sou a Barbie girl Se você quer ser meu namorado Fica ligado Presta atenção na minha condição É diferente, sou muito exigente Sou assim, uma flor delicada demais Minha cor preferida é o rosa Uma loira legal e que sabe o que quer Decidida, fatal, mas dengosa Você pode me ganhar É só fazer o que eu mandar Você pode me ganhar É só fazer o que eu mandar Sou a Barbie girl Se você quer ser meu namorado Fica ligado Presta atenção na minha condição É diferente, sou muito exigente Deixa eu me arrumar, Ken Já vou, já vou Deixa eu me arrumar, Ken Já vou, já vou Se eu pedir uma estrela, você vai buscar O meu jeito é assim, não reclama Se eu quiser, bato o pé, e vai ter que aceitar Só assim vou saber que me ama Você pode me ganhar É só fazer o que eu mandar Deixa eu me arrumar, Ken Já vou, já vou Deixa eu me arrumar, Ken Já vou, já vou Sou a Barbie girl Se você quer ser meu namorado Fica ligado Presta atenção na minha condição É diferente, sou muito exigente Sou a Barbie girl Se você quer ser meu namorado Fica ligado Presta atenção na minha condição É diferente, sou muito exigente Deixa eu me arrumar, Ken Já vou, já vou Deixa eu me arrumar, Ken Já vou, já vou
Já essa aqui deveria ser a música-tema da versão brasileira.😂🤣😅
"Misery" é dirigido por Rob Reiner ("Questão de Honra", de 1992), baseado no romance homônimo de Stephen King de 1987, estrelado por James Caan e Kathy Bates. A trama gira em torno de uma fã obsessiva que mantém um autor cativo e o obriga a reescrever o final de sua série de livros favorita.
Sobre o livro: Novamente eu sou impactado com uma leitura avassaladora, imersível, misteriosa, claustrofóbica, intrigante. Uma obra que nos ganha justamente pela construção do drama, do suspense, do horror psicológico, da tensão que é criada e bem administrada principalmente nos primeiros capítulos do livro. Pois este é o ponto-chave dessa belíssima obra literária do mestre king, o seu poder de ir dosando o mistério, o suspense, a curiosidade, de criar todo um universo com um alto nível de tensão, que nos prende e nos envolve justamente nos momentos que antecedem toda selvageria e toda psicopatia de Annie Wilkes.
Por outro lado, como já é de praxe nas obras do mestre King, a história tem um ritmo e um desenvolvimento lento, ficando até arrastada em algumas partes, e sendo extremamente bem detalhada em outras - principalmente nas partes que tínhamos que ler "O Retorno de Misery" com a escrita faltando as letras "N", "T" e "E". Esta parte do livro com certeza foi uma forma do mestre King para nos imergir cada vez mais na mesma dificuldade e na mesma tortura de Paul Sheldon. Ou seja, nos colocar no mesmo ambiente e no mesmo universo do autor durante as constantes ameaças de Annie Wilkes.
"Misery" é mais uma excelente obra literária do mestre King. Não chega a ser uma obra-prima como "O Iluminado", que pra mim é disparado o meu livro preferido da bibliografia do King, mas é uma obra contundente, marcante, gloriosa e com um final apoteótico.
Para quem já leu alguns dos seus livros e já conhece o estilo da abordagem que o mestre king geralmente traz em suas obras, com certeza já está mais do que familiarizado com a sua escrita e a sua forma de contar suas histórias. Que na maioria das vezes é bem detalhada e com um desenvolvimento mais lento. Agora para quem está lendo King pela primeira vez, ou não conhece o autor, com certeza estranhará e sentirá a leitura cansativa em algumas partes. Eu como um eterno fã do mestre, já li várias das suas obras e já estou mais do que acostumado com a sua escrita, pois Stephen King é justamente o meu autor preferido da vida.
Sobre o filme: "Misery" é uma boa adaptação de uma obra literária do mestre King, onde o próprio afirmou que "Misery" é uma de suas dez principais adaptações favoritas de filmes, em sua coleção "Stephen King Goes to the Movies". Apesar de não ser uma adaptação 100% fiel (o que é mais do que normal) e possuir inúmeras diferenças, até cruciais em relação ao livro, que destacarei mais à frente.
Um dois maiores acertos do longa-metragem é construir exatamente o mesmo clima inicial do livro, que é o crescimento gradativo da tensão, do medo, da aflição, do drama, do mistério e consequentemente de todo o suspense. Esse é o principal diferencial para conseguir inserir o espectador cada vez mais naquele universo que inicialmente é totalmente normal, que é apenas uma ex-enfermeira resgatando e cuidando de um paciente gravemente acidentado. Mas é aí que entra algumas perguntas cruciais: será que, de acordo com o livro de Paul Sheldon, se a personagem Misery Chastain não tivesse morrido durante o parto os gatilhos de loucura e insanidade de Annie Wilkes não seriam ativados após ela descobrir? Seria Annie uma admiradora do Paul ou da Misery?
Nesse ponto temos uma ótima abordagem sobre o fanatismo, a obsessão, o ciúme doentio, o admirador extremista e o fã alucinado. Annie Wilkes se autodenomina como a fã número 1 de Paul, nesse caso inconscientemente ela acredita ter poderes sobre seu artista e poder ditar as suas crenças, as suas decisões e os seus objetivos. Ou seja, Annie passa a delegar arbitrariamente o próprio livre-arbítrio de Paul, uma vez que ela o salvou da morte e o mantém como refém em sua casa.
Assim como em "O Iluminado", aqui também temos um estudo de uma mente humana deturpada, doentia, sádica, uma verdadeira aula de psicanálise e uma análise do surto psicótico. Ou seja, mais uma vez o mestre King cria um personagem emblemático, icônico, nos mesmo moldes do Jack Torrance, que nos expõe justamente a sua confusão mental, a perda da sanidade, a perda do equilíbrio emocional, delírios, alucinações, catatonia, alteração de humor, com um estado mental e espiritual atormentado, chegando à uma completa loucura. Essa era a Annie Wilkes, a fã número 1 de Paul, o puro suco da loucura e do sadismo. Annie Wilkes é o Jack Torrance de saia!
Kathy Bates (eterna Molly Brown do melhor romance da história do cinema, "Titanic") é mais do que protagonista, é mais do que estrela, ela rouba a cena em todas as suas aparições, conseguindo maior destaque e maior relevância que o próprio Paul Sheldon de James Caan. Kathy emprega um olhar frágil, vulnerável, com um rosto angelical, onde ninguém sequer imaginaria que por trás daquele olhar devoto e compenetrado se esconde uma figura sádica e psicopata. Este é o ponto alto da interpretação de Kathy como Annie, exatamente a sua transformação, expondo a sua irritação, onde sua face muda, sua expressões mudam, seu semblante muda, indo diretamente da sua fragilidade à loucura, de um simples olhar doentio à devoção completa, que logo contrasta com todo seu fanatismo, loucura, obsessão e alienação. Kathy Bates ficou marcada pela sua excelente atuação de Annie Wilkes, assim como o Jack Nicholson também ficou marcado pelo icônico Jack Torrance. O próprio mestre King ficou impressionado com interpretação de Kathy Bates que ele chegou a escrever um outro texto diretamente para ela, se inspirando especificamente nela, que podemos encontrar no livro "Dolores Claiborne", que depois foi adaptado no filme " Eclipse Total" (1995). E o trabalho de Kathy Bates foi tão avassalador, tão apoteótico, tão impecável, que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz no Oscar de 1991, derrotando simplesmente Meryl Streep por "Lembranças de Hollywood" e Julia Roberts por "Uma Linda Mulher", tornando "Misery" como o único filme baseado em um romance de Stephen King a ganhar um Oscar, e Kathy como a primeira a ganhar um Oscar de melhor atriz pelo desempenho em um filme de suspense.
O lendário James Caan (falecido em julho de 2022) na época já era um veterano consagrado, que já tinha sido indicado ao Oscar pelo icônico Sonny Corleone em "O Poderoso Chefão" (1972). Aqui James Caan dá um verdadeiro show, com um destaque fenomenal sendo o escritor Paul Sheldon e principalmente ao contracenar com a Kathy Bates. Incrível como James consegue nos impactar com sua atuação que na grande maioria é feita unicamente deitado na cama. Realmente tem que ter uma grande experiência, um grande estofo, para não cair na pieguice, no marasmo e não soar melodramático demais, exagerado demais. E definitivamente isso não acontece com James Caan, pois ele emana carisma e empatia, que nos faz torcer por ele, se preocupar com ele, sofrer junto com ele. Verdadeiramente James Caan foi impecável e irretocável como Paul Sheldon. E olha que inicialmente Jack Nicholson foi inclusive convidado a interpretar Paul Sheldon, mas não aceitou. Isso me leva a pensar: imagina uma cena com Jack Torrance e Annie Wilkes juntos no mesmo ambiente? Isso com certeza abalaria a órbita terrestre.
Comparações entre filme e livro: A forma como inicialmente o filme transcorre, entre aquele contraponto da Annie com o Paul em sua casa, com a busca do Xerife pelo desaparecimento do Paul após a denúncia de sua agente sobrevoando de helicóptero a casa da Annie. Tudo isso é diferente do livro.
O legal que se atentaram bem aos mínimos detalhes: como o próprio carro do Paul, a Cherokee da Annie e a Máquina de escrever da marca Royal. São detalhes simples mas que fazem uma diferença na fidelidade da adaptação.
Annie diz que Paul deu o seu nome em seu novo livro para o coveiro. No livro Paul dá o nome da Annie para uma das enfermeiras presentes no parto da Misery Chastain.
No livro não existe nenhum jantar comemorativo para celebrar a volta de Misery Chastain. Tampouco no livro o Paul não coloca o pó do remédio na taça de vinho da Annie. Ele até pensa nessa ideia, mas ele não leva adiante justamente por achar que a Annie desconfiaria do gosto por ter os remédios. Mas até que a execução dessa cena, com a Annie batendo na taça de vinho e derramando na mesa, foi muito boa.
No livro temos a escrita na máquina faltando as letras "N", "T" e "E". Já no filme a própria Annie diz que ela se propõe a concertar os "Nn", mas quando temos um foco por cima da máquina podemos observar que tanto o "N" quanto as outras letras estão lá. Um grave erro de continuidade no filme.
No livro a Annie usa um machado para cortar um dos pés de Paul, no filme ela usa uma marreta somente para quebrar seu pé. No livro Annie corta o polegar do Paul, isso não existiu no filme, pois ele termina com todos os seus membros.
Toda essa parte do Xerife, em buscar informações do passado da Annie e confrontar suas falas com o livro do Paul, não existe no livro. Tampouco o Xerife ser o primeiro que vai na casa da Annie atrás do Paul, pois no livro o primeiro a ir em busca do Paul na casa da Annie é um jovem policial, que ela acaba o matando com uma cruz e o cortador de gramas. Já no filme a Annie mata o Xerife com um tiro de espingarda pelas costas quando ele descobre a presença de Paul no porão.
O final é diferente do livro em algumas partes: No livro Paul coloca fogo nas partes do livro depois que a Annie retorna com uma garrafa de champanhe e não uma taça como no filme. No livro ele acerta ela com a máquina de escrever nas costas e não na cabeça. No livro ela não dá aquele tiro no ombro dele e não existe toda aquela luta, com ele cravando os dedos em seus olhos, muito menos aquela rasteira com a Annie caindo com a cabeça na máquina. No livro ela escorrega na poça de champanhe no chão e cai de cara nos cacos de vidro da garrafa.
No livro policiais chegam na casa da Annie e resgatam o Paul e descobrem que Annie não estava morta no chão, como o próprio Paul havia informado. Depois eles descobrem que ela conseguiu sair da casa e foi em direção do celeiro, morrendo lá dentro pela grande perda de sangue. Já no filme temos aquela luta final do Paul com a Annie e depois já corta pra cena atual, com ele no restaurante com sua agente e tendo visões da Annie.
No geral é uma boa adaptação, mesmo com várias partes que não existem no livro e que foram uma liberdade criativa no roteiro do filme. Porém, uma coisa é inegável: o livro é muito mais sangrento, mais perturbador, mais violento, mais inquietante, mais sombrio, possui mais gore, além de criar muito melhor o clima de tensão, de aflição e do suspense que se instala em cada página da história. Sendo bem sincero: eu fiquei mais aflito, mais incomodado e mais tenso lendo o livro do que assistindo o filme.
O mesmo vale para a Annie Wilkes do livro, que sim, ela é muito mais perversa, mais sádica, mais perturbada, mais violenta, mais descontrolada, mais debochada, mais letal, mais insana, mais sangrenta, além de expor uma tortura absurdamente maior em Paul Sheldon. Pois só de pensar nas páginas do livro onde ela tortura o Paul ao cortar o seu pé com o machado e seu dedo com uma faca, é muito mais aterrorizante que no filme (além daquela parte em que ela tortura o jovem policial com as inúmeras estacadas com a cruz em suas costas, e que não existe no filme). Se você achou pesada aquela cena em que ela quebra o pé do Paul com a marreta, no livro o peso das torturas estão há anos-luz do filme. É só lembrar que no filme o Paul termina praticamente ileso, apenas com algumas dificuldades para andar. Já no livro o Paul termina completamente estropiado, sem um pé e sem um dedo.
Tecnicamente o filme é muito bem destacado e representa muito bem a grandeza de cada detalhe. Como a própria trilha sonora de Marc Shaiman, que ditou perfeitamente o ritmo da agonia e da aflição daquelas cenas mais contundentes. A fotografia é muito bem alocada, trazendo aquele contraponto entre os cenários de neve com a casa da Annie. O mesmo vale para a direção de arte, que soube compor cenários específicos e bem fiéis com a obra original.
"Misery" arrecadou US $ 10.076.834 em seu primeiro final de semana, terminando em segundo nas bilheterias somente atrás do clássico "Esqueceram de Mim" (1990). O longa acabou eventualmente com US $ 61 milhões no mercado interno, sendo considerado como um sucesso de bilheteria.
Além do prêmio inédito de Melhor Atriz para a Kathy Bates no Oscar de 1991, ela também foi indicada no Globo de Ouro daquele mesmo ano.
No Rotten Tomatoes, o filme tem uma classificação de 90%, com base em 67 críticas, com uma classificação média de 7,55 / 10. É o quarto filme baseado em um livro do mestre king com maior aprovação no site. No Metacritic, que atribui uma classificação média ponderada às críticas, o filme tem uma pontuação de 75 com base em 23 críticos. O público entrevistado pela CinemaScore atribuiu ao filme uma nota média de "A-" na escala A+ a F.
Em 2003, Annie Wilkes ficou em 17º lugar na lista de 100 anos dos 100 heróis e vilões da AFI (American Film Institute). A cena "mancando" no filme, na qual Annie quebra os tornozelos de Paul com uma marreta, ficou em 12º lugar no programa de 2004 da Bravo, "The 100 Scariest Movie Moments". Em 2009, Chris Eggertsen de Bloody Disgusting classificou "Misery" em quarto lugar em sua lista de "10 filmes de terror claustrofóbicos".
Sendo assim eu concluo que "Misery" é um ótimo suspense psicológico, que consegue nos deixar incomodado, tenso e assustado, e logo após nos confronta com toda demonstração de loucura, obsessão, fanatismo e alienação. Além de ir ainda mais longe ao nos impactar com cenas com um nível de sadismo e psicopatia absurda. Aquele clássico gênero cativeiro totalmente inserido no clássico terror psicológico.
Como já mencionei anteriormente, "Misery" é um boa adaptação, não está entre as melhores, mas mantém o nível de qualidade, respeito e essência da obra literária, que obviamente é mais detalhada e mais abrangente na história como um todo. [15/07/2023]
Velozes e Furiosos 10 (Fast X / Fast & Furious 10) 2023
"Velozes e Furiosos 10" é dirigido por Louis Leterrier a partir de um roteiro escrito por Dan Mazeau e Justin Lin, ambos os quais também co-escreveram a história com Zach Dean. É a sequência de "Velozes e Furiosos 9" (2021), o décimo filme da franquia principal e a décima primeira parcela geral da franquia "Velozes e Furiosos". No filme, Dominic Toretto (Vin Diesel) deve proteger sua família de Dante Reyes (Jason Momoa), que busca vingança pela morte de seu pai e pela perda da fortuna de sua família.
Desde 2014 que foi confirmado que a franquia "Velozes e Furiosos" teria um décimo filme, logo esse décimo filme faria parte de uma nova trilogia iniciada em Velozes 8 e 9, além do décimo filme ser o último da trilogia porém dividido em duas partes, que será "Velozes e Furiosos 11", já confirmado para 2025. Sendo assim, temos aqui os capítulos finais de uma das franquias globais mais famosas e populares da história dos blockbusters e do cinema, que já está em sua terceira década e ainda com o mesmo elenco. Será que realmente a saga "Velozes e Furiosos" estará mesmo chegando ao seu final? Ou será que ainda teremos novas trilogias, novos filmes, se alongando até "Velozes e Furiosos 25"? De fato isso é uma possibilidade.
Novamente estou eu aqui de novo para falar que sou um fã da franquia "Velozes e Furiosos" desde os seus primórdios. Ou seja, desde o lendário roubo de carga de DVD's lá em 2001. Hoje, após 3 décadas de existência da franquia, tudo mudou, várias coisas se perderam na saga e outras foram ficando pelo caminho. São 22 anos de existência entre altos e baixos, entre trancos e barrancos, entre acertos e erros, entre várias mudanças que a franquia sofreu ao longo dos anos, além, é claro, a inesquecível e dolorosa perda de Paul Walker. Realmente a franquia sempre precisou se reinventar, renovar, se adequar aos novos tempos e às novas gerações. Para uma franquia durar tanto tempo como "Velozes e Furiosos", é óbvio que mudanças sempre seriam necessárias. É impossível uma saga durar tanto tempo, fazer tanto sucesso de bilheterias, se mantendo exatamente da forma que começou há mais de 20 anos atrás.
Primeiro vou contextualizar: É óbvio que "Velozes e Furiosos" já me cansou com o rumo que a série tomou ao longo dos anos, e já confessei que sim, que a franquia "Velozes e Furiosos" já deveria ter acabado há muitos anos. Porém, se eu assisto "Velozes e Furiosos" até hoje é porque alguma coisa ainda me atrai, é porque ainda consigo gostar do elenco e do pouco da essência de "Velozes e Furiosos" que ainda resta nos filmes. Então não adianta eu assistir os filmes e depois reclamar que são galhofas, que são mentirosos, que são forçados, que é uma porcaria. O fato é, se você vai assistir "Velozes e Furiosos" você já sabe o que esperar, você já sabe que são produções galhofas, pastelonas, despretensiosas, descompromissadas com a realidade, que o único intuito é divertir e entreter. Então é simples: ou você assisti com o senso crítico desligado e aceita a proposta que o filme te entrega, ou simplesmente você não assiste - você tem esta opção. Esta é minha opinião e ponto final!
Um ponto que me chama muito a atenção na franquia "Velozes e Furiosos" é exatamente a forma como eles escrevem os roteiros de cada filme. Por exemplo: a franquia iniciou lá no início dos anos 2000, foi fazendo fama, ganhando público, conquistando milhares de fãs ao redor do mundo. Ou seja, fatalmente ganharia novos filmes, novas continuações e novos roteiros deveriam ser pensados. O fato é, quando se tem muitos filmes de uma única franquia, fica cada vez mais difícil escrever um roteiro inteligente e coerente com toda a história. E "Velozes e Furiosos" é exatamente isso, que é o fato de sempre tirarem uma história de dentro de outra história dos filmes passados. Sempre vai aparecer um irmão, um primo, um tio. Sempre alguém é irmão de alguém, sempre alguém é filho (filha) de alguém. Chega ser cômico e bizarro!
"Velozes e Furiosos 10" é exatamente dessa forma, pois aqui temos a inclusão do filho de Hernan Reyes (Joaquim de Almeida) lá de "Velozes e Furiosos 5: Operação Rio". Mais curioso ainda (e bem forçado por sinal) é toda construção que inventaram para nos fazer acreditar nessa possibilidade, que é o fato do Dante já estar presente naquela cena do roubo do cofre e na ponte. Ok né! Tudo bem! Algo para mostrar tipo: "Olha ele sempre esteve lá, ok! Não estamos inventando nada. Tem coerência." Tá, sei! Mas confesso que foram competentes em criarem novas cenas com os novos personagens mesclando com as cenas do filme de 2011.
Por falar em Dante Reyes, Jason Momoa é uma excelente integração no elenco, algo que eu não via acontecer no elenco desde a entrada do Dwayne Johnson lá em 2010. Se formos falar de vilões, Momoa trouxe o que pra mim é o melhor vilão de toda a história da franquia "Velozes e Furiosos". E aqui temos um ponto bastante interessante na construção e desenvolvimento do vilão Dante, que é o fato dele ser diferente dos outros antagonistas como Deckard Shaw (Jason Statham), Cipher (Charlize Theron) e Jakob (John Cena). Ou pelo menos a sua ambição não é ser o superior de todo o universo, querer dominar o planeta, pois sua principal motivação é simplesmente fazer o Dom sofrer pela perda do seu pai e todo o dinheiro de sua família. E como ele fará este sofrimento? Atacando justamente o que o Dom mais preza na vida, que é sua eterna família.
Outro ponto interessante na construção da motivação do vilão Dante, é exatamente o questionamento que ele faz ao Dom, sobre ter uma grande família e em algum momento não poder (ou não conseguir) salvar ou proteger todo mundo. Baseado nesse questionamento: Jason Momoa incorpora um vilão excêntrico, sádico, extravagante, cínico, lunático, irreverente, sem limites, sem escrúpulos, com a única intenção de instaurar o caos e o sofrimento para conseguir a sua vingança contra Dominic Toretto e sua família (principalmente seu filho). É realmente incrível a interpretação do Jason Momoa de um vilão cruel, caricato, sedento por vingança, com aquele comportamento psicótico que me remete diretamente ao Coringa. Jason Momoa é disparado o melhor acontecimento de "Velozes e Furiosos 10".
Vin Diesel é mais do mesmo. Imortalizado no papel da sua vida - Dominic Toretto. Michelle Rodriguez teve participações pontuais no filme. Foi interessante aquele protagonismo feminino que ela teve juntamente da vilã (ou ex-vilã, não sei) Charlize Theron. Tyrese Gibson e Chris "Ludacris" Bridges também são o mais do mesmo. Essa sempre perspectiva deles serem o alívio cômico dos filmes o defasaram demais. Já não tem mais a mesma graça de antigamente. O mesmo também vale para a Nathalie Emmanuel, que também não tem mais a mesma relevância de antigamente. Jordana Brewster já foi uma personagem relevante no contexto da história. Hoje em dia ela está cada vez mais escanteada. E aqui comprovamos exatamente isso quando ela é completamente esquecida pelo roteiro. O mesmo vale para o Jason Statham e o Sung Kang, que também já estiveram em melhores posições de relevância dentro da franquia. John Cena me surpreendeu positivamente nesse filme, visto seu claro e notável crescimento no personagem em relação ao "Velozes e Furiosos 9". Brie Larson estava ali apenas para se divertir (ou por sua vontade própria de entrar para a franquia "Velozes e Furiosos"). Ela foi aquela típica personagem que não fez diferença em nada, que aparece no começo e reaparece no final, e só. Completando o elenco com Scott Eastwood, Michael Rooker, Helen Mirren, Daniela Melchior, Alan Ritchson, Rita Moreno e Cardi B. Ah, e não podemos esquecer da não menos importante Ludmilla (kkk). Confesso que eu não achei assim tão terrível a sua participação de garota da largada. Achei até aceitável dentro da proporção de uma corrida no Rio de Janeiro, mas não precisava daquele: "Cheeeeeguei!!!" (kkk)
Preciso destacar aquela cena na garagem logo no início, onde o Dom observa várias fotos do seu passado e de sua família, inclusive fotos icônicas dele junto com o Brian (Paul Walker). Nessa mesma cena a personagem da Rita Moreno (que foi escalada como a avó de Dom) o conforta com palavras. Uma bela cena com o instrumental da canção "See You Again" de fundo. Claramente podemos observar que nessa cena não era o Dominic Toretto ali, mas sim o próprio Vin Diesel se emocionando. Esta cena foi real, não foi uma atuação.
Agora uns pontos curiosos que eu me pergunto durante o filme:
Se tínhamos aquele filho do vilão lá de 2011 insaciável por vingança, porque demorou tanto para aparecer? Estava reunindo forças?
Qual o sentindo (ou motivo) em mudar o filho do Toretto? Será que não seria o caso de pedirem um exame de DNA no Ratinho?
E esta velha mania dos vilões dos filmes anteriores ajudarem nos próximos?
E esta velha mania de reviverem os mortos? Quando utilizaram as "Esferas do Dragão" que eu não vi? Nessa onda de trazerem os mortos de volta à vida, já poderiam ter trazido de volta o lendário Vince (Matt Schulze).
Sung Kang sugeriu que os fãs iniciassem uma campanha de hashtag nas redes sociais, como fizeram com o seu próprio personagem com a tag "Justice for Han", para trazer de volta a Gisele de Gal Gadot para esta edição. Bem, parece que funcionou né. Afinal de contas na última cena vemos quem saindo de dentro do já lendário submarino? Simplesmente a lindíssima Gal Gadot e sua Gisele Harabo.
Em agosto de 2021, foi confirmado que Dwayne Johnson não apareceria mais em nenhum filme de "Velozes e Furiosos". Ou seja, muito curioso aquela cena pós-crédito com a aparição exatamente de ninguém mais ninguém menos que Luke Hobbs.
"Velozes e Furiosos 10" teve um orçamento de produção estimado em US$ 340 milhões, sendo o oitavo filme mais caro já feito. A produção arrecadou menos de $ 720,4 milhões em todo o mundo, tornando-se o terceiro filme de maior bilheteria de 2023. Além da sequência parte 2 com "Velozes e Furiosos 11" que está em desenvolvimento e programada para ser lançada em 2025, já está sendo desenvolvido o "Velozes e Furiosos 10: Hobbs and Reyes". Que nada mais é do que um filme solo do personagem Luke Hobbs interpretado por Dwayne Johnson e Dante Reyes de Jason Momoa que está previsto para sair em 2024. Assim como já aconteceu em 2019 com "Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw".
Por fim, "Velozes e Furiosos 10" entrega tudo que promete, que é exatamente uma produção forçada, exagerada, mentirosa, pastelona, galhofa e sem noção. Mas quem é que liga? Afinal de contas eu já estou mais do que acostumado e familiarizado com o que "Velozes e Furiosos" se tornou ao longo dos filmes e dos anos, que é exatamente aquela produção com o único intuito de divertir e entreter. [08/07/2023]
A primeira temporada de "Breaking Bad" foi aquela explosão, aquela surpreendente estreia de uma das maiores séries de todos os tempos, fazendo um sucesso estratosférico e conquistando milhares de fãs ao redor do planeta.
Obviamente a primeira temporada foi a responsável em nos introduzir em cada acontecimento na série, em nos apresentar cada personagem com sua devida importância e nos confrontar com os problemas de cada um ali presente. Sendo assim a primeira temporada carrega principalmente o fator surpresa, que é justamente o confronto com todos os acontecimentos envolvendo o Sr. Walter White (Bryan Cranston), que vai desde o professor de química do ensino médio superqualificado e desanimado, passando pelo diagnóstico recente de câncer de pulmão e chegando na parceria com seu ex-aluno, Jesse Pinkman (Aaron Paul), para produzir e distribuir metanfetamina para garantir o futuro financeiro de sua família antes que ele morra.
Este é o principal contraponto com esta segunda temporada, o fato de já estarmos inteirado com tudo, já sabermos de tudo, já conhecermos cada um dos personagens e principalmente o Sr. Walter e o Jesse. Ou seja, já estamos cientes das principais consequências que a doença e o envolvimento com o tráfico trouxe para o Sr. Walter, que obviamente atinge diretamente o Jesse.
A temporada já inicia com aquela cena magnífica do final da temporada anterior, que é justamente o confronto com o Tuco doidão (Raymond Cruz) espancando um de seus capangas. A partir daí o primeiro episódio já nos dá toda a dimensão do que esperar da temporada, que é justamente a relação se deteriorando e ficando cada vez mais insustentável entre Walter e sua esposa Skyler (Anna Gunn). E justamente pelo fato do Walter ser obrigado a esconder de sua família todo o seu envolvimento com o tráfico. E o episódio vai ainda mais além ao nos mostrar todo o drama e apreensão de Walter relacionado ao Tuco. Outro ponto muito curioso desse primeiro episódio é exatamente todo o cálculo que o Walter faz pensando na venda de metanfetamina relacionado a quantia que ele pretende deixar para sua família. E este cálculo dá ali por volta dos $ 700.000 dólares. Sem falar que é nesse episódio que conhecemos a figura do Sr. Hector Salamanca (Mark Margolis), o tio do Tuco, que é simplesmente um dos personagens icônicos da série.
Um dos principais pontos dessa temporada é exatamente o desenvolvimento e o crescimento do drama, da mentira, do desgaste, da apreensão, daquele suspense que vai se instalando na série com o passar de cada episódio. E exatamente esse suspense pelo fato das mentiras e enganações de Walter com sua esposa, seu filho e principalmente com Hank (Dean Norris), o agente da DEA. Por outro lado a temporada faz uma ótima mescla entre o drama de Walter relacionado ao tratamento de sua doença com o drama pessoal da Skyler e sua gravidez. E aqui entra um ponto extremamente importante dentro da temporada e que eu já mencionei acima, que é o desgaste do casal Walter e Skyler. Pois todo esse desgaste no casamento é o principal fator para moldar a personalidade de cada um a partir dali. Skyler passa a confiar cada vez menos em Walter e decidi voltar a trabalhar, e justamente em seu antigo emprego no qual seu chefe parece ter um claro interesse nela (e ela parece retribuir). Já Walter está cada vez mais envolvido com o tráfico, seu principal interesse é vender toda a metanfetamina que ele já tem guardada. E a partir daí ele começa a passar por cima de tudo e de todos para concluir seu objetivo.
E esta segunda temporada não abrange somente o drama do Walter e sua esposa, mas também temos o desenvolvimento sobre outros personagens da série: que são justamente o Walter Jr. (RJ Mitte), o Jesse e o Hank. Após o Hank enfim dar cabo do Tuco ele ganha mais respeito e relevância em seu departamento, o que logo o leva a comandar uma nova operação no México. Essa operação o confronta com o traficante Tortuga (Danny Trejo), e aqui temos mais uma cena emblemática de "Breaking Bad", que é justamente aquela cena da cabeça do Tortuga em cima do casco da tartaruga causando uma inesperada explosão. Que cena apoteótica! Esta segunda temporada é responsável por várias cenas icônicas de toda a série de "Breaking Bad". Sobre o adorável Walter Jr. também temos um desenvolvimento e um crescimento do personagem em relação à temporada passada. Nessa temporada ele mostra estar cada vez mais preocupado com a saúde do pai e engajado em dar a sua contribuição de alguma forma. E aqui temos ele criando aquele icônico site na internet de ajuda para o Walter. Mais uma passagem emblemática e marcante da série e que virou um meme mundial. Já o Jesse é de longe o personagem que mais cresceu (juntamente com o Walter) e se desenvolveu nessa temporada em relação à ele próprio na primeira temporada. Se na temporada anterior ele ficava mais à cargo das ordens do Walter em relação a venda das drogas, nessa temporada ele começa a andar com as próprias pernas, ele começa a trilhar seu próprio caminho e seu próprio destino. E isso se dá exatamente pelo fato dele partir atrás das suas drogas, do seu dinheiro, se envolver com outra galera do mundo do tráfico, chegando até ao famigerado romance com a viciada em heroína - Jane Margolis (Krysten Ritter).
Todo esse envolvimento do Jesse com a Jane é o principal ponto de virada da temporada, a verdadeira força motriz para os acontecimentos que virão a partir desse romance, tanto pelo lado do Walter quanto pelo lado do próprio Jesse. Jesse passa a ser dominado pelo tal envolvimento com a garota, e isso é muito ruim para os planos do Walter em relação a sua parceria com os planos da metanfetamina. Ou seja, o envolvimento do Jesse com a Jane passa a ser uma ameaça para o Walter, principalmente após o Jesse revelar para Jane todos os seus esquemas no mundo do tráfico junto com Walter, e aquela dívida que o Walter tem com ele. A partir daí a Jane começa a chantagear o Walter em relação ao dinheiro que ele deve para o Jesse, o que faz o Walter tomar a decisão mais emblemática, surpreendente e intrigante de toda a série "Breaking Bad".
Esta é uma decisão muito particular do Walter, que até hoje ainda é contestada, simplesmente a sua decisão de observar a Jane ter uma overdose causada pela heroína e morrer sufocada com seu próprio vômito. Por sinal uma cena pesadíssima, que realmente nos incomoda. Porque o Walter tomou essa decisão de praticamente participar da morte da Jane mesmo que indiretamente? Esta cena tem uma grande revelação, uma grande desconstrução, uma grande descaracterização, que é justamente a figura do Walter, em como ele deixa de lado o seu lado humano, de pai, de marido, e entra de vez no seu lado sombrio. Pois a decisão de Walter em deixar a Jane morrer diante de seus olhos age como o início de seu declínio moral, ético, humano, embora tenha claramente um impacto emocional sobre ele.
Podemos entender que esta decisão do Walter foi feita unicamente pensando em seu parceiro Jesse, em resgatá-lo de volta à vida, pois a Jane já tinha o dominado completamente e estava se matando e matando o Jesse com o uso das heroínas. E aqui eu compreendo a cabeça do Walter, que já estava completamente envolvido nesse submundo do tráfico, que já não tinha mais espaços para pensar no amor, na compaixão, para sentir pena, que precisava tomar uma única decisão naquele momento, que era de salvar a Jane (que pra ele era uma total desconhecida) ou salvar o Jesse (o seu parceiro). E esta decisão do Walter claramente teve um grande impacto emocional e humano sobre ele, pois ele não era nenhum sádico, nenhum psicopata, e mesmo assim ele teve que agir com frieza, com a maior dificuldade do impacto e das consequências que esta decisão traria sobre ele. E na cena claramente podemos observar o impacto da tristeza e da consciência pesada expostas nas lágrimas escorrendo no rosto do Walter. Senhoras e senhores, que cena!
Bryan Cranston está cada vez mais fenomenal na pele do indescritível Walter White. É realmente impressionante o notável crescimento de seu personagem com o passar de cada episódio e de cada temporada. Nessa segunda ele está completamente impecável e irretocável. Aaron Paul foi o que mais me surpreendeu, pois como eu já mencionei, seu personagem foi o que mais cresceu e se desenvolveu nessa temporada. Paul mostra estar cada vez mais a vontade no personagem, estar cada vez mais conectado com as causas e os sentimentos de seu personagem. E aqui tem um diferencial, sua veia dramática, que é muito mais explorada nessa temporada, principalmente sobre o efeito da morte da Jane, onde ele dá um show naquela cena que explora toda a sua dramaticidade. Aaron Paul é outro que esteve impecável na temporada. Anna Gunn traz talvez a personagem que é a verdadeira personificação do termo "ame ou odeie" de toda a série. Acho bastante curioso todo o hater que se criou em torno da sua personagem, o que não concordo inteiramente mas também não discordo completamente. Realmente a Skyler toma umas decisões contestáveis, continua vivendo somente dentro da sua bolha, e agora ela vai ainda mais além, ao retribuir os galanteios de seu chefe e sair de casa no final da temporada. Mas por outro lado algumas decisões dela até que são compreensíveis, já que o próprio Walter também não ajuda né. Krysten Ritter (eterna Jessica Jones) foi uma excelente adição da temporada, e ela contribuiu perfeitamente com sua personagem Jane. Krysten incorporou muito bem aquela figura da garota viciada, problemática, que estava se afundando e carregando seu namorado junto. Uma ótima atuação!
Completando o elenco: Dean Norris anda na mesma linha do seu personagem da primeira temporada, porém aqui ele se sobressai em várias ocasiões, como no assassinato do Tuco e a operação no México. RJ Mitte continua com seu ótimo personagem Walter Jr. Dessa vez cada vez mais empenhado pela causa do pai. Já a Betsy Brandt é completamente deixada de lado nessa temporada. Sua personagem Marie, a cleptomaníaca, é esquecida em praticamente todos os episódios.
Muito curioso que nessa temporada temos aquela ligação com "Better Call Saul". Inclusive temos entradas de figuras emblemáticas e icônicas de todo o universo de "Breaking Bad" - que são as figuras do Mike (Jonathan Banks), do Gus Fring (Giancarlo Esposito) e do Saul Goodman (Bob Odenkirk).
O último episódio é muito importante para a continuação dos próximos acontecimentos da série. Pois é nele que temos aquela decisão da Skyler em sair de casa e deixar o Walter, ela já estava farta das suas mentiras. Temos o Walter indo resgatar o Jesse daquele local que ele estava entregue as drogas. E também a cena da explosão dos aviões no céu com aquele icônico urso caindo diretamente na piscina do Walter. Por sinal mais uma cena que mostra a dimensão e a proporção das escolhas feitas por Walter - muito curioso!
No mais, a segunda temporada de "Breaking Bad" continua magnífica, excelente, impecável, que só confirma a proporção e a importância estratosférica que a série tem. Impressionante como a série cresce em cada temporada, e aqui temos uma evolução grandiosa e notável sobre o roteiro, as qualidades técnicas e principalmente em relação ao elenco, que entregaram ótimos trabalhos. Destacando ainda mais a principal mudança de postura e personalidade do Sr. Walter White, que definitivamente se entregou ao seu lado sombrio, com uma clara mudança obscura em seu caráter e se tornando cada vez mais aquele ser tomado pela incontrolável e destrutiva ambição.
Mais uma temporada obra-prima das séries! [29/06/2023]
"Psicose" é produzido e dirigido por Gus Van Sant, roteirizado por Joseph Stefano (do clássico) e estrelado por Vince Vaughn, Julianne Moore, Viggo Mortensen, William H. Macy e Anne Heche. É um remake moderno de "Psicose" de Alfred Hitchcock de 1960, e ambos os filmes são adaptados da obra-prima literária de 1959 de Robert Bloch.
Ao longo da minha saga dentro do universo de "Psicose" eu sempre afirmei que a obra-prima do mestre Hitchcock sempre foi completamente irretocável e autossuficiente, sem a menor necessidade de continuações e muito menos remakes.
Já inicio com algumas perguntas extremamente importantes dentro da indústria cinematográfica: Porque existe remake? Quem inventou os remakes? Quem teve a brilhante ideia de achar que obras irretocáveis do passado necessitavam de remakes? Qual a necessidade de reviver uma obra imortalizada e eternizada em um remake?
Fato é que os remakes sempre existiram, existem e continuarão existindo. Sempre alguém terá a magnífica ideia de pegar uma obra-prima do passado e reviver em um remake moderno. Sempre terá algum estúdio, alguma produtora, alguém que financie tais acontecimentos que na sua grande maioria são completamente desnecessários e dispensáveis.
Temos aqui um remake que se enquadra perfeitamente no caso de um remake completamente desnecessário e inteiramente dispensável. O remake de "Psicose" é simplesmente inexplicável, injustificável e inaceitável.
"Psicose" é praticamente um Ctrl+C e Ctrl+V do original, onde a principal diferença está exatamente na questão de ter sido filmado em cores (pois o clássico foi filmado em preto e branco). A outra questão é o fato da modernização da obra para o final dos anos 90, porém não deixa de ser uma recontagem cena a cena muitas vezes copiando os movimentos e a edição da câmera do próprio Hitchcock. Isso também inclui o roteiro original, além dos diálogos e da trilha sonora, cuja partitura musical de Bernard Herrmann (compositor do clássico) também é reutilizada, embora com um novo arranjo de Danny Elfman (compositor da trilha sonora da trilogia "Homem-Aranha", do Nolan) e Steve Bartek (ex-integrante da banda de rock "Oingo Boingo").
O diretor Gus Van Sant ("Gênio Indomável" de 1997, um de seus melhores filmes) sempre foi um grande admirador do clássico de 1960, e após o sucesso financeiro exatamente de "Gênio Indomável", a Universal Pictures concordou em optar por sua proposta de remake de "Psicose". Porém a proposta de Gus Van Sant em refazer o filme cena a cena gerou uma certa estranheza por parte do estúdio, que chegou a considerar uma ideia muito arriscada por parte do diretor. A própria ideia de refazer o clássico já era uma ideia muito arriscada e perigosa, pois vamos combinar que mexer em uma obra-prima clássica já é arriscado, ainda mais se tratando de um obra-prima de ninguém mais ninguém menos que o eterno mestre do suspense - o gênio Alfred Hitchcock. E o mais bizarro disso tudo foi o fato de Gus Van Sant ter sido perguntado o porque de refazer o clássico e o mesmo responder: "É um esquema de marketing. Porque sempre têm uma coisinha que esqueceram que poderiam colocar no mercado e ganhar dinheiro com isso."
A ideia em criar um remake de "Psicose" totalmente plano a plano foi inteiramente de Gus Van Sant. Pois ele próprio admitiu ter comprado uma versão original do filme em DVD e passou a dirigir seu filme tendo o original como base. Até os prováveis erros encontrados na versão clássica ele queria copiar em seu filme, sempre na intenção de fazer com que o seu "Psicose" fosse o mais parecido possível com o original. Sem dúvida a vontade de Gus Van Sant era ressuscitar o Hitchcock para que assim ele pudesse trabalhar ao lado do mestre nesse seu remake.
Além da projeção de um remake moderno de "Psicose" e as filmagens terem sido realizadas em cores, o longa apresenta pequenas diferenças em termos visuais, pequenos detalhes da trama, bem como as representações dos personagens pelos atores. Além da ideia de Gus Van Sant em atualizar alguns elementos de roteiro e ajustar as referências ao dinheiro que seriam anacrônicas em um cenário moderno. Ou seja, a quantia que Marion Crane (Janet Leigh) roubou no filme original foi de $ 40.000 dólares, já no remake a mesma Marion Crane (Anne Heche) roubou a quantia de $ 400.000 dólares. Outras mudanças perceptíveis estão justamente no Motel Bates, que ganhou uma modernizada em sua aparência, além da modernizada na icônica placa de entrada e a adição de um letreiro enorme com o nome do Motel sobre os quartos.
Se este remake de "Psicose" é praticamente 100% fiel à obra original, foi projetado e filmado nos moldes e plano a plano do clássico e ainda a cores. Então porque é um filme ruim? Simplesmente por ser um remake sem brilho, sem alma, sem corpo, sem estruturas, sem conexão com o espectador, sem nenhuma relevância para o universo "Psicose", sem agregar ou somar nada para a franquia. É um remake completamente infundado, desprovido de brio, de inteligência, mal feito, mal projetado, sem identificação com nada, sem harmonia com nada. Um remake que nunca foi pedido por ninguém, completamente desnecessário, dispensável, inútil, pífio, sem graça, inexplicável, injustificável e inaceitável. Sem falar na escolha do elenco e suas interpretações, onde pra mim está o maior problema desse remake de "Psicose".
É incrível como o elenco desse remake é completamente inexplicável. E olha que não estamos falando de atores ruins, mas definitivamente nada deu certo em questões de elenco e seus personagens. Vou começar pela única de todo o elenco que eu ainda consegui gostar, que é justamente a Anne Heche (infelizmente falecida em agosto do ano passado). Anne conseguiu se encaixar até que bem na personagem, e olha que esta é uma tarefa dificílima, pois estamos falando de uma personagem que ficou imortalizada pela eterna e saudosa Janet Leigh. Porém confesso que a versão de Marion Crane da Anne Heche ficou boa, se destacando como a única personagem aceitável de todo o elenco. E olha que a Marion Crane foi inicialmente programada para ser interpretada por Nicole Kidman, mas ela foi forçada a deixar o papel devido a problemas de agendamento. Drew Barrymore também foi considerada para o papel antes de Anne Heche ser escalada.
Se eu falei da melhor personagem desse remake, agora eu preciso destacar o pior: Vince Vaughn ("Até o Último Homem", de 2016) foi uma péssima escolha para reviver o papel de um dos maiores maníacos e psicopatas da história do cinema. Quem em sã consciência achou que o ator se encaixaria bem no lendário e eterno Norman Bates? E pior, quem aceitou esta escolha? E o problema aqui é tudo, desde o próprio Vince Vaughn, que é um ator apenas ok, passando pela sua interpretação de Norman Bates punheiteiro que é horrível, e aquela sua atuação decadente de um Norman Bates com 1 metro e 96 centímetros. Vince Vaughn já tem a cara de psicopata, só de olhar para ele em sua primeira aparição em cena você já identifica exatamente isso, principalmente quando ele exibe seu primeiro sorriso amarelo para a Marion. Mas nem isso o ajudou, o que o deixa como uma ofensa para a memória do lendário Norman Bates do saudoso Anthony Perkins.
Julianne Moore ("May December", desse ano) é uma excelente atriz, que ao longo de sua carreira já nos brindou com ótimas personagens, como a eterna e inesquecível Marlene Craven no clássico incompreendido "A Mão Que Balança o Berço", de 1991. Aqui nesse remake a própria Julianne Moore disse que optou intencionalmente em retratar a personagem Lila Crane como uma personalidade mais agressiva em contraste com a icônica interpretação de Vera Miles, no original. Devo afirmar que esta decisão da Julianne foi uma péssima escolha, pois sua versão de Lila Crane é horrorosa, completamente destoada, desorganizada, sendo excessivamente forçada. Se tem uma palavra que define perfeitamente a atuação da Julianne, esta palavra é forçada, pois ela força o tempo todo para sua personagem ser mais agressiva, ser mais rebelde, parecer ser muito corajosa, que no fim ficou uma atuação banal e muito ruim.
O grande ator William H. Macy (completamente impecável em "Fargo", de 1996) caiu de paraquedas no meio dessa bagunça. O próprio ator disse optou por permanecer fiel ao retrato de seu personagem no filme de 1960. Porém ele não ficou assim tão fiel, pois o icônico Detetive Arbogast do Martin Balsam era muito mais agressivo, mais desafiador, mais debochado em suas investigações, principalmente quando estava desafiando o Norman Bates. Já a versão de Arbogast do William H. Macy é mais branda, mais suave, ele próprio transparece uma personalidade mais amena, mais serena, que parece não estar muito preocupado com o caso.
Já o galã da época, Viggo Mortensen ("Green Book", de 2018), é uma versão de Sam Loomis completamente perdida no filme. E quando ele está contracenando com a Julianne Moore fica pior ainda. Outra péssima escolha de elenco desse remake.
Um ponto positivo desse remake está justamente por ser uma versão modernizada a cores, que obviamente as cenas com sangue vai demonstrar uma violência gráfica muito maior que o original. No clássico a película em preto e branco foi feita por opção do próprio Hitchcock, que considerava que a cores o filme ficaria ensanguentado demais, ou seja uma preocupação com a recepção do público da época. Exatamente por este motivo que a obra de 1960 apresenta pouco derramamento de sangue visual em suas sequências de assassinato. Já o remake apresenta uma violência mais explícita, particularmente durante a sequência da icônica cena no chuveiro; onde o sangue é mostrado escorrendo pelos ladrilhos da parede, bem como visíveis facadas nas costas de Marion Crane quando ela desmaia na banheira, além de ainda mostrar as nádegas da personagem quando ela morre, aspecto cortado do filme original.
Outro ponto positivo é exatamente a presença da clássica trilha sonora estridente, incomoda e penetrante de Bernard Herrmann. Principalmente na lendária cena do chuveiro, onde fez total diferença com a violência mais explícita devido a presença do sangue a cores. Sem falar que aquela música instrumental clássica do original era tocada em praticamente 100% das cenas (principalmente no início).
"Psicose" foi lançado nos Estados Unidos em 2.477 cinemas, ficando em segundo lugar nas bilheterias domésticas com uma receita bruta de fim de semana de $ 10.031.850. O remake passou a ganhar um total de $ 37.141.130 na bilheteria mundial e $ 21.456.130 no mercado interno. O orçamento de produção do filme foi estimado em US$ 60 milhões.
O longa-metragem foi premiado com dois prêmios do Framboesa de Ouro de 1999, sendo para Pior Remake e Pior Diretor para Gus Van Sant, enquanto Anne Heche foi indicada para Pior Atriz, onde perdeu o troféu para as "Spice Girls" pelo "Spice World". Por outro lado, no 25º Saturn Awards, o filme foi indicado ao Saturn Awards de Melhor Atriz Coadjuvante por Anne Heche e Melhor Roteiro por Joseph Stefano.
No Rotten Tomatoes, "Psicose" detém um índice de aprovação de 40% com base em 78 avaliações, com uma classificação média de 5,30/10. O consenso dos críticos do site diz: "O remake é totalmente sem sentido pois não melhora e nem ilumina o original de Hitchcock". No Metacritic, o filme tem uma pontuação média ponderada de 47 em 100, com base em 23 críticos, indicando críticas mistas ou médias.
Este remake de "Psicose" é tão sem sentindo que o próprio Gus Van Sant admitiu mais tarde que fazer o remake da forma que ele fez foi um experimento que provou que ninguém pode realmente copiar um filme exatamente da mesma maneira que o original. Antes tarde do que nunca né Gus Van Sant, pelo menos admitiu que fez mer$#@.
Por fim, temos aqui mais um clássico caso do remake infundado, desnecessário, dispensável, inexplicável, injustificável e inaceitável. Isso só prova que uma obra irretocável e autossuficiente como o clássico do mestre Hitchcock jamais deveria ter sido cogitado a ideia de fazer um remake.
Como minha mãe sempre diz: "não mexe com quem tá quieto!!!"
Termino afirmando que eu como fã do eterno clássico do mestre Hitchcock e da obra-prima literária de Robert Bloch, me recuso a aceitar que este filme carregue em seu título o nome de "Psicose". Sem mais! [28/06/2023]
Psicose 4: O Começo (Psycho IV: The Beginning) 1990
"Psicose 4" foi feito direto para a televisão (sendo o primeiro filme a ser rodado na Universal Studios na Flórida), sendo dirigido por Mick Garris e novamente sendo roteirizado por Joseph Stefano (que é o roteirista do clássico de 1960). O longa-metragem serve tanto como a terceira sequência da série de filmes quanto como uma prequela de "Psicose" do mestre Hitchcock, com foco no início da vida de Norman Bates. O filme inclui ambos os eventos após "Psicose 3" enquanto foca em flashbacks de eventos que aconteceram antes do clássico. É o quarto e último filme da franquia original de "Psicose", e a última aparição de Anthony Perkins na série antes de sua morte em 1992.
"Psicose" (1960) é aquele clássico absoluto, aquela obra-prima irretocável, aquela obra de arte impecável, simplesmente um dos melhores filmes de suspense de todos os tempos, sendo completamente autossuficiente e sem a menor necessidade de continuações e desmistificação acerca do Norman Bates. Porém, "Psicose 2" é aceitável como um continuação do clássico, e muito por conter um roteiro novo e que soa bastante intrigante e curioso. Já "Psicose 3" não tem jeito, definitivamente é o pior filme da série original de "Psicose", e exatamente por ser uma continuação completamente perdida e desnecessária, com um roteiro péssimo e um elenco deprimente (tirando o Anthony Perkins, é claro).
"Psicose 4" eu vejo na mesma linha de "Psicose 2", que é justamente uma continuação desnecessária e dispensável, porém coerente e aceitável. O mais curioso (e absurdo) desse roteiro de "Psicose 4" é justamente o fato de Norman Bates ter sido novamente solto e reintegrado na sociedade, além de ter se casado e sua esposa estar grávida. Ou seja, totalmente tranquilo e aceitável um maníaco psicopata do calibre do Norman Bates ter sido liberado do sanatório pela segunda vez e ter constituído uma família. Mas ok! Vamos ignorar esta parte do roteiro.
Quando eu afirmo que "Psicose 4" tem um roteiro aceitável, é justamente por nos trazer uma visão sobre o início de toda a história, nos mostrar o começo de Norman Bates, que até então era uma parte nunca explorada nos filmes anteriores e que poderia facilmente despertar a nossa curiosidade. E foi exatamente nesse fator que o roteiro se apegou, em nos contar a história de Norman Bates desde a sua infância, passando pelo falecimento de seu pai, até chegar em sua adolescência e seus primeiros envolvimentos com as garotas. Envolvimentos esses que eram sexuais e que eram sempre repreendido por sua mãe, que aplicava uma forte repressão sexual em Norman. De fato esse é um ponto muito curioso e muito interessante em "Psicose 4", nos mostrar como foi a criação e a educação que a mãe aplicou em Norman. Ou seja, nos mostrar em como ela teve participação e uma influência direta na formação de caráter de Norman Bates, em como ela transformou seu próprio filho em um demônio perturbado e psicopata.
E aqui entra o formato que o filme apostou e que eu achei interessante para todo o contexto que a história estava sendo contada. Que é justamente um formato que mostra o presente, com o Norman Bates decidindo ligar para um programa de rádio para contar sobre seu matricídio, com aquele contraponto de todos os abusos que sua mãe o expunha durante boa parte de sua adolescência sendo revividos através de flashbacks. De fato eu considero um acerto este formato que história foi contada, pois ter o próprio Norman do presente narrando os acontecimentos do Norman do passado deu mais peso e mais corpo para toda a história, além de criar uma motivação e uma relevância ainda maior sobre os flashbacks que eram apresentados. Sem falar que todo contexto que estava sendo desenvolvido através das ligações de Norman, deu um direcionamento para as pessoas que o ouvia sobre o planejamento do seu próximo assassinato.
Outro ponto que foi trazido exclusivamente para "Psicose 4" e que é bastante contundente, é exatamente nos elucidar sobre a mente deturpada e doentia de Norman Bates, nos mostrar seus primeiros assassinatos, e ir ainda mais além, que é nos apresentar a figura da Sra. Bates e nos mostrar que se Norman Bates era desequilibrado e perturbado, sua mãe era muito pior.
Incrível como a Norma Bates (Olivia Hussey) foi a principal responsável pela transformação de seu próprio filho durante a fase da infância para a adolescência. Incrível como a própria mãe impunha todos os limites cruéis para o próprio filho, em como ela o machucava com as palavras, que sim, as suas palavras o marcavam mais que qualquer tipo de violência física. Incrível em como a própria mãe foi a responsável pela criação e a transformação de um psicopata.
Este é o ponto alto do roteiro de "Psicose 4", exatamente a abordagem acerca dos distúrbios psicológicos de Norman Bates, que foram adquiridos através da sua própria mãe. E aqui entra um ponto ainda mais intrigante dentro filme, que é o "Complexo de Édipo" e o "Complexo de Jocasta" que Norman sofria durante sua adolescência, que era justamente o desejo sexual pela mãe que ele teoricamente sentia. O filme não deixa isso evidente, mas dá a entender que a mãe também teria alguma atração sexual pelo Norman, como o fato dela sempre deixar claro que não queria que ele se envolvesse sexualmente com outra garota, que ele seria só dela, seria sempre o filhinho da mamãe. Podemos até comprovar tais fatos como naquela cena que ela pede que ele retire toda a sua roupa molhada e se deite agarrando ela junto ao seu corpo nu. Além de outras cenas que mostrava o Norman sobre o corpo da mãe e ele ficando excitado por estar tocando com o membro nela e ela ainda percebia sua excitação. É nessa hora que Norma impõe uma castração simbólica em Norman, exigindo que ele se aceitasse como uma menina. É também nessa hora que Norma obriga Norman a usar vestido e batom, ativando assim vários gatilhos e distúrbios psicológicos em Norman.
É muito claro que existia um abuso da Norma com o filho. Agora até que ponto ia esse abuso não sabemos, pois o próprio Norman afirmou durante uma de suas ligações que nunca houve um incesto. E todos esses abusos que a mãe estabelecia sobre Norman inevitavelmente ativou o seu gatilho dos ciúmes. Pois quando ela passa a namorar e passa a transar abertamente com seu namorado, isso atacava diretamente a mente de Norman, que naquela altura já estava completamente desequilibrada e perturbada, pois a mãe sempre considerou o Norman como o único homem da casa. Todo esse comportamento da mãe fatalmente levou Norman a cometer o matricídio (assassinato da própria mãe).
Sobre o assassinato da mãe e do seu namorado, o roteiro segue exatamente a história que conhecemos e que vem sendo contada desde o clássico, que foi feito através do envenenamento. Por sinal a partir desse ponto em questão temos algumas cenas bem interessantes e que ficaram boas no contexto geral do filme. O desfecho final eu já acho que perdeu um pouco do peso e da credibilidade que tinha sido conquistada no decorrer de toda a história. Sendo justamente pela a decisão do Norman em levar a sua esposa Connie (Donna Mitchell) até a antiga casa da mãe para assassiná-la juntamente de seu filho que ela estava esperando. Todo discurso que foi criado pelo próprio Norman que o evidencia em tal decisão em matar o próprio filho, eu achei bem questionável. Porém, no final temos uma cena pouco provável, que é justamente aquele desfecho final fofinho e feliz com o poder do amor tocando o coração do Norman Bates, quem diria. Acho que todas aquelas ligações e seus depoimentos lhe serviram como uma terapia para agir dessa forma exatamente no final. Pois ele próprio decide se livrar de tudo que esteja ligado com o seu passado, como a própria casa da mãe, que ele decide tocar fogo em tudo. É uma sequência de cenas até interessantes, mostrando a mente perturbada de Norman revivendo os fantasmas dos seus assassinatos dentro da casa no meio do incêndio. E no fim ele profere a frase: "Estou Livre!" Por outro lado o porão mostra que o espírito da sua velha mãe jamais sairá dali.
Se em "Psicose 3" temos um elenco completamente medíocre, em "Psicose 4" todos estão bem e funcionam perfeitamente dentro da proposta de cada um para a história. Pela primeira vez na história o maior destaque de um filme "Psicose" não é o Anthony Perkins e seu lendário Norman Bates. Dessa vez o maior destaque desse elenco é sem dúvida a Olivia Hussey ("Romeu & Julieta", de 1968) e sua admirável Norma Bates. Eu fiquei boquiaberto com o nível de entrega de Olivia Hussey em sua personagem, que por sinal era uma MILF muito irresistível. Era realmente difícil o Norman resistir aos encantos da Norma naquela época, fatalmente ela destruiria toda a sua mente e sua cabeça, como ela realmente fez. Olivia Hussey personificou uma Norma Bates completamente desequilibrada, desestabilizada, perturbada, doentia, perversa, má, soturna, doente, que expunha todos os limites mentais do seu próprio filho, que lhe exigia comportamentos extremos e cruéis, sempre com uma postura depravada, com um sorriso maléfico e uma mente completamente sádica. A personagem Norma Bates foi oferecida a Olivia Hussey, que não precisou fazer qualquer teste para o papel; e ela simplesmente incorporou uma excelente, uma impecável Norma Bates.
Outro fato inédito é a própria apresentação do Anthony Perkins, que dessa vez não era o mesmo Norman Bates que conhecemos, não tinha o mesmo vigor, não teve a mesma relevância, não teve a mesma atuação, ficando bem aquém do que ele próprio já apresentou anteriormente. Olhando para o Perkins em cena fica claro que ele não estava a vontade no personagem como ele sempre esteve, dessa vez algo o incomodava, algo o atrapalhava, ele já mostrava sinais de cansaço, de esgotamento, já nos mostrava estar bem debilitado fisicamente e até mentalmente. Podemos associar tudo isso que eu descrevi pelo fato da sua doença, pois Perkins sofria com AIDS e pneumonia, vindo a falecer com menos de dois anos do lançamento de "Psicose 4". O filme foi lançado nos EUA em 10 de novembro de 1990 e Anthony Perkins faleceu em sua residência na Hollywood Hills em 12 de setembro de 1992, por complicações relacionadas à SIDA (síndrome de imunodeficiência adquirida). O mundo do cinema perdia um artista naquele dia.
Henry Thomas (o Jack Torrance de "Doutor Sono", de 2019) foi outro grande destaque no filme. Henry foi o responsável em dar vida para o jovem Norman Bates, contracenando diretamente com a Olivia Hussey. Henry trouxa a figura de um adolescente assustado, tímido, acanhado, quando o assunto era direcionado à garotas. Sempre mantendo uma postura sisuda, introspectiva, sombria, onde seu principal meio de comunicação era seus pensamentos ocultos. Em cena Henry esteve muito bem no personagem, contracenou perfeitamente com a Olivia e se mostrou muito seguro e muito corajoso.
CCH Pounder (a Mo'at de "Avatar: O Caminho da Água", de 2022) foi a personagem Fran Ambrose, a Locutora do programa de Rádio que o Norman sempre acompanhava e decidiu ligar para contar a sua história. Pounder conseguiu se destacar com sua personagem que a princípio era uma simples locutora interessada na história do Norman, mas logo após ela ganha mais relevância na história quando ela descobre o plano de Norman relacionado ao seu próximo assassinato.
Mick Garris estava fazendo a sua estreia no cinema ao dirigir "Psicose 4". E ele foi até bem nessa sua estreia dentro das suas possibilidades e suas limitações. Já relacionado a trilha sonora, aqui temos a única das sequências de "Psicose" a usar a trilha sonora composta pelo lendário Bernard Herrmann para o filme original. Por sinal a abertura do filme já inicia com aquela clássica música tema de "Psicose". Este é o ponto alto da trilha sonora de Graeme Revell (lendário compositor da icônica trilha de "A Mão Que Balança o Berço", de 1991), o seu poder de nostalgia.
Agora eu trago algumas curiosidades sobre "Psicose 4":
- Quando Norman Bates fala pela primeira vez no programa de rádio ele diz que seu nome é Ed. Robert Bloch, autor do livro o qual "Psicose" foi baseado, criou Norman Bates tendo por base um serial killer verídico chamado Ed Gein, que atacava no estado de Wisconsin, nos EUA.
- O psicólogo deste filme chama-se Leo Richmond, que foi interpretado por Warren Frost. Trata-se de uma referência a Fred Richmond (interpretado por Simon Oakland), personagem de "Psicose" original, de 1960.
- Janet Leigh, estrela de "Psicose" original, apresentou "Psicose 4" em sua primeira exibição na TV americana.
- As filmagens de "Psicose 4" duraram apenas 24 dias, porém vários finais diferentes foram rodados, de forma a manter em sigilo o escolhido.
- Os turistas que visitam o Universal Studios na Flórida podem visitar a casa onde as filmagens de "Psicose 4" aconteceram.
Por fim, temos aqui o quarto e último capítulo da clássica franquia de "Psicose" (pois em 1998 tivemos apenas o contestável remake do original). Assim como já afirmei em minhas análises passadas, de fato o clássico do mestre Hitchcock sempre foi considerado irretocável e autossuficiente, sem nenhuma necessidade de remexer nesse universo que já estava imortalizado e eternizado na cabeça de todos nós cinéfilos. Mas como já é de praxe, a produtora detentora dos direitos comerciais jamais deixaria o filme morrer e muito menos o seu protagonista ser esquecido. Sendo assim o universo de Norman Bates foi revivido e revirado nessas três contestáveis continuações - que por si só todas já soam como continuações desnecessárias e dispensáveis.
Porém, "Psicose 4" é sim um bom filme, que além de tudo ainda teve influências direta na série "Bates Motel" (2013 / 2017), se destacando como uma boa continuação (que funciona como prequela) aceitável e coerente, que consegue prender a nossa atenção com um bom elenco, com um bom roteiro, que confronta fatos do presente e do passado dentro da mesma história, e ainda nos exemplifica como foi a participação direta da Sra. Bates na formação e desenvolvimento de um dos maiores maníacos e psicopatas da história do cinema - o lendário e eterno Norman Bates. [23/06/2023]
"Psicose 3" é o terceiro filme da franquia "Psicose", novamente sendo estrelado por Anthony Perkins, que além de reprisar o papel de Norman Bates, agora ele também dirige o filme. O roteiro é escrito por Charles Edward Pogue. "Psicose 3" não tem relação com o terceiro romance de Robert Bloch, "Psycho House", pois o mesmo foi lançado em 1990. O filme se passa um mês após os eventos de "Psicose 2", onde Norman Bates ainda dirige o Motel Bates com o cadáver da Sra. Emma Spool (Claudia Bryar) ainda abrigado em sua casa. Maureen Coyle (Diana Scarwid), uma freira suicida por quem Norman se apaixona, chega ao Motel junto com um vagabundo chamado Duane Duke (Jeff Fahey). Uma repórter também tenta resolver o misterioso desaparecimento da Sra. Spool enquanto alguém começa outra onda de assassinatos.
"Psicose 3" marca a estreia de Anthony Perkins como diretor. E ele já abre seu filme prestando uma verdadeira homenagem ao seu grande mentor, o eterno mestre Alfred Hitchcock. Pois bem, a cena de abertura nos mostra uma noviça que se encontra em um estado suicida no topo de uma torre de uma igreja. Logo após a madre superiora despenca lá de cima quando ela tentava recobrar a razão da jovem freira, que sempre proferia a frase "Deus não existe!", e na cena a câmera pega exatamente o ângulo de cima da madre caindo. Ou seja, temos ali uma clara referência ao filme "Um Corpo que Cai" (Vertigo, de 1958) do mestre Hitchcock. Achei muito interessante que na sua estreia como diretor, Perkins decidisse criar uma cena que tivesse ligações direta como toda a sua história em "Psicose 3", porém soando como uma grande homenagem ao eterno mestre do suspense.
Anthony Perkins queria ir mais além em suas homenagens ao mestre Hitchcock, pois ele sugeriu que "Psicose 3" fosse rodado em preto e branco (como uma homenagem ao clássico de 1960), porém a Universal Pictures vetou a sua ideia. Eu acredito que na década de 60 essa decisão em rodar a obra em preto e branco foi uma decisão acertada do mestre Hitchcock, até pela censura da época e para não chocar o público também da época. Já nos anos 80 a censura já não era assim tão rígida, as produções cinematográficas já apresentavam melhor todo o gore em seus slasher movies. É claro que a Universal Pictures queria potencializar a violência e o gore em "Psicose 3", queria demonstrar a violência extrema de um dos maiores maníacos e psicopatas da história do cinema em cores.
Em "Psicose 2" eu afirmei que a obra-prima do mestre Hitchcock era autossuficiente e irretocável, sem nenhuma necessidade em criar continuações ou remakes. Logo todas as produções que vieram após o clássico de 1960 eu considero como desnecessárias e dispensáveis. "Psicose 2" também entra na lista de continuações desnecessárias e dispensáveis, porém o roteiro do filme é interessante e constrói uma nova história que soa intrigante e desperta a nossa curiosidade. Que é justamente toda abordagem acerca do Norman Bates e sua reabilitação se referindo ao seu comportamento quando ele volta a reintegrar uma sociedade. Ou seja, por mais autossuficiente que a obra-prima do mestre Hitchcock foi, mas "Psicose 2" ainda é aceitável dentro desse universo como uma continuação do clássico. Já em "Psicose 3" eu não posso afirmar o mesmo.
"Psicose 3" é a verdadeira personificação de uma continuação completamente desnecessária e dispensável. O roteiro é péssimo, vergonhoso, pífio, onde o mesmo é mal escrito, mal desenvolvido, mal projetado, nos trazendo uma história sem nenhum sentido, sem agregar absolutamente nada e sem nenhuma relevância dentro do universo "Psicose". O roteiro de "Psicose 3" é inteiramente perdido e totalmente bagunçado, pois é nítido como o roteirista se perdeu ao escrever um texto que passa o tempo todo tentando se achar e atirando para todos os lados. Pois aqui temos tantos personagens e tantas histórias se misturando e se esbarrando uma na outra, que no fim nenhuma foi bem abordada e nenhuma teve um fechamento no mínimo interessante.
Vamos lá: Temos a história da noviça revoltada, atormentada e perturbada, que foge do convento e vai para o Motel, e depois novamente tenta se suicidar e vê uma aparição da Virgem Maria. Temos um zé ninguém que se intitula músico e decidi aceitar o emprego no Motel Bates unicamente para levantar uma grana e depois cair fora. Temos uma repórter se intrometendo na vida do Norman pelo fato dela querer saber mais sobre a sua história para um artigo sobre serial killers que ela está preparando. Ou seja, temos uma mistureba só, uma verdadeira salada de fruta do roteiro.
Em "Psicose 2" eu também afirmei que o roteiro se mostrava até autêntico, sem precisar fazer uso de uma cópia barata do clássico sessentista. Novamente não posso dizer o mesmo de "Psicose 3". Pois aqui me soa como uma cópia barata exatamente na decisão em trazer a personagem Maureen Coyle com uma extrema semelhança da personagem clássica da Marion Crane (Janet Leigh). E a explicação era justamente que a personagem se assemelhasse ao máximo com Marion para causar um transtorno e perturbar a mente do Norman Bates, que obviamente iria se lembrar de todo o ocorrido na clássica cena do chuveiro. Sem falar que ainda colocaram as iniciais MC em sua mala para confundir ainda mais a mente perturbada do Norman, que logo desperta um desejo por ela. Não gostei dessa construção na história, achei totalmente sem criatividade e só mostra a extrema fragilidade e superficialidade desse roteiro.
Novamente temos toda abordagem sobre a figura oculta da Sra. Bates, que agora nada mais é do que a Sra. Spool. E aqui entra mais um ponto confuso e mal desenvolvido desde o final de "Psicose 2", que é todo esse discurso de quem é mãe e quem é tia de Norman Bates. "Psicose 3" perdeu muito a sua essência e o seu teor de suspense, de mistério, de sombrio e consequentemente do terror. Agora temos uma verdadeira farofa que passa por investigativo, sobrenatural, romance, cenas eróticas e até analogias religiosas. Sem falar que aqui as mortes são mais violentas se comparadas com os filmes anteriores, tem mais sangue, mais gore, praticamente um slasher movie oitentista. Porém, as mortes podem até ser mais violentas pela presença do sangue mais explícito, mas não deixam de ser mortes bem patéticas.
Outro ponto bastante questionável em "Psicose 3" é justamente às tentativas em construir reviravoltas coerentes dentro da história - o que não deu lá muito certo! Inicialmente o roteiro de Charles Edward Pogue (junto com a vistoria de Anthony Perkins) indicava que o personagem Duane fosse o verdadeiro assassino da história, ao copiar os passos de Norman Bates reproduzindo os crimes por ser obcecado pelo psicopata. Logo a Universal Pictures vetou a ideia, alegando que o vilão do filme precisava ser Norman Bates (como sempre). A própria Maureen não seria a noviça rebelde, ela seria uma psiquiatra neurótica que foi enviada para substituir o Dr. Raymond (Robert Loggia) do filme anterior. E pasmem, a personagem da noviça estava sendo designada para ninguém mais ninguém menos que a Janet Leigh (a icônica Marion Crane), que voltaria como uma outra personagem para atormentar a mente de Norman Bates. Eu confesso que fiquei curioso se esta decisão do roteiro tivesse sido levado adiante, porém, novamente a Universal vetou essa ideia.
O elenco de "Psicose 3" não tem nenhum destaque e nenhuma relevância, tirando obviamente o Anthony Perkins. Perkins já é a personificação de Norman Bates, já está imortalizado e eternizado no personagem. E aqui novamente ele dá um verdadeiro show na pele do psicopata, sendo perfeito e impecável em 100% das suas cenas (não tem como, ele é magnífico). Diana Scarwid foi até esforçada em sua personagem Maureen. O mesmo vale para o Jeff Fahey e seu depravado e desocupado Duane Duke. Já a Roberta Maxwell é totalmente perdida na história junto com sua personagem Tracy.
Se na questão da interpretação de Norman Bates o Anthony Perkins é um verdadeiro mestre, já não posso dizer o mesmo dele como diretor, que obviamente deixou a desejar e infelizmente não aconteceu. Já na questão da trilha sonora, Perkins abordou pessoalmente o compositor Carter Burwell para que ele se encarregasse da trilha de seu filme. Já que Perkins havia gostado do seu primeiro trabalho em "Gosto de Sangue" (de 1984 dos irmãos Coen). Perkins afirmou que queria levar a trilha sonora de seu filme em uma direção mais contemporânea do que Jerry Goldsmith fez para sua trilha mais tradicional em "Psicose 2".
"Psicose 3" arrecadou $ 3,2 milhões no fim de semana de estreia e arrecadou $ 14,4 milhões nas bilheterias domésticas dos Estados Unidos com um orçamento de $ 8,4 milhões, tornando-se o capítulo menos rentável da franquia "Psicose".
Infelizmente "Psicose 3" não aconteceu, não conseguiu chegar nem perto do horror elementar do clássico e se tornou apenas mais um capítulo perdido no meio de toda a franquia. Com certeza aqui temos o velho caso de uma continuação infundada, desnecessária e dispensável, que tenta desesperadamente envolver o espectador com um roteiro péssimo, cheio de incongruências, com um elenco medíocre e um final irrelevante. Uma verdadeira mancha no universo de "Psicose". [17/06/2023]
"Psicose 2" é dirigido por Richard Franklin, escrito por Tom Holland e estrelado por Anthony Perkins, Vera Miles e Meg Tilly. É a primeira sequência do eterno clássico "Psicose" do mestre Alfred Hitchcock de 1960 e o segundo filme da franquia "Psicose". Situado 22 anos após o original, o longa segue Norman Bates (Perkins) depois que ele é liberado da instituição mental e retorna para a casa e para o Bates Motel para continuar uma vida normal. No entanto, seu passado conturbado continua a assombrá-lo quando alguém começa a assassinar as pessoas ao seu redor. O filme não tem relação com o romance "Psicose 2" de 1982 de Robert Bloch, que ele escreveu como uma sequência de seu romance original de 1959, "Psicose".
Recentemente eu tive a honra de ler a obra-prima de Robert Bloch - "Psicose". É de fato uma experiência incrível, surreal, arrebatadora, envolvente, misteriosa, enigmática e bastante sombria. Virou um dos meus livros da vida, principalmente por colocá-lo como um dos maiores thrillers da literatura de todos os tempos. Já esta continuação - "Psicose 2" - eu confesso que desconhecia da sua existência, sequer tinha imaginado que o Robert Bloch havia escrito uma segundo livro como continuação de "Psicose". Ainda não pesquisei, mas acho que deve ser difícil encontrar versões em português.
Com a ideia de fazer uma continuação do clássico de 1960, a Universal decidiu contratar o desconhecido (na época) Tom Holland para escrever o roteiro (mais tarde ele seria conhecido como o lendário diretor de "A Hora do Espanto", de 1985, e "Brinquedo Assassino", de 1988). A Universal queria que o Tom Holland escrevesse um roteiro totalmente diferente, já que essa continuação não foi baseada no segundo livro da sequência de "Psicose" de Robert Bloch. Já a direção ficou a cargo do diretor australiano Richard Franklin, aluno do mestre Hitchcock. O filme marcou a estreia de Franklin no cinema americano.
Primeiramente vamos deixar um ponto bem claro aqui: "Psicose" (1960) é um clássico irretocável, uma obra-prima da sétima arte, uma obra de arte impecável, um dos melhores filmes de suspense de todos os tempos, livre de qualquer comparação, amarração ou semelhança. Ou seja, é uma obra única, imortalizada e completamente eternizada em todos os corações cinéfilos. Disto isto, idealizar e construir uma continuação de uma obra como "Psicose", de fato é uma tarefa extremamente difícil, até para o próprio Hitchcock, que é simplesmente o eterno mestre do suspense e um dos maiores diretores da história do cinema.
Obviamente seria mais do que normal e aceitável que todo mundo criasse um certo bloqueio referente à esta obra, até por achar uma continuação completamente desnecessária e dispensável. E se analisarmos friamente de fato é uma continuação desnecessária e dispensável, que ninguém pediu, que não clamava por urgência, pois o clássico de 1960 já é autossuficiente, ou seja, não precisava ser revivido e ter uma continuação. Porém, devo confessar que aqui temos algo improvável, que parecia impossível de acontecer, que é justamente uma continuação de uma obra irretocável que não mancha a sua história e o seu legado, e ainda consegue prender a nossa atenção como uma nova construção na história que desperta a nossa curiosidade nos fazendo criar novas expectativas inseridas em um ótimo suspense (apesar das revelações finais serem ruins).
O maior acerto dessa obra é construir a sua própria identidade e não soar como uma simples cópia do clássico, o que naturalmente seria o mais provável. Outro grande acerto foi reviver o Norman Bates e a Lila Crane (que agora passou a ser Lila Loomis) sendo interpretados novamente por Anthony Perkins e Vera Miles. Só faltou mesmo o mestre Hitchcock novamente na direção, mas infelizmente ele havia falecido três anos antes, em abril de 1980.
O roteiro de "Psicose 2" pode até ser questionável nas partes finais, mas é de fato inteligente e foi bem idealizado. Pois é interessante essa ideia de redenção do Norman Bates, de poder ser reabilitado e reintegrado na sociedade, de poder conviver em sociedade, ter um emprego normal, tentar ser uma pessoa normal. Apesar de particularmente eu não acreditar muito em reabilitação, e no caso do Norman Bates, acredito que ele jamais será reabilitado e libertado da sua mente deturpada. E mais interessante ainda é o fato de parecer que realmente ele quer ser reabilitado e reintegrado na sociedade (pelo menos inicialmente é isso que nos passa). Outro ponto que eu achei bem curioso e soa muito intrigante para o desenrolar de toda a história, é o fato de usarem a própria Lila (irmã da Marion) para idealizar uma vingança contra o Norman Bates que foi libertado da justiça.
"Psicose 2" já me ganhou em sua cena de abertura, que nada mais é do que a lendária cena do chuveiro do clássico. Esta é uma das cenas mais emblemáticas da história do cinema, ainda mais por contar com aquela trilha sonora inquietante, estridente e perturbadora, e poder rever novamente esta cena é no mínimo um deleite perturbador para qualquer cinéfilo. Ao longo do filme temos várias referências ao clássico, como os inúmeros enquadramentos, as tomadas de câmeras, os takes e os focos mais fechados nos personagens. Realmente o diretor foi um bom pupilo do mestre Hitchcock e soube homenagear com dignidade o seu grande mentor.
O longa-metragem segue nos trazendo cenas novas e cenas que fazem referência ao clássico: como aquela cena do primeiro contato do Norman ao voltar a empunhar uma faca após anos de seu tratamento. Realmente foi uma cena bem interessante e condizente como o contexto daquele momento na história. Temos a cena que homenageia a clássica cena do chuveiro na banheira, dessa vez sendo vivida pela Mary (Meg Tilly), que diga-se de passagem, que atriz linda na época, e que ainda conta com uma belíssima nudez durante a cena (que dessa vez foi possível de acordo com a censura da época). Nessa cena eu sinceramente achei que teríamos um remake do assassinato, ainda mais pelo fato da câmera focar no famigerado buraco na parede com aquela suspeita de alguém estar observando naquele momento.
Outro ponto que "Psicose 2" consegue manter bem em relação ao clássico, é todo clima intrigante que vai se instalando com o passar do tempo, da construção de um suspense bem palatável, de nos envolver com um ar misterioso e soturno em torno dos acontecimentos acerca de Norman Bates. Estou me referindo justamente sobre a decisão de manter o sombrio, o oculto e o mistério em volta da possível Sra. Bates, que realmente foi uma ideia boa e funcional, principalmente pelas constantes aparições daqueles bilhetes ameaçando a Mary. A própria figura da mãe reaparecendo na janela para o Norman só mostrava o quanto a sua mente ainda continuava deturpada e perturbada, ou sempre esteve. Por mais que depois descobrimos quem estava por trás de todos esses acontecimentos, e que por sinal é uma revelação bem brochante.
Este é o ponto mais questionável de todo o roteiro do filme:
Confesso que a ideia em trazer a Lila para se vingar do Norman foi uma ideia boa, afinal de contas ela não aceitava a sua reintegração na sociedade e a sua possível redenção pelo assassinato de sua irmã (eu no lugar dela também não aceitaria). Mas daí você construir todo um Plot twist que revelava que a Mary era a filha da Lila (sobrinha da falecida Marion), e que ela e a mãe estavam mancomunadas em um plano para desestabilizar o Norman e perturbar novamente a sua mente para conseguir que ele voltasse a ser condenado e voltar para o centro psiquiátrico, é no mínimo uma ideia muito ruim e sem nenhuma criatividade relevante. Sem falar que toda aquela ideia dos bilhetes ameaçadores em nome da Sra. Bates e as suas aparições na janela da casa para o Norman, serem obras da Lila e da Mary, é uma péssima escolha do roteiro.
E pra piorar, no final o roteiro desanda de vez ao apresentar cenas que são ridículas e patéticas, que nem serve como uma vingança...como na cena em que a Mary se veste de Sra. Bates e sai dando pequenas facadas no Norman, ou seja, é uma cena péssima, sem nenhum sentindo, sem nenhuma relevância para a história, que soa vergonhosa e risível. E ainda vai além, quando ela finalmente parece que vai vingar no porão a morte da tia e da mãe, o Xerife simplesmente aparece e dá um tiro nela livrando a pele do Norman mais uma vez. Até então tínhamos um bom roteiro, que soube construir uma história até curiosa e interessante, e que vinha muito bem até estas partes mencionadas. Mas essas escolhas finais jogou pelo ralo grande parte de todo acerto que foi construído durante todo o filme.
Não posso esquecer de mencionar a cena de fechamento do filme, onde temos uma curiosa aparição da Sra. Spool (Claudia Bryar) como a possível mãe verdadeira de Norman Bates. Ou seja, toda essa historinha do Norman ser adotado, da mãe fake, definitivamente não me agradou e não me convenceu. Temos aqui mais um caso que não precisaria ser mexido, que também estava autossuficiente no clássico de 1960. Pelo menos o Norman deu o mesmo final para mais uma mãe (kkk), que é o famoso chá com veneno. Agora aquela pazada no final foi muito boa hein! Dessa cena eu gostei (kkk). Agora que ele matou a Sra. Spool e a levou para o mesmo quarto da outra mãe, parece que recomeçou tudo de novo, que é ele imitar a voz da mãe junto com a dele, igual já constatamos anteriormente. Seria este o gancho para o terceiro filme?
Sem dúvida a melhor parte dessa continuação é poder contar com a monstruosa interpretação de Anthony Perkins revivendo um dos maiores maníacos e psicopatas da história do cinema - o lendário Norman Bates. Dessa vez com mais de 20 anos longe do personagem, Perkins não decepciona, pelo contrário, ele mostra ter guardado todos os trejeitos, todas as expressões, todas as facetas, toda linguagem corporal técnica e artística do equiparável Norman Bates. Anthony Perkins nasceu para o papel de Norman Bates, onde permanecerá para sempre com esta estigma, e novamente nos surpreendendo com um atuação completamente genial, impecável, irretocável e perfeita na pele do inesquecível Norman Bates.
Vera Miles foi uma grata surpresa no filme, pois eu realmente não esperava que algum dia ela pudesse reviver a sua lendária segunda protagonista do clássico "Psicose". Anteriormente como Lila Crane e agora como Lila noomis, ou seja, ela de fato se casou com o Sam Loomis (personagem do John Gavin) após os eventos finais do clássico. Lila pensou: "minha irmã morreu mesmo, não vai mais voltar, então eu caso com o seu namorado." Boa Lila (kkk). Vera desenvolve bem o seu papel de irmã inconsolada, e quando ela revela todo o seu plano ela fica ainda mais furiosa e sedenta pela vingança. Apesar que é nessa hora que eu vejo a sua atuação ficar muito caricata, com aquele ar de antagonista canastrona, onde cai um pouco de qualidade. Mas no geral foi muito bom rever a lendária Lila.
Meg Tilly foi a principal adição do elenco de "Psicose 2". E digo mais, ela foi a principal estrela ao lado de Anthony Perkins e da Vera Miles. O que causou um grande ciúmes em Perkins, pois a imprensa em geral deu mais atenção à presença da jovem (com 23 anos na época) do que a sua própria presença. Perkins tentou por diversas vezes demiti-la do elenco do filme, porém todas tentativas sem sucesso. Meg Tilly realmente se sobressaiu dos demais do elenco, tanto pela sua beleza (que era estonteante), quanto pela sua competência na personagem. E olha que ela teve participação fundamental em todo desenrolar do roteiro, sendo peça-chave ao final. Ela de fato mandou muito bem.
Tecnicamente a obra é muito bem feita e muito caprichada. Posso destacar a direção de arte que é muito boa, preservou muito bem a memória do clássico do mestre Hitchcock. Como por exemplo todos os cenários serem muito bem condizentes com aquele universo do Norman Bates, onde até a mesma casa usada no clássico foi utilizada para rodar esta sequência, sendo que o motel foi reconstruído. Já sobre a trilha sonora, o grande gênio John Williams foi considerado para fazer a trilha sonora do filme, mas acabou ficando com o compositor Jerry Goldsmith (o lendário compositor de "Instinto Selvagem", de 1992). Goldsmith era amigo de longa data do Bernard Herrmann (compositor do clássico de 1960). Devo dizer que Goldsmith fez um trabalho decente, conseguiu deixar bem a sua marca nesse universo clássico.
"Psicose 2" arrecadou US$ 34,7 milhões nas bilheterias com um orçamento de US$ 5 milhões. Foi seguido por "Psicose 3" (1986) e "Psicose 4 - A Revelação" (1990), além de um polêmico remake lançado em 1998.
Concluo afirmando que eu nunca fui a favor de remakes e continuações em certas obras que são autossuficientes e irretocáveis, que é justamente o caso do clássico "Psicose". Contudo, "Psicose 2" é uma continuação decente, que soube respeitar a essência da obra original e construir a sua própria história sem se passar por uma cópia barata - por mais que as partes finais eu considere ruins. Mas como um todo eu acho que valeu a tentativa, principalmente por trazer de volta dois ícones do clássico, que são o Anthony Perkins e a Vera Miles. Acredito que o mestre Alfred Hitchcock nem se revirou tanto assim em seu túmulo. [15/06/2023]
"Breaking Bad" é uma série americana criada e produzida por Vince Gilligan (roteirista da lendária série "Arquivo X", dos anos 90) para a AMC. Situada e filmada em Albuquerque, Novo México, a série segue Walter White (Bryan Cranston), um professor de química do ensino médio mal pago, superqualificado e desanimado que está lutando com um diagnóstico recente de câncer de pulmão em estágio três. White se volta para uma vida de crime e faz parceria com um ex-aluno, Jesse Pinkman (Aaron Paul), para produzir e distribuir metanfetamina para garantir o futuro financeiro de sua família antes que ele morra, enquanto navega pelos perigos do submundo do crime.
Já inicio afirmando que "Breaking Bad" é a melhor série do século, a verdadeira obra-prima das séries e está simplesmente entre as melhores séries já criadas em toda a história. Sim, eu sou mais um louco completamente fissurado nessa série. Mais um na extensa lista dos que consideram esta série completamente perfeita em todos os sentidos.
O que mais me surpreende em "Breaking Bad" é sem dúvida o roteiro, que é absurdamente impecável e genial em todos os quesitos. Pois aqui temos uma obra que navega no drama, no investigativo, elaborando todo um Thriller policial, que permeia todos os acontecimentos acerca da principal figura da série, que é exatamente o Sr. Walter White. Toda história de "Breaking Bad" é obviamente fictícia, mas facilmente podemos encaixá-la em nossa própria vida, em nosso próprio cotidiano, pois a partir do momento em que somos confrontados com a figura do Sr. White, um professor de química que leva uma vida monótona e frustrada, que tem que desempenhar o seu papel de pai e chefe de família, que obviamente passa pelo fato de ter um filho deficiente, facilmente podemos logo se identificar com toda a sua história.
E é exatamente dessa forma que a história transcorre inicialmente, nos apresentando e nos imergindo na história da vida de Walter White. O roteiro da série nos surpreende e se mostra ainda mais interessante a partir do momento em que somos confrontados com o Sr. White descobrindo a existência de um câncer de pulmão, sendo que essa descoberta também lhe traz a notícia que ele terá pouco tempo de vida pela frente. Ou seja, o que se passará na cabeça do Sr. White a partir dessa descoberta? O que ele estará pensando a partir do momento em que se vê diante dessa gravíssima situação, ainda mais sendo confrontado com a sua questão financeira, que não é um das melhores, e ainda com a condição de uma esposa grávida?
Realmente é muito difícil se colocar na pele do Sr. White e se imaginar naquela situação e naquelas condições. A recente descoberta do seu câncer de pulmão logo o obriga a tomar certas decisões enquanto ainda há tempo de vida, e qual é a sua principal decisão? Sim, o Sr. White sendo um expert em química e tendo o conhecimento dos altos lucros financeiros desse submundo, ele passa a criar e vender a sua própria metanfetamina. E quem aqui vai julgá-lo pela sua decisão? Quem aqui também não pensaria em fazer exatamente o que ele fez? Quem aqui não pensaria em usar todo o seu conhecimento em química para faturar um bom dinheiro para deixar a sua família em condições melhores após a sua morte? Por mais que seja errado, por mais que seja ilícito, por mais que você saiba das consequências que esta decisão pode lhe trazer, mas você já tem pouco tempo de vida, se você for preso você vai morrer de qualquer jeito, então porquê não deixar o seu filho deficiente e a sua filha que vai nascer financeiramente melhor? Muitos podem afirmar que jamais fariam isso, que jamais tomariam esta decisão, mas todos nós não conhecemos os nossos reais limites quando estamos em certas situações. O ser humano é capaz de tudo, ainda mais quando se sente ameaçado e em uma situação de emergência.
Outro ponto muito interessante é o alerta que a série nos faz em relação à nossa organização financeira, em outras palavras, a nossa forma em ter um controle financeiro dentro da nossa família. Uma reserva financeira garante mais tranquilidade para lidar com situações adversas, ou seja, exatamente as questões que o Sr. White iria enfrentar a partir do momento que descobriu o câncer. Obviamente ele foi pego desprevenido financeiramente na questão do tratamento da sua doença.
A primeira temporada de "Breaking Bad" deveria contar com nove episódios, porém foi reduzida devido à greve dos roteiristas americanos que ocorreu naquele ano (e que voltou a acontecer atualmente). E mesmo com a redução de dois episódios, a primeira temporada ficou perfeita, conseguiu elaborar muito bem cada acontecimento, onde a cada episódio íamos se afeiçoando cada vez mais com o Sr. White e com a sua história. O primeiro episódio é exatamente aonde começamos a descobrir a arte do mundo da química. O Sr. White é um artista, da sua maneira mas ele é um artista. Um fato muito curioso e pertinente: temos aqui um professor de química que tem que se submeter à um tratamento de quimioterapia. No segundo episódio temos aquela bizarra cena da banheira demolindo o teto da casa do Pinkman. O terceiro episódio nos traz uma reflexão sobre o Sr. White; de fato ele não é um criminoso, pelo menos ainda, ele está nessa unicamente pelo dinheiro para deixar para a sua família. Tudo isso se resume bem na cena em que ele sofre ao pedir desculpas após ter matado enforcado o Krazy-8 (Maximino Arciniega). Por sinal antes da morte temos uma cena que nos surpreende, quando os dois conversam e revive suas histórias do passado. A partir do episódio quatro em diante, é onde a série é envolvida por um peso dramático ainda maior. Pois temos a surpresa da revelação do câncer para toda a família. Temos a corrida contra o tempo em busca de um tratamento, tratamento este que ainda tem que passar pela a aceitação do Sr. White. O sexto episódio é bem chocante, pois é nesse episódio que o Sr. White raspa a cabeça e sai do modo defesa e parte de cabeça para o modo ataque (quando ele vai enfrentar o líder traficante). Aquela cena final da explosão foi antológica. Que cena maravilhosa! Já o sétimo (e último) episódio, é onde temos algumas revelações surpreendentes. É realmente incrível quando sequer imaginamos que ao nosso redor tem pessoas que fazem parte da nossa família e que fazem coisas ilegais. Este é o poder que esta série tem, pois pode não parecer, mas ela traz várias reflexões, você começa a refletir sobre as motivações de cada um, nos objetivos de cada um, nas pretensões de cada um. É simplesmente fantástico!
Uma série fantástica precisa contar com um elenco fantástico! Bryan Cranston (lendário em várias séries dos anos 90) é um grande ator, que já teve vários personagens importantes ao longo da sua carreira cinematográfica. Porém, ele ficou estigmatizado pelo Sr. Walter White. Um trabalho absurdo, uma atuação irretocável, um personagem que lhe caiu como uma luva, que sequer eu poderia imaginar outra pessoa em seu lugar. Completamente eterno!
Aaron Paul (da série "Westworld") foi o contraponto perfeito do Bryan Cranston. Paul soube incorporar a figura do Jesse Pinkman exatamente da forma como o roteiro precisava e pedia. Pinkman era aquele parceiro problemático, descontrolado, impulsivo, que metia os pés pelas mãos, que tomava decisões erradas, se mostrando completamente ao inverso do Sr. White. Acho que é por isso que essa dupla improvável deu tão certo dentro da série. Na minha opinião, a interpretação do Aaron Paul casou perfeitamente com o Jesse Pinkman.
Anna Gunn (da série "Shades of Blue") é uma personagem um tanto quanto improvável. Skyler White é a personificação da esposa que vive dentro do seu mundo, presa na sua bolha, que não enxerga um palmo na frente do seu nariz. Quando ela descobre a doença do marido ela quer correr contra o tempo, tomando muita das vezes até decisões precipitadas sem o consultar. Achei uma atuação muito boa da Anna Gunn, bastante condizente com uma personagem que se mostra bem resistente no que deseja.
Dean Norris (do clássico "O Vingador do Futuro", de 1990) é o agente da DEA, Hank. É muito interessante o propósito do Hank dentro da série, até por ele ser o inverso do Sr. White (ou não). Era como estar no terreno do inimigo sem perceber. Já a Betsy Brandt (da série "Only Murders in the Building") faz o papel daquela irmã bem peculiar, que a gente confia desconfiando, que morde e assopra. A cleptomaníaca Marie é uma figura bem inusitada dentro da série. RJ Mitte ("Banho de Sangue", de 2018) tem paralisia cerebral na vida real, embora a sua seja uma forma mais branda, que o possibilita de atuar. Walter Jr é aquele filho sempre preocupado com o pai, principalmente após descobrir da existência da sua doença, o que o deixa bem revoltado com a situação.
A primeira temporada de "Breaking Bad" recebeu inúmeros prêmios e indicações, incluindo quatro indicações ao Emmy Award e vencendo em duas categorias. Bryan Cranston venceu como melhor ator de série dramática e Lynne Willingham ganhou como melhor edição de série dramática. Vince Gilligan foi indicado ao melhor diretor de série dramática pelo episódio piloto e John Toll foi indicado ao prêmio de melhor cinematografia para séries de até uma hora pelo episódio piloto. Cranston também ganhou o Satellite Award como melhor ator em série dramática. A série também foi indicada como Melhor Novo Programa do Ano (TCA Awards). A série também ganhou três indicações ao Writers Guild of America Award, vencendo uma categoria. Ela foi indicada como melhor série, Patty Lin foi indicada ao Melhor Episódio Dramático por "Gray Matter" e Vince Gilligan venceu como melhor Episódio Dramático pelo episódio piloto.
Tecnicamente a série também é impecável! Temos uma excelente trilha sonora de Dave Porter, que além das suas composições a série também usa músicas de outros artistas. A cinematografia é muito bem trabalhada. O mesmo vale para a direção de arte, que soube regrar cada detalhe com bastante atenção de acordo com o padrão da série. Sem falar na montagem, edição, mixagem de som e direção de cada episódio, tudo completamente perfeito, sem uma falha. Realmente é um absurdo o que esta série entrega até em questões técnicas e artísticas.
A primeira temporada de "Breaking Bad" foi o pé na porta, foi a entrada triunfal, foi o início desse fenômeno mundial, dessa aclamadíssima série, que por sinal é merecidíssima de todos os elogios e reconhecimentos possíveis. "Breaking Bad" é a nossa verdadeira droga, a nossa verdadeira dependência química, pois temos aqui toda a magnitude dessa obra em nos apresentar uma primeira temporada com um roteiro inteligente, muito bem escrito, muito bem trabalhado, muito bem pensado, que nos confronta com uma história que podemos nos identificar, onde temos situações que misturam realidades com situações bem extremas. Genial!
É muito difícil você encontrar aquela obra perfeita, aquela obra irretocável, aquela obra primorosa, aquela obra peculiar, e "Breaking Bad" é esta obra perfeita, é esta obra triunfal, é esta obra impactante, é esta obra magnífica. Aquela verdadeira obra-prima das séries! Top 1 na minha lista de melhores séries de todos os tempos! Sem mais! [11/06/2023] ⭐⭐⭐⭐⭐ 👏👏👏👏👏
O Exorcismo de Emily Rose (The Exorcism of Emily Rose) 2005
"O Exorcismo de Emily Rose" é dirigido por Scott Derrickson, roteirizado pelo próprio Derrickson e por Paul Harris Boardman ("Livrai-nos do Mal", de 2014). O filme narra a história da jovem estudante Emily Rose (Jennifer Carpenter), que morre em um exorcismo depois de ser possuída por forças demoníacas. Agora, o ceticismo da advogada Erin Bruner (Laura Linney) é posto à prova quando ela deve defender no tribunal o padre Richard Moore (Tom Wilkinson) que exorcizou Emily.
"O Exorcismo de Emily Rose" é surpreendentemente baseado em uma história real: em 1968 aos 16 anos, Anneliese Michel, uma jovem alemã católica, começou a apresentar sintomas e comportamentos que foram diagnosticados como epilepsia aliado a um quadro de esquizofrenia, após diversos episódios de convulsão. A partir de então, a menina entrou em depressão profunda e tentou suicidar-se algumas vezes. A família de Anneliese, que era muito devota da Igreja, começou a acreditar que seu caso não era médico e sim sobrenatural. Durante os dois anos em que passou por exorcismos, Anneliese perdeu muito peso e ficou extremamente fraca. Em 1 de julho de 1976, Anneliese morreu durante o sono, como resultado da recusa em se alimentar e beber água, principalmente durante as sessões de exorcismo. O relatório da autópsia indicou que a causa da morte foi por desnutrição e desidratação de quase um ano de inanição.
Temos aqui uma excelente obra do terror que mistura o místico e o sobrenatural com o suspense, com o drama e com o investigativo. A forma como roteiro foi escrito e transplantado para a tela é de uma inteligência e de uma eficiência absurda. O roteiro de "O Exorcismo de Emily Rose" é sem nenhuma dúvida o melhor roteiro que eu já vi em um filme de terror. Pois a forma como se basearam na história real da vida e morte da jovem Anneliese, usando aquele contraponto entre a ciência e a religião, expondo os dois lados da história, que confrontava exatamente com a crença de cada um ali presente no tribunal, é no mínimo surpreendente e totalmente intrigante.
A principal questão aqui é justamente a forma como muitas pessoas vão de encontro com a obra, pois muitos se surpreendem exatamente na questão da abordagem diversificada do roteiro, e muitos se frustram pelo fato do filme não priorizar somente o terror, o susto, ou os famosos jumpscare (que é o que muitos esperam). A cereja do bolo desse maravilhoso roteiro é exatamente o poder que ele tem em desafiar o nosso subconsciente, a nossa crença, a nossa fé, a nossa doutrina, o nosso ceticismo e o nosso ateísmo. O maior destaque aqui é o respeito que o roteiro tem pela história real, por não tratar a história de forma gratuita, por não vulgarizar e banalizar o caso, por mostrar uma análise autêntica e verdadeira dos fatos que ocorreram. De fato o roteiro abre um leque de possibilidades que te dá margens para construir a sua crença, para você analisar cada história e decidir em qual acreditar.
"O Exorcismo de Emily Rose" é um terror que se sobressai dos demais exatamente por trazer uma construção que não é 100% baseada naquele terror que vai te assustar à todos os momentos, que vai te colocar pânico em todas as cenas, pois aqui temos toda uma parte analítica do caso, que envolve a medicina e sua opiniões, juntamente com a religião e sua fé. Essa guerra que é travada no tribunal mostra todas as consequências de um exorcismo falho entre seus mais variados aspecto, o que é logo confrontado com a ciência e seus termos éticos, e a política e seus termos jurídicos e investigativos. O que de fato temos é um grande embate envolvendo a arquidiocese e a medicina. Exatamente por isso que a obra em si não é feita unicamente para assustar, mas sim para explorar a sua capacidade de pensar dentro de uma temática de terror.
Outro ponto bastante interessante dentro do roteiro é a forma como é tratada a imprudência e a negligência, tanto religiosa quanto médica. Sendo um problema mental ou de possessão, ambos os lados mostraram uma certa negligência no caso. A medicina acreditava que Emily era patológica, que ela era epilética e psicótica, que ela apresentava ataques com sintomas de esquizofrenia, alucinações visuais e às vezes paranoia. Baseado no diagnóstico médico, os ataques que a Emily tinha poderiam paralisar as articulações do seu corpo e o contorcer levemente, e as sua pupilas se delatar. Ou seja, podem ser considerados como sintomas médicos, mas também são causas de possessão demoníaca, pela opinião da Igreja. Já a negligência pelo lado da religião se dá exatamente no fato de expor a vítima ao extremo da sua fé e da sua crença religiosa, de subjugar os limites humanos quando a pessoa está completamente debilitada. Sem dúvida é o maior caso de um confronto entre a psiquiatria e a religião já abordada nesse gênero cinematográfico.
Outro lado que o filme explora é o agnosticismo. A própria advogada de defesa (Erin Bruner) se autoproclama como uma pessoa agnóstica, que não acredita na existência de Deus ou de qualquer outra divindade. Ela realmente acredita que não existe qualquer conhecimento efetivo que comprove a existência ou não existência de um deus. Porém, na medida que o processo transcorre o cinismo e o ateísmo de Erin são desafiados pela fé do Padre Moore e também pelos eventos inexplicáveis em torno do caso. Sendo assim ela passa acreditar na possibilidade da existência de entidades paranormais e até do próprio Deus. É impressionante com a Erin vai saindo daquela postura de descrente, de superior, que justamente se deu pelo fato do seu último caso no tribunal, o que inflou bastante o seu ego. Após o Padre Moore lhe advertir sobre a possibilidade de entidades sobrenaturais começarem a se aproximar, ela entra em um incrível estado de desconstrução, ela começar a adentrar nos acontecimentos ocultos e sombrios que começavam a acontecer em sua vida. Erin Bruner estava em uma guerra espiritual.
Baseado nesse comportamento da personagem Erin Bruner, temos a excelente atuação de Laura Linney (da série "Ozark"). Laura compôs uma personagem que inicialmente se sentia superior, que encarava o caso com irrelevância, porém, quando ela vai adentrando na história do Padre Moore e da Emily, ela passa a acreditar em várias possibilidades que até então era desconhecida para ela. Erin passa a ter um comportamento de uma advogada que queria defender e acima de tudo queria expor os fatos verdadeiros, que queria trazer a atenção de todos para a verdadeira possessão demoníaca. Um verdadeiro show! Uma atuação completamente impecável de Laura Linney. Facilmente uma das melhores personagens de toda a sua carreira.
Não seria nenhum pretenciosismo eu afirmar que aqui temos a melhor atuação e o melhor filme de toda a carreira da Jennifer Carpenter (seu primeiro filme foi "As Branquelas", de 2004). Pelo menos o trabalho mais marcante, isso sem dúvida. Jennifer faz um trabalho tão primoroso, tão avassalador, tão compenetrado, que chega a assustar a tamanha perfeição que ela emprega em cada cena (que não são muitas). A cada aparição da Emily nos flashback soava como o contraponto perfeito entre a sua própria história e aquele embate no tribunal. E a Jennifer trouxe uma interpretação completamente tenebrosa, assustadora, autêntica, que muita das vezes era mesclado entre o seu próprio suspense e o seu próprio terror. Aquela cena do exorcismo, que começa em seu quarto e vai até o estábulo, é completamente absurda, cujas contorções corporais "demoníacas" eram muitas vezes alcançadas sem a ajuda de efeitos visuais. O que a Jennifer entregou ali é algo surreal, estratosférico, uma atuação milimetricamente perfeita e assustadora.
Tom Wilkinson (lendário em "O Patriota", de 2000) é mais um do elenco que entrega uma atuação monumental. Tom deu vida para o Padre Richard Moore: o principal culpado e o causador da morte da jovem Emily, o verdadeiro réu daquela história (pelo menos pela visão da ciência). O que mais impressiona na atuação de Tom Wilkinson é aquela figura de uma Padre inabalável, aquela rocha, aquela postura segura, arrojada, certo de si, da sua crença e da sua fé. Esta era a carapaça que o Padre Moore apresentava no tribunal, pois dentro de si ela estava sofrendo terrivelmente, ela estava desabando, ele estava em uma completa luta emocional e espiritual. Mas ele se manteve firme na sua missão em relatar para todo mundo a verdadeira história da Emily Rose. Belíssima atuação de Tom Wilkinson.
Campbell Scott (recentemente esteve em "Jurassic World: Domínio", de 2022) pode ter sido ofuscado no meio desse elenco e dessas esplêndidas atuações, mas ele precisa ser reconhecido, ele precisa ser destacado, ele precisa levar os créditos pelo seu excelente personagem. Campbell fez o personagem Ethan Thomas, o advogado de acusação do caso. Campbell travou uma verdadeira guerra de palavras, diálogos, discursos e acusações com a Laura Linney naquele magnífico embate no tribunal. Às cenas que mostravam os dois defendendo o seu ponto de vista era incrível, um verdadeiro espetáculo feito apenas com o uso das palavras. Campbell soube incorporar um autêntico acusador, que expunha os fatos com bastante veemência, sempre sendo bastante incisivo com as palavras, sempre muito certo de si e se cobrindo com a razão que inicialmente estava ao seu favor. Campbell Scott também entregou tudo em seu personagem.
Hoje em dia é impossível você encontrar um filme de terror com atuações tão excelentes como em "O Exorcismo de Emily Rose".
Mais uma vez eu preciso destacar que não seria nenhum pretenciosismo em afirmar que "O Exorcismo de Emily Rose" é o melhor trabalho da carreira do Scott Derrickson (que fez um grande trabalho em "O Telefone Preto", de 2021). Derrickson teve muito cuidado e muito respeito ao relatar os fatos que ocorreu ao redor da história da Emily Rose (isso pode ser comprovado nos extras do filme). Tanto na direção quanto no roteiro ele empregou suas decisões de um modo que não obrigasse ninguém a concordar com o seu ponto de vista, ou com sua opinião sobre o caso da história real. A decisão em apresentar a história de forma aberta foi a melhor decisão que ele (junto com sua equipe) poderia ter tomado.
E por falar no Scott Derrickson, o seu trabalho atrás das câmeras é impecável. Como podemos comprovar ao longo do filme, como nos takes precisos durante o embate no tribunal. A cena do exorcismo no quarto e no estábulo é o ápice da sua direção, ali podemos claramente comprovar o tamanho da excelência e da competência de Scott Derrickson. Incrível como ele soube usar a câmera nessa cena, como ele soube captar perfeitamente tudo que estava acontecendo ao entorno da cena, como ele soube dosar os focos em cada personagem, em cada acontecimento (como na própria Emily possuída), como ele soube ser preciso e cirúrgico nas tomadas mais horripilantes de cada cena. Direção impecável de Scott Derrickson!
Aliado com a excelente direção de Derrickson, temos um roteiro irretocável (como já destaquei anteriormente), que acerta muito bem na decisão em nos contar a história da Emily na medida que os depoimentos iam sendo ouvidos no tribunal e as cenas iam sendo revividas através de flashbacks. A trilha sonora de Christopher Young (lendário compositor de "A Hora do Pesadelo") é penetrante, estridente, incômoda, perturbadora, a responsável em aumentar cada vez mais a nossa tensão juntamente com o suspense. A cinematografia é outro grande destaque da obra, que soube extrair com uma perfeita fotografia que sempre confrontava a medicina discutida no tribunal com a possessão vivida pela Emily. O longa é muito bem preparado com uma ótima montagem, uma ótima edição, uma mixagem de som muito limpa e uma direção de arte que acertou em todos os detalhes.
"O Exorcismo de Emily Rose" arrecadou $ 75,1 milhões no mercado interno e $ 144,2 milhões em todo o mundo contra um orçamento de $ 19 milhões. Ainda assim Derrickson afirmou que o filme não teve tanto sucesso quanto ele esperava.
O longa-metragem ganhou o MTM MOVIE AWARDS 2006 com a Melhor Performance Assustadora para a Jennifer Carpenter e ela foi indicada à Melhor Performance Revelação.
No site agregador de resenhas Rotten Tomatoes, o filme detém um índice de aprovação de 44%, com base em 157 resenhas. O consenso crítico do site diz: 'Vagamente baseado em uma história real, "O Exorcismo de Emily Rose" mistura um drama convincente de tribunal com sustos geralmente sem sangue em uma bela abordagem do cinema demoníaco'. No Metacritic, tem uma pontuação geral de 46 de 100, com base em 32 avaliações.
Eu tive o enorme prazer em assistir esta belíssima obra na tela gigante do cinema em dezembro de 2005, cujo ingresso tenho guardado até hoje. Vivi mais uma das várias experiências incríveis e assustadoras que já passei ao longo da vida no cinema.
"O Exorcismo de Emily Rose" é uma obra excelente, porém hoje em dia eu o vejo como um filme muito subestimado, que não tem o valor e o verdadeiro reconhecimento que merecia.
Para mim o filme é uma verdadeira obra-prima do terror psicológico, do drama psicológico, do suspense investigativo, que traz um excelente debate entre a ciência e a religião, te expondo à todos os limites humanos da fé e da medicina, mas sem apelar para o terror trivial dos clichês e dos jumpscare. Um filme que já se tornou um clássico cult, uma obra contemporânea, uma obra influente, que ganha mais peso e mais relevância justamente por ter sido baseado em uma terrível e triste história real.
Existe um livro que conta a história real por trás de todos os acontecimentos que inspiraram o filme "O Exorcismo de Emily Rose" - este livro se chama "Possessão". Ainda não li mas está na minha lista de livros para ler.
Eu considero "O Exorcismo de Emily Rose" como o "Melhor" filme de exorcismo desde o clássico eterno "O Exorcista" (1973). Para mim são os únicos filmes que realmente devem ser considerados como uma verdadeira obra-prima quando nos referimos sobre a temática de exorcismo e possessão.
"O Exorcismo de Emily Rose" não é somente o melhor filme de exorcismo da década de 2000, mas é também um dos melhores da história desse gênero cinematográfico. Um clássico eterno! [09/06/2023]
Agora que terminei a terceira temporada posso afirmar com 100% de certeza que a série "Ash vs Evil Dead" é muito boa e foi uma ideia genial desse eterno trio (Bruce Campbell, Rob Tapert e Sam Raimi).
Se na segunda temporada eu constatei um certo sinal de desgaste, pelo fato de toda temporada ser praticamente igual a primeira e ainda terminar os eventos novamente na lendária cabana na floresta. Dessa vez somos completamente surpreendidos, como uma temporada excelente, que soube se reinventar, inovar, começar a tomar um rumo diferente, trazer novos elementos e ainda usar o mesmo universo mas com uma história diferente e um final apoteótico.
A temporada mantém o mesmo ritmo das anteriores, sendo bastante fluida, dinâmica, voraz, novamente apostando pesado na violência explícita, na sanguinolência extrema, ou seja, entregando um gore maravilhoso pra ninguém botar defeito.
Dessa vez a temporada se inicia com um Ash (Campbell) sendo glorificado como o salvador da humanidade em Elk Grove, exatamente pelos eventos da segunda temporada. E nesse quesito a série novamente acerta muito bem na comédia trash de terror, no terrir, no humor negro, nessa mistura de horror e comédia ultrajante que todos adoramos dessa franquia. Novamente temos a figura de um Ash cada vez mais tiozão, sempre trajado no seu politicamente incorreto, com suas frases de efeitos, com seu humor ácido, com suas tiradas cômicas, com seu timing cômico e seus bordões clássicos. Ash Williams é aquele personagem que sempre amamos ao longo de todos esses anos, aquele velho amigo que conhecemos há mais de 30 anos, aquele canastrão que é pervertido, é incorreto mas adorado no horror.
O primeiro episódio é excelente, facilmente o melhor episódio de toda a série ao longo dos 30 episódios. Já na abertura somos surpreendidos pelo comercial daquela exótica casa de ferramentas (Ashy Slashy's), com o Ash falando que sempre usou a motosserra para cortar os demônios mas que agora ele usa para cortar os preços - cena impagável! Quem vende brinquedos sexuais em uma loja de ferramentas? Ainda temos aquela cena na escola com os instrumentos musicais atacando o Ash, que faz uma clara referência ao "Evil Dead 3". Sem falar que ainda somos confrontados com a Kelly (Dana DeLorenzo) com seu novo amigo Dalton (Lindsay Farris), que é um integrante dos Cavaleiros da Suméria, e a surpresa para o Ash e para nós de uma filha.
Um ponto interessante nessa temporada é o fato da série tentar humanizar a figura do Ash ao confrontá-lo com o peso da paternidade. Soa até engraçado imaginar o Ash sendo pai, tendo que conviver com uma filha adolescente (que é bem descontrolada por sinal) nas costas. E é exatamente isso que temos aqui senhoras e senhores, sim, um Ash Williams pai! Essa foi a maior surpresa do primeiro episódio e de toda a temporada, a integração da Brandy (Arielle Carver-O’Neill) como a filha do Ash (onde sua mãe é logo morta pelos deadites). E fica interessante acompanhar o desenvolvimento daquela possível ligação de pai e filha, daquela possível família que já começou toda errada, onde o próprio Ash terá que se adaptar à nova vida de ser pai e lutar contra os demônios kandarianos. E por incrível que pareça ao final temos um Ash menos egoísta, menos arrogante, mais família, mais protetor e sendo aquela figura de pai herói.
O segundo episódio tem uma abertura incrivelmente bizarra, que é aquele parto do bebê demônio explodindo a barriga da Ruby (Lucy Lawless). Uma cena com uma sanguinolência insana e um gore extremo, sem falar que os efeitos nessa parte ficaram incríveis. É nesse episódio onde começa as primeiras abordagens sobre os "The Dark Ones" (os Cavaleiros das Trevas), que são conhecidos como os possíveis escritores do "Necronomicon" (o livro dos mortos) e que estão em busca dele.
A terceira temporada se sobressai exatamente por trazer um roteiro mais completo, com elementos mais exploráveis, com novas ideias funcionais, sem ficar somente na sempre dependência do "Necronomicon". Ou seja, temos abordagens sobre o conceito da paternidade, os Cavaleiros da Suméria, que são uma ordem templária secreta criada há milhares de anos para ajudar no combate do mal, e os "The Dark Ones" (que se parecem com os dementadores do "Harry Potter").
O nono episódio nos mostra mais a respeito dos "The Dark Ones", o que confronta diretamente com a finalmente morte da Ruby (que já estava mais do que na hora). Além daquela cena da Brandy enfrentando seu celular demônio na garagem, onde temos uma cena com um gore digno de uma verdadeira filha do Ash Williams.
O décimo episódio segue a excelência da temporada, ao nos mostrar o embate final com o gigantesco demônio "Kandar" (o destruidor) no meio da cidade de Elk Grove (Califórnia). E aqui temos um ponto muito interessante, que é o direcionamento da luta final para a cidade e não para a famigerada cabana na floresta - ponto muito positivo! Interessante mostrar a propagação mundial dos ataques, ou seja, Ash realmente condenou todo a humanidade. A luta contra o "Kandar" é muito boa, pois até o exército estava atacando e não somente o Ash. Mas fato é que somente o Ash tem o verdadeiro poder para destruir todos os demônios kandarianos.
A terceira temporada está repleta de cenas clássicas, emblemáticas e como nunca pode faltar, as famosas cenas hilárias também estão presentes. Nada como a cena bizarra no laboratório de espermas, onde o Ash encara aquele demônio ao som da clássica Take On Me, do A-ha. Mais uma cena completamente sem escrúpulos ao desafiar o Ash com uma luta contra o bebê demônio enfiado dentro de um corpo sem cabeça. Incrível como estas cenas já são clássicas dentro do universo "Evil Dead" e como elas são marcas registradas da franquia. Por outro lado também temos os momentos fofos como a cena em que o Ash entrega para a Brandy o icônico amuleto.
O elenco sempre foi um ponto positivo na série e nessa temporada não seria diferente: Bruce Campbell sempre excelente, com um personagem completamente imortalizado e eternizado na cultura pop, e que vai deixar saudades do seu icônico Ash Williams. O próprio Bruce Campbell deixou um depoimento emocionado nas redes sociais dizendo que o Ash foi o personagem de toda a sua vida. Ray Santiago e Dana DeLorenzo como sempre estão impecáveis. Incrível como nas três temporadas o Pablo e a Kelly estiveram excelentes e sendo muito bem interpretados. Lucy Lawless traz uma personagem que nunca me desceu e nunca me convenceu durante toda a série. A Ruby foi uma personagem totalmente controversa, que ora soava como uma ameaça ora soava como nada. Uma antagonista perdida, uma vilã fajuta, que sempre tentava impor os seus objetivos mas falhava miseravelmente. Já a Arielle Carver-O’Neill esteve bem como a filha perdida do Ash. Inicialmente eu devo confessar que dava raiva da Brandy, e muito por ela se portar como aquela patricinha mimada, aquela garotinha inocente, indefesa, perdida, subornável, mas ao final ela ganhou a minha empatia e se mostrou uma boa adição da temporada.
Esta terceira temporada também se destaca nas partes técnicas: Temos uma excelente trilha sonora, onde combinava perfeitamente como cada acontecimento dos episódios (principalmente no décimo). A fotografia se destaca notavelmente, eu diria que é a melhor fotografia de toda a série. Os efeitos especiais sempre foram marcas registradas da franquia (desde os primórdios), e aqui eles estão impecáveis. Ponto positivo também para a direção de cada episódio. E mais uma vez temos episódios curtos (que não ultrapassam meia hora), que já se tornou marca da série.
Agora falando da parte final da temporada: Ao final do décimo episódio, após o Ash derrotar o "Kandar", ele acorda em uma espécie de futuro distópico. Possivelmente um futuro onde tudo do passado foi destruído e só restou o Ash (como uma espécie de androide) e uma garota misteriosa que também tem uma aparência de metade humana e metade robô. Claramente este final soava como uma possível continuação em uma quarta temporada futurista. Sem falar naquele veículo todo equipado no maior estilo de um "Mad Max" futurista. E ainda sobre o final da temporada: ficamos sem saber o que de fato aconteceu com a Brandy, o Pablo e a Kelly. E mais triste ainda, nunca saberemos!
Infelizmente após a terceira temporada a série "Ash vs Evil Dead" foi cancelada devido ao baixo número de audiência (para a minha tristeza e de todos os fãs de "Evil Dead"). Bruce Campbell chegou a afirmar que isso aconteceu pelo fato de ninguém conhecer a Starz (plataforma que produziu a série) na época que ela estava sendo exibida. Porém, em julho de 2022, Campbell confirmou que uma animação estava em processo de desenvolvimento.
"Ash vs Evil Dead" termina com uma temporada com um alto nível de excelência. Pois confesso que ao final da segunda temporada eu achava que os motivos para o cancelamento da série estariam nessa terceira temporada, e agora eu constatei que não estavam. Pois a temporada é muito boa, entrega tudo que promete, além de manter toda a essência do universo "Evil Dead" e ainda se reinventar tomando novos rumos para a série que infelizmente não acontecerá mais. Realmente a série foi cancelada onde deveria começar (ou continuar), pois com esse final de temporada abriria o leque para várias possibilidades de exploração dentro de uma temática futurista, que sempre foi o sonho da franquia e principalmente do Sam Raimi.
O que fica é um enorme sentimento de tristeza misturado com nostalgia, pois a franquia "Evil Dead" é sem dúvida uma das minhas franquias de terror preferida de todos os tempos. O que nos resta é guardar na memória a figura do eterno Ash Williams lutando contra os lendários deadites. Pois de fato ficamos órfãos do nosso anti-herói canastrão, da comédia trash de terror, do gore extremo, do icônico "Necronomicon", do lendário Delta, da clássica boomstick e da famigerada motosserra. Uma pena! [03/06/2023]
"IT" (também conhecido como "Stephen King's IT") é uma telessérie que foi dividida em duas partes lançada pela ABC em 1990. A minissérie foi dirigida por Tommy Lee Wallace e adaptada por Lawrence D. Cohen do romance de Stephen King de 1986 com o mesmo nome. A história gira em torno de um monstro predador que pode se transformar nos piores medos de suas presas para devorá-las, permitindo-lhe explorar as fobias de suas vítimas. Ele assume principalmente a forma humanóide de Pennywise, um palhaço cômico sombrio. Os protagonistas são "The Lucky Seven", ou "The Losers Club" (Clube dos otários), um grupo de crianças rejeitadas que descobrem Pennywise e juram matá-lo por todos os meios necessários. A série se passa em dois períodos de tempo diferentes, o primeiro quando os perdedores confrontam Pennywise pela primeira vez quando crianças em 1960, e o segundo quando eles retornam como adultos em 1990 para derrotá-lo uma segunda vez depois que ele ressurge.
O livro "IT" foi inspirado em um conto de fadas infantil da Noruega. A revelação foi feita pelo próprio autor em seu blog oficial.
"IT" (em português "A Coisa") foi o maior livro que eu já li em toda a minha vida bibliófila. A obra literária do mestre King possui 1.103 páginas que te leva para uma experiência incrível, além de bastante sombria e tenebrosa, é claro. O livro nos proporciona uma verdadeira viagem abordo daquela história na cidade fictícia de Derry (Maine), juntamente com o grupo das 7 crianças e os 7 adultos. Sem dúvida "IT" está na prateleira das melhores obras do mestre, e muito por nos proporcionar uma leitura fluida, dinâmica, prazerosa, ao mesmo tempo que éramos confrontados pela figura macabra, sombria, oculta e misteriosa de Pennywise. "IT" te agarra com uma história tão impactante e tão envolvente, onde nos sentíamos parte daquela história que estava sendo contada. Era como se também fizéssemos parte do grupo - incrível! "IT" foi uma experiência surreal, uma das melhores que eu já tive na vida.
A ideia de adaptar o romance do mestre King em um formato de telefilme, onde foi construído diretamente para a TV norte-americana, foi uma ideia muito boa e que deu bastante certo na época. Até pelo tempo de duração, onde temos 3h12min, que faz bastante jus ao livro, já que o mesmo passa das 1000 páginas. No Brasil fizeram uma reestruturação e uniram as duas partes da minissérie em apenas uma.
"IT" é o puro suco de toda a essência cinematográfica oitentista e noventista! E o maior acerto dessa obra está justamente na adaptação, que particularmente considero "quase" perfeita. De fato temos aqui uma adaptação completamente fiel ao livro, que sim, tem algumas mudanças (o que é natural) mas são mudanças sutis, que colabora ainda mais com a história. Também temos algumas partes do livro que ficaram de fora e outras que foram modificadas, o que também é normal, mas a grande essência e a grande marca do livro está muito bem integrada na história. Dessa forma eu coloco "IT" junto com "Carrie", como as duas melhores adaptações das obras de Stephen King.
Um ponto que pode desagradar algumas pessoas está exatamente no fato da obra ter sido idealizada para a TV, o que obviamente diminuiu muito o apelo gráfico do terror, do horror, do medo, do sangue, e até de alguns pontos cruciais da história envolvendo temas como a pedofilia e o racismo. Digamos que a história em si ficou teoricamente mais leve, mais suave em relação ao livro, que sim, lá temos uma história muito mais pesada e chocante nesses pontos levantados. Outro ponto é na questão do terror como um todo e justamente na figura do palhaço Pennywise, que não tem aquele peso mórbido, soturno e grotesco do Pennywise do livro, sendo bastante aliviado até nas questões estéticas das cores. A figura do Pennywise graficamente é mais colorido, o que talvez não irá impor aquele pavor e aquele medo que muitos esperavam. Acredito que algumas dessas decisões se apliquem ao fato de realmente ser uma produção televisiva e também se esbarrarem nas questões dos efeitos e orçamentos da época, que obviamente era uma outra realidade, outras tecnologias, onde a aposta maior era justamente nas maquiagens ao invés dos efeitos.
Toda essas questões abordadas podem de fato ser o diferencial para algumas pessoas. Já eu vou na contramão, eu vejo a obra por outro lado, com outros olhos, aqui a ideia não é bem aquele medo que vai te levar ao susto (já que o longa em momento algum faz uso dos sustos forçados e dos jumpscare). Eu diria que a obra é calçada na tensão, no incômodo, no suspense, no pavor, no lúdico, que se mistura com os dramas, os medos e os traumas do passado com os fatores do presente na vida de cada um ali. Temos aqui uma obra completamente imergida no drama psicológico, no terror psicológico, no terror fantasioso, que confronta diretamente com o drama de cada um dentro da sua própria história. O próprio Pennywise se utiliza do medo de cada um, do trauma de cada um, para fazer as suas aparições e os seus ataques, que muita das vezes é envolto no mistério e no oculto.
O maior acerto do roteiro está exatamente na decisão em nos envolver na história fazendo um contraponto com o passado e o presente. Toda narrativa que foi criada a partir do telefonema de Michael Hanlon (Tim Reid), onde cada um ia sendo apresentado e inserido na história, onde íamos sendo confrontados com a figura do presente e suas lembranças do passado sendo revividas através de flashbacks, é muito funcional e encaixou perfeitamente com a principal proposta do roteiro. Essa mescla do presente e passado, com os personagens crianças e adultos, ficou excelente, principalmente pelo fato de cada um já adulto ao chegar na cidade começarem a reviver seus fantasmas do passado. Era como ao retornarem para a cidade os seus traumas, medos e frustrações de infância retornarem com eles, ou possivelmente eles não retornaram, mas estiveram todos esses anos guardados com cada um.
A primeira hora é justamente focada em apresentar e desenvolver cada personagem dentro da sua história. E o uso dos flashbacks ficaram perfeitos, casou perfeitamente com a proposta, pois em nenhum momento eles confundiram ou destoaram da trama central. Após a reunião e formação do grupo de crianças temos o então primeiro embate com a figura do Pennywise, onde as crianças saem vitoriosas desse primeiro confronto e juntos selam aquele pacto eterno. A partir da metade do filme temos a nova reunião do Loser Club, 30 anos depois, com cada um dono da sua própria vida e dos seus próprios negócios.
Eu considero a parte das crianças muito melhor que a parte dos adultos (isso em todos os quesitos). Era como se a parte das crianças representasse melhor a obra como um todo. Pois é nessa parte que temos a melhor adaptação em relação ao livro do mestre King; onde temos várias cenas icônicas como aquela clássica do Georgie Denbrough (Tony Dakota) com o barquinho e o primeiro encontro com o temível Pennywise. Além da clássica guerra de pedras e aquele encontro do Eddie Kaspbrak (Adam Faraizl) com o senhor Keene (Tom Heaton) na farmácia, onde o próprio afirma para o garoto que ele não sofre de asma e que aquele remédio nada mais era do que água.
A parte infantil na trama traz uma melhor adaptação justamente por ter mais peso nas questões dos traumas de cada um, dos seus medos e das suas frustrações. Já na parte adulta essa questão também está presente, mas de forma mais leve e sem o mesmo impacto e o mesmo peso de quando eram crianças. Na parte infantil é aonde temos uma abordagem maior em relação ao bullying, o racismo e a selvageria. Pelo lado do bullying temos a figura central do Ben Hanscom (Brandon Crane), que é sempre atacado por ser uma criança gorda. Já na questão do racismo temos a figura central de Mike Hanlon (Marlon Taylor), que é atacado por ser negro. Apesar que aqui temos abordagens muito mais leves em relação à estas partes no livro, já que a história do racismo sofrido por Mike e sua família é bem mais detalhada e triste. Além de explicar exatamente que o clube "Black Spot" foi incendiado pelo "Ku-Klux-Klan", o livro também traz agressões bem mais pesadas praticadas por Henry Bowres (Jarred Blancard). O valentão sempre usa termos racistas para se referir a Mike e pratica gordofobia com Ben. Já na questão da pedofilia, foi uma parte totalmente deixada de lado no filme (por razões óbvias), já que no livro são partes bem chocantes e pesadas sofridas pela Beverly Marsh (Emily Perkins).
Esta clara diferença do núcleo infantil para o núcleo adulto também é sentida na questão do elenco. Pois é muito perceptível o quanto o núcleo infantil é muito melhor em suas atuações, onde cada ator tinha uma interpretação muito melhor que a sua versão adulta. O núcleo infantil era composto por 7 crianças com idades de 12 anos: Jonathan Brandis (Bill Denbrough) Brandon Crane (Ben Hanscom) Adam Faraizl (Eddie Kaspbrak) Seth Green (Richie Tozier) Ben Heller (Stan Uris) Marlon Taylor (Mike Hanlon) Emily Perkins (Beverly Marsh) Cada um desenvolveu muito bem o seu papel, uns se sobressaindo mais que outros, como no caso da Emily Perkins e do Brandon Crane, mas no geral todos estiveram muito bem e entregaram ótimas atuações.
Já o núcleo adulto é composto por: Richard Thomas (Bill Denbrough) John Ritter (Ben Hanscom) Dennis Christopher (Eddie Kaspbrak) Harry Anderson (Richie Tozier) Richard Masur (Stan Uris) Tim Reid (Mike Hanlon) Annette O'Toole (Beverly Marsh) Aqui já não temos as mesmas qualidades de atuações das crianças, pois no geral uns se destacavam mais que outros, e outros só estavam compondo o personagem e sendo bem coadjuvantes na história. Vale destacar a Beverly Marsh de Annette O'Toole, que na minha opinião, é a que tem a melhor atuação de todo o núcleo adulto.
Vale destacar o Henry Bowres criança, que foi muito bem interpretado pelo Jarred Blancard. Jarred conseguiu transcender toda maldade e perversidade que estava instalada no coração do Henry, que o deixava como uma criança claramente perturbada e desequilibrada (ou seja, alvo fácil para o Pennywise). Olivia Hussey trouxe uma Audra Phillips até convincente, embora seja bem diferente da Audra do livro. Michael Ryan (VIII) trouxe um Tom Rogan bem arquitetado no próprio Tom Rogan do livro, conseguindo demonstrar toda perversidade e abuso que ele aplicava na Beverly.
Agora chegamos na principal figura do universo "IT" - Pennywise / A Coisa. Sem dúvida o palhaço Pennywise é icônico, é lendário, é clássico, é o principal nome de "IT" e está no hall dos maiores vilões da história do cinema e da literatura (isso é inegável). O mesmo vale para o grande Tim Curry, que deu vida para a primeira adaptação do lendário palhaço macabro de Stephen King. Pra mim Tim Curry é o principal nome do filme e está 100% perfeito em sua figura grotesca de Pennywise. Tim conseguiu alcançar o ponto exato de sua interpretação, sem forçar demais, sem parecer apelativo demais, sendo burlesco na medida certa, sendo "palhaço" na medida certa. Além de fazer bom uso da sua linguagem corporal, junto com todo o seu gestual, todas as suas expressões, que mesmo sendo uma figura extremamente colorida mas nos causava repulsa, tensão, apreensão e incômodo (principalmente daquela sua risada tenebrosa). É fato que esta minissérie se tornou mais conhecida pela versão de Pennywise de Tim Curry. De fato, seu retrato foi considerado por várias publicações como um dos personagens de palhaço mais assustadores do cinema e da televisão. Também gerou um documentário financiado pelo Indiegogo sobre a produção da minissérie, intitulado "Pennywise: The Story of It" (2020); e um curta de sequência de história alternativa chamado "Georgie", também dos produtores do documentário. Na minha opinião: Tim Curry é a melhor versão do Pennywise que já existiu.
A parte final (o embate final com a criatura) é uma parte que já difere do final do livro, e que muitas pessoas acabaram não gostando por teoricamente parecer um final mais fácil, mais leve, mais fraco mesmo, em relação à proporção encontrada no livro. No livro, a derrota final de Pennywise é bem diferente. Bill usa uma técnica ancestral conhecida como Ritual de Chud, o que leva o personagem para um "Multiverso" onde ele se encontrar com o criador do Universo: uma tartaruga gigante chamada Maturin. Ele orienta Bill a usar o poder de sua mente para derrotar "IT", o que enfraquece a criatura para que os Perdedores possam usar um ataque físico. A própria aparência do Pennywise (ou sua verdadeira forma) é incompreensível para os seres humanos, já que no livro ele é chamado de "Postigos", ou seja, ele acaba tomando a forma de luzes etéreas e sobrenaturais. O mais perto que a mente humana consegue compreender a forma física de Pennywise é quando ele se transforma em uma aranha gigante (que é justamente sua forma no final do filme). Já a sua derrota no filme é justamente dada pela sua maior fraqueza, ao subestimar a bondade, o amor e a amizade do grupo, levando à sua eventual morte presumida, uma vez que o Clube dos Perdedores se unem e lutam contra ele juntos. É um final bobinho feito em prol da reapresentação da força do amor e da amizade? É. Mas ok! É aceitável!
Tecnicamente o filme é muito bom para a sua época! A direção do Tommy Lee Wallace é bastante competente (visto que ele vinha do clássico "A Hora do Espanto 2", de 1988). Dirigir uma versão para a tela de uma história do mestre King foi muito difícil para ele; onde o próprio afirmou que Stephen King é tão bom com a linguagem que pode fazer quase tudo parecer incrivelmente assustador. Muito da direção de Wallace foi influenciada por filmes em que trabalhou com o mestre John Carpenter, como "Halloween" (1978) e "A Bruma Assassina" (1980). Wallace tomou várias decisões técnicas e de encenação apenas para tornar cada cena mais assustadora ou estranha. Isso incluía truques de câmera interessantes, como a cena do restaurante chinês sendo filmada com uma câmera portátil; e as cenas em que ele passa por canos filmados como se fossem do ponto de vista dele.
Apesar da época e do orçamento de uma produção feita para a TV, os efeitos especiais ainda assim eram condizentes com a proporção da obra. A maioria dos efeitos especiais foram feitos praticamente sem alteração digital, como marionetistas sendo usados para animar os biscoitos da sorte na cena do restaurante chinês. Algumas cenas foram feitas com animação de substituição, uma técnica de animação semelhante à animação em stop motion. A animação de substituição foi usada para quando Pennywise saiu do ralo, matou Belch nos esgotos e deu uma cambalhota no ar. Muitos dos efeitos que Wallace planejou usar durante o storyboard não chegaram à versão final por razões de orçamento, como as raízes se contorcendo em torno de Pennywise em seu encontro fantasmagórico com os Perdedores adultos no esgoto. Lindsay Craig, uma artista que ganhava a vida trabalhando como adereço no cinema e na televisão, criou um pouco do sangue para "IT" usando corante alimentar, água e metacil.
Juntamente com todo trabalho de efeitos especiais também tivemos os trabalhos manuais. Nas cenas em que o palhaço se tornou cruel, Tim Curry usava lentes amarelas e dois conjuntos de dentes afiados durante as filmagens: um conjunto menor que ele podia falar enquanto usava e um conjunto menos flexível, mas muito maior para cenas mais horripilantes (os dentes foram desenhados por Jim McLoughlin). O diretor originalmente não queria que Pennywise mudasse para um visual de "terror", mas sim manter o visual de palhaço "legal" ao longo da minissérie, mas essa ideia foi abandonada (e eu concordo plenamente).
Outro ponto que merece um destaque é a trilha sonora, que está impecável, conseguindo harmonizar muito bem cada cena em que a tensão era crescente com a presença sombria do Pennywise. A fotografia faz um contraponto bem interessante, que é justamente as cenas que mesclavam o tom mais colorido do palhaço, que poderia soar como alegria (que é o intuito da classe dos palhaços), com a clássica tensão e o medo.
"IT" contou com um orçamento de $ 12 milhões, o dobro do orçamento normal da televisão. A minissérie foi transmitida pela primeira vez durante o mês das varreduras de novembro. Apesar dos fatores de risco, análises críticas mistas antes da exibição e cobertura das viagens ao exterior do presidente George H. W. Bush interrompendo o programa; foi o maior sucesso da ABC em 1990, alcançando 30 milhões de telespectadores em suas duas partes.
"IT" foi indicado a dois prêmios Emmy, um prêmio Eddie, um prêmio Youth in Film e o reconhecimento de melhor minissérie do People's Choice Awards; ganhou duas das indicações, um prêmio Emmy de Melhor Composição Musical pela trilha sonora de Richard Bellis e um prêmio Eddie pela edição da minissérie.
Encerro afirmando que "IT" é um verdadeiro clássico e um verdadeiro patrimônio da cinematografia dos anos 90. Uma obra que correu seus riscos ao apostar em uma produção feita diretamente para a TV, que obviamente obrigou a pegar mais leve nas partes mais cruciais da história, aliviando o terror mas ganhando na tensão e no suspense. Uma obra que trouxe uma adaptação extremamente fiel ao livro, mantendo toda a sua originalidade e toda a sua essência, e acima de tudo respeitando todo conteúdo da obra-prima da literatura do mestre King. Uma obra completamente influente, uma referência no gênero (o "Stranger Things" dos anos 90), aquele clássico cult, que trouxe aquela abordagem sobre a verdadeira amizade, o verdadeiro amor, a superação dos nossos medos, dos nossos traumas e das nossas frustrações. Uma obra que vai muito além do que a nossa mente pode imaginar, que representa todos os males e a manifestação de todos os nossos medos de infância.
Verdadeiramente uma linda história de amizade com um toque de terror. [26/05/2023]
A segunda temporada de "Ash vs Evil Dead" mantém exatamente o mesmo ritmo da primeira, mantém a mesma essência de todo o universo "Evil Dead" e consegue novamente navegar naquela proposta de comédia trash de terror. Dessa vez temos uma intensificação no cômico, naquele humor mórbido, no trash e principalmente no gore.
É interessante que a série nunca abandona a sua origem, justamente por sempre abusar e intensificar a violência explícita, a sanguinolência extrema e sempre mergulhar no Terrir. Porém, aqui temos um ponto bem curioso, que é o fato do nosso Ash estar de volta a Jacksonville e junto com esse retorno retornar todas as suas lembranças do passado; como o fato da aparição do seu pai (Brock Williams, que é interpretado por Lee Majors), que diga-se de passagem, foi uma surpresa. Além, é claro, entre várias surpresas e várias descobertas sobre o Ash que vamos acompanhando com o passar dos episódios.
Bruce Campbell novamente é a alma da série e de todo o universo "Evil Dead". Temos aqui um Ash cada vez mais velho, onde seu timing cômico e suas tiradas cômicas estão cada vez mais afiadas. Podemos notar aquele Ash tiozão com um senso de humor apuradíssimo, sendo aquele velho canastrão de sempre, onde ele nos proporciona cenas completamente impagáveis (Como na cena do morto no necrotério). Por outro lado a série nunca abandona aquelas famosas cutucadas no politicamente correto, onde temos o próprio Ash se trajando daquele humor politicamente incorreto, e é incrível como isso funciona aqui, mesmo que sendo encarado de forma mais branda, mais suave, que é justamente o intuito dessa alocação mais humorística da série (como já havia sido nos filmes).
A série continua acertando com perfeição no dinamismo, na fluidez, com um ritmo bastante envolvente, onde a diversão e o entretenimento é 100% garantido. E muito dessa diversão se passa justamente pela fator nostálgico, que é toda essência oitentista que a série continua nos proporcionando ao longo das histórias de cada episódio. Por falar em episódios, a temporada continua com a mesma dinâmica de episódios curtos, indo direto ao ponto (por mais que alguns até pareçam como uma encheção de linguiça), com aquele mesmo formato de episódios que não ultrapassam a meia hora, onde eu particularmente considero como um acerto. O saudosismo também pesa quando passamos a falar sobre as qualidades técnicas da temporada, que vão desde a maravilhosa e empolgante trilha sonora, até os cenários mais clássicos do universo "Evil Dead", que é justamente a icônica cabana na floresta.
O roteiro dessa segunda temporada segue entre acertos e erros! Considero um acerto a história dessa temporada nos revelar mais informações sobre aquele passado oculto e sombrio do Ash, como o fato daquela lenda que se criou em sua cidade natal com o famoso "Ashy Slashy". Isso traz mais corpo para a história que está sendo contada, gera um engajamento maior. O mesmo vale para a introdução do principal vilão da temporada, que já difere da primeira temporada justamente por não manter a figura de antagonista (vilanesca) somente sobre a Ruby (Lucy Lawless). O vilão da vez é o temível (ou talvez não) Baal (Joel Tobeck). Que é uma criatura que se veste de peles humanas, que por sinal todo o efeito que utilizaram nas troca de peles foi fantástico.
Outro ponto muito interessante da temporada é toda referência que se mantém sobre a mitologia do universo "Evil Dead". Ao longo da temporada temos algumas menções e referências sobre a trilogia original, como no caso da própria cabana e o "Necronomicon", mas ainda vai além, com algumas citações ao "Evil Dead 3", e a aparição daquele demônio de pescoço longo, que faz uma referência direta ao "Evil Dead 2" (se bem me lembro). Não posso esquecer de citar aquela cena no nono episódio, onde temos o clássico ataque dos galhos da árvore na Ruby e na Kelly (Dana DeLorenzo). Os 10 episódios se dividem entre referências, menções e homenagens à toda franquia, e aos famosos episódios de preenchimento da história, que nada mais é do que os famosos "encheção de linguiça".
Eu entendo toda referência e toda representação do universo "Evil Dead" que a segunda temporada traz pra série, inclusive até me surpreendendo no quesito viagem no tempo, onde confesso que não era uma coisa que eu estava esperando na série. E digo que funcionou direitinho como uma inovação da temporada, já que na trilogia original temos abordagens sobre este contexto, e aqui eu fui surpreendido por aquele inusitado encontro entre a Ruby atual e a Ruby dos anos 80, assim como aquele "resgate dos mortos" do Pablo (Ray Santiago). Mas devo reiterar exatamente no quesito inovação na série, que sinceramente eu não vejo muitos caminhos disponíveis para ser explorado fora desse contexto de cabana na floresta. Pois é legal, é nostálgico, é clássico, mas a impressão que dá é de que a história não avança e anda em círculos terminando sempre no mesmo lugar, que é justamente na cabana.
O elenco de apoio continua extremamente cativante! Ray Santiago e Dana DeLorenzo continuam ótimos, formidáveis, com uma bela química entre eles e principalmente com o Bruce Campbell. Lucy Lawless tem uma participação maior na temporada, conseguindo transcender aquela figura de vilã fajuta que ela carrega desde a primeira temporada. Michelle Hurd foi uma boa integração na temporada com sua personagem Linda. Lee Majors está perfeito sendo a figura do pai do Ash, onde o próprio traz um senso humorístico na medida certa e sendo bem pontual. Joel Tobeck está mediano como o vilão da temporada, pois achei um apresentação muito caricata e muito canastrona. Mas ok, até que funcionou na medida do possível.
O episódio dez fecha com aquela aparição da Ruby anos 80 no fundo da festa do Ash. Ou seja, o famoso gancho para a terceira temporada. O mesmo vale para a cena pós-crédito (sim, temos uma), onde mostra uma garota achando o "Necronomicon" jogado na floresta.
Por fim, a segunda temporada de "Ash vs Evil Dead" continua boa, e muito por manter grande parte dos elementos da primeira e ainda intensificar alguns. Também continua funcionando perfeitamente em seu objetivo de divertir e entreter. Porém, aqui eu já vejo um pequeno sinal de desgaste, que poderá se intensificar ainda mais na terceira temporada, que por sinal estou bastante curioso pra conferir para poder entender melhor os reais motivos do cancelamento da série. [23/05/2023]
O Exorcista
4.1 2,3K Assista AgoraTEM SPOILERS DO LIVRO E DO FILME!
O Exorcista (The Exorcist) 1973
"O Exorcista" foi dirigido por William Friedkin a partir de um roteiro de William Peter Blatty, baseado em seu romance de 1971 com o mesmo nome. O filme é estrelado por Ellen Burstyn, Max von Sydow, Jason Miller e Linda Blair. "O Exorcista" conta a história de Regan McNeil (Blair), uma menina que era doce e meiga até ficar possuída pelo demônio pazuzu, e a tentativa de sua mãe de resgatá-la por meio de um exorcismo realizado por dois padres católicos.
Sobre o livro:
A obra-prima de William Peter Blatty é um verdadeiro clássico apoteótico do terror com mais de 13 milhões de exemplares vendidos em todo o planeta. Uma obra que mudou a cultura pop para sempre, se tornando um verdadeiro "marco" como uma das maiores obras da história da literatura. Uma obra-prima literária que mescla o sagrado, o ceticismo, a fé, a crença, o profano, juntamente com o investigativo e um estudo das camadas do ser humano ao ser exposto ao seu limite mental e espiritual.
Uma obra categórica que impactou e assombrou com o seu poder em criar um verdadeiro embate entre a ciência e a fé. Este é exatamente o ponto-chave do livro que dita todo o contexto da sua história. Ou seja, temos aqui uma história que navega com bastante eficiência e relevância no ocultismo, no mistério, no suspense e no terror, e ainda cria todo um ambiente que desenvolve o drama, o trauma, a frustração e o sofrimento.
Sem falar que o livro vai ainda mais além ao nos imergir em um verdadeiro terror psicológico durante toda a leitura. Ou seja, a leitura é fluida e dinâmica, e tem um início até leve e natural, dada a toda proporção da história. Este é o ponto que surpreende o leitor, por teoricamente ser confrontado com uma história que não demonstra um terror visível e palpável, mas desenvolve um terror psicológico, sobrenatural, algo que mexe com a nossa crença, com a nossa fé, que nos causa um desconforto mental e espiritual, pois o livro fala muito mais de fé do que sobre o medo. Durante toda a leitura nos sentimos Como se estivéssemos presos em um labirinto psicológico criado pela nossa própria mente - é bizarro!
Os personagens são incríveis, inteligentes, bem desenvolvidos, bem trabalhados, onde naturalmente o leitor irá facilmente se apegar, criar uma empatia, começar a se importar com cada um. O próprio Padre Damien Karras carrega nas costas o peso de suas escolhas feitas no passado, e essas escolhas viraram traumas atuais que refletem em suas frustrações durante o embate com o demônio. O demônio é outro personagem muito importante da história, que obviamente não criamos empatia, mas sentimos o peso da sua maldade ao expor a sua fase mais destruidora ao corromper a alma da menina Regan.
E toda esta incrível história é vagamente baseada no real caso de "O exorcismo de Roland Doe" no final da década de 1940, nos Estados Unidos. O livro é considerado pela Igreja Católica como um dos maiores relatos sobre um exorcismo já realizado desde a Idade Média.
"O exorcista" é uma verdadeira obra-prima da literatura sombria. Aquela obra de arte literária obrigatória para todos os amantes do terror. Pois esta obra não se trata apenas de uma simples história sobre o bem contra o mal, ou sobre Deus contra o demônio, mas também sobre a renovação e o poder da fé.
Sobre o filme:
"O exorcista" é mundialmente conhecido como o maior filme de terror do século XX. E eu vou mais além: eu o considero simplesmente como "o melhor filme de terror de toda a história do cinema". Uma obra extremamente conceituada que chocou o mundo inteiro com sua metáfora do combate entre o sagrado e o profano, entre o poder da ciência e a força da fé, em um dos roteiros mais macabros já escritos em toda a história. O longa supera qualquer outra obra do gênero no quesito terror e possessão, se destacando como um filme completamente influente e revolucionário, um pioneiro que ditou novos rumos ao cinema, mudando e moldando o jeito de se fazer cinema, mais especificamente aos filmes de terror.
O longa-metragem traz uma adaptação completamente fiel com sua obra literária. Ou seja, temos uma abordagem fiel e relevante em como o mal assume várias formas, várias faces, em como ele é responsável em mexer com o nosso psicológico, em quebrar a nossa barreira mental e espiritual nos provocando um certo desconforto, um certo incômodo, ao representar essa essência do nosso lado mais reprovável que reproduz um verdadeiro labirinto psicológico criado por nossa própria mente enquanto somos mergulhados nesse submundo sombrio e macabro. Esta obra é tão grandiosa, tão imponente, tão impactante, tão visceral, que vai além dos nossos medos visíveis. Ou seja, aqui o ponto-chave não é você sentir medo, se assustar, é algo mais palatável, mais sombrio, mais misterioso, mais soturno, um terror sobrenatural criado a partir do nosso medo psicológico em representações com figuras tais como monstros, fantasmas ou demônios, e principalmente com reação às profanações.
Outro ponto que surpreende e se sobressai na obra é toda a abordagem referente ao drama que cada personagem apresenta na trama, e isso especificamente falando de um filme de terror. Temos todo o drama de Chris MacNeil (Ellen Burstyn) referente à sua filha e os problemas que ela passa a apresentar, pois quando todos os esforços da ciência para descobrir o que há de errado com a menina falham uma personalidade demoníaca parece vir à tona. Por outro lado a própria Chris sofre o drama da frustração de ter sido abandonada pelo marido e não poder contar com ele nessas horas. O Padre Karras (Jason Miller) carrega toda suas frustrações e traumas, e cabe a ele salvar a alma de Regan e ao mesmo tempo tentar restabelecer a própria fé, abalada desde a morte de sua mãe.
O grande e notável escritor William Peter Blatty (falecido em 2017), que também era cineasta, é o grande nome por trás do longa-metragem. Além de ser o escritor do livro, ele foi o roteirista e produtor do filme, e partiu dele a escolha pelo diretor que dirigiria a sua adaptação. O diretor escolhido foi o saudoso mestre William Friedkin (falecido recentemente, no dia 7 de agosto de 2023). Ambos tiveram dificuldades para escalar o elenco para o filme. A escolha dos relativamente desconhecidos Ellen Burstyn, Linda Blair e Jason Miller, em vez de grandes estrelas do cinema, atraiu oposição dos executivos da produtora Warner Bros. Porém, eles se mantiveram firmes em suas escolhas sobre o elenco, tanto que a produção demorou o dobro do programado e custou quase três vezes o orçamento inicial.
Devo afirmar que o diretor William Friedkin faz um trabalho completamente impecável por trás das câmeras. Como os seus takes mais próximos dos rostos dos personagens, que aumentava ainda mais o nosso desconforto, principalmente em ângulos fechados diretamente no rosto possuído da Regan. Todos os seus movimentos com a câmera nos causava um certo incômodo, principalmente com aqueles cortes e avanços nas retomadas das cenas, onde parecia que sua câmera desfilava pelos cenários, como se ela tivesse vida própria. Friedkin dominava com muita maestria todo o seu elenco, tinha todos nas mãos, onde ele conseguia tirar o melhor e máximo de cada ator em cena.
Sobre a produção:
Além de ser mundialmente cultuado e respeitado, "O exorcista" causou um grande impacto cultural por desafiar as regras cinematográficas da época. O longa carrega o peso de ser o maior filme de terror de todos os tempos, e também carrega o título das polêmicas e das histórias mais bizarras e absurdas que aconteceram na produção nos sets de filmagens. Temos várias histórias de bastidores sobre as histórias que a produção carrega, como as condições precárias e desumanas em que os atores foram colocados para filmar e também os acidentes que aconteceram ao longo de sua produção. Às filmagens ocorreram tanto em desertos quentes quanto em cenários refrigerados. Muitos elenco e equipe ficaram feridos, alguns morreram e acidentes incomuns atrasaram as filmagens. Os muitos contratempos levaram à crença de que o filme teria sido amaldiçoado.
Ao todo, nove pessoas ligadas a produção do filme morreram de forma misteriosa, entre elas os atores Jack MacGowran e Vasiliki Maliaros, o avô de Linda Blair, um segurança do estúdio e um dos especialistas em efeitos especiais. Durante as gravações, o set de filmagem pegou fogo de forma misteriosa. No entanto, apenas o quarto da Regan não foi atingido, de acordo com os relatos da época. Devido às mortes e acidentes inesperados, o diretor William Friedkin consultou o Reverendo Thomas Birmingham sobre a possibilidade de exorcizar o set de filmagens. Em todas as vezes, o reverendo recusou o pedido, dizendo que isto causaria ainda mais ansiedade no elenco. Mas por diversas vezes ele visitou os sets para benzê-los e tranquilizar o elenco. Assim, após os eventos misteriosos envolvendo a equipe, o reverendo passou a acompanhar as gravações.
De acordo com as investigações da época, o ator Paul Bateson fez uma breve participação no filme. No entanto, anos mais tarde, foi condenado pelo assassinato de Addison Verrill. Sem provas, Bateson ainda foi ligado a um serial killer responsável pela morte de outras pessoas, todas encontradas dentro do rio Hudson. Considerado muito assustador, o trailer original foi removido, pois mostrava partes do filme em preto e branco, em que as imagens se misturavam com as dos demônios. Além disso, apresentava Regan MacNeil possuída.
Sobre o elenco:
Com apenas 13 anos na época das gravações, a pequena Linda Blair é o grande nome e o principal destaque por trás de "O exorcista". Blair já era uma garota prodígio na época, com 12 anos ela já tinha aparecido em 75 comerciais e centenas de capas de revistas. "O exorcista" é seu filme de estreia nos cinemas, e devo afirmar que ela foi complemente fantástica, impecável e assustadora em sua atuação. A sua caracterização é impecavelmente bizarra, e isso se deve as várias sessões de maquiagem que levavam de duas a cinco horas para serem finalizadas.
Blair virou uma das principais crianças em filmes de terror, sendo referência e influência para todas as atuações cinematográficas mirins em filmes de terror a partir dela. Ela é reconhecida e carrega este título até hoje, 50 anos depois.
Porém, na época a Linda Blair sofreu muito com o peso dessa personagem, tanto no set de filmagem quanto fora dele. Durante a produção, Blair foi exposta a diversas dificuldades, como o quarto onde ela ficava, que teve que ser constantemente refrigerado, para que se pudesse capturar com exatidão a respiração gélida dos atores. Para tanto, foram usados quatro aparelhos de ar condicionado, todos ligados simultaneamente. Blair recebeu várias ameaças de morte e foi perseguida após o lançamento de "O exorcista", o que fez com que a Warner Bros. contratasse seguranças para viver com sua família durante 6 meses. Mesmo com todo o sucesso conquistado em "O exorcista", a carreira de Linda Blair não decolou, não teve o sucesso que todos esperavam, de certa forma ela ficou marcada pela produção, algo como uma maldição em toda a sua carreira.
Ellen Burstyn é o segundo grande destaque do filme, que também ficou estigmatizada pelo seu papel de Chris MacNeil, a mãe de Regan. Ellen fez um trabalho gigantesco e fantástico ao personificar a figura de uma mãe que ama a sua filha, que sempre se preocupa com o seu bem estar, que sempre se mostra presente em sua vida, demonstrando muito carinho e amor. E sua personagem é marcada pela virada em sua vida, por ter que lidar com novos problemas relacionados à saúde de sua filha, o que logo põe à prova a sua crença entre a ciência e a religião (e logo ela que dizia não ter uma religião).
Ellen Burstyn também ficou marcada por eventos misteriosos durante a produção do filme. O principal foi o trauma que ela enfrentou em uma determinada cena, onde sua personagem é arremessada para longe por sua filha possuída e ela bate violentamente com o coccix contra a cama e cai no chão. A verdade é que seu grito de dor foi real nessa cena. Esta cena foi filmada e mantida no filme. Ellen também estabeleceu uma condição durante as filmagens: que sua personagem não dissesse a frase "I believe in the devil!" ("Eu acredito no demônio!"), contida no roteiro original. Os produtores atenderam o pedido e esta frase foi retirada da história. As atrizes Jane Fonda e Shirley MacLaine chegaram a ser sondadas sobre a possibilidade de interpretarem a personagem Chris MacNeil. Mas ainda bem que a personagem ficou com a Ellen Burstyn.
Jason Miller completa o trio de ouro de "O exorcista". Jason faz uma interpretação muito fina e muito competente do Padre Damien Karras. O interessante de seu personagem é o fato que inicialmente ele não faz parte daquela história, ele vai chegando com uma certa modéstia e aos poucos vai se estabelecendo dentro daquele universo. Além do que, Jason entrega uma atuação na medida certa, que mescla seus traumas do passado envolvendo sua mãe, com a atual situação envolvendo Chris e sua filha possuída.
O mesmo vale para o Max von Sydow, o experiente Padre Lankester Merrin. Max entra com seu personagem mais na parte final da história e rapidamente já nos conquista. O Padre Merrin tem uma participação fundamental na história e um grande peso na parte final.
Sobre as qualidades técnicas:
"O exorcista" trouxe todo um trabalho técnico e artístico muito à frente do seu tempo. Como posso destacar os efeitos especiais, que era uma novidade naquela época. O trabalho de maquiagem e representação artística foi um avanço tecnológico, ou seja, um trabalho impecável. A trilha sonora de Krzysztof Penderecki e George Crumb é uma coisa do outro mundo. Incrível como a trilha sonora de "O exorcista" é maravilhosa, é penetrante, é estridente, é incômoda, principalmente pela clássica composição instrumental de "Tubular bells de Mike Oldfield" (que está completando 50 anos). Este instrumental tocará no meu casamento e no meu velório. A cinematografia é magnífica, e traz uma fotografia de Owen Roizman completamente colossal. A direção de arte é minunciosamente bem detalhada, onde nos apresenta cenários com bastante fidelidade com a obra. A edição é outro grande acerto, assim como a própria mixagem e efeitos sonoros, que nos dava uma dimensão exata acerca de todos os acontecimentos que permeava o quarto da Regan possuída.
Curiosidades sobre a produção:
"O Exorcista" foi lançado nos Estados Unidos em 26 de dezembro de 1973, um dia depois do Natal. O público esperou em longas filas durante o tempo frio; os shows esgotados foram ainda mais lucrativos para a Warner, uma vez que eles os reservaram para esses cinemas sob quatro contratos de aluguel de distribuição de parede, a primeira vez que um grande estúdio fez isso.
Alguns espectadores sofreram reações físicas adversas, desmaios ou vômitos em cenas chocantes, como uma angiografia cerebral realista. Muitas crianças foram autorizadas a assisti-lo, o que levou a acusações de que o conselho de classificação da MPAA havia acomodado a Warner, dando ao filme uma classificação R em vez da classificação X para garantir a produção problemática e seu sucesso comercial. Várias cidades tentaram proibi-lo totalmente ou impedir a participação de crianças. No final de sua exibição teatral original, o filme arrecadou US$ 193 milhões e teve um faturamento bruto vitalício de US$ 441 milhões com relançamentos subsequentes.
"O Exorcista" foi banido no Reino Unido durante 11 anos. Foi alegado desde grupos religiosos denunciando seu conteúdo como supostamente imoral, até espectadores desmaiando e vomitando durante sua exibição nos cinemas, tudo isso ajudou a construir a mística de "o filme mais assustador já feito". E não foi só no Reino Unido: durante algum tempo, inúmeras tentativas de censurá-lo ocorreram também nos Estados Unidos, mas foram mal-sucedidas.
As filmagens do longa envolveram dezenas de profissionais e também exigiram soluções criativas da equipe, como por exemplo o uso da sopa de ervilha para simular o vômito.
Os gritos sobrenaturais foram feitos a partir de efeitos sonoros insólitos de mixagens de gritos de porcos quando são enviados para o abate. Inicialmente, a voz do demônio seria da própria Linda Blair. Entretanto, após 150 horas de trabalho em cima do som do filme, o diretor resolveu substituí-la pela voz de Mercedes McCambridge que, para fazer a voz do demônio, comeu ovos crus, tomou muito álcool e fumou diversos cigarros. A atriz McCambridge chegou a processar a Warner Bros., para que seu nome como a dona da voz do demônio entrasse nos créditos do filme.
Além da história de "O exorcista" ter sido baseada no real caso de "O exorcismo de Roland Doe", existem teorias que por sua vez, que a história é também baseado em relatos curiosos de um ex-engenheiro da NASA.
Diferenças entre livro e filme:
Eu pude notar que a principal diferença entre ambos está no quesito de que no livro a possibilidade do problema da menina Regan ser psiquiátrico é sempre mantido e questionado até o fim. Já no filme fica mais evidente que o problema da Regan sempre foi possessão, por mais que inicialmente temos as cenas da mãe levando ela para fazer alguns exames médicos. Isso eu nem considero como uma falha de adaptação, eu considero como uma escolha de roteiro por uma liberdade criativa na narrativa do longa-metragem.
Um ponto que foi deixado de lado no filme: é o fato que em nenhum momento é mencionado sobre a filha do casal de empregados Karl e Willi (Rudolf Schündler e Gina Petrushka). Esta é uma parte evidente e importante no livro. Temos aqui outra escolha criativa do roteiro.
Cenas clássicas:
"O exorcista" é composto por inúmeras cenas clássicas que sempre foram inesquecíveis e serão lembradas e cultuadas até o fim dos tempos.
- Temos a clássica cena da Regan descendo de seu quarto no meio da festa e fazendo xixi no tapete na frente dos convidados.
- A Regan descendo pelas escadas de costas com a boca cheia de sangue.
- A clássica cena que virou pôster, quadros e papel de parede: o Padre Merrin chegando de táxi à noite na casa da Chris e logo após se pondo de pé em frente ao local.
- Regan levitando na cama durante a sessão de exorcismo.
- Regan possuída girando completamente a sua cabeça.
- Regan se masturbando com o crucifixo até sangrar.
E todas essas cenas são lembradas também por ter virado paródias, memes, por ser de alguma forma imitadas e nunca esquecidas.
Um versão estendida de "O exorcista" foi relançado nos cinemas americanos em 2000, com uma nova cópia, som digital e 12 minutos de cenas extras inseridas ao longo do filme.
Premiações:
"O Exorcista" é o verdadeiro "Pioneiro do Terror", pois ele foi o primeiro e único filme de terror a ser indicado ao Oscar de melhor filme. Tal revolução foi impulsionada pelo sucesso do filme, que o levou a vencer a resistência das grandes premiações aos filmes de gênero e conquistou dez indicações ao Oscar de 1974: Som, Edição, Direção de Arte, Fotografia, Roteiro Adaptado, Atriz Coadjuvante (Linda Blair), Ator Coadjuvante (Jason Miller), Atriz (Ellen Burstyn), Direção e Melhor Filme. Saindo vencedor em duas estatuetas, de Roteiro adaptado e Som.
Ganhou quatro Globos de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama, Melhor Diretor, Melhor Roteiro e Melhor Atriz Coadjuvante (Linda Blair). Recebeu ainda outras três indicações: Melhor Atriz - Drama (Ellen Burstyn), Melhor Ator coadjuvante (Max von Sydow) e Melhor Revelação Feminina (Linda Blair).
Foi indicado ao BAFTA na categoria de Melhor Som. Ao Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films - ganhou nas categorias de Melhor Filme de Terror, Melhor Maquiagem, Melhores Efeitos Especiais e Melhor Roteiro.
Continuações:
"O Exorcista" foi o primeiro de uma série de quatro filmes baseados nos personagens. Os demais foram "O Exorcista II - O Herege" (1977), "O Exorcista III" (1990) e "O Exorcista - O Início" (2004). Além de "Dominion: Prequel to the Exorcist" (2005) e "O Exorcista - O Devoto", lançado no Brasil no dia 12 de outubro de 2023.
"O Exorcista" teve uma influência significativa na cultura pop e diversas publicações o consideram um dos maiores filmes de terror já feitos. Em 2010, a Biblioteca do Congresso selecionou o filme para preservação no Registro Nacional de Filmes dos Estados Unidos como sendo "cultural, histórico ou esteticamente significativo".
Por fim: "O Exorcista" é um dos maiores filmes de todos os tempos, que chocou e traumatizou o mundo em sua estreia, e hoje, com quase 50 anos de lançamento, continua a impactar o público com uma história pesada, macabra, soturna, misteriosa, sombria, onde temos uma narrativa tensa e incômoda, com cenas perturbadoras, atuações primorosas, diálogos tenebrosos e um terror sobrenatural e psicológico que mexe com o nosso estado mental e espiritual.
Temos aqui a obra-prima do terror, a obra de arte do horror, o suprassumo da possessão e a quinta-essência do medo. O verdadeiro masterpiece do incômodo, do desconforto, do perturbador e do assustador.
Senhoras e senhores: o medo revela a sua face no maior filme de terror da história do cinema - "O Exorcista".
"Mas se todo o mal do mundo faz você pensar que pode existir um diabo, como explica todo o bem do mundo?"
[Sexta-Feira, 13 de outubro de 2023)
⭐⭐⭐⭐⭐
👏👏👏👏👏
Bates Motel (3ª Temporada)
4.3 608TEM SPOILERS!
Bates Motel (3ª Temporada) 2015
A terceira temporada de "Bates Motel" é novamente constituída em 10 episódios e foi transmitida pela A&E de 9 de março a 11 de maio de 2015, com exibição às segundas-feiras às 21h.
Na primeira e na segunda temporada de "Bates Motel" tivemos o início e o desenvolvimento da psicose de Norman Bates (Freddie Highmore). Ou seja, podíamos notar os primeiros indícios do seu lado psicótico, que de fato ainda acontecia em casos mais raros. Nessa terceira temporada esse quadro se agrava ainda mais, ficando cada vez mais específico e tomando uma proporção ainda maior. Norman passa a sofrer apagões mais constantes e passa a ter vagas memórias de suas ações nos momentos desses apagões. É como se ele sofresse para distinguir as criações de sua mente daquilo que realmente aconteceu.
O primeiro episódio já inicia de forma bastante peculiar com uma cena intrigante do Norman dormindo na cama com a Norma (Vera Farmiga), o que deixa o Dylan (Max Thieriot) incomodado ao presenciar esta situação. E mais bizarro ainda é o fato do Dylan confrontar a Norma sobre o caso e ela simplesmente dizer que acha isso tudo normal. É justamente nessa temporada que passamos a observar um comportamento cada vez mais estranho do Norman com sua mãe. Era como se o Norman sentisse algum tipo de desejo pela mãe, e ela em contrapartida acaba contribuindo para esse seu comportamento. Outro fato intrigante é justamente a cena em que a Norma recebe um telefonema informando que sua mãe havia falecido, e ela fica incomodada mas reage naturalmente como se não se importasse. E é muito curiosos a Norma dizer que não liga para o fato da morte de sua mãe por já ter 20 anos que não fala com ela, porém ela sofre com essa notícia por algum trauma do passado.
Norman ainda não superou a morte da professora Blaire Watson (Keegan Connor Tracy) e não consegue voltar para a escola, porém sua mãe o obriga. Várias plantações de maconhas da cidade foram queimadas pela narcóticos. Muito estranha essa atitude do Norman em querer namorar com a Emma (Olivia Cooke) agora, depois de tanto tempo. Eu acho que isso foi uma atitude tomada por pena dela, por ela ter informado que sua doença progrediu bastante. Norman decide largar a escola e passar a estudar em casa, sendo uma atitude apoiada pela sua mãe. Emma toda encantada pelo início do namoro também decide seguir os mesmos passos do Norman e também abandona a escola. Uma hóspede misteriosa chega no Motel e deixa o Norman bem impressionado. A garota se chama Annika Johnson (Tracy Spiridakos) e acaba revelando para o Norman que ela é uma garota de programa e está na cidade por causa de uma festa.
Temos o primeiro mistério da temporada: o desaparecimento de Annika. Como sempre acontece, o desaparecimento da moça levanta uma grande tensão na cidade. O fato do Norman ter retornado para o Motel no carro da moça deixa a Norma com vários pensamentos em relação ao seu filho. Norma vai investigar o local da festa que Annika disse que iria e acaba descobrindo a verdade sobre o Arcanum Club. A relação de Dylan e Caleb (Kenny Johnson), que retornou para a cidade após a morte de sua mãe, não está nos melhores dias. E pra piorar a situação, eles encontram um vizinho bem misterioso. O Xerife Romero (Nestor Carbonell) vai embora do Motel pelo fato da sua casa ter ficado pronta após 3 meses de hospedagem. Norma fica visivelmente chateada com a partida de Romero.
Como o Norman foi a última pessoa que esteve com a Annika antes de seu desaparecimento, o Xerife Romero decide investigá-lo. Norma hesita quando Romero faz perguntas complicadas a Norman. Norman está sofrendo uma pressão psicológica muito grande da mãe, ao ponto de deixá-lo completamente transtornado. A partir daí temos algumas revelações curiosas na temporada; como o fato do Xerife Romero conhecer o seu adversário para reeleição. Um corpo de uma garota misteriosa foi encontrado boiando em um lago da cidade, o que fatalmente pensaríamos que pudesse ser o corpo de Annika. Mas não era o corpo de Annika, era de outra garota, já que Annika reaparece no Bates Motel gravemente ferida e entrega um pen drive para a Norma e morre ali mesmo em seus braços.
A cidade de White Pine Bay continua com suas mortes misteriosas. O Xerife Romero investiga as mortes misteriosas de Lidsay e Annika, as duas garotas assassinadas que trabalhavam no Arcanum Club. Segredos enterrados vêm à tona para Caleb e Dylan. Norma decide voltar para a faculdade e acaba conhecendo o professor James Finnegan (Joshua Leonard). James por sua vez acaba se envolvendo com Norma e passa a conhecer um pouco dos seus problemas familiares, o quê ele se arrependeu mortalmente. A relação do Xerife Romero com a Norma tinha tudo para dar certo, mas a constante desconfiança dele sobre ela e o Norman impossibilita essa aproximação. E o fato da própria Norma querer acobertar o filho a todo custo acaba dificultando cada vez mais essa aproximação.
Em cada temporada temos a figura de um vilão, aquele maioral que dá as cartas na cidade de White Pine Bay. Nessa temporada esta figura é o misterioso Bob Paris (Kevin Rahm). Bob é o dono do Arcanum Club, que dá grandes festas na cidade regado a orgias sexuais e várias personalidades importantes. Mais tarde descobrimos que Bob é o homem responsável pela morte das duas garotas, além de ter colocado um concorrente ao posto de Xerife no caminho de Romero, e ter planejado uma tentativa de assassinato do próprio Romero. A principal subtrama da temporada consiste no Bob Paris em resgatar aquele pen drive que a Annika deu para a Norma em seu leito de morte. Este pen drive possui um conteúdo sigiloso que envolve todo o reinado de Bob Paris na cidade.
Por outro lado, Dylan faz uma tentativa de pedir para a Norma considerar falar com seu irmão Caleb. Esta tentativa não deu certo, já que a Norma ficou revoltada e acabou saindo de casa. Norma realmente considera uma vida fora de White Pine Bay, deixando Norman em uma posição vulnerável. Com a saída da Norma de casa, Norman ficou completamente transtornado, o que aproximou Dylan e Emma quando ambos se uniram para ajudar o Norman. O Xerife Romero descobre sobre a sua tentativa de assassinato e assim ele consegue ir atrás do seu concorrente no cargo de Xerife e matá-lo (uma cena espetacular, diga-se de passagem). Norma se encontra totalmente desequilibrada e perdida emocionalmente. Aquela cena com ela indo até o Caleb e o perdoando diz muito a respeito.
Preciso destacar uma cena do sexto episódio: que é a cena com a Norma chegando na agência de carros e pedindo para trocar seu carro. Logo me lembrou a mesma cena que aconteceu no filme clássico de 1960.
Com a aproximação de Dylan e Emma, ele acaba descobrindo notícias chocantes sobre a saúde de Emma. Emma precisa de um transplante de pulmão urgente ou poderá morrer e Dylan está tentando ajudá-la. Caleb e Dylan aceitam um trabalho que envolve certo risco. Dylan pretende vender toda a entrega de maconha para o transplante de pulmão da Emma. Incrível como Norman sente ciúmes das pessoas que a Norma dorme, como ele implica com ela, sente desejos sexuais por ela, e ainda olha seu corpo de relance.
Surpreendendo um total de zero pessoas, Bradley Martin (Nicola Peltz) está de volta. Esta volta de Bradley na série é bem questionável, e ela volta a atormentar o Norman com as suas loucuras. Dylan dá 50 mil dólares para o pai da Emma para a sua cirurgia. Emma tem uma reação surpreendente a notícias aparentemente positivas sobre sua chance de fazer o transplante de pulmão, mas ela não sabe que foi o Dylan que pagou. Parece rolar uma química entre o Dylan e a Emma, e finalmente rola um beijo entre eles. Eu acho que o Dylan se mostrou muito mais preocupado com o estado de saúde da Emma do que o Norman. Disto isto: eu prefiro muito mais o casal Emma e Dylan do que Emma e Norman.
Norma chega ao limite com os problemas de Norman e decide que quer interná-lo em uma clínica psiquiátrica. No final da temporada temos a morte de Bob Paris pelo Xerife Romero. Também temos Norman em um estado psicótico quando incorpora sua mãe e mata a Bradley. No final Norman faz exatamente como no filme clássico: ele coloca o corpo da Bradley no porta-malas do carro e o empurra até um lago. E assim termina a terceira temporada de "Bates Motel".
Um dos principais problemas das temporadas anteriores era exatamente na questão do roteiro, por querer contar várias histórias todas ao mesmo tempo e no fim não desenvolver bem nenhuma. Especificamente nessa temporada não temos este problema relacionado ao número de histórias paralelas desnecessárias. Temos algumas subtramas, é claro, como no caso do Bob Paris e sua incansável busca pelo pen drive. Que sim, foi uma história paralela bem desnecessária e totalmente cansativa, por se repetir demais. Mas eu confesso que no geral esta terceira temporada é mais direta ao ponto, é mais centrada na trama principal, que é justamente o desenvolvimento tóxico do Norman e da Norma. A história principal de "Bates Motel" tem uma alavancada nessa temporada justamente pelos problemas mentais de Norman se aflorarem e ele ficar cada vez mais descontrolado.
Porém, o excesso de personagens desnecessários é um ponto que me incomoda bastante na série. Nessa terceira temporada não é diferente, temos vários personagens desnecessários, que são trazidos para a série apenas para servirem de muletas para o desenvolvimento de uma história de um personagem principal da série. Como no caso das personagens Lidsay e Annika, e aquele postulante ao cargo de Xerife da cidade, que serviram de muletas para o encaixe do personagem Bob Paris na temporada. Bob Paris por sua vez é mais um personagem desnecessário que mantém aquele legado de vilão de temporada que é sempre morto no final. Na primeira temporada foi o Jake Abernathy (Jere Burns), na segunda temporada foi o Nick Ford (Michael O'Neill) e nessa temporada é o Bob Paris.
Uma personagem que foi extremamente importante na série, que teve a sua época, e que foi trazida de volta nessa temporada se tornando uma personagem completamente desnecessária, é exatamente a Bradley Martin. Quando a Bradley foi embora da cidade o seu retorno era só questão de tempo, e eu tinha certeza que isso mais cedo ou mais tarde iria acontecer. Bradley teve o seu auge e a sua relevância nas temporadas passadas, principalmente na segunda temporada, mas a sua volta nessa terceira temporada foi completamente infundada e desnecessária, servindo apenas para compor mais uma morte do Norman. Eu não duvido nem um pouco se nas próximas temporadas não irão trazer de volta a Cody Brannan (Paloma Kwiatkowski) para servir de vítima para o Norman.
Sobre o elenco:
Vera Farmiga como sempre é o principal destaque da temporada e da série. Em cada temporada é cada vez mais notável o seu crescimento e o desenvolvimento impecável de sua personagem Norma Louise Bates.
Freddie Highmore só cresce na série cada vez mais. Incrível como o Freddie vem em uma constante crescente, em uma constante evolução, que só melhora e nos surpreende em cada temporada. Especificamente nessa temporada a dupla Vera Farmiga e Freddie Highmore estão com mais sintonia e com mais química, cujo as cenas onde ambos estão contracenando juntos é tomada por um forte clima de tensão e desconforto para nós espectadores.
Max Thieriot ganha mais espaço na trama e logo seu personagem ganha mais destaque pelo o local que ele ocupa na série.
O mesmo vale para o Nestor Carbonell, que também se destaca em razão da importância que seu personagem tem com os vários problemas que surgem ao longo da temporada.
Olivia Cooke continua na mesma linha da temporada passada, com uma participação mais contida, mas eu confesso que fiquei bastante animado com as possibilidades da personagem para a quarta temporada. Já que agora temos uma aproximação da Emma com o Dylan e logo ela fará o transplante de pulmão.
Kenny Johnson finalmente consegue conquistar o seu espaço na série, e algo me diz que ele será importante nas próximas temporadas.
E pra finalizar o elenco, Nicola Peltz, que voltou para a série apenas para compor o final da temporada com o Norman liberando toda a sua fúria e descontrole do seu lado psicótico.
A terceira temporada de "Bates Motel" recebeu 72 de 100 da Metacritic, com base em 5 críticas de críticos de televisão, indicando "críticas geralmente favoráveis". O Rotten Tomatoes relatou que 11 das 12 respostas críticas foram positivas, com média de 92% da classificação." O episódio de estreia da temporada atraiu um total de 2,14 milhões de telespectadores. Por suas atuações nesta temporada, Vera Farmiga e Freddie Highmore foram indicados ao Critics' Choice Television Awards de Melhor Atriz e Melhor Ator em Série Dramática, respectivamente. A terceira temporada ficou em quarto lugar na lista de final de ano dos principais programas ao vivo + 7 dias da Nielsen, ganhando uma média de 201,8% de espectadores em DVR.
Tecnicamente a temporada também se destaca:
A trilha sonora é boa e agrega bastante na história. A fotografia se sobressai em cada cena apresentada. A direção de arte é muito bem representada. A edição é muito boa, assim como a mixagem de som. Cada detalhe técnico conta muito para a qualidade da temporada e consequentemente da série.
A terceira temporada de "Bates Motel" melhora em relação as temporadas anteriores. E muito dessa melhoria se dá exatamente por focar mais na trama central e deixar um pouco de lado as inúmeras histórias paralelas e desnecessárias. A temporada também se sobressai na questão da construção e no desenvolvimento do Norman Bates, que se mostra cada vez mais psicótico e insano, que vai perdendo o seu autocontrole gradativamente com o passar do tempo. No começo o Norman se mostrava assustado e coagido pelos seus apagões e a sua dupla personalidade, agora ele já parece dominar o seu caráter imprevisível, dúbio, e parece cada vez mais a vontade ao explorar a sua mente psicótica.
Esta temporada é também a responsável em nos elucidar sobre o comportamento e as atitudes da Norma Bates em relação ao seu filho. Que logo nos mostra quem é a verdadeira personalidade psicopata da história.
Acredito que agora a série irá crescer cada vez mais nas próximas temporadas. Potencial sempre teve, só não estava sendo totalmente explorado. [12/10/2023]
Bates Motel (2ª Temporada)
4.2 647TEM SPOILERS!
Bates Motel (2ª Temporada) 2014
A segunda temporada de "Bates Motel" teve novamente 10 episódios e estreou na TV a cabo A&E em 3 de março de 2014. A temporada foi ao ar às segundas-feiras às 21h e foi concluída em 5 de maio de 2014.
Em sua segunda temporada, "Bates Motel" continua na mesma linha da temporada passada, porém constrói uma história mais complexa e com várias subtramas. Temos novos conflitos que envolve, dessa vez, duas famílias que controlam as plantações de maconha da cidade de White Pine Bay. Dentro desse contexto, Norma (Vera Farmiga), Norman (Freddie Highmore) e Dylan (Max Thieriot) se encontram em situações delicadas.
A segunda temporada gira em torno de situações distintas: Norman fica obcecado em uma espécie de trauma pessoal referente à morte da professora Blaire Watson (Keegan Connor Tracy), que aconteceu no final da temporada passada. O passado sombrio de Norma se volta contra ela com o aparecimento de seu misterioso irmão. Bradley Martin (Nicola Peltz) está obcecada na busca pelo verdadeiro assassino de seu pai. Emma Decody (Olivia Cooke) vive seu drama pessoal ao se sentir excluída da família Bates, e logo se envolve em um novo interesse amoroso. Já o Xerife Alex Romero (Nestor Carbonell) se vê ameaçado ao ser perseguido e descoberto em suas investigações.
O primeiro episódio é muito bom e já se destaca relevando alguns segredos que até então estavam guardados:
Norman não se conforma com a morte da Sra. Watson e não consegue se desprender desse acontecimento, passando a visitar seu túmulo no cemitério constantemente. Isso, claro, incomoda muito a Norma. No enterro da Sra. Watson o Norman chora copiosamente, talvez por culpa ou por remorso. Assim como o cinto do Keith Summers, Norman também guarda o colar da Sra. Watson. Bradley está totalmente descontrolada e transtornada pela morte do pai, o que a leva a tentar um suicídio ao se jogar de uma ponte, principalmente pelo fato dela ter descoberto que o seu pai estava tendo um caso com a Sra. Watson. Nesse ponto é interessante nos atentarmos que Bradley havia encontrado algumas cartas de amor que seu pai estava trocando com uma mulher que se identificava apenas como "B" (Blaire Watson). Norman está cada vez mais se dedicando ao empalhamento de animais no porão de sua casa. Bradley recebe alta do hospital psiquiátrico em que estava internada e quer buscar vingança contra o assassino de seu pai. E aqui temos um final de episódio surpreendente, que é justamente a Bradley indo até a casa de Gil Turner (Vincent Gale) e o matando com um tiro na testa. Ela havia descoberto que ele era o assassino de seu pai.
O segundo episódio mostra a Norma preocupada com aquela obsessão doentia de Norman pela morte da Sra. Watson, o que a leva a convencê-lo a participar de uma peça musical na cidade. Após ter matado o assassino de seu pai, Bradley se vê desesperada e busca a ajuda de Norman, que a esconde no porão de sua casa. Ela quer a ajuda de Norman para fugir da cidade, e com isso o Dylan, atendendo um pedido de Norman, ajuda ela a fugir. Com a morte de Gil a cidade fica bastante impactada, já que Zane Morgan (Michael Eklund), o chefe de Dylan, acredita que tem uma outra família no ramo das drogas, liderada por Nick Ford (Michael O'Neill), que está envolvida com o ocorrido, o que gera uma guerra de drogas na cidade.
A temporada segue nos mostrando o empenho da Norma na luta contra a construção da nova estrada. E podemos notar que finalmente o Bates Motel está prosperando, ao começar a receber hóspedes (mesmo aqueles hóspedes estranhos). Norma toma uma atitude de certa forma até precipitada, ao tomar conhecimento que o conselho da cidade fará uma reunião sobre o tema, e ela decidir confrontar os superiores expondo o seu descontentamento com a construção da estrada. De certa forma podemos até entender esta postura da Norma, já que realmente aquela nova estrada interferiria diretamente no movimento do seu Motel. Porém, a forma como ela contesta em seu discurso acaba sendo confrontada pelo pelo vereador Lee Berman (Robert Moloney), onde logo ela perde o controle da situação e acaba expondo as atividades ilegais que existem na cidade (o império da maconha).
Nos episódios seguintes temos uma revelação enigmática, que é justamente o aparecimento do irmão da Norma, Caleb Calhoun (Kenny Johnson). E este aparecimento revive lembranças traumáticas para Norma, o que a leva a revelar um segredo do seu passado. Em contrapartida Caleb tenta se aproximar de Dylan, que o leva até a casa da Norma, causando uma trágica situação com a própria Norma quando chega e dá de cara com seu irmão dentro de sua casa. Norma fica transtornada ao ver o irmão e o expulsa da sua casa. Em uma discursão Norma revela que ela era estuprada pelo seu irmão quando tinha 13 anos. Logo após ela revela que ele é o pai de Dylan. Na sequência temos outra cena impactante, que é justamente o momento em que Norma revela para Dylan que Caleb é o seu pai.
Temos outra revelação traumática para Norman, que acontece justamente quando Emma leva para ele a notícia de que Bradley havia se suicidado e deixado um bilhete junto com suas roupas na margem da praia (este foi um acordo que Bradley havia feito com Dylan antes dela fugir da cidade). Norman fica visivelmente transtornado com esta notícia referente a Bradley. A partir daí Norman começa uma amizade com Cody Brennan (Paloma Kwiatkowski). Cody conhece Norman em um mercado, quando ele estava fazendo compras para preparar um disfarce para a fuga de Bradley. Logo esta amizade toma um outro rumo, quando Norman transa com Cody, o que faz com que os dois se aproximem e Norman começa a tomar conhecimento da complicada vida de Cody, mas como ela é uma jovem rebelde, Norma não quer que o filho conviva com ela.
Cody tem uma importante participação na temporada ao colaborar (de forma negativa) no despertar dos "apagões" de Norman (um espécie de estado traumático, um transe psicótico). E justamente a Cody convence Norman a ir até o motel que Caleb estava hospedado e confrontá-lo (após Norman ter revelado este segredo para ela). A intenção de Cody era que Norman desse um susto em Caleb na intenção que ele se afastasse de Norma, porém Norman acaba desistindo da ideia no meio do caminho, onde logo após ele tem o seu primeiro apagão. Depois Norman volta até lá e confronta Caleb. Incrível que logo vemos como Norman entra em transe e passa a se identificar com as memórias da mãe diante de Caleb, que sofreu os abusos, como se ele fosse a Norma em um estado psicótico. Nesse mesmo episódio temos um final que revela que em meio a todas as questões investigativas que o Xerife Romero passou, ele acaba tendo a sua casa incendiada e ele precisa passar um tempo morando em um dos quartos do Motel Bates.
Norma se torna amiga de Christine Heldens (Rebecca Creskoff), a ex-diretora daquela peça musical que ela levou o Norman, e até comparece a uma festa na casa dela. A partir dessa amizade Christine leva Norma para a vida social de White Pine Bay. É interessante que a partir dessa amizade com Cristine, Norma conhece o misterioso Nick Ford, que também se mostra contra a construção da nova estrada. Norma acaba se envolvendo com Nick Ford sem saber que ele é o chefe da outra família de drogas, rival daquela para quem Dylan trabalha. Norma acaba entrando em uma teia de aranha com este envolvimento, ao aceitar a ajuda de Nick Ford onde rapidamente a construção da estrada é paralisada. O maior problema para Norma é que Nick Ford acaba cobrando a ajuda que ele deu para ela, e isso traz um problema seríssimo para Norma.
O quinto episódio nos mostra como Dylan precisa lutar por sua vida na guerra iniciada por Zane. Como o Xerife Romero foi se hospedar no Motel Bates, com o contato diário a sua relação com Norma vai aos poucos melhorando. Logo temos mais uma nova personagem chegando na série, trata-se da misteriosa Jodi Morgan (Kathleen Robertson), a irmã de Zane, que já se auto intitula como a verdadeira chefe de Dylan. Norma está cada vez mais se envolvendo com a política da cidade, o que lhe traz sérios problemas. Os constantes apagões de Norman acaba preocupando à todos, principalmente a Norma, que sabe os reais motivos desses apagões mas se recusa a contar a verdade para ele. O sexto episódio termina justamente em uma discursão entre Norman e Cody, quando o pai da Cody aparece e entra na discursão, e na sequência Norman acaba o empurrando da escada, matando o pai da Cody.
O sétimo episódio nos revela que Norman foi considerado inocente pela a morte do pai da Cody, que foi considerado como um acidente (e na real não foi). Cody rompe a amizade com Norman e vai morar com a tia em outra cidade. Por fim é confirmado, através de um exame, que o sêmen no útero da Sra. Watson é de Norman Bates, o que prova que foi ele mesmo quem a matou. E logo após temos a cena que revela que Norman fez sexo com a Sra. Watson naquela noite e depois cortou sua garganta com um canivete. Já no último episódio da temporada temos aquela já famosa matança descontrolada, que é justamente o Nick Ford sendo morto pelo Dylan. E logo após temos o resgate do Norman do cativeiro em que ele estava preso. No fim vemos que Norman está sempre com sua mãe dentro da sua mente, como se ela o controlasse o tempo todo, o fazendo negar até o seu assassinato da Sra. Watson. Gostei muito desse final de temporada.
Porém: a segunda temporada de "Bates Motel" continua insistindo nos mesmos erros da temporada anterior, que é justamente no desenvolvimento do roteiro, por novamente querer contar várias histórias todas ao mesmo tempo e no fim não desenvolver bem nenhuma. Por exemplo: em cada temporada aparece uma figura para ser o grande vilão do final de temporada (o que pode ser normal). Na primeira temporada foi o Jake Abernathy (Jere Burns) e nessa temporada é o Nick Ford. Me parece mais uma tentativa forçada de querer sempre por obrigação implantar um grande vilão, o manda-chuva, o big boss, sempre com aquele ar de poderoso, de superior, e no fim terminar como um morto qualquer sem nenhum sentido. No fim o grande vilão de temporada não passa de um personagem raso, falho e sem nenhuma relevância para o contexto da temporada e principalmente da série.
Outro ponto: criam histórias na primeira temporada e não tem uma relevância na próxima; como no caso do assassinato de Keith Summers, que foi completamente esquecido. A história da morte do pai da Bradley até deram uma certa continuidade nessa segunda temporada, mas depois esqueceram, e muito pelo fato da própria Bradley ter fugido da cidade (mas acredito que ela voltará na próxima temporada). Parecem que querem contar tantas histórias ao mesmo tempo que se perdem em diversas vezes e não dão continuidades e nem finalizam nenhuma, todas ficam como pontas soltas. Várias histórias paralelas que tiram o foco da série, como essa briga das gangues de maconha. Todo esse envolvimento da Norma com o Nick Ford na tentativa de ajudá-la com a estrada nova, o que resultou em todo esses arcos de histórias paralelas, rasas, falhas e sem sentido. Tudo isso só para integrar cada vez mais personagens na série, o que fatalmente mascara a história principal e faz com que toda essa inserção de novos personagens faz com que os protagonistas apareçam menos.
Sobre o elenco:
Vera Farmiga (atualmente em cartaz nos cinemas em "A Freira 2") é novamente o grande destaque da temporada. Dessa vez ainda mais atuante nos comportamentos e atitudes de Norman, o que começa a trazer cada vez mais problemas para ele. Mais uma excelente atuação de Vera Farmiga.
Freddie Highmore ("The Good Doctor"), assim como a Vera, é também mais um belíssimo destaque da temporada. Nessa temporada o Norman começa a lidar com os seus constantes apagões, o que logo resulta em seus transes psicóticos. Ele passa a reviver e conviver cada vez mais com as memórias de sua mãe, ou seja, praticamente se transformando nela. Aquela cena no final da temporada, com ele esboçando aquele olhar e aquele sorriso, é sensacional. Nos mostra o grandioso talento que Freddie Highmore tem.
Max Thieriot ("SEAL Team") está melhor nessa temporada e muito mais participativo. Ele tem participações cruciais em vários pontos importantes dentro da história. Nicola Peltz ("Transformers: A Era da Extinção") tem uma transformação gigantesca nessa temporada. Ela deixa de ser aquela patricinha mimada da primeira temporada e passa a ser uma personagem muito importante dentro do contexto da série. Aquelas cenas em que ela aparece descontrolada no carro e logo após se jogando da ponte, é genial. Sem falar na cena em que ela vai toda sedutora e vestida para matar - maravilhosa!
Olivia Cooke ("Jogador Nº1") novamente tem sua importância dentro da temporada (assim como na anterior), mas eu confesso que esperava mais da sua personagem. Sinceramente, eu queria ver a Emma mais participativa nos pontos cruciais da história, que ela fosse mais fundamental (como no início da temporada passada, nas investigações sobre a garota asiática). Mas aqui me parece que ela tem seus momentos de destaques, tem novamente a sua paixão, mas no fim ela se sente excluída e passa a ser escanteada.
Nestor Carbonell ("The Morning Show") tem uma participação muito mais relevante nessa temporada. O Xerife Romero tem participações mais fundamentais na história e sua aproximação com a Norma pode resultar em novas subtramas nas próximas temporadas. Não posso deixar de destacar a excelente participação de Paloma Kwiatkowski, que trouxe uma personagem muito importante para o desenrolar da temporada.
A segunda temporada de "Bates Motel" recebeu críticas positivas de críticos de televisão, e o episódio de estreia atraiu um total de 3,07 milhões de espectadores. A série foi renovada para uma terceira temporada depois que cinco episódios da segunda temporada foram ao ar. Por sua atuação, Vera Farmiga recebeu indicações para o Critics' Choice Television Award de Melhor Atriz em Série Dramática e o Saturn Award de 2014 para Melhor Atriz na Televisão.
A segunda temporada de "Bates Motel" recebeu uma pontuação de 67 em 100 no Metacritic, a partir de 11 comentários. O Rotten Tomatoes relatou uma classificação de 86% a partir de 12 comentários para a segunda temporada.
Apesar das falhas de roteiro e do desenvolvimento das histórias paralelas serem vagas e rasas, esta temporada continua em um bom nível de suspense, de mistério, conseguindo um bom aprofundamento no drama e na construção do terror psicológico. É interessante notar esse relacionamento que soa tóxico e doentio entre mãe e filho, o que logo nos leva a perceber que esse estado de possessão controladora da Norma é o principal fio condutor para o desenvolvimento dos comportamentos psicóticos do Norman. É também a partir dessa temporada que começamos a notar as principais diferenças comportamentais do Norman, o que logo resultará na sua transformação em um dos maiores maníacos e psicopatas da história do cinema.
Por fim, "Bates Motel" consegue novamente nos entregar uma boa temporada (por mais que persista no mesmos erros da anterior), com uma boa história central que começa a tomar o principal rumo da série, e uma boa construção em elementos que poderá ser melhor utilizados nas próximas temporadas. [24/09/2023]
À Espera de Um Milagre
4.4 2,1K Assista AgoraTEM SPOILERS DO LIVRO E DO FILME!
À Espera de Um Milagre (The Green Mile) 1999
"À Espera de Um Milagre" é escrito e dirigido por Frank Darabont e baseado no romance de Stephen King de 1996 com o mesmo nome. O longa-metragem é estrelado por Tom Hanks como Paul Edgecomb, um guarda penitenciário no corredor da morte durante a "Grande Depressão" (a maior crise financeira da história dos Estados Unidos), que narra o filme em flash-back ao testemunhar eventos sobrenaturais após a chegada de um enigmático condenado (John Coffey, magistralmente interpretado por Michael Clarke Duncan) às suas instalações. David Morse, Bonnie Hunt, Sam Rockwell e James Cromwell aparecem em papéis coadjuvantes.
Sobre o livro:
King se inspirou na história real do adolescente George Stinney Jr. de ascendência africana, que cuja história foi a pessoa mais jovem condenada à morte no século 20 nos Estados Unidos. Ele tinha apenas 14 anos quando foi executado em uma cadeira elétrica. Ele foi acusado de matar duas meninas Brancas, Betty de 11 anos e Mary de 7, os corpos foram encontrados perto da casa onde o adolescente residia com seus pais. Durante o julgamento, até o dia de sua execução, ele sempre carregava uma Bíblia nas mãos, alegando inocência. Naquela época, todos os jurados eram brancos. O julgamento durou apenas 2 horas e a sentença foi dada 10 minutos depois. George foi eletrocutado com 5.380 volts na cabeça. 70 anos depois, sua inocência foi finalmente comprovada por um juiz da Carolina do Sul. O adolescente era inocente, a sociedade em si fez de tudo para culpá-lo apenas por ele ser negro.
Ao longo da minha vida eu me lembro de já ter assistido o filme "À Espera de um Milagre" algumas vezes, mas até então nunca tinha lido a obra magnífica do mestre Stephen King. Ao terminar a leitura, eu só confirmei o que eu sempre achei dessa obra; que é simplesmente um livro incrível, com uma história arrebatadora, que nos comove até o fundo da nossa alma.
King traz uma leitura fácil, fluida, dinâmica, com abordagens mais detalhadas, que é justamente a sua marca registrada ao trazer a nossa atenção para vários tópicos da história, como a abordagem em personagens secundários. Aqui, no caso, até o camundongo (Sr. Guizos) ganha várias páginas para ilustrar partes da sua história com bastante eficiência. Sem contar que toda essa abordagem mais aprofundada na história do camundongo serviu justamente para elucidar os outros guardas da penitenciária a acreditarem naquele dom que John Coffey possuía - o poder da cura.
Esta obra do mestre King é autêntica, é influente, é extremamente importante como contexto histórico justamente por mostrar uma abordagem sobre a injustiça, a impunidade, a crueldade, a humilhação, o racismo, o preconceito e a redenção. Além, é claro, toda narrativa que é construída e desenvolvida sobre a linda, comovente e breve relação de amizade verdadeira entre Paul e John Coffey.
"À Espera de um Milagre" traz uma história muito forte, muito pesada, muito comovente, que chega a nos incomodar durante a leitura. Principalmente nas partes finais, onde temos a última parte que antecede a execução de John Coffey. Sem nenhuma dúvida foi a parte mais difícil e mais cruel que eu já li em um livro em toda a minha vida, pois de fato é muito triste, fiquei com um nó na garganta e os pingos das lágrimas molharam as páginas do livro. Nunca esquecerei! Esta é simplesmente uma das maiores obras de toda a carreira do mestre King. "À Espera de um Milagre" não é somente uma das suas melhores histórias, como é sem dúvida a sua obra mais impactante e mais emocionante. Uma obra-prima da literatura!
Sobre o filme:
Contando com hoje, eu assisti "À Espera de um Milagre" apenas 4 vezes em toda a minha vida: a primeira vez foi no ano de 2000, e justamente por todo burburinho e toda badalação que o longa estava causando na época. O sucesso era estrondoso, principalmente pelo Oscar e pela divulgação no boca a boca, já que na época a internet era escassa. Porém, devo dizer que nesta primeira vez o filme não me impactou tanto assim, pois eu era um adolescente e ainda não conseguia sentir o peso, o poder e a dimensão dessa obra. A segunda vez foi no ano de 2008, e ela aconteceu unicamente pela incansável insistência de uma ex-namorada, que queria muito assistir este filme comigo. A terceira vez foi no ano de 2017, e aconteceu porque eu queria muito escrever um texto sobre ele aqui no Filmow, e no fim nem o texto eu consegui escrever. Foi nessa terceira vez que eu jurei que nunca mais em toda a minha vida eu voltaria a assistir este filme.
O motivo desse juramento? Exatamente por ser um filme extremamente pesado, difícil, perturbador e incomodo. Uma obra que mexe e aflora nossos mais profundos sentimentos de tristeza, comoção, piedade, empatia e amor. Junto com com "Titanic" e "A Lista de Schindler", são os três filmes que mais me emocionou em toda a minha vida. Assistir "À Espera de um Milagre" me deixa muito triste, eu fico muito mal, mexe muito comigo, é um sacrifício muito grande, ao ponto de eu ficar pensativo durantes horas ao término do filme. Porém, como eu nunca tinha lido a obra em que o filme foi adaptado, ao terminar a leitura em me vi na obrigação de me sacrificar mais uma vez e assistir o filme para finalmente elaborar meu texto.
Eu sempre me pergunto: o que é necessário para um filme ser considerado uma obra-prima? Pois é muito difícil você achar um filme perfeito, uma obra irretocável, uma obra de arte do cinema, aquele verdadeiro clássico que marca gerações. E aqui eu posso afirmar com 101% de convicção que "À Espera de um Milagre" é este filme, é esta obra perfeita, irretocável, magnífica, comovente, uma verdadeira pérola da sétima arte, uma verdadeira obra de arte do cinema, um clássico, uma obra-prima que está na prateleira dos melhores filmes da década de 90 e de todos os tempos.
Eu considero um filme como uma obra-prima quando ele mexe com todos os meus sentimentos, quando ele me eleva a enésima sensação de satisfação, quando ele me desperta inúmeras reações; eu fico feliz, fico triste, me emociono, fico em êxtase, fico nervoso, fico eufórico, fico alucinado, fico nostálgico, fico em estado de choque e comoção, e aqui temos todos esses sentimentos aflorados em um misto de reações.
Novamente eu tenho que citar aqui como a década de 1990 foi importante para a história do cinema, como ela mudou, moldou e influenciou toda uma geração cinematográfica à sua frente. Principalmente se falarmos especificamente sobre o ano de 1999 e o que ele representou para a história do cinema: pois nesse ano tivemos filmes como "Matrix", "Clube da Luta", "Beleza Americana", "Garota, Interrompida", entre várias outras obras-primas que ficaram marcadas na história da sétima arte. E "À Espera de um Milagre" faz parte desse seleto grupo.
O mestre Stephen King estava muito satisfeito com o resultado da última adaptação feita por Frank Darabont, que era simplesmente a obra-prima "Um Sonho de Liberdade" (1994). Sendo assim o próprio King fez questão que sua obra literária fosse novamente adaptada por Darabont. King convidou Darabont que logo em seu primeiro contato com a obra ficou um tanto quanto receoso, afinal de contas seria novamente um roteiro que se passaria dentro de uma prisão, porém dessa vez com a base de um condenado à cadeira elétrica por estrupo seguido por assassinato. Darabont aceitou novamente o desafio e eu dei graças aos deuses do cinema, pois eu não vejo outro diretor com a capacidade e a genialidade de Darabont para construir esta adaptação que se tornou simplesmente um dos maiores dramas dos anos 90 e de todos os tempos.
Eu sou fã declarado de Frank Darabont, obviamente por obras como "Um Sonho de Liberdade" e "À Espera de um Milagre", e também por ele ser o criador e o desenvolvedor, em minha opinião, de uma das maiores séries de todos os tempos - "The Walking Dead".
Sendo a segunda vez que Darabont trabalhava com um roteiro baseado num livro de Stephen King, ele deu tudo de si ao adaptar um roteiro com tamanha competência e genialidade. O próprio Stephen King chamou este filme como a adaptação mais fiel de sua obra. E eu concordo plenamente com o mestre, e vou além, eu não só acho este filme com a melhor adaptação de uma obra do King, como a melhor adaptação da histórias das adaptações de livros para o cinema. E olha que temos ótimas adaptações de obras do Stephen King: como "Carrie" (1976), "Misery" (1990) e "It" (1990). Porém, nenhuma chega na tamanha perfeição da adaptação de "À Espera de um Milagre".
Darabont empregou uma fidelidade absoluta em sua obra onde tínhamos praticamente o livro transplantado para a tela. Darabont conseguiu sintonizar com maestria todos os elementos do livro como cenários, ambientação, acontecimentos, originalidade à história, cenas marcantes, diálogos marcantes. Por falar em diálogos, é absurdo como alguns diálogos em cenas mais impactantes são exatamente os mesmos diálogos do livro, exatamente com as mesmas palavras e as mesmas reações - eu fiquei boquiaberto com tamanha fidelidade à obra original.
O livro possui 400 páginas, ou seja, a sua adaptação exigiria um tempo maior de duração, e assim foi, pois o filme possui 3h 09min. E é completamente incrível como um filme de 3h não cansa, não é monótono, não é enfadonho, e ainda por cima sendo um filme em um ritmo morno, que demora para relatar seus acontecimentos cruciais, porém ele vai construindo uma base sólida, vai preparando o terreno e o ambiente para os acontecimentos que impactará os presentes - exatamente como também acontece no livro.
Os pontos cruciais e as abordagens mais relevantes do livro também foram muito bem adaptadas. Darabont conseguiu empregar uma veracidade absurda em temas como injustiça, impunidade, crueldade, humilhação, preconceito e redenção. Pois o longa traz uma clara e singela mensagem acerca do nosso comportamento como princípios em uma sociedade. Eu diria que o filme funciona como uma forte reflexão ao abordar temas complexos e necessários quando estamos diante de um mundo em que a aparência encanta, convence e quase sempre dá o veredito final em nossas decisões. Outro ponto muito bem desenvolvido ao longo do filme é a forma como a narrativa explora a relação que vai se construindo entre a amizade e a confiança entre Paul e Coffey. Com o passar do tempo vamos sendo confrontados com os personagens secundários e suas histórias pessoais, que logo se entrelaçam, revelando um quadro complexo de emoções humanas e moralidade.
Todos que adentram naquela penitenciária estão fadados à execução pelos crimes que cometeram. Mas o que nos chama a atenção é a forma como aquele local funciona como uma espécie de clínica de reabilitação, redenção, aceitação e arrependimento (pelo menos para alguns). O próprio personagem Eduard Delacroix (Michael Jeter) é a clara mensagem da redenção, do arrependimento e da humanização. Ele que foi condenado por estuprar uma menininha e, ao tentar esconder a prova do crime, acabou incendiando várias pessoas. Pois é difícil você não se afeiçoar por ele, é difícil você não estabelecer uma empatia por ele, que nos mostra exatamente as características humanas quanto a oportunidade da segunda chance, do perdão e do arrependimento (por mais que eu não acredite nesses pontos). E quando ele encontra o ratinho Mr. Jingles é que você se dá conta do seu profundo arrependimento de ter sido aquele louco no passado e ter cometido tudo que cometeu. Por outro lado não são todos que aquele local funciona como uma clínica de reabilitação e arrependimento; vemos isso no próprio Wild Bill' Wharton (Sam Rockwell).
Outro ponto muito bem abordado aqui é diretamente sobre o racismo. Pois as gêmeas Detterick eram duas garotinhas brancas e o John Coffey era um negro. Ou seja, mais um motivo claro para incriminá-lo diretamente sem restar nenhuma dúvida, e nem cogitar a possibilidade de não ter sido ele o assassino. O que nos deixa ainda mais revoltados, pois assim como no livro, na parte final do filme é revelado que John Coffey é de fato inocente do assassinato das meninas, mas ainda assim é executado na cadeira elétrica, o que é devastador e desolador tanto para o Paul quanto para os outros guardas e, claro, para todos nós. Logo ficamos sabendo que o verdadeiro assassino das garotas é o repugnante Wharton, que trabalhava na casa da família Detterick.
Eu sou uma das pessoas que acredita fielmente que toda a trajetória de John Coffey é uma espécie de alegoria à Jesus Cristo. Já que John Coffey usava os seus poderes para fazer o bem, para curar as pessoas e trazê-las de volta à vida. Mesmo que algumas pessoas não acreditassem, ou duvidassem, porém ele foi injustamente condenado à morte e deu a sua vida e prol da salvação. Também podemos considerar o fato de John Coffey ser um negro que possui um dom divino, que também funciona como uma alusão à Jesus Cristo, só que sendo negro, o que fatalmente o impossibilitaria a sua trajetória por puro preconceito e desigualdade humana. Esta é de fato uma bela reflexão filosófica usando o sobrenatural em contrapartida com a fé.
No fim somos impactados por uma cena com um diálogo belíssimo, comovente e marcante; que é exatamente a parte em que Paul pergunta para John o que ele responderia para Deus no dia do julgamento final por ter permitido que seu milagre divino fosse executado. Paul ainda insiste ao perguntar para John o que ele queria que ele fizesse referente aquela situação. Já o John responde estar cansado da sua trajetória, cansado das pessoas serem más, serem cruéis, que isso o fere profundamente (como naquela cena em que ele entra no local da execução e diz sentir que ali tem muitas pessoas que o odeia, e que ele sente aquele ódio ferindo o seu corpo como picadas de abelhas). Por fim, John Coffey diz aceitar a sua condenação como algo necessário para sua vida e sua trajetória na terra, ou seja, ele aceita o seu destino cruel.
John Coffey é mais um personagem iluminado dentro do Kingverso, pois com seus dons ele é capaz de injetar vida nos seres que toca, retirando o mal que ali existe. Também pode transferir sua imensa vitalidade (a força da vida eterna) às pessoas de que gosta, exatamente como aconteceu no final com o Paul e o ratinho Mr. Jingles. Dessa forma eu tenho que destacar aquela belíssima cena final em que mostra o Mr. Jingles bem velho (com cerca de 64 anos) saindo da caixa de charutos. Paul conta para Elaine (Eve Brent) que John Coffey lhe deu uma parte do seu poder e outra parte para o Mr. Jingles, ou seja, a vida eterna. Paul já tem 108 anos e seu castigo é justamente ter que observar todos que ele ama ao seu redor morrerem e ele continuar vivo, por ter permitido que John Coffey fosse eletrocutado, por ter matado um milagre de Deus. Paul foi condenado a maldição da vida eterna.
Sobre o elenco:
O saudoso Michael Clarke Duncan (falecido em 2012) é a grande estrela do filme. Michael foi a escolha certa, a personificação perfeita do John Coffey do livro. Esbanjando muito carisma, muita simpatia, muito talento, muita entrega, com uma atuação grandiosa, magistral, que nos passava exatamente aquele ar de inocência, de timidez, de bondade, de misericórdia, fazendo um contraponto com a escuridão, o medo, a brutalidade e a crueldade das pessoas. Impecável, irretocável, fantástica, perfeita, uma atuação que nos assustava de tamanha entrega e nos comovia verdadeiramente pelo seu desfecho. Michael Clarke Duncan merecia demais aquele Oscar de Ator Coadjuvante. O mestre Michael Caine vai me desculpar, sua atuação em "Regras da Vida" é realmente fantástica, mas o que o Michael Clarke Duncan fez em "À Espera de um Milagre" ninguém fez naquele ano.
Tom Hanks vivia o seu maior auge da carreira nos anos 90, já que ele vinha de obras como "Filadélfia" (1993), "Forrest Gump" (1994) e "O Resgate do Soldado Ryan" (1998). Aqui Tom faz um personagem com um nível de competência muito fiel, com uma atuação sempre muito requintada e com uma ótima entrega de carga dramática, que era justamente o que o seu personagem no livro pedia. Tudo muito bom mas muito normal, sem um grande impacto, apenas compondo o seu papel com muito vigor.
O trio de guardas e amigos de Paul era formado por Brutus Howell (David Morse), Harry Terwilliger (Jeffrey DeMunn) e Dean Stanton (Barry Pepper). Impressionante como cada um consegue conquistar a nossa atenção e consequentemente a nossa empatia. Os três personagens trata-se de uma homenagem ao ator Harry Dean Stanton, que participa do filme interpretando o condenado que é sempre chamado para testar a cadeira elétrica, o hilário Toot-Toot.
Doug Hutchison completa o grupo dos guardas da penitenciária com seu personagem Percy Wetmore. Doug esteve incrível, ele conseguiu demonstrar todo o comportamento tempestuoso de um guarda corrupto, cruel, desequilibrado, que sempre tomava atitudes infundadas.
Michael Jeter (falecido em 2003) trouxe um Dell, que assim como já destaquei anteriormente, conseguiu conquistar a nossa empatia e nos mostrou um arrependimento verdadeiro e a força de uma amizade verdadeira - com sua amizade com seu ratinho Mr. Jingles.
Sam Rockwell traz um personagem que possivelmente foi o grande responsável em alavancar a sua carreira cinematográfica. O que ele entregou na pele do bizarro 'Wild Bill' Wharton é brincadeira. Uma atuação estupenda de uma pessoa doente, desequilibrada, com uma entrega e uma leitura monumental de um psicopata.
Completando o elenco:
Ainda tivemos a ótima participação da Bonnie Hunt, Jan Edgecomb, a esposa de Paul. James Cromwell como Warden Hal Moores, o chefe da penitenciária. Graham Greene como Arlen Bitterbuck. Gary Sinise como Burt Hammersmith. E Patricia Clarkson como Melinda Moores, a esposa de Hal, que foi curada por John Coffey.
Algumas curiosidades e comparações entre livro e filme:
Inicialmente a obra do mestre King foi publicada nos Estados Unidos em seis volumes. O nome da série de livros vem do fato da cor do chão do corredor da morte ser verde e se estender por uma milha (Green Mile), que de fato é o nome original do filme.
O filme começa exatamente como no livro, com Paul já idoso em um asilo contando partes da sua trajetória ao regressar em suas memórias e narrar suas experiências como chefe dos guardas no corredor da morte da penitenciária de Cold Mountain durante a Grande Depressão. As partes que antecedem a hora em que acham o John Coffey sentado e gritando com as duas meninas no braço é mais longa e mais detalhada no livro, no filme deram uma resumida.
A cena em que o John Coffey assisti um filme como seu desejo antes de sua execução é uma cena exclusiva do filme, não existe no livro. Porém foi um encaixe excelente, uma ideia fantástica, que serviu para nos arrancar mais lágrimas.
O rato no livro se chama Sr. Guizos, no filme é Mr. Jingles. Sendo que trinta ratos de verdade se revezaram em cena para interpretar o ratinho Mr. Jingles.
A forma como o filme é narrado me remete ao épico "Titanic", pois são muito parecidos. Ambos são narrados com o começo da história sendo contada a partir do protagonista idoso, e ao término da história a cena volta para o mesmo protagonista idoso, exatamente da mesma forma como aconteceu com a Rose idosa ao narrar a sua linda história de amor.
Sobre as qualidades técnicas:
No quesito direção a obra é impecável, realmente o Frank Darabont deu uma aula de cinema na direção desta magnífica obra. A trilha sonora do mestre Thomas Newman (que no mesmo ano trabalhou na composição da trilha de "À Espera de um Milagre" e "Beleza Americana") é estupidamente perfeita, arrojada, potente, conseguindo se destacar nos momentos cruciais da história, e principalmente sendo a grande responsável nos momentos de maior comoção. A fotografia de David Tattersall (que no mesmo ano também trabalhou em dois filmes, este e "Star Wars: A Ameaça Fantasma") é rica, é esplendorosa, é triunfal, casa perfeitamente em cena e destaca o grandioso trabalho da cinematografia no filme. A direção de arte de Richard Francis-Bruce (também foi o responsável no clássico "Um Sonho de Liberdade") é completamente fiel com o livro, por compor cenários com uma perfeição invejável. O longa-metragem é muito bem montado, muito bem editado, muito bem mixado, muito bem adaptado, muito bem escrito, sendo perfeito tanto tecnicamente como artisticamente.
"À Espera de um Milagre" ganhou a reputação de ser um dos filmes mais emocionantes de todos os tempos (que eu concordo plenamente). O longa foi extremamente cultuado e respeitado. Foi um sucesso comercial, arrecadando US$ 286 milhões de seu orçamento de US$ 60 milhões, e foi indicado a quatro Oscars: Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante para Michael Clarke Duncan, Melhor Som e Melhor Roteiro Adaptado. Além da indicação de Ator Coadjuvante no Globo de Ouro.
Frank Darabont conseguiu brilhar mais uma vez ao adaptar mais uma obra do mestre King, e muito por conseguir construir uma experiência pesada, profunda, tocante, imponente, cativante, verdadeira, importante, necessária, relevante e emocionalmente poderosa ao extremo. Sem dúvidas ele conseguiu elaborar uma excelente adaptação que funciona como uma fábula, como um conto, que nos traz reflexões acerca da força da abordagem sobre a amizade, o destino, o amor, mesclando temas complexos e necessários como o racismo e a redenção, e funcionando diretamente como um drama com uma fantasia misteriosa com elementos sobrenaturais.
Como livro, "À Espera de um Milagre" está no top 5 das melhores obras literárias de toda a bibliografia do mestre Stephen King.
Como filme, "À Espera de um Milagre" está no top 10 das pérolas cinematográficas, das obras de artes e das obras-primas da década de 1990. E sem nenhuma dúvida o longa está presente na lista dos melhores filmes de dramas da história do cinema.
Isso aqui é cinema em seu mais alto e puro estado de perfeição!
Sem mais!
[22/09/2023]
Não Fale o Mal
3.6 692TEM SPOILERS!
Não Fale o Mal (Speak No Evil) 2022
"Speak No Evil" (dinamarquês: Gæsterne, lit. 'Os Convidados') é dirigido por Christian Tafdrup a partir de um roteiro que ele co-escreveu com seu irmão Mads Tafdrup. É produzido por Jacob Jarek e distribuído pela Nordisk Film. As filmagens ocorreram na Dinamarca, Holanda e Itália, e a maior parte do filme é rodada em inglês, com algumas cenas em dinamarquês e holandês. O filme é centrado em Bjørn (Morten Burian) e Louise (Sidsel Siem Koch), um casal dinamarquês que é convidado por Patrick (Fedja van Huêt) e Karin (Karina Smulders), um casal holandês, para passar um fim de semana em sua casa de campo; os anfitriões logo começam a testar os limites de seus convidados à medida que a situação piora.
Devo confessar que eu conheço pouco do cinema europeu, especificamente do terror psicológico europeu, que é justamente o tema em questão aqui nessa produção dinamarquesa. "Speak No Evil" é o terceiro longa-metragem de Christian Tafdrup, que atua principalmente como ator, e seu primeiro filme de gênero, no qual ele tenta combinar o gênero dramático com comentários sociais e elementos de terror psicológico. O filme combina perfeitamente o drama presente com o suspense de terror psicológico, sendo que o roteiro é desenvolvido na base do mistério, do suspense, do intrigante, do suspeito, da inquietação, nos levando ao incômodo, ao sufocante, ao desconforto, misturando uma agonia, uma tensão e uma afobação. Ou seja, temos aqui um terror psicológico que se torna chocante na medida que levanta polêmicas que dialoga com a crua e violenta natureza humana.
Podemos considerar que o longa também aborda uma sátira gelada dos costumes da classe média europeia, que está diretamente ligada com a questão da cultura europeia em diversos países, onde encontramos a passividade, o conformismo e a omissão. Ou seja, especificamente falando, são aquelas pessoas que tem o costume de querer agradar sempre, de se negar a dispensar um convite (como vimos na cena em que a família dinamarquesa diz que seria errado negar o convite da família holandesa), que tem dificuldades em dizer um simples e objetivo "não".
O ponto principal do roteiro é desenvolver a normalidade inicial de cada acontecimento na trama, seja pelo lado da família dinamarquesa ou principalmente pelo lado da família holandesa. Toda essa normalidade é justamente o ponto-chave, o ponto de partida de toda a história, e que nos leva a considerar o nosso próprio cotidiano quando nos encontramos em situações onde temos que ser gentis, passivos, pensando primeiramente em agradar a outra pessoa e não se passar por uma pessoa antissocial (como normalmente acontece no dia a dia).
O longa-metragem é pautado exatamente em cima dessa questão do conformismo, da omissão, da imparcialidade, da passividade, como presenciamos logo de cara com a pressão psicológica que a família dinamarquesa sofre pelo simples motivo em dizer um não. A partir daí vamos observando que a família dinamarquesa age unicamente e exclusivamente na proposta de agradar a família holandesa. Aquela velha questão de você não pensar primeiramente em si, mas se desagradar para agradar outra pessoa pelo simples motivo de querer ser legal, ser sociável e criar um clima agradável (quem nunca). Como presenciamos na cena em que a Louise é coagida a aceitar comer um pedaço de carne mesmo já tendo evidenciado que era vegetariana (ou seja, só para agradar e deixar o ambiente agradável).
É realmente incrível como a família dinamarquesa se colocava em situações desagradáveis e muitas das vezes até desnecessárias só com o intuito de querer sempre agradar e se manter sociável. Por outro lado toda essa passividade, complacência e excesso de gentileza foi o que os levaram a cometerem erros irreversíveis. Esse é exatamente o ponto em que o filme nos causa mais desconforto, se torna cada vez mais intragável e difícil de digerir. Pois além de sermos confrontados com toda omissão, passividade e complacência, ainda somos confrontados com um excesso de flexibilidade absurda; que é exatamente a cena em que o Bjørn decide ceder a pressão psicológica do choro da filha para retornar à casa na busca pelo seu coelho de pelúcia. E aqui podemos observar que esta é uma das cenas (se não for a principal) que nos causa mais raiva pela burrice do casal. Mas não é uma cena aleatória apenas para nos causar repulsa, tem todo um contexto por trás, que é o fato do Bjørn se sentir responsável pela bem-estar da filha (ou querer se provar capaz), pois no começo somos enfatizados por uma cena parecida quando ele sai na procura pelo bichinho perdido. Nessa mesma cena o Patrick o parabeniza como um herói da filha, o que o deixa pensativo sobre aquela declaração de um desconhecido. Outro ponto: também podemos interpretar que o Bjørn usou o motivo de retornar na casa para pegar o bichinho de pelúcia da filha como uma forma de se desculpar por ter saído assim no meio da noite sem se despedir. De fato esta cena abre margens para várias interpretações.
Como já destaquei, o maior acerto do longa é a criar e condessar aquele clima do suspense, da aflição, do mistério, do medo, de que a qualquer momento alguma coisa vai acontecer. E realmente ficamos esperando o tempo todo alguma coisa acontecer mas nada acontece, ou talvez não aconteça visivelmente, mas dentro da nossa mente já estamos desde o começo do filme sofrendo uma pressão com um suspense psicológico, um terror psicológico acerca de que possivelmente irá acontecer. Tanto que passamos cerca de 1 hora de filme sem uma gota de sangue, ou seja, o diretor vai nos conduzindo pelo nosso próprio medo, pela nossa própria aflição, vamos sendo levados apenas com o peso do terror psicológico. Nesse quesito o filme funciona perfeitamente.
Porém, eu não posso simplesmente ignorar vários pontos que me incomodou excessivamente durante o filme: o ponto principal aqui é a burrice dos personagens, que eleva um nível absurdo de irritabilidade. Outro ponto é a forma como o longa constrói uma inquietação que se confundi com irritação, que de fato são as atitudes irreais e infundadas tomadas pelos personagens da família dinamarquesa. É fato que o que mais nos surpreende no filme nem é a violência explícita mas sim a incompetência, a burrice e o excesso de passividade dos personagens em questão. O casal dinamarquês são pessoas totalmente condescendentes, passivas, que aceitam todas as imposições sem nenhum questionamento, sem nenhuma objeção, e ainda agem de forma estúpida quando são ameaçados.
Aquela cena onde cortam a língua da pequena Agnes (Liva Forsberg) é patética com a submissão dos pais, e olha que a Karin estava ameaçando a Louise apenas com uma pequena tesoura. Mesmo que eu entenda que o filme queria realmente frisar a passividade e a submissão do casal dinamarquês nessa cena, mas é impossível não se irritar com personagens tão estúpidos.
O plot (se é que temos um) é muito previsível e chega a ser até banal, principalmente se levarmos em conta que logo no começo o pequeno Abel (Marius Damslev) mostra a sua língua cortada para o Bjørn como uma forma de alertá-lo, mas ele pouco se importa. A partir dessa cena já temos certeza do que aconteceu com o garotinho, ainda mais após aquela revelação da família holandesa que ele possuía uma doença que o limitava de falar. Nesse ponto já construímos todas as possibilidades que irá acontecer no final do filme, e realmente acontece. Por mais que ficamos presos no clima de suspense e tensão em boa parte do filme, mas esse plot não deixa de ser escandalosamente previsível, o que tira o impacto da revelação final.
Realmente eu acho que o longa erra descaradamente ao desafiar a nossa inteligência com situações e atitudes dos personagens que beiram o ridículo.
Em questões de elenco não tenho o que destacar. Acredito que cada ator entregou o que o seu personagem pedia. Agora é fato que nenhum se destaca, nenhum se sobressai, nenhum eleva o nível do personagem em relação com a história que estava sendo contada. É basicamente um feijão com arroz misturado com muitas caras e bocas.
Tecnicamente o filme também não se destaca!
Temos uma trilha sonora modesta, ok, que até tenta gerar um impacto, uma tensão em momentos oportunos, mas soa artificial e torna as cenas previsíveis. A cinematografia é básica, a direção de arte é básica, a montagem é básica, tecnicamente o filme é todo básico.
"Speak No Evil" arrecadou cerca de US$ 631 milhões contra um orçamento de produção de cerca de US$ 3,1 milhões.
Sobre a crítica especializada:
No Rotten Tomatoes, 84% das 90 críticas dos críticos são positivas, com uma classificação média de 7,5/10. O consenso do site diz: "Uma sátira social com dentes afiados, "Speak No Evil" oferece um prazer sombrio e delicioso para os fãs de thrillers misantrópicos." Já o Metacritic, que usa uma média ponderada, atribuiu ao filme uma pontuação de 78 de 100, com base em 17 críticos, indicando "críticas geralmente favoráveis". O Festival de Cinema de Sundance elogiou o filme como uma "obra satírica de terror brilhantemente provocativa e fervilhante que incrimina ambos os lados".
Em abril de 2023, foi anunciado que a Blumhouse Productions estava desenvolvendo um remake de mesmo nome, com James McAvoy contratado como estrela e James Watkins escrevendo e dirigindo. O filme está programado para ser lançado nos cinemas em 9 de agosto de 2024 pela Universal Pictures.
Por fim, "Speak No Evil" tem uma premissa interessante, consegue nos prender pelo suspense, pela tensão, pelo mistério e consegue nos causar uma agonia e uma aflição. O suspense psicológico é bem administrado e pontual nas cenas para nos causar um certo desconforto. Por outro lado o filme falha miseravelmente ao construir personagens estúpidos, burros e dementes, que agem com a inteligência de uma porta. De fato é um filme mediano, que erra tentando acertar.
Já a lição que o longa deixa é exatamente sobre como devemos impor limites em tudo, como devemos nos agradar primeiramente antes de agradarmos os outros, como devemos agir nos momentos certos e aproveitarmos as oportunidades que a vida nos dá, porque às vezes pode ser a última vez. Além, é claro, da crítica ácida que o filme faz sobre pessoas passivas, omissas, submissas e complacentes, que não conseguem dizer um não para não desagradar os outros.
Nesse sentido "Speak No Evil" funciona e até se destaca ao nos fazer refletir sobre nossas atitudes perante a nossa permissividade e a nossa tolerância, que é exatamente a lição que o longa nos deixa ao nos evidenciarmos com aquele diálogo final:
- Por que vocês estão fazendo isso?
- Porque vocês deixaram.
[08/09/2023]
Bates Motel (1ª Temporada)
4.3 1,4KTEM SPOILERS!
Bates Motel (1ª Temporada) 2013
"Bates Motel" foi criado por Anthony Cipriano e desenvolvido por Jeff Wadlow (diretor de "Quebrando Regras", de 2008), Carlton Cuse (produtor da série "Jack Ryan"), Kerry Ehrin (roteirista da série "The Morning Show"), e é produzido pela Universal Television e American Genre para a rede de TV a cabo A&E. A primeira temporada foi ao ar em 18 de março de 2013 com 10 episódios.
A série é vista como uma "prequela contemporânea" do clássico "Psicose", de Alfred Hitchcock, de 1960 (baseado no romance homônimo de Robert Bloch, de 1959), que retrata a vida de Norman Bates (Freddie Highmore) e sua mãe Norma (Vera Farmiga) antes dos eventos retratados no filme, embora em uma cidade fictícia diferente (White Pine Bay, Oregon, em oposição a Fairvale, Califórnia) e em um cenário moderno.
Após a misteriosa morte de seu marido, Norma Bates decidiu começar uma nova vida longe do Arizona, na pequena cidade de White Pine Bay, e leva o filho Norman, de 17 anos, com ela. Ela comprou um velho motel abandonado e a mansão ao lado.
Este ano eu finalmente consegui realizar um antigo desejo, que era ler a obra-prima de Robert Bloch, rever o clássico do mestre Hitchcock e assistir todos os filmes subsequentes da franquia "Psicose". Posso dizer que foi uma experiência incrível, uma das maiores experiências que eu já vivi em toda a minha vida literária e bibliófila. O livro é magnífico, excelente, uma verdadeira obra-prima da literatura sombria e um dos melhores livros que eu já li na vida. Já o clássico de 1960 fala por si só, simplesmente por ser um dos maiores suspense de toda a história do cinema, que foi conduzido justamente pelo mestre do suspense. Os filmes subsequentes não estão no mesmo nível, não estão na mesma prateleira do livro e do clássico. Eles seguem histórias próprias, paralelas e até continuações dentro do universo de "Psicose". O que pode até ser interessante, ou simplesmente horroroso, como é o caso do remake de 1998. E logo após ter lido o livro e assistido todos os filmes da franquia "Psicose", chegou a vez de conferir a série "Bates Motel", que também faz parte do universo e nos conta uma história sobre o início de tudo. Algo parecido com o que foi feito no filme "Psicose 4: O Começo", de 1990.
A série é bem intrigante e ao mesmo tempo interessante, pois obviamente ela constrói toda uma abordagem sobre o universo de "Psicose" servindo justamente como um prelúdio do clássico ao nos mergulhar naquela trama que futuramente irá nos nos contar sobre todo desenvolvimento de Norman Bates. Ou seja, a trama nos levará ao lado sombrio e psicótico entre a infância e a adolescência de Norman, explicando como o amor incontrolável de sua mãe ajudou a moldar um dos maiores maníacos e psicopatas da história do cinema.
O primeiro episódio já inicia de modo surpreendente com uma pessoa morta. Esta pessoa é simplesmente o pai de Norman, que está ali morto na garagem de forma bastante misteriosa (ou não, como vemos mais à frente na temporada). Logo após este início já temos um salto no tempo de 6 meses e chegamos até a cena da Norma chegando em seu mais novo Motel. O seu novo empreendimento antes tinha o nome de Seafarer's Motel, e em uma cena bem interessante vemos a troca do letreiro para Bates Motel. Por sinal a réplica que foi construída do Motel e da casa ficou excelente, com uma fidelidade ao clássico incrível. Este primeiro episódio já é um dos melhores da temporada por já nos confrontar com aquela sequência que vai desde a chegada do ex-proprietário do Motel (Keith Summers, interpretado por W. Earl Brown), passando pela invasão na casa, o estupro na Norma e a sua morte. Onde aconteceu em um momento de fúria incontrolável de Norma quando o esfaqueou brutalmente até a morte (por sinal, uma excelente cena). O episódio termina de forma intrigante ao revelar uma certa garota aprisionada.
O segundo episódio é muito revelador e diferente, eu diria. Simplesmente por acrescentar na trama a presença de Dylan Massett (Max Thieriot), o filho mais velho de Norma e meio-irmão de Norman. Pelo o que me consta, tanto pelo livro quanto pelo clássico sessentista, o Norman não tinha um meio-irmão assim dessa forma como foi abordado na série. Bem, achei interessante esse contexto trazido para a série. O episódio segue com os dramas e as aflições de Norman ao tentar se introduzir na nova cidade e conhecer novas pessoas. Como é justamente o caso do seu primeiro interesse - a jovem Bradley Martin (a belíssima Nicola Peltz). Aqui também fica claro que Norman tem muitos ciúmes da mãe e da forma como as pessoas se referem à ela. Até por isso vemos os constantes conflitos de Norman com Dylan.
O terceiro episódio segue mergulhado no mistério e no suspense pelo fato da polícia está no encalço da Norma pelo suspeita referente ao desaparecimento de Keith Summers. Aqui já temos vários envolvimentos na história; como é o caso do antigo dono do Motel parecer ter ligações com as garotas chinesas desaparecidas que está sendo investigada pela Emma Decody (Olivia Cooke). Logo essa ligação com o desaparecimento das garota cai sobre o policial Zach (Mike Vogel), pelo fato do Norman ter invadido sua casa procurando pelo cinto de Keith Summers, e ter sido confrontado com a garota oriental presa em seu porão.
A partir do quarto episódio temos cada vez mais revelações e acontecimentos surpreendentes. Norma está envolvida em uma verdadeira bola de neve, ao estar envolvida com o policial Zach como uma forma de se safar das investigações sobre a morte de Keith Summers. Por outro lado ela se recusa a acreditar em Norman sobre a possível garota presa no porão da casa de Zach. O que a leva a entrar em transe e levantar suspeitas sobre o estado mental e a sanidade de Norman com esta descoberta bizarra. Temos aqui a primeira transa de Norman, que aconteceu com a Bradley, e a prisão de Norma pelo assassinato de Keith Summers.
A história segue em uma verdadeira teia de aranha com cada vez mais confrontos: a garota oriental que era mantida como escrava sexual de Zach é encontrada e levada para o Motel. Zach por sua vez encontra a garota em um dos quartos do Motel e corre atrás dela pela floresta (não foi revelado, mas ao que tudo indica ele matou a garota). Logo após temos mais uma ótima sequência de cenas, que é todo confronto de Zach com a Norma e o Dylan na casa. O que termina brutalmente com um tiro no olho de Zach disparado por Dylan.
O desfecho do assassinato de Zach proposto pelo Xerife Alex Romero (Nestor Carbonell) é tudo muito suspeito. Por fim temos a aparição de um hóspede misterioso no Bates Motel, que parece saber demais. Já o Norman passa a enfrentar as complicadas garotas populares e o descaso da Bradley com ele. Essa é um situação bem complicada: a Emma é apaixonada pelo Norman e vive correndo atrás dele, já ele se rasteja pela Bradley e ela passa a desprezá-lo. Sem falar que é tudo muito estranho essa repentina aproximação da Bradley com o Dylan.
No oitavo episódio é onde o Norman desperta o interesse pela taxidermia (animais empalhados), com o pai da Emma. No filme clássico temos toda a dimensão desse amor que ele tem por essa arte. Norma está mais preocupada com a possível construção da nova estrada principal, o que vai mudar o trajeto das pessoas que passariam pelo seu Motel. A relação de Norma e Dylan parece melhorar. O episódio termina com aquele cadáver do Zach na cama da Norma.
O nono e o décimo episódio é a construção (e ligação) do fechamento dessa temporada. Norma sofre com as constantes ameaças de Jake Abernathy (Jere Burns), o hóspede misterioso. Norma decide que quer vender o Motel e recomeçar a vida novamente no Havaí, mas o Norman não quer ir. Norman por sua vez está cada vez mais apegado na cadela empalhada. E temos aquela cena onde a Norma vai ao encontro de Jake e é surpreendida pelo Xerife Alex confrontando justamente o Jake. Que termina com o Xerife dando um tiro em Jake.
Sobre o elenco:
Vera Farmiga (atualmente em cartaz nos cinemas em "A Freira 2") é sensacional, é sem dúvida a principal e mais destacável da série. É realmente impressionante como a Vera escolhe bem as suas personagens e sempre eleva o nível em cada trabalho apresentado. Em "Bates Motel" ela se encaixa como um luva na pele da Norma Louise Bates mais jovem. Ela traz esse lado mais jovial da mãe do Norman, que pretende recomeçar sua vida após os recentes acontecimentos, que mantém os seus dramas e os seus conflitos íntimos, justamente ao confrontar os seus traumas em relação à criação do jovem Norman.
Já o Freddie Highmore ("The Good Doctor") é outro que também se encaixa como uma luva na pele da versão adolescente do lendário Norman Bates. Caracteristicamente falando, o Freddie traz uma versão impecável do Norman jovem, que está se descobrindo, que está se conhecendo, que está conhecendo o mundo ao seu redor e as pessoas (e principalmente as garotas) ao seu redor. O Norman de Freddie pode soar como ingênuo, inocente, inexperiente, indefeso, tímido, ao mesmo tempo também soa como misterioso, enigmático, introspectivo e principalmente letal - como vimos na cena final do décimo episódio com aquele assassinato brutal da Srta. Watson (Keegan Connor Tracy).
Max Thieriot ("SEAL Team") começa em um ritmo mais morno em seu personagem Dylan, até pela forma como ele entra na série. Porém, com o passar dos episódios vamos nos afeiçoando à ele, vamos conhecendo ele melhor, vamos entendendo melhor os seus dramas e seus traumas. No fim da temporada ele já passa a ser um personagem que nos importamos.
Nicola Peltz ("Transformers: A Era da Extinção") traz uma personagem que faz o caminho inverso do Dylan. A Bradley Martin é uma personagem que eu até simpatizei no início, que eu acreditava no seu drama em relação a terrível morte de seu pai, porém com o tempo eu fui começando a questionar as suas atitudes com o Norman e principalmente a sua aproximação com o Dylan. No fim ela não passou de uma patricinha mimada que usou o Norman no momento em que ela estava frágil e vulnerável.
Olivia Cooke ("Jogador Nº1") com sua personagem Emma Decody me fez vê-la ao inverso da Bradley. Justamente por ela se apegar verdadeiramente ao Norman, por ela realmente criar um amor verdadeiro por ele, que realmente se importava com ele e não queria só usá-lo. Por fim ela vivia correndo atrás do Norman na intenção dele notar a presença dela, e ele não tirava a Bradley da cabeça. O que uma transa não faz!
"Bates Motel" acerta muito bem no suspense, no mistério, no enigmático e na construção do drama. Acredito que em si a história é sobre o amor incondicional de uma mãe por seu filho. Temos um relacionamento que é explorado através da premissa de que o jovem é excessivamente temperamental e ambos estão cercados por um ambiente com problemas, que os conduz ao extremo. No caso, cada um ali presente tinha os seus medos, os seus traumas, os seus conflitos e os seus dramas. Principalmente no caso da Norma e do Norman, que ora pareciam muito próximos e apegados, ora pareciam distantes e completamente diferentes.
Porém, tem alguns pontos dentro dessa temporada que me incomodou bastante: como o fato da história ser modernizada para a atualidade e se passar em um cenário moderno, onde temos os avanços tecnológicos como o uso constantes de notebooks e afins. Eu até entendo esse avanço na modernização da série, até para se encaixar com o público atual, mas particularmente eu não consegui engolir e me adaptar com essa proposta dentro do universo de "Psicose" (algo parecido com o que me aconteceu com a versão modernizada do filme "Carrie - A Estranha", de 2013).
Outro ponto que me incomodou (aqui eu já acho uma falha mesmo da série), é o fato de cada história ser mal desenvolvida, mal planejada, vaga, rasa, pobre, sem um aprofundamento que pudéssemos sentir o peso de cada acontecimento de cada personagem envolvido. Por exemplo: temos três personagens com histórias distintas que começou e terminou nessa temporada, e de forma totalmente rasa e aleatória. Que é o caso da personagem Jiao (Diana Bang), a garota presa no porão, o Zack Shelby e o Jake Abernathy. Sinceramente eu não sei o que os roteirista pretendiam, mas acredito que eles queria impactar, queriam nos surpreender com mortes repentinas quando não estivéssemos esperando, com de fato aconteceu. Eu entendo o fato de não quererem construir uma temporada ou mais elaborando subtramas e desenvolvendo histórias paralelas com a trama central, mas você não pode simplesmente jogar vários personagens em uma série, tentar construir uma história diferente pra cada um, onde você desperta o interesse do espectador, e simplesmente decidir matar os personagens assim do nada, só pra gerar impacto sem a mínima coerência. Eu achei um erro grotesco do roteiro da série.
Tecnicamente a série é muito boa!
Acredito que a direção de arte é o principal destaque aqui, e muito por construir cenários fiéis com o clássico e encaixá-los com harmonia na forma moderna adotada pela série. A fotografia é bem destacada, bem organizada, muito bem projetada em cada cena. Assim como a trilha sonora, que acompanha bem a série em sua versão modernizada.
"Bates Motel" é a série dramática com roteiro original de maior duração na história do canal A&E. Os atores principais da série, Vera Farmiga e Freddie Highmore, receberam elogios especiais por suas atuações na série, com a Vera recebendo uma indicação ao Primetime Emmy Award e ganhando o Saturn Award de Melhor Atriz de Televisão. A série também ganhou três People's Choice Awards de Drama Favorito de TV a Cabo e de Atriz Favorita de TV a Cabo (Vera Farmiga) e Ator (Freddie Highmore).
A primeira temporada recebeu críticas positivas dos críticos: no Metacritic, a temporada detém uma pontuação de 66 em 100, com base em 34 críticos, indicando "críticas geralmente favoráveis". No agregador de resenhas Rotten Tomatoes, a temporada tem uma classificação de 84% "fresco certificado" com uma pontuação média de 7,11/10, com base em 43 resenhas. O consenso crítico do site diz: "Bates Motel utiliza manipulação mental e táticas de medo de suspense, além de um trabalho de personagem consistentemente nítido e relacionamentos familiares maravilhosamente desconfortáveis".
A primeira temporada de "Bates Motel" é muito boa, muito bem apresentada, com um início bastante cativante, onde conta com um ótimo elenco e ótimas apresentações. Acredito que a temporada deixa muito a desejar no quesito roteiro, por querer contar várias histórias todas ao mesmo tempo e no fim não desenvolver e não finalizar nenhuma com coerência e relevância. Porém, ainda assim eu acredito que a série tem potencial para desenvolver melhor os roteiros das próximas temporadas e entregar uma série que no fim honre o nome de uma das maiores franquias de suspense de todos os tempos - "Psicose". [03/09/2023]
Breaking Bad (5ª Temporada)
4.8 3,0K Assista AgoraTEM SPOILERS!
Breaking Bad (5ª Temporada) 2012/2013
A quinta e última temporada de "Breaking Bad" estreou em 15 de julho de 2012 e foi concluída em 29 de setembro de 2013 na AMC nos Estados Unidos e Canadá. A temporada de 16 episódios é dividida em duas partes, cada uma contendo oito episódios. A primeira parte da temporada foi transmitida de 15 de julho a 2 de setembro de 2012 e foi ao ar aos domingos às 22:00 horário do leste dos EUA. A segunda parte foi transmitida de 11 de agosto a 29 de setembro de 2013 e foi ao ar aos domingos às 21:00.
Na vida é muito difícil encontrarmos algo perfeito, uma obra perfeita, ainda mais quando estamos se referindo ao audiovisual, que é justamente o caso aqui. "Breaking Bad" é uma série que eu aprendi a amar desde o seu lançamento lá em 2008 e hoje, ao finalizar o 16ª episódio da última temporada, eu só pude comprovar a magnífica obra de arte da história dos seriados de TV que a série sempre foi. Sem nenhuma dúvida "Breaking Bad" é a melhor série do século, a verdadeira obra-prima das séries e está simplesmente entre as melhores séries já criadas em toda a história, sendo completamente perfeita em todos os sentidos.
A quinta temporada é icônica, é emblemática, é completamente apoteótica!
O primeiro episódio já inicia de forma catártica ao nos revelar aquela versão quase irreconhecível do Walter White (Bryan Cranston) com barba e cabelo sendo chamado pelo codinome de "Lambert", que estava naquele local negociando armas. Logo tomamos conhecimento da atualidade com Walter tendo que conviver com o assassinato do Gus (Giancarlo Esposito). Skyler (Anna Gunn) está muito assustada com os últimos acontecimentos. Mike (Jonathan Banks) está se recuperando do tiro que ele levou na temporada passada. Walter quer encontrar as gravações do laboratório de metanfetamina que o Gus fazia. A partir dessa busca, Walter, Mike e Jesse (Aaron Paul) decidem que precisam destruir o laptop do Gus que foi apreendido pela polícia. Eles utilizam aquele ímã gigante e poderoso para conseguir destruir todas as evidências e provas que estava no laptop (por sinal, uma belíssima cena). Ainda no primeiro episódio somos confrontados com o Ted (Christopher Cousins) em estado terminal em uma cama de hospital pelos seus acontecimentos da temporada passada. Curioso que no final do episódio o Walter diz para a Skyler que ficou sabendo o que aconteceu com o Ted e revela para ela que a perdoa.
O segundo episódio começa bastante curioso e intrigante ao nos revelar uma cena em uma cozinha de teste na "Eletromotriz Madrigal", onde o executivo Peter Schuler realiza sua última "refeição" e caminha para o banheiro para cometer suicídio. No caminho, deparamos com a remoção do logo dos "Los Pollos Hermanos" (a marca do Gus), mas antes, vimos outros logos, respectivos às outras empresas financiadas pela Madrigal. Nesse mesmo episódio Jesse encontra aquele cigarro de "ricina" que ele achou que o Walter havia roubado para envenenar o garoto Brock na temporada passada. Jesse entra em uma crise de consciência, um verdadeiro remorso. Muito interessante que nesse episódio temos a revelação que Mike foi um ex-policial no passado na Filadélfia. Hank (Dean Norris) está agora no encalço do Mike, querendo arrancar informações dele. Como o Mike perdeu todo o seu dinheiro que ele havia reservado para sua neta, e como o Walter quer voltar a cozinhar a metanfetamina, eles se juntam para voltar com a velha produção.
Os episódios seguintes são bastante reveladores e surpreendentes:
Temos uma personagem bastante enigmática e misteriosa - Lydia (Laura Fraser). Temos uma versão da Skyler completamente perturbada e descontrolada, por todos os acontecimentos que ela está enfrentando com Walter. Tanto que temos uma cena em que ela surta com a Marie (Betsy Brandt) e a outra que ela decide se afogar na piscina na frente de todos. Walter e Jesse voltam a produzir a metanfetamina utilizando dessa vez os locais que estavam fechados para dedetização (ótima ideia e bela jogada do Walter). Por fim temos aquela cena emblemática do roubo de metilamina (que é utilizada na produção da metanfetamina ) no trem, com a presença de Walter, Jesse, Mike e Todd (Jesse Plemons). Que cena magnífica, icônica, apoteótica, um roubo no maior estilo de "Velozes e Furiosos" e "Red Dead Redemption 2".
No final do episódio do roubo do trem, Todd dá um tiro em um garoto que sem querer acaba vendo todos os integrantes daquela ação. O que logo desperta um estado de fúria e comoção em Jesse, que sempre se revoltou quando o assunto era atacar os garotos. Diante desse acontecimento, Jesse revela para Walter que deseja sair da parceria de produção de metanfetamina, assim como o próprio Mike, que também deseja abandonar o barco. Nesse ponto temos aquela parte onde cada um decide que quer vender a sua parte nos galões de metilamina e sair da parceria com Walter, mas Walter está mais ambicioso do que nunca, ele não quer só o dinheiro para deixar para sua família, como ele queria quando começou no ramo, ele quer ser a referência e construir um império de metanfetamina.
No sétimo episódio temos uma das cenas mais icônica e emblemática de toda a história de "Breaking Bad". Que é justamente a cena do Walter indo pessoalmente negociar com o Declan (Louis Ferreira) para ele ser o seu distribuidor de metanfetamina, onde temos a famigerada cena: "Say My Name". Há muito tempo que Walter já rompeu todos os limites da compaixão, da empatia, da misericórdia, está cada vez mais no lado sombrio, obscuro, com uma ambição incontrolável e destruível. Walter não tem mais nenhum limite em relação ao seu desejo de tomar o lugar que era do Gus, em ser o novo Manda-Chuva, o Big Boss, construindo o seu verdadeiro império de metanfetamina.
O oitavo episódio é outro episódio surpreendente e emblemático, pois é quando temos aquele confronto do Walter com o Mike, o que resulta na morte do Mike pelo Walter (não perdoo o Walter, eu gostava muito do Mike). Interessante que após o Walter assassinar o Mike ele está sentado e se depara novamente com aquela famigerada mosca, e bem em um momento que ele está em uma guerra pessoal com sua consciência. Jesse se afasta de Walter e Todd está como o seu mais novo pupilo, aprendendo o processo da produção de metanfetamina. Está cada vez mais nítido que Walter não precisa de mais dinheiro, ele não tem mais aonde guardar. E é exatamente este o pedido que a Skyler faz para ele, que ele pare de produzir a metanfetamina. Diante desse pedido, Walter finalmente decidi se aposentar da produção. O episódio termina de forma muito intrigante, com o Hank tentando ligar os pontos e chegando na pista WW, que liga diretamente com Walter White.
O nono e o décimo episódio são completamente surpreendentes!
Hank está transtornado com a possibilidade que ele levantou sobre o seu algoz ser mesmo o Walter. Jesse por sua vez está completamente perturbado, transtornado e em crise ao descobrir que foi realmente o Walter o responsável pelo envenenamento do garoto Brock. Sendo assim ele entra em um profundo estado de descontrole emocional e mental e sai atirando os maços de dinheiro pelas ruas. O cerco está cada vez mais se fechando ao redor do Walter e Hank finalmente descobre toda a verdade sobre seu cunhado: Walter White matou o Gus e ele é a personalidade que Hank esteve na caça por mais de um ano, se revelando como o verdadeiro "Heisenberg". O episódio termina de forma apoteótica!
A partir do momento que Hank descobre que Walter é o "Heisenberg" ele parte para cima da Skyler, a pressionando e a coagindo para que ela revele tudo que sabe a respeito do marido. Porém, inicialmente Skyler não revela nada para o Hank, o que muito me surpreende esta sua postura. Para tentar reunir provas ao invés de suspeitas, Hank decidi ir ao encontro de Jesse, que estava transtornado ao ponto de colocar fogo na casa do Walter. Realmente o Jesse está em seu limite, está tomado por um sentimento de culpa, de revolta, de remorso, de tristeza, uma forte crise existencial. Dessa forma Hank tenta uma espécie de acordo com Jesse, afinal ambos querem pegar o Walter.
No décimo primeiro episódio temos a revelação que o Câncer de Walter voltou, e logo ele tem um desmaio no banheiro e revela mais tarde para seu filho Jr. É nesse episódio que temos aquele icônico vídeo do Walter incriminando o Hank com a sua participação em seu império de metanfetamina. Vou confessar que eu achei essa ideia incrível, genial, ousada, que só poderia ter saído da mente brilhante do "Heisenberg". Sem falar na ligação que ele fez com o dinheiro que a Marie usou no tratamento e recuperação do Hank como prova do seu envolvimento em todo o esquema. O que obviamente deixa o Hank completamente transtornado e desacreditado.
Os últimos episódios da temporada são magníficos, atinge um alto nível que eu nunca vi em nenhuma outra série.
Temos aquela armadilha que o Hank e o Jesse prepara para o Walter com a foto do tambor com seu dinheiro, o que o obriga a ir até o local no deserto em que todo o seu dinheiro está enterrado (por sinal, é o mesmo local que o Walter e o Jesse começaram a cozinhar a metanfetamina lá na primeira temporada). Temos aquela cena absurda dos tiroteios no deserto entre o Hank e o agente Gómez contra a gangue do Tio Jack. Jack Welker (Michael Bowen) é o tio do Toddy, que lidera o grupo de neonazistas sempre fazendo trabalhos encomendados por outros. O grupo aparece de acordo quando Walter pede uma ajuda para eliminar o Jesse em troca de ensinar o Todd a produzir a metanfetamina mais pura possível. O episódio termina com a surpreende morte do Hank com o tiro disparado pelo Tio Jack.
Ozymandias é o décimo sexto episódio, o episódio final da série "Breaking Bad". Este episódio é incrível, icônico, emblemático, apoteótico. É um episódio que fecha com chave de ouro toda a saga de "Breaking Bad", que nos faz revelações surpreendentes, que nos impacta e nos emociona, que nos desperta todos os mistos de sentimentos que estavam guardados por muito tempo. Aquela cena da metralhadora no porta-malas do carro estraçalhando todo mundo na casa é absurdamente incrível, genial e bizarra. Uma cena completamente apoteótica. Ozymandias é sem dúvida um dos melhores episódios de toda a história dos seriados de TV, e ainda com um fechamento que traz um final catártico.
Sobre o icônico elenco de "Breaking Bad".
Bryan Cranston é um gênio, um mestre, um lord. Ele soube incorporar um personagem com maestria, com elegância, com grandeza, com uma competência absurda e antológica. Bryan Cranston deu vida para o Walter White, que é incontestavelmente um dos melhores personagens de séries de todos os tempos! Assim como o icônico "Heisenberg", que é simplesmente uma das maiores personalidades do mundo do entretenimento e da cultura pop.
Anna Gunn é uma atriz genial e poderosa. É realmente incrível a forma como a Anna conseguiu criar e interpretar uma personagem que transcendia todos os limites de uma simples mãe de família. Que soube se reinventar a cada episódio, a cada temporada, sempre entregando uma personagem que era amada e odiada praticamente ao mesmo tempo. Nessa quinta temporada a Anna Gunn está no ápice da sua personagem, conseguindo nos comover e nos impactar com um trabalho impecável e irretocável.
Aaron Paul é sem dúvida o personagem mais desacreditado do início da série. Acredito que o público (assim como eu) no início teve um pouco de pé-atrás com ele ao interpretar o jovem viciado Jesse Pinkman. Talvez por não conhecer muito do seu trabalho, talvez apenas por desconfianças mesmo, mas devo dizer que ele surpreendeu todo um planeta ao incorporar o Jesse. Aaron Paul é o ator que mais cresceu dentro da série, que mais desenvolveu o seu personagem ao longo das temporadas, que provou ser o ator magnífico que é pela competência de um trabalho fenomenal e impecável. Nessa quinta temporada o que o Aaron Paul entrega na pele do Jesse é absurdo, principalmente no quesito peso dramático e carga dramática - como podemos comprovar naquela cena absurda em que ele presencia o assassinato da Andrea (Emily Rios) - que cena impactante!
Dean Norris é um ator que eu gosto muito e aqui como Hank Schrader ele sempre foi colossal. Dean soube construir um personagem que facilmente poderíamos criar uma grande empatia, principalmente pelo seu grande crescimento e relevância dentro do contexto de toda a história. E o mais interessante em seu personagem é exatamente esse jogo de gato e rato com Walter, sempre no encalço da sua maior missão enquanto agente da DEA, que sempre esteve ali na frente do seu nariz, embaixo do próprio teto. Hank Schrader é mais um personagem icônico desse universo de "Breaking Bad", e tudo graças ao trabalho fantástico de Dean Norris.
Bob Odenkirk é sem dúvida a personificação do personagem mais hilário de toda a série - o grande Saul Goodman. Já o Jonathan Banks trouxe aquele personagem que também tem um crescimento absurdo na série, indo na mesma linha de crescimento do Hank. Mike sempre esteve na defesa do Gus, sempre funcionava com o seu cão de guarda, porém nessa temporada observamos mais do outro lado do Mike, sem aquela casca que ele sempre carregava.
Betsy Brandt trouxe uma personagem que ora funcionava no contexto da série, ora fica mais escanteada, mas no geral a Marie foi fundamental na construção final das motivações do Hank.
RJ Mitte é outro ator muito bom, que também contribuiu diretamente para a grandeza da série, e nessa temporada o Walter Jr. foi primordial ao tomar a atitude em relação ao pai. E pra finalizar temos a excelente participação do Jesse Plemons (novinho na época), que também teve a sua contribuição fundamental na série.
Precisamos voltar a falar de Walter White:
É incrível a grandeza desse personagem na série, é incrível como ele toma uma postura inicial e aos poucos vai deixando de lado, se descaracterizando, se desconstruindo. Aquele simples professor de química do ensino médio mal pago, superqualificado e desanimado que está lutando com um diagnóstico recente de câncer de pulmão. Que decide usar das suas extremas habilidades químicas para produzir uma metanfetamina mais pura o possível para deixar sua família estável financeiramente quando ele morrer. Este é um ponto abrangido com maestria na série: a desconstrução do ser humano, a ambição humana, a supervalorização, a briga de ego, a forma como uma pessoa deixa de lado todos os seus princípios e se torna um monstro, um sociopata, muda de personalidade, se entrega ao desejo incontrolável da ambição, ao lado sombrio e com uma mudança obscura em seu caráter.
É incrível como até hoje muitas pessoas se frustram ao ver a forma como o Walter se tornou dentro da série e principalmente a forma como ele termina. Muitos acham que a série não deveria ter transformado o Walter em um monstro, mas o Walter White sempre foi um monstro, ele só não tinha desenvolvido esse seu lado. Ele sempre teve aquele complexo de superioridade, de ser o centro das atenções, sempre com a mesma desculpa que tudo que ele fazia era pela sua família. Talvez no início até poderia ser, mas depois só constatamos que não, que ele fez tudo aquilo porque ele queria e porque ele gostava. Como observamos naquela conversa com a Skyler, que ele revela para ela que fez aquilo por ele, porque ele quis, porque ela achava bom ser o mais inteligente, ser o superior, construir o seu império, inflar o seu ego. Ou seja, Walter White sempre foi o "Heisenberg".
Tecnicamente e artisticamente a temporada e a série é completamente impecável!
O roteiro de "Breaking Bad" é estupidamente perfeito, Vince Gilligan aplicou uma genialidade absurda ao escrever um texto tão competente, tão abrangente, tão magnífico. O mesmo vale para a direção da série, que foi feita sempre de forma impecável. A trilha sonora da série sempre foi um destaque, sempre foi um show à parte, sempre foi relevante no quesito inovação e criatividade. O elenco é outro show, é uma obra-prima, daqueles elencos memoráveis, que vai ficar em nossa mente pelo resto de nossas vidas. O mesmo vale para cada personagem que foi criado e construído na série, que atingiu um nível de grandeza e excelência nunca visto anteriormente em questões de seriados de TV. A cinematografia da série é outra perfeição, sempre com um fotografia que nos maravilhava em cada temporada, em cada episódio, em cada cena, um nível de genialidade que não se vê mais hoje em dia.
"Breaking Bad" recebeu críticas positivas, enquanto o restante recebeu aclamação unânime da crítica, com elogios às performances, direção, cinematografia, roteiro, história e desenvolvimento de personagens. Desde sua conclusão, a série foi elogiada pela crítica como uma das maiores séries de televisão de todos os tempos. Teve uma audiência razoável em suas três primeiras temporadas, mas a quarta e a quinta temporadas tiveram um aumento moderado na audiência quando foi disponibilizado na Netflix pouco antes da estreia da quarta temporada. A audiência aumentou drasticamente após a estreia da segunda metade da quinta temporada em 2013. Quando o final da série foi ao ar, estava entre os programas a cabo mais assistidos da história da televisão americana.
"Breaking Bad" recebeu inúmeros prêmios, incluindo 16 Primetime Emmy Awards, oito Satellite Awards, dois Golden Globe Awards, dois Peabody Awards, dois Critics' Choice Awards e quatro Television Critics Association Awards. Bryan Cranston ganhou o Primetime Emmy Award de Melhor Ator Principal em Série Dramática quatro vezes, enquanto Aaron Paul ganhou o Primetime Emmy Award de Melhor Ator Coadjuvante em Série Dramática três vezes; Anna Gunn ganhou o Primetime Emmy Award de Melhor Atriz Coadjuvante em Série Dramática duas vezes. Em 2013, "Breaking Bad" entrou no "Guinness World Records" como o programa de TV mais aclamado pela crítica de todos os tempos.
A série deu origem à maior franquia "Breaking Bad". "Better Call Saul" é uma série prequela com Bob Odenkirk, Jonathan Banks e Giancarlo Esposito reprisando seus papéis em "Breaking Bad", bem como muitos outros em participações especiais e recorrentes, estreou na AMC em 8 de fevereiro de 2015 e foi concluída em 15 de agosto de 2022. Uma sequência O filme "El Camino: A Breaking Bad Movie", estrelado por Aaron Paul, foi lançado na Netflix e nos cinemas em 11 de outubro de 2019.
"Breaking Bad" estreou na AMC em 20 de janeiro de 2008 e foi concluído em 29 de setembro de 2013, após cinco temporadas com 62 episódios.
Por fim, chegamos ao final da melhor série de TV que eu já assisti em toda a minha vida. "Breaking Bad" é simplesmente o suprassumo, a quinta-essência, o masterpiece da história das séries. Uma obra completamente impecável, irretocável, perfeita, triunfal, atemporal, relevante, influente, antológica, colossal, apoteótica, emblemática e icônica.
Simplesmente a melhor série de todos os tempos!
Vince Gilligan eu te amo!
(R.I.P. Mark Margolis - nosso eterno Hector Salamanca)
[19/08/2023]
Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças
4.3 4,7K Assista AgoraBrilho Eterno de uma Mente sem Lembranças - 2004
(Eternal Sunshine of the Spotless Mind)
"Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" é dirigido por Michel Gondry e escrito por Charlie Kaufman, baseado em uma história de Gondry, Kaufman e Pierre Bismuth. É estrelado por Jim Carrey e Kate Winslet, com Kirsten Dunst, Mark Ruffalo, Elijah Wood e Tom Wilkinson em papéis coadjuvantes. O filme segue duas pessoas que passam por um procedimento para apagar um ao outro de suas memórias após a dissolução de seu relacionamento.
Michel Gondry e Charlie Kaufman foram os nomes principais que fizeram "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" de fato acontecer.
Michel Gondry é conhecido por dirigir vários videoclipes famosos de várias personalidades famosas dentro da indústria musical pela MTV americana ao longo da sua carreira. No cinema, Gondry iniciou como diretor em 2001, com o longa-metragem "A Natureza Quase Humana". Depois ele dirigiu "Sonhando Mesmo Acordado" (2005), "Rebobine, Por Favor" (2008) e "O Besouro Verde" (2011). Já o roteirista Charlie Kaufman ficou conhecido após o roteiro badalado de "Quero Ser John Malkovich" (1999), onde ele conseguiu sua primeira indicação ao Oscar. Em 2001 Kaufman trabalharia com o Gondry pela primeira vez justamente em "A Natureza Quase Humana", e em 2004 eles se reencontrariam em "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças", onde ambos ganhariam o Oscar de Melhor Roteiro Original.
"Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" é simplesmente uma pérola, uma obra de arte em forma de cinema, uma obra-prima da sétima arte, um dos melhores filmes da década de 2000. Um filme extremamente tocante, profundo, singelo, poético, verdadeiro, emocionante, lindo, belo, encantador, inovador, surpreendente, exuberante e reflexivo, ao mesmo tempo que nos confronta com o medo, a perda, o trauma, a decepção, a desilusão, a depressão e a aflição. O roteiro é de uma genialidade absurda sendo muito competente, muito inteligente, muito bem escrito, muito bem desenvolvido, muito bem transplantado para a tela, onde nos passa uma linha de pensamento acerca do passado, do presente e do futuro, que obviamente vai nos retratar sobre a humanização, a descaracterização, a desconstrução e a superação do ser humano em seu alto grau emocional e espiritual.
O fio condutor do roteiro é exatamente a forma como exploramos o passado, como encaramos os nossos sentimentos e as nossas lembranças, a forma como analisamos os nossos próprios atos, a forma como fazemos uma autoavaliação, a forma como confrontamos a nossa própria memória. É interessante notar que o texto aqui conversa diretamente com o espectador com base em um drama, em um romance e até misturando elementos de ficção científica para construir uma narrativa não linear com base na exploração da mente humana. O texto de "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" é tão inteligente, tão estratosférico, tão absurdo, que ainda podemos ir além ao analisarmos uma abordagem com elementos de um drama psicológico, um estudo da mente humana, do comportamento humano após uma perda e após uma grande decepção, um estudo de psicanálise, que é o ponto aqui ao discutimos os comportamentos disfuncionais, os traumas e até os pensamentos equivocados dos personagens em questão.
E o mais interessante no texto do longa-metragem é nos passar a percepção de simplicidade, pois de fato estamos falando de um fim de relacionamento, a famosa "dor de cotovelo", que é justamente a narrativa em questão ao nos confrontarmos com os esforços que somos capazes de fazer para esquecer um antigo/grande amor. É inegável que todos nós já passamos por um fim de relacionamento que às vezes é trágico, às vezes traumático, às vezes destruidor, às vezes conturbado, mas fato é: após um fim de relacionamento todos nós queríamos esquecer a pessoa amada. E se você pudesse de fato apagar toda a sua memória do relacionamento passado? E se nós pudéssemos simplesmente apagar da memória aqueles que mais amamos? Você se submeteria ao um processo científico para apagar aquela pessoa para sempre das suas lembranças? Até que ponto você iria para atingir esse objetivo?
Este é o principal motivo para que "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" tenha um dos melhores roteiros daquela década. Exatamente um texto que conversa diretamente com todos nós, que é de fácil identificação, que nos faz refletir, que nos faz pensar com uma trama que soa familiar, pois quem aqui nunca sofreu por amor? Quem aqui nunca sofreu com o término de um romance? E quem aqui não sentiu o desejo de apagar todas as memórias daquelas pessoas que outrora nos fizeram tão felizes? Mas fato é: nem sempre o que queremos conseguimos, às vezes essas próprias memórias nos fere e nos magoa profundamente quando são remexidas.
Eu sou um exemplo vivo de já ter sofrido com o término de um grande amor, de um grande relacionamento. Eu me coloquei no lugar do Joel (Jim Carrey), eu também sofri uma decepção e queria apagar a pessoa da minha memória para sempre. Eu só não busquei um método científico como ele buscou, mas fiz de tudo para esquecer, para apagar, mas também não consegui. Na verdade você nunca consegue deletar esta pessoa da sua memória, você pode até esquecer por algum tempo, mas apagar jamais.
Sobre os personagens:
É muito interessante acompanhar toda a construção e desconstrução do casal Joel e Clementine (Kate Winslet). Joel sofre com aquela desilusão amorosa e principalmente ao descobrir que Clementine queria esquecê-lo para sempre quando tomou a decisão de entrar no processo de deletar suas memórias. Até por um certo orgulho, uma certa mágoa e um certo rancor Joel decidi fazer o mesmo, que é passar pelo mesmo processo. O ponto-chave é exatamente o arrependimento de Joel durante o processo, onde logo ele tenta de todas as formas uma maneira de parar o procedimento. Dessa forma Joel tenta de todas as maneiras uma forma de aprisionar as memórias de Clementine que já estão desaparecendo de sua mente. Ou seja, o mundo no qual a Clementine pertence está ruindo, e é a partir daí que Joel percebe que está cometendo um grande erro, que ele não é capaz de apagá-la de sua memória, que ele não é capaz de conceber a felicidade sem aquela pessoa que ele tanto ama.
Se analisarmos friamente esta é a cereja do bolo desse roteiro que é tão genial. Exatamente a abordagem de um grande amor que falhou, que deu errado, e tudo isso acontecendo dentro da mente do Joel, que logo está em guerra com sua própria mente sobre o que de fato pode ter dado tão errado. De fato o roteiro desse filme é estupidamente genial, um dos melhores que eu já vi em toda a minha vida cinéfila.
"Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" tem um roteiro teoricamente simples mas não é assim tão fácil de entender e de acompanhar em todos os seus acontecimentos. Pois o longa não conta os seus eventos em uma ordem cronológica, temos que ir construindo as nossas percepções e resolvendo os quebra-cabeça em cena após cena. O quê muita das vezes vai nos confundir acerca do presente e do passado, que logo será auxiliado por flashbacks e monólogos para nos elucidar tal acontecimento. Eu acredito que esta decisão mais embaraçosa em nos contar os fatos seja até como uma metáfora para a nossa própria memória, pois é exatamente dessa forma que acontece quando estamos buscando por nossas lembranças, que na maioria das vezes elas vão surgir de forma desordenada e totalmente aleatória. Eu achei uma grande sacada do roteiro!
O elenco é outro show à parte:
A maioria das pessoas conhecem o Jim Carrey por seus personagens irreverentes e cômicos, mas aqui ele sai dessa sua zona de conforto e nos impacta com a talvez melhor atuação de toda a sua carreira. É sempre um grande prazer poder acompanhar o Jim Carrey em um personagem mais sério, mais dramático, mais contundente, até mais que os personagens Truman Burbank ("O Show de Truman", de 1998) e Andy Kaufman ("O Mundo de Andy", de1999). Jim Carrey incorpora um personagem introspectivo, frio, obscuro, extremamente reservado, que não se abre fácil, que não demonstra seus sentimentos, que prefere expor seus sentimentos através do seu diário. Jim Carrey está perfeito, está fabuloso, está colossal, uma atuação rica em emoções e sentimentos, carregada dramaticamente, que nos desperta a comoção, a empatia e o sentimento de amor carregado com a tristeza. Eu nunca vou entender o total desprezo e preconceito que a academia sempre teve pela pessoa Jim Carrey, ao ponto de sempre esnobar todas as suas atuações, de não reconhecer o seu talento no drama. Claramente ele merecia pelo menos uma indicação ao Oscar de Melhor Ator em 2005. Mas não veio, como já não vinha nos trabalhos anteriores a este. Jim Carrey ficou com as indicações no BAFTA e no Globo de Ouro.
Kate Winslet definitivamente sempre foi a rainha da p@#$ toda! Kate sempre será lembrada como a eterna e inesquecível "Rose DeWitt Bukater", isso é inegável. Porém, ao longo da carreira ela já nos entregou outras personagens que também se tornaram inesquecíveis; como é o caso da magnífica Hanna Schmitz de "O Leitor" (2008). Clementine Kruczynski é outra personagem eternizada e humanizada da Kate Winslet, que ficou para sempre em nossas memórias e jamais queremos apagá-la. Kate deu vida para a complicada Clementine, que por si só já se mostra com uma personalidade forte, potente, impulsiva, espontânea, rebelde, desbocada, comunicativa, ciumenta e problemática. Clementine usava seu cabelo de diversas cores, e isso traz uma alusão ao momento atual de sua vida: como o azul de esperança quando ela conhece o Joel, logo após o vermelho da paixão avassaladora e depois o verde desbotado que simboliza o desgaste emocional e sentimental.
Kate criou mais uma personagem inesquecível, que entrou para a história da cultura pop dos anos 2000. Uma atuação impecável e irretocável, que lhe rendeu a sua quarta indicação ao Oscar de Melhor Atriz.
Kirsten Dunst com apenas 21 aninhos vinha da sua personagem mais lembrada na carreira até os dias de hoje - a incrível Mary Jane Watson de "Homem Aranha"(2002). Aqui Kirsten trouxe a personagem Mary, que é a recepcionista da clínica Lacuna, que fornece o serviço de apagar as lembranças. Mary é encantada pelo trabalho que a clínica pratica e possui uma admiração (e um interesse) pelo seu chefe. Temos todo um contexto por trás da personagem que descobre que foi uma cobaia da clínica ao ter as suas lembranças também apagadas, o que a leva a revelar a verdade para todos os pacientes da clínica. Gostei muito da atuação da lindíssima Kirsten Dunst.
O mestre Tom Wilkinson sempre esteve no auge da carreira e já nos entregou cada personagem memorável que fica até difícil comentar. Posso citar o fabuloso Padre Moore do clássico cult "O Exorcismo de Emily Rose" (2005). Tom é Howard, o dono da clínica Lacuna, sendo o principal responsável pelas intervenções na mente dos pacientes. Howard já se utilizou dos interesses amorosos da Mary anteriormente, já fez o procedimento de apagar as memórias nela, e sempre defende que sua causa é estar fazendo o bem para as pessoas, lhe dando a chance de começar uma vida do zero. Mais um trabalho memorável do grande Tom Wilkinson.
Elijah Wood, o eterno e icônico Frodo Bolseiro da franquia "O Senhor dos Anéis"(2001). Elijah é o empenhado (e talarico - kkk) Patrick, um dos dos técnicos que a empresa Lacuna envia para a casa dos pacientes, para apagar suas lembranças enquanto dormem. Interessante que o Patrick começa a se interessar pela Clementine enquanto ela está dormindo durante o processo. O que logo o leva a roubar os objetos do Joel na intenção de se passar pelas memórias dele para conquistar ela. Elijah Wood conseguiu gerar cenas bem interessantes para todo o contexto da história.
Mark Ruffalo, o eterno Bruce Banner de "Os Vingadores" (2012). Mark era o Stan, outro dos técnicos que auxiliava o processo da clínica na casa dos clientes. Stan tinha um relacionamento com a Mary, enquanto ele não sabia de grande parte dos acontecimentos dela. Mark Ruffalo está bem convincente no personagem.
Tecnicamente e artisticamente o longa-metragem é ainda mais perfeito:
A trilha sonora do filme foi composto pelo músico de Los Angeles Jon Brion, que por sinal é impecável, magnânima, elegante, penetrante e emocionante. Aquela versão de "Everybody's Got to Learn Sometime" é pra chorar no banho de tão emocionante em cena. A fotografia de Ellen Kuras é potente, é avassaladora, é bastante perceptível e se destaca com bastante harmonia. A direção de arte de David Stein (o homem por trás da direção de arte de "12 Anos de Escravidão" e "Cisne Negro") é outra peculiaridade, sempre agregando os detalhes mais minuciosos, sempre atento com os padrões de cenários mais contemporâneos. "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" se sobressai principalmente por ser bem montado, bem editado, bem mixado, bem arquitetado, com detalhes técnicos que saltam aos nossos olhos pela excelência de uma qualidade em altíssimo nível.
Não posso deixar de destacar a direção elegantérrima e acertadíssima do diretor Michel Gondry, que teve a ideia de fazer um filme como "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças" após seu amigo artista plástico Pierre Bismuth sugerir a história de um personagem que encontra um cartão no caixa de correio com a mensagem: "alguém que você conhece apagou você da memória".
Já a origem do título do filme foi retirado do poema "Eloisa to Abelard", de autoria de Alexander Pope. O mesmo poema já havia sido usado pelo roteirista Charlie Kaufman em "Quero ser John Malkovich".
"Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" foi um sucesso de bilheteria, arrecadando $ 74 milhões em um orçamento de $ 20 milhões, e foi nomeado pelo American Film Institute um dos 10 melhores filmes de 2004.
Prêmios:
OSCAR 2005
Ganhou: Melhor Roteiro Original
Indicação: Melhor Atriz - Kate Winslet
GLOBO DE OURO 2005
Indicações:
Melhor Filme - Comédia/Musical
Melhor Ator - Comédia/Musical - Jim Carrey
Melhor Atriz - Comédia/Musical - Kate Winslet
Melhor Roteiro
BAFTA 2005
Ganhou: Melhor Roteiro Original e Melhor Edição
Indicações:
Melhor Filme
Melhor Diretor - Michel Gondry
Melhor Ator - Jim Carrey
Melhor Atriz - Kate Winslet
Em outubro de 2016, o Anonymous Content anunciou que trabalharia com a Universal Cable Productions para produzir uma série de televisão baseada no filme. Charlie Kaufman não está envolvido na escrita do show. O projeto ainda está em fase de planejamento. Em 2023, ainda não havia sido lançado, apesar de seis anos de trabalho no roteiro.
No Rotten Tomatoes, o longa tem um índice de aprovação de 92% com base em 250 resenhas, com nota média de 8,50/10. No Metacritic, o filme tem uma pontuação de 89 de 100, com base em 41 críticas, indicando "aclamação universal". No CinemaScore, o filme tem uma nota média de "B-" na escala A + a F.
O desempenho de Kate Winslet ficou em 81.º lugar da lista das "100 maiores atuações de todos os tempos" da revista Premiere. Em 2013, o filme ficou em 24.º lugar da lista dos "101 maiores roteiros" da Writers Guild of America. O filme ficou em 78.º lugar na lista dos "301 Melhores Filmes De Todos os Tempos" da revista Empire em 2014.
"Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" é aquele clássico cult amado, respeitado e idolatrado por todos os seres que respiram. Uma obra extremamente importante, influente, contundente, peculiar, singela e contemporânea, que nos leva a bordo de uma história de perdas e recomeços, de decepções e ilusões, de traumas e conquistas, expondo um olhar mais ríspido e sincero sobre relacionamentos e mágoas. Uma obra que transmite sentimentos, que nos toca verdadeiramente, que nos emociona instantaneamente, que nos transmite uma aura de realismo e nos impacta com lições sobre como um verdadeiro amor pode ser lembrado, renovado e muitas das vezes reconquistado.
O longa nos ensina que nem sempre iremos aprender com nossos erros, mas precisamos persistir, ir além, não se dar por vencido. Também aprendemos que as lembranças existem e sempre vão estar ali, no fundo da nossa memória, impossíveis de serem apagadas, pois as lembranças podem ser ruins por nos fazer sofrer com sentimentos perdidos no passado, mas também podem ser benéficas nos ensinando lições importantes para nosso futuro.
"Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" é um clássico de amor dos tempos modernos. Uma verdadeira lição de vida. A representação mais pura do amor em seu estado mais bruto e poético. Um dos romances mais aclamados da década de 2000. Um dos responsável em definir o cinema da década de 2000. Um dos roteiros mais geniais da década de 2000. Presente em qualquer lista dos melhores filmes da década de 2000.
Um clássico eterno!
Uma obra-prima da sétima arte!
Meu filme de cabeceira!
Meu filme da vida!
⭐⭐⭐⭐⭐
[03/08/2023]
Breaking Bad (4ª Temporada)
4.7 1,2K Assista AgoraTEM SPOILERS!
Breaking Bad (4ª Temporada) 2011
"Breaking Bad" é a única série que mantém uma crescente em cada temporada. Ou seja, cada temporada é um desenvolvimento da anterior, cada história é melhor desenvolvida na temporada seguinte, cada acontecimento que nos surpreende na temporada passada é cada vez mais impactante na próxima temporada. Por esses fatos que eu considero "Breaking Bad" como uma série impecável, por sempre elevar o nível em cada temporada, por sempre manter uma linha de interesse e desenvolvimento totalmente coerente e relevante, por sempre nos prender com um roteiro fabuloso, inteligente, dinâmico, bem estruturado e bem desenvolvido.
Como sempre afirmei: cada temporada é surpreendente e supera a temporada anterior, e esta quarta temporada não seria diferente.
No final do décimo terceiro episódio da temporada passada fomos surpreendidos com todos os acontecimentos em volta do Walter (Bryan Cranston) e do Jesse (Aaron Paul) relacionados ao Gus (Giancarlo Esposito). O episódio termina exatamente com o Jesse disparando contra o Gale (David Costabile) em seu apartamento. A partir desse fechamento de temporada que fica inúmeras perguntas como: será que o Jesse realmente acertou o tiro em Gale? Ou será que ele só quis assustá-lo? Se ele realmente matou o Gale qual será a postura do Gus a partir dessa afronta? Como ficará a vida de Jesse e principalmente do Walter na próxima temporada?
O primeiro episódio da quarta temporada já nos revela grande parte das respostas para todas essas perguntas: Jesse realmente acertou o tiro na cabeça do Gale. Gus se sentiu ameaçado e resolveu mostrar quem manda no pedaço ao construir aquela cena bizarra, onde ele corta a garganta do Victor (Jeremiah Bitsui) com um estilete a sangue frio na frente do Jesse e do Walter. Por sinal mais uma cena emblemática da série, pois é a primeira vez que eu vejo o Gus cometendo um assassinato daquela forma e naquela pompa, com requintes de crueldade e muita classe.
A partir do segundo episódio entramos de cabeça naquele jogo de gato e rato do Walter contra o Gus. A desconfiança e a incerteza de Walter faz com que ele compre uma arma para tentar se defender, tanto do Gus como até do próprio Mike (Jonathan Banks). Jesse por sua vez liga o modo foda-se e passa a viver uma vida de festas e drogas em sua casa que no momento mais se parece com um chiqueiro. Skyler (Anna Gunn) parece ter deixado um pouco de lado o Ted (Christopher Cousins) e se concentrar totalmente na compra do lava-rápido. Por sinal todo o empenho da Skyler em fazer aquela jogada de fiscalização para fechar o lava-rápido e facilitar a sua compra foi uma ideia genial, acredito que uma das melhores jogadas que ela já fez em toda a série.
Outro ponto interessante dessa temporada é o fato da própria Skyler voltar a se entender com o Walter após aquela sua postura traidora da temporada anterior. Lógico que a Skyler está agindo por interesse próprio, mas confesso ter gostado de vê-la junto do Walter novamente. E aqui já temos uma Skyler cada vez mais empenhada na lavagem de dinheiro no lava-rápido, onde a própria chega a revelar toda a armação do Walter ser um jogador para o Hank (Dean Norris). Logo eles voltam a transar depois de algum tempo, para oficializar e comemorar o esquema de lavagem de dinheiro. Temos aqui praticamente uma nova versão de Bonnie e Clyde.
Uma grande jogada do Gus nessa temporada foi voltar sua atenção para o Jesse, que estava frágil, vulnerável, com um psicológico e uma mente perturbada. É nessa hora que o Gus quer usar o Jesse para vê se ele pode ser confiável para o seu projeto de matar o Walter e assumir o laboratório de metanfetamina. E o mais interessante é saber que de fato o Jesse está tentando se provar útil na missão com o Mike para chegar até o Gus, já que o próprio Jesse está com a ideia de matar o Gus com o veneno do cigarro.
Hank foi um personagem extremamente importante na temporada passada, e agora ele está se recuperando e voltando na ativa das suas investigações. Todos nós sabemos que a maior obsessão de Hank sempre foi o enigmático e misterioso Heisenberg, e é a partir das investigações das pista encontradas no apartamento do Gale que ele passa a suspeitar do todo poderoso Gustavo Fring.
O cerco está se fechando contra o Gus, a DEA está em seu encalço. Já o Gus por sua vez é um ser extremamente hábil, inteligente, liso, astuto, aquele que escapa por entre os dedos, por onde não tem saídas. Naquela cena do interrogatório o Gus sequer titubeava nas respostas, sempre muito seguro de si. É muito interessante toda aquela revelação do passado do Gus, mostrando o porque não se acha mais vestígios dele no Chile, pois foi tudo apagado. É surpreendente a grande rivalidade (ou ódio) de Gus com Hector Salamanca (Mark Margolis) e Don Eladio (Steven Bauer).
Os últimos cinco episódios da temporada são ainda mais colossais e apoteóticos: temos o Walter fazendo de tudo para conseguir despistar a atenção do Hank em relação à investigação do Gus. Temos a volta do asqueroso Ted onde a Skyler o ajuda com uma parte do dinheiro do Walter (para todo seu desespero). Temo o Gus sendo forçado a manter (pelo menos inicialmente) um acordo com o Cartel Mexicano. E o final do décimo episódio é estratosférico, com aquela presença em território Mexicano do Gus, Mike e Jesse enfrentando o Don Eladio e sua trupe.
A partir do décimo primeiro episódio é onde o Gus afirma diretamente para o Walter que toda a sua família está ameaçada caso ele interfira na missão de acabar com o Hank. Temos grandes reviravoltas nos últimos episódios da temporada, como o fato do Gus entrar na mente do Jesse para que ele concorde com a morte do Walter, e se possível até executá-lo. Temos todos os acontecimentos envolvendo o possível envenenamento do garotinho Brock, o filho de Andrea (Emily Rios), que Jesse acreditava ter sido o Walter o responsável. Também acompanhamos a aproximação de Walter com o Tio Salamanca, como para usá-lo para conseguir matar o Gus, já que o Tio Salamanca também queria uma vingança contra o próprio Gus.
Diante disso chegamos em uma das cenas mais emblemáticas e apoteóticas de toda a história da série "Breaking Bad". Que é justamente a cena da explosão da bomba na cadeira de roda do Tio Salamanca, que atinge tanto o Tio quanto o próprio Gus. Esta cena é icônica, principalmente por nos mostrar todo requinte e elegância de um verdadeiro gentleman do Gus antes de morrer. Senhoras e senhores, que cena!
Walter White é o verdadeiro vilão de toda a história. Ele é o vilão do Jesse, ele é o vilão da Skyler, ele é o vilão do Hank, ele é o vilão de sua própria família, ele é o vilão dele próprio. Aquele Walter omisso, indefeso, preocupado, resguardado, tentando ser inofensivo, já não existe mais. Walter está mais do que nunca tomado pela ambição, pela escuridão, pela destruição, assumindo todos os riscos, enfrentando tudo e todos, tomado pelo sede insaciável de vingança e poder. Walter está longe daquele pai, daquele esposo, daquele professor, daquele herói para seu filho, ele já é a personificação do traficante, do assassino, sempre traçado como um ser vingativo, cruel e impiedoso.
Nessa temporada temos várias atitudes do Walter que nos faz olhar para ele de um forma ainda mais diferente das temporadas anteriores. Posso citar a parte do possível envenenamento do Brock, que pode sim de fato ter sido o Walter como uma forma de trazer o Jesse novamente para o seu lado no império da metanfetamina (algo um pouco parecido com o que aconteceu com a Jane na segunda temporada). Walter não se preocupa mais em atacar seu algoz, mesmo que isso interfira diretamente em pessoas inocentes e indefesas. Nesse caso do Brock, ele sobreviveu por causa da percepção do Jesse, porque se dependesse do Walter ele realmente teria morrido.
Sem falar que temos algumas cenas em que mostra um Walter totalmente perturbado e fora de si, praticamente incorporando um Coringa: como na cena que a Skyler fala para ele que deu o dinheiro para ajudar o Ted e ele cai na gargalhada, e no último episódio, quando ele faz toda armação para acabar com o Gus e consegue. Ali vemos um Walter tomado pelo desejo de vingança a qualquer custo, principalmente na cena que ele vai até o laboratório e salva o Jesse e logo após ele destrói o laboratório, e ainda liga para Skyler para dizer: "Eu Venci" - com aquele ar de soberano.
Elogiar o Bryan Cranston como Walter White é praticamente chover no molhado. Então vou escrever aqui o mesmo que escrevi nas temporadas passada: "Bryan Cranston é incontestavelmente um dos melhores personagens de séries de todos os tempos!"
Anna Gunn e sua eterna personagem "ame ou odeie". Confesso que na temporada passada eu tive mais raiva da Skyler, pois eu não aprovava as suas atitudes, mas nessa temporada ela volta a me agradar em grande parte. Talvez a única parte em que eu não aprovei sua decisão foi na parte em que ela decide dar o dinheiro para ajudar o Ted. Mas de qualquer forma é aceitável que ela tome esta decisão, afinal de contas as fraudes poderia chegar até ela, uma vez que ela fez parte de todo o esquema junto com o Ted.
Aaron Paul sempre impecável e surpreendente: Jesse é um misto de sentimentos em cada temporada, pois ele tem o dom de nos impactar com variações mais dramáticas, mais agressivas, mais perturbadas, e aqui ele está exatamente dentro desse padrão. Nessa temporada temos um Jesse que inicialmente liga o modo foda-se e quer viver na esbórnia da sua casa. Logo após ele quer se provar útil e não descartável. Depois ele é tomado pela fúria do drama do acontecimento com o pequeno Brock. E no final o vemos novamente fortalecendo os laços com o Walter. Ou seja, mais uma temporada irretocável de Aaron Paul como Jesse Pinkman.
Dean Norris Não tem a mesma proporção da temporada passada, até pelos acontecimentos que ocorreu com ele, mas ainda assim ele se mostra extremamente importante, principalmente em pegar os atalhos da investigação do assassinato do Gale para chegar no Gus.
Giancarlo Esposito é talvez o personagem mais importante de toda a temporada depois do Walter. Gus é aquele vilão perfeito, com uma postura perfeita, com atitudes perfeitas, que nunca desperta suspeitas. Um homem pomposo, requintado, elegante, influente, extremamente educado, que tinha nas mãos todos os seus negócios, todos os seus rivais e, principalmente, a polícia. Gus sempre estava um passo na frente de tudo e de todos, que mantinha um discurso com um alto poder de persuasão, se destacando como um líder, como um chefe, como um pastor de uma igreja, que tinha todos os seus féis e seus seguidores dentro do seu regime. Giancarlo Esposito está magnífico na pele do envolvente e poderoso Gustavo Fring.
Bob Odenkirk é muito hilário na pele do envolvente Saúl Goodman. Incrível como o Saúl é um personagem importante dentro de todo o contexto da história. Por mais que ele não esteja sempre no foco, mas ele ataca sempre na hora certa, sempre com bastante oportunismo, tanto pelo lado do Walter, quanto pelo lado da Skyler e do Jesse. O mesmo vale para o personagem do Jonathan Banks, que sempre mantém aquela postura de cão de guarda e braço direito do Gus. Porém, logo após ele ter sido baleado no México eu me questionei exatamente sobre essa questão, de parecer que o Gus não se importava com ele, que ele era apenas mais um empregado totalmente descartável.
Completando o elenco temos o RJ Mitte, o Walter Jr. Walter Jr. tem algumas participações pontuais e interessantes na temporada, como na parte que ele fica feliz com o pai por ter ganhado seu super carro, e logo após a revolta com a mãe por ter devolvido. Já a Betsy Brandt teve um crescimento notável na temporada passada e aqui ela mantém esse destaque. Marie volta a atacar de cleptomaníaca com suas histórias mentirosas.
Com a morte do Gus nessa temporada, que era o maior confronto com o Walter e seus planos, a quinta temporada abre um leque de possibilidades. Sem o Gus no caminho, Walter está teoricamente livre e com o caminho aberto para ir cada vez mais fundo com a sua ganância e com a sua ambição no mundo do tráfico e do enriquecimento ilegal. A sua ganância irá crescer, a sua ambição irá crescer, a sua motivação irá crescer, pela oportunidade de ser a única referência e dominar todo o negócio do tráfico de metanfetamina. Walter White está no topo e ele precisa se manter lá.
A quarta temporada de "Breaking Bad" se mantém no topo, se mantém cada vez mais importante e cada vez mais relevante dentro do contexto de toda a história. Agora é partir para a última temporada da série, que irá trazer o fechamento mais apoteótico e icônico da história das séries. [02/08/2023]
A Estrada
3.6 1,3K Assista AgoraA Estrada (The Road) 2009
"A Estrada" é dirigido por John Hillcoat (diretor do bom "Os Infratores", de 2012) e escrito por Joe Penhall (um roteirista que também é pouco conhecido, cujo seu último trabalho foi em "Rei dos Ladrões", de 2018), baseado no romance de 2006 de mesmo nome de Cormac McCarthy. O filme é estrelado por Viggo Mortensen e Kodi Smit-McPhee como pai e filho em mundo pós-apocalíptico que foi destruído há mais de 10 anos, mas ninguém sabe o que exatamente aconteceu. Como resultado, não há energia, vegetação ou comida. Milhões de pessoas morreram, devido aos incêndios, inundações ou queimadas que se seguiram ao cataclisma.
Sobre o livro:
Temos aqui uma obra que inicialmente parece ser muito interessante, pois a sinopse do livro vai te deixar muito curioso, principalmente se você gostar de temas como um mundo pós-apocalíptico. E realmente este é aquele típico livro que tem tudo para dar certo, pois a história parece ser muito boa, é uma temática que sempre me agrada, porém a forma como toda a história foi contada é simplesmente horrível.
Ao terminar o livro eu cheguei na conclusão que a história é desinteressante, é vaga, é rasa, não engrena, não te prende, parece que os personagens não avançam, parece que eles estão sempre andando em círculos. O tema fim do mundo poderia ter sido melhor explorado. O livro não possui capítulos, o que deixa a leitura ainda mais cansada. A falta de capítulos faz uma grande diferença na história que está sendo contada. Sem falar que a história acontece no meio do nada, pois não temos nenhuma localização, nenhuma noção de região, absolutamente nada mesmo.
A leitura não é boa, pelo contrário, é muito cansativa, monótona, enfadonha, desgastante e desinteressante. Os diálogos são vagos, sem sentido, pois chega a irritar o tanto de "Está Bem" que tem nas conversas entre o homem e o menino. A empatia com os personagens é zero, a química é zero, a nossa preocupação é zero. Em nenhum momento eu consegui me conectar com os personagens para assim poder sentir o peso daquele sofrimento, para que aquela história de fim do mundo realmente me abalasse. Definitivamente os personagens são todos desinteressantes.
O único momento em que eu fiquei abalado e incomodado durante toda a leitura...
Foi na parte onde o menino é o primeiro a encontrar um corpo de um bebê humano carbonizado e sem a cabeça sendo assado em uma fogueira. Ali me deu um nó na garganta e uma profunda tristeza. Mas também só ali, nem nos acontecimentos finais eu me senti impactado ou triste, que eu acredito ter sido o principal intuito.
"A estrada" foi um livro que me decepcionou muito, pois eu realmente achava que iria gostar da história, dos personagens, que ao final eu iria ficar impactado. Mas definitivamente nada disso aconteceu, pelo contrário, eu quase abandonei a leitura e fiquei aliviado quando o livro terminou.
Sobre o filme:
Temos aqui uma obra melancólica, fria, devastada, cinzenta, densa, triste, onde nos mostra todo sofrimento e desolação de uma sobrevivência em um mundo pós-apocalíptico. Este é um dos principais pontos na história, a construção da última fagulha de esperança, de fé, de luta, de poder sobreviver em meio a todo caos e acreditar em uma possível civilização. É nesse fio de esperança que o pai se apega ao proteger e defender seu filho de todos os perigos, de todas as ameaças, de todas as catástrofes naturais. Sem falar que eles ainda precisam evitar os confrontos com as gangues de humanos selvagens, que também estão vagando e querem transformá-los em escravos ou uma coisa muito pior.
"A Estrada" é uma adaptação quase 100% fiel ao livro, pois muitas coisas e muitas passagens que você encontra no filme está no livro. Os diálogos são muito fiéis, os cenários são muito fiéis, a execução das cenas também são muito fiéis. Acredito que a principal diferença é o fato do filme em si ser mais melodramático em relação ao livro. Pois no filme temos um olhar mais dramático, uma construção acerca de cada acontecimento mais dramática. Já o livro é mais cruel, mais pesado, mais sofrido, principalmente naquela cena em spoilers que eu citei acima e que não tem no filme (ainda bem). Os personagens do livro também me parece ser mais sofridos e menos dramáticos, principalmente a figura do garoto. Também achei muito interessante aquele contraponto no filme mostrando os acontecimentos do passado, envolvendo a esposa grávida, com os fatos do presente. Tudo sendo revivido em uma espécie de sonho (ou pesadelo).
O principal acerto do longa-metragem é nos evidenciar sobre a fé, sobre a esperança, sobre a sobrevivência. É nos relatar sobre um elo de confiança entre pai e filho, um laço de amizade verdadeira, uma construção de um verdadeiro amor. "A Estrada" é um filme que está inserido na devastação, na desolação, em todos os tipos de sofrimentos de um mundo pós-apocalíptico, mas por outro lado é também um filme que nos ensina e nos comove com uma história sobre amadurecimento, esperança, fé e sobre as profundas relações entre um pai e seu filho.
Sobre o elenco principal:
Viggo Mortensen ("Crimes do Futuro", de 2022) está muito bem ao representar a figura de um pai desolado, sofrido, desacreditado, mas que sempre mantém o amor e a esperança ao proteger seu filho de tudo e de todos.
Kodi Smit-McPhee ("Ataque dos Cães", de 2021) estava com apenas 12 anos na época das filmagens. Devo dizer que ele até representa bem o garotinho do livro, talvez um pouco mais chatinho, mas como um todo está até aceitável.
Charlize Theron ("Velozes & Furiosos 10", de 2023) traz a figura da esposa, que por sinal é uma figura bem enigmática e misteriosa. O diretor John Hillcoat quis expandir a sua personagem na história, tanto que ela tem um papel maior no filme do que no livro.
Sobre o elenco secundário:
Michael K. Williams (falecido em setembro de 2021) faz o ladrão que rouba o carrinho de suprimentos na praia. Por sinal outra cena completamente fiel ao livro.
Robert Duvall ("O Pálido Olho Azul", de 2022) faz Ely, um velho homem que aparece no caminho e que é ajudado pelo pai por insistência do filho. Robert Duvall está completamente irreconhecível.
Irreconhecível está também o Guy Pearce ("Mare of Easttown", de 2021), que faz um veterano pai de família ao final da história.
Molly Parker ("Pieces of a Woman", de 2021) é a esposa do veterano.
Tecnicamente o filme se destaca:
O principal destaque é a fotografia, que remonta todo aquele cenário depressivo, desolado, destruído, onde o sofrimento e a sobrevivência andavam de mãos dadas. A trilha sonora também se sobressai, com um instrumental estridente, penetrante e inquietante. A direção de arte é outro grande acerto, por construir os devastados cenários pós-apocalípticos.
"A Estrada" alcançou 76% no ranking Fresh do Rotten Tomatoes, baseado em 167 revisões, e também alcançou um escore de 64/100 no Metacritic, baseado em 32 revisões. Inicialmente a ideia da produtora era fazer uma campanha visando possíveis indicações ao Oscar. Apesar disso, o filme não foi indicado à nenhum prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Ainda assim o longa obteve uma indicação ao BAFTA 2010 na categoria de Melhor Fotografia, que por sinal achei muito justo, já que este é um dos principais destaques do filme.
Infelizmente o livro "A Estrada" é muito ruim, facilmente um dos piores livros que já li este ano (e o livro ganhou o Prêmio Pulitzer em 2006). Em pensar que Cormac McCarthy (falecido no mês passado, em 13 de junho) é o autor da obra literária que foi baseado o magnífico "Onde os Fracos Não Têm Vez" (2007).
Por incrível que pareça e como um caso raríssimo, eu gostei mais do filme do que do livro, até pelo fato das atuações, cenários, trilha sonora e fotografia. Acredito que no audiovisual a obra funcionou melhor do que no livro. [29/07/2023]
Breaking Bad (3ª Temporada)
4.6 840TEM SPOILERS!
Breaking Bad (3ª Temporada) 2010
É realmente impressionante o poder que esta série tem em nos surpreender e nos impactar em todas as temporadas. É absurdo como cada temporada de "Breaking Bad" é melhor do que a outra. É genial como tudo funciona impecavelmente na série, como o excelente roteiro, a magnífica direção, o elenco irretocável e as maravilhosas qualidades técnicas e artísticas.
Um ponto que eu sempre gosto de destacar em cada temporada é sobre o crescimento e o desenvolvimento da série, do roteiro e principalmente de cada personagem. Eu considero este como o principal fator para toda relevância e magnitude da série em uma visão geral.
Esta terceira temporada de "Breaking Bad" é absurdamente "FODA" em todos os sentidos. Eu fico cada vez mais impressionado como tudo funciona bem dentro da temporada, como tudo se liga e se conecta com perfeição em cada contexto da história, como cada personagem tem o poder em nos fazer amá-lo ou odiá-lo assim em questão de segundos, como cada episódio complementa o outro, sendo extremamente necessário e não uma encheção de linguiça (nem mesmo o episódio da mosca).
A temporada já inicia com o pé na porta com o primeiro episódio, que por sinal é um dos melhores da temporada. Logo somos surpreendidos com aquele cenário no México muito curioso com aquele ritual das pessoas se arrastando no chão até um altar, que por sinal nesse altar contém uma foto do Sr. Walter (Bryan Cranston). E nesse episódio entra um ponto muito curioso da segunda temporada, que é justamente o fato de observarmos que a colisão dos aviões no céu de Albuquerque se deu pela negligência de Donald Margolis (John de Lancie) por estar visivelmente transtornado pela morte de sua filha Janne (Krysten Ritter). Este é o cenário do início da terceira temporada: Skyler (Anna Gunn) e Walter estão separados e ela quer pedir o divórcio. Jesse Pinkman (Aaron Paul) está passando por uma reabilitação internado em uma clínica. O Walter Jr. (RJ Mitte) muda totalmente o seu semblante, pois ele se sente excluído da família por não saber o porque do pai ter saído de casa, sendo que ele ama esse pai que na temporada passada o chamava de herói. Enquanto Hank Schrader (Dean Norris) continua com sua incontrolável obsessão pela captura de Heisenberg.
Um ponto muito interessante é justamente todos aqueles depoimentos na escola das pessoas sobre o acidente aéreo. É ai que vemos o Walter visivelmente incomodado e abalado, por ele pensar que indiretamente ele é o principal responsável por toda aquela tragédia, por ele ter permitido que a Jane morresse quando ele não fez absolutamente nada para salvá-la. E é ainda mais incrível e bizarro como o Walter sempre acha que as coisas ruins que acontecem sempre pode ter um lado positivo, como aquele seu intrigante discurso na escola, onde visivelmente deixou todos incomodados.
Temos o ponto alto da temporada, que é justamente a cena do Walter revelando para a Skyler que ele é fabricante de metanfetamina. A partir daí Walter percebe que perdeu sua família e decide que quer dar um basta na produção de meta, porque ele não se vê como um criminoso.
Essa terceira temporada também serviu para integrar novos personagens na série, além de promover personagens secundários da temporada passada para o elenco principal. Este é o caso de Gus Fring (Giancarlo Esposito), que surpreende todos nós e ao Walter quando ele aparece com aquela proposta de 3 milhões por 3 meses de trabalho para ele, o que logo deixa o Walter completamente perturbado. Sem falar naqueles dois primos do Tuco (Raymond Cruz), Leonel Salamanca (Daniel Moncada) e Victor (Jeremiah Bitsui), que são completamente tomados pelo mistério e pela sede de vingança. Além da reaparição do Tio Salamanca (Mark Margolis), que é resgatado do asilo pelos sobrinhos.
A temporada segue nos surpreendendo ao nos revelar aquela cena no México nos mostrando como se deu aquela icônica cena da temporada passada, que é a cabeça do Tortuga (Danny Trejo) em cima da tartaruga. Outra cena emblemática é justamente quando o Walter conta para a Skyler sobre tudo que ele fez para levantar o dinheiro pensando no bem estar de sua família, que obviamente é ilegal. Por outro lado somos impactado com o Jesse ligando no celular da Jane somente para ouvir a gravação da voz dela. Ele realmente está inconsolado e por isso resolve voltar para a fabricação de metanfetamina.
Um dos pontos alto dessa terceira temporada está no desenvolvimento do Hank. Pois ele passa a tomar uma nova postura sobre as ordens que recebe em seu departamento, como no caso daquela recusa em ir para uma nova missão em El Paso (Texas) só para ficar no rastro do Heisenberg. Nessa parte temos uma sequência de cenas emblemáticas, que é a partir da cena da perseguição do Hank ao Jesse até o trailer, onde ele quase captura não só o Jesse mas também o Walter. Logo após temos aquela falsa notícia sobre de saúde da Marie (Betsy Brandt), o desespero do Hank e a destruição do lendário trailer.
O sétimo episódio é o meu preferido da temporada, que é justamente o episódio de crescimento e desenvolvimento do Hank. Eu vejo um crescimento absurdo do personagem, exatamente por ele sair daquela postura de agente certinho da DEA ao ir confrontar e espancar o Jesse. Hank está perdendo todo o seu controle de policial pela obsessão em chegar no Heisenberg. Aquela cena do tiroteio dos primos contra o Hank no estacionamento é sensacional, colossal, apoteótica. Sem dúvida é uma das melhores cenas de toda a história de "Breaking Bad".
O décimo episódio é um dos episódios mais contestado e mais polêmico de toda a temporada e toda a série. Muitos consideram o episódio como um completo filler - o famoso encheção de linguiça. Eu já vejo o episódio da mosca por outro lado, por uma outra perspectiva. Eu vejo como um episódio extremamente marcante e importante em toda a trajetória da série, principalmente por representar toda a culpa que o Walter carrega nas costas por suas decisões. Decisões como entrar para o mundo do tráfico ao decidir trabalhar criando sua própria metanfetamina, e principalmente a decisão em deixar a Jane morrer para teoricamente salvar seu parceiro Jesse. Eu acredito que a mosca é uma alusão para toda essa culpa que o Walter decidiu carregar, e justamente pela representação da mosca em ser um inseto que incomoda, que aborrece, que desafia, sendo exatamente a atual situação que o Walter se encontra com sua mente, se incomodando e se aborrecendo com seu remorso e seu sentimento de culpa. Toda aquela luta ali naquele laboratório não era do Walter com uma simples mosca que o estava incomodando, mas sim uma luta travada com sua mente, com esse sentimento pesando em suas costas. Não existe nada mais pesado do que um remorso, um sentimento de culpa, essa era a contaminação que o Walter dizia para o Jesse que a mosca estava fazendo naquele ambiente.
Eu achei um episódio importante, marcante, poético, comovente, reflexivo e extremamente necessário para todo o contexto da série. Sem falar naquela cena em que o Walter pede desculpas para o Jesse pelo o que ele fez com a Jane, mas indiretamente, sem o Jesse realmente perceber sobre o que ele estava falando. O episódio 10 é fenomenal!
Bryan Cranston e Walter White já virou uma única pessoa, isso é fato. Toda aquela mudança de postura e personalidade que observamos acontecer na temporada anterior aqui está cada vez mais aflorada. Walter já está totalmente imergido no seu lado sombrio, ambicioso, incontrolável e assassino. Só observarmos por exemplo aquela cena em que ele atropela os traficantes e depois atira contra o outro a queima roupa. Bryan Cranston é incontestavelmente um dos melhores personagens de séries de todos os tempos!
Falando dessa cena apoteótica em que o Walter atropela e mata os traficantes, temos mais uma interpretação monstruosa do Aaron Paul. Paul é outro que já está completamente encarnado no Jesse, e desde a temporada passada que vemos todo o seu crescimento e todo o seu desenvolvimento, principalmente no que diz respeito a sua dramaticidade em cena. Já nessa temporada ele vai ainda mais além, ao mostrar todo o seu descontrole, toda a sua raiva, tomado pelo sentimento de culpa e de vingança. Uma apresentação completamente impecável de Aaron Paul.
Que a Anna Gunn interpreta a personagem mais "ame ou odeie" da série, isso sempre foi incontestável. Porém nessa temporada a Skyler ultrapassa todos os limites e chuta o balde sem dó. Eu sempre achei muito curioso todo o hater que se criou em volta da Skyler, e até confesso que nunca concordei mas também nunca discordei. Já nessa temporada é difícil defendê-la, até porque todas as atitudes que ela toma é contestável: primeiro ela se separa do Walter alegando que ele mente muito para ela (ok, eu entendo). Depois ela quer o divórcio e exige que o Walter não more mais em casa o distanciando de seus filhos. Depois que ela fica sabendo que o Walter fabrica metanfetamina ela o condena de todas as formas e ameaça denunciá-lo. Logo após ela decide trair o Walter transando com seu chefe e ainda vai como uma sínica contar a traição para o próprio Walter, como um engrandecimento do seu próprio ego. Já depois ela inventa toda aquela história de que o Walter é viciado em jogos e ganhou uma bolada, como uma forma para ajudar financeiramente a Marie com as despesas do tratamento do Hank. Depois ela já encabeça na organização da lavagem de dinheiro, induzindo o Walter a comprar o lava-rápido que ele trabalhou e ainda colocá-la como contadora da empresa.
O maior problema da Skyler é ser dúbia, mau-caráter, julgadora, querer ser a dona da verdade, quando na verdade ela não olha para o próprio "rabo" com suas atitudes. A Skyler condena o Walter pela decisão da fabricação de metanfetamina, que sim é errado, mas ela própria é conivente com a falsificação e a sonegação da empresa do Ted (Christopher Cousins), seu chefe/amante. As decisões e as atitudes do Walter são erradas, mas a Skyler é a última pessoa no planeta que teria moral para julgá-lo.
RJ Mitte volta a ter uma certa relevância na série com seu personagem Walter Jr. É interessante a forma fria que ele passa a tratar a Skyler pela sua decisão em afastá-lo do pai. Com isso ele se revolta sem saber os reais motivos. Ótima apresentação de RJ Mitte.
Dean Norris é estratosférico, magnífico, completamente impecável nessa temporada! Por tudo que eu já destaquei do seu personagem Hank mais acima, ele sobe cada vez mais de patamar dentro da série. Dean Norris é aquele ator perfeito para o personagem perfeito, isso é inegável!
Betsy Brandt finalmente volta a ter um destaque e uma relevância nessa temporada, visto que na anterior ela ficou bem escanteada. Após os acontecimentos envolvendo o Hank, a Marie toma para si todo o protagonismo desse caso e nos mostra uma ótima atuação mesclando sua veia dramática e cômica. O que dizer daquela cena em que ela tem a melhor estratégia para tirar o Hank do hospital; que é apostar que ela conseguiria fazer ele ter uma ereção. A cara do Hank saindo da sala na cadeira de rodas com a caixa de flores no colo é completamente impagável.
Na temporada passada eu comentei sobre a introdução na série de três figuras completamente icônicas em todo o universo de "Breaking Bad". Que são os atores Bob Odenkirk, Giancarlo Esposito e Jonathan Banks, que interpretam Saul, Gus e Mike. Nessa terceira temporada todos os três foram promovidos para o elenco principal da série.
Giancarlo Esposito traz o todo poderoso, o big boss, o manda-chuva Gus, que tem uma voz suave, uma postura sisuda e um discurso imponente, mas que esconde todo o seu poder e o seu lado mais letal.
Bob Odenkirk traz o charme e a pompa do Saul Goodman, aquele advogado engraçado e que sempre está tentando passar uma certa confiança mas sempre falha.
Jonathan Banks traz o Mike, que mescla seu lado de homem de confiança e braço direito, com o seu lado improvável de pai.
O último episódio da temporada é uma verdadeira montanha-russa de sentimentos. Pois é nele que temos todo mistério do Gus em relação ao que irá acontecer com o Walter. Também temos um certo protagonismo do Gale (David Costabile) em relação a sua provável (ou não) promoção no laboratório do Gus. Com isso cria-se um ambiente completamente instável tanto para o Walter quanto para o Jesse, que tem que obedecer uma ordem direta do próprio Walter em relação à vida do Gale. O décimo terceiro episódio da terceira temporada de "Breaking Bad" termina exatamente com um disparo do Jesse contra o Gale.
Por fim, a terceira temporada de "Breaking Bad" é incontestavelmente impecável! Aquela temporada perfeita em todos os sentidos e em todos os requisitos, que eleva o nível da série cada vez mais. Não é à toa que eu considero "Breaking Bad" como a melhor série de todos os tempos.
Vince Gilligan eu te amo!
[17/07/2023]
Barbie
3.9 1,6K Assista AgoraBarbie Girl
Banda: Aqua
Álbum: Aquarium
Ano: 1997
Hiya, Barbie
Hi, Ken
You want to go for a ride?
Sure, Ken
Jump in
I'm a Barbie girl, in the Barbie world
Life in plastic, it's fantastic
You can brush my hair, undress me everywhere
Imagination, life is your creation
Come on, Barbie, let's go party
I'm a Barbie girl, in the Barbie world
Life in plastic, it's fantastic
You can brush my hair, undress me everywhere
Imagination, life is your creation
I'm a blonde bimbo girl in a fantasy world
Dress me up, make it tight, I'm your dolly
You're my doll, rock'n'roll, feel the glamour in pink
Kiss me here, touch me there, hanky panky
You can touch
You can play
If you say, "I'm always yours" (ooh, oh)
I'm a Barbie girl, in the Barbie world
Life in plastic, it's fantastic
You can brush my hair, undress me everywhere
Imagination, life is your creation
Come on, Barbie, let's go party (ah ah ah yeah)
Come on, Barbie, let's go party (ooh oh, ooh oh)
Come on, Barbie, let's go party (ah ah ah yeah)
Come on, Barbie, let's go party (ooh oh, ooh oh)
Make me walk, make me talk, do whatever you please
I can act like a star, I can beg on my knees
Come jump in, bimbo friend, let us do it again
Hit the town, fool around, let's go party
You can touch
You can play
If you say, "I'm always yours"
You can touch
You can play
If you say, "I'm always yours"
Come on, Barbie, let's go party (ah ah ah yeah)
Come on, Barbie, let's go party (ooh oh, ooh oh)
Come on, Barbie, let's go party (ah ah ah yeah)
Come on, Barbie, let's go party (ooh oh, ooh oh)
I'm a Barbie girl, in the Barbie world
Life in plastic, it's fantastic
You can brush my hair, undress me everywhere
Imagination, life is your creation
I'm a Barbie girl, in the Barbie world
Life in plastic, it's fantastic
You can brush my hair, undress me everywhere
Imagination, life is your creation
Come on, Barbie, let's go party (ah ah ah yeah)
Come on, Barbie, let's go party (ooh oh, ooh oh)
Come on, Barbie, let's go party (ah ah ah yeah)
Come on, Barbie, let's go party (ooh oh, ooh oh)
Oh, I'm having so much fun
Well, Barbie, we're just getting started
Oh, I love you, Ken
Essa música deveria ser a música-tema da versão original. 😂🤣😅
Sou a Barbie Girl
Cantora: Kelly Key
Álbum: Kelly Key
Ano: 2005
Gabily, Kelly Key
Sou a Barbie girl
Se você quer ser meu namorado
Fica ligado
Presta atenção na minha condição
É diferente, sou muito exigente
Sou assim, uma flor delicada demais
Minha cor preferida é o rosa
Uma loira legal e que sabe o que quer
Decidida, fatal, mas dengosa
Você pode me ganhar
É só fazer o que eu mandar
Você pode me ganhar
É só fazer o que eu mandar
Sou a Barbie girl
Se você quer ser meu namorado
Fica ligado
Presta atenção na minha condição
É diferente, sou muito exigente
Deixa eu me arrumar, Ken
Já vou, já vou
Deixa eu me arrumar, Ken
Já vou, já vou
Se eu pedir uma estrela, você vai buscar
O meu jeito é assim, não reclama
Se eu quiser, bato o pé, e vai ter que aceitar
Só assim vou saber que me ama
Você pode me ganhar
É só fazer o que eu mandar
Deixa eu me arrumar, Ken
Já vou, já vou
Deixa eu me arrumar, Ken
Já vou, já vou
Sou a Barbie girl
Se você quer ser meu namorado
Fica ligado
Presta atenção na minha condição
É diferente, sou muito exigente
Sou a Barbie girl
Se você quer ser meu namorado
Fica ligado
Presta atenção na minha condição
É diferente, sou muito exigente
Deixa eu me arrumar, Ken
Já vou, já vou
Deixa eu me arrumar, Ken
Já vou, já vou
Já essa aqui deveria ser a música-tema da versão brasileira.😂🤣😅
[17/07/2023]
Louca Obsessão
4.1 1,3K Assista AgoraTEM SPOILERS DO LIVRO E DO FILME!
Louca Obsessão (Misery) 1990
"Misery" é dirigido por Rob Reiner ("Questão de Honra", de 1992), baseado no romance homônimo de Stephen King de 1987, estrelado por James Caan e Kathy Bates. A trama gira em torno de uma fã obsessiva que mantém um autor cativo e o obriga a reescrever o final de sua série de livros favorita.
Sobre o livro:
Novamente eu sou impactado com uma leitura avassaladora, imersível, misteriosa, claustrofóbica, intrigante. Uma obra que nos ganha justamente pela construção do drama, do suspense, do horror psicológico, da tensão que é criada e bem administrada principalmente nos primeiros capítulos do livro. Pois este é o ponto-chave dessa belíssima obra literária do mestre king, o seu poder de ir dosando o mistério, o suspense, a curiosidade, de criar todo um universo com um alto nível de tensão, que nos prende e nos envolve justamente nos momentos que antecedem toda selvageria e toda psicopatia de Annie Wilkes.
Por outro lado, como já é de praxe nas obras do mestre King, a história tem um ritmo e um desenvolvimento lento, ficando até arrastada em algumas partes, e sendo extremamente bem detalhada em outras - principalmente nas partes que tínhamos que ler "O Retorno de Misery" com a escrita faltando as letras "N", "T" e "E". Esta parte do livro com certeza foi uma forma do mestre King para nos imergir cada vez mais na mesma dificuldade e na mesma tortura de Paul Sheldon. Ou seja, nos colocar no mesmo ambiente e no mesmo universo do autor durante as constantes ameaças de Annie Wilkes.
"Misery" é mais uma excelente obra literária do mestre King. Não chega a ser uma obra-prima como "O Iluminado", que pra mim é disparado o meu livro preferido da bibliografia do King, mas é uma obra contundente, marcante, gloriosa e com um final apoteótico.
Para quem já leu alguns dos seus livros e já conhece o estilo da abordagem que o mestre king geralmente traz em suas obras, com certeza já está mais do que familiarizado com a sua escrita e a sua forma de contar suas histórias. Que na maioria das vezes é bem detalhada e com um desenvolvimento mais lento. Agora para quem está lendo King pela primeira vez, ou não conhece o autor, com certeza estranhará e sentirá a leitura cansativa em algumas partes. Eu como um eterno fã do mestre, já li várias das suas obras e já estou mais do que acostumado com a sua escrita, pois Stephen King é justamente o meu autor preferido da vida.
Sobre o filme:
"Misery" é uma boa adaptação de uma obra literária do mestre King, onde o próprio afirmou que "Misery" é uma de suas dez principais adaptações favoritas de filmes, em sua coleção "Stephen King Goes to the Movies". Apesar de não ser uma adaptação 100% fiel (o que é mais do que normal) e possuir inúmeras diferenças, até cruciais em relação ao livro, que destacarei mais à frente.
Um dois maiores acertos do longa-metragem é construir exatamente o mesmo clima inicial do livro, que é o crescimento gradativo da tensão, do medo, da aflição, do drama, do mistério e consequentemente de todo o suspense. Esse é o principal diferencial para conseguir inserir o espectador cada vez mais naquele universo que inicialmente é totalmente normal, que é apenas uma ex-enfermeira resgatando e cuidando de um paciente gravemente acidentado. Mas é aí que entra algumas perguntas cruciais: será que, de acordo com o livro de Paul Sheldon, se a personagem Misery Chastain não tivesse morrido durante o parto os gatilhos de loucura e insanidade de Annie Wilkes não seriam ativados após ela descobrir? Seria Annie uma admiradora do Paul ou da Misery?
Nesse ponto temos uma ótima abordagem sobre o fanatismo, a obsessão, o ciúme doentio, o admirador extremista e o fã alucinado. Annie Wilkes se autodenomina como a fã número 1 de Paul, nesse caso inconscientemente ela acredita ter poderes sobre seu artista e poder ditar as suas crenças, as suas decisões e os seus objetivos. Ou seja, Annie passa a delegar arbitrariamente o próprio livre-arbítrio de Paul, uma vez que ela o salvou da morte e o mantém como refém em sua casa.
Assim como em "O Iluminado", aqui também temos um estudo de uma mente humana deturpada, doentia, sádica, uma verdadeira aula de psicanálise e uma análise do surto psicótico. Ou seja, mais uma vez o mestre King cria um personagem emblemático, icônico, nos mesmo moldes do Jack Torrance, que nos expõe justamente a sua confusão mental, a perda da sanidade, a perda do equilíbrio emocional, delírios, alucinações, catatonia, alteração de humor, com um estado mental e espiritual atormentado, chegando à uma completa loucura. Essa era a Annie Wilkes, a fã número 1 de Paul, o puro suco da loucura e do sadismo.
Annie Wilkes é o Jack Torrance de saia!
Kathy Bates (eterna Molly Brown do melhor romance da história do cinema, "Titanic") é mais do que protagonista, é mais do que estrela, ela rouba a cena em todas as suas aparições, conseguindo maior destaque e maior relevância que o próprio Paul Sheldon de James Caan. Kathy emprega um olhar frágil, vulnerável, com um rosto angelical, onde ninguém sequer imaginaria que por trás daquele olhar devoto e compenetrado se esconde uma figura sádica e psicopata. Este é o ponto alto da interpretação de Kathy como Annie, exatamente a sua transformação, expondo a sua irritação, onde sua face muda, sua expressões mudam, seu semblante muda, indo diretamente da sua fragilidade à loucura, de um simples olhar doentio à devoção completa, que logo contrasta com todo seu fanatismo, loucura, obsessão e alienação.
Kathy Bates ficou marcada pela sua excelente atuação de Annie Wilkes, assim como o Jack Nicholson também ficou marcado pelo icônico Jack Torrance.
O próprio mestre King ficou impressionado com interpretação de Kathy Bates que ele chegou a escrever um outro texto diretamente para ela, se inspirando especificamente nela, que podemos encontrar no livro "Dolores Claiborne", que depois foi adaptado no filme " Eclipse Total" (1995).
E o trabalho de Kathy Bates foi tão avassalador, tão apoteótico, tão impecável, que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz no Oscar de 1991, derrotando simplesmente Meryl Streep por "Lembranças de Hollywood" e Julia Roberts por "Uma Linda Mulher", tornando "Misery" como o único filme baseado em um romance de Stephen King a ganhar um Oscar, e Kathy como a primeira a ganhar um Oscar de melhor atriz pelo desempenho em um filme de suspense.
O lendário James Caan (falecido em julho de 2022) na época já era um veterano consagrado, que já tinha sido indicado ao Oscar pelo icônico Sonny Corleone em "O Poderoso Chefão" (1972). Aqui James Caan dá um verdadeiro show, com um destaque fenomenal sendo o escritor Paul Sheldon e principalmente ao contracenar com a Kathy Bates. Incrível como James consegue nos impactar com sua atuação que na grande maioria é feita unicamente deitado na cama. Realmente tem que ter uma grande experiência, um grande estofo, para não cair na pieguice, no marasmo e não soar melodramático demais, exagerado demais. E definitivamente isso não acontece com James Caan, pois ele emana carisma e empatia, que nos faz torcer por ele, se preocupar com ele, sofrer junto com ele. Verdadeiramente James Caan foi impecável e irretocável como Paul Sheldon. E olha que inicialmente Jack Nicholson foi inclusive convidado a interpretar Paul Sheldon, mas não aceitou.
Isso me leva a pensar: imagina uma cena com Jack Torrance e Annie Wilkes juntos no mesmo ambiente? Isso com certeza abalaria a órbita terrestre.
Comparações entre filme e livro:
A forma como inicialmente o filme transcorre, entre aquele contraponto da Annie com o Paul em sua casa, com a busca do Xerife pelo desaparecimento do Paul após a denúncia de sua agente sobrevoando de helicóptero a casa da Annie. Tudo isso é diferente do livro.
O legal que se atentaram bem aos mínimos detalhes: como o próprio carro do Paul, a Cherokee da Annie e a Máquina de escrever da marca Royal. São detalhes simples mas que fazem uma diferença na fidelidade da adaptação.
Annie diz que Paul deu o seu nome em seu novo livro para o coveiro. No livro Paul dá o nome da Annie para uma das enfermeiras presentes no parto da Misery Chastain.
No livro não existe nenhum jantar comemorativo para celebrar a volta de Misery Chastain. Tampouco no livro o Paul não coloca o pó do remédio na taça de vinho da Annie. Ele até pensa nessa ideia, mas ele não leva adiante justamente por achar que a Annie desconfiaria do gosto por ter os remédios. Mas até que a execução dessa cena, com a Annie batendo na taça de vinho e derramando na mesa, foi muito boa.
No livro temos a escrita na máquina faltando as letras "N", "T" e "E". Já no filme a própria Annie diz que ela se propõe a concertar os "Nn", mas quando temos um foco por cima da máquina podemos observar que tanto o "N" quanto as outras letras estão lá. Um grave erro de continuidade no filme.
No livro a Annie usa um machado para cortar um dos pés de Paul, no filme ela usa uma marreta somente para quebrar seu pé. No livro Annie corta o polegar do Paul, isso não existiu no filme, pois ele termina com todos os seus membros.
Toda essa parte do Xerife, em buscar informações do passado da Annie e confrontar suas falas com o livro do Paul, não existe no livro. Tampouco o Xerife ser o primeiro que vai na casa da Annie atrás do Paul, pois no livro o primeiro a ir em busca do Paul na casa da Annie é um jovem policial, que ela acaba o matando com uma cruz e o cortador de gramas. Já no filme a Annie mata o Xerife com um tiro de espingarda pelas costas quando ele descobre a presença de Paul no porão.
O final é diferente do livro em algumas partes:
No livro Paul coloca fogo nas partes do livro depois que a Annie retorna com uma garrafa de champanhe e não uma taça como no filme. No livro ele acerta ela com a máquina de escrever nas costas e não na cabeça. No livro ela não dá aquele tiro no ombro dele e não existe toda aquela luta, com ele cravando os dedos em seus olhos, muito menos aquela rasteira com a Annie caindo com a cabeça na máquina. No livro ela escorrega na poça de champanhe no chão e cai de cara nos cacos de vidro da garrafa.
No livro policiais chegam na casa da Annie e resgatam o Paul e descobrem que Annie não estava morta no chão, como o próprio Paul havia informado. Depois eles descobrem que ela conseguiu sair da casa e foi em direção do celeiro, morrendo lá dentro pela grande perda de sangue. Já no filme temos aquela luta final do Paul com a Annie e depois já corta pra cena atual, com ele no restaurante com sua agente e tendo visões da Annie.
No geral é uma boa adaptação, mesmo com várias partes que não existem no livro e que foram uma liberdade criativa no roteiro do filme. Porém, uma coisa é inegável: o livro é muito mais sangrento, mais perturbador, mais violento, mais inquietante, mais sombrio, possui mais gore, além de criar muito melhor o clima de tensão, de aflição e do suspense que se instala em cada página da história. Sendo bem sincero: eu fiquei mais aflito, mais incomodado e mais tenso lendo o livro do que assistindo o filme.
O mesmo vale para a Annie Wilkes do livro, que sim, ela é muito mais perversa, mais sádica, mais perturbada, mais violenta, mais descontrolada, mais debochada, mais letal, mais insana, mais sangrenta, além de expor uma tortura absurdamente maior em Paul Sheldon. Pois só de pensar nas páginas do livro onde ela tortura o Paul ao cortar o seu pé com o machado e seu dedo com uma faca, é muito mais aterrorizante que no filme (além daquela parte em que ela tortura o jovem policial com as inúmeras estacadas com a cruz em suas costas, e que não existe no filme). Se você achou pesada aquela cena em que ela quebra o pé do Paul com a marreta, no livro o peso das torturas estão há anos-luz do filme. É só lembrar que no filme o Paul termina praticamente ileso, apenas com algumas dificuldades para andar. Já no livro o Paul termina completamente estropiado, sem um pé e sem um dedo.
Tecnicamente o filme é muito bem destacado e representa muito bem a grandeza de cada detalhe. Como a própria trilha sonora de Marc Shaiman, que ditou perfeitamente o ritmo da agonia e da aflição daquelas cenas mais contundentes. A fotografia é muito bem alocada, trazendo aquele contraponto entre os cenários de neve com a casa da Annie. O mesmo vale para a direção de arte, que soube compor cenários específicos e bem fiéis com a obra original.
"Misery" arrecadou US $ 10.076.834 em seu primeiro final de semana, terminando em segundo nas bilheterias somente atrás do clássico "Esqueceram de Mim" (1990). O longa acabou eventualmente com US $ 61 milhões no mercado interno, sendo considerado como um sucesso de bilheteria.
Além do prêmio inédito de Melhor Atriz para a Kathy Bates no Oscar de 1991, ela também foi indicada no Globo de Ouro daquele mesmo ano.
No Rotten Tomatoes, o filme tem uma classificação de 90%, com base em 67 críticas, com uma classificação média de 7,55 / 10. É o quarto filme baseado em um livro do mestre king com maior aprovação no site. No Metacritic, que atribui uma classificação média ponderada às críticas, o filme tem uma pontuação de 75 com base em 23 críticos. O público entrevistado pela CinemaScore atribuiu ao filme uma nota média de "A-" na escala A+ a F.
Em 2003, Annie Wilkes ficou em 17º lugar na lista de 100 anos dos 100 heróis e vilões da AFI (American Film Institute). A cena "mancando" no filme, na qual Annie quebra os tornozelos de Paul com uma marreta, ficou em 12º lugar no programa de 2004 da Bravo, "The 100 Scariest Movie Moments". Em 2009, Chris Eggertsen de Bloody Disgusting classificou "Misery" em quarto lugar em sua lista de "10 filmes de terror claustrofóbicos".
Sendo assim eu concluo que "Misery" é um ótimo suspense psicológico, que consegue nos deixar incomodado, tenso e assustado, e logo após nos confronta com toda demonstração de loucura, obsessão, fanatismo e alienação. Além de ir ainda mais longe ao nos impactar com cenas com um nível de sadismo e psicopatia absurda. Aquele clássico gênero cativeiro totalmente inserido no clássico terror psicológico.
Como já mencionei anteriormente, "Misery" é um boa adaptação, não está entre as melhores, mas mantém o nível de qualidade, respeito e essência da obra literária, que obviamente é mais detalhada e mais abrangente na história como um todo. [15/07/2023]
Velozes e Furiosos 10
3.0 300 Assista AgoraVelozes e Furiosos 10 (Fast X / Fast & Furious 10) 2023
"Velozes e Furiosos 10" é dirigido por Louis Leterrier a partir de um roteiro escrito por Dan Mazeau e Justin Lin, ambos os quais também co-escreveram a história com Zach Dean. É a sequência de "Velozes e Furiosos 9" (2021), o décimo filme da franquia principal e a décima primeira parcela geral da franquia "Velozes e Furiosos". No filme, Dominic Toretto (Vin Diesel) deve proteger sua família de Dante Reyes (Jason Momoa), que busca vingança pela morte de seu pai e pela perda da fortuna de sua família.
Desde 2014 que foi confirmado que a franquia "Velozes e Furiosos" teria um décimo filme, logo esse décimo filme faria parte de uma nova trilogia iniciada em Velozes 8 e 9, além do décimo filme ser o último da trilogia porém dividido em duas partes, que será "Velozes e Furiosos 11", já confirmado para 2025. Sendo assim, temos aqui os capítulos finais de uma das franquias globais mais famosas e populares da história dos blockbusters e do cinema, que já está em sua terceira década e ainda com o mesmo elenco. Será que realmente a saga "Velozes e Furiosos" estará mesmo chegando ao seu final? Ou será que ainda teremos novas trilogias, novos filmes, se alongando até "Velozes e Furiosos 25"? De fato isso é uma possibilidade.
Novamente estou eu aqui de novo para falar que sou um fã da franquia "Velozes e Furiosos" desde os seus primórdios. Ou seja, desde o lendário roubo de carga de DVD's lá em 2001. Hoje, após 3 décadas de existência da franquia, tudo mudou, várias coisas se perderam na saga e outras foram ficando pelo caminho. São 22 anos de existência entre altos e baixos, entre trancos e barrancos, entre acertos e erros, entre várias mudanças que a franquia sofreu ao longo dos anos, além, é claro, a inesquecível e dolorosa perda de Paul Walker. Realmente a franquia sempre precisou se reinventar, renovar, se adequar aos novos tempos e às novas gerações. Para uma franquia durar tanto tempo como "Velozes e Furiosos", é óbvio que mudanças sempre seriam necessárias. É impossível uma saga durar tanto tempo, fazer tanto sucesso de bilheterias, se mantendo exatamente da forma que começou há mais de 20 anos atrás.
Primeiro vou contextualizar:
É óbvio que "Velozes e Furiosos" já me cansou com o rumo que a série tomou ao longo dos anos, e já confessei que sim, que a franquia "Velozes e Furiosos" já deveria ter acabado há muitos anos. Porém, se eu assisto "Velozes e Furiosos" até hoje é porque alguma coisa ainda me atrai, é porque ainda consigo gostar do elenco e do pouco da essência de "Velozes e Furiosos" que ainda resta nos filmes. Então não adianta eu assistir os filmes e depois reclamar que são galhofas, que são mentirosos, que são forçados, que é uma porcaria. O fato é, se você vai assistir "Velozes e Furiosos" você já sabe o que esperar, você já sabe que são produções galhofas, pastelonas, despretensiosas, descompromissadas com a realidade, que o único intuito é divertir e entreter.
Então é simples: ou você assisti com o senso crítico desligado e aceita a proposta que o filme te entrega, ou simplesmente você não assiste - você tem esta opção. Esta é minha opinião e ponto final!
Um ponto que me chama muito a atenção na franquia "Velozes e Furiosos" é exatamente a forma como eles escrevem os roteiros de cada filme.
Por exemplo: a franquia iniciou lá no início dos anos 2000, foi fazendo fama, ganhando público, conquistando milhares de fãs ao redor do mundo. Ou seja, fatalmente ganharia novos filmes, novas continuações e novos roteiros deveriam ser pensados. O fato é, quando se tem muitos filmes de uma única franquia, fica cada vez mais difícil escrever um roteiro inteligente e coerente com toda a história. E "Velozes e Furiosos" é exatamente isso, que é o fato de sempre tirarem uma história de dentro de outra história dos filmes passados. Sempre vai aparecer um irmão, um primo, um tio. Sempre alguém é irmão de alguém, sempre alguém é filho (filha) de alguém. Chega ser cômico e bizarro!
"Velozes e Furiosos 10" é exatamente dessa forma, pois aqui temos a inclusão do filho de Hernan Reyes (Joaquim de Almeida) lá de "Velozes e Furiosos 5: Operação Rio". Mais curioso ainda (e bem forçado por sinal) é toda construção que inventaram para nos fazer acreditar nessa possibilidade, que é o fato do Dante já estar presente naquela cena do roubo do cofre e na ponte. Ok né! Tudo bem! Algo para mostrar tipo: "Olha ele sempre esteve lá, ok! Não estamos inventando nada. Tem coerência." Tá, sei!
Mas confesso que foram competentes em criarem novas cenas com os novos personagens mesclando com as cenas do filme de 2011.
Por falar em Dante Reyes, Jason Momoa é uma excelente integração no elenco, algo que eu não via acontecer no elenco desde a entrada do Dwayne Johnson lá em 2010. Se formos falar de vilões, Momoa trouxe o que pra mim é o melhor vilão de toda a história da franquia "Velozes e Furiosos". E aqui temos um ponto bastante interessante na construção e desenvolvimento do vilão Dante, que é o fato dele ser diferente dos outros antagonistas como Deckard Shaw (Jason Statham), Cipher (Charlize Theron) e Jakob (John Cena). Ou pelo menos a sua ambição não é ser o superior de todo o universo, querer dominar o planeta, pois sua principal motivação é simplesmente fazer o Dom sofrer pela perda do seu pai e todo o dinheiro de sua família. E como ele fará este sofrimento? Atacando justamente o que o Dom mais preza na vida, que é sua eterna família.
Outro ponto interessante na construção da motivação do vilão Dante, é exatamente o questionamento que ele faz ao Dom, sobre ter uma grande família e em algum momento não poder (ou não conseguir) salvar ou proteger todo mundo.
Baseado nesse questionamento: Jason Momoa incorpora um vilão excêntrico, sádico, extravagante, cínico, lunático, irreverente, sem limites, sem escrúpulos, com a única intenção de instaurar o caos e o sofrimento para conseguir a sua vingança contra Dominic Toretto e sua família (principalmente seu filho). É realmente incrível a interpretação do Jason Momoa de um vilão cruel, caricato, sedento por vingança, com aquele comportamento psicótico que me remete diretamente ao Coringa. Jason Momoa é disparado o melhor acontecimento de "Velozes e Furiosos 10".
Vin Diesel é mais do mesmo. Imortalizado no papel da sua vida - Dominic Toretto.
Michelle Rodriguez teve participações pontuais no filme. Foi interessante aquele protagonismo feminino que ela teve juntamente da vilã (ou ex-vilã, não sei) Charlize Theron.
Tyrese Gibson e Chris "Ludacris" Bridges também são o mais do mesmo. Essa sempre perspectiva deles serem o alívio cômico dos filmes o defasaram demais. Já não tem mais a mesma graça de antigamente.
O mesmo também vale para a Nathalie Emmanuel, que também não tem mais a mesma relevância de antigamente.
Jordana Brewster já foi uma personagem relevante no contexto da história. Hoje em dia ela está cada vez mais escanteada. E aqui comprovamos exatamente isso quando ela é completamente esquecida pelo roteiro.
O mesmo vale para o Jason Statham e o Sung Kang, que também já estiveram em melhores posições de relevância dentro da franquia.
John Cena me surpreendeu positivamente nesse filme, visto seu claro e notável crescimento no personagem em relação ao "Velozes e Furiosos 9".
Brie Larson estava ali apenas para se divertir (ou por sua vontade própria de entrar para a franquia "Velozes e Furiosos"). Ela foi aquela típica personagem que não fez diferença em nada, que aparece no começo e reaparece no final, e só.
Completando o elenco com Scott Eastwood, Michael Rooker, Helen Mirren, Daniela Melchior, Alan Ritchson, Rita Moreno e Cardi B.
Ah, e não podemos esquecer da não menos importante Ludmilla (kkk). Confesso que eu não achei assim tão terrível a sua participação de garota da largada. Achei até aceitável dentro da proporção de uma corrida no Rio de Janeiro, mas não precisava daquele: "Cheeeeeguei!!!" (kkk)
Preciso destacar aquela cena na garagem logo no início, onde o Dom observa várias fotos do seu passado e de sua família, inclusive fotos icônicas dele junto com o Brian (Paul Walker). Nessa mesma cena a personagem da Rita Moreno (que foi escalada como a avó de Dom) o conforta com palavras. Uma bela cena com o instrumental da canção "See You Again" de fundo. Claramente podemos observar que nessa cena não era o Dominic Toretto ali, mas sim o próprio Vin Diesel se emocionando. Esta cena foi real, não foi uma atuação.
Agora uns pontos curiosos que eu me pergunto durante o filme:
Se tínhamos aquele filho do vilão lá de 2011 insaciável por vingança, porque demorou tanto para aparecer? Estava reunindo forças?
Qual o sentindo (ou motivo) em mudar o filho do Toretto? Será que não seria o caso de pedirem um exame de DNA no Ratinho?
E esta velha mania dos vilões dos filmes anteriores ajudarem nos próximos?
E esta velha mania de reviverem os mortos? Quando utilizaram as "Esferas do Dragão" que eu não vi?
Nessa onda de trazerem os mortos de volta à vida, já poderiam ter trazido de volta o lendário Vince (Matt Schulze).
Sung Kang sugeriu que os fãs iniciassem uma campanha de hashtag nas redes sociais, como fizeram com o seu próprio personagem com a tag "Justice for Han", para trazer de volta a Gisele de Gal Gadot para esta edição. Bem, parece que funcionou né. Afinal de contas na última cena vemos quem saindo de dentro do já lendário submarino? Simplesmente a lindíssima Gal Gadot e sua Gisele Harabo.
Em agosto de 2021, foi confirmado que Dwayne Johnson não apareceria mais em nenhum filme de "Velozes e Furiosos". Ou seja, muito curioso aquela cena pós-crédito com a aparição exatamente de ninguém mais ninguém menos que Luke Hobbs.
"Velozes e Furiosos 10" teve um orçamento de produção estimado em US$ 340 milhões, sendo o oitavo filme mais caro já feito. A produção arrecadou menos de $ 720,4 milhões em todo o mundo, tornando-se o terceiro filme de maior bilheteria de 2023. Além da sequência parte 2 com "Velozes e Furiosos 11" que está em desenvolvimento e programada para ser lançada em 2025, já está sendo desenvolvido o "Velozes e Furiosos 10: Hobbs and Reyes". Que nada mais é do que um filme solo do personagem Luke Hobbs interpretado por Dwayne Johnson e Dante Reyes de Jason Momoa que está previsto para sair em 2024. Assim como já aconteceu em 2019 com "Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw".
Por fim, "Velozes e Furiosos 10" entrega tudo que promete, que é exatamente uma produção forçada, exagerada, mentirosa, pastelona, galhofa e sem noção. Mas quem é que liga? Afinal de contas eu já estou mais do que acostumado e familiarizado com o que "Velozes e Furiosos" se tornou ao longo dos filmes e dos anos, que é exatamente aquela produção com o único intuito de divertir e entreter. [08/07/2023]
Breaking Bad (2ª Temporada)
4.5 775TEM SPOILERS!
Breaking Bad (2ª Temporada) 2009
A primeira temporada de "Breaking Bad" foi aquela explosão, aquela surpreendente estreia de uma das maiores séries de todos os tempos, fazendo um sucesso estratosférico e conquistando milhares de fãs ao redor do planeta.
Obviamente a primeira temporada foi a responsável em nos introduzir em cada acontecimento na série, em nos apresentar cada personagem com sua devida importância e nos confrontar com os problemas de cada um ali presente. Sendo assim a primeira temporada carrega principalmente o fator surpresa, que é justamente o confronto com todos os acontecimentos envolvendo o Sr. Walter White (Bryan Cranston), que vai desde o professor de química do ensino médio superqualificado e desanimado, passando pelo diagnóstico recente de câncer de pulmão e chegando na parceria com seu ex-aluno, Jesse Pinkman (Aaron Paul), para produzir e distribuir metanfetamina para garantir o futuro financeiro de sua família antes que ele morra.
Este é o principal contraponto com esta segunda temporada, o fato de já estarmos inteirado com tudo, já sabermos de tudo, já conhecermos cada um dos personagens e principalmente o Sr. Walter e o Jesse. Ou seja, já estamos cientes das principais consequências que a doença e o envolvimento com o tráfico trouxe para o Sr. Walter, que obviamente atinge diretamente o Jesse.
A temporada já inicia com aquela cena magnífica do final da temporada anterior, que é justamente o confronto com o Tuco doidão (Raymond Cruz) espancando um de seus capangas. A partir daí o primeiro episódio já nos dá toda a dimensão do que esperar da temporada, que é justamente a relação se deteriorando e ficando cada vez mais insustentável entre Walter e sua esposa Skyler (Anna Gunn). E justamente pelo fato do Walter ser obrigado a esconder de sua família todo o seu envolvimento com o tráfico. E o episódio vai ainda mais além ao nos mostrar todo o drama e apreensão de Walter relacionado ao Tuco.
Outro ponto muito curioso desse primeiro episódio é exatamente todo o cálculo que o Walter faz pensando na venda de metanfetamina relacionado a quantia que ele pretende deixar para sua família. E este cálculo dá ali por volta dos $ 700.000 dólares. Sem falar que é nesse episódio que conhecemos a figura do Sr. Hector Salamanca (Mark Margolis), o tio do Tuco, que é simplesmente um dos personagens icônicos da série.
Um dos principais pontos dessa temporada é exatamente o desenvolvimento e o crescimento do drama, da mentira, do desgaste, da apreensão, daquele suspense que vai se instalando na série com o passar de cada episódio. E exatamente esse suspense pelo fato das mentiras e enganações de Walter com sua esposa, seu filho e principalmente com Hank (Dean Norris), o agente da DEA. Por outro lado a temporada faz uma ótima mescla entre o drama de Walter relacionado ao tratamento de sua doença com o drama pessoal da Skyler e sua gravidez. E aqui entra um ponto extremamente importante dentro da temporada e que eu já mencionei acima, que é o desgaste do casal Walter e Skyler. Pois todo esse desgaste no casamento é o principal fator para moldar a personalidade de cada um a partir dali. Skyler passa a confiar cada vez menos em Walter e decidi voltar a trabalhar, e justamente em seu antigo emprego no qual seu chefe parece ter um claro interesse nela (e ela parece retribuir). Já Walter está cada vez mais envolvido com o tráfico, seu principal interesse é vender toda a metanfetamina que ele já tem guardada. E a partir daí ele começa a passar por cima de tudo e de todos para concluir seu objetivo.
E esta segunda temporada não abrange somente o drama do Walter e sua esposa, mas também temos o desenvolvimento sobre outros personagens da série: que são justamente o Walter Jr. (RJ Mitte), o Jesse e o Hank.
Após o Hank enfim dar cabo do Tuco ele ganha mais respeito e relevância em seu departamento, o que logo o leva a comandar uma nova operação no México. Essa operação o confronta com o traficante Tortuga (Danny Trejo), e aqui temos mais uma cena emblemática de "Breaking Bad", que é justamente aquela cena da cabeça do Tortuga em cima do casco da tartaruga causando uma inesperada explosão. Que cena apoteótica! Esta segunda temporada é responsável por várias cenas icônicas de toda a série de "Breaking Bad".
Sobre o adorável Walter Jr. também temos um desenvolvimento e um crescimento do personagem em relação à temporada passada. Nessa temporada ele mostra estar cada vez mais preocupado com a saúde do pai e engajado em dar a sua contribuição de alguma forma. E aqui temos ele criando aquele icônico site na internet de ajuda para o Walter. Mais uma passagem emblemática e marcante da série e que virou um meme mundial.
Já o Jesse é de longe o personagem que mais cresceu (juntamente com o Walter) e se desenvolveu nessa temporada em relação à ele próprio na primeira temporada. Se na temporada anterior ele ficava mais à cargo das ordens do Walter em relação a venda das drogas, nessa temporada ele começa a andar com as próprias pernas, ele começa a trilhar seu próprio caminho e seu próprio destino. E isso se dá exatamente pelo fato dele partir atrás das suas drogas, do seu dinheiro, se envolver com outra galera do mundo do tráfico, chegando até ao famigerado romance com a viciada em heroína - Jane Margolis (Krysten Ritter).
Todo esse envolvimento do Jesse com a Jane é o principal ponto de virada da temporada, a verdadeira força motriz para os acontecimentos que virão a partir desse romance, tanto pelo lado do Walter quanto pelo lado do próprio Jesse. Jesse passa a ser dominado pelo tal envolvimento com a garota, e isso é muito ruim para os planos do Walter em relação a sua parceria com os planos da metanfetamina. Ou seja, o envolvimento do Jesse com a Jane passa a ser uma ameaça para o Walter, principalmente após o Jesse revelar para Jane todos os seus esquemas no mundo do tráfico junto com Walter, e aquela dívida que o Walter tem com ele. A partir daí a Jane começa a chantagear o Walter em relação ao dinheiro que ele deve para o Jesse, o que faz o Walter tomar a decisão mais emblemática, surpreendente e intrigante de toda a série "Breaking Bad".
Esta é uma decisão muito particular do Walter, que até hoje ainda é contestada, simplesmente a sua decisão de observar a Jane ter uma overdose causada pela heroína e morrer sufocada com seu próprio vômito. Por sinal uma cena pesadíssima, que realmente nos incomoda. Porque o Walter tomou essa decisão de praticamente participar da morte da Jane mesmo que indiretamente? Esta cena tem uma grande revelação, uma grande desconstrução, uma grande descaracterização, que é justamente a figura do Walter, em como ele deixa de lado o seu lado humano, de pai, de marido, e entra de vez no seu lado sombrio. Pois a decisão de Walter em deixar a Jane morrer diante de seus olhos age como o início de seu declínio moral, ético, humano, embora tenha claramente um impacto emocional sobre ele.
Podemos entender que esta decisão do Walter foi feita unicamente pensando em seu parceiro Jesse, em resgatá-lo de volta à vida, pois a Jane já tinha o dominado completamente e estava se matando e matando o Jesse com o uso das heroínas. E aqui eu compreendo a cabeça do Walter, que já estava completamente envolvido nesse submundo do tráfico, que já não tinha mais espaços para pensar no amor, na compaixão, para sentir pena, que precisava tomar uma única decisão naquele momento, que era de salvar a Jane (que pra ele era uma total desconhecida) ou salvar o Jesse (o seu parceiro). E esta decisão do Walter claramente teve um grande impacto emocional e humano sobre ele, pois ele não era nenhum sádico, nenhum psicopata, e mesmo assim ele teve que agir com frieza, com a maior dificuldade do impacto e das consequências que esta decisão traria sobre ele. E na cena claramente podemos observar o impacto da tristeza e da consciência pesada expostas nas lágrimas escorrendo no rosto do Walter. Senhoras e senhores, que cena!
Bryan Cranston está cada vez mais fenomenal na pele do indescritível Walter White. É realmente impressionante o notável crescimento de seu personagem com o passar de cada episódio e de cada temporada. Nessa segunda ele está completamente impecável e irretocável.
Aaron Paul foi o que mais me surpreendeu, pois como eu já mencionei, seu personagem foi o que mais cresceu e se desenvolveu nessa temporada. Paul mostra estar cada vez mais a vontade no personagem, estar cada vez mais conectado com as causas e os sentimentos de seu personagem. E aqui tem um diferencial, sua veia dramática, que é muito mais explorada nessa temporada, principalmente sobre o efeito da morte da Jane, onde ele dá um show naquela cena que explora toda a sua dramaticidade. Aaron Paul é outro que esteve impecável na temporada.
Anna Gunn traz talvez a personagem que é a verdadeira personificação do termo "ame ou odeie" de toda a série. Acho bastante curioso todo o hater que se criou em torno da sua personagem, o que não concordo inteiramente mas também não discordo completamente. Realmente a Skyler toma umas decisões contestáveis, continua vivendo somente dentro da sua bolha, e agora ela vai ainda mais além, ao retribuir os galanteios de seu chefe e sair de casa no final da temporada. Mas por outro lado algumas decisões dela até que são compreensíveis, já que o próprio Walter também não ajuda né.
Krysten Ritter (eterna Jessica Jones) foi uma excelente adição da temporada, e ela contribuiu perfeitamente com sua personagem Jane. Krysten incorporou muito bem aquela figura da garota viciada, problemática, que estava se afundando e carregando seu namorado junto. Uma ótima atuação!
Completando o elenco:
Dean Norris anda na mesma linha do seu personagem da primeira temporada, porém aqui ele se sobressai em várias ocasiões, como no assassinato do Tuco e a operação no México.
RJ Mitte continua com seu ótimo personagem Walter Jr. Dessa vez cada vez mais empenhado pela causa do pai.
Já a Betsy Brandt é completamente deixada de lado nessa temporada. Sua personagem Marie, a cleptomaníaca, é esquecida em praticamente todos os episódios.
Muito curioso que nessa temporada temos aquela ligação com "Better Call Saul". Inclusive temos entradas de figuras emblemáticas e icônicas de todo o universo de "Breaking Bad" - que são as figuras do Mike (Jonathan Banks), do Gus Fring (Giancarlo Esposito) e do Saul Goodman (Bob Odenkirk).
O último episódio é muito importante para a continuação dos próximos acontecimentos da série. Pois é nele que temos aquela decisão da Skyler em sair de casa e deixar o Walter, ela já estava farta das suas mentiras. Temos o Walter indo resgatar o Jesse daquele local que ele estava entregue as drogas. E também a cena da explosão dos aviões no céu com aquele icônico urso caindo diretamente na piscina do Walter. Por sinal mais uma cena que mostra a dimensão e a proporção das escolhas feitas por Walter - muito curioso!
No mais, a segunda temporada de "Breaking Bad" continua magnífica, excelente, impecável, que só confirma a proporção e a importância estratosférica que a série tem. Impressionante como a série cresce em cada temporada, e aqui temos uma evolução grandiosa e notável sobre o roteiro, as qualidades técnicas e principalmente em relação ao elenco, que entregaram ótimos trabalhos. Destacando ainda mais a principal mudança de postura e personalidade do Sr. Walter White, que definitivamente se entregou ao seu lado sombrio, com uma clara mudança obscura em seu caráter e se tornando cada vez mais aquele ser tomado pela incontrolável e destrutiva ambição.
Mais uma temporada obra-prima das séries!
[29/06/2023]
Psicose
3.1 468 Assista AgoraPsicose (Psycho) 1998
"Psicose" é produzido e dirigido por Gus Van Sant, roteirizado por Joseph Stefano (do clássico) e estrelado por Vince Vaughn, Julianne Moore, Viggo Mortensen, William H. Macy e Anne Heche. É um remake moderno de "Psicose" de Alfred Hitchcock de 1960, e ambos os filmes são adaptados da obra-prima literária de 1959 de Robert Bloch.
Ao longo da minha saga dentro do universo de "Psicose" eu sempre afirmei que a obra-prima do mestre Hitchcock sempre foi completamente irretocável e autossuficiente, sem a menor necessidade de continuações e muito menos remakes.
Já inicio com algumas perguntas extremamente importantes dentro da indústria cinematográfica:
Porque existe remake? Quem inventou os remakes? Quem teve a brilhante ideia de achar que obras irretocáveis do passado necessitavam de remakes? Qual a necessidade de reviver uma obra imortalizada e eternizada em um remake?
Fato é que os remakes sempre existiram, existem e continuarão existindo. Sempre alguém terá a magnífica ideia de pegar uma obra-prima do passado e reviver em um remake moderno. Sempre terá algum estúdio, alguma produtora, alguém que financie tais acontecimentos que na sua grande maioria são completamente desnecessários e dispensáveis.
Temos aqui um remake que se enquadra perfeitamente no caso de um remake completamente desnecessário e inteiramente dispensável. O remake de "Psicose" é simplesmente inexplicável, injustificável e inaceitável.
"Psicose" é praticamente um Ctrl+C e Ctrl+V do original, onde a principal diferença está exatamente na questão de ter sido filmado em cores (pois o clássico foi filmado em preto e branco). A outra questão é o fato da modernização da obra para o final dos anos 90, porém não deixa de ser uma recontagem cena a cena muitas vezes copiando os movimentos e a edição da câmera do próprio Hitchcock. Isso também inclui o roteiro original, além dos diálogos e da trilha sonora, cuja partitura musical de Bernard Herrmann (compositor do clássico) também é reutilizada, embora com um novo arranjo de Danny Elfman (compositor da trilha sonora da trilogia "Homem-Aranha", do Nolan) e Steve Bartek (ex-integrante da banda de rock "Oingo Boingo").
O diretor Gus Van Sant ("Gênio Indomável" de 1997, um de seus melhores filmes) sempre foi um grande admirador do clássico de 1960, e após o sucesso financeiro exatamente de "Gênio Indomável", a Universal Pictures concordou em optar por sua proposta de remake de "Psicose". Porém a proposta de Gus Van Sant em refazer o filme cena a cena gerou uma certa estranheza por parte do estúdio, que chegou a considerar uma ideia muito arriscada por parte do diretor. A própria ideia de refazer o clássico já era uma ideia muito arriscada e perigosa, pois vamos combinar que mexer em uma obra-prima clássica já é arriscado, ainda mais se tratando de um obra-prima de ninguém mais ninguém menos que o eterno mestre do suspense - o gênio Alfred Hitchcock. E o mais bizarro disso tudo foi o fato de Gus Van Sant ter sido perguntado o porque de refazer o clássico e o mesmo responder: "É um esquema de marketing. Porque sempre têm uma coisinha que esqueceram que poderiam colocar no mercado e ganhar dinheiro com isso."
A ideia em criar um remake de "Psicose" totalmente plano a plano foi inteiramente de Gus Van Sant. Pois ele próprio admitiu ter comprado uma versão original do filme em DVD e passou a dirigir seu filme tendo o original como base. Até os prováveis erros encontrados na versão clássica ele queria copiar em seu filme, sempre na intenção de fazer com que o seu "Psicose" fosse o mais parecido possível com o original. Sem dúvida a vontade de Gus Van Sant era ressuscitar o Hitchcock para que assim ele pudesse trabalhar ao lado do mestre nesse seu remake.
Além da projeção de um remake moderno de "Psicose" e as filmagens terem sido realizadas em cores, o longa apresenta pequenas diferenças em termos visuais, pequenos detalhes da trama, bem como as representações dos personagens pelos atores. Além da ideia de Gus Van Sant em atualizar alguns elementos de roteiro e ajustar as referências ao dinheiro que seriam anacrônicas em um cenário moderno. Ou seja, a quantia que Marion Crane (Janet Leigh) roubou no filme original foi de $ 40.000 dólares, já no remake a mesma Marion Crane (Anne Heche) roubou a quantia de $ 400.000 dólares. Outras mudanças perceptíveis estão justamente no Motel Bates, que ganhou uma modernizada em sua aparência, além da modernizada na icônica placa de entrada e a adição de um letreiro enorme com o nome do Motel sobre os quartos.
Se este remake de "Psicose" é praticamente 100% fiel à obra original, foi projetado e filmado nos moldes e plano a plano do clássico e ainda a cores. Então porque é um filme ruim?
Simplesmente por ser um remake sem brilho, sem alma, sem corpo, sem estruturas, sem conexão com o espectador, sem nenhuma relevância para o universo "Psicose", sem agregar ou somar nada para a franquia. É um remake completamente infundado, desprovido de brio, de inteligência, mal feito, mal projetado, sem identificação com nada, sem harmonia com nada. Um remake que nunca foi pedido por ninguém, completamente desnecessário, dispensável, inútil, pífio, sem graça, inexplicável, injustificável e inaceitável. Sem falar na escolha do elenco e suas interpretações, onde pra mim está o maior problema desse remake de "Psicose".
É incrível como o elenco desse remake é completamente inexplicável. E olha que não estamos falando de atores ruins, mas definitivamente nada deu certo em questões de elenco e seus personagens.
Vou começar pela única de todo o elenco que eu ainda consegui gostar, que é justamente a Anne Heche (infelizmente falecida em agosto do ano passado). Anne conseguiu se encaixar até que bem na personagem, e olha que esta é uma tarefa dificílima, pois estamos falando de uma personagem que ficou imortalizada pela eterna e saudosa Janet Leigh. Porém confesso que a versão de Marion Crane da Anne Heche ficou boa, se destacando como a única personagem aceitável de todo o elenco. E olha que a Marion Crane foi inicialmente programada para ser interpretada por Nicole Kidman, mas ela foi forçada a deixar o papel devido a problemas de agendamento. Drew Barrymore também foi considerada para o papel antes de Anne Heche ser escalada.
Se eu falei da melhor personagem desse remake, agora eu preciso destacar o pior:
Vince Vaughn ("Até o Último Homem", de 2016) foi uma péssima escolha para reviver o papel de um dos maiores maníacos e psicopatas da história do cinema. Quem em sã consciência achou que o ator se encaixaria bem no lendário e eterno Norman Bates? E pior, quem aceitou esta escolha? E o problema aqui é tudo, desde o próprio Vince Vaughn, que é um ator apenas ok, passando pela sua interpretação de Norman Bates punheiteiro que é horrível, e aquela sua atuação decadente de um Norman Bates com 1 metro e 96 centímetros. Vince Vaughn já tem a cara de psicopata, só de olhar para ele em sua primeira aparição em cena você já identifica exatamente isso, principalmente quando ele exibe seu primeiro sorriso amarelo para a Marion. Mas nem isso o ajudou, o que o deixa como uma ofensa para a memória do lendário Norman Bates do saudoso Anthony Perkins.
Julianne Moore ("May December", desse ano) é uma excelente atriz, que ao longo de sua carreira já nos brindou com ótimas personagens, como a eterna e inesquecível Marlene Craven no clássico incompreendido "A Mão Que Balança o Berço", de 1991. Aqui nesse remake a própria Julianne Moore disse que optou intencionalmente em retratar a personagem Lila Crane como uma personalidade mais agressiva em contraste com a icônica interpretação de Vera Miles, no original. Devo afirmar que esta decisão da Julianne foi uma péssima escolha, pois sua versão de Lila Crane é horrorosa, completamente destoada, desorganizada, sendo excessivamente forçada. Se tem uma palavra que define perfeitamente a atuação da Julianne, esta palavra é forçada, pois ela força o tempo todo para sua personagem ser mais agressiva, ser mais rebelde, parecer ser muito corajosa, que no fim ficou uma atuação banal e muito ruim.
O grande ator William H. Macy (completamente impecável em "Fargo", de 1996) caiu de paraquedas no meio dessa bagunça. O próprio ator disse optou por permanecer fiel ao retrato de seu personagem no filme de 1960. Porém ele não ficou assim tão fiel, pois o icônico Detetive Arbogast do Martin Balsam era muito mais agressivo, mais desafiador, mais debochado em suas investigações, principalmente quando estava desafiando o Norman Bates. Já a versão de Arbogast do William H. Macy é mais branda, mais suave, ele próprio transparece uma personalidade mais amena, mais serena, que parece não estar muito preocupado com o caso.
Já o galã da época, Viggo Mortensen ("Green Book", de 2018), é uma versão de Sam Loomis completamente perdida no filme. E quando ele está contracenando com a Julianne Moore fica pior ainda. Outra péssima escolha de elenco desse remake.
Um ponto positivo desse remake está justamente por ser uma versão modernizada a cores, que obviamente as cenas com sangue vai demonstrar uma violência gráfica muito maior que o original. No clássico a película em preto e branco foi feita por opção do próprio Hitchcock, que considerava que a cores o filme ficaria ensanguentado demais, ou seja uma preocupação com a recepção do público da época. Exatamente por este motivo que a obra de 1960 apresenta pouco derramamento de sangue visual em suas sequências de assassinato. Já o remake apresenta uma violência mais explícita, particularmente durante a sequência da icônica cena no chuveiro; onde o sangue é mostrado escorrendo pelos ladrilhos da parede, bem como visíveis facadas nas costas de Marion Crane quando ela desmaia na banheira, além de ainda mostrar as nádegas da personagem quando ela morre, aspecto cortado do filme original.
Outro ponto positivo é exatamente a presença da clássica trilha sonora estridente, incomoda e penetrante de Bernard Herrmann. Principalmente na lendária cena do chuveiro, onde fez total diferença com a violência mais explícita devido a presença do sangue a cores. Sem falar que aquela música instrumental clássica do original era tocada em praticamente 100% das cenas (principalmente no início).
"Psicose" foi lançado nos Estados Unidos em 2.477 cinemas, ficando em segundo lugar nas bilheterias domésticas com uma receita bruta de fim de semana de $ 10.031.850. O remake passou a ganhar um total de $ 37.141.130 na bilheteria mundial e $ 21.456.130 no mercado interno. O orçamento de produção do filme foi estimado em US$ 60 milhões.
O longa-metragem foi premiado com dois prêmios do Framboesa de Ouro de 1999, sendo para Pior Remake e Pior Diretor para Gus Van Sant, enquanto Anne Heche foi indicada para Pior Atriz, onde perdeu o troféu para as "Spice Girls" pelo "Spice World". Por outro lado, no 25º Saturn Awards, o filme foi indicado ao Saturn Awards de Melhor Atriz Coadjuvante por Anne Heche e Melhor Roteiro por Joseph Stefano.
No Rotten Tomatoes, "Psicose" detém um índice de aprovação de 40% com base em 78 avaliações, com uma classificação média de 5,30/10. O consenso dos críticos do site diz: "O remake é totalmente sem sentido pois não melhora e nem ilumina o original de Hitchcock". No Metacritic, o filme tem uma pontuação média ponderada de 47 em 100, com base em 23 críticos, indicando críticas mistas ou médias.
Este remake de "Psicose" é tão sem sentindo que o próprio Gus Van Sant admitiu mais tarde que fazer o remake da forma que ele fez foi um experimento que provou que ninguém pode realmente copiar um filme exatamente da mesma maneira que o original. Antes tarde do que nunca né Gus Van Sant, pelo menos admitiu que fez mer$#@.
Por fim, temos aqui mais um clássico caso do remake infundado, desnecessário, dispensável, inexplicável, injustificável e inaceitável. Isso só prova que uma obra irretocável e autossuficiente como o clássico do mestre Hitchcock jamais deveria ter sido cogitado a ideia de fazer um remake.
Como minha mãe sempre diz: "não mexe com quem tá quieto!!!"
Termino afirmando que eu como fã do eterno clássico do mestre Hitchcock e da obra-prima literária de Robert Bloch, me recuso a aceitar que este filme carregue em seu título o nome de "Psicose".
Sem mais!
[28/06/2023]
Psicose 4: O Começo
2.9 108TEM SPOILERS!
Psicose 4: O Começo (Psycho IV: The Beginning) 1990
"Psicose 4" foi feito direto para a televisão (sendo o primeiro filme a ser rodado na Universal Studios na Flórida), sendo dirigido por Mick Garris e novamente sendo roteirizado por Joseph Stefano (que é o roteirista do clássico de 1960). O longa-metragem serve tanto como a terceira sequência da série de filmes quanto como uma prequela de "Psicose" do mestre Hitchcock, com foco no início da vida de Norman Bates. O filme inclui ambos os eventos após "Psicose 3" enquanto foca em flashbacks de eventos que aconteceram antes do clássico. É o quarto e último filme da franquia original de "Psicose", e a última aparição de Anthony Perkins na série antes de sua morte em 1992.
"Psicose" (1960) é aquele clássico absoluto, aquela obra-prima irretocável, aquela obra de arte impecável, simplesmente um dos melhores filmes de suspense de todos os tempos, sendo completamente autossuficiente e sem a menor necessidade de continuações e desmistificação acerca do Norman Bates. Porém, "Psicose 2" é aceitável como um continuação do clássico, e muito por conter um roteiro novo e que soa bastante intrigante e curioso. Já "Psicose 3" não tem jeito, definitivamente é o pior filme da série original de "Psicose", e exatamente por ser uma continuação completamente perdida e desnecessária, com um roteiro péssimo e um elenco deprimente (tirando o Anthony Perkins, é claro).
"Psicose 4" eu vejo na mesma linha de "Psicose 2", que é justamente uma continuação desnecessária e dispensável, porém coerente e aceitável. O mais curioso (e absurdo) desse roteiro de "Psicose 4" é justamente o fato de Norman Bates ter sido novamente solto e reintegrado na sociedade, além de ter se casado e sua esposa estar grávida. Ou seja, totalmente tranquilo e aceitável um maníaco psicopata do calibre do Norman Bates ter sido liberado do sanatório pela segunda vez e ter constituído uma família. Mas ok! Vamos ignorar esta parte do roteiro.
Quando eu afirmo que "Psicose 4" tem um roteiro aceitável, é justamente por nos trazer uma visão sobre o início de toda a história, nos mostrar o começo de Norman Bates, que até então era uma parte nunca explorada nos filmes anteriores e que poderia facilmente despertar a nossa curiosidade. E foi exatamente nesse fator que o roteiro se apegou, em nos contar a história de Norman Bates desde a sua infância, passando pelo falecimento de seu pai, até chegar em sua adolescência e seus primeiros envolvimentos com as garotas. Envolvimentos esses que eram sexuais e que eram sempre repreendido por sua mãe, que aplicava uma forte repressão sexual em Norman. De fato esse é um ponto muito curioso e muito interessante em "Psicose 4", nos mostrar como foi a criação e a educação que a mãe aplicou em Norman. Ou seja, nos mostrar em como ela teve participação e uma influência direta na formação de caráter de Norman Bates, em como ela transformou seu próprio filho em um demônio perturbado e psicopata.
E aqui entra o formato que o filme apostou e que eu achei interessante para todo o contexto que a história estava sendo contada. Que é justamente um formato que mostra o presente, com o Norman Bates decidindo ligar para um programa de rádio para contar sobre seu matricídio, com aquele contraponto de todos os abusos que sua mãe o expunha durante boa parte de sua adolescência sendo revividos através de flashbacks. De fato eu considero um acerto este formato que história foi contada, pois ter o próprio Norman do presente narrando os acontecimentos do Norman do passado deu mais peso e mais corpo para toda a história, além de criar uma motivação e uma relevância ainda maior sobre os flashbacks que eram apresentados. Sem falar que todo contexto que estava sendo desenvolvido através das ligações de Norman, deu um direcionamento para as pessoas que o ouvia sobre o planejamento do seu próximo assassinato.
Outro ponto que foi trazido exclusivamente para "Psicose 4" e que é bastante contundente, é exatamente nos elucidar sobre a mente deturpada e doentia de Norman Bates, nos mostrar seus primeiros assassinatos, e ir ainda mais além, que é nos apresentar a figura da Sra. Bates e nos mostrar que se Norman Bates era desequilibrado e perturbado, sua mãe era muito pior.
Incrível como a Norma Bates (Olivia Hussey) foi a principal responsável pela transformação de seu próprio filho durante a fase da infância para a adolescência. Incrível como a própria mãe impunha todos os limites cruéis para o próprio filho, em como ela o machucava com as palavras, que sim, as suas palavras o marcavam mais que qualquer tipo de violência física. Incrível em como a própria mãe foi a responsável pela criação e a transformação de um psicopata.
Este é o ponto alto do roteiro de "Psicose 4", exatamente a abordagem acerca dos distúrbios psicológicos de Norman Bates, que foram adquiridos através da sua própria mãe. E aqui entra um ponto ainda mais intrigante dentro filme, que é o "Complexo de Édipo" e o "Complexo de Jocasta" que Norman sofria durante sua adolescência, que era justamente o desejo sexual pela mãe que ele teoricamente sentia. O filme não deixa isso evidente, mas dá a entender que a mãe também teria alguma atração sexual pelo Norman, como o fato dela sempre deixar claro que não queria que ele se envolvesse sexualmente com outra garota, que ele seria só dela, seria sempre o filhinho da mamãe. Podemos até comprovar tais fatos como naquela cena que ela pede que ele retire toda a sua roupa molhada e se deite agarrando ela junto ao seu corpo nu. Além de outras cenas que mostrava o Norman sobre o corpo da mãe e ele ficando excitado por estar tocando com o membro nela e ela ainda percebia sua excitação. É nessa hora que Norma impõe uma castração simbólica em Norman, exigindo que ele se aceitasse como uma menina. É também nessa hora que Norma obriga Norman a usar vestido e batom, ativando assim vários gatilhos e distúrbios psicológicos em Norman.
É muito claro que existia um abuso da Norma com o filho. Agora até que ponto ia esse abuso não sabemos, pois o próprio Norman afirmou durante uma de suas ligações que nunca houve um incesto. E todos esses abusos que a mãe estabelecia sobre Norman inevitavelmente ativou o seu gatilho dos ciúmes. Pois quando ela passa a namorar e passa a transar abertamente com seu namorado, isso atacava diretamente a mente de Norman, que naquela altura já estava completamente desequilibrada e perturbada, pois a mãe sempre considerou o Norman como o único homem da casa. Todo esse comportamento da mãe fatalmente levou Norman a cometer o matricídio (assassinato da própria mãe).
Sobre o assassinato da mãe e do seu namorado, o roteiro segue exatamente a história que conhecemos e que vem sendo contada desde o clássico, que foi feito através do envenenamento. Por sinal a partir desse ponto em questão temos algumas cenas bem interessantes e que ficaram boas no contexto geral do filme. O desfecho final eu já acho que perdeu um pouco do peso e da credibilidade que tinha sido conquistada no decorrer de toda a história. Sendo justamente pela a decisão do Norman em levar a sua esposa Connie (Donna Mitchell) até a antiga casa da mãe para assassiná-la juntamente de seu filho que ela estava esperando. Todo discurso que foi criado pelo próprio Norman que o evidencia em tal decisão em matar o próprio filho, eu achei bem questionável. Porém, no final temos uma cena pouco provável, que é justamente aquele desfecho final fofinho e feliz com o poder do amor tocando o coração do Norman Bates, quem diria. Acho que todas aquelas ligações e seus depoimentos lhe serviram como uma terapia para agir dessa forma exatamente no final. Pois ele próprio decide se livrar de tudo que esteja ligado com o seu passado, como a própria casa da mãe, que ele decide tocar fogo em tudo.
É uma sequência de cenas até interessantes, mostrando a mente perturbada de Norman revivendo os fantasmas dos seus assassinatos dentro da casa no meio do incêndio. E no fim ele profere a frase: "Estou Livre!" Por outro lado o porão mostra que o espírito da sua velha mãe jamais sairá dali.
Se em "Psicose 3" temos um elenco completamente medíocre, em "Psicose 4" todos estão bem e funcionam perfeitamente dentro da proposta de cada um para a história.
Pela primeira vez na história o maior destaque de um filme "Psicose" não é o Anthony Perkins e seu lendário Norman Bates. Dessa vez o maior destaque desse elenco é sem dúvida a Olivia Hussey ("Romeu & Julieta", de 1968) e sua admirável Norma Bates. Eu fiquei boquiaberto com o nível de entrega de Olivia Hussey em sua personagem, que por sinal era uma MILF muito irresistível. Era realmente difícil o Norman resistir aos encantos da Norma naquela época, fatalmente ela destruiria toda a sua mente e sua cabeça, como ela realmente fez. Olivia Hussey personificou uma Norma Bates completamente desequilibrada, desestabilizada, perturbada, doentia, perversa, má, soturna, doente, que expunha todos os limites mentais do seu próprio filho, que lhe exigia comportamentos extremos e cruéis, sempre com uma postura depravada, com um sorriso maléfico e uma mente completamente sádica. A personagem Norma Bates foi oferecida a Olivia Hussey, que não precisou fazer qualquer teste para o papel; e ela simplesmente incorporou uma excelente, uma impecável Norma Bates.
Outro fato inédito é a própria apresentação do Anthony Perkins, que dessa vez não era o mesmo Norman Bates que conhecemos, não tinha o mesmo vigor, não teve a mesma relevância, não teve a mesma atuação, ficando bem aquém do que ele próprio já apresentou anteriormente. Olhando para o Perkins em cena fica claro que ele não estava a vontade no personagem como ele sempre esteve, dessa vez algo o incomodava, algo o atrapalhava, ele já mostrava sinais de cansaço, de esgotamento, já nos mostrava estar bem debilitado fisicamente e até mentalmente. Podemos associar tudo isso que eu descrevi pelo fato da sua doença, pois Perkins sofria com AIDS e pneumonia, vindo a falecer com menos de dois anos do lançamento de "Psicose 4". O filme foi lançado nos EUA em 10 de novembro de 1990 e Anthony Perkins faleceu em sua residência na Hollywood Hills em 12 de setembro de 1992, por complicações relacionadas à SIDA (síndrome de imunodeficiência adquirida). O mundo do cinema perdia um artista naquele dia.
Henry Thomas (o Jack Torrance de "Doutor Sono", de 2019) foi outro grande destaque no filme. Henry foi o responsável em dar vida para o jovem Norman Bates, contracenando diretamente com a Olivia Hussey. Henry trouxa a figura de um adolescente assustado, tímido, acanhado, quando o assunto era direcionado à garotas. Sempre mantendo uma postura sisuda, introspectiva, sombria, onde seu principal meio de comunicação era seus pensamentos ocultos. Em cena Henry esteve muito bem no personagem, contracenou perfeitamente com a Olivia e se mostrou muito seguro e muito corajoso.
CCH Pounder (a Mo'at de "Avatar: O Caminho da Água", de 2022) foi a personagem Fran Ambrose, a Locutora do programa de Rádio que o Norman sempre acompanhava e decidiu ligar para contar a sua história. Pounder conseguiu se destacar com sua personagem que a princípio era uma simples locutora interessada na história do Norman, mas logo após ela ganha mais relevância na história quando ela descobre o plano de Norman relacionado ao seu próximo assassinato.
Mick Garris estava fazendo a sua estreia no cinema ao dirigir "Psicose 4". E ele foi até bem nessa sua estreia dentro das suas possibilidades e suas limitações. Já relacionado a trilha sonora, aqui temos a única das sequências de "Psicose" a usar a trilha sonora composta pelo lendário Bernard Herrmann para o filme original. Por sinal a abertura do filme já inicia com aquela clássica música tema de "Psicose". Este é o ponto alto da trilha sonora de Graeme Revell (lendário compositor da icônica trilha de "A Mão Que Balança o Berço", de 1991), o seu poder de nostalgia.
Agora eu trago algumas curiosidades sobre "Psicose 4":
- Quando Norman Bates fala pela primeira vez no programa de rádio ele diz que seu nome é Ed. Robert Bloch, autor do livro o qual "Psicose" foi baseado, criou Norman Bates tendo por base um serial killer verídico chamado Ed Gein, que atacava no estado de Wisconsin, nos EUA.
- O psicólogo deste filme chama-se Leo Richmond, que foi interpretado por Warren Frost. Trata-se de uma referência a Fred Richmond (interpretado por Simon Oakland), personagem de "Psicose" original, de 1960.
- Janet Leigh, estrela de "Psicose" original, apresentou "Psicose 4" em sua primeira exibição na TV americana.
- As filmagens de "Psicose 4" duraram apenas 24 dias, porém vários finais diferentes foram rodados, de forma a manter em sigilo o escolhido.
- Os turistas que visitam o Universal Studios na Flórida podem visitar a casa onde as filmagens de "Psicose 4" aconteceram.
Por fim, temos aqui o quarto e último capítulo da clássica franquia de "Psicose" (pois em 1998 tivemos apenas o contestável remake do original). Assim como já afirmei em minhas análises passadas, de fato o clássico do mestre Hitchcock sempre foi considerado irretocável e autossuficiente, sem nenhuma necessidade de remexer nesse universo que já estava imortalizado e eternizado na cabeça de todos nós cinéfilos. Mas como já é de praxe, a produtora detentora dos direitos comerciais jamais deixaria o filme morrer e muito menos o seu protagonista ser esquecido. Sendo assim o universo de Norman Bates foi revivido e revirado nessas três contestáveis continuações - que por si só todas já soam como continuações desnecessárias e dispensáveis.
Porém, "Psicose 4" é sim um bom filme, que além de tudo ainda teve influências direta na série "Bates Motel" (2013 / 2017), se destacando como uma boa continuação (que funciona como prequela) aceitável e coerente, que consegue prender a nossa atenção com um bom elenco, com um bom roteiro, que confronta fatos do presente e do passado dentro da mesma história, e ainda nos exemplifica como foi a participação direta da Sra. Bates na formação e desenvolvimento de um dos maiores maníacos e psicopatas da história do cinema - o lendário e eterno Norman Bates. [23/06/2023]
Psicose III
2.8 115 Assista AgoraTEM SPOILERS!
Psicose 3 (Psycho III) 1986
"Psicose 3" é o terceiro filme da franquia "Psicose", novamente sendo estrelado por Anthony Perkins, que além de reprisar o papel de Norman Bates, agora ele também dirige o filme. O roteiro é escrito por Charles Edward Pogue. "Psicose 3" não tem relação com o terceiro romance de Robert Bloch, "Psycho House", pois o mesmo foi lançado em 1990.
O filme se passa um mês após os eventos de "Psicose 2", onde Norman Bates ainda dirige o Motel Bates com o cadáver da Sra. Emma Spool (Claudia Bryar) ainda abrigado em sua casa. Maureen Coyle (Diana Scarwid), uma freira suicida por quem Norman se apaixona, chega ao Motel junto com um vagabundo chamado Duane Duke (Jeff Fahey). Uma repórter também tenta resolver o misterioso desaparecimento da Sra. Spool enquanto alguém começa outra onda de assassinatos.
"Psicose 3" marca a estreia de Anthony Perkins como diretor. E ele já abre seu filme prestando uma verdadeira homenagem ao seu grande mentor, o eterno mestre Alfred Hitchcock. Pois bem, a cena de abertura nos mostra uma noviça que se encontra em um estado suicida no topo de uma torre de uma igreja. Logo após a madre superiora despenca lá de cima quando ela tentava recobrar a razão da jovem freira, que sempre proferia a frase "Deus não existe!", e na cena a câmera pega exatamente o ângulo de cima da madre caindo. Ou seja, temos ali uma clara referência ao filme "Um Corpo que Cai" (Vertigo, de 1958) do mestre Hitchcock. Achei muito interessante que na sua estreia como diretor, Perkins decidisse criar uma cena que tivesse ligações direta como toda a sua história em "Psicose 3", porém soando como uma grande homenagem ao eterno mestre do suspense.
Anthony Perkins queria ir mais além em suas homenagens ao mestre Hitchcock, pois ele sugeriu que "Psicose 3" fosse rodado em preto e branco (como uma homenagem ao clássico de 1960), porém a Universal Pictures vetou a sua ideia. Eu acredito que na década de 60 essa decisão em rodar a obra em preto e branco foi uma decisão acertada do mestre Hitchcock, até pela censura da época e para não chocar o público também da época. Já nos anos 80 a censura já não era assim tão rígida, as produções cinematográficas já apresentavam melhor todo o gore em seus slasher movies. É claro que a Universal Pictures queria potencializar a violência e o gore em "Psicose 3", queria demonstrar a violência extrema de um dos maiores maníacos e psicopatas da história do cinema em cores.
Em "Psicose 2" eu afirmei que a obra-prima do mestre Hitchcock era autossuficiente e irretocável, sem nenhuma necessidade em criar continuações ou remakes. Logo todas as produções que vieram após o clássico de 1960 eu considero como desnecessárias e dispensáveis. "Psicose 2" também entra na lista de continuações desnecessárias e dispensáveis, porém o roteiro do filme é interessante e constrói uma nova história que soa intrigante e desperta a nossa curiosidade. Que é justamente toda abordagem acerca do Norman Bates e sua reabilitação se referindo ao seu comportamento quando ele volta a reintegrar uma sociedade. Ou seja, por mais autossuficiente que a obra-prima do mestre Hitchcock foi, mas "Psicose 2" ainda é aceitável dentro desse universo como uma continuação do clássico. Já em "Psicose 3" eu não posso afirmar o mesmo.
"Psicose 3" é a verdadeira personificação de uma continuação completamente desnecessária e dispensável. O roteiro é péssimo, vergonhoso, pífio, onde o mesmo é mal escrito, mal desenvolvido, mal projetado, nos trazendo uma história sem nenhum sentido, sem agregar absolutamente nada e sem nenhuma relevância dentro do universo "Psicose". O roteiro de "Psicose 3" é inteiramente perdido e totalmente bagunçado, pois é nítido como o roteirista se perdeu ao escrever um texto que passa o tempo todo tentando se achar e atirando para todos os lados. Pois aqui temos tantos personagens e tantas histórias se misturando e se esbarrando uma na outra, que no fim nenhuma foi bem abordada e nenhuma teve um fechamento no mínimo interessante.
Vamos lá:
Temos a história da noviça revoltada, atormentada e perturbada, que foge do convento e vai para o Motel, e depois novamente tenta se suicidar e vê uma aparição da Virgem Maria. Temos um zé ninguém que se intitula músico e decidi aceitar o emprego no Motel Bates unicamente para levantar uma grana e depois cair fora. Temos uma repórter se intrometendo na vida do Norman pelo fato dela querer saber mais sobre a sua história para um artigo sobre serial killers que ela está preparando. Ou seja, temos uma mistureba só, uma verdadeira salada de fruta do roteiro.
Em "Psicose 2" eu também afirmei que o roteiro se mostrava até autêntico, sem precisar fazer uso de uma cópia barata do clássico sessentista. Novamente não posso dizer o mesmo de "Psicose 3". Pois aqui me soa como uma cópia barata exatamente na decisão em trazer a personagem Maureen Coyle com uma extrema semelhança da personagem clássica da Marion Crane (Janet Leigh). E a explicação era justamente que a personagem se assemelhasse ao máximo com Marion para causar um transtorno e perturbar a mente do Norman Bates, que obviamente iria se lembrar de todo o ocorrido na clássica cena do chuveiro. Sem falar que ainda colocaram as iniciais MC em sua mala para confundir ainda mais a mente perturbada do Norman, que logo desperta um desejo por ela. Não gostei dessa construção na história, achei totalmente sem criatividade e só mostra a extrema fragilidade e superficialidade desse roteiro.
Novamente temos toda abordagem sobre a figura oculta da Sra. Bates, que agora nada mais é do que a Sra. Spool. E aqui entra mais um ponto confuso e mal desenvolvido desde o final de "Psicose 2", que é todo esse discurso de quem é mãe e quem é tia de Norman Bates. "Psicose 3" perdeu muito a sua essência e o seu teor de suspense, de mistério, de sombrio e consequentemente do terror. Agora temos uma verdadeira farofa que passa por investigativo, sobrenatural, romance, cenas eróticas e até analogias religiosas. Sem falar que aqui as mortes são mais violentas se comparadas com os filmes anteriores, tem mais sangue, mais gore, praticamente um slasher movie oitentista. Porém, as mortes podem até ser mais violentas pela presença do sangue mais explícito, mas não deixam de ser mortes bem patéticas.
Outro ponto bastante questionável em "Psicose 3" é justamente às tentativas em construir reviravoltas coerentes dentro da história - o que não deu lá muito certo! Inicialmente o roteiro de Charles Edward Pogue (junto com a vistoria de Anthony Perkins) indicava que o personagem Duane fosse o verdadeiro assassino da história, ao copiar os passos de Norman Bates reproduzindo os crimes por ser obcecado pelo psicopata. Logo a Universal Pictures vetou a ideia, alegando que o vilão do filme precisava ser Norman Bates (como sempre). A própria Maureen não seria a noviça rebelde, ela seria uma psiquiatra neurótica que foi enviada para substituir o Dr. Raymond (Robert Loggia) do filme anterior. E pasmem, a personagem da noviça estava sendo designada para ninguém mais ninguém menos que a Janet Leigh (a icônica Marion Crane), que voltaria como uma outra personagem para atormentar a mente de Norman Bates. Eu confesso que fiquei curioso se esta decisão do roteiro tivesse sido levado adiante, porém, novamente a Universal vetou essa ideia.
O elenco de "Psicose 3" não tem nenhum destaque e nenhuma relevância, tirando obviamente o Anthony Perkins.
Perkins já é a personificação de Norman Bates, já está imortalizado e eternizado no personagem. E aqui novamente ele dá um verdadeiro show na pele do psicopata, sendo perfeito e impecável em 100% das suas cenas (não tem como, ele é magnífico).
Diana Scarwid foi até esforçada em sua personagem Maureen.
O mesmo vale para o Jeff Fahey e seu depravado e desocupado Duane Duke.
Já a Roberta Maxwell é totalmente perdida na história junto com sua personagem Tracy.
Se na questão da interpretação de Norman Bates o Anthony Perkins é um verdadeiro mestre, já não posso dizer o mesmo dele como diretor, que obviamente deixou a desejar e infelizmente não aconteceu. Já na questão da trilha sonora, Perkins abordou pessoalmente o compositor Carter Burwell para que ele se encarregasse da trilha de seu filme. Já que Perkins havia gostado do seu primeiro trabalho em "Gosto de Sangue" (de 1984 dos irmãos Coen). Perkins afirmou que queria levar a trilha sonora de seu filme em uma direção mais contemporânea do que Jerry Goldsmith fez para sua trilha mais tradicional em "Psicose 2".
"Psicose 3" arrecadou $ 3,2 milhões no fim de semana de estreia e arrecadou $ 14,4 milhões nas bilheterias domésticas dos Estados Unidos com um orçamento de $ 8,4 milhões, tornando-se o capítulo menos rentável da franquia "Psicose".
Infelizmente "Psicose 3" não aconteceu, não conseguiu chegar nem perto do horror elementar do clássico e se tornou apenas mais um capítulo perdido no meio de toda a franquia. Com certeza aqui temos o velho caso de uma continuação infundada, desnecessária e dispensável, que tenta desesperadamente envolver o espectador com um roteiro péssimo, cheio de incongruências, com um elenco medíocre e um final irrelevante. Uma verdadeira mancha no universo de "Psicose". [17/06/2023]
Psicose 2
3.3 213 Assista AgoraPsicose 2 (Psycho II) 1983
"Psicose 2" é dirigido por Richard Franklin, escrito por Tom Holland e estrelado por Anthony Perkins, Vera Miles e Meg Tilly. É a primeira sequência do eterno clássico "Psicose" do mestre Alfred Hitchcock de 1960 e o segundo filme da franquia "Psicose". Situado 22 anos após o original, o longa segue Norman Bates (Perkins) depois que ele é liberado da instituição mental e retorna para a casa e para o Bates Motel para continuar uma vida normal. No entanto, seu passado conturbado continua a assombrá-lo quando alguém começa a assassinar as pessoas ao seu redor. O filme não tem relação com o romance "Psicose 2" de 1982 de Robert Bloch, que ele escreveu como uma sequência de seu romance original de 1959, "Psicose".
Recentemente eu tive a honra de ler a obra-prima de Robert Bloch - "Psicose". É de fato uma experiência incrível, surreal, arrebatadora, envolvente, misteriosa, enigmática e bastante sombria. Virou um dos meus livros da vida, principalmente por colocá-lo como um dos maiores thrillers da literatura de todos os tempos. Já esta continuação - "Psicose 2" - eu confesso que desconhecia da sua existência, sequer tinha imaginado que o Robert Bloch havia escrito uma segundo livro como continuação de "Psicose". Ainda não pesquisei, mas acho que deve ser difícil encontrar versões em português.
Com a ideia de fazer uma continuação do clássico de 1960, a Universal decidiu contratar o desconhecido (na época) Tom Holland para escrever o roteiro (mais tarde ele seria conhecido como o lendário diretor de "A Hora do Espanto", de 1985, e "Brinquedo Assassino", de 1988). A Universal queria que o Tom Holland escrevesse um roteiro totalmente diferente, já que essa continuação não foi baseada no segundo livro da sequência de "Psicose" de Robert Bloch. Já a direção ficou a cargo do diretor australiano Richard Franklin, aluno do mestre Hitchcock. O filme marcou a estreia de Franklin no cinema americano.
Primeiramente vamos deixar um ponto bem claro aqui: "Psicose" (1960) é um clássico irretocável, uma obra-prima da sétima arte, uma obra de arte impecável, um dos melhores filmes de suspense de todos os tempos, livre de qualquer comparação, amarração ou semelhança. Ou seja, é uma obra única, imortalizada e completamente eternizada em todos os corações cinéfilos. Disto isto, idealizar e construir uma continuação de uma obra como "Psicose", de fato é uma tarefa extremamente difícil, até para o próprio Hitchcock, que é simplesmente o eterno mestre do suspense e um dos maiores diretores da história do cinema.
Obviamente seria mais do que normal e aceitável que todo mundo criasse um certo bloqueio referente à esta obra, até por achar uma continuação completamente desnecessária e dispensável. E se analisarmos friamente de fato é uma continuação desnecessária e dispensável, que ninguém pediu, que não clamava por urgência, pois o clássico de 1960 já é autossuficiente, ou seja, não precisava ser revivido e ter uma continuação. Porém, devo confessar que aqui temos algo improvável, que parecia impossível de acontecer, que é justamente uma continuação de uma obra irretocável que não mancha a sua história e o seu legado, e ainda consegue prender a nossa atenção como uma nova construção na história que desperta a nossa curiosidade nos fazendo criar novas expectativas inseridas em um ótimo suspense (apesar das revelações finais serem ruins).
O maior acerto dessa obra é construir a sua própria identidade e não soar como uma simples cópia do clássico, o que naturalmente seria o mais provável. Outro grande acerto foi reviver o Norman Bates e a Lila Crane (que agora passou a ser Lila Loomis) sendo interpretados novamente por Anthony Perkins e Vera Miles. Só faltou mesmo o mestre Hitchcock novamente na direção, mas infelizmente ele havia falecido três anos antes, em abril de 1980.
O roteiro de "Psicose 2" pode até ser questionável nas partes finais, mas é de fato inteligente e foi bem idealizado. Pois é interessante essa ideia de redenção do Norman Bates, de poder ser reabilitado e reintegrado na sociedade, de poder conviver em sociedade, ter um emprego normal, tentar ser uma pessoa normal. Apesar de particularmente eu não acreditar muito em reabilitação, e no caso do Norman Bates, acredito que ele jamais será reabilitado e libertado da sua mente deturpada. E mais interessante ainda é o fato de parecer que realmente ele quer ser reabilitado e reintegrado na sociedade (pelo menos inicialmente é isso que nos passa). Outro ponto que eu achei bem curioso e soa muito intrigante para o desenrolar de toda a história, é o fato de usarem a própria Lila (irmã da Marion) para idealizar uma vingança contra o Norman Bates que foi libertado da justiça.
"Psicose 2" já me ganhou em sua cena de abertura, que nada mais é do que a lendária cena do chuveiro do clássico. Esta é uma das cenas mais emblemáticas da história do cinema, ainda mais por contar com aquela trilha sonora inquietante, estridente e perturbadora, e poder rever novamente esta cena é no mínimo um deleite perturbador para qualquer cinéfilo. Ao longo do filme temos várias referências ao clássico, como os inúmeros enquadramentos, as tomadas de câmeras, os takes e os focos mais fechados nos personagens. Realmente o diretor foi um bom pupilo do mestre Hitchcock e soube homenagear com dignidade o seu grande mentor.
O longa-metragem segue nos trazendo cenas novas e cenas que fazem referência ao clássico: como aquela cena do primeiro contato do Norman ao voltar a empunhar uma faca após anos de seu tratamento. Realmente foi uma cena bem interessante e condizente como o contexto daquele momento na história. Temos a cena que homenageia a clássica cena do chuveiro na banheira, dessa vez sendo vivida pela Mary (Meg Tilly), que diga-se de passagem, que atriz linda na época, e que ainda conta com uma belíssima nudez durante a cena (que dessa vez foi possível de acordo com a censura da época). Nessa cena eu sinceramente achei que teríamos um remake do assassinato, ainda mais pelo fato da câmera focar no famigerado buraco na parede com aquela suspeita de alguém estar observando naquele momento.
Outro ponto que "Psicose 2" consegue manter bem em relação ao clássico, é todo clima intrigante que vai se instalando com o passar do tempo, da construção de um suspense bem palatável, de nos envolver com um ar misterioso e soturno em torno dos acontecimentos acerca de Norman Bates. Estou me referindo justamente sobre a decisão de manter o sombrio, o oculto e o mistério em volta da possível Sra. Bates, que realmente foi uma ideia boa e funcional, principalmente pelas constantes aparições daqueles bilhetes ameaçando a Mary. A própria figura da mãe reaparecendo na janela para o Norman só mostrava o quanto a sua mente ainda continuava deturpada e perturbada, ou sempre esteve. Por mais que depois descobrimos quem estava por trás de todos esses acontecimentos, e que por sinal é uma revelação bem brochante.
Este é o ponto mais questionável de todo o roteiro do filme:
Confesso que a ideia em trazer a Lila para se vingar do Norman foi uma ideia boa, afinal de contas ela não aceitava a sua reintegração na sociedade e a sua possível redenção pelo assassinato de sua irmã (eu no lugar dela também não aceitaria). Mas daí você construir todo um Plot twist que revelava que a Mary era a filha da Lila (sobrinha da falecida Marion), e que ela e a mãe estavam mancomunadas em um plano para desestabilizar o Norman e perturbar novamente a sua mente para conseguir que ele voltasse a ser condenado e voltar para o centro psiquiátrico, é no mínimo uma ideia muito ruim e sem nenhuma criatividade relevante. Sem falar que toda aquela ideia dos bilhetes ameaçadores em nome da Sra. Bates e as suas aparições na janela da casa para o Norman, serem obras da Lila e da Mary, é uma péssima escolha do roteiro.
E pra piorar, no final o roteiro desanda de vez ao apresentar cenas que são ridículas e patéticas, que nem serve como uma vingança...como na cena em que a Mary se veste de Sra. Bates e sai dando pequenas facadas no Norman, ou seja, é uma cena péssima, sem nenhum sentindo, sem nenhuma relevância para a história, que soa vergonhosa e risível. E ainda vai além, quando ela finalmente parece que vai vingar no porão a morte da tia e da mãe, o Xerife simplesmente aparece e dá um tiro nela livrando a pele do Norman mais uma vez.
Até então tínhamos um bom roteiro, que soube construir uma história até curiosa e interessante, e que vinha muito bem até estas partes mencionadas. Mas essas escolhas finais jogou pelo ralo grande parte de todo acerto que foi construído durante todo o filme.
Não posso esquecer de mencionar a cena de fechamento do filme, onde temos uma curiosa aparição da Sra. Spool (Claudia Bryar) como a possível mãe verdadeira de Norman Bates. Ou seja, toda essa historinha do Norman ser adotado, da mãe fake, definitivamente não me agradou e não me convenceu. Temos aqui mais um caso que não precisaria ser mexido, que também estava autossuficiente no clássico de 1960. Pelo menos o Norman deu o mesmo final para mais uma mãe (kkk), que é o famoso chá com veneno. Agora aquela pazada no final foi muito boa hein! Dessa cena eu gostei (kkk). Agora que ele matou a Sra. Spool e a levou para o mesmo quarto da outra mãe, parece que recomeçou tudo de novo, que é ele imitar a voz da mãe junto com a dele, igual já constatamos anteriormente. Seria este o gancho para o terceiro filme?
Sem dúvida a melhor parte dessa continuação é poder contar com a monstruosa interpretação de Anthony Perkins revivendo um dos maiores maníacos e psicopatas da história do cinema - o lendário Norman Bates. Dessa vez com mais de 20 anos longe do personagem, Perkins não decepciona, pelo contrário, ele mostra ter guardado todos os trejeitos, todas as expressões, todas as facetas, toda linguagem corporal técnica e artística do equiparável Norman Bates. Anthony Perkins nasceu para o papel de Norman Bates, onde permanecerá para sempre com esta estigma, e novamente nos surpreendendo com um atuação completamente genial, impecável, irretocável e perfeita na pele do inesquecível Norman Bates.
Vera Miles foi uma grata surpresa no filme, pois eu realmente não esperava que algum dia ela pudesse reviver a sua lendária segunda protagonista do clássico "Psicose". Anteriormente como Lila Crane e agora como Lila noomis, ou seja, ela de fato se casou com o Sam Loomis (personagem do John Gavin) após os eventos finais do clássico. Lila pensou: "minha irmã morreu mesmo, não vai mais voltar, então eu caso com o seu namorado." Boa Lila (kkk). Vera desenvolve bem o seu papel de irmã inconsolada, e quando ela revela todo o seu plano ela fica ainda mais furiosa e sedenta pela vingança. Apesar que é nessa hora que eu vejo a sua atuação ficar muito caricata, com aquele ar de antagonista canastrona, onde cai um pouco de qualidade. Mas no geral foi muito bom rever a lendária Lila.
Meg Tilly foi a principal adição do elenco de "Psicose 2". E digo mais, ela foi a principal estrela ao lado de Anthony Perkins e da Vera Miles. O que causou um grande ciúmes em Perkins, pois a imprensa em geral deu mais atenção à presença da jovem (com 23 anos na época) do que a sua própria presença. Perkins tentou por diversas vezes demiti-la do elenco do filme, porém todas tentativas sem sucesso. Meg Tilly realmente se sobressaiu dos demais do elenco, tanto pela sua beleza (que era estonteante), quanto pela sua competência na personagem. E olha que ela teve participação fundamental em todo desenrolar do roteiro, sendo peça-chave ao final. Ela de fato mandou muito bem.
Tecnicamente a obra é muito bem feita e muito caprichada.
Posso destacar a direção de arte que é muito boa, preservou muito bem a memória do clássico do mestre Hitchcock. Como por exemplo todos os cenários serem muito bem condizentes com aquele universo do Norman Bates, onde até a mesma casa usada no clássico foi utilizada para rodar esta sequência, sendo que o motel foi reconstruído. Já sobre a trilha sonora, o grande gênio John Williams foi considerado para fazer a trilha sonora do filme, mas acabou ficando com o compositor Jerry Goldsmith (o lendário compositor de "Instinto Selvagem", de 1992). Goldsmith era amigo de longa data do Bernard Herrmann (compositor do clássico de 1960). Devo dizer que Goldsmith fez um trabalho decente, conseguiu deixar bem a sua marca nesse universo clássico.
"Psicose 2" arrecadou US$ 34,7 milhões nas bilheterias com um orçamento de US$ 5 milhões. Foi seguido por "Psicose 3" (1986) e "Psicose 4 - A Revelação" (1990), além de um polêmico remake lançado em 1998.
Concluo afirmando que eu nunca fui a favor de remakes e continuações em certas obras que são autossuficientes e irretocáveis, que é justamente o caso do clássico "Psicose". Contudo, "Psicose 2" é uma continuação decente, que soube respeitar a essência da obra original e construir a sua própria história sem se passar por uma cópia barata - por mais que as partes finais eu considere ruins.
Mas como um todo eu acho que valeu a tentativa, principalmente por trazer de volta dois ícones do clássico, que são o Anthony Perkins e a Vera Miles. Acredito que o mestre Alfred Hitchcock nem se revirou tanto assim em seu túmulo. [15/06/2023]
Breaking Bad (1ª Temporada)
4.5 1,4K Assista AgoraBreaking Bad (1ª Temporada) 2008
"Breaking Bad" é uma série americana criada e produzida por Vince Gilligan (roteirista da lendária série "Arquivo X", dos anos 90) para a AMC. Situada e filmada em Albuquerque, Novo México, a série segue Walter White (Bryan Cranston), um professor de química do ensino médio mal pago, superqualificado e desanimado que está lutando com um diagnóstico recente de câncer de pulmão em estágio três. White se volta para uma vida de crime e faz parceria com um ex-aluno, Jesse Pinkman (Aaron Paul), para produzir e distribuir metanfetamina para garantir o futuro financeiro de sua família antes que ele morra, enquanto navega pelos perigos do submundo do crime.
Já inicio afirmando que "Breaking Bad" é a melhor série do século, a verdadeira obra-prima das séries e está simplesmente entre as melhores séries já criadas em toda a história. Sim, eu sou mais um louco completamente fissurado nessa série. Mais um na extensa lista dos que consideram esta série completamente perfeita em todos os sentidos.
O que mais me surpreende em "Breaking Bad" é sem dúvida o roteiro, que é absurdamente impecável e genial em todos os quesitos. Pois aqui temos uma obra que navega no drama, no investigativo, elaborando todo um Thriller policial, que permeia todos os acontecimentos acerca da principal figura da série, que é exatamente o Sr. Walter White. Toda história de "Breaking Bad" é obviamente fictícia, mas facilmente podemos encaixá-la em nossa própria vida, em nosso próprio cotidiano, pois a partir do momento em que somos confrontados com a figura do Sr. White, um professor de química que leva uma vida monótona e frustrada, que tem que desempenhar o seu papel de pai e chefe de família, que obviamente passa pelo fato de ter um filho deficiente, facilmente podemos logo se identificar com toda a sua história.
E é exatamente dessa forma que a história transcorre inicialmente, nos apresentando e nos imergindo na história da vida de Walter White. O roteiro da série nos surpreende e se mostra ainda mais interessante a partir do momento em que somos confrontados com o Sr. White descobrindo a existência de um câncer de pulmão, sendo que essa descoberta também lhe traz a notícia que ele terá pouco tempo de vida pela frente. Ou seja, o que se passará na cabeça do Sr. White a partir dessa descoberta? O que ele estará pensando a partir do momento em que se vê diante dessa gravíssima situação, ainda mais sendo confrontado com a sua questão financeira, que não é um das melhores, e ainda com a condição de uma esposa grávida?
Realmente é muito difícil se colocar na pele do Sr. White e se imaginar naquela situação e naquelas condições. A recente descoberta do seu câncer de pulmão logo o obriga a tomar certas decisões enquanto ainda há tempo de vida, e qual é a sua principal decisão? Sim, o Sr. White sendo um expert em química e tendo o conhecimento dos altos lucros financeiros desse submundo, ele passa a criar e vender a sua própria metanfetamina. E quem aqui vai julgá-lo pela sua decisão? Quem aqui também não pensaria em fazer exatamente o que ele fez? Quem aqui não pensaria em usar todo o seu conhecimento em química para faturar um bom dinheiro para deixar a sua família em condições melhores após a sua morte? Por mais que seja errado, por mais que seja ilícito, por mais que você saiba das consequências que esta decisão pode lhe trazer, mas você já tem pouco tempo de vida, se você for preso você vai morrer de qualquer jeito, então porquê não deixar o seu filho deficiente e a sua filha que vai nascer financeiramente melhor? Muitos podem afirmar que jamais fariam isso, que jamais tomariam esta decisão, mas todos nós não conhecemos os nossos reais limites quando estamos em certas situações. O ser humano é capaz de tudo, ainda mais quando se sente ameaçado e em uma situação de emergência.
Outro ponto muito interessante é o alerta que a série nos faz em relação à nossa organização financeira, em outras palavras, a nossa forma em ter um controle financeiro dentro da nossa família. Uma reserva financeira garante mais tranquilidade para lidar com situações adversas, ou seja, exatamente as questões que o Sr. White iria enfrentar a partir do momento que descobriu o câncer. Obviamente ele foi pego desprevenido financeiramente na questão do tratamento da sua doença.
A primeira temporada de "Breaking Bad" deveria contar com nove episódios, porém foi reduzida devido à greve dos roteiristas americanos que ocorreu naquele ano (e que voltou a acontecer atualmente). E mesmo com a redução de dois episódios, a primeira temporada ficou perfeita, conseguiu elaborar muito bem cada acontecimento, onde a cada episódio íamos se afeiçoando cada vez mais com o Sr. White e com a sua história.
O primeiro episódio é exatamente aonde começamos a descobrir a arte do mundo da química. O Sr. White é um artista, da sua maneira mas ele é um artista. Um fato muito curioso e pertinente: temos aqui um professor de química que tem que se submeter à um tratamento de quimioterapia.
No segundo episódio temos aquela bizarra cena da banheira demolindo o teto da casa do Pinkman.
O terceiro episódio nos traz uma reflexão sobre o Sr. White; de fato ele não é um criminoso, pelo menos ainda, ele está nessa unicamente pelo dinheiro para deixar para a sua família. Tudo isso se resume bem na cena em que ele sofre ao pedir desculpas após ter matado enforcado o Krazy-8 (Maximino Arciniega). Por sinal antes da morte temos uma cena que nos surpreende, quando os dois conversam e revive suas histórias do passado.
A partir do episódio quatro em diante, é onde a série é envolvida por um peso dramático ainda maior. Pois temos a surpresa da revelação do câncer para toda a família. Temos a corrida contra o tempo em busca de um tratamento, tratamento este que ainda tem que passar pela a aceitação do Sr. White.
O sexto episódio é bem chocante, pois é nesse episódio que o Sr. White raspa a cabeça e sai do modo defesa e parte de cabeça para o modo ataque (quando ele vai enfrentar o líder traficante). Aquela cena final da explosão foi antológica. Que cena maravilhosa!
Já o sétimo (e último) episódio, é onde temos algumas revelações surpreendentes. É realmente incrível quando sequer imaginamos que ao nosso redor tem pessoas que fazem parte da nossa família e que fazem coisas ilegais. Este é o poder que esta série tem, pois pode não parecer, mas ela traz várias reflexões, você começa a refletir sobre as motivações de cada um, nos objetivos de cada um, nas pretensões de cada um. É simplesmente fantástico!
Uma série fantástica precisa contar com um elenco fantástico!
Bryan Cranston (lendário em várias séries dos anos 90) é um grande ator, que já teve vários personagens importantes ao longo da sua carreira cinematográfica. Porém, ele ficou estigmatizado pelo Sr. Walter White. Um trabalho absurdo, uma atuação irretocável, um personagem que lhe caiu como uma luva, que sequer eu poderia imaginar outra pessoa em seu lugar. Completamente eterno!
Aaron Paul (da série "Westworld") foi o contraponto perfeito do Bryan Cranston. Paul soube incorporar a figura do Jesse Pinkman exatamente da forma como o roteiro precisava e pedia. Pinkman era aquele parceiro problemático, descontrolado, impulsivo, que metia os pés pelas mãos, que tomava decisões erradas, se mostrando completamente ao inverso do Sr. White. Acho que é por isso que essa dupla improvável deu tão certo dentro da série. Na minha opinião, a interpretação do Aaron Paul casou perfeitamente com o Jesse Pinkman.
Anna Gunn (da série "Shades of Blue") é uma personagem um tanto quanto improvável. Skyler White é a personificação da esposa que vive dentro do seu mundo, presa na sua bolha, que não enxerga um palmo na frente do seu nariz. Quando ela descobre a doença do marido ela quer correr contra o tempo, tomando muita das vezes até decisões precipitadas sem o consultar. Achei uma atuação muito boa da Anna Gunn, bastante condizente com uma personagem que se mostra bem resistente no que deseja.
Dean Norris (do clássico "O Vingador do Futuro", de 1990) é o agente da DEA, Hank. É muito interessante o propósito do Hank dentro da série, até por ele ser o inverso do Sr. White (ou não). Era como estar no terreno do inimigo sem perceber.
Já a Betsy Brandt (da série "Only Murders in the Building") faz o papel daquela irmã bem peculiar, que a gente confia desconfiando, que morde e assopra. A cleptomaníaca Marie é uma figura bem inusitada dentro da série.
RJ Mitte ("Banho de Sangue", de 2018) tem paralisia cerebral na vida real, embora a sua seja uma forma mais branda, que o possibilita de atuar. Walter Jr é aquele filho sempre preocupado com o pai, principalmente após descobrir da existência da sua doença, o que o deixa bem revoltado com a situação.
A primeira temporada de "Breaking Bad" recebeu inúmeros prêmios e indicações, incluindo quatro indicações ao Emmy Award e vencendo em duas categorias. Bryan Cranston venceu como melhor ator de série dramática e Lynne Willingham ganhou como melhor edição de série dramática. Vince Gilligan foi indicado ao melhor diretor de série dramática pelo episódio piloto e John Toll foi indicado ao prêmio de melhor cinematografia para séries de até uma hora pelo episódio piloto. Cranston também ganhou o Satellite Award como melhor ator em série dramática. A série também foi indicada como Melhor Novo Programa do Ano (TCA Awards). A série também ganhou três indicações ao Writers Guild of America Award, vencendo uma categoria. Ela foi indicada como melhor série, Patty Lin foi indicada ao Melhor Episódio Dramático por "Gray Matter" e Vince Gilligan venceu como melhor Episódio Dramático pelo episódio piloto.
Tecnicamente a série também é impecável!
Temos uma excelente trilha sonora de Dave Porter, que além das suas composições a série também usa músicas de outros artistas. A cinematografia é muito bem trabalhada. O mesmo vale para a direção de arte, que soube regrar cada detalhe com bastante atenção de acordo com o padrão da série. Sem falar na montagem, edição, mixagem de som e direção de cada episódio, tudo completamente perfeito, sem uma falha. Realmente é um absurdo o que esta série entrega até em questões técnicas e artísticas.
A primeira temporada de "Breaking Bad" foi o pé na porta, foi a entrada triunfal, foi o início desse fenômeno mundial, dessa aclamadíssima série, que por sinal é merecidíssima de todos os elogios e reconhecimentos possíveis. "Breaking Bad" é a nossa verdadeira droga, a nossa verdadeira dependência química, pois temos aqui toda a magnitude dessa obra em nos apresentar uma primeira temporada com um roteiro inteligente, muito bem escrito, muito bem trabalhado, muito bem pensado, que nos confronta com uma história que podemos nos identificar, onde temos situações que misturam realidades com situações bem extremas. Genial!
É muito difícil você encontrar aquela obra perfeita, aquela obra irretocável, aquela obra primorosa, aquela obra peculiar, e "Breaking Bad" é esta obra perfeita, é esta obra triunfal, é esta obra impactante, é esta obra magnífica.
Aquela verdadeira obra-prima das séries!
Top 1 na minha lista de melhores séries de todos os tempos!
Sem mais! [11/06/2023]
⭐⭐⭐⭐⭐
👏👏👏👏👏
O Exorcismo de Emily Rose
3.5 1,5K Assista AgoraO Exorcismo de Emily Rose (The Exorcism of Emily Rose) 2005
"O Exorcismo de Emily Rose" é dirigido por Scott Derrickson, roteirizado pelo próprio Derrickson e por Paul Harris Boardman ("Livrai-nos do Mal", de 2014). O filme narra a história da jovem estudante Emily Rose (Jennifer Carpenter), que morre em um exorcismo depois de ser possuída por forças demoníacas. Agora, o ceticismo da advogada Erin Bruner (Laura Linney) é posto à prova quando ela deve defender no tribunal o padre Richard Moore (Tom Wilkinson) que exorcizou Emily.
"O Exorcismo de Emily Rose" é surpreendentemente baseado em uma história real: em 1968 aos 16 anos, Anneliese Michel, uma jovem alemã católica, começou a apresentar sintomas e comportamentos que foram diagnosticados como epilepsia aliado a um quadro de esquizofrenia, após diversos episódios de convulsão. A partir de então, a menina entrou em depressão profunda e tentou suicidar-se algumas vezes. A família de Anneliese, que era muito devota da Igreja, começou a acreditar que seu caso não era médico e sim sobrenatural. Durante os dois anos em que passou por exorcismos, Anneliese perdeu muito peso e ficou extremamente fraca. Em 1 de julho de 1976, Anneliese morreu durante o sono, como resultado da recusa em se alimentar e beber água, principalmente durante as sessões de exorcismo. O relatório da autópsia indicou que a causa da morte foi por desnutrição e desidratação de quase um ano de inanição.
Temos aqui uma excelente obra do terror que mistura o místico e o sobrenatural com o suspense, com o drama e com o investigativo. A forma como roteiro foi escrito e transplantado para a tela é de uma inteligência e de uma eficiência absurda. O roteiro de "O Exorcismo de Emily Rose" é sem nenhuma dúvida o melhor roteiro que eu já vi em um filme de terror. Pois a forma como se basearam na história real da vida e morte da jovem Anneliese, usando aquele contraponto entre a ciência e a religião, expondo os dois lados da história, que confrontava exatamente com a crença de cada um ali presente no tribunal, é no mínimo surpreendente e totalmente intrigante.
A principal questão aqui é justamente a forma como muitas pessoas vão de encontro com a obra, pois muitos se surpreendem exatamente na questão da abordagem diversificada do roteiro, e muitos se frustram pelo fato do filme não priorizar somente o terror, o susto, ou os famosos jumpscare (que é o que muitos esperam). A cereja do bolo desse maravilhoso roteiro é exatamente o poder que ele tem em desafiar o nosso subconsciente, a nossa crença, a nossa fé, a nossa doutrina, o nosso ceticismo e o nosso ateísmo. O maior destaque aqui é o respeito que o roteiro tem pela história real, por não tratar a história de forma gratuita, por não vulgarizar e banalizar o caso, por mostrar uma análise autêntica e verdadeira dos fatos que ocorreram. De fato o roteiro abre um leque de possibilidades que te dá margens para construir a sua crença, para você analisar cada história e decidir em qual acreditar.
"O Exorcismo de Emily Rose" é um terror que se sobressai dos demais exatamente por trazer uma construção que não é 100% baseada naquele terror que vai te assustar à todos os momentos, que vai te colocar pânico em todas as cenas, pois aqui temos toda uma parte analítica do caso, que envolve a medicina e sua opiniões, juntamente com a religião e sua fé. Essa guerra que é travada no tribunal mostra todas as consequências de um exorcismo falho entre seus mais variados aspecto, o que é logo confrontado com a ciência e seus termos éticos, e a política e seus termos jurídicos e investigativos. O que de fato temos é um grande embate envolvendo a arquidiocese e a medicina. Exatamente por isso que a obra em si não é feita unicamente para assustar, mas sim para explorar a sua capacidade de pensar dentro de uma temática de terror.
Outro ponto bastante interessante dentro do roteiro é a forma como é tratada a imprudência e a negligência, tanto religiosa quanto médica. Sendo um problema mental ou de possessão, ambos os lados mostraram uma certa negligência no caso. A medicina acreditava que Emily era patológica, que ela era epilética e psicótica, que ela apresentava ataques com sintomas de esquizofrenia, alucinações visuais e às vezes paranoia. Baseado no diagnóstico médico, os ataques que a Emily tinha poderiam paralisar as articulações do seu corpo e o contorcer levemente, e as sua pupilas se delatar. Ou seja, podem ser considerados como sintomas médicos, mas também são causas de possessão demoníaca, pela opinião da Igreja. Já a negligência pelo lado da religião se dá exatamente no fato de expor a vítima ao extremo da sua fé e da sua crença religiosa, de subjugar os limites humanos quando a pessoa está completamente debilitada. Sem dúvida é o maior caso de um confronto entre a psiquiatria e a religião já abordada nesse gênero cinematográfico.
Outro lado que o filme explora é o agnosticismo. A própria advogada de defesa (Erin Bruner) se autoproclama como uma pessoa agnóstica, que não acredita na existência de Deus ou de qualquer outra divindade. Ela realmente acredita que não existe qualquer conhecimento efetivo que comprove a existência ou não existência de um deus. Porém, na medida que o processo transcorre o cinismo e o ateísmo de Erin são desafiados pela fé do Padre Moore e também pelos eventos inexplicáveis em torno do caso. Sendo assim ela passa acreditar na possibilidade da existência de entidades paranormais e até do próprio Deus. É impressionante com a Erin vai saindo daquela postura de descrente, de superior, que justamente se deu pelo fato do seu último caso no tribunal, o que inflou bastante o seu ego. Após o Padre Moore lhe advertir sobre a possibilidade de entidades sobrenaturais começarem a se aproximar, ela entra em um incrível estado de desconstrução, ela começar a adentrar nos acontecimentos ocultos e sombrios que começavam a acontecer em sua vida. Erin Bruner estava em uma guerra espiritual.
Baseado nesse comportamento da personagem Erin Bruner, temos a excelente atuação de Laura Linney (da série "Ozark"). Laura compôs uma personagem que inicialmente se sentia superior, que encarava o caso com irrelevância, porém, quando ela vai adentrando na história do Padre Moore e da Emily, ela passa a acreditar em várias possibilidades que até então era desconhecida para ela. Erin passa a ter um comportamento de uma advogada que queria defender e acima de tudo queria expor os fatos verdadeiros, que queria trazer a atenção de todos para a verdadeira possessão demoníaca. Um verdadeiro show! Uma atuação completamente impecável de Laura Linney. Facilmente uma das melhores personagens de toda a sua carreira.
Não seria nenhum pretenciosismo eu afirmar que aqui temos a melhor atuação e o melhor filme de toda a carreira da Jennifer Carpenter (seu primeiro filme foi "As Branquelas", de 2004). Pelo menos o trabalho mais marcante, isso sem dúvida. Jennifer faz um trabalho tão primoroso, tão avassalador, tão compenetrado, que chega a assustar a tamanha perfeição que ela emprega em cada cena (que não são muitas). A cada aparição da Emily nos flashback soava como o contraponto perfeito entre a sua própria história e aquele embate no tribunal. E a Jennifer trouxe uma interpretação completamente tenebrosa, assustadora, autêntica, que muita das vezes era mesclado entre o seu próprio suspense e o seu próprio terror. Aquela cena do exorcismo, que começa em seu quarto e vai até o estábulo, é completamente absurda, cujas contorções corporais "demoníacas" eram muitas vezes alcançadas sem a ajuda de efeitos visuais. O que a Jennifer entregou ali é algo surreal, estratosférico, uma atuação milimetricamente perfeita e assustadora.
Tom Wilkinson (lendário em "O Patriota", de 2000) é mais um do elenco que entrega uma atuação monumental. Tom deu vida para o Padre Richard Moore: o principal culpado e o causador da morte da jovem Emily, o verdadeiro réu daquela história (pelo menos pela visão da ciência). O que mais impressiona na atuação de Tom Wilkinson é aquela figura de uma Padre inabalável, aquela rocha, aquela postura segura, arrojada, certo de si, da sua crença e da sua fé. Esta era a carapaça que o Padre Moore apresentava no tribunal, pois dentro de si ela estava sofrendo terrivelmente, ela estava desabando, ele estava em uma completa luta emocional e espiritual. Mas ele se manteve firme na sua missão em relatar para todo mundo a verdadeira história da Emily Rose. Belíssima atuação de Tom Wilkinson.
Campbell Scott (recentemente esteve em "Jurassic World: Domínio", de 2022) pode ter sido ofuscado no meio desse elenco e dessas esplêndidas atuações, mas ele precisa ser reconhecido, ele precisa ser destacado, ele precisa levar os créditos pelo seu excelente personagem. Campbell fez o personagem Ethan Thomas, o advogado de acusação do caso. Campbell travou uma verdadeira guerra de palavras, diálogos, discursos e acusações com a Laura Linney naquele magnífico embate no tribunal. Às cenas que mostravam os dois defendendo o seu ponto de vista era incrível, um verdadeiro espetáculo feito apenas com o uso das palavras. Campbell soube incorporar um autêntico acusador, que expunha os fatos com bastante veemência, sempre sendo bastante incisivo com as palavras, sempre muito certo de si e se cobrindo com a razão que inicialmente estava ao seu favor. Campbell Scott também entregou tudo em seu personagem.
Hoje em dia é impossível você encontrar um filme de terror com atuações tão excelentes como em "O Exorcismo de Emily Rose".
Mais uma vez eu preciso destacar que não seria nenhum pretenciosismo em afirmar que "O Exorcismo de Emily Rose" é o melhor trabalho da carreira do Scott Derrickson (que fez um grande trabalho em "O Telefone Preto", de 2021). Derrickson teve muito cuidado e muito respeito ao relatar os fatos que ocorreu ao redor da história da Emily Rose (isso pode ser comprovado nos extras do filme). Tanto na direção quanto no roteiro ele empregou suas decisões de um modo que não obrigasse ninguém a concordar com o seu ponto de vista, ou com sua opinião sobre o caso da história real. A decisão em apresentar a história de forma aberta foi a melhor decisão que ele (junto com sua equipe) poderia ter tomado.
E por falar no Scott Derrickson, o seu trabalho atrás das câmeras é impecável. Como podemos comprovar ao longo do filme, como nos takes precisos durante o embate no tribunal. A cena do exorcismo no quarto e no estábulo é o ápice da sua direção, ali podemos claramente comprovar o tamanho da excelência e da competência de Scott Derrickson. Incrível como ele soube usar a câmera nessa cena, como ele soube captar perfeitamente tudo que estava acontecendo ao entorno da cena, como ele soube dosar os focos em cada personagem, em cada acontecimento (como na própria Emily possuída), como ele soube ser preciso e cirúrgico nas tomadas mais horripilantes de cada cena. Direção impecável de Scott Derrickson!
Aliado com a excelente direção de Derrickson, temos um roteiro irretocável (como já destaquei anteriormente), que acerta muito bem na decisão em nos contar a história da Emily na medida que os depoimentos iam sendo ouvidos no tribunal e as cenas iam sendo revividas através de flashbacks. A trilha sonora de Christopher Young (lendário compositor de "A Hora do Pesadelo") é penetrante, estridente, incômoda, perturbadora, a responsável em aumentar cada vez mais a nossa tensão juntamente com o suspense. A cinematografia é outro grande destaque da obra, que soube extrair com uma perfeita fotografia que sempre confrontava a medicina discutida no tribunal com a possessão vivida pela Emily. O longa é muito bem preparado com uma ótima montagem, uma ótima edição, uma mixagem de som muito limpa e uma direção de arte que acertou em todos os detalhes.
"O Exorcismo de Emily Rose" arrecadou $ 75,1 milhões no mercado interno e $ 144,2 milhões em todo o mundo contra um orçamento de $ 19 milhões. Ainda assim Derrickson afirmou que o filme não teve tanto sucesso quanto ele esperava.
O longa-metragem ganhou o MTM MOVIE AWARDS 2006 com a Melhor Performance Assustadora para a Jennifer Carpenter e ela foi indicada à Melhor Performance Revelação.
No site agregador de resenhas Rotten Tomatoes, o filme detém um índice de aprovação de 44%, com base em 157 resenhas. O consenso crítico do site diz: 'Vagamente baseado em uma história real, "O Exorcismo de Emily Rose" mistura um drama convincente de tribunal com sustos geralmente sem sangue em uma bela abordagem do cinema demoníaco'. No Metacritic, tem uma pontuação geral de 46 de 100, com base em 32 avaliações.
Eu tive o enorme prazer em assistir esta belíssima obra na tela gigante do cinema em dezembro de 2005, cujo ingresso tenho guardado até hoje. Vivi mais uma das várias experiências incríveis e assustadoras que já passei ao longo da vida no cinema.
"O Exorcismo de Emily Rose" é uma obra excelente, porém hoje em dia eu o vejo como um filme muito subestimado, que não tem o valor e o verdadeiro reconhecimento que merecia.
Para mim o filme é uma verdadeira obra-prima do terror psicológico, do drama psicológico, do suspense investigativo, que traz um excelente debate entre a ciência e a religião, te expondo à todos os limites humanos da fé e da medicina, mas sem apelar para o terror trivial dos clichês e dos jumpscare. Um filme que já se tornou um clássico cult, uma obra contemporânea, uma obra influente, que ganha mais peso e mais relevância justamente por ter sido baseado em uma terrível e triste história real.
Existe um livro que conta a história real por trás de todos os acontecimentos que inspiraram o filme "O Exorcismo de Emily Rose" - este livro se chama "Possessão". Ainda não li mas está na minha lista de livros para ler.
Eu considero "O Exorcismo de Emily Rose" como o "Melhor" filme de exorcismo desde o clássico eterno "O Exorcista" (1973). Para mim são os únicos filmes que realmente devem ser considerados como uma verdadeira obra-prima quando nos referimos sobre a temática de exorcismo e possessão.
"O Exorcismo de Emily Rose" não é somente o melhor filme de exorcismo da década de 2000, mas é também um dos melhores da história desse gênero cinematográfico.
Um clássico eterno! [09/06/2023]
Ash vs Evil Dead (3ª Temporada)
4.1 140 Assista AgoraTEM SPOILERS!
Ash vs Evil Dead (3ª Temporada) 2018
Agora que terminei a terceira temporada posso afirmar com 100% de certeza que a série "Ash vs Evil Dead" é muito boa e foi uma ideia genial desse eterno trio (Bruce Campbell, Rob Tapert e Sam Raimi).
Se na segunda temporada eu constatei um certo sinal de desgaste, pelo fato de toda temporada ser praticamente igual a primeira e ainda terminar os eventos novamente na lendária cabana na floresta. Dessa vez somos completamente surpreendidos, como uma temporada excelente, que soube se reinventar, inovar, começar a tomar um rumo diferente, trazer novos elementos e ainda usar o mesmo universo mas com uma história diferente e um final apoteótico.
A temporada mantém o mesmo ritmo das anteriores, sendo bastante fluida, dinâmica, voraz, novamente apostando pesado na violência explícita, na sanguinolência extrema, ou seja, entregando um gore maravilhoso pra ninguém botar defeito.
Dessa vez a temporada se inicia com um Ash (Campbell) sendo glorificado como o salvador da humanidade em Elk Grove, exatamente pelos eventos da segunda temporada. E nesse quesito a série novamente acerta muito bem na comédia trash de terror, no terrir, no humor negro, nessa mistura de horror e comédia ultrajante que todos adoramos dessa franquia. Novamente temos a figura de um Ash cada vez mais tiozão, sempre trajado no seu politicamente incorreto, com suas frases de efeitos, com seu humor ácido, com suas tiradas cômicas, com seu timing cômico e seus bordões clássicos. Ash Williams é aquele personagem que sempre amamos ao longo de todos esses anos, aquele velho amigo que conhecemos há mais de 30 anos, aquele canastrão que é pervertido, é incorreto mas adorado no horror.
O primeiro episódio é excelente, facilmente o melhor episódio de toda a série ao longo dos 30 episódios.
Já na abertura somos surpreendidos pelo comercial daquela exótica casa de ferramentas (Ashy Slashy's), com o Ash falando que sempre usou a motosserra para cortar os demônios mas que agora ele usa para cortar os preços - cena impagável! Quem vende brinquedos sexuais em uma loja de ferramentas? Ainda temos aquela cena na escola com os instrumentos musicais atacando o Ash, que faz uma clara referência ao "Evil Dead 3". Sem falar que ainda somos confrontados com a Kelly (Dana DeLorenzo) com seu novo amigo Dalton (Lindsay Farris), que é um integrante dos Cavaleiros da Suméria, e a surpresa para o Ash e para nós de uma filha.
Um ponto interessante nessa temporada é o fato da série tentar humanizar a figura do Ash ao confrontá-lo com o peso da paternidade. Soa até engraçado imaginar o Ash sendo pai, tendo que conviver com uma filha adolescente (que é bem descontrolada por sinal) nas costas. E é exatamente isso que temos aqui senhoras e senhores, sim, um Ash Williams pai! Essa foi a maior surpresa do primeiro episódio e de toda a temporada, a integração da Brandy (Arielle Carver-O’Neill) como a filha do Ash (onde sua mãe é logo morta pelos deadites). E fica interessante acompanhar o desenvolvimento daquela possível ligação de pai e filha, daquela possível família que já começou toda errada, onde o próprio Ash terá que se adaptar à nova vida de ser pai e lutar contra os demônios kandarianos. E por incrível que pareça ao final temos um Ash menos egoísta, menos arrogante, mais família, mais protetor e sendo aquela figura de pai herói.
O segundo episódio tem uma abertura incrivelmente bizarra, que é aquele parto do bebê demônio explodindo a barriga da Ruby (Lucy Lawless). Uma cena com uma sanguinolência insana e um gore extremo, sem falar que os efeitos nessa parte ficaram incríveis. É nesse episódio onde começa as primeiras abordagens sobre os "The Dark Ones" (os Cavaleiros das Trevas), que são conhecidos como os possíveis escritores do "Necronomicon" (o livro dos mortos) e que estão em busca dele.
A terceira temporada se sobressai exatamente por trazer um roteiro mais completo, com elementos mais exploráveis, com novas ideias funcionais, sem ficar somente na sempre dependência do "Necronomicon". Ou seja, temos abordagens sobre o conceito da paternidade, os Cavaleiros da Suméria, que são uma ordem templária secreta criada há milhares de anos para ajudar no combate do mal, e os "The Dark Ones" (que se parecem com os dementadores do "Harry Potter").
O nono episódio nos mostra mais a respeito dos "The Dark Ones", o que confronta diretamente com a finalmente morte da Ruby (que já estava mais do que na hora). Além daquela cena da Brandy enfrentando seu celular demônio na garagem, onde temos uma cena com um gore digno de uma verdadeira filha do Ash Williams.
O décimo episódio segue a excelência da temporada, ao nos mostrar o embate final com o gigantesco demônio "Kandar" (o destruidor) no meio da cidade de Elk Grove (Califórnia). E aqui temos um ponto muito interessante, que é o direcionamento da luta final para a cidade e não para a famigerada cabana na floresta - ponto muito positivo! Interessante mostrar a propagação mundial dos ataques, ou seja, Ash realmente condenou todo a humanidade. A luta contra o "Kandar" é muito boa, pois até o exército estava atacando e não somente o Ash. Mas fato é que somente o Ash tem o verdadeiro poder para destruir todos os demônios kandarianos.
A terceira temporada está repleta de cenas clássicas, emblemáticas e como nunca pode faltar, as famosas cenas hilárias também estão presentes. Nada como a cena bizarra no laboratório de espermas, onde o Ash encara aquele demônio ao som da clássica Take On Me, do A-ha. Mais uma cena completamente sem escrúpulos ao desafiar o Ash com uma luta contra o bebê demônio enfiado dentro de um corpo sem cabeça. Incrível como estas cenas já são clássicas dentro do universo "Evil Dead" e como elas são marcas registradas da franquia. Por outro lado também temos os momentos fofos como a cena em que o Ash entrega para a Brandy o icônico amuleto.
O elenco sempre foi um ponto positivo na série e nessa temporada não seria diferente:
Bruce Campbell sempre excelente, com um personagem completamente imortalizado e eternizado na cultura pop, e que vai deixar saudades do seu icônico Ash Williams. O próprio Bruce Campbell deixou um depoimento emocionado nas redes sociais dizendo que o Ash foi o personagem de toda a sua vida.
Ray Santiago e Dana DeLorenzo como sempre estão impecáveis. Incrível como nas três temporadas o Pablo e a Kelly estiveram excelentes e sendo muito bem interpretados.
Lucy Lawless traz uma personagem que nunca me desceu e nunca me convenceu durante toda a série. A Ruby foi uma personagem totalmente controversa, que ora soava como uma ameaça ora soava como nada. Uma antagonista perdida, uma vilã fajuta, que sempre tentava impor os seus objetivos mas falhava miseravelmente.
Já a Arielle Carver-O’Neill esteve bem como a filha perdida do Ash. Inicialmente eu devo confessar que dava raiva da Brandy, e muito por ela se portar como aquela patricinha mimada, aquela garotinha inocente, indefesa, perdida, subornável, mas ao final ela ganhou a minha empatia e se mostrou uma boa adição da temporada.
Esta terceira temporada também se destaca nas partes técnicas:
Temos uma excelente trilha sonora, onde combinava perfeitamente como cada acontecimento dos episódios (principalmente no décimo).
A fotografia se destaca notavelmente, eu diria que é a melhor fotografia de toda a série.
Os efeitos especiais sempre foram marcas registradas da franquia (desde os primórdios), e aqui eles estão impecáveis.
Ponto positivo também para a direção de cada episódio.
E mais uma vez temos episódios curtos (que não ultrapassam meia hora), que já se tornou marca da série.
Agora falando da parte final da temporada:
Ao final do décimo episódio, após o Ash derrotar o "Kandar", ele acorda em uma espécie de futuro distópico. Possivelmente um futuro onde tudo do passado foi destruído e só restou o Ash (como uma espécie de androide) e uma garota misteriosa que também tem uma aparência de metade humana e metade robô. Claramente este final soava como uma possível continuação em uma quarta temporada futurista. Sem falar naquele veículo todo equipado no maior estilo de um "Mad Max" futurista.
E ainda sobre o final da temporada: ficamos sem saber o que de fato aconteceu com a Brandy, o Pablo e a Kelly. E mais triste ainda, nunca saberemos!
Infelizmente após a terceira temporada a série "Ash vs Evil Dead" foi cancelada devido ao baixo número de audiência (para a minha tristeza e de todos os fãs de "Evil Dead"). Bruce Campbell chegou a afirmar que isso aconteceu pelo fato de ninguém conhecer a Starz (plataforma que produziu a série) na época que ela estava sendo exibida. Porém, em julho de 2022, Campbell confirmou que uma animação estava em processo de desenvolvimento.
"Ash vs Evil Dead" termina com uma temporada com um alto nível de excelência. Pois confesso que ao final da segunda temporada eu achava que os motivos para o cancelamento da série estariam nessa terceira temporada, e agora eu constatei que não estavam. Pois a temporada é muito boa, entrega tudo que promete, além de manter toda a essência do universo "Evil Dead" e ainda se reinventar tomando novos rumos para a série que infelizmente não acontecerá mais. Realmente a série foi cancelada onde deveria começar (ou continuar), pois com esse final de temporada abriria o leque para várias possibilidades de exploração dentro de uma temática futurista, que sempre foi o sonho da franquia e principalmente do Sam Raimi.
O que fica é um enorme sentimento de tristeza misturado com nostalgia, pois a franquia "Evil Dead" é sem dúvida uma das minhas franquias de terror preferida de todos os tempos. O que nos resta é guardar na memória a figura do eterno Ash Williams lutando contra os lendários deadites. Pois de fato ficamos órfãos do nosso anti-herói canastrão, da comédia trash de terror, do gore extremo, do icônico "Necronomicon", do lendário Delta, da clássica boomstick e da famigerada motosserra. Uma pena! [03/06/2023]
It: Uma Obra Prima do Medo
3.5 1,3KTEM SPOILERS DO LIVRO E DO FILME!
IT: Uma Obra Prima do Medo
"IT" (também conhecido como "Stephen King's IT") é uma telessérie que foi dividida em duas partes lançada pela ABC em 1990. A minissérie foi dirigida por Tommy Lee Wallace e adaptada por Lawrence D. Cohen do romance de Stephen King de 1986 com o mesmo nome. A história gira em torno de um monstro predador que pode se transformar nos piores medos de suas presas para devorá-las, permitindo-lhe explorar as fobias de suas vítimas. Ele assume principalmente a forma humanóide de Pennywise, um palhaço cômico sombrio. Os protagonistas são "The Lucky Seven", ou "The Losers Club" (Clube dos otários), um grupo de crianças rejeitadas que descobrem Pennywise e juram matá-lo por todos os meios necessários. A série se passa em dois períodos de tempo diferentes, o primeiro quando os perdedores confrontam Pennywise pela primeira vez quando crianças em 1960, e o segundo quando eles retornam como adultos em 1990 para derrotá-lo uma segunda vez depois que ele ressurge.
O livro "IT" foi inspirado em um conto de fadas infantil da Noruega. A revelação foi feita pelo próprio autor em seu blog oficial.
"IT" (em português "A Coisa") foi o maior livro que eu já li em toda a minha vida bibliófila. A obra literária do mestre King possui 1.103 páginas que te leva para uma experiência incrível, além de bastante sombria e tenebrosa, é claro. O livro nos proporciona uma verdadeira viagem abordo daquela história na cidade fictícia de Derry (Maine), juntamente com o grupo das 7 crianças e os 7 adultos. Sem dúvida "IT" está na prateleira das melhores obras do mestre, e muito por nos proporcionar uma leitura fluida, dinâmica, prazerosa, ao mesmo tempo que éramos confrontados pela figura macabra, sombria, oculta e misteriosa de Pennywise. "IT" te agarra com uma história tão impactante e tão envolvente, onde nos sentíamos parte daquela história que estava sendo contada. Era como se também fizéssemos parte do grupo - incrível!
"IT" foi uma experiência surreal, uma das melhores que eu já tive na vida.
A ideia de adaptar o romance do mestre King em um formato de telefilme, onde foi construído diretamente para a TV norte-americana, foi uma ideia muito boa e que deu bastante certo na época. Até pelo tempo de duração, onde temos 3h12min, que faz bastante jus ao livro, já que o mesmo passa das 1000 páginas. No Brasil fizeram uma reestruturação e uniram as duas partes da minissérie em apenas uma.
"IT" é o puro suco de toda a essência cinematográfica oitentista e noventista! E o maior acerto dessa obra está justamente na adaptação, que particularmente considero "quase" perfeita. De fato temos aqui uma adaptação completamente fiel ao livro, que sim, tem algumas mudanças (o que é natural) mas são mudanças sutis, que colabora ainda mais com a história. Também temos algumas partes do livro que ficaram de fora e outras que foram modificadas, o que também é normal, mas a grande essência e a grande marca do livro está muito bem integrada na história. Dessa forma eu coloco "IT" junto com "Carrie", como as duas melhores adaptações das obras de Stephen King.
Um ponto que pode desagradar algumas pessoas está exatamente no fato da obra ter sido idealizada para a TV, o que obviamente diminuiu muito o apelo gráfico do terror, do horror, do medo, do sangue, e até de alguns pontos cruciais da história envolvendo temas como a pedofilia e o racismo. Digamos que a história em si ficou teoricamente mais leve, mais suave em relação ao livro, que sim, lá temos uma história muito mais pesada e chocante nesses pontos levantados. Outro ponto é na questão do terror como um todo e justamente na figura do palhaço Pennywise, que não tem aquele peso mórbido, soturno e grotesco do Pennywise do livro, sendo bastante aliviado até nas questões estéticas das cores. A figura do Pennywise graficamente é mais colorido, o que talvez não irá impor aquele pavor e aquele medo que muitos esperavam. Acredito que algumas dessas decisões se apliquem ao fato de realmente ser uma produção televisiva e também se esbarrarem nas questões dos efeitos e orçamentos da época, que obviamente era uma outra realidade, outras tecnologias, onde a aposta maior era justamente nas maquiagens ao invés dos efeitos.
Toda essas questões abordadas podem de fato ser o diferencial para algumas pessoas. Já eu vou na contramão, eu vejo a obra por outro lado, com outros olhos, aqui a ideia não é bem aquele medo que vai te levar ao susto (já que o longa em momento algum faz uso dos sustos forçados e dos jumpscare). Eu diria que a obra é calçada na tensão, no incômodo, no suspense, no pavor, no lúdico, que se mistura com os dramas, os medos e os traumas do passado com os fatores do presente na vida de cada um ali. Temos aqui uma obra completamente imergida no drama psicológico, no terror psicológico, no terror fantasioso, que confronta diretamente com o drama de cada um dentro da sua própria história. O próprio Pennywise se utiliza do medo de cada um, do trauma de cada um, para fazer as suas aparições e os seus ataques, que muita das vezes é envolto no mistério e no oculto.
O maior acerto do roteiro está exatamente na decisão em nos envolver na história fazendo um contraponto com o passado e o presente. Toda narrativa que foi criada a partir do telefonema de Michael Hanlon (Tim Reid), onde cada um ia sendo apresentado e inserido na história, onde íamos sendo confrontados com a figura do presente e suas lembranças do passado sendo revividas através de flashbacks, é muito funcional e encaixou perfeitamente com a principal proposta do roteiro. Essa mescla do presente e passado, com os personagens crianças e adultos, ficou excelente, principalmente pelo fato de cada um já adulto ao chegar na cidade começarem a reviver seus fantasmas do passado. Era como ao retornarem para a cidade os seus traumas, medos e frustrações de infância retornarem com eles, ou possivelmente eles não retornaram, mas estiveram todos esses anos guardados com cada um.
A primeira hora é justamente focada em apresentar e desenvolver cada personagem dentro da sua história. E o uso dos flashbacks ficaram perfeitos, casou perfeitamente com a proposta, pois em nenhum momento eles confundiram ou destoaram da trama central. Após a reunião e formação do grupo de crianças temos o então primeiro embate com a figura do Pennywise, onde as crianças saem vitoriosas desse primeiro confronto e juntos selam aquele pacto eterno. A partir da metade do filme temos a nova reunião do Loser Club, 30 anos depois, com cada um dono da sua própria vida e dos seus próprios negócios.
Eu considero a parte das crianças muito melhor que a parte dos adultos (isso em todos os quesitos). Era como se a parte das crianças representasse melhor a obra como um todo. Pois é nessa parte que temos a melhor adaptação em relação ao livro do mestre King; onde temos várias cenas icônicas como aquela clássica do Georgie Denbrough (Tony Dakota) com o barquinho e o primeiro encontro com o temível Pennywise. Além da clássica guerra de pedras e aquele encontro do Eddie Kaspbrak (Adam Faraizl) com o senhor Keene (Tom Heaton) na farmácia, onde o próprio afirma para o garoto que ele não sofre de asma e que aquele remédio nada mais era do que água.
A parte infantil na trama traz uma melhor adaptação justamente por ter mais peso nas questões dos traumas de cada um, dos seus medos e das suas frustrações. Já na parte adulta essa questão também está presente, mas de forma mais leve e sem o mesmo impacto e o mesmo peso de quando eram crianças. Na parte infantil é aonde temos uma abordagem maior em relação ao bullying, o racismo e a selvageria. Pelo lado do bullying temos a figura central do Ben Hanscom (Brandon Crane), que é sempre atacado por ser uma criança gorda. Já na questão do racismo temos a figura central de Mike Hanlon (Marlon Taylor), que é atacado por ser negro. Apesar que aqui temos abordagens muito mais leves em relação à estas partes no livro, já que a história do racismo sofrido por Mike e sua família é bem mais detalhada e triste. Além de explicar exatamente que o clube "Black Spot" foi incendiado pelo "Ku-Klux-Klan", o livro também traz agressões bem mais pesadas praticadas por Henry Bowres (Jarred Blancard). O valentão sempre usa termos racistas para se referir a Mike e pratica gordofobia com Ben. Já na questão da pedofilia, foi uma parte totalmente deixada de lado no filme (por razões óbvias), já que no livro são partes bem chocantes e pesadas sofridas pela Beverly Marsh (Emily Perkins).
Esta clara diferença do núcleo infantil para o núcleo adulto também é sentida na questão do elenco. Pois é muito perceptível o quanto o núcleo infantil é muito melhor em suas atuações, onde cada ator tinha uma interpretação muito melhor que a sua versão adulta.
O núcleo infantil era composto por 7 crianças com idades de 12 anos:
Jonathan Brandis (Bill Denbrough)
Brandon Crane (Ben Hanscom)
Adam Faraizl (Eddie Kaspbrak)
Seth Green (Richie Tozier)
Ben Heller (Stan Uris)
Marlon Taylor (Mike Hanlon)
Emily Perkins (Beverly Marsh)
Cada um desenvolveu muito bem o seu papel, uns se sobressaindo mais que outros, como no caso da Emily Perkins e do Brandon Crane, mas no geral todos estiveram muito bem e entregaram ótimas atuações.
Já o núcleo adulto é composto por:
Richard Thomas (Bill Denbrough)
John Ritter (Ben Hanscom)
Dennis Christopher (Eddie Kaspbrak)
Harry Anderson (Richie Tozier)
Richard Masur (Stan Uris)
Tim Reid (Mike Hanlon)
Annette O'Toole (Beverly Marsh)
Aqui já não temos as mesmas qualidades de atuações das crianças, pois no geral uns se destacavam mais que outros, e outros só estavam compondo o personagem e sendo bem coadjuvantes na história. Vale destacar a Beverly Marsh de Annette O'Toole, que na minha opinião, é a que tem a melhor atuação de todo o núcleo adulto.
Vale destacar o Henry Bowres criança, que foi muito bem interpretado pelo Jarred Blancard. Jarred conseguiu transcender toda maldade e perversidade que estava instalada no coração do Henry, que o deixava como uma criança claramente perturbada e desequilibrada (ou seja, alvo fácil para o Pennywise). Olivia Hussey trouxe uma Audra Phillips até convincente, embora seja bem diferente da Audra do livro. Michael Ryan (VIII) trouxe um Tom Rogan bem arquitetado no próprio Tom Rogan do livro, conseguindo demonstrar toda perversidade e abuso que ele aplicava na Beverly.
Agora chegamos na principal figura do universo "IT" - Pennywise / A Coisa.
Sem dúvida o palhaço Pennywise é icônico, é lendário, é clássico, é o principal nome de "IT" e está no hall dos maiores vilões da história do cinema e da literatura (isso é inegável). O mesmo vale para o grande Tim Curry, que deu vida para a primeira adaptação do lendário palhaço macabro de Stephen King. Pra mim Tim Curry é o principal nome do filme e está 100% perfeito em sua figura grotesca de Pennywise. Tim conseguiu alcançar o ponto exato de sua interpretação, sem forçar demais, sem parecer apelativo demais, sendo burlesco na medida certa, sendo "palhaço" na medida certa. Além de fazer bom uso da sua linguagem corporal, junto com todo o seu gestual, todas as suas expressões, que mesmo sendo uma figura extremamente colorida mas nos causava repulsa, tensão, apreensão e incômodo (principalmente daquela sua risada tenebrosa). É fato que esta minissérie se tornou mais conhecida pela versão de Pennywise de Tim Curry. De fato, seu retrato foi considerado por várias publicações como um dos personagens de palhaço mais assustadores do cinema e da televisão. Também gerou um documentário financiado pelo Indiegogo sobre a produção da minissérie, intitulado "Pennywise: The Story of It" (2020); e um curta de sequência de história alternativa chamado "Georgie", também dos produtores do documentário.
Na minha opinião: Tim Curry é a melhor versão do Pennywise que já existiu.
A parte final (o embate final com a criatura) é uma parte que já difere do final do livro, e que muitas pessoas acabaram não gostando por teoricamente parecer um final mais fácil, mais leve, mais fraco mesmo, em relação à proporção encontrada no livro.
No livro, a derrota final de Pennywise é bem diferente. Bill usa uma técnica ancestral conhecida como Ritual de Chud, o que leva o personagem para um "Multiverso" onde ele se encontrar com o criador do Universo: uma tartaruga gigante chamada Maturin. Ele orienta Bill a usar o poder de sua mente para derrotar "IT", o que enfraquece a criatura para que os Perdedores possam usar um ataque físico.
A própria aparência do Pennywise (ou sua verdadeira forma) é incompreensível para os seres humanos, já que no livro ele é chamado de "Postigos", ou seja, ele acaba tomando a forma de luzes etéreas e sobrenaturais. O mais perto que a mente humana consegue compreender a forma física de Pennywise é quando ele se transforma em uma aranha gigante (que é justamente sua forma no final do filme). Já a sua derrota no filme é justamente dada pela sua maior fraqueza, ao subestimar a bondade, o amor e a amizade do grupo, levando à sua eventual morte presumida, uma vez que o Clube dos Perdedores se unem e lutam contra ele juntos.
É um final bobinho feito em prol da reapresentação da força do amor e da amizade? É. Mas ok! É aceitável!
Tecnicamente o filme é muito bom para a sua época!
A direção do Tommy Lee Wallace é bastante competente (visto que ele vinha do clássico "A Hora do Espanto 2", de 1988). Dirigir uma versão para a tela de uma história do mestre King foi muito difícil para ele; onde o próprio afirmou que Stephen King é tão bom com a linguagem que pode fazer quase tudo parecer incrivelmente assustador. Muito da direção de Wallace foi influenciada por filmes em que trabalhou com o mestre John Carpenter, como "Halloween" (1978) e "A Bruma Assassina" (1980). Wallace tomou várias decisões técnicas e de encenação apenas para tornar cada cena mais assustadora ou estranha. Isso incluía truques de câmera interessantes, como a cena do restaurante chinês sendo filmada com uma câmera portátil; e as cenas em que ele passa por canos filmados como se fossem do ponto de vista dele.
Apesar da época e do orçamento de uma produção feita para a TV, os efeitos especiais ainda assim eram condizentes com a proporção da obra. A maioria dos efeitos especiais foram feitos praticamente sem alteração digital, como marionetistas sendo usados para animar os biscoitos da sorte na cena do restaurante chinês. Algumas cenas foram feitas com animação de substituição, uma técnica de animação semelhante à animação em stop motion. A animação de substituição foi usada para quando Pennywise saiu do ralo, matou Belch nos esgotos e deu uma cambalhota no ar. Muitos dos efeitos que Wallace planejou usar durante o storyboard não chegaram à versão final por razões de orçamento, como as raízes se contorcendo em torno de Pennywise em seu encontro fantasmagórico com os Perdedores adultos no esgoto. Lindsay Craig, uma artista que ganhava a vida trabalhando como adereço no cinema e na televisão, criou um pouco do sangue para "IT" usando corante alimentar, água e metacil.
Juntamente com todo trabalho de efeitos especiais também tivemos os trabalhos manuais. Nas cenas em que o palhaço se tornou cruel, Tim Curry usava lentes amarelas e dois conjuntos de dentes afiados durante as filmagens: um conjunto menor que ele podia falar enquanto usava e um conjunto menos flexível, mas muito maior para cenas mais horripilantes (os dentes foram desenhados por Jim McLoughlin). O diretor originalmente não queria que Pennywise mudasse para um visual de "terror", mas sim manter o visual de palhaço "legal" ao longo da minissérie, mas essa ideia foi abandonada (e eu concordo plenamente).
Outro ponto que merece um destaque é a trilha sonora, que está impecável, conseguindo harmonizar muito bem cada cena em que a tensão era crescente com a presença sombria do Pennywise. A fotografia faz um contraponto bem interessante, que é justamente as cenas que mesclavam o tom mais colorido do palhaço, que poderia soar como alegria (que é o intuito da classe dos palhaços), com a clássica tensão e o medo.
"IT" contou com um orçamento de $ 12 milhões, o dobro do orçamento normal da televisão. A minissérie foi transmitida pela primeira vez durante o mês das varreduras de novembro. Apesar dos fatores de risco, análises críticas mistas antes da exibição e cobertura das viagens ao exterior do presidente George H. W. Bush interrompendo o programa; foi o maior sucesso da ABC em 1990, alcançando 30 milhões de telespectadores em suas duas partes.
"IT" foi indicado a dois prêmios Emmy, um prêmio Eddie, um prêmio Youth in Film e o reconhecimento de melhor minissérie do People's Choice Awards; ganhou duas das indicações, um prêmio Emmy de Melhor Composição Musical pela trilha sonora de Richard Bellis e um prêmio Eddie pela edição da minissérie.
Encerro afirmando que "IT" é um verdadeiro clássico e um verdadeiro patrimônio da cinematografia dos anos 90. Uma obra que correu seus riscos ao apostar em uma produção feita diretamente para a TV, que obviamente obrigou a pegar mais leve nas partes mais cruciais da história, aliviando o terror mas ganhando na tensão e no suspense.
Uma obra que trouxe uma adaptação extremamente fiel ao livro, mantendo toda a sua originalidade e toda a sua essência, e acima de tudo respeitando todo conteúdo da obra-prima da literatura do mestre King.
Uma obra completamente influente, uma referência no gênero (o "Stranger Things" dos anos 90), aquele clássico cult, que trouxe aquela abordagem sobre a verdadeira amizade, o verdadeiro amor, a superação dos nossos medos, dos nossos traumas e das nossas frustrações.
Uma obra que vai muito além do que a nossa mente pode imaginar, que representa todos os males e a manifestação de todos os nossos medos de infância.
Verdadeiramente uma linda história de amizade com um toque de terror.
[26/05/2023]
Ash vs Evil Dead (2ª Temporada)
4.2 188 Assista AgoraAsh vs Evil Dead (2ª Temporada) 2016
A segunda temporada de "Ash vs Evil Dead" mantém exatamente o mesmo ritmo da primeira, mantém a mesma essência de todo o universo "Evil Dead" e consegue novamente navegar naquela proposta de comédia trash de terror. Dessa vez temos uma intensificação no cômico, naquele humor mórbido, no trash e principalmente no gore.
É interessante que a série nunca abandona a sua origem, justamente por sempre abusar e intensificar a violência explícita, a sanguinolência extrema e sempre mergulhar no Terrir. Porém, aqui temos um ponto bem curioso, que é o fato do nosso Ash estar de volta a Jacksonville e junto com esse retorno retornar todas as suas lembranças do passado; como o fato da aparição do seu pai (Brock Williams, que é interpretado por Lee Majors), que diga-se de passagem, foi uma surpresa. Além, é claro, entre várias surpresas e várias descobertas sobre o Ash que vamos acompanhando com o passar dos episódios.
Bruce Campbell novamente é a alma da série e de todo o universo "Evil Dead". Temos aqui um Ash cada vez mais velho, onde seu timing cômico e suas tiradas cômicas estão cada vez mais afiadas. Podemos notar aquele Ash tiozão com um senso de humor apuradíssimo, sendo aquele velho canastrão de sempre, onde ele nos proporciona cenas completamente impagáveis (Como na cena do morto no necrotério). Por outro lado a série nunca abandona aquelas famosas cutucadas no politicamente correto, onde temos o próprio Ash se trajando daquele humor politicamente incorreto, e é incrível como isso funciona aqui, mesmo que sendo encarado de forma mais branda, mais suave, que é justamente o intuito dessa alocação mais humorística da série (como já havia sido nos filmes).
A série continua acertando com perfeição no dinamismo, na fluidez, com um ritmo bastante envolvente, onde a diversão e o entretenimento é 100% garantido. E muito dessa diversão se passa justamente pela fator nostálgico, que é toda essência oitentista que a série continua nos proporcionando ao longo das histórias de cada episódio. Por falar em episódios, a temporada continua com a mesma dinâmica de episódios curtos, indo direto ao ponto (por mais que alguns até pareçam como uma encheção de linguiça), com aquele mesmo formato de episódios que não ultrapassam a meia hora, onde eu particularmente considero como um acerto. O saudosismo também pesa quando passamos a falar sobre as qualidades técnicas da temporada, que vão desde a maravilhosa e empolgante trilha sonora, até os cenários mais clássicos do universo "Evil Dead", que é justamente a icônica cabana na floresta.
O roteiro dessa segunda temporada segue entre acertos e erros!
Considero um acerto a história dessa temporada nos revelar mais informações sobre aquele passado oculto e sombrio do Ash, como o fato daquela lenda que se criou em sua cidade natal com o famoso "Ashy Slashy". Isso traz mais corpo para a história que está sendo contada, gera um engajamento maior. O mesmo vale para a introdução do principal vilão da temporada, que já difere da primeira temporada justamente por não manter a figura de antagonista (vilanesca) somente sobre a Ruby (Lucy Lawless). O vilão da vez é o temível (ou talvez não) Baal (Joel Tobeck). Que é uma criatura que se veste de peles humanas, que por sinal todo o efeito que utilizaram nas troca de peles foi fantástico.
Outro ponto muito interessante da temporada é toda referência que se mantém sobre a mitologia do universo "Evil Dead".
Ao longo da temporada temos algumas menções e referências sobre a trilogia original, como no caso da própria cabana e o "Necronomicon", mas ainda vai além, com algumas citações ao "Evil Dead 3", e a aparição daquele demônio de pescoço longo, que faz uma referência direta ao "Evil Dead 2" (se bem me lembro). Não posso esquecer de citar aquela cena no nono episódio, onde temos o clássico ataque dos galhos da árvore na Ruby e na Kelly (Dana DeLorenzo). Os 10 episódios se dividem entre referências, menções e homenagens à toda franquia, e aos famosos episódios de preenchimento da história, que nada mais é do que os famosos "encheção de linguiça".
Eu entendo toda referência e toda representação do universo "Evil Dead" que a segunda temporada traz pra série, inclusive até me surpreendendo no quesito viagem no tempo, onde confesso que não era uma coisa que eu estava esperando na série. E digo que funcionou direitinho como uma inovação da temporada, já que na trilogia original temos abordagens sobre este contexto, e aqui eu fui surpreendido por aquele inusitado encontro entre a Ruby atual e a Ruby dos anos 80, assim como aquele "resgate dos mortos" do Pablo (Ray Santiago). Mas devo reiterar exatamente no quesito inovação na série, que sinceramente eu não vejo muitos caminhos disponíveis para ser explorado fora desse contexto de cabana na floresta. Pois é legal, é nostálgico, é clássico, mas a impressão que dá é de que a história não avança e anda em círculos terminando sempre no mesmo lugar, que é justamente na cabana.
O elenco de apoio continua extremamente cativante!
Ray Santiago e Dana DeLorenzo continuam ótimos, formidáveis, com uma bela química entre eles e principalmente com o Bruce Campbell.
Lucy Lawless tem uma participação maior na temporada, conseguindo transcender aquela figura de vilã fajuta que ela carrega desde a primeira temporada.
Michelle Hurd foi uma boa integração na temporada com sua personagem Linda.
Lee Majors está perfeito sendo a figura do pai do Ash, onde o próprio traz um senso humorístico na medida certa e sendo bem pontual.
Joel Tobeck está mediano como o vilão da temporada, pois achei um apresentação muito caricata e muito canastrona. Mas ok, até que funcionou na medida do possível.
O episódio dez fecha com aquela aparição da Ruby anos 80 no fundo da festa do Ash. Ou seja, o famoso gancho para a terceira temporada. O mesmo vale para a cena pós-crédito (sim, temos uma), onde mostra uma garota achando o "Necronomicon" jogado na floresta.
Por fim, a segunda temporada de "Ash vs Evil Dead" continua boa, e muito por manter grande parte dos elementos da primeira e ainda intensificar alguns. Também continua funcionando perfeitamente em seu objetivo de divertir e entreter. Porém, aqui eu já vejo um pequeno sinal de desgaste, que poderá se intensificar ainda mais na terceira temporada, que por sinal estou bastante curioso pra conferir para poder entender melhor os reais motivos do cancelamento da série. [23/05/2023]