O cinema sempre foi predominantemente sobre uma visão masculina da sociedade e das pessoas, por isso sempre é uma experiência valiosa absorver obras que vem de outras perspectivas não padronizadas, aqui Claire faz um estudo bem poético sobre a masculinidade e as interações entre um grupo de homens, potencializados pela situação de isolamento de soldados que convivem diariamente sem contato com o sexo oposto em sua grande parte. O contraste das situações tipicamente militares com os movimentos de balé especificamente feitos para o filme causam uma sensação de sensualidade que beira a obra quase que como um todo, um olhar sobre os corpos que não estamos acostumados a ver. Inveja, medo e repressão, um triste retrato para aqueles que encontram sua liberdade apenas no final, uma jornada bem única para aqueles que se interessarem.
Discutir cinema e tudo que o envolve é sempre algo interessante, existem diversos pontos de vista sobre como apreciá-lo ou fazê-lo, e este é um exercício proposto aqui de uma forma muito pessoal por Agnès, ao passo em que analisa sua carreira, suas paixões e inspirações, passando por todos os campos em que fora envolvida, desde a criação de seus filmes até sua abordagem com as fotografias. É incrível como o documentário trabalha essa metalinguagem de sua autora com suas obras, já que as próprias obras já são metalinguísticas por sua criação, com cenas onde a própria diretora aparece, momentos onde há conversas com as pessoas filmadas e apresentações da Varda para um público, onde tudo se entrelaça para entendermos melhor sua visão sobre sua vida e todas suas criações, como ela vê o impacto disso nas pessoas e como aquilo impactou sua vida e representavam fases e momentos vividos por ela. Mesmo nunca tido contado com sua filmografia, o documentário não perde sua força, muito pelo contrário, minha curiosidade e interesse por ela apenas aumentou, poucos filmes me deixaram sem palavras como esse, realmente um retrato belo de uma pessoa apaixonada pelo seu ofício e pelas pessoas que representava e que participavam de suas criações, com uma visão muito clara e interessante sobre essa arte, recomendo a todos.
Esse é o primeiro filme do Fellini que assisto, e que surpresa maravilhosa, acho que a cena que descreve melhor o que é esse filme em uma frase é quando no segmento final, ao final de uma festa uma personagem diz "obrigado pela festa, mas chegou a hora de ir embora" e é muito sobre isso que o filme aborda, onde nosso protagonista fica nessa odisseia de acontecimentos hiper reais, como se abrigasse em suas aventuras e festas para fugir de sua realidade, de algo "comum" e da normalidade, ao passo em que acompanhamos diversos comentários sobre essa sociedade artística e elite italiana, que por sua vez era a mesma que o diretor estava inserido em quanto vivo, as quase 3h de filme pesam em alguns momentos mas acho que isso é uma das poucas coisas ruins que posso dizer já que toda a qualidade geral do filme o carrega com muita facilidade, toda a noção de enquadramento e coreografia geraram cenas incríveis que só melhoraram a experiência, ansioso pelo que verei a seguir dele.
“Está passando Acossado na TV”. Essa frase diz muito sobre como será Uma Mulher é Uma Mulher, onde Godard o trabalha com uma comicidade única e com um humor extremamente auto-referencial muito interessante, com técnicas muito a frente de seus tempo. O longa foi lançado após seu grande sucesso Acossado, o que por muitos é considerado uma obra prima e seu melhor trabalho, logo a tarefa não seria nem um pouco simples.
Seu maior diferencial é sua estrutura completamente experimental, temos diversos elementos diferentes sendo utilizados no decorrer do filme. Como o próprio filme se leva como uma espécie de musical vemos a utilização de diversas músicas em momentos banais, que em musicais tradicionais seriam canções realizadas pelos personagens, porém o filme subverte essa característica fazendo cortes bruscos nas mesmas, onde em um corte a ouvimos, em outro não, porém quando o quadro volta ela volta a tocar, se repetindo em diversos momentos.
A quebra da quarta parede traz uma sensação única na forma como nos relacionamos com o filme, em momentos os atores olham diretamente para câmera como se estivessem falando conosco, em outros eles interagem com pessoas na rua que não fazem parte do elenco do filme, algo que realmente fiquei impressionado pela coragem, ainda mais pela época em que o mesmo fora filmado. Porém a característica que mais me chamou a atenção foram as coreografias dos personagens atreladas ao trabalho de câmera, performando muitos planos longos que dão um ritmo diferente ao que se vem construindo na maior parte do tempo.
Em um momento um dos personagens recita a seguinte frase, “Não sei se isso é uma comédia ou uma tragédia”, como foi dito anteriormente o humor auto-referencial é muito usado aqui, logo é engraçado pensar o quanto essa frase se aplica a toda narrativa da história, onde por muitas vezes vemos diálogos que aparentam ser sérios serem quebrados por alguma situação absurda ou cômica, que tira todo o peso da cena, que ocorrem durante quase todo o filme, assim como muitos detalhes das cenas, como o casal que sempre está se beijando em frente ao prédio da protagonista, e até mesmo por diálogos completamente idiotas, como o personagem Alfred tentando convencer o dono do bar a pagar a conta depois.
Porém em minha opinião a característica anterior é sua maior fraqueza, o que falta nesse filme é ritmo, e isso veio como consequência das escolhas feitas pelo diretor no momento de construir sua obra. Tudo se corta e entrelaça, porém dificilmente os elementos casam entre si, aparentando que estamos vendo um artista encontrando sua forma de se expressar e não uma obra que representa uma expressão genuína com significado. Tornando assim a experiência maçante, confusa e por oras chata.
Uma Mulher é Uma Mulher, é um filme diferente com diversas ideias interessantes e precursoras de diversas características que vemos em nosso cinema atual, trabalhando e retratando muitas cenas tabus e olhando para certas perspectivas sociais, principalmente voltadas à mulher, de uma maneira até que progressista para a época. Longa experimental e inovador, mas que peca ao tornar isso suas únicas qualidades, esquecendo de construir um ritmo coeso e uma história ou tema cativante.
Me perguntam muitas vezes qual o critério que uso pra escolher assistir a determinado filme ou até mesmo como vim a descobrir tal obra, a resposta que dou a isso as vezes pode ser a das mais simples, apenas por ver uma imagem já me sinto disposto correr atrás do filme para vê-lo. Pois acredito que as imagens em um filme tem poder, todas elas podem passar uma sensação, por isso gosto de me arriscar e sempre que puder, ver algo às cegas, e fico grato sempre que me surpreendo positivamente.
Javier Bardem vem se provando a muito tempo ser um dos melhores atores em atividade, a verdade que ele sempre traz a seus personagens é levada as ultimas instancias dentro de sua atuação, não seria muito dizer que esse filme funciona apenas por causa dele, tanto que o próprio roteiro foi escrito com o mesmo em consideração. A duvida, a dor e o amor pelos filhos são tantos sentimentos que ele nos passa e todos são palpáveis, você compra tudo que aquele personagem esta sentindo. Todos aqui entregam excelentes atuações e trazem dor e veracidade à história.
Iñárritu é outro que se provou ser um dos diretores mais competentes, seu trabalho sempre muito minucioso, apurado e primoroso. Mesmo que a história seja relativamente simples, o cuidado que a direção toma potencializa aquilo que nos é apresentado, os planos longos, os movimentos de câmera suave, o trabalho de iluminação e a ostentação dos seus atores com closes super intrusivos são algumas das muitas coisas que o diretor realiza que agregam muito a narrativa e a forma que nos relacionamos com a mesma.
A história contém diversas analogias e metáforas sobre a morte e a pós-morte, assim vemos o personagem de Javier, um homem que sempre teve uma conexão com a morte, enfrentando a própria iminência da mesma, tentando resolver todas as suas pendências antes de partir e negando a sua condição e sua realidade. O filme não se limita apenas a isso pois também exercita diversos comentários sobre muitos âmbitos da sociedade, mostrando realidades duras e cruéis, que revelam e expõe muito da dubiedade moral do nosso protagonista e de todos aqueles a sua volta.
O fato citado anteriormente é um dos trunfos mas também a grande fraqueza do filme, seu roteiro é inchado e deixa muitos pontos em aberto. De maneira que quis comentar sobre tudo e criticar a muitas coisas, grande parte delas não são trabalhadas de uma maneira profunda, tudo é uma bagunça narrativa de arcos que se cruzam sem qualquer sutileza, no fim não nos permitimos sentir nada pelo tanto que fomos sobrecarregados até aquele momento.
Biutiful é uma obra melancólica e bonita, realizada com um cuidado impecável pelo diretor e belamente atuada. Traz inúmeros comentários sobre moralidade, pobreza e criminalidade, mas que possui um roteiro inchado com muitas histórias paralelas e personagens mal desenvolvidos. A sequência final apesar de alguns problemas, fecha a história de uma maneira impecável, recomendo a todos.
Recentemente assisti a um vídeo que levantou uma questão sobre o que define e como identificamos a autoria de um diretor em uma obra, isso ficou comigo durante um tempo. Costumo ver meus filmes sem saber nada sobre eles e aqui não foi diferente, porém no seu decorrer penso comigo em a quem aquela forma de se fazer cinema me lembra, logo lembro dos irmãos Dardenne, que no caso são os verdadeiros diretores.
Este filme traz muito as características marcantes da dupla, como seus personagens interessantes, falhos e bem construídos. Sua realidade dura atrelado ao clima visceral e seco que o filme nos apresenta, apresentando tudo de uma maneira distante e fria. Além de um grande elemento difícil de se encontrar e ser bem utilizado que é a sua falta de trilha sonora, que como exceção aparece apenas em alguns momentos do longa.
Os elementos anteriormente citados acredito que são responsáveis pela criação de toda essa identidade cinematográfica da dupla de diretores e isso é muito difícil de se fazer. Porém o filme não é isento de diversos problemas ao meu ver, primeiro comentarei sobre a utilização dos personagens na trama. Somos inseridos na história sem qualquer apresentação do que está acontecendo e vamos descobrindo aos poucos todos os detalhes a que nos são importantes, porém ao contrário do excelente Dois Dias, Uma Noite dos mesmo diretores, os personagens secundários não tem peso, suas motivações não tem uma base bem construída ou convincente, cada um desempenha um papel bem claro e unilateral na trama, o que é um desperdício do potencial que todo o arco do protagonista representa.
Thomas Doret faz um excelente trabalho representando um menino confuso, solitário e irritadiço, com todos os seus trejeitos únicos. A grande forço do filme na verdade são suas atuações críveis, com trabalhos excelentes de todos. Todos os outros aspectos do filme são funcionais, não há planos mirabolantes ou atrativos esteticamente, sendo elogiável os seus planos longos que casam muito bem com a proposta realista do longa pela seu grau de imersão e de naturalidade que requer dos atores na composição das mesmas.
O Garoto da Bicicleta possui excelente atuações com um protagonista interessante, retratado de uma maneira simples e complexa pelas suas relações, mas que peca em um roteiro raso na composição de seus personagens secundários que diretamente prejudica nossa imersão na história e seu ritmo calmo. Fico frustrado com o tanto de potencial que um roteiro desse possuía mas que acabou sendo desperdiçado.
É incrível de se testemunhar o que Charlie Kaufman consegue escrever a partir de uma premissa aparentemente absurda ou completamente exagerada. Seus roteiros são sempre conhecidos por serem bem malucos mas que apresentam diversas observações sobre o comportamento humano e nossas complexidades como seres pensantes e emocionais. O que é feito aqui não é muito diferente disso, peguemos uma ideia tentadora como poder apagar a existência de uma pessoa/ocasião/coisa que lhe causou algum tipo de sofrimento para que assim você se sinta livre para seguir seu dia a dia sem sentir que algo está lhe infringindo algum tipo de dor, e pronto temos nossa história.
A produção e a cinematografia do filme são louváveis, toda essa construção de uma atmosfera de sonho é feita de uma maneira magistral, cada cena é realizada com uma criatividade enorme. Foi priorizado o uso de efeitos práticos para criação da maioria das cenas, essa escolha influencia toda nossa crença naquele universo e na nossa relação com a história, a forma como tudo foi filmado foi com intenção de trazer uma maior intimidade com os personagens e seus sentimentos. Câmera na mão com muitos momentos de instabilidade, cores lavadas e frias em momentos mais tristes e melancólicos, cores mais vívidas e quentes nos momentos mais alegres.
Os cortes rápidos e a montagem criam um dinamismo hipnotizante junto da mixagem de som que soube utilizar brilhantemente essa ideia de sons que se sobrepõe e surgem de lugares inesperados ou até mesmo inexistentes num plano físico. Os diálogos são cirúrgicos na forma em que são inseridos no contexto maior da obra, pois a mesma não é contada de uma maneira cronológica, assim as informações devem ser fornecidas de uma maneira precisa e clara, esse sendo outro mérito do filme, que não deixa o espectador perdido em nenhum momento, pois tudo que nos é necessário é fornecido no momento certo. Cada detalhe desse filme é pensado e inserido de uma maneira sutil, algo que dá vida a uma obra realmente única.
É impossível discutir todos os temas que podem sair dessa obra, como a questão levantada da possibilidade do aprendizado, é fato que aprendemos com nossos erros e os mesmo constroem parte do que somos, não só nossos erros, mas todas as histórias que vivemos, apagar isso lhe previne do sofrimento por lembranças mas o desprepara para sofrimentos futuros. A visão que temos de relacionamentos recém finalizados onde nossa tendência é sempre olhar o lado negativo, defeitos da pessoa, brigas, situações desconfortáveis ou irritantes, é trabalhada da mesma forma na estrutura do filme, no começo somos apresentados a uma versão sufocada e exausta da Clementine com sua situação atual, assim entendemos o motivo para o protagonista fazer o que está fazendo, e supomos o mesmo motivo para Clementine, porém ao decorrer do filme assim como no decorrer da vida real, nos lembramos dos pequenos detalhes daqueles que um dia amamos, risadas que foram compartilhadas, momentos de intimidade que nunca antes foram feitos e entre outros. Crescer e aprender com a vida é um presente que não deve ser descartado, todos aqueles que estão conosco fazem parte de nossa trajetória e de nós, por isso não podemos nos esquecer de sempre olhar os dois lados de uma memória ou pensamento. Esse filme é uma obra prima que deve ser vista e apreciada por todos.
Quanto mais um diretor ganha notoriedade e vai conquistando seu espaço dentro das grandes produções cinematográficas, a tendência comum é que suas histórias se afastem de uma pessoalidade na forma de contar uma história ou até mesmo de qual irá contar para o público. Então é muito bom quando somos presenteados com uma obra tão pura, honesta e simples vinda das mãos de um dos melhores diretores da atualidade.
Cuarón queria contar essa história a partir de suas memórias e sua direção para com a obra reflete muito dessa identidade narrativa abordada, o mesmo trabalhou em diversas áreas da produção deste filme, inclusive como Diretor de Fotografia, assim vemos o filme com uma perspectiva quase que voyeurista, a câmera se faz distante dos acontecimentos, observamos tudo de uma maneira menos introspectiva possível, como se participássemos da história de longe.
Partindo da informação do parágrafo anterior entendemos o motivo pelo qual Roma foi indicado na categoria de Design de Produção, este aspecto do filme é primoroso, todos os ambientes foram meticulosamente construídos para serem fiéis a realidade, a própria casa onde o filme se passa não foi construída em estúdio, ela é real. Podemos não saber disso, mas é inevitável que o público perceba a vivacidade dos ambientes e dos locais.
A cinematografia por si só também é um show à parte, existem sequências que por muito tempo não sairão da minha cabeça por seu esplendor visual, o trabalho de coreografia aliado aos planos sequências executados tornam a experiência mais crua e visceral, a imersão na história é quase que imediata, destaque para a cena da praia que foi uma das mais bonitas tanto visualmente quanto emocionalmente que já assisti na vida. Cada plano foi planejado e cuidadosamente executado, todos os movimentos e posicionamentos da câmera são suaves e naturais, somos guiados assim como a história, da maneira mais paciente possível.
O design de som também é algo elogiável aqui, logo no começo do filme já somos jogados numa cena “banal”, onde a protagonista está limpando o chão e tirando o coco do cachorro, porém cada som emitido é sentido durante toda sua execução, temos a sensação de que o filme está vivo, e isto se mantém durante toda a duração do longa.
Acredito que os meus maiores problemas foram em relação ao ritmo, pois o primeiro ato me pareceu muito arrastado, com a história engrenando pra mim apenas no segundo ato, está é uma narrativa difícil, então o público fã de histórias mais convencionais com certeza se frustrarão aqui. Assim como me incomodei com a atuação da Yalitza Aparicio, pois sua clara falta de experiência como atriz fez falta, diversas cenas exigiam mais de suas expressões e trejeitos, mas simplesmente não conseguiam ser entregues com tanto primor.
Roma é um belíssimo retrato da simplicidade dentro da grandiosidade, escrito e dirigido com uma maestria que não se encontra em qualquer obra, com uma delicadeza e sutileza que todos os longas tentam alcançar mas que apenas poucas conseguem. Com um ritmo não convencional e que demora para engatar, mas que com certeza ficará com você por muito tempo. Recomendo a todos.
Bons filmes são aqueles que possuem diversas camadas além de sua superfície, a cada novo elemento ou cena, mais profundo a obra se torna. Dentro do terror isso se torna ainda mais raro e especial, então quando um longa lhe apresenta tudo isso dentro de uma atmosfera incomoda e com uma trama cheia de alegorias e metáforas, é impossível que a mesma não se torne elogiada dentro dos amantes do horror.
Jennifer Kent estreia seu primeiro longa, e demonstra um domínio grandioso sobre sua obra e como a quer apresentá-la, muitas cenas possuem uma criatividade elogiável, muito bem apresentadas e com uma estética única, é perceptível o esforço e o cuidado com que cada cena foi concebida. Essie Davis faz um dos melhores trabalhos dentro do gênero que já tive o prazer de ver, o medo, a raiva, o cansaço e a angústia são visíveis dentro de suas feições, o raro caso onde a atriz desaparece dentro de seu personagem, sua interpretação suga o público para dentro da história e conduz o filme de uma maneira magistral.
Outro destaque é o uso do som dentro do longa, cada barulho é minuciosamente inserido no ambiente e somos capazes de escutar cada ruído ou som junto da personagem, assim ficamos assustados junto com ela e não por ela, assista no idioma original, não diminua sua experiência. Jennifer Kent sabe desse poder em sua obra, então utiliza diversos artifícios não convencionais dentro do gênero para causar medo, fãs dos famosos Jump Scares ficaram decepcionados aqui, esse é um trabalho sutil para aqueles que a querem apreciar.
Noah Wiseman para mim foi um dos pontos fracos do filme, não acho correto isentar uma atuação apenas por se tratar de uma criança, já que vimos diversas outras tão memoráveis quanto de qualquer adulto como Jacob Tremblay em Room ou Brooklynn Prince em The Florida Project. Em diversos momentos vemos feições em momentos que ela não eram requeridas ou diálogos com entonações completamente destoantes com o tom da conversa, assim todos os momentos em que eles estava em cena eu me desprendia da narrativa, ainda mais quando o mesmo contracenava com Essie Davis.
Algumas escolhas da diretora foram duvidosas e até mesmo desnecessárias, o longa possuía um orçamento baixo, então em muito momentos o CG utilizado para mostrar o Babadook eram deploráveis de tão mal feitos, mas quando a obra se focava mais na sugestão de sua existência, utilizando apenas o som e a escuridão para nos assustar, a atmosfera era muito mais aterrorizante. Logo não entendo a decisão de mostrá-lo tão descaradamente correndo o risco de quebrar a atmosfera que estava tão bem construída.
The Babadook é uma obra com muito a dizer sobre depressão e o luto, com uma mensagem forte sobre a importância da sanidade mental das pessoas, bem original na sua forma de dar medo e de condução da narrativa, com uma das melhores performances femininas que já vi no cinema. Possui alguns problemas com certas decisões que toma no decorrer da história, se tornando genérico e abusando de convenções em alguns momentos, mas que com certeza te assustará e te fará refletir por alguns dias. Recomendo a todos.
Bons filmes são aqueles que além da sua superfície, apresentam diversas camadas que são desdobradas no decorrer da história mostrando o quão complexas as coisas representadas realmente são, tornando difícil para o público tomar lados ou julgar as decisões dos personagens logo de cara, pois nos identificamos com os problemas enfrentados e incondicionalmente nos colocamos nos lugares dos mesmos, questionando o que faríamos diferente. E é assim que temos uma grata surpresa no meio das comédias românticas, que são comumentes julgadas por suas tramas rasas e problemáticas frívolas, há excelentes subversões aqui.
Relacionamentos interraciais sempre tiveram um grande foco no cinema, mas nos esquecemos que relacionamentos interculturais também podem ser tão complicados quanto, pois como dizem, num relacionamento você não só se relaciona com seu par romântico, mas também com sua família como um todo. Isso é algo comum para todos as pessoas, então quando essa problemática é apresentada no filme, automaticamente pensamos no quão plausível isso é e buscamos até vivências pessoais para ajudar nesse processo, o longa sabe disso e utiliza isso a seu favor.
O roteiro é cuidadosamente escrito e percebemos o carinho e a devoção que foi posta em sua escrita, tudo aqui é genuíno e crível, não a toa, pois a história é semi-biográfica dos próprios roteiristas, o verdadeiro casal que vivenciou essas situações, com diversas liberdades criativas é claro. O humor do filme é um dos maiores pontos de destaque, me peguei em diversos momentos rindo um bocado, o que é bom já que a comédia é algo estritamente enraizado no texto e nas vidas dos personagens.
O elenco é muito bom, Holly Hunter e Ray Romano para mim foram os principais destaques, trazendo uma verdade e um carinho por sua filha, assim como uma química entre ambos que é quase palpável. Zoe Kazan convence muito com sua fisicalidade e expressão frágil durante a segunda parte do filme. Mas como um todo, ninguém abaixa o nível de atuação e o principal, todos possuem um excelente timing cômico, algo que eleva muito o material trabalhado.
Porém a qualidade do longa cai muito durante o terceiro ato, toda a originalidade e genuidade se perde, diversos clichês e atos previsíveis ocorrem um atrás do outro, era possível prever algo cinco minutos antes do mesmo acontecer. Isso por si só não é um problema, mas foge da sinceridade que o filme vinha propondo no decorrer de sua história. Alguns arcos e comentários são subutilizados e rasamente explorados, apenas inflaram a duração do filme sem ter algo muito grandioso ou inovador a acrescentar.
Algumas piadas são utilizadas diversas vezes tirando um pouco da sua força e tornando-as batidas, assim como certos maneirismo de alguns personagens que quase beiram a caricaturização mas que logo voltam ao trilho e não atrapalham tanto a experiência. Mas como o roteiro se prende muito ao humor, muitas vezes é visível a integração de alguma punchline apenas pelo motivo de ter alguma, e não por que a piada era necessária ou realmente engraçada, quebrando assim o ritmo dos diálogos e do próprio andamento da história.
The Big Sick é uma história genuína e engraçada, com coisas importantes a dizer e com personagens cativantes e divertidos, muito bem escrito te guiando para diversas situações imprevisíveis e cômicas. Com uma mão pesada em alguns momentos, um terceiro ato fraquíssimo e com algumas piadas batidas e fora de lugar, mas que com certeza irá valer a pena no final. Recomendo a todos.
É sempre bom ver obras de autores com traços tão únicos e particulares como os dos irmãos Coen, aqui temos um prato cheio de todas as suas peculiaridades e singularidades que os fizeram tão famosos e que são reconhecíveis em todas as suas obras. A tragicidade é o tema central que rodeia todas as histórias do longa e com isso podemos tirar uma interpretação diferente em cada uma delas.
O humor da dupla está afiado e muito bem refinado, com exceção de um personagem, ao meu ver, todos desse universo não são forçadamente caricaturais para buscar um humor pífio, todos são cômicos de suas maneiras e foram muito bem escritos para desempenhar tais papéis. Não são todos que irão encontrar graça, mas para os fãs do gênero certamente não serão decepcionados.
Cada conto como dito anteriormente tratará de algum tema do comportamento humano e até mesmo das nossas expectativas como expectadores de como as história são conduzidas na maioria das vezes, utilizando de alguns artifícios cinematográficos que nos frustram e revelam como nos prendemos a aquilo que queremos ver e não a aquilo que nos é mostrado. Autoconfiança, falsa esperança, medo e ganância são alguns dos sentimentos que os diretores mostram que podem nos levar a morte.
Mas com certeza o ponto forte do filme são suas atuações, com exceção do personagem do Tim Blake Nelson que me gerou uma antipatia e logo comprometeu sua atuação para mim, todos dão um show de interpretação, com destaque para Tom Waits, Chelcie Ross e Grainger Hines. O sotaque e a caracterização de todos está excelente e crível, todos carregam o filme sem problema.
Porém o filme apresenta alguns problemas que atrapalharam minha experiência, começo citando o uso do CG para a composição dos cenários e o filtro utilizado na maioria das cenas que retiram o público da imersão nas histórias e alguns eram tão mal feitos que me questiono a necessidade da existência dos mesmo dentro do longa.
Além do fato de algumas história serem claramente mais desenvolvidas e mais interessantes que outras, algo que atrapalha muito o ritmo do filme, as duas ou três primeiras foram as que menos gostei e passar por elas foi uma tarefa até que tediosa. As transições de um arco para outro também não eram sutis e criativamente interessantes, julgando pela capacidade dos diretores esperava algo mais inspirado, não apenas cortes secos e uma transição repetitiva.
The Ballad of Buster Scruggs é uma coletânea do quão baixo o ser humano pode ser e a que fins isso pode levar, recheado de um humor seco e acido, além de excelente atuações. Um prato cheio para os fãs dos irmãos Coen, mas que para aqueles não familiarizados com suas obras podem achar uma experiência chata e tediosa, mas que posso considerar uma ótima porta de entrada para a sua filmografia. Recomendo.
Teorias da conspiração sempre são assuntos que atraem a atenção das pessoas, elas mexem com nosso senso de desconfiança e de sempre nos questionar sobre as coisas. Quando isso se aplica sob uma das instituições que tem a fama de esconder e encobrir diversos segredos que nunca cairão no conhecimento do público em geral, ou apenas por enquanto, é praticamente impossível não ficarmos interessados sobre o que eles tem a falar. Apesar de não saber o quão absurda essa história é em questão de seus fatos, confesso que gostei da inventividade da trama.
Um filme de mistério não funciona se o mesmo não é bem construído e interessante, mas aqui somos pegos e forçados a acompanhar todos os detalhes do começo ao fim, para que possamos descobrir mais sobre essa possível verdade que está escondida de todos. Apesar de absurda, entendemos tudo o que nos é apresentado e tudo parece ser carregado de uma verdade devido a alguns truques utilizados para dar credibilidade às informações passadas.
O filme é excelentemente fotografado, com movimentos de câmera que transitam entre ambientes e andares com suavidade, o CGI ajuda muito nesse aspecto, ajudando a construir algumas dessas transições. Mas utilizado porcamente em alguns momentos, principalmente nos flashbacks, quando tem o propósito de dar uma característica visual para que o público se situe na linha temporal do filme, que as vezes pode ser necessário, mas o que foi criado aqui considerei desnecessário e completamente destoante da obra.
A trilha sonora é bem telegrafada e típica dos filmes do gênero, algo mais marcante teria feito muito bem a este longa. Todos os atores estão bem em seus papéis, com destaque para Paul Bettany que apresenta um personagem regado de insanidade e violência, seu olhar é amedrontador e seu tom de voz calmo esconde sua natureza explosiva e letal, de longe o melhor trabalho presente na obra. Tom Hanks tem carisma de sobra e carrega bem o filme, sem nada a ser elogiado, assim como Audrey Tautou que é uma boa atriz, mas que aqui fica muito apagada e limitada a uma personagem desinteressante.
Todos os personagens do filme possuem algum detalhe traumatizante em seus passados, mas nada é muito bem explorado, o uso dos flashbacks nos situam de suas situações, mas são pessimamente utilizados, são jogados na tela sem qualquer logicidade para seu uso ou demonstração de intenção de que eles irão ocorrer. Alguns diálogos também possuem esse defeito, sendo utilizados muitas vezes para fazer exposição e avançar a trama, não para acrescentá-la.
Apesar de possuir alguns altos e baixos, The Da Vinci Code é um bom filme de mistério, com uma linha bem delineada de causa e consequência que prende sua atenção durante toda sua duração. Com atores carismáticos em personagens desinteressantes e mal explorados, operante em sua direção e trilha sonora. Um bom entretenimento.
A dúvida é inerente a todas as decisões que se toma no decorrer da sua vida, se perguntar se aquilo foi o mais correto a se fazer é quase que uma maldição que muitos são condenados a carregar pelo resto de suas vidas, é impossível sabermos aquilo que não aconteceu e nossa única saída para isso é apenas não pensar, deixar de lado e seguir em frente. Bons filmes de mistério são aqueles que além de te manter intrigados com o problema enfrentado, lhe apresentam a algum dilema que não importa o quanto o você pense, não há uma resposta 100% certa, pois querendo ou não, a vida também é assim.
Casey Affleck não é um ator excepcional, sua inexpressividade é mais uma característica de sua atuação do que do seu personagem em si, logo ele tem que se apropriar de papéis que não exigem diversas facetas de seu ator, e isso é quase o caso aqui, pois esse detalhe traz uma carga mais amedrontadora e analitica para Patrick, mas em muitos momentos a falta de um momento de entrega e impacto emocional faz falta. Ed Harris e Amy Ryan são de longe os dois melhores no elenco secundário, nos apresentando os momentos mais memoráveis do filme e consequentemente as melhores atuações.
O longa é muito bem fotografado por sinal, muito uso de câmera na mão e de cenas longas trazendo um ritmo bem orgânico para a obra. Sua trilha sonora é bem telegrafada, usada em muitas cenas apenas para ditar o tom das mesmas e manipular os sentidos do público, nada a se elogiar. A violência presente no filme é um ponto positivo, quando usada para chocar e com um propósito na trama, ela se torna mais poderosa e impactante, e seu uso aqui é na dose certa e em momentos pontuais.
Porém o longa possui sério problemas enquanto ao seu ritmo e construção, pois em sua tentativa de manter o mistério sempre imprevisível, acaba se estendendo muito para chegar em sua conclusão e isso abre brechas para certas inconsistências narrativas que tiram um pouco da realidade que o filme trazia até o momento. Até mesmo no momento em que chegamos a grande revelação para a história, o impacto é consideravelmente reduzido por conta de alguns conflitos mal construídos e conveniências aleatórias com a única utilidade de mover a trama e levar o protagonistas a concluir o enigma.
Gone Baby Gone começa como um excitante filme de suspense, com um ótimo mistério, com personagens e um universo interessantes que permitiram algumas possibilidades originais e inovadoras. Com diálogos reais e naturais, violência e boas atuações. Mas que perde uma qualidade considerável na segunda metade do filme e desaponta com sua conclusão. Existem muitos filmes do gênero melhores que este, mas não o considero ruim, vale a tentativa.
Acredito que o maior medo da maioria dos pais é de perder seu filho em meio a uma multidão quando se sai com o mesmo, imagina então sair para trabalhar e ao chegar em casa descobrir que seu filho sumiu, e só voltar a encontrá-lo 25 anos depois do fatídico dia em questão. Conseguir realizar um filme com uma história tão íntima e real não é uma tarefa fácil, tudo aqui poderia cair em algum vício ou em terreno comum tornando a obra mais acessível para o grande público, mas ambos aspectos são misturados com uma personalidade única da obra que a distingue de muitas outras por aí.
O casting foi preciso e excelente, a primeira parte do longa é carregado basicamente por uma criança de 8 anos e o trabalho de Sunny Pawar é de longe uma dos mais elogiáveis dentro da obra, os olhos desse garoto são de uma expressividade absurda, e assim como muitos outros jovens talentos, ele se perde em seus personagem e sua atuação se torna vívida e verdadeira. Dev Patel assume na segunda parte, e é muito desfavorecido pelo roteiro e assim sua atuação acaba caindo em muitos vícios, mas quando bem dirigido em algumas cenas, se torna forte e poderosa, gosto do trabalho desse ator. O resto do elenco também está muito bem com a presença de Nicole Kidman, nomeada para o Oscar de melhor atriz coadjuvante por sua participação.
A cinematografia é belíssima, com muitas composições e cenários que realçam muito a grandeza e a vastidão da Índia e do mundo. Há diversos segmentos interessantíssimos, com uma mistura de realidade e sonho, retratando o confronto emocional que o protagonista enfrenta, não me lembro de ter visto algo parecido antes. E ainda no início do filme, diversas cenas são filmadas de uma maneira para nos causar desorientação e confusão diante das grandes multidões da perspectiva de uma criança, e esse sentimento é muito bem utilizado no decorrer inteiro do longa.
Mas assim como dito anteriormente, diversos momentos são carregados de situações clichês e discursos irreais, afetando muito o envolvimento do público com a história que se torna muito comum e previsível tirando o ritmo natural que o longa vinha construindo. A falta de uma organicidade no segundo para o terceiro ato tornam as coisas muito apressadas e abruptas, o embate que Saroo enfrenta é abordado de uma maneira quase que jogada, muito tempo é desperdiçado em pontos não relevantes e assim não criamos empatia pelo sofrimento que o mesmo passa em alguns momentos.
Lion é uma excelente obra sobre uma história que parece até fantasia de tão irreal que é, mas que é retrata com uma sensibilidade e visceralidade que é quase impossível não se emocionar. Recheado de atuações carregadas e vívidas, uma cinematografia estonteante e elementos originais e criativos, mas que falha em sair de algumas convenções do gênero e elementos baratos para manipulação emocional do público. Recomendo a todos.
Excelentes filmes são aqueles que quando revisitados, são capazes de tornar sua experiência tão prazerosa quando sua primeira ou até mesmo melhores. E é muito bom quando a segunda opção é a que se realiza, reassistir Arrival foi uma das melhores decisões que pude tomar, o longa é carregado de inúmeras mensagens e filosofias, tornando quase impossível de se absorver tudo em apenas uma única vez. Também percebemos o quão bem sua história e narrativa foram construídas, lembro-me que não havia percebido e até mesmo não compreendido tudo, principalmente seu filme, mas agora admiro e aplaudo a obra como um todo.
Denis Villeneuve aqui mostra mais uma vez por que o considero meu diretor favorito em atividade, todas as escolhas que ele fez para sua história aumentam muito nossa imersão. Todos os cenários do longa foram construídos especialmente para ajudar seus atores a se sentirem dentro do filme, algo que o diretor sempre faz em seus filmes, ele pouco usa o artifício de CGI quando o mesmo não se prova necessário, a diferença que isso faz para a obra é sentida. Seus filmes são palpáveis e cheios de vida, poucos conseguem fazer o que ele faz, com tanta qualidade e sensibilidade.
Amy Adams também faz um trabalho espetacular em questão de transmitir vivacidade e realidade para o longa, Denis fornecia apenas o necessário do roteiro para ela com o intuito de não afetar sua atuação com a resposta para o final do filme, e isso é perceptível em suas expressões. Seu trabalho é muito íntimo e sutil, ela funciona brilhantemente como um fio condutor dos sentimentos de sua personagem para o público, a confusão, a tristeza e até mesmo a determinação são transmitidas para além da tela com um poderio imenso. Jeremy Renner e Forest Whitaker também estão no filme, mas não possuem muito o que fazer, estão bem em seus papéis, mas não roubam o show de Adams.
A cinematografia é outro ponto de extremo destaque, as composições feitas são de uma beleza estética hipnotizante. O clima criado para a obra é imersivo e melancólico, Villeneuve junto do diretor de fotografia Bradford Young queriam criar um ambiente que lembrasse uma segunda feira de manhã chuvosa, onde olhamos pela janela e sonhamos com alguma possibilidade, e assim o fizeram, a sensação mística e irreal proporcionadas são nítidas e tangíveis. Misture isso a uma trilha sonora excelente, com belo uso do violino, e temos momentos que dificilmente sairão da sua memória durante muito tempo.
Apesar de um ponto no roteiro ser ilógico em minha percepção, é estranho pensar sobre como o acontecimento do filme poderia influenciar e até mudar tudo que conhecemos, nossa forma de se relacionar com as outras pessoas, nossa forma de pensamento e até mesmo nosso conceito sobre o que são sentimentos e como os mesmo funcionam. Será que precisaremos que um dia tudo o que foi mostrado aconteça, para que aprendamos a nos comunicar e a lidarmos com nossas diferenças e rivalidades em prol de um bem maior e de uma coexistência pacífica e benéfica?
Assistir Arrival é uma experiência que mexerá com você e com certeza o fará refletir sobre muitas coisas, brilhantemente dirigido e atuado, com uma excelente trilha sonora e cinematografia, aqui temos um pacote completo do melhor que o cinema pode oferecer e como uma ótima Ficção Científica deve ser feita. Além de um questionamento final que deverá deixar a muitos inquietos com sua complexidade e dificuldade. Recomendo a todos e os faço a pergunta: No lugar de Louise, vocês fariam a mesma jornada?
Um grande triunfo que muitos filmes não conseguem alcançar quando se trata de suas histórias e até mesmo de suas escolhas de casting, é a naturalidade e a realidade que as mesmas emanam para o público. A maioria dos elementos presentes neste longa já foram utilizadas em alguma outra obra, a familiaridade da mesma é gigantesca, pois sentimos que já vimos isso em algum lugar, mas as características anteriormente citadas é o que a destaca e a diferencia de tantas outras que falham em a conseguir.
A grande e maior virtude deste filme são as atuações, Jeff Bridges foi nomeado e premiado no Oscar por seu trabalho. Algo que este ator faz muito bem é viver seu personagem ao ponto que fica difícil de se separar quem é ator e quem é o personagem, ambos parecem um em cada um de seus filmes, atuar é algo natural para ele, merecendo assim todos os prêmios que recebeu. Maggie Gyllenhaal também faz uma participação expressiva no longa, com excelentes momentos de entrega e naturalidade em sua atuação, ajudando muito a imersão do público no filme.
Outro ponto a ser elogiado são as canções, fiquei em dúvida enquanto assistia o longa mas após seu término confirmei que todas as músicas foram compostas unicamente para o filme e interpretadas pelos próprios atores, que foram auxiliados por professores de canto. Até mesmo um dos shows fora gravado em um palco real de um show que estava acontecendo em Albuquerque, com uma plateia real que realmente estava surpresa em ver Colin Farrell e Jeff Bridges subiram ao palco. Não preciso nem dizer o quão benéfico isso é para uma obra, todos esses detalhes são sentidos pelo público e agregam muito valor ao tom que o filme vinha construído até o momento.
A realidade do filme é sua maior virtude e também sua maior fraqueza, em muitas partes acompanhamos momentos rotineiros da vida dos personagens que não agregam muito a narrativa e a falta de muitos embates ou reviravoltas mais emocionantes no longa fazem falta, tornando a experiência de assisti-lo monótona e apenas apreciativa, e não envoltória. Mesmo quando somos introduzidos em um momento que deveria ser emocionalmente mais carregado ou um clímax para a história, ele não se prova muito interessante, mas sim destoante de tudo que vínhamos acompanhando até o momento, chegando a ser o único momento que realmente me incomodou.
Crazy Heart é um excelente drama, com personagens muito bem escritos e com uma trama madura e consciente de si mesma, com excelentes atuações e com músicas excelentes, mas que podem não ser tão agradáveis para quem não gosta do gênero Country. Uma experiência amena e monótona, mas que não desagradará aqueles que apreciam uma bela construção de personagem. Recomendo a todos.
Mágica sempre foi algo que me fascinou, procuro não entender os truques por detrás delas para ainda manter esse sentimento de surpresa e empolgação quando as vejo. Logo filmes que possuem essa temática automaticamente já chamam muito minha atenção e possuem uma tendência maior de me agradar dependendo de sua abordagem para este assunto. Mas claro que esses precisam ter suas próprias maneiras únicas de nos surpreender dentro do esperado para um obra dessa, e fico grato por ser indagado sobre algo que nunca havia refletido, qual o maior efeito que uma simples apresentação de entretenimento pode exercer sobre uma plateia e sobre seus conceitos?
O elenco do longa possui bons atores, como Edward Norton e Jessica Biel, mas não chega a ser um ponto de destaque, todos estão operantes em seus papéis e dedicados aos seus personagens. Porém este é um filme de roteiro, e aqui entra muito da subjetividade, pois todos somos afetados diferentemente pela história, com alguns que podem ter adorado ou até mesmo odiado. Confesso que mesmo com a reviravolta do final do filme, não consegui me sentir satisfeito com esta conclusão, acho que a obra se beneficiaria muito mais do final para o qual a mesma estava se dirigindo, mas como um todo o longa é bem fechado.
Em relação ao truques de mágica presentes no filme me encontro dividido, pois assistindo o longa eu não tinha dúvidas de que tudo era feito em CGI e isso me afastou muito da história, tirando a graça da mesma, mas após o término do filme descobri que muitas das ilusões eram reais e que Norton teve aulas intensivas de mágica para conseguir realizar os truques, então tiro o chapéu para os realizadores. Mas mesmo assim as apresentações não se mostravam empolgantes ou excitantes, diferentemente de seu filme concorrente The Prestige, que apresenta truques memoráveis e desafiadores.
O filme é muito bem fotografado, com movimentos de câmera inventivos e até mesmo complicados, com variações de ângulos diferentes e bem originais. Certas cenas são até mesmo iluminadas a luz de velas, dando um charme maior a obra muitas vezes, mas que acaba atrapalhando um pouco a experiência pois fica difícil de se enxergar o que está acontecendo na tela devido a escuridão de certos ambientes. Até mesmo o CGI excessivo atrapalharam na imersão completa do público no filme, e tirando a fidedignidade quando usada em alguns dos truques de mágica, sendo bem perceptível em vários momentos.
The Illusionist peca muito no quesito entretenimento com suas apresentações, algo que deveria ser essencial para obras do gênero, mas mesmo assim possui uma boa história de amor por trás, algo que era o foco deste o começo do longa. Com uma reconstrução de época excelente e com bons atores, pode ser um passatempo para muitas pessoas, mas não chegou a me agradas. Fica a seu cargo a decisão de assisti-lo ou não.
O quão melancólica e vazia a vida de uma pessoa pode ser, quando a mesma se dá por conta que se encontra sozinha e sem uma realização significante para que seja lembrada ou até mesmo para se orgulhar. Assim somos inseridos no cotidiano de Don Johnston, um homem inexpressivo e entediado com sua rotina, que permanece grande parte dos seus dias sentado em seu sofá, com as luzes apagadas e ouvindo música ao fundo assistindo as horas passarem e um novo dia começar, mas que por algum motivo já viveu diversos amores e atrai a atenção das mulheres para si.
Até mesmo a forma como o filme foi fotografado enfatiza este aspecto do protagonista, pois somos forçados a acompanhá-lo em grande parte de sua jornada em momentos desinteressantes, como ele pedindo informação para alguém ou dirigindo horas a fio para encontrar uma de suas ex-amantes. E assim como ele, ficamos entediados, ele não tem felicidade alguma realizando aquela experiência e assim nós também não a temos, mas engana-se quem acha que nada acontece, Don é influenciado e muito sobre essas situações, pegue como exemplo a cena do cemitério onde vemos que ele sim se sente muito afetado pelo acontecido, e no final onde vemos que tudo aquilo fez surgir um sentimento do qual ele provavelmente nunca tinha sentido.
Bill Murray é um dos meus atores favoritos, em grande parte por sua sinceridade e simplicidade na qual ele interpreta muitos de seus personagens, todas as suas emoções e pensamentos podem ser captadas apenas com seu olhar e sua expressão. Este papel o caiu com uma luva, dando vida a um homem amargurado e frio, que parece incapaz de sentir algo por outra pessoa, com maestria. Com um elenco secundário recheado de nomes de peso como Tilda Swinton e Sharon Stone, que fazem o longa estar bem servido de ótimas atuações.
Mas mesmo o maior apreciador de um ritmo lento irá encontrar problemas para acompanhar este filme do começo ao fim, devido ao excesso desses momentos de tédio do protagonista, dando impressão que o longa está fazendo rodeios e não chegando a lugar algum em muitos momentos. Além de uma trilha sonora que não se encaixa com o tom do filme, me desagradando na maioria das vezes em que ela aparecia, uma boa trilha sonora é excencial para este tipo de filme e sua falta deixa muito a desejar na experiência que é proposta pelo longa.
Broken Flowers é um excelente estudo de personagem e um ótimo exemplo de como uma obra pode refletir e retratar a personalidade de uma pessoa, mostrando assim suas virtudes e anseios tanto quanto seus defeitos e imperfeições. Brilhantemente atuado, mas com sérios problemas de ritmo e substância narrativa. Definitivamente não é um filme para todos, a quem se interessar fica a recomendação.
Filmes costumam brincar muito com os nossos conceitos e certezas, e é sempre uma grata surpresa quando o mesmo consegue subvertê-las e nos surpreender com um ponto de vista que não teríamos normalmente com qualquer outra obra do gênero. E assim somos apresentados a duas jovens, Amanda e Lily, que logo de cara definimos suas personalidades e possíveis ações por base em pequenas observações e informações que nos são passadas, mas que futuramente serão abordadas de uma maneira completamente diferente.
Anya Taylor-Joy e Olivia Cooke são excelentes atrizes e possuem uma longa carreira pela frente e com certeza nos presentearão com ainda mais belas atuações, e aqui não o é diferente. Olivia se sai muito bem nos entregando uma personagem fria em sua expressão e que transmite muita curiosidade e dúvida apenas com seu olhar, além de um tom de voz ameno que reflete muito sobre sua personalidade. Por outro lado Anya tem em mãos uma personagem com mais facetas a serem exploradas, e a mesma o faz com perfeição, transitando muito bem de uma jovem perfeita e ideal, para um ser humano falho e cheio de imperfeições. Além de um elenco de apoio recheado de boas atuações e dedicação a seus respectivos papéis.
A cinematografia do filme também é belíssima, com muitas cenas esfumaçadas e um bom contraste de luz em certos ambientes. A câmera transita suavemente pela casa acompanhando seus personagens como se quisesse descobrir as coisas junto a eles. E assim o fazemos, o embate moral proposto pela obra é bem perspicaz, quem é o verdadeiro monstro ou vilão da história? Os momentos de interação entre as duas protagonistas são de longe os melhores do longa, e muito se pode tirar de suas conversas e palavras.
O ritmo do filme estava bem dosado em grande parte de sua duração, nada que estivesse me incomodando, mas faltou alguma substância a mais na história para que ela se mantivesse mais agitada. Muitas vezes somos pegos em momentos vazios e desinteressantes, além de certas situações que acontecem apenas para movimentar a trama de uma forma bem forçada, como a festa em que somos apresentados ao Tim, que é inserida no filme de uma forma bem inorgânica.
Thoroughbreds apesar de ser um filme com uma mensagem bem moralista e uma trama não muito movimentada, possui uma originalidade única e se prova uma experiência diferente e interessante. Com uma atmosfera inquieta e com boas atuações. Recomendo a todos que se interessarem.
Meu primeiro contato com o universo de Sherlock Holmes pelo que me lembro foi com a série estrelada por Benedict Cumberbatch, da qual apenas assisti apenas os dois primeiros episódios e nunca mais retornei a assisti-la. Assim me considero um iniciante nessa história, não possuindo qualquer pré conceito ou expectativa para esta obra separada.
Robert Downey Jr. possui o carisma que era necessário para interpretar seu personagem, sua perspicácia e insolência são passadas apenas pelo seu olhar e expressão, algo que não seria tão natural com qualquer outro ator, a sua fisicalidade para as lutas são bem convincentes. Jude Law e todo o elenco de apoio estão bem em seus papéis e mantém a qualidade da obra quando possuem mais tempo em tela.
O filme é muito bem fotografado, com movimentos de câmeras bem inventivos, com ângulos que mostram muito bem a geografia dos locais sem que jamais fiquemos perdidos. O CGI é muito bem utilizado para incrementar o cenário e favorecer a história, enriquecendo muito mais o longa junto dos figurinos e da direção de arte, que reconstruíram os cenários com primazia, fidedignos a época no qual o filme se passa.
A trilha sonora em alguns momentos é de se encantar os ouvidos, com uma orquestra pulsante e enérgica. Mas ao mesmo tempo em que eleva algumas cenas, a mesma se mostra muito caricata em grande parte do longa, tirando o nosso envolvimento da história por conta do tom mais fantasioso que o mesmo passa para a narrativa.
Outro ponto que me incomodou foram as cenas de ação, algo que foi muito bem utilizado em algumas cenas como a da luta clandestina, mas pessimamente executada em outros, como na cena da luta no local de construção do barco que é carregada de CGI que se destoa muito do cenário e dos personagens, tornando a cena plástica e desempolgante.
Sherlock Holmes é um excelente entretenimento para aqueles que possuem um tempo livre, pois apesar de ser previsível, possui diversas cenas empolgantes e divertidas que com certeza agradarão grande parte do público. Bem dirigido e atuado, cheio de detalhe e cuidado em sua construção. Recomendo.
Temas como o embate entre os seus impulsos e características inerentes contra suas responsabilidades e compromissos com as pessoas ao seu redor são constantes nas obras de Wes Anderson, e nada melhor do que um universo composto de animais com aspectos humanoides para divagar sobre tais questionamentos.
Os personagens do filme foram muito bem escritos e interpretados, todos são interessantes e com características e personalidades únicas e bem definidas, traçando inúmeros paralelos entre eles e os problemas enfrentados por muitas pessoas na nossa sociedade. Talento e esforço, ganância, inveja e amor são alguns dos muitos assuntos e complexidades morais que os animais da obra enfrentam em seus cotidianos.
O ambiente e a construção dos cenários é de uma riqueza e de um cuidado meticuloso, tudo é muito vistoso e palpável, o uso de cores aqui é de um uso magistral mostrando por que essa é uma das características mais marcantes do diretor e por que ela o tornou tão conhecido. E por se tratar de uma animação em Stop Motion, tudo ali é construído e estrategicamente posicionado para permitir os movimentos dos personagens e da própria câmera.
Assistir a esse filme foi uma experiência diferente, sendo um dos meus primeiros contatos com este estilo de animação que consigo me lembrar, Wes Anderson trouxe todo seu estilo para que esta obra não fosse completamente diferente da estética visual de todos os seus filmes. Até a própria captação das vozes dos atores foi realizada de uma maneira inconvencional, levando-os a locações reais como fazendas e campos para que houvesse uma maior naturalidade nos diálogos e espaço para maiores improvisações para seus personagens.
Mas como se trata de uma adaptação de um conto infantil, a liberdade artística que podia se ter sobre o material era limitado, não sei o quanto se foi alterado, mas é visível a estrutura mais amistosa que a obra possui em alguns momentos, pois mesmo quando nos encontramos em algumas cenas mais tensas ou empolgantes que poderiam ser melhor desenvolvidas ou solucionadas, somos presenteados com resoluções pouco inspiradas e incoerentes (se é que se pode cobrar alguma realidade de um longa como este).
Fantastic Mr. Fox tem muito a dizer sobre as relações humanas e sobre conflitos de caráter, mesmo com personagens não humanos, indagando sobre o quanto temos de controle sobre nós mesmos e sobre nossos impulsos e como em prol de um convívio melhor com as pessoas sacrificamos esse lado. Como filme de aventura funciona muito bem por seu valor de entretenimento, mas o teor infantil e o humor atrapalharam meu envolvimento emocional com a história. Caso não se importe com qualquer um desses problemas levantados, recomendo o longa.
O ser humano é dependente de respostas, sempre buscamos explicações para tudo e nos apegamos a qualquer coisa que se aproxime disso. Imagine quando isso se aplica a um caso de um assassino misterioso, que continua solto apesar de todos os esforços e toda a dedicação das pessoas envolvidas no seu caso por mais de 25 anos, o quanto isso pode mexer com alguém e com sua vida. Compartilharei uma frase que li sobre esse filme me chamou muita atenção e diz muito sobre o que o filme é, “Existem mais de uma maneira de perder sua vida para um assassino”.
Aqui temos um grande exemplo de como uma excelente direção faz diferença em um filme, David Fincher é um dos grandes diretores de sua geração, e aqui ele usa o melhor que a tecnologia pode oferecer, usando muito CGI para incrementar sua história e não como seu ponto principal, e o poder que isso dá ao longa é incrível, pesquise no youtube o quão bem feitos são os efeitos visuais deste filme. A recriação de época é primorosa e se beneficiou muito dessa ferramenta, mas mesmo as locações recriadas fisicamente são incrivelmente detalhistas e fiéis.
O trabalho de cores nos cenários e dos figurinos são pontos a serem levantados, com muito uso do azul e do amarelo, retratando grande parte dos dois estados de espírito da investigação, azul sendo para quando o caso estava “frio” e mais abandonado e com o amarelo para quando o caso ainda estava vivo e se tinha esperança de que poderia ser concluído, até mesmo a iluminação dos cenários realçam essas cores, tudo foi muito bem planejado e minuciosamente executado.
Todos os atores estão bem em seus papéis, não há grande atuações memoráveis, mas ninguém deixa o nível do filme cair, a decepção, a obsessão e a raiva são sentimentos muito bem retratados por todos e visíveis em suas expressões. Além de conseguirem lidar bem com a exigência do diretor para que conseguissem falar suas frases o mais rápido possível, e em nenhum momento isso se torna confuso ou irreal, a naturalidade e a realidade desse filme é algo elogiável.
Porém esse mesmo detalhe dos diálogos rápidos prejudica no quesito do ritmo do filme, pois em alguns momentos somos bombardeados de informações e nomes, tornando o longa frenético e requerendo muita atenção para não perdermos seus detalhes e informações, mas em outros momentos era abordada uma lentidão maior para as situações e as conversas, entediando muitas vezes o público, mostrando como essas transições não foram bem dosadas.
Zodiac é um excelente retrato de como a obsessão por respostas pode afundar uma pessoa e sua vida pessoal, além de se mostrar uma crítica a todo um sistema que parece ter se esquecido e até mesmo desistido de pegar um criminoso que continua impune mesmo com muitas pessoas dispostas e encontrá-lo e prendê-lo. Brilhantemente dirigido e com boas atuações, não deve ser perdido por ninguém, um dos melhores filmes de mistério que já assisti, mas que deve decepcionar aqueles fãs mais fervorosos de momentos de ação com trocas de tiro e sangue, então fique avisado. Recomendo a todos.
Desarmar bombas com toda a certeza deve ser um dos trabalhos mais estressantes e perigosos do mundo, desconfiar de todos os civis ao seu redor e ser rápido e minucioso com suas ações são apenas algumas das coisas que essas pessoas tem que fazer e passam todos os dias, onde acordam e saem para missões onde suas vidas estarão sempre em jogo. Aqui acompanhamos apenas essa jornada, essas lutas do cotidiano de uma guerra, algo muito mais introspectivo do que a maioria dos filmes traz para as telas.
A abordagem do longa é de se aproximar o máximo que puder do tom documental e para isso há muita câmera na mão e ângulos poucos convencionais e claros, li que a quantidade de material filmada foi absurda e não à toa a diretora optou por cortes rápidos e de diversas posições, aumentando assim nossa confusão com o caos das cenas, onde o perigo está por todo lado e logo não sabemos para onde direcionar nossos olhos, também nos colocando como observadores dos militares como se fossemos os civis.
As cenas que envolvem “ação” como o desarmamento das bombas ou das trocas de tiros são extremamente poderosas e tensas, é visível o planejamento e o cuidado com cada cena por parte dos atores e da direção. Este aspecto cotidiano e reduzido, tira um grande elemento da maior parte dos filmes de guerra, que seria o rosto do inimigo, não sabemos quem é o vilão, para quem eles lutam e pelo que eles correm todo aquele risco, aumentando assim nossa insatisfação com as situações que os protagonistas se encontram.
O trabalho de casting desse filme também é excelente, todos estão perfeitos em seus papéis, Jeremy Renner e Anthony Mackie são os que possuem mais tempo em tela e dão muitas camadas aos seus personagens, a cada missão vemos e entendemos mais sobre suas personalidades, e a entrega dos atores é visível e fiel. As locações, figurinos e as próprias bombas ajudam muito a imersão nesse universo, tanto dos atores quanto a nossa, é incrível pensar que isto é apenas um filme, tudo foi feito com muita dedicação e cuidado.
Porém o filme peca muito em manter o filme interessante durante os momentos fora de ação, se arrastando muito em alguns diálogos que não levam a lugar algum ou que se mostram muito abruptos, assim como algumas cenas que não parecem ter feito parte do conjunto da obra, como se tivessem sido jogadas e abandonadas. O desenvolvimento dos personagens é um dos aspectos que mais falhou no longa, pois ele não é presente, muitas indagações são citadas em certos momentos e abordadas em outros completamente diferentes sem qualquer confirmação ou peso.
A “confusão” visual intencional também atrapalha um pouco a experiência, tirando muitas vezes nosso envolvimento com a cena assim como sua tensão e importância. Outro ponto a ser levantado são as incongruências e facilitadores que o filme se utiliza para movimentar sua trama, como por exemplo um soldado de um grupo desarmador de bombas saber manusear uma sniper com primazia ou para um terrorista esperar e demorar para acionar uma bomba apenas para os protagonistas terem mais tempo de fazer algo.
Contudo, The Hurt Locker é um excelente filme de guerra que mesmo com seus defeitos, entretém e tensiona com uma direção primorosa e atuações que te arrastam para a proposta da obra, mostrando um lado que nunca foi muito comentado ou explorado pelas pessoas, assim como as feridas físicas e mentais que ficam nos soldados e nas pessoas que estão nessas zonas de confronto, mereceu todos os prêmios pelos quais foi indicado. Recomendo a todos.
Quando se vem a cabeça os cultos formados por poucas pessoas, com hábitos e comportamentos únicos e muita vezes anormal a realidade cultivada pela sociedade e pela maioria de seus integrantes, nos questionamos o que leva aquelas pessoas a fazerem aquilo ou até mesmo se juntarem a essas pessoas. Este filme mostra justamente o lado mais cético e cruel de grande parte dessas seitas, o abuso e o aproveitamento da fragilidade de seus integrantes para benefícios egoístas de seus líderes.
A cinematografia do longa é de se encantar os olhos, o trabalho de iluminação e das cores criam uma atmosfera e um ambiente extremamente tensos e que transmitem a mesma sensação de inquietação e paranoia que a protagonista sente, com um constante senso da iminência de algum acontecimento ruim. A trilha sonora também se mantém muito pontual nos momentos que quer repassar os sentimentos de Martha para o público, com sons agudos e graves, como estrondos que surgem de repente em certas ocasiões.
Agora falando sobre o ponto alto da obra, Elizabeth Olsen faz muito bem seu papel retratando muita confusão e distância com seu olhar, sempre que está em cena não temos com tirar nossos olhos dela. John Hawkes e Sarah Paulson ganham destaque também por suas atuações, mantendo o mesmo nível de entrega e energia que Elizabeth. No geral todo o elenco está bem, ninguém está perdido ou deslocado, um excelente trabalho de casting.
Porém o filme tem muitos problemas no quesito história, a falta de explicações para muitas situações impedem nossa identificação com a protagonista e de sentirmos sua dor por toda a experiência traumática que a mesma passou, ao invés de investir nisso o filme se prende muito a flashbacks que poderiam ser muito mais concisos e diretos, tornando o filme muito arrastado e vazio em certos momentos.
O final do longa também deixa a muito desejar, não por sua “confusão”, mas sim pela sua insatisfação perante ao que se era esperado pelo público. Assim a impressão que nos fica é a de inconclusão e de sem importância, a recompensa por acompanhar a história não nos é dada, nenhuma mensagem parece ter se retirado dessa experiência.
Martha Marcy May Marlene é um excelente retrato de como uma experiência pode traumatizar uma pessoa, subvertendo seus conceitos e certezas, formando talvez cicatrizes que nunca sumirão, com um excelente clima de tensão e mistério, mas que desaponta com sua conclusão e com sua substância narrativa. Fica a seu cargo dar chance a esta experiência ou não.
Bom Trabalho
3.8 76 Assista AgoraO cinema sempre foi predominantemente sobre uma visão masculina da sociedade e das pessoas, por isso sempre é uma experiência valiosa absorver obras que vem de outras perspectivas não padronizadas, aqui Claire faz um estudo bem poético sobre a masculinidade e as interações entre um grupo de homens, potencializados pela situação de isolamento de soldados que convivem diariamente sem contato com o sexo oposto em sua grande parte.
O contraste das situações tipicamente militares com os movimentos de balé especificamente feitos para o filme causam uma sensação de sensualidade que beira a obra quase que como um todo, um olhar sobre os corpos que não estamos acostumados a ver. Inveja, medo e repressão, um triste retrato para aqueles que encontram sua liberdade apenas no final, uma jornada bem única para aqueles que se interessarem.
Varda Por Agnès
4.4 40 Assista AgoraDiscutir cinema e tudo que o envolve é sempre algo interessante, existem diversos pontos de vista sobre como apreciá-lo ou fazê-lo, e este é um exercício proposto aqui de uma forma muito pessoal por Agnès, ao passo em que analisa sua carreira, suas paixões e inspirações, passando por todos os campos em que fora envolvida, desde a criação de seus filmes até sua abordagem com as fotografias.
É incrível como o documentário trabalha essa metalinguagem de sua autora com suas obras, já que as próprias obras já são metalinguísticas por sua criação, com cenas onde a própria diretora aparece, momentos onde há conversas com as pessoas filmadas e apresentações da Varda para um público, onde tudo se entrelaça para entendermos melhor sua visão sobre sua vida e todas suas criações, como ela vê o impacto disso nas pessoas e como aquilo impactou sua vida e representavam fases e momentos vividos por ela.
Mesmo nunca tido contado com sua filmografia, o documentário não perde sua força, muito pelo contrário, minha curiosidade e interesse por ela apenas aumentou, poucos filmes me deixaram sem palavras como esse, realmente um retrato belo de uma pessoa apaixonada pelo seu ofício e pelas pessoas que representava e que participavam de suas criações, com uma visão muito clara e interessante sobre essa arte, recomendo a todos.
A Doce Vida
4.2 316 Assista AgoraEsse é o primeiro filme do Fellini que assisto, e que surpresa maravilhosa, acho que a cena que descreve melhor o que é esse filme em uma frase é quando no segmento final, ao final de uma festa uma personagem diz "obrigado pela festa, mas chegou a hora de ir embora" e é muito sobre isso que o filme aborda, onde nosso protagonista fica nessa odisseia de acontecimentos hiper reais, como se abrigasse em suas aventuras e festas para fugir de sua realidade, de algo "comum" e da normalidade, ao passo em que acompanhamos diversos comentários sobre essa sociedade artística e elite italiana, que por sua vez era a mesma que o diretor estava inserido em quanto vivo, as quase 3h de filme pesam em alguns momentos mas acho que isso é uma das poucas coisas ruins que posso dizer já que toda a qualidade geral do filme o carrega com muita facilidade, toda a noção de enquadramento e coreografia geraram cenas incríveis que só melhoraram a experiência, ansioso pelo que verei a seguir dele.
Uma Mulher é Uma Mulher
4.1 267“Está passando Acossado na TV”. Essa frase diz muito sobre como será Uma Mulher é Uma Mulher, onde Godard o trabalha com uma comicidade única e com um humor extremamente auto-referencial muito interessante, com técnicas muito a frente de seus tempo. O longa foi lançado após seu grande sucesso Acossado, o que por muitos é considerado uma obra prima e seu melhor trabalho, logo a tarefa não seria nem um pouco simples.
Seu maior diferencial é sua estrutura completamente experimental, temos diversos elementos diferentes sendo utilizados no decorrer do filme. Como o próprio filme se leva como uma espécie de musical vemos a utilização de diversas músicas em momentos banais, que em musicais tradicionais seriam canções realizadas pelos personagens, porém o filme subverte essa característica fazendo cortes bruscos nas mesmas, onde em um corte a ouvimos, em outro não, porém quando o quadro volta ela volta a tocar, se repetindo em diversos momentos.
A quebra da quarta parede traz uma sensação única na forma como nos relacionamos com o filme, em momentos os atores olham diretamente para câmera como se estivessem falando conosco, em outros eles interagem com pessoas na rua que não fazem parte do elenco do filme, algo que realmente fiquei impressionado pela coragem, ainda mais pela época em que o mesmo fora filmado. Porém a característica que mais me chamou a atenção foram as coreografias dos personagens atreladas ao trabalho de câmera, performando muitos planos longos que dão um ritmo diferente ao que se vem construindo na maior parte do tempo.
Em um momento um dos personagens recita a seguinte frase, “Não sei se isso é uma comédia ou uma tragédia”, como foi dito anteriormente o humor auto-referencial é muito usado aqui, logo é engraçado pensar o quanto essa frase se aplica a toda narrativa da história, onde por muitas vezes vemos diálogos que aparentam ser sérios serem quebrados por alguma situação absurda ou cômica, que tira todo o peso da cena, que ocorrem durante quase todo o filme, assim como muitos detalhes das cenas, como o casal que sempre está se beijando em frente ao prédio da protagonista, e até mesmo por diálogos completamente idiotas, como o personagem Alfred tentando convencer o dono do bar a pagar a conta depois.
Porém em minha opinião a característica anterior é sua maior fraqueza, o que falta nesse filme é ritmo, e isso veio como consequência das escolhas feitas pelo diretor no momento de construir sua obra. Tudo se corta e entrelaça, porém dificilmente os elementos casam entre si, aparentando que estamos vendo um artista encontrando sua forma de se expressar e não uma obra que representa uma expressão genuína com significado. Tornando assim a experiência maçante, confusa e por oras chata.
Uma Mulher é Uma Mulher, é um filme diferente com diversas ideias interessantes e precursoras de diversas características que vemos em nosso cinema atual, trabalhando e retratando muitas cenas tabus e olhando para certas perspectivas sociais, principalmente voltadas à mulher, de uma maneira até que progressista para a época. Longa experimental e inovador, mas que peca ao tornar isso suas únicas qualidades, esquecendo de construir um ritmo coeso e uma história ou tema cativante.
Biutiful
4.0 1,1KMe perguntam muitas vezes qual o critério que uso pra escolher assistir a determinado filme ou até mesmo como vim a descobrir tal obra, a resposta que dou a isso as vezes pode ser a das mais simples, apenas por ver uma imagem já me sinto disposto correr atrás do filme para vê-lo. Pois acredito que as imagens em um filme tem poder, todas elas podem passar uma sensação, por isso gosto de me arriscar e sempre que puder, ver algo às cegas, e fico grato sempre que me surpreendo positivamente.
Javier Bardem vem se provando a muito tempo ser um dos melhores atores em atividade, a verdade que ele sempre traz a seus personagens é levada as ultimas instancias dentro de sua atuação, não seria muito dizer que esse filme funciona apenas por causa dele, tanto que o próprio roteiro foi escrito com o mesmo em consideração. A duvida, a dor e o amor pelos filhos são tantos sentimentos que ele nos passa e todos são palpáveis, você compra tudo que aquele personagem esta sentindo. Todos aqui entregam excelentes atuações e trazem dor e veracidade à história.
Iñárritu é outro que se provou ser um dos diretores mais competentes, seu trabalho sempre muito minucioso, apurado e primoroso. Mesmo que a história seja relativamente simples, o cuidado que a direção toma potencializa aquilo que nos é apresentado, os planos longos, os movimentos de câmera suave, o trabalho de iluminação e a ostentação dos seus atores com closes super intrusivos são algumas das muitas coisas que o diretor realiza que agregam muito a narrativa e a forma que nos relacionamos com a mesma.
A história contém diversas analogias e metáforas sobre a morte e a pós-morte, assim vemos o personagem de Javier, um homem que sempre teve uma conexão com a morte, enfrentando a própria iminência da mesma, tentando resolver todas as suas pendências antes de partir e negando a sua condição e sua realidade. O filme não se limita apenas a isso pois também exercita diversos comentários sobre muitos âmbitos da sociedade, mostrando realidades duras e cruéis, que revelam e expõe muito da dubiedade moral do nosso protagonista e de todos aqueles a sua volta.
O fato citado anteriormente é um dos trunfos mas também a grande fraqueza do filme, seu roteiro é inchado e deixa muitos pontos em aberto. De maneira que quis comentar sobre tudo e criticar a muitas coisas, grande parte delas não são trabalhadas de uma maneira profunda, tudo é uma bagunça narrativa de arcos que se cruzam sem qualquer sutileza, no fim não nos permitimos sentir nada pelo tanto que fomos sobrecarregados até aquele momento.
Biutiful é uma obra melancólica e bonita, realizada com um cuidado impecável pelo diretor e belamente atuada. Traz inúmeros comentários sobre moralidade, pobreza e criminalidade, mas que possui um roteiro inchado com muitas histórias paralelas e personagens mal desenvolvidos. A sequência final apesar de alguns problemas, fecha a história de uma maneira impecável, recomendo a todos.
O Garoto da Bicicleta
3.7 323 Assista AgoraRecentemente assisti a um vídeo que levantou uma questão sobre o que define e como identificamos a autoria de um diretor em uma obra, isso ficou comigo durante um tempo. Costumo ver meus filmes sem saber nada sobre eles e aqui não foi diferente, porém no seu decorrer penso comigo em a quem aquela forma de se fazer cinema me lembra, logo lembro dos irmãos Dardenne, que no caso são os verdadeiros diretores.
Este filme traz muito as características marcantes da dupla, como seus personagens interessantes, falhos e bem construídos. Sua realidade dura atrelado ao clima visceral e seco que o filme nos apresenta, apresentando tudo de uma maneira distante e fria. Além de um grande elemento difícil de se encontrar e ser bem utilizado que é a sua falta de trilha sonora, que como exceção aparece apenas em alguns momentos do longa.
Os elementos anteriormente citados acredito que são responsáveis pela criação de toda essa identidade cinematográfica da dupla de diretores e isso é muito difícil de se fazer. Porém o filme não é isento de diversos problemas ao meu ver, primeiro comentarei sobre a utilização dos personagens na trama. Somos inseridos na história sem qualquer apresentação do que está acontecendo e vamos descobrindo aos poucos todos os detalhes a que nos são importantes, porém ao contrário do excelente Dois Dias, Uma Noite dos mesmo diretores, os personagens secundários não tem peso, suas motivações não tem uma base bem construída ou convincente, cada um desempenha um papel bem claro e unilateral na trama, o que é um desperdício do potencial que todo o arco do protagonista representa.
Thomas Doret faz um excelente trabalho representando um menino confuso, solitário e irritadiço, com todos os seus trejeitos únicos. A grande forço do filme na verdade são suas atuações críveis, com trabalhos excelentes de todos. Todos os outros aspectos do filme são funcionais, não há planos mirabolantes ou atrativos esteticamente, sendo elogiável os seus planos longos que casam muito bem com a proposta realista do longa pela seu grau de imersão e de naturalidade que requer dos atores na composição das mesmas.
O Garoto da Bicicleta possui excelente atuações com um protagonista interessante, retratado de uma maneira simples e complexa pelas suas relações, mas que peca em um roteiro raso na composição de seus personagens secundários que diretamente prejudica nossa imersão na história e seu ritmo calmo. Fico frustrado com o tanto de potencial que um roteiro desse possuía mas que acabou sendo desperdiçado.
Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças
4.3 4,7K Assista AgoraÉ incrível de se testemunhar o que Charlie Kaufman consegue escrever a partir de uma premissa aparentemente absurda ou completamente exagerada. Seus roteiros são sempre conhecidos por serem bem malucos mas que apresentam diversas observações sobre o comportamento humano e nossas complexidades como seres pensantes e emocionais. O que é feito aqui não é muito diferente disso, peguemos uma ideia tentadora como poder apagar a existência de uma pessoa/ocasião/coisa que lhe causou algum tipo de sofrimento para que assim você se sinta livre para seguir seu dia a dia sem sentir que algo está lhe infringindo algum tipo de dor, e pronto temos nossa história.
A produção e a cinematografia do filme são louváveis, toda essa construção de uma atmosfera de sonho é feita de uma maneira magistral, cada cena é realizada com uma criatividade enorme. Foi priorizado o uso de efeitos práticos para criação da maioria das cenas, essa escolha influencia toda nossa crença naquele universo e na nossa relação com a história, a forma como tudo foi filmado foi com intenção de trazer uma maior intimidade com os personagens e seus sentimentos. Câmera na mão com muitos momentos de instabilidade, cores lavadas e frias em momentos mais tristes e melancólicos, cores mais vívidas e quentes nos momentos mais alegres.
Os cortes rápidos e a montagem criam um dinamismo hipnotizante junto da mixagem de som que soube utilizar brilhantemente essa ideia de sons que se sobrepõe e surgem de lugares inesperados ou até mesmo inexistentes num plano físico. Os diálogos são cirúrgicos na forma em que são inseridos no contexto maior da obra, pois a mesma não é contada de uma maneira cronológica, assim as informações devem ser fornecidas de uma maneira precisa e clara, esse sendo outro mérito do filme, que não deixa o espectador perdido em nenhum momento, pois tudo que nos é necessário é fornecido no momento certo. Cada detalhe desse filme é pensado e inserido de uma maneira sutil, algo que dá vida a uma obra realmente única.
É impossível discutir todos os temas que podem sair dessa obra, como a questão levantada da possibilidade do aprendizado, é fato que aprendemos com nossos erros e os mesmo constroem parte do que somos, não só nossos erros, mas todas as histórias que vivemos, apagar isso lhe previne do sofrimento por lembranças mas o desprepara para sofrimentos futuros. A visão que temos de relacionamentos recém finalizados onde nossa tendência é sempre olhar o lado negativo, defeitos da pessoa, brigas, situações desconfortáveis ou irritantes, é trabalhada da mesma forma na estrutura do filme, no começo somos apresentados a uma versão sufocada e exausta da Clementine com sua situação atual, assim entendemos o motivo para o protagonista fazer o que está fazendo, e supomos o mesmo motivo para Clementine, porém ao decorrer do filme assim como no decorrer da vida real, nos lembramos dos pequenos detalhes daqueles que um dia amamos, risadas que foram compartilhadas, momentos de intimidade que nunca antes foram feitos e entre outros. Crescer e aprender com a vida é um presente que não deve ser descartado, todos aqueles que estão conosco fazem parte de nossa trajetória e de nós, por isso não podemos nos esquecer de sempre olhar os dois lados de uma memória ou pensamento. Esse filme é uma obra prima que deve ser vista e apreciada por todos.
Roma
4.1 1,4K Assista AgoraQuanto mais um diretor ganha notoriedade e vai conquistando seu espaço dentro das grandes produções cinematográficas, a tendência comum é que suas histórias se afastem de uma pessoalidade na forma de contar uma história ou até mesmo de qual irá contar para o público. Então é muito bom quando somos presenteados com uma obra tão pura, honesta e simples vinda das mãos de um dos melhores diretores da atualidade.
Cuarón queria contar essa história a partir de suas memórias e sua direção para com a obra reflete muito dessa identidade narrativa abordada, o mesmo trabalhou em diversas áreas da produção deste filme, inclusive como Diretor de Fotografia, assim vemos o filme com uma perspectiva quase que voyeurista, a câmera se faz distante dos acontecimentos, observamos tudo de uma maneira menos introspectiva possível, como se participássemos da história de longe.
Partindo da informação do parágrafo anterior entendemos o motivo pelo qual Roma foi indicado na categoria de Design de Produção, este aspecto do filme é primoroso, todos os ambientes foram meticulosamente construídos para serem fiéis a realidade, a própria casa onde o filme se passa não foi construída em estúdio, ela é real. Podemos não saber disso, mas é inevitável que o público perceba a vivacidade dos ambientes e dos locais.
A cinematografia por si só também é um show à parte, existem sequências que por muito tempo não sairão da minha cabeça por seu esplendor visual, o trabalho de coreografia aliado aos planos sequências executados tornam a experiência mais crua e visceral, a imersão na história é quase que imediata, destaque para a cena da praia que foi uma das mais bonitas tanto visualmente quanto emocionalmente que já assisti na vida. Cada plano foi planejado e cuidadosamente executado, todos os movimentos e posicionamentos da câmera são suaves e naturais, somos guiados assim como a história, da maneira mais paciente possível.
O design de som também é algo elogiável aqui, logo no começo do filme já somos jogados numa cena “banal”, onde a protagonista está limpando o chão e tirando o coco do cachorro, porém cada som emitido é sentido durante toda sua execução, temos a sensação de que o filme está vivo, e isto se mantém durante toda a duração do longa.
Acredito que os meus maiores problemas foram em relação ao ritmo, pois o primeiro ato me pareceu muito arrastado, com a história engrenando pra mim apenas no segundo ato, está é uma narrativa difícil, então o público fã de histórias mais convencionais com certeza se frustrarão aqui. Assim como me incomodei com a atuação da Yalitza Aparicio, pois sua clara falta de experiência como atriz fez falta, diversas cenas exigiam mais de suas expressões e trejeitos, mas simplesmente não conseguiam ser entregues com tanto primor.
Roma é um belíssimo retrato da simplicidade dentro da grandiosidade, escrito e dirigido com uma maestria que não se encontra em qualquer obra, com uma delicadeza e sutileza que todos os longas tentam alcançar mas que apenas poucas conseguem. Com um ritmo não convencional e que demora para engatar, mas que com certeza ficará com você por muito tempo. Recomendo a todos.
Nota: 9.7
O Babadook
3.5 2,0KBons filmes são aqueles que possuem diversas camadas além de sua superfície, a cada novo elemento ou cena, mais profundo a obra se torna. Dentro do terror isso se torna ainda mais raro e especial, então quando um longa lhe apresenta tudo isso dentro de uma atmosfera incomoda e com uma trama cheia de alegorias e metáforas, é impossível que a mesma não se torne elogiada dentro dos amantes do horror.
Jennifer Kent estreia seu primeiro longa, e demonstra um domínio grandioso sobre sua obra e como a quer apresentá-la, muitas cenas possuem uma criatividade elogiável, muito bem apresentadas e com uma estética única, é perceptível o esforço e o cuidado com que cada cena foi concebida. Essie Davis faz um dos melhores trabalhos dentro do gênero que já tive o prazer de ver, o medo, a raiva, o cansaço e a angústia são visíveis dentro de suas feições, o raro caso onde a atriz desaparece dentro de seu personagem, sua interpretação suga o público para dentro da história e conduz o filme de uma maneira magistral.
Outro destaque é o uso do som dentro do longa, cada barulho é minuciosamente inserido no ambiente e somos capazes de escutar cada ruído ou som junto da personagem, assim ficamos assustados junto com ela e não por ela, assista no idioma original, não diminua sua experiência. Jennifer Kent sabe desse poder em sua obra, então utiliza diversos artifícios não convencionais dentro do gênero para causar medo, fãs dos famosos Jump Scares ficaram decepcionados aqui, esse é um trabalho sutil para aqueles que a querem apreciar.
Noah Wiseman para mim foi um dos pontos fracos do filme, não acho correto isentar uma atuação apenas por se tratar de uma criança, já que vimos diversas outras tão memoráveis quanto de qualquer adulto como Jacob Tremblay em Room ou Brooklynn Prince em The Florida Project. Em diversos momentos vemos feições em momentos que ela não eram requeridas ou diálogos com entonações completamente destoantes com o tom da conversa, assim todos os momentos em que eles estava em cena eu me desprendia da narrativa, ainda mais quando o mesmo contracenava com Essie Davis.
Algumas escolhas da diretora foram duvidosas e até mesmo desnecessárias, o longa possuía um orçamento baixo, então em muito momentos o CG utilizado para mostrar o Babadook eram deploráveis de tão mal feitos, mas quando a obra se focava mais na sugestão de sua existência, utilizando apenas o som e a escuridão para nos assustar, a atmosfera era muito mais aterrorizante. Logo não entendo a decisão de mostrá-lo tão descaradamente correndo o risco de quebrar a atmosfera que estava tão bem construída.
The Babadook é uma obra com muito a dizer sobre depressão e o luto, com uma mensagem forte sobre a importância da sanidade mental das pessoas, bem original na sua forma de dar medo e de condução da narrativa, com uma das melhores performances femininas que já vi no cinema. Possui alguns problemas com certas decisões que toma no decorrer da história, se tornando genérico e abusando de convenções em alguns momentos, mas que com certeza te assustará e te fará refletir por alguns dias. Recomendo a todos.
Nota: 7.5
Doentes de Amor
3.7 379 Assista AgoraBons filmes são aqueles que além da sua superfície, apresentam diversas camadas que são desdobradas no decorrer da história mostrando o quão complexas as coisas representadas realmente são, tornando difícil para o público tomar lados ou julgar as decisões dos personagens logo de cara, pois nos identificamos com os problemas enfrentados e incondicionalmente nos colocamos nos lugares dos mesmos, questionando o que faríamos diferente. E é assim que temos uma grata surpresa no meio das comédias românticas, que são comumentes julgadas por suas tramas rasas e problemáticas frívolas, há excelentes subversões aqui.
Relacionamentos interraciais sempre tiveram um grande foco no cinema, mas nos esquecemos que relacionamentos interculturais também podem ser tão complicados quanto, pois como dizem, num relacionamento você não só se relaciona com seu par romântico, mas também com sua família como um todo. Isso é algo comum para todos as pessoas, então quando essa problemática é apresentada no filme, automaticamente pensamos no quão plausível isso é e buscamos até vivências pessoais para ajudar nesse processo, o longa sabe disso e utiliza isso a seu favor.
O roteiro é cuidadosamente escrito e percebemos o carinho e a devoção que foi posta em sua escrita, tudo aqui é genuíno e crível, não a toa, pois a história é semi-biográfica dos próprios roteiristas, o verdadeiro casal que vivenciou essas situações, com diversas liberdades criativas é claro. O humor do filme é um dos maiores pontos de destaque, me peguei em diversos momentos rindo um bocado, o que é bom já que a comédia é algo estritamente enraizado no texto e nas vidas dos personagens.
O elenco é muito bom, Holly Hunter e Ray Romano para mim foram os principais destaques, trazendo uma verdade e um carinho por sua filha, assim como uma química entre ambos que é quase palpável. Zoe Kazan convence muito com sua fisicalidade e expressão frágil durante a segunda parte do filme. Mas como um todo, ninguém abaixa o nível de atuação e o principal, todos possuem um excelente timing cômico, algo que eleva muito o material trabalhado.
Porém a qualidade do longa cai muito durante o terceiro ato, toda a originalidade e genuidade se perde, diversos clichês e atos previsíveis ocorrem um atrás do outro, era possível prever algo cinco minutos antes do mesmo acontecer. Isso por si só não é um problema, mas foge da sinceridade que o filme vinha propondo no decorrer de sua história. Alguns arcos e comentários são subutilizados e rasamente explorados, apenas inflaram a duração do filme sem ter algo muito grandioso ou inovador a acrescentar.
Algumas piadas são utilizadas diversas vezes tirando um pouco da sua força e tornando-as batidas, assim como certos maneirismo de alguns personagens que quase beiram a caricaturização mas que logo voltam ao trilho e não atrapalham tanto a experiência. Mas como o roteiro se prende muito ao humor, muitas vezes é visível a integração de alguma punchline apenas pelo motivo de ter alguma, e não por que a piada era necessária ou realmente engraçada, quebrando assim o ritmo dos diálogos e do próprio andamento da história.
The Big Sick é uma história genuína e engraçada, com coisas importantes a dizer e com personagens cativantes e divertidos, muito bem escrito te guiando para diversas situações imprevisíveis e cômicas. Com uma mão pesada em alguns momentos, um terceiro ato fraquíssimo e com algumas piadas batidas e fora de lugar, mas que com certeza irá valer a pena no final. Recomendo a todos.
Nota: 9.1
A Balada de Buster Scruggs
3.7 532 Assista AgoraÉ sempre bom ver obras de autores com traços tão únicos e particulares como os dos irmãos Coen, aqui temos um prato cheio de todas as suas peculiaridades e singularidades que os fizeram tão famosos e que são reconhecíveis em todas as suas obras. A tragicidade é o tema central que rodeia todas as histórias do longa e com isso podemos tirar uma interpretação diferente em cada uma delas.
O humor da dupla está afiado e muito bem refinado, com exceção de um personagem, ao meu ver, todos desse universo não são forçadamente caricaturais para buscar um humor pífio, todos são cômicos de suas maneiras e foram muito bem escritos para desempenhar tais papéis. Não são todos que irão encontrar graça, mas para os fãs do gênero certamente não serão decepcionados.
Cada conto como dito anteriormente tratará de algum tema do comportamento humano e até mesmo das nossas expectativas como expectadores de como as história são conduzidas na maioria das vezes, utilizando de alguns artifícios cinematográficos que nos frustram e revelam como nos prendemos a aquilo que queremos ver e não a aquilo que nos é mostrado. Autoconfiança, falsa esperança, medo e ganância são alguns dos sentimentos que os diretores mostram que podem nos levar a morte.
Mas com certeza o ponto forte do filme são suas atuações, com exceção do personagem do Tim Blake Nelson que me gerou uma antipatia e logo comprometeu sua atuação para mim, todos dão um show de interpretação, com destaque para Tom Waits, Chelcie Ross e Grainger Hines. O sotaque e a caracterização de todos está excelente e crível, todos carregam o filme sem problema.
Porém o filme apresenta alguns problemas que atrapalharam minha experiência, começo citando o uso do CG para a composição dos cenários e o filtro utilizado na maioria das cenas que retiram o público da imersão nas histórias e alguns eram tão mal feitos que me questiono a necessidade da existência dos mesmo dentro do longa.
Além do fato de algumas história serem claramente mais desenvolvidas e mais interessantes que outras, algo que atrapalha muito o ritmo do filme, as duas ou três primeiras foram as que menos gostei e passar por elas foi uma tarefa até que tediosa. As transições de um arco para outro também não eram sutis e criativamente interessantes, julgando pela capacidade dos diretores esperava algo mais inspirado, não apenas cortes secos e uma transição repetitiva.
The Ballad of Buster Scruggs é uma coletânea do quão baixo o ser humano pode ser e a que fins isso pode levar, recheado de um humor seco e acido, além de excelente atuações. Um prato cheio para os fãs dos irmãos Coen, mas que para aqueles não familiarizados com suas obras podem achar uma experiência chata e tediosa, mas que posso considerar uma ótima porta de entrada para a sua filmografia. Recomendo.
Nota: 8.2
O Código Da Vinci
3.4 1,5K Assista AgoraTeorias da conspiração sempre são assuntos que atraem a atenção das pessoas, elas mexem com nosso senso de desconfiança e de sempre nos questionar sobre as coisas. Quando isso se aplica sob uma das instituições que tem a fama de esconder e encobrir diversos segredos que nunca cairão no conhecimento do público em geral, ou apenas por enquanto, é praticamente impossível não ficarmos interessados sobre o que eles tem a falar. Apesar de não saber o quão absurda essa história é em questão de seus fatos, confesso que gostei da inventividade da trama.
Um filme de mistério não funciona se o mesmo não é bem construído e interessante, mas aqui somos pegos e forçados a acompanhar todos os detalhes do começo ao fim, para que possamos descobrir mais sobre essa possível verdade que está escondida de todos. Apesar de absurda, entendemos tudo o que nos é apresentado e tudo parece ser carregado de uma verdade devido a alguns truques utilizados para dar credibilidade às informações passadas.
O filme é excelentemente fotografado, com movimentos de câmera que transitam entre ambientes e andares com suavidade, o CGI ajuda muito nesse aspecto, ajudando a construir algumas dessas transições. Mas utilizado porcamente em alguns momentos, principalmente nos flashbacks, quando tem o propósito de dar uma característica visual para que o público se situe na linha temporal do filme, que as vezes pode ser necessário, mas o que foi criado aqui considerei desnecessário e completamente destoante da obra.
A trilha sonora é bem telegrafada e típica dos filmes do gênero, algo mais marcante teria feito muito bem a este longa. Todos os atores estão bem em seus papéis, com destaque para Paul Bettany que apresenta um personagem regado de insanidade e violência, seu olhar é amedrontador e seu tom de voz calmo esconde sua natureza explosiva e letal, de longe o melhor trabalho presente na obra. Tom Hanks tem carisma de sobra e carrega bem o filme, sem nada a ser elogiado, assim como Audrey Tautou que é uma boa atriz, mas que aqui fica muito apagada e limitada a uma personagem desinteressante.
Todos os personagens do filme possuem algum detalhe traumatizante em seus passados, mas nada é muito bem explorado, o uso dos flashbacks nos situam de suas situações, mas são pessimamente utilizados, são jogados na tela sem qualquer logicidade para seu uso ou demonstração de intenção de que eles irão ocorrer. Alguns diálogos também possuem esse defeito, sendo utilizados muitas vezes para fazer exposição e avançar a trama, não para acrescentá-la.
Apesar de possuir alguns altos e baixos, The Da Vinci Code é um bom filme de mistério, com uma linha bem delineada de causa e consequência que prende sua atenção durante toda sua duração. Com atores carismáticos em personagens desinteressantes e mal explorados, operante em sua direção e trilha sonora. Um bom entretenimento.
Nota: 7.0
Medo da Verdade
3.7 457 Assista AgoraA dúvida é inerente a todas as decisões que se toma no decorrer da sua vida, se perguntar se aquilo foi o mais correto a se fazer é quase que uma maldição que muitos são condenados a carregar pelo resto de suas vidas, é impossível sabermos aquilo que não aconteceu e nossa única saída para isso é apenas não pensar, deixar de lado e seguir em frente. Bons filmes de mistério são aqueles que além de te manter intrigados com o problema enfrentado, lhe apresentam a algum dilema que não importa o quanto o você pense, não há uma resposta 100% certa, pois querendo ou não, a vida também é assim.
Casey Affleck não é um ator excepcional, sua inexpressividade é mais uma característica de sua atuação do que do seu personagem em si, logo ele tem que se apropriar de papéis que não exigem diversas facetas de seu ator, e isso é quase o caso aqui, pois esse detalhe traz uma carga mais amedrontadora e analitica para Patrick, mas em muitos momentos a falta de um momento de entrega e impacto emocional faz falta. Ed Harris e Amy Ryan são de longe os dois melhores no elenco secundário, nos apresentando os momentos mais memoráveis do filme e consequentemente as melhores atuações.
O longa é muito bem fotografado por sinal, muito uso de câmera na mão e de cenas longas trazendo um ritmo bem orgânico para a obra. Sua trilha sonora é bem telegrafada, usada em muitas cenas apenas para ditar o tom das mesmas e manipular os sentidos do público, nada a se elogiar. A violência presente no filme é um ponto positivo, quando usada para chocar e com um propósito na trama, ela se torna mais poderosa e impactante, e seu uso aqui é na dose certa e em momentos pontuais.
Porém o longa possui sério problemas enquanto ao seu ritmo e construção, pois em sua tentativa de manter o mistério sempre imprevisível, acaba se estendendo muito para chegar em sua conclusão e isso abre brechas para certas inconsistências narrativas que tiram um pouco da realidade que o filme trazia até o momento. Até mesmo no momento em que chegamos a grande revelação para a história, o impacto é consideravelmente reduzido por conta de alguns conflitos mal construídos e conveniências aleatórias com a única utilidade de mover a trama e levar o protagonistas a concluir o enigma.
Gone Baby Gone começa como um excitante filme de suspense, com um ótimo mistério, com personagens e um universo interessantes que permitiram algumas possibilidades originais e inovadoras. Com diálogos reais e naturais, violência e boas atuações. Mas que perde uma qualidade considerável na segunda metade do filme e desaponta com sua conclusão. Existem muitos filmes do gênero melhores que este, mas não o considero ruim, vale a tentativa.
Nota: 7.2
Lion: Uma Jornada para Casa
4.3 1,9K Assista AgoraAcredito que o maior medo da maioria dos pais é de perder seu filho em meio a uma multidão quando se sai com o mesmo, imagina então sair para trabalhar e ao chegar em casa descobrir que seu filho sumiu, e só voltar a encontrá-lo 25 anos depois do fatídico dia em questão. Conseguir realizar um filme com uma história tão íntima e real não é uma tarefa fácil, tudo aqui poderia cair em algum vício ou em terreno comum tornando a obra mais acessível para o grande público, mas ambos aspectos são misturados com uma personalidade única da obra que a distingue de muitas outras por aí.
O casting foi preciso e excelente, a primeira parte do longa é carregado basicamente por uma criança de 8 anos e o trabalho de Sunny Pawar é de longe uma dos mais elogiáveis dentro da obra, os olhos desse garoto são de uma expressividade absurda, e assim como muitos outros jovens talentos, ele se perde em seus personagem e sua atuação se torna vívida e verdadeira. Dev Patel assume na segunda parte, e é muito desfavorecido pelo roteiro e assim sua atuação acaba caindo em muitos vícios, mas quando bem dirigido em algumas cenas, se torna forte e poderosa, gosto do trabalho desse ator. O resto do elenco também está muito bem com a presença de Nicole Kidman, nomeada para o Oscar de melhor atriz coadjuvante por sua participação.
A cinematografia é belíssima, com muitas composições e cenários que realçam muito a grandeza e a vastidão da Índia e do mundo. Há diversos segmentos interessantíssimos, com uma mistura de realidade e sonho, retratando o confronto emocional que o protagonista enfrenta, não me lembro de ter visto algo parecido antes. E ainda no início do filme, diversas cenas são filmadas de uma maneira para nos causar desorientação e confusão diante das grandes multidões da perspectiva de uma criança, e esse sentimento é muito bem utilizado no decorrer inteiro do longa.
Mas assim como dito anteriormente, diversos momentos são carregados de situações clichês e discursos irreais, afetando muito o envolvimento do público com a história que se torna muito comum e previsível tirando o ritmo natural que o longa vinha construindo. A falta de uma organicidade no segundo para o terceiro ato tornam as coisas muito apressadas e abruptas, o embate que Saroo enfrenta é abordado de uma maneira quase que jogada, muito tempo é desperdiçado em pontos não relevantes e assim não criamos empatia pelo sofrimento que o mesmo passa em alguns momentos.
Lion é uma excelente obra sobre uma história que parece até fantasia de tão irreal que é, mas que é retrata com uma sensibilidade e visceralidade que é quase impossível não se emocionar. Recheado de atuações carregadas e vívidas, uma cinematografia estonteante e elementos originais e criativos, mas que falha em sair de algumas convenções do gênero e elementos baratos para manipulação emocional do público. Recomendo a todos.
Nota: 8.2
A Chegada
4.2 3,4K Assista AgoraExcelentes filmes são aqueles que quando revisitados, são capazes de tornar sua experiência tão prazerosa quando sua primeira ou até mesmo melhores. E é muito bom quando a segunda opção é a que se realiza, reassistir Arrival foi uma das melhores decisões que pude tomar, o longa é carregado de inúmeras mensagens e filosofias, tornando quase impossível de se absorver tudo em apenas uma única vez. Também percebemos o quão bem sua história e narrativa foram construídas, lembro-me que não havia percebido e até mesmo não compreendido tudo, principalmente seu filme, mas agora admiro e aplaudo a obra como um todo.
Denis Villeneuve aqui mostra mais uma vez por que o considero meu diretor favorito em atividade, todas as escolhas que ele fez para sua história aumentam muito nossa imersão. Todos os cenários do longa foram construídos especialmente para ajudar seus atores a se sentirem dentro do filme, algo que o diretor sempre faz em seus filmes, ele pouco usa o artifício de CGI quando o mesmo não se prova necessário, a diferença que isso faz para a obra é sentida. Seus filmes são palpáveis e cheios de vida, poucos conseguem fazer o que ele faz, com tanta qualidade e sensibilidade.
Amy Adams também faz um trabalho espetacular em questão de transmitir vivacidade e realidade para o longa, Denis fornecia apenas o necessário do roteiro para ela com o intuito de não afetar sua atuação com a resposta para o final do filme, e isso é perceptível em suas expressões. Seu trabalho é muito íntimo e sutil, ela funciona brilhantemente como um fio condutor dos sentimentos de sua personagem para o público, a confusão, a tristeza e até mesmo a determinação são transmitidas para além da tela com um poderio imenso. Jeremy Renner e Forest Whitaker também estão no filme, mas não possuem muito o que fazer, estão bem em seus papéis, mas não roubam o show de Adams.
A cinematografia é outro ponto de extremo destaque, as composições feitas são de uma beleza estética hipnotizante. O clima criado para a obra é imersivo e melancólico, Villeneuve junto do diretor de fotografia Bradford Young queriam criar um ambiente que lembrasse uma segunda feira de manhã chuvosa, onde olhamos pela janela e sonhamos com alguma possibilidade, e assim o fizeram, a sensação mística e irreal proporcionadas são nítidas e tangíveis. Misture isso a uma trilha sonora excelente, com belo uso do violino, e temos momentos que dificilmente sairão da sua memória durante muito tempo.
Apesar de um ponto no roteiro ser ilógico em minha percepção, é estranho pensar sobre como o acontecimento do filme poderia influenciar e até mudar tudo que conhecemos, nossa forma de se relacionar com as outras pessoas, nossa forma de pensamento e até mesmo nosso conceito sobre o que são sentimentos e como os mesmo funcionam. Será que precisaremos que um dia tudo o que foi mostrado aconteça, para que aprendamos a nos comunicar e a lidarmos com nossas diferenças e rivalidades em prol de um bem maior e de uma coexistência pacífica e benéfica?
Assistir Arrival é uma experiência que mexerá com você e com certeza o fará refletir sobre muitas coisas, brilhantemente dirigido e atuado, com uma excelente trilha sonora e cinematografia, aqui temos um pacote completo do melhor que o cinema pode oferecer e como uma ótima Ficção Científica deve ser feita. Além de um questionamento final que deverá deixar a muitos inquietos com sua complexidade e dificuldade. Recomendo a todos e os faço a pergunta: No lugar de Louise, vocês fariam a mesma jornada?
Coração Louco
3.7 544 Assista AgoraUm grande triunfo que muitos filmes não conseguem alcançar quando se trata de suas histórias e até mesmo de suas escolhas de casting, é a naturalidade e a realidade que as mesmas emanam para o público. A maioria dos elementos presentes neste longa já foram utilizadas em alguma outra obra, a familiaridade da mesma é gigantesca, pois sentimos que já vimos isso em algum lugar, mas as características anteriormente citadas é o que a destaca e a diferencia de tantas outras que falham em a conseguir.
A grande e maior virtude deste filme são as atuações, Jeff Bridges foi nomeado e premiado no Oscar por seu trabalho. Algo que este ator faz muito bem é viver seu personagem ao ponto que fica difícil de se separar quem é ator e quem é o personagem, ambos parecem um em cada um de seus filmes, atuar é algo natural para ele, merecendo assim todos os prêmios que recebeu. Maggie Gyllenhaal também faz uma participação expressiva no longa, com excelentes momentos de entrega e naturalidade em sua atuação, ajudando muito a imersão do público no filme.
Outro ponto a ser elogiado são as canções, fiquei em dúvida enquanto assistia o longa mas após seu término confirmei que todas as músicas foram compostas unicamente para o filme e interpretadas pelos próprios atores, que foram auxiliados por professores de canto. Até mesmo um dos shows fora gravado em um palco real de um show que estava acontecendo em Albuquerque, com uma plateia real que realmente estava surpresa em ver Colin Farrell e Jeff Bridges subiram ao palco. Não preciso nem dizer o quão benéfico isso é para uma obra, todos esses detalhes são sentidos pelo público e agregam muito valor ao tom que o filme vinha construído até o momento.
A realidade do filme é sua maior virtude e também sua maior fraqueza, em muitas partes acompanhamos momentos rotineiros da vida dos personagens que não agregam muito a narrativa e a falta de muitos embates ou reviravoltas mais emocionantes no longa fazem falta, tornando a experiência de assisti-lo monótona e apenas apreciativa, e não envoltória. Mesmo quando somos introduzidos em um momento que deveria ser emocionalmente mais carregado ou um clímax para a história, ele não se prova muito interessante, mas sim destoante de tudo que vínhamos acompanhando até o momento, chegando a ser o único momento que realmente me incomodou.
Crazy Heart é um excelente drama, com personagens muito bem escritos e com uma trama madura e consciente de si mesma, com excelentes atuações e com músicas excelentes, mas que podem não ser tão agradáveis para quem não gosta do gênero Country. Uma experiência amena e monótona, mas que não desagradará aqueles que apreciam uma bela construção de personagem. Recomendo a todos.
O Ilusionista
3.8 1,4K Assista AgoraMágica sempre foi algo que me fascinou, procuro não entender os truques por detrás delas para ainda manter esse sentimento de surpresa e empolgação quando as vejo. Logo filmes que possuem essa temática automaticamente já chamam muito minha atenção e possuem uma tendência maior de me agradar dependendo de sua abordagem para este assunto. Mas claro que esses precisam ter suas próprias maneiras únicas de nos surpreender dentro do esperado para um obra dessa, e fico grato por ser indagado sobre algo que nunca havia refletido, qual o maior efeito que uma simples apresentação de entretenimento pode exercer sobre uma plateia e sobre seus conceitos?
O elenco do longa possui bons atores, como Edward Norton e Jessica Biel, mas não chega a ser um ponto de destaque, todos estão operantes em seus papéis e dedicados aos seus personagens. Porém este é um filme de roteiro, e aqui entra muito da subjetividade, pois todos somos afetados diferentemente pela história, com alguns que podem ter adorado ou até mesmo odiado. Confesso que mesmo com a reviravolta do final do filme, não consegui me sentir satisfeito com esta conclusão, acho que a obra se beneficiaria muito mais do final para o qual a mesma estava se dirigindo, mas como um todo o longa é bem fechado.
Em relação ao truques de mágica presentes no filme me encontro dividido, pois assistindo o longa eu não tinha dúvidas de que tudo era feito em CGI e isso me afastou muito da história, tirando a graça da mesma, mas após o término do filme descobri que muitas das ilusões eram reais e que Norton teve aulas intensivas de mágica para conseguir realizar os truques, então tiro o chapéu para os realizadores. Mas mesmo assim as apresentações não se mostravam empolgantes ou excitantes, diferentemente de seu filme concorrente The Prestige, que apresenta truques memoráveis e desafiadores.
O filme é muito bem fotografado, com movimentos de câmera inventivos e até mesmo complicados, com variações de ângulos diferentes e bem originais. Certas cenas são até mesmo iluminadas a luz de velas, dando um charme maior a obra muitas vezes, mas que acaba atrapalhando um pouco a experiência pois fica difícil de se enxergar o que está acontecendo na tela devido a escuridão de certos ambientes. Até mesmo o CGI excessivo atrapalharam na imersão completa do público no filme, e tirando a fidedignidade quando usada em alguns dos truques de mágica, sendo bem perceptível em vários momentos.
The Illusionist peca muito no quesito entretenimento com suas apresentações, algo que deveria ser essencial para obras do gênero, mas mesmo assim possui uma boa história de amor por trás, algo que era o foco deste o começo do longa. Com uma reconstrução de época excelente e com bons atores, pode ser um passatempo para muitas pessoas, mas não chegou a me agradas. Fica a seu cargo a decisão de assisti-lo ou não.
Flores Partidas
3.6 201 Assista AgoraO quão melancólica e vazia a vida de uma pessoa pode ser, quando a mesma se dá por conta que se encontra sozinha e sem uma realização significante para que seja lembrada ou até mesmo para se orgulhar. Assim somos inseridos no cotidiano de Don Johnston, um homem inexpressivo e entediado com sua rotina, que permanece grande parte dos seus dias sentado em seu sofá, com as luzes apagadas e ouvindo música ao fundo assistindo as horas passarem e um novo dia começar, mas que por algum motivo já viveu diversos amores e atrai a atenção das mulheres para si.
Até mesmo a forma como o filme foi fotografado enfatiza este aspecto do protagonista, pois somos forçados a acompanhá-lo em grande parte de sua jornada em momentos desinteressantes, como ele pedindo informação para alguém ou dirigindo horas a fio para encontrar uma de suas ex-amantes. E assim como ele, ficamos entediados, ele não tem felicidade alguma realizando aquela experiência e assim nós também não a temos, mas engana-se quem acha que nada acontece, Don é influenciado e muito sobre essas situações, pegue como exemplo a cena do cemitério onde vemos que ele sim se sente muito afetado pelo acontecido, e no final onde vemos que tudo aquilo fez surgir um sentimento do qual ele provavelmente nunca tinha sentido.
Bill Murray é um dos meus atores favoritos, em grande parte por sua sinceridade e simplicidade na qual ele interpreta muitos de seus personagens, todas as suas emoções e pensamentos podem ser captadas apenas com seu olhar e sua expressão. Este papel o caiu com uma luva, dando vida a um homem amargurado e frio, que parece incapaz de sentir algo por outra pessoa, com maestria. Com um elenco secundário recheado de nomes de peso como Tilda Swinton e Sharon Stone, que fazem o longa estar bem servido de ótimas atuações.
Mas mesmo o maior apreciador de um ritmo lento irá encontrar problemas para acompanhar este filme do começo ao fim, devido ao excesso desses momentos de tédio do protagonista, dando impressão que o longa está fazendo rodeios e não chegando a lugar algum em muitos momentos. Além de uma trilha sonora que não se encaixa com o tom do filme, me desagradando na maioria das vezes em que ela aparecia, uma boa trilha sonora é excencial para este tipo de filme e sua falta deixa muito a desejar na experiência que é proposta pelo longa.
Broken Flowers é um excelente estudo de personagem e um ótimo exemplo de como uma obra pode refletir e retratar a personalidade de uma pessoa, mostrando assim suas virtudes e anseios tanto quanto seus defeitos e imperfeições. Brilhantemente atuado, mas com sérios problemas de ritmo e substância narrativa. Definitivamente não é um filme para todos, a quem se interessar fica a recomendação.
Puro-Sangue
3.2 232 Assista AgoraFilmes costumam brincar muito com os nossos conceitos e certezas, e é sempre uma grata surpresa quando o mesmo consegue subvertê-las e nos surpreender com um ponto de vista que não teríamos normalmente com qualquer outra obra do gênero. E assim somos apresentados a duas jovens, Amanda e Lily, que logo de cara definimos suas personalidades e possíveis ações por base em pequenas observações e informações que nos são passadas, mas que futuramente serão abordadas de uma maneira completamente diferente.
Anya Taylor-Joy e Olivia Cooke são excelentes atrizes e possuem uma longa carreira pela frente e com certeza nos presentearão com ainda mais belas atuações, e aqui não o é diferente. Olivia se sai muito bem nos entregando uma personagem fria em sua expressão e que transmite muita curiosidade e dúvida apenas com seu olhar, além de um tom de voz ameno que reflete muito sobre sua personalidade. Por outro lado Anya tem em mãos uma personagem com mais facetas a serem exploradas, e a mesma o faz com perfeição, transitando muito bem de uma jovem perfeita e ideal, para um ser humano falho e cheio de imperfeições. Além de um elenco de apoio recheado de boas atuações e dedicação a seus respectivos papéis.
A cinematografia do filme também é belíssima, com muitas cenas esfumaçadas e um bom contraste de luz em certos ambientes. A câmera transita suavemente pela casa acompanhando seus personagens como se quisesse descobrir as coisas junto a eles. E assim o fazemos, o embate moral proposto pela obra é bem perspicaz, quem é o verdadeiro monstro ou vilão da história? Os momentos de interação entre as duas protagonistas são de longe os melhores do longa, e muito se pode tirar de suas conversas e palavras.
O ritmo do filme estava bem dosado em grande parte de sua duração, nada que estivesse me incomodando, mas faltou alguma substância a mais na história para que ela se mantivesse mais agitada. Muitas vezes somos pegos em momentos vazios e desinteressantes, além de certas situações que acontecem apenas para movimentar a trama de uma forma bem forçada, como a festa em que somos apresentados ao Tim, que é inserida no filme de uma forma bem inorgânica.
Thoroughbreds apesar de ser um filme com uma mensagem bem moralista e uma trama não muito movimentada, possui uma originalidade única e se prova uma experiência diferente e interessante. Com uma atmosfera inquieta e com boas atuações. Recomendo a todos que se interessarem.
Sherlock Holmes
3.8 2,2K Assista AgoraMeu primeiro contato com o universo de Sherlock Holmes pelo que me lembro foi com a série estrelada por Benedict Cumberbatch, da qual apenas assisti apenas os dois primeiros episódios e nunca mais retornei a assisti-la. Assim me considero um iniciante nessa história, não possuindo qualquer pré conceito ou expectativa para esta obra separada.
Robert Downey Jr. possui o carisma que era necessário para interpretar seu personagem, sua perspicácia e insolência são passadas apenas pelo seu olhar e expressão, algo que não seria tão natural com qualquer outro ator, a sua fisicalidade para as lutas são bem convincentes. Jude Law e todo o elenco de apoio estão bem em seus papéis e mantém a qualidade da obra quando possuem mais tempo em tela.
O filme é muito bem fotografado, com movimentos de câmeras bem inventivos, com ângulos que mostram muito bem a geografia dos locais sem que jamais fiquemos perdidos. O CGI é muito bem utilizado para incrementar o cenário e favorecer a história, enriquecendo muito mais o longa junto dos figurinos e da direção de arte, que reconstruíram os cenários com primazia, fidedignos a época no qual o filme se passa.
A trilha sonora em alguns momentos é de se encantar os ouvidos, com uma orquestra pulsante e enérgica. Mas ao mesmo tempo em que eleva algumas cenas, a mesma se mostra muito caricata em grande parte do longa, tirando o nosso envolvimento da história por conta do tom mais fantasioso que o mesmo passa para a narrativa.
Outro ponto que me incomodou foram as cenas de ação, algo que foi muito bem utilizado em algumas cenas como a da luta clandestina, mas pessimamente executada em outros, como na cena da luta no local de construção do barco que é carregada de CGI que se destoa muito do cenário e dos personagens, tornando a cena plástica e desempolgante.
Sherlock Holmes é um excelente entretenimento para aqueles que possuem um tempo livre, pois apesar de ser previsível, possui diversas cenas empolgantes e divertidas que com certeza agradarão grande parte do público. Bem dirigido e atuado, cheio de detalhe e cuidado em sua construção. Recomendo.
O Fantástico Sr. Raposo
4.2 932 Assista AgoraTemas como o embate entre os seus impulsos e características inerentes contra suas responsabilidades e compromissos com as pessoas ao seu redor são constantes nas obras de Wes Anderson, e nada melhor do que um universo composto de animais com aspectos humanoides para divagar sobre tais questionamentos.
Os personagens do filme foram muito bem escritos e interpretados, todos são interessantes e com características e personalidades únicas e bem definidas, traçando inúmeros paralelos entre eles e os problemas enfrentados por muitas pessoas na nossa sociedade. Talento e esforço, ganância, inveja e amor são alguns dos muitos assuntos e complexidades morais que os animais da obra enfrentam em seus cotidianos.
O ambiente e a construção dos cenários é de uma riqueza e de um cuidado meticuloso, tudo é muito vistoso e palpável, o uso de cores aqui é de um uso magistral mostrando por que essa é uma das características mais marcantes do diretor e por que ela o tornou tão conhecido. E por se tratar de uma animação em Stop Motion, tudo ali é construído e estrategicamente posicionado para permitir os movimentos dos personagens e da própria câmera.
Assistir a esse filme foi uma experiência diferente, sendo um dos meus primeiros contatos com este estilo de animação que consigo me lembrar, Wes Anderson trouxe todo seu estilo para que esta obra não fosse completamente diferente da estética visual de todos os seus filmes. Até a própria captação das vozes dos atores foi realizada de uma maneira inconvencional, levando-os a locações reais como fazendas e campos para que houvesse uma maior naturalidade nos diálogos e espaço para maiores improvisações para seus personagens.
Mas como se trata de uma adaptação de um conto infantil, a liberdade artística que podia se ter sobre o material era limitado, não sei o quanto se foi alterado, mas é visível a estrutura mais amistosa que a obra possui em alguns momentos, pois mesmo quando nos encontramos em algumas cenas mais tensas ou empolgantes que poderiam ser melhor desenvolvidas ou solucionadas, somos presenteados com resoluções pouco inspiradas e incoerentes (se é que se pode cobrar alguma realidade de um longa como este).
Fantastic Mr. Fox tem muito a dizer sobre as relações humanas e sobre conflitos de caráter, mesmo com personagens não humanos, indagando sobre o quanto temos de controle sobre nós mesmos e sobre nossos impulsos e como em prol de um convívio melhor com as pessoas sacrificamos esse lado. Como filme de aventura funciona muito bem por seu valor de entretenimento, mas o teor infantil e o humor atrapalharam meu envolvimento emocional com a história. Caso não se importe com qualquer um desses problemas levantados, recomendo o longa.
Zodíaco
3.7 1,3K Assista AgoraO ser humano é dependente de respostas, sempre buscamos explicações para tudo e nos apegamos a qualquer coisa que se aproxime disso. Imagine quando isso se aplica a um caso de um assassino misterioso, que continua solto apesar de todos os esforços e toda a dedicação das pessoas envolvidas no seu caso por mais de 25 anos, o quanto isso pode mexer com alguém e com sua vida. Compartilharei uma frase que li sobre esse filme me chamou muita atenção e diz muito sobre o que o filme é, “Existem mais de uma maneira de perder sua vida para um assassino”.
Aqui temos um grande exemplo de como uma excelente direção faz diferença em um filme, David Fincher é um dos grandes diretores de sua geração, e aqui ele usa o melhor que a tecnologia pode oferecer, usando muito CGI para incrementar sua história e não como seu ponto principal, e o poder que isso dá ao longa é incrível, pesquise no youtube o quão bem feitos são os efeitos visuais deste filme. A recriação de época é primorosa e se beneficiou muito dessa ferramenta, mas mesmo as locações recriadas fisicamente são incrivelmente detalhistas e fiéis.
O trabalho de cores nos cenários e dos figurinos são pontos a serem levantados, com muito uso do azul e do amarelo, retratando grande parte dos dois estados de espírito da investigação, azul sendo para quando o caso estava “frio” e mais abandonado e com o amarelo para quando o caso ainda estava vivo e se tinha esperança de que poderia ser concluído, até mesmo a iluminação dos cenários realçam essas cores, tudo foi muito bem planejado e minuciosamente executado.
Todos os atores estão bem em seus papéis, não há grande atuações memoráveis, mas ninguém deixa o nível do filme cair, a decepção, a obsessão e a raiva são sentimentos muito bem retratados por todos e visíveis em suas expressões. Além de conseguirem lidar bem com a exigência do diretor para que conseguissem falar suas frases o mais rápido possível, e em nenhum momento isso se torna confuso ou irreal, a naturalidade e a realidade desse filme é algo elogiável.
Porém esse mesmo detalhe dos diálogos rápidos prejudica no quesito do ritmo do filme, pois em alguns momentos somos bombardeados de informações e nomes, tornando o longa frenético e requerendo muita atenção para não perdermos seus detalhes e informações, mas em outros momentos era abordada uma lentidão maior para as situações e as conversas, entediando muitas vezes o público, mostrando como essas transições não foram bem dosadas.
Zodiac é um excelente retrato de como a obsessão por respostas pode afundar uma pessoa e sua vida pessoal, além de se mostrar uma crítica a todo um sistema que parece ter se esquecido e até mesmo desistido de pegar um criminoso que continua impune mesmo com muitas pessoas dispostas e encontrá-lo e prendê-lo. Brilhantemente dirigido e com boas atuações, não deve ser perdido por ninguém, um dos melhores filmes de mistério que já assisti, mas que deve decepcionar aqueles fãs mais fervorosos de momentos de ação com trocas de tiro e sangue, então fique avisado. Recomendo a todos.
Guerra ao Terror
3.5 1,4K Assista AgoraDesarmar bombas com toda a certeza deve ser um dos trabalhos mais estressantes e perigosos do mundo, desconfiar de todos os civis ao seu redor e ser rápido e minucioso com suas ações são apenas algumas das coisas que essas pessoas tem que fazer e passam todos os dias, onde acordam e saem para missões onde suas vidas estarão sempre em jogo. Aqui acompanhamos apenas essa jornada, essas lutas do cotidiano de uma guerra, algo muito mais introspectivo do que a maioria dos filmes traz para as telas.
A abordagem do longa é de se aproximar o máximo que puder do tom documental e para isso há muita câmera na mão e ângulos poucos convencionais e claros, li que a quantidade de material filmada foi absurda e não à toa a diretora optou por cortes rápidos e de diversas posições, aumentando assim nossa confusão com o caos das cenas, onde o perigo está por todo lado e logo não sabemos para onde direcionar nossos olhos, também nos colocando como observadores dos militares como se fossemos os civis.
As cenas que envolvem “ação” como o desarmamento das bombas ou das trocas de tiros são extremamente poderosas e tensas, é visível o planejamento e o cuidado com cada cena por parte dos atores e da direção. Este aspecto cotidiano e reduzido, tira um grande elemento da maior parte dos filmes de guerra, que seria o rosto do inimigo, não sabemos quem é o vilão, para quem eles lutam e pelo que eles correm todo aquele risco, aumentando assim nossa insatisfação com as situações que os protagonistas se encontram.
O trabalho de casting desse filme também é excelente, todos estão perfeitos em seus papéis, Jeremy Renner e Anthony Mackie são os que possuem mais tempo em tela e dão muitas camadas aos seus personagens, a cada missão vemos e entendemos mais sobre suas personalidades, e a entrega dos atores é visível e fiel. As locações, figurinos e as próprias bombas ajudam muito a imersão nesse universo, tanto dos atores quanto a nossa, é incrível pensar que isto é apenas um filme, tudo foi feito com muita dedicação e cuidado.
Porém o filme peca muito em manter o filme interessante durante os momentos fora de ação, se arrastando muito em alguns diálogos que não levam a lugar algum ou que se mostram muito abruptos, assim como algumas cenas que não parecem ter feito parte do conjunto da obra, como se tivessem sido jogadas e abandonadas. O desenvolvimento dos personagens é um dos aspectos que mais falhou no longa, pois ele não é presente, muitas indagações são citadas em certos momentos e abordadas em outros completamente diferentes sem qualquer confirmação ou peso.
A “confusão” visual intencional também atrapalha um pouco a experiência, tirando muitas vezes nosso envolvimento com a cena assim como sua tensão e importância. Outro ponto a ser levantado são as incongruências e facilitadores que o filme se utiliza para movimentar sua trama, como por exemplo um soldado de um grupo desarmador de bombas saber manusear uma sniper com primazia ou para um terrorista esperar e demorar para acionar uma bomba apenas para os protagonistas terem mais tempo de fazer algo.
Contudo, The Hurt Locker é um excelente filme de guerra que mesmo com seus defeitos, entretém e tensiona com uma direção primorosa e atuações que te arrastam para a proposta da obra, mostrando um lado que nunca foi muito comentado ou explorado pelas pessoas, assim como as feridas físicas e mentais que ficam nos soldados e nas pessoas que estão nessas zonas de confronto, mereceu todos os prêmios pelos quais foi indicado. Recomendo a todos.
Martha Marcy May Marlene
3.4 268Quando se vem a cabeça os cultos formados por poucas pessoas, com hábitos e comportamentos únicos e muita vezes anormal a realidade cultivada pela sociedade e pela maioria de seus integrantes, nos questionamos o que leva aquelas pessoas a fazerem aquilo ou até mesmo se juntarem a essas pessoas. Este filme mostra justamente o lado mais cético e cruel de grande parte dessas seitas, o abuso e o aproveitamento da fragilidade de seus integrantes para benefícios egoístas de seus líderes.
A cinematografia do longa é de se encantar os olhos, o trabalho de iluminação e das cores criam uma atmosfera e um ambiente extremamente tensos e que transmitem a mesma sensação de inquietação e paranoia que a protagonista sente, com um constante senso da iminência de algum acontecimento ruim. A trilha sonora também se mantém muito pontual nos momentos que quer repassar os sentimentos de Martha para o público, com sons agudos e graves, como estrondos que surgem de repente em certas ocasiões.
Agora falando sobre o ponto alto da obra, Elizabeth Olsen faz muito bem seu papel retratando muita confusão e distância com seu olhar, sempre que está em cena não temos com tirar nossos olhos dela. John Hawkes e Sarah Paulson ganham destaque também por suas atuações, mantendo o mesmo nível de entrega e energia que Elizabeth. No geral todo o elenco está bem, ninguém está perdido ou deslocado, um excelente trabalho de casting.
Porém o filme tem muitos problemas no quesito história, a falta de explicações para muitas situações impedem nossa identificação com a protagonista e de sentirmos sua dor por toda a experiência traumática que a mesma passou, ao invés de investir nisso o filme se prende muito a flashbacks que poderiam ser muito mais concisos e diretos, tornando o filme muito arrastado e vazio em certos momentos.
O final do longa também deixa a muito desejar, não por sua “confusão”, mas sim pela sua insatisfação perante ao que se era esperado pelo público. Assim a impressão que nos fica é a de inconclusão e de sem importância, a recompensa por acompanhar a história não nos é dada, nenhuma mensagem parece ter se retirado dessa experiência.
Martha Marcy May Marlene é um excelente retrato de como uma experiência pode traumatizar uma pessoa, subvertendo seus conceitos e certezas, formando talvez cicatrizes que nunca sumirão, com um excelente clima de tensão e mistério, mas que desaponta com sua conclusão e com sua substância narrativa. Fica a seu cargo dar chance a esta experiência ou não.