Seria impossível eu não me identificar com este filme já que o protagonista SOU EU quando adolescente.
E Bernardo Bertolucci dirige com tal sensibilidade que dá a impressão que a história sai de dentro dele, também.
Lembrei de minha relação problemática com minha irmã na adolescência, meu isolamento, minha vontade de viajar pelo espaço, e... CHOREI assistindo o filme! Milagre dos milagres! Nem "A Lista de Schindler" me faz chorar! Curiosamente o último filme que me causara tal comoção foi "Cinema Paradiso".
A atuação de Jacopo Olmo Antinori merece destaque aqui. Porque é tão natural que ele não parece estar atuando. O diálogo final com a irmã é para sangrar o coração de vez. E ao colocar "Space Oddity" na trilha, com aquela atmosfera única da canção, o filme te arrebata de vez.
Este foi o filme-testamento do grande Bertolucci. Ele se despediu muito dignamente, com uma história que toca a alma como pouquíssimas outras!
Não tem um momento que seja do personagem de Kevin Costner neste filme em que tudo o que ele faz não seja convincente só porque ele está protegido pela conveniência do roteiro. Tipo, há personagens que realmente impõe um ar de "badass" e que realmente dão a impressão que seriam capazes de matar trocentos caras sem dificuldade como ele faz aqui. Murphy (Costner), não é um deles. Não que ele seja realmente mau ator, mas aqui realmente ele está forçado DEMAIS.
Kurt Russell como Michael convence mais precisamente porque seu personagem (além de ter sete vidas) não faz nada de tão extraordinário que te deixe com cara de besta.
Tirando algumas cenas de violência absolutamente nonsense (eu recomendo pular metade do último ato), o filme é sim um bom filme de ação para passar o tempo. Nada que você vá querer rever muitas vezes, no entanto.
A nossa época experimenta um prazer tão grande em denunciar os exageros do feminismo, inclusive grande parte das mulheres mesmo, que parece imperioso que seja um HOMEM a dizer em alto e bom som para as feministas que elas TÊM RAZÃO, em quase tudo, ainda que o afã de denunciar os males do machismo e do "patriarcado" as façam cair na caricatura facilmente às vezes.
É importante que um homem venha reabilitar e ressignificar o feminismo porque, afinal, FOI um homem que criou o feminismo moderno. A obra "A Mulher de Trinta Anos", de Honoré de Balzac, publicada há 180 anos atrás, apresenta aquele que, acho, é o primeiro discurso feminista da história. A protagonista, Julie/Júlia, um belo momento se dá conta e declara que, mesmo na supostamente sofisticada civilização francesa do século XIX, o que se esperava da mulher era O MESMO DE SEMPRE: ser boa filha, casar, ser boa esposa, ter filhos, ser boa mãe, morrer. Finis. Ou seja, todas as revoluções que a França se orgulhava de ter gerado não tinham tido senão um efeito ilusoriamente libertador, pois o lugar da mulher, da "femme", continuava sendo o mesmo de antes: filha, irmã, esposa e mãe. Ironicamente, no livro, a idade de trinta anos representa o início do FIM para a mulher. Já na prática, o termo "balzaquiana" passou a ser associado à mulheres de trinta anos, significando "no auge da vida".
De Balzac à "Filha Perdida" passam-se 180 anos, mas poderiam ser apenas dez, ou nenhum. Pois a mensagem do gênio francês parece que se perdeu: a mulher, cada mulher, também é um indivíduo, também é um ser ÚNICO. Mas eis que um cada vez maior contingente de mulheres surge na internet para "denunciar" os males do feminismo, juntando-se, inconscientemente, à turba de conservadores que Júlia denuncia no romance, e que acredita, basicamente, que "lugar de mulher é na cozinha". Assim vemos mulheres boicotando a si mesmas na vã tentativa de rir dos exageros feministas, quando TODO o feminismo se resume na seguinte ideia: a mulher também tem uma existência individual.
Existência individual no sentido de que ela tem sentimentos e vontades próprias, aspirações próprias, um "ethos" e um "pathos" próprio, um lugar próprio no mundo que ela quer ocupar, haja ou não um homem do lado dela. Até 1842, a mulher raramente participava da história, da própria história. Até Cleópatra entra na história como mulher sedutora, e paixão de César e Marco Antônio, não como rainha ou líder. Podemos dizer que até o século vinte, não existia a mulher enquanto indivíduo. Até os socialistas, pretensamente libertários, continuavam vendo a mulher de forma objetificada. Foi necessário uma Simone de Beauvoir para provar que mulher podia ser intelectual, e desenvolver pensamento próprio, tão profundo quanto o criado por homens.
A existência e a percepção de uma pessoa como indivíduo, separado de TODOS os demais em definitivo, implica necessariamente que às vezes você vai acordar, olhar para o teu pai, tua mulher, teu filho e perguntar: "Quem é essa pessoa? E o que eu estou fazendo do lado dela?" É um estranhamento natural que advém da constatação do nosso isolamento, da nossa solidão neste mundo. Quando o homem percebe isso, já fomos informados exaustivamente do que ele faz, via literatura, cinema e jornais. Quando a MULHER percebe isso, porém, estamos diante de um dilema: a fêmea é nitidamente mais sensível E sensata que o macho, e não consegue largar seu "imperativo biológico" em definitivo nunca. Em outros termos: a mulher nunca consegue deixar de sentir muito, ao menos um pouco, por não ser boa irmã, boa filha, boa esposa, boa mãe. A culpa disso é mais da BIOLOGIA que da educação dela. Mas o fato é que ela PODE aprender a NÃO sentir muito, como o homem aprende desde muito cedo. Na verdade, se dependesse apenas do "macho", nossa espécie estaria extinta há muito tempo. Isso não apenas porque é a mulher que reproduz, mas porque é a mulher que SE IMPORTA, e é a mulher que tenta NOS ensinar a se importar, na maioria das vezes em vão.
Você poderá ver este filme numa luz dignificante se correlacioná-lo, para além da obra original que o inspirou, com o "manifesto feminista" de Balzac de 180 anos atrás. Leia "A Mulher de Trinta Anos" e tente refletir no que mudou até aqui. A protagonista "foge" da maternidade como um homem fugiria da paternidade- alegando que um "momento de descuido" não vai fazê-lo ficar sem dormir para o resto da vida. Sim, num mundo de mulheres cônscias de si mesmas, algumas vão ter filhas, olhar para elas e não entender onde estavam com a cabeça. Porque aquele ser humano adulto diante de si e entendem que ele deveria estar buscando uma realização plena da vida no mundo, não procurando uma "mãe" que só existiu hipoteticamente. O filme serve de lição para nós deixarmos nossas mães, filhas, irmãs e esposas respirarem, como exigimos que elas façam conosco. Porque todos nós idealizamos uma vida "solta", sem regras, sem freios, sem laços. É próprio do indivíduo pensar assim. Você tem que ter a percepção de que muitas vezes você é um FARDO para tua mãe, como ela pode ser um FARDO para ti.
Também desromantiza a maternidade. Que, afinal, nada mais é que uma função biológica que teu corpo pode vir a desempenhar até involuntariamente. Não, num mundo idealmente livre, uma mulher não pode ser "culpada" de ter filhos se não consegue se prender a eles depois de nascidos, porque eles SÃO, de fato, estranhos para ela, do nascimento à morte. E se o filho ou filha não consegue usar a lição do afastamento da mãe para entender nosso inescapável isolamento (nossa unicidade) neste mundo, a reaproximação da genitora não vai servir para nada além de uma pretensa fuga de si mesmo.
No dia em que aprendermos a olhar as mulheres de nossa vida como as estranhas que elas são, aprenderemos a respeitá-las mais, como elas fazem conosco sem dificuldades. Não adianta você se voltar para tua mãe como uma fonte intocada que está lá apenas para te servir, para servir como porto e ancoradouro. Porque ser tua mãe é apenas uma das características dela, e pode ser uma das características de que ela menos se orgulha. Quando você entende que ela é um ser À PARTE, você aprende a respeitá-la mais (e o mesmo ocorre com tua mulher, tua filha, etc). Assim tu não pode usar a "rejeição" materna como argumento para nada na vida, porque, como ser adulto, entender que cada um é um indivíduo, e que ninguém deve ser o cerne, a razão de ser da vida de ninguém deveria ser requisito sine qua non para alguém ser classificado como ser adulto pensante, como "homo sapiens".
Balzac dedicou a edição original das “Ilusões Perdidas” a Victor Hugo.
Assim, um dos dois maiores escritores franceses do século XIX dedicou sua obra mais conhecida... ao OUTRO.
E esta obra, peça central da “Comédia Humana”, funciona mesmo como um resumo de toda a obra balzaquiana, centrada na complexa sociedade francesa da época, “sediada” em Paris.
Já este filme serve como um resumo do livro e uma introdução a Balzac.
É uma pena que não haja mais filmes assim. A literatura francesa daquela época, e mesmo a “Comédia Humana”, renderia um gênero do cinema por si só. Aqui temos uma história “coming of age” situada no século XIX onde os personagens NÃO falam e agem como homens e mulheres de 2022 fantasiados. Houve todo um cuidado na produção e na ambientação, o que já é facilitado pelo texto do velho Balzac, riquíssimo em detalhes, que fornece um panorama completo da sociedade parisiense da época em todos os seus estratos. O protagonista, Lucien, muito parecido com Balzac (também é escritor) vai passando, pouco ao pouco, do otimismo e romantismo ingênuo da juventude à decepção e à maturidade, pois a sociedade da época é um jogo de aparências que esmaga impiedosamente quem não joga segundo as regras.
Nesse processo de maturidade do protagonista, vamos conhecendo tantos detalhes da França naquela época que se piscar você perde o fio da meada. A história é perfeitamente bem construída e, apesar de ser “de época” não aborrece em nenhum momento, dando a impressão que deveria ser MAIS LONGA para realmente fazer jus ao material original.
O grande Gerard Depardieu faz uma participação mais que especial, e o ator protagonista é a cara de um ator brasileiro cujo nome não recordo.
Até hoje a grande atuação da carreira de Tom Cruise.
Nunca mais fez um papel denso assim.
O que me agrada em Oliver Stone é que o diretor tem uma visão não romantizada da história e da guerra que, em termos de cinema, ajuda a contar histórias mais realistas, profundas e interessantes que o gênero “guerra” permite.
Porque esse gênero está permeado por aquela visão do homem norte-americano como bastião civilizatório do mundo, que sacrifica tudo pela honra, pela família, pela nação, pela civilização ocidental, etc. Mas nós sabemos que os Estados Unidos são não o lado “certo” de qualquer guerra, mas o lado VENCEDOR, o lado que coloca a guerra numa perspectiva dicotômica onde eles, invariavelmente, representam o “bem”.
Nesse cenário, Stone conta a história “coming of age” de Ron Kovic, que começa a história como um patriótico jovem querendo lutar pelo seu país e termina melancolicamente, sozinho, preso a uma cadeira de rodas e rotulado como agitador.
O filme passa de um clima do mais completo ufanismo para o mais desolador abandono no final, quando o protagonista volta para casa, mutilado, e não consegue se readequar a uma vida que nunca efetivamente viveu.
É aí que a sensibilidade de Stone acerca das mazelas da guerra vem à tona. Ele sabe que existem DUAS guerras: a que imaginamos na nossa cabeça, como jovens entusiasmados, e a que efetivamente lutamos, suja, sangrenta, um salve-se quem puder glamourizado por um hino nacional aqui, um hasteamento da bandeira acolá.
Kovic experimenta os dois lados com igual intensidade. Como jovem soldado, ele é incentivado por todos a ir à guerra e lutar pelo país. Como veterano aleijado, ele é recebido como alguém que não deve nunca se lamentar por ter apenas cumprido com sua obrigação. Ocorre que o cara nunca efetivamente VIVEU. Ele tinha toda a vida pela frente antes da guerra, agora se lamenta porque nem seu PÊNIS funciona mais (=não pode se realizar plenamente como homem).
Assim o “protesto” de Stone se cristaliza (e este é um exemplo perfeito de filme ANTIBÉLICO) e somos forçados a lidar com a contestação que um soldado é um INSTRUMENTO útil para a realização de um fim, e tanto faz se ele volta vivo, são e saudável, pois se morrer também terá cumprido sua função. Isso leva a uma reconsideração completa do que o povo norte-americano REALMENTE considera como correto, digno, decente, etc. Você sai do ufanismo mais completo para uma quase certeza de que, na sociedade norte-americana, você não é mais que um objeto, como as coisas que você compra.
O filme é bom para ser assistido do início ao fim como um legítimo “filme de protesto” que tem algo a dizer, e diz eloquentemente!
Isto aqui é uma verdadeira AULA de como se faz uma adaptação de uma grande obra literária para o cinema. Acho que só a adaptação francesa d'Os Miseráveis (com Gerard Depardieu e John Malkovich) consegue chegar perto em riqueza e perfeição.
Até porque, nos dois casos, a película, para além de servir como entretenimiento por si só, serve como INTRODUÇÃO à obra do autor (Tolkien ou Víctor Hugo), o que já é uma contribuição ao incentivo da descoberta da literatura pelo público do cinema.
Como Peter Jackson conseguiu essa proeza? TRABALHANDO. Simplesmente isso. Ele sabia que os fãs de Tolkien esperavam há décadas por uma versão cinematográfica do Senhor dos Anéis. E sabia que seria necessário um filme ENORME pra dar conta da empreitada. Então decidiu dedicar alguns ANOS de sua vida à tarefa, que poderia se mostrar inglória. Deu resultado, o público reconheceu o esmero do diretor e de toda equipe técnica, e a trilogia segue sendo a mais perfeita da história, catapultando sozinha o nome de Jackson para o hall dos grandes do cinema.
Qual o segredo para fazer com que uma história, seja qual o meio em que seja contada, tenha o mesmo valor na época do lançamento, anos ou décadas à frente. Primeiro, é preciso que seja uma BOA história, com começo, meio e fim. Segundo, é preciso encontrar a forma certa de manter o público sentado na cadeira, lendo ou assistindo, através de ganchos que o façam querer continuar "viajando" na história. Terceiro, é preciso saber usar os recursos do meio escolhido com maestria.
Jackson soube fazer as três coisas perfeitamente, TRADUZINDO o universo tolkeniano com perfeição do papel à tela e mais, despertando toda uma geração a redescobrir o escritor, movida pela curiosidade de conhecer detalhes que fogem à atenção na tela.
Isso não foi uma tarefa fácil, é um contingente enorme de cenários, atores e figurantes, sendo que cada detalhe tinha que sair à perfeição ou nada feito, então da seleção de elenco ao figurino, da trilha sonora à maquiagem, o sujeito só aceitava a PERFEIÇÃO, e o resultado NÓS só desfrutamos parcialmente, porque Jackson mesmo é quem o desfrutou completamente, porque ao prazer estético de ASSISTIR ele juntou o prazer intelectual de CRIAR.
O fruto do árduo trabalho dele e sua equipe qual foi? Foi que ISTO AQUI é "O Senhor dos Anéis". Este aqui é Sauron, estes são os hobbits, estes são os orcs, este é Frodo, está é Galadriel, este é Gandalf. O filme conseguiu dar uma imagem definitiva a esses personagens e à Terra Média. Tanto que qualquer diretor que tentar refilmar essa trilogia terá muito trabalho em substituir os atores do clássico no imaginário popular.
O filme tem alguns detalhes que me chateiam e alguns que cansam um pouco, mas devido ao esmero técnico e em respeito ao enorme trabalho que deu criar essa história de forma tão impecável, dar menos que a nota máxima para ele me parece coisa de quem não sabe agradecer a um artista pela arte que ele humildemente nos oferece.
E Jackson, como todos os envolvidos no filme, é um artista, um artista como Tolkien, um criador que nos faz viajar com ele e lamentar muito quando a viagem termina.
O roteiro trabalha com uma ideia original, mas o desenvolvimento peca pelos problemas de sempre no gênero.
Gosto do Justin como cantor, então tendo a "passar pano" pra atuação dele naturalmente. Com certeza nada digno de Oscar, mas nada comprometedor. Cillian Murphy e Amanda Seyfried nos papéis "típicos" deles. Você olha pra cara dele e vê um vilão, você olha pra cara dela e vê uma mocinha rebelde.
Não espere um "Solaris" ou "Blade Runner 2049" da vida e irá se divertir!
Li TANTAS críticas a este filme que achei que vi a película errada!
Este filme é um candidato certo ao Oscar 2023! Junto com "Elvis". Montagem, trilha sonora, fotografia, ambientação, atuações, tudo muito bem feito. Reprodução das imagens icônicas de Marilyn Monroe beiram à perfeição (e superam "Elvis"). E Ana de Armas merece, no mínimo, uma indicação.
A crítica de o filme ser um "pornô" não tem fundamento. Há pouco sexo, nada realmente explícito, e ela aparece menos nua do que andam dizendo.
Se quiserem, é ideal assistir isso aqui como se faz com "Psicopata Americano". Uma sátira. Uma autocrítica.
Porque este filme toca FUNDO num problema que eu diria ser a quintessência, a definição mesmo do lado PODRE, debilóide, patético de Hollywood, do cinema, do "mundo dos famosos", etc. A fetichização que criamos em torno de figuras como Marilyn (e Elvis, e Rodolfo Valentino, e Angelina, e Tom Cruise, etc, etc, etc), transformando-as (em nossa cabeça) em algo que elas NÃO ERAM/SÃO para nosso deleite, para preenchimento de uma necessidade, de um vazio nosso, em detrimento de qualquer coisa de valor que tais pessoas possam efetivamente fazer/ter feito.
Em como enxergamos astros de cinema (e da música, e agora, da internet também) como BONECOS sem vontade que existem para saciar/realizar uma fetiche qualquer nosso- seja o de nos presentear com um ideal de beleza/sexualidade inatingível, seja o de nos fazer lembrar "ad eternum" de uns "bons e velhos tempos" que só existem na nossa cabeça. Quem cria a fantasia, Hollywood ou nós mesmos? Essa é a questão. Parece um típico caso de retroalimentação.
O público gosta de tomar parte na criação/glorificação de ídolos. Ele tem que aceitar sua responsabilidade pela queda e ruína desses ídolos também.
No caso em questão, Marilyn Monroe, o ícone, a atriz, a diva, a deusa, etc, está claro aqui, NUNCA EXISTIU. Sempre foi um PERSONAGEM, uma MARCA, algo criado para impulsionar uma indústria, para VENDER, para DAR LUCRO. Um PRODUTO enfim. Como Elvis (perguntem ao Coronel Parker) e tantos outros.
Para viver uma vida realmente humana, e realmente saudável, Norma Jeane nunca deveria ter colocado seus pés em Hollywood. Assim, claro, nunca teríamos Marilyn Monroe. Mas talvez ela tivesse uma vida minimamente normal. Porque o que ela teve não foi vida, na definição real dessa palavra. Então, quanto você (sim, VOCÊ) critica a exposição exagerada de Marilyn, você deve fazer uma autocrítica, porque você contribui para isso. Contribui quando transforma um PERSONAGEM de cinema em algo real, em algo tangível, quando você se ilude imaginando que um ser humano DE CARNE E OSSO tem a obrigação de ser "linda e gostosa" 24 horas por dia, quando sonha e se ilude com um "glamour" que desaparece diante de uma caixa de remédios para dormir. Você (sim, VOCÊ, o fã, o endeusador de Marilyn) é parcialmente responsável pelo fim trágico dela também.
A imagem que a indústria de Hollywood VENDE de um artista é totalmente falsa e fabricada para qualquer um com um par de olhos funcionais na cara. Até aí tudo certo. No caso de Marilyn, ela não foi a primeira nem a última, mas certamente se transformou NO símbolo sexual de Hollywood por excelência, a personificação eterna da loira "fácil" e, digamos, pouco inteligente. Alguém dado ao público (masculino) para que ele sonhasse e a devorasse com os olhos, incapaz de ver nela qualquer mínimo grau de profundidade. Em suma, "alguém que eu gostaria de levar pra cama". Essa imagem foi criada com a ajuda da própria Norma Jeane ou ela foi levada ingenuamente a aceitá-la? Pouco importa, o fato é que não se livraria mais dela, e SABIA que, quando envelhecesse, seria deixada de lado pela indústria e trocada, para falar de modo cru, por "carne fresca". Porque dela não se esperava mais nada além de ser "burra e gostosa", e como não era burra, e um dia deixaria de ser gostosa, o dilema era óbvio: HOLLYWOOD NÃO ERA PARA ELA!
Não dá para imaginar uma atriz como, digamos, Elizabeth Taylor ou Katherine Hepburn, embora também objetos de desejo, terminando de forma trágica como Marilyn Monroe. Essas duas, para além de terem o talento reconhecido cedo, sabiam "dobrar" a máquina de Hollywood e usá-la a seu favor. Eram divas, mas divas espertas, donas de seus narizes. Faltava a Norma Jeane exatamente o quê? Talento? Maturidade? Bons agentes? Um casamento sólido com um sujeito que lhe desse suporte? Não dá pra dizer ao certo, apenas o suicídio indica com certeza QUE FALTAVA ALGO.
Quando você se sentir incomodado (a) com a crueza desse filme, esqueça um pouco a magia e pense na podridão do cinema. Sim, tudo tem um lado podre, inclusive a "sétima arte". Pense nessa indústria de ILUSÃO que você alimenta. Pense nesses homens e mulheres vivendo vidas "de mentirinha", para as câmeras, às vezes depressivos, às vezes, depravados, às vezes enrustidos, mas sempre "encenando" uma felicidade perfeita aos olhos do público (e ganhando muito dinheiro em cima da ilusão que vendem). Pense nas pessoas DE CARNE E OSSO por trás dessa indústria, pessoas que adoecem, mental e fisicamente, como quaisquer outras, e que não poderão contar COM TUA AJUDA na hora em que o desespero falar mais alto. Pensando nisso, talvez você chegue à óbvia conclusão: "Marilyn Monroe" é uma ideia fixa dentro da tua cabeça, nada mais que isso. Nunca existiu de verdade, e a pessoa real, uma tal Norma Jeane, está morta, e bem morta, há 60 anos. Você nunca a conheceu e nunca a conhecerá. Tudo o que você tem dela são fantasias (às vezes a pessoa fica fantasiada totalmente nua), fantasias que te alimentam e te entusiasmam, mas que não tem mais realidade que o sorriso de felicidade eterno dela.
É com essa dura realidade que o filme trabalha, vemos uma pessoa reduzida à condição de "carne", mas é ISSO que o público pede, implora, quando idolatra as imagens que Hollywood vende, é esse objeto de desejo inatingível (para a maioria), que no final se reduz a quase uma prostituta de estrada, e termina quase como uma, da forma mais melancólica possível e totalmente sozinha, suicidando-se aos 36 anos sem ter vivido quase nada das fantasias e sonhos que uma turba de fãs alucinados insistem em projetar nela até hoje, mas só acontecem em suas cabeças febris, sonhos que ela nunca pôde viver porque estava ocupada fingindo felicidade para alimentar os TEUS.
em tempo: se o filme fosse uma SEQUÊNCIA do original, mostrando que Esther já não consegue disfarçar muito bem a real idade dela, funcionaria muito melhor.
Este filme é tão importante, historicamente, como Pantera Negra.
Pena que não vai bater a bilheteria.
Porque este é o lado forte e empoderado do homem negro, ou melhor da MULHER negra que até hoje nunca foi devidamente mostrado no cinema.
A forma como a luta contra a escravidão poderia ter sido mais bem sucedida se a maioria preferisse A MORTE a correntes pega fundo quem tem alguma sensibilidade REAL. Os europeus nunca foram moralmente, intelectualmente ou fisicamente superiores aos africanos. Os donos da civilização foram apenas mais ESPERTOS.
É ficcional? É exagerado? Claro, bem-vindo à Hollywood. Mas se tu assistir como uma metáfora "blockbuster" da luta africana pela sobrevivência (luta muito mais aguerrida devido às condições peculiares da África), vai assistir com outros olhos.
Viola Davis, claro, TINHA que ser a protagonista, já que ela é A atriz negra da atualidade.
Independente dos argumentos de quem crítica, para mim isto aqui é a lacração QUE FUNCIONA.
O filme tem uma pegada "tarantinesca" discreta (bom para quem não gosta dos exageros de Tarantino) e também parece ter sido feito nos anos 70 às vezes, com uma trilha sonora que remete a décadas passadas e um roteiro que não entrega "lições de moral", como se espera da Hollywood politicamente correta de hoje.
Na primeira vez que vi, achei fraco, confuso e arrastado. Na segunda percebi melhor que história o Lumet quis vender. Continua sendo arrastado em algumas partes, mas é uma história ORIGINAL, com alguns lances de roteiro que eu nunca tinha visto, tipo
filhos causando a morte da própria mãe por engano e o pai matando o próprio filho no final
Destaques para Seymour-Hoffman e Ethan Hawke, embora o personagem deste seja chorão demais. Michael Shannon também aparece numa participação muito pequena e Marisa Tomei é uma figurante quase, sem importância na história.
Se chegar na metade e enjoar recomendo pular algumas cenas e ASSISTIR ATÉ O FINAL. É a parte mais impactante do longa.
Isabelle Fuhrman parecia uma jovem atriz muito promissora no primeiro filme. Não apenas convencia atuando, mas fazia com que você realmente sentisse medo da personagem.
Mas como acontece com muitos talentos mirins, parece que o talento dela não tem sido valorizado (só vi outros dois filmes com ela). Então ela se submete a voltar "às raízes" e encarar uma versão MAIS JOVEM de um personagem que fez... há 13 anos atrás.
O que prova para os pobres mortais que atores também se submetem às circunstâncias para sobreviver.
Não vou dar nota ao filme porque NÃO CONSEGUI TERMINAR. Isso é raro comigo, porque eu vou assistir filmes sabendo o que me espera, não vou assistir "bombas" voluntariamente. Não consegui terminar porque o filme me deixou DEPRIMIDO. Além do filtro e da montagem bizarra para a moça parecer criança, a história que você já sabe onde vai dar, me veio aquela sensação de como a indústria do entretenimento pode ser ridícula ao tentar repetir um sucesso de anos atrás literalmente chamando o público de IDIOTA.
Não, ela não convence em NENHUM momento, e por simpatizar com ela eu me recuso a terminar de ver isso. Parece uma tentativa desesperada de permanecer relevante, quando o talento dela lhe deveria angariar papéis muito melhores que esse.
Entre este, Metropolis e 2001: Uma Odisseia no Espaço, fica difícil escolher qual a MAIOR obra-prima da ficção científica no cinema.
Assistindo os três em sequência, você fica com a sensação que metade desse gênero está contido nesses três filmes. E todo o "resto" (com o devido respeito a Ridley Scott, Denis Villeneuve et alia) empalidece em comparação.
De fato "Solaris" não fica devendo nada às grandes obras da literatura russa em beleza e profundidade. E algumas partes acho que nem a mente privilegiada de um Tolstoy poderia conceber com igual intensidade. O filme assim prova que o cinema pode funcionar como uma ARTE com seus próprios méritos.
Para assistir num lugar calmo, tranquilo, para que o filme possa realmente ser apreciado como a obra-prima rara, única, que é.
O filme parece um spin-off de Stranger Things, da primeira à última cena. Inclusive o protagonista lembra muito a "Onze" (Millie Bobby Brown).
Assim como, assistindo a Stranger Things, o nome de Stephen King deveria PELO MENOS ser creditado como o óbvio inspirador do roteiro, já que a história parece em tudo escrita por ele, em "O Telefone Preto" temos praticamente uma história kinguiana que King nunca escreveu. Descobri que o roteiro se baseia num conto dum FILHO de King. Aparentemente, o filho bebe da fonte do pai e não se preocupa em desenvolver um estilo próprio.
A coisa mais fácil do mundo vai ser você associar o psicopata deste filme ao palhaço do It, já que os "alvos" são os mesmos. Mas este aqui nem de longe chega perto daquele filme em termos de consistência e TER uma história para contar. Na verdade é uma daquelas películas que você se esquece de ter visto uns dias depois. E como se baseia num CONTO, não há muita história, efetivamente.
psicopata parece ser do tipo que faz qualquer coisa sem nenhuma dificuldade, enfia um machado na cabeça do irmão sem sentir nenhum remorso e, no fim, acaba levando uma SURRA daquelas de um garoto! Todo o impacto que o "vilão" poderia causar se perde aí!
Falam do Ethan Hawke mas a verdade é que, de máscara, qualquer um poderia tranquilamente estar no lugar dele e você nem notaria.
Reassistindo este filme numa enorme tela de 50 polegadas, confirmei o que escrevi anteriormente: o filme é um ESPETÁCULO VISUAL IMPECÁVEL, mas peca por nos apresentar um retrato de Elvis, no mínimo, parcial.
Vou aproveitar para repostar aqui o comentário que eu fiz anteriormente onde expus em detalhes minha opinião sobre este filme, e apaguei por causa de IMBECIS que frequentam este site e não entendem que qualquer é livre aqui para escrever O QUE e QUANTO quiser. Tens preguiça de ler comentários longos? Então faz o grande favor de passar pro próximo E NÃO ENCHER O SACO!
“A tua reação diante deste filme vai variar conforme sejas ou não fã de Elvis Presley.
Caso sejas fã, vais (provavelmente) ficar tão extasiado pela possibilidade de ver teu ídolo finalmente encarnado numa película decente que já terás, de antemão, “aprovado” o filme e dado um Oscar para Austin Butler, outro para Tom Hanks, dois para Baz Luhrmann e um pra trilha sonora do filme.
Caso não sejas, e, como eu, conheças apenas o MITO Elvis, entrevisto apenas através da persona inimitável e dos muitos hits que se tornaram parte do repertório universal da música pop, como “It’s Now or Never”, “All Shook Up”, “Sylvia” (músicas ausentes no filme, diga-se), “Jailhouse Rock”, “Hounddog”, “Unchained Melody”, etc, etc, então, nessa segunda hipótese, tu terás mais discernimento para julgar os méritos e deméritos do filme, julgá-lo “comme il faut”, enfim: como apenas mais um filme.
Baz Luhrmann é um diretor facilmente reconhecível por seu estilo propositalmente exagerado e maior que a vida. Desde Romeu + Julieta (1996) passando por Moulin Rouge (2001) e O Grande Gatsby (2014), o diretor se comprometeu a entregar ESPETÁCULOS VISUAIS que podem ou não vir acompanhados de uma grande história, mas que, mesmo somente pelo apuro técnico na produção, já não pode ser tratado como um filmezinho qualquer de início. Esse espetáculo visual pode ou não satisfazer os mais criteriosos (eu confesso que até hoje “peno” pra entender Romeu + Julieta), que podem, ao invés de se inebriar pela variegada oferta de luzes e cores, reclamar da absoluta vacuidade do roteiro, que às vezes nada mais faz que oferecer “migalhas “ de uma história que parece estar sendo contada em outro lugar.
O Filmow já nos alerta de cara que a película em questão é sobre o DONO de Elvis Presley, o “coroner” Parker (nosso querido Tom Hanks) e não sobre o “Rei do Rock” em si, embora ele seja, obviamente, o que a absoluta maioria quer ver aqui. Eu não sei se contar a história do ponto de vista do “coroner” prejudica ou não a experiência audiovisual de quem assiste. Evidentemente, o sujeito tinha na cabeça que ele FEZ Elvis, que Elvis NÃO EXISTIRIA sem ele. E a história vai tentar nos convencer mais ou menos disso. Já, se fosse Elvis o narrador aqui, NÃO TERÍAMOS UMA HISTÓRIA MENOS ENVIESADA. Porque mais do que o talento de Elvis, o seu EGO era descomunal. Ele realmente se julgava “O Rei do Rock”, embora o gênero tenha se saído muito bem sem ele. Já que é assim, e que dificilmente teremos essa outra versão para compararmos, fiquemos com o que nos foi oferecido, a história do maior mito da cultura pop no século XX pela ótica de seu “dono”.
Essa história entretém? Tem qualidade? É oscarizável (sic) como o superestimado “Bohemian Rhapsody”?
Que entretém isso não há dúvida. Sobre a qualidade técnica, acabei de falar que o diretor costuma oferecer ESPETÁCULOS VISUAIS. Quanto ao Oscar, acho que só Tom Hanks aqui é um candidato óbvio e certo.
Austin Butler, um novato de quem nunca tinha ouvido falar, não se parece, a princípio, com Presley. Mas até aí, não há um problema grande, porque Val Kilmer também não se parecia com Jim Morrinson, nem Joaquin Phoenix com Johnny Cash ou Rami Malek com Freddy Mercury. E o que dizer de Kurt Russell (?) como Elvis? Enfim, Butler parece ter visto neste papel a sua chance de estourar e se esforçou o máximo que podia para incorporar os trejeitos do cantor. Conseguiu? Eu diria que ele merece nota DEZ pelo esforço e nota OITO pelo desempenho. Não, em NENHUM momento do filme podemos dizer “este É Elvis Presley “. No máximo podemos dizer “eis um cara que lembra muito Elvis Presley“. O cara evidentemente começou a pouco tempo e recebeu a incumbência de encarnar um mito do século passado. Nesse contexto, se saiu bem. Mas no geral, na interpretação, na real encarnação do ser humano Elvis? Sem chance.
Talvez seja culpa do estilo Luhrmann ou da perspectiva que se conta a história, mas ESTE Elvis não te faz entrar na história dele, não cria contato contigo em nenhum momento. A falta de experiência dramática de Butler fica evidente quando se percebe o esforço que ele faz para parecer emocionado em algumas cenas e o quanto, simplesmente, não convence quando o personagem está passando por momentos vitais (a morte da mãe, seu retorno aos palcos, a separação de Priscila). Em uma das últimas cenas do filme é mencionado o quanto Elvis estava receoso de aparecer em público devido ao seu ganho de peso. Porém, isso não se nota no físico de Butler, que continua com a mesmíssima aparência, aos 40, de quando o personagem tinha 20 e estava no auge da carreira e fisicamente.
Como eu disse, a atuação do ator é boa considerando as circunstâncias e o peso do personagem, mas ele DIFICILMENTE ganhará o Oscar por este filme. Tom Hanks é uma aposta muito mais certeira. Se o filme fosse narrado pelo próprio Elvis, o resultado tampouco seria outro. Falta a um ator novato experiência para compor um personagem passando por diferentes fases da vida. Pois, na sua cabeça, imitar os trejeitos de Elvis no palco já é 90% do trabalho. NÃO É. Elvis, o Elvis do palco, o “The Pelvis”, era ELE MESMO UM PERSONAGEM! Um personagem, conforme se conta neste filme, criado pelo “coroner” Parker. Então, Butler é UM ATOR IMITANDO OUTRO ATOR. Sua performance não vai além da superfície. Boa sorte para quem, usando este filme, queira criar uma imagem verossímil do ser humano Elvis Aaron Presley. Não consegue.
Por exemplo, o filme dá a entender que havia duas mulheres fundamentais na vida de Elvis, sua mãe e sua esposa Priscila. Da mãe conseguimos até ter uma ideia mais ou menos clara de quem era e de como amava o filho. De Priscila não conseguimos saber ou entender quase nada. Seja porque Parker não gostava dela, seja porque não a entendia (ciúmes? inveja?), o fato é que mal vemos Priscila neste filme, não entendemos como Elvis pôde ter se apaixonado tão perdidamente por ela e tampouco entendemos o real motivo da separação dos dois. A atuação da atriz que interpreta Priscila também não ajuda muito. Os dois mal interagem, mas o pouco em que aparecem juntos não há química. Sabemos que Priscila Presley, a exemplo de Yoko Ono e Courtney Love, é uma das grandes "viúvas negras" do rock, até hoje odiada por muitos fãs por supostamente ser responsável pela decadência do astro e por se aproveitar, no post mortem, de seu legado. Porém, por ESTE filme não conseguiríamos jamais ter uma ideia sobre isso. Ainda será necessário um novo longa pra trabalhar com essa complexa história de amor Elvis e Priscila.
Luhrmann poderia ter aproveitado para incluir no filme números musicais completos. O filme não pode ser efetivamente classificado como musical por isso. Inúmeras músicas de Elvis tocam durante o filme, mas sempre de modo quebrado, desritmado, e às vezes parece que sequer se deram ao trabalho de escolher a melhor gravação daquela música (por exemplo: "Jailhouse Rock"). Evidentemente, a voz que aparece no filme é a de Elvis, não de Butler, e temos que nos perguntar porque cargas d'água, com um cantor de repertório tão famoso e vasto (quem não é fã se surpreende no filme com quantas músicas de Elvis estava familiarizado sem saber), eles escolhem colocar músicas DE OUTROS CANTORES na trilha sonora!!! Doja Cat???? Por que não trabalhar só com o repertório de Elvis, ou, no máximo, com o de cantores que o influenciaram? Eles perderam a oportunidade de fazer uma versão atualizada daquele clipe absolutamente ICÔNICO de "Jailhouse Rock" onde Elvis, de uniforme de presidiário, aparece dançando numa prisão. Aquela é seguramente uma das imagens mais emblemáticas, não apenas da carreira do cantor, mas da cultura pop como um todo. Fora isso músicas como "Hounddog" e "Can't Help Falling in Love" que, se apresentadas na íntegra, poderiam representar bem facetas do cantor (o rebelde, o apaixonado) são apresentadas cortadas e fora de contexto.
Contexto é algo aliás que não temos aqui para nada que Elvis tenha feito na vida. Todas as músicas que ele gravou, todos os discos que lançou e até sua carreira cinematográfica (feita inteiramente de filmes "água com açúcar" e sem profundidade, como ele mesmo comenta no filme), tudo é apresentado de relance, sem que possamos entender, sequer, o que uma determinada canção significava pra ele, o que um disco representava em sua carreira (em termos de evolução musical), o que a "invasão" de Hollywood mudou em sua vida.
Ao contrário, num momento Elvis está na crista da onda, "requebrando" geral (e atiçando a ira da "tradicional família norte-americana" com sua indecência- que tempos, meu Deus! que tempos!), no outro está sendo arrastado, a contra gosto, para o exército, num momento está no auge, no outro, sabe-se lá por que, está por baixo, num momento faz um show homericamente histórico, para 1,5 bilhão de pessoas no mundo, no outro está a um passo da falência. Tudo quase sem contexto, e, como eu disse, falta densidade à interpretação de Butler para que possamos saber como o astro lidava, internamente, com tais (e tantas) mudanças.
Podemos nos perguntar, temos o direito como telespectadores, se o diretor não poderia ter optado por uma abordagem levemente diferente que, mesmo levando em consideração a perspectiva "parker-ana", lograsse mostrar o "outro lado", a perspectiva do "homem por trás do mito", o impacto que Elvis realmente teve na cultura norte-americana e mundial, o que a popularização que ele deu à música negra ajudou na lutra contra a segregação racial, como ele ajudou a quebrar estereótipos artistíticos e sexuais (as garotas começam na história sem entender o que aquele sujeito pensa estar fazendo em cima de um palco e terminam, como sabemos, quase tendo um orgasmo coletivo em público). Qual seu real LEGADO CULTURAL E ARTÍSTICO, enfim.
Porque, pensemos, Elvis é um dos maiores, não, é O MAIOR mito da cultura pop de todos os tempos. Comparemos o sujeito com outros mitos, tipo, com Marilyn Monroe. Qual a diferença? Exceto para os fãs apaixonados da loura mais famosa da história, a diferença salta aos olhos. Fora sua beleza acachapante, Marilyn tinha muito pouco a oferecer. Mas muito pouco MESMO. Qualquer um de seus papéis poderia ser feito, tranquilamente, por qualquer outra atriz. Ela se tornou um mito sexual, ok, mas por trás do mito, por trás da "fachada" e da saia esvoaçante, não havia muita coisa. Uma atriz mediana, no máximo. Já Elvis é OUTRO tipo de mito, porque o TALENTO estava ali, desde o início, sua voz e seu carisma não eram coisas que alguém como Parker poderia inventar (ele inventou o PERSONAGEM Elvis, como eu disse), ele nasceu com eles, o sujeito simplesmente poderia cantar QUALQUER coisa, a música mais besta do mundo, e fazê-la soar bem! A diferença entre um Elvis e uma Marilyn ou um James Dean consiste nisso, o de haver ALGO por trás do ídolo.
No filme esse ALGO é mais esboçado, é mais INTUÍDO por nós do que efetivamente mostrado. De novo, é um terceiro "falando" sobre Elvis. Lidamos aqui, novamente, com um problema já verificado em outras biopics, como por exemplo, Closer (sobre o Ian Curtis do Joy Division): um grande artista aparecendo sobre uma luz insuficiente para que possamos discernir seus reais contornos.
No geral, este é um filme MUITO BOM, um espetáculo visual como poucos e um filme que se pode assistir diversas vezes porque não há nada, minimamente, que o torne chato ou cansativo de assistir. Como cinebiografia de Elvis é uma negação, e como biografia de Parker também parece muito enviesada. Digamos, e julgo esse um jeito decente de avaliar esse filme, as DUAS histórias poderiam ser contadas de forma melhor, de outra forma, talvez um pouco mais de HISTÓRIA e menos cores e luzes e sons. A diferença é que esta é a ÚNICA forma de tornar a história do "coroner" assistível, já Elvis, evidentemente, parece ser capaz de render histórias muito mais densas e completas.
No meu comentário sobre o filme Batman (2022), eu disse que aquele é um bom filme, mas como o personagem Batman é o MAIOR e o MELHOR das histórias em quadrinhos, ele não merece apenas um "bom filme", mas o MELHOR filme, com o melhor elenco e o melhor diretor possíveis. Raciocío semelhante pode ser usado em relação a Elvis. Mesmo eu que não sou fã reconheço o quão emblemática é a figura, que influenciou todos os artistas de rock que vieram depois deles, desde os Beatles até Elton John, passando pelo nosso Raul Seixas. Para além da mera influência musical, Elvis representa, como ninguém, um símbolo da CULTURA DA IMAGEM. O sujeito era, no palco, como eu disse, um personagem. Nada "daquilo" tinha substância, nada era real. Exceto, claro, seu talento vocal inquestionável e seu carisma. Mas com sua imagem, seus figurinos, seu corte de cabelo, e seus "requebros", é claro, Elvis inaugurou todo um "tipo" de artista que nunca mais sairia do imaginário popular, o artista "bigger than life", para usar uma expressão que ele mesmo usaria. Elton John, David Bowie, Freddy Mercury et alia tinham que sair de algum lugar, né? Até que um sujeito conseguisse enfrentar os tabus da "tradicional família norte-americana" e subir num palco exalando sexualidade, demorou muito, mas ALGUÉM tinha que fazê-lo, certo? Evidentemente (e o filme trata disso) ele não veio "do nada", e os próprios requebrados já estavam nos cantores negros que o inspiraram. MAS ele espalhou a imagem do showman que é, em si mesmo, um evento de tal forma que todos os que vieram antes dele JUNTOS não poderiam se comparar.
Assistindo este filme, o telespectador comum (não o fã, que, claro, conhece a história do cara de cabo a rabo e saberá dizer cada detalhe do filme que corresponda ou não com a realidade) terá a chance de se perguntar, até que ponto o insuportável "coroner" Parker é responsável por ter grudado essa imagem na nossa cabeça por toda a eternidade. E, o sendo, será convidado a dizer se ele merece mesmo ser julgado tão rispidamente quanto o filme dá a entender (um tirano que se julgava, literalmente, DONO de Elvis). A atuação impecável do grande Tom Hanks faz com que lá no fundo simpatizemos com ele. E (de novo) a atuação limitada de Austin Butler nos faz questionar se Elvis era mais do que o boneco manipulável que Parker imaginava. Daí minhas reservas quanto à atuação dele. Com certeza, para um iniciante, está ótimo, mas temos que nos perguntar se o MITO foi adequadamente representado pelo aprendiz de ator ou se ele, meramente, nos deixou entrever uma grandeza que seria mais adequadamente retratada por um ator mais experiente e capaz de maior densidade.
No geral, o saldo é positivo, o filme é um espetáculo visual que certamente ganhará vários Oscars nas categorias técnicas, muito merecidamente um para Tom Hanks e dificilmente um para Butler (a não ser que tenhamos uma safra particularmente medíocre de filmes e atuações em 2022), mas só se o cara for INDICADO para ele já será uma vitória.
Resta saber se uma versão ESTENDIDA deste filme conterá números músicais completos e algum background melhor para a criação das músicas mais emblemáticas de Elvis.
Eu acabei de rasgar elogios para o "Psicose" por causa, entre outras coisas, do psicopata plácido Norman Bates, e eis aqui um Norman Bates tupiniquim, um moleque com pinta de nerd que, como o título entrega, esconde uma personalidade sombria.
O elenco não muito "global" entrega de cara que o filme TENTA se desprender da fórmula porno-comédia do cinema nacional. Apesar do Prates ser o típico ator de novelas, ele se esforça para convencer no papel. Mas particularmente eu acho que Bruno Gagliasso se sairia melhor (apesar da idade).
Não dá para dizer que o filme seja um lixo completo porque o roteiro segue direções não óbvias. É óbvio que o diretor quis trabalhar com o tema da psicopatia numa ótica própria, embora algumas atitudes do protagonista te deixem com aquela cara de "Como?" algumas vezes.
Vale uma conferida sem grandes expectativas de encontrar o "Psicose" brasileiro.
Lázaro Ramos num papel diferente do habitual, mostrando o bom ator que é, e a lindíssima Bianca Bin num papel que lhe cai como uma luva fazem com que este aqui valha uma conferida.
O nosso nível de cinema é tão baixo que qualquer coisa que não tenha piadas e palavrões aleatórios a cada minuto já faz a diferença.
Jamie Lee Curtis, a musa-mor do gênero slasher, era só uma criança de 02 anos quando sua mãe, Janet Leigh, inaugurou o reino das “scream queens” no cinema. Embora grite muito menos (felizmente) que suas sucessoras, Janet conseguiu o que nenhuma delas conseguiu: imortalizou-se na história do cinema graças a uma única e icônica cena.
Porque Marion (Leigh) não é uma “final girl” aqui, o filme é todo de Anthony Perkins (Norman Bates). Não é o primeiro psicopata da história do cinema, mas é certamente um personagem icônico, inaugurando uma série de vilões de terror que se tornariam mais amados que os heróis que os combateriam (inutilmente). De certa forma, embora essa dificilmente fosse a intenção de Hitchcock, o fato de Bates sobreviver e terminar o filme sorrindo antevê a sina do gênero “slasher”: o mal, personificado na figura do antagonista, nunca morre. Sempre volta a aterrorizar porque intimamente suas razões não são as nossas, e em seu cérebro confuso o que faz obedece a uma lógica que o senso comum não logra compreender.
Tal como foi repetido posteriormente (sem intenção?) em certa franquia de terror, o assassino tem uma obsessão com a figura materna que o leva a demonstrar o comportamento mais anti-maternal possível em relação a todos os outros. Longe de mim querer comparar Rob Zombie com o grande Hitchcock, mas em Halloween 02 (2009), Michael Myers tem visões de sua mãe que, de certa forma, emulam Norman Bates, embora as motivações de ambos sejam diferentes. A mãe aparece como uma figura intocada pela corrupção que permeia todo o resto, como o único ser digno de permanecer vivo, e Zombie faz questão de deixar claro que ela era a única criatura viva que Michael Myers jamais mataria. Dentro da narrativa esquizofrênica que estabeleceu para a franquia “Halloween”, a própria perseguição implacável à irmã Laurie Strode, a qual foi “adotada” por outra família após o suicídio da mãe, ganharia uma nova perspectiva. E o suicídio da mãe seria o estopim para Myers liberar as poucas restrições mentais que ainda tinha.
Mas deixemos de lado essa comparação, que envergonharia Hitchcock, já que o “Halloween” de Zombie não merece sequer ser citado conjuntamente com Psicose.
O fato é que temos aqui uma inauguração muito digna para um subgênero do terror que se tornaria incrivelmente repetitivo e enfadonho nas décadas seguintes. Imaginem se tivéssemos mais Hitchcocks e menos Wes Andersons nesse estilo de filmes. Teríamos muito mais filmes interessantes ao invés da parte 1 até 20 da mesma história. E de fato, a história de Norman Bates aparece como um bom estopim para serem exploradas no cinema todas as possibilidades dessa confusa engrenagem chamada psicopatia. O sujeito é obcecado com a mãe de tal forma que se recusa a existir sem ser dominado pela figura dela. Chega ao ponto de imitar sua voz perfeitamente, e a “dialogar” consigo mesmo as conversas que teria com a genitora. Não é difícil imaginar que não foi apenas a cena do chuveiro que “chocou” o público 60 anos atrás. A figura absolutamente frágil e anódina de Bates contrasta com um assassino cruel “guardado” dentro dele. Ninguém, absolutamente, esperaria ser assassinado por ele. Antes E hoje. Daí termos essa desconcertante revelação destruindo o paradigma do vilão naturalmente repulsivo. Bates te desconcerta e te desarma à primeira vista. Ele é o perfeito psicopata. Já na “evolução” do slasher tivemos o que? Assassinos que só faltam carregar uma placa com os dizeres “eu sou um assassino”.
Olha, eu gostaria de imaginar a sensação de assistir a esse filme em 1960, num mundo muito, digamos, despreparado para lidar com a implacável constatação da selvageria que todo homem teima em esconder (ainda bem). Mas o filme causa impacto ainda hoje, e muito. As cenas no “Bates Motel” são, todas, impecáveis (à exceção da desajeitada “revelação” final) e a vista noturna do lugar é ainda genuinamente assustadora. Mas o realmente assustador é o quanto de Norman Bates existem por aí, o que, na era da informação instantânea, se torna cada dia mais patente. Sujeitos plácidos à toda prova que, “um belo dia”, aparecem com uma faca nas tuas costas- ou com uma metralhadora na escola do teu filho.
Como entretenimento, como ARTE, o filme merece toda a reputação que tem. Como retrato de uma parte da realidade humana da qual gostaríamos de fugir, é ainda mais impactante.
Sem dúvida o maior dos clássicos do terror e um dos maiores do grande mestre Hitchcock.
Existe aqui uma atmosfera que me remeteu a Poe, pois eu acho que apenas o grande escritor norte-americano conseguia criar, com a necessária sutileza que sua época exigia, esses cenários de “horror” onde o mais inusitado acontece sem que o sujeito saiba o que está acontecendo plenamente, tendo somente que deixar-se dominar pela certeza de sua impotência.
Para emular um gênio (Poe), precisamos de outro (Hitchcock), e de fato o velho Hitch foi um dos poucos que realmente aprenderam e dominaram à perfeição a arte de contar histórias interessantes numa tela. Se Poe dispunha de todo o enorme vocabulário da língua inglesa para prender e assustar seus leitores, Hitchcock dispõe de um meio igualmente poderoso: a IMAGEM. Sua câmera passeia pelo cenário e te imerge de tal forma dentro dele que você prescinde de um grande vocabulário para sentir as mesmas coisas que alguém lendo Poe numa sombria noite gelada lá dos idos de 1850 sentiria, e com muito mais intensidade. Pois a literatura te permite o jogo da imaginação de forma mais ampla, enquanto o cinema já te oferece um quadro muito mais amplo e bem delineado do “horror”.
Eis aqui o primeiro (e único?) momento da história do cinema em que pássaros são os vilões da vez. Como ninguém pensou nisso antes? Essas criaturas PODEM ser assustadoras. Especialmente quando se juntam em grandes revoadas. E o fato de não esperarmos normalmente um comportamento agressivo por parte de pássaros, já que eles usualmente são vistos como símbolo da harmonia da natureza, torna a possibilidade de uma história de ataque de aves mais perturbadora.
E de fato o velho Hitch consegue nos perturbar sem esforço aqui. A história começa num tom tipicamente hitchcockiano, dando a entender que se trata de uma simples comédia romântica ou algo do tipo, e vai num crescendo de tensão que os mais afoitos por “sustos” imediatos vão chamar de convite ao tédio. Quando chegamos ao “ataque final”, já estamos tão enojados dos nossos amigos penudos que quase esquecemos que é só uma história, tal o poder que o grande diretor tem de nos “vender” sua ideia. A cena final, especialmente o corte final, é uma coisa tão brilhantemente concebida e preparada que parece um quadro adaptado ao cinema. Como se uma história de Poe fosse resumida em um quadro por algum pintor expressionista.
Assistido em 2022, 60 anos depois do lançamento, o filme não perde quase nada de seu impacto. Exceto pelas cenas que denunciam as limitações da época (o sangue falso, etc), nada pode ser tirado sem que se perca um lance importante da história. Como uma legítima obra-prima, o filme é irretocável, e de se lamentar que mais diretores do gênero terror não aproveitem para emular o exemplo hitchcockiano, preocupando-se, antes de mais nada, em CONTAR UMA HISTÓRIA, e, depois, se necessário, em “chocar” o telespectador com sustos, berros e o sangue de sempre. Mais ou menos a mesma coisa com a literatura de horror que, no século XIX, tinha que se ater a limites que a tornavam tão esteticamente apreciável quanto genuinamente perturbadora.
De certa forma temos que nos dar por felizes que os dois gênios (Poe e Hitchcock) viveram em suas respectivas épocas.
O filme tem uma premissa já explorada em outras produções, e realmente não inova o conceito nem traz nenhum momento acachapante.
Apesar de ser ficção científica, às vezes tem-se a impressão de se estar assistindo a uma comédia romântica, especialmente quando o Chris Pine aparece.
Margot Robbie é linda e carismática (alguém ainda não sabia disso?), e sua atuação é de longe a melhor coisa aqui. O filme mais parece um episódio ou spin-off de alguma série. O final te deixa frustrado por uma história que sequer começou
Eu e Você
3.5 190Seria impossível eu não me identificar com este filme já que o protagonista SOU EU quando adolescente.
E Bernardo Bertolucci dirige com tal sensibilidade que dá a impressão que a história sai de dentro dele, também.
Lembrei de minha relação problemática com minha irmã na adolescência, meu isolamento, minha vontade de viajar pelo espaço, e... CHOREI assistindo o filme! Milagre dos milagres! Nem "A Lista de Schindler" me faz chorar! Curiosamente o último filme que me causara tal comoção foi "Cinema Paradiso".
A atuação de Jacopo Olmo Antinori merece destaque aqui. Porque é tão natural que ele não parece estar atuando. O diálogo final com a irmã é para sangrar o coração de vez. E ao colocar "Space Oddity" na trilha, com aquela atmosfera única da canção, o filme te arrebata de vez.
Este foi o filme-testamento do grande Bertolucci. Ele se despediu muito dignamente, com uma história que toca a alma como pouquíssimas outras!
Nota máxima.
3000 Milhas Para o Inferno
3.2 136Não tem um momento que seja do personagem de Kevin Costner neste filme em que tudo o que ele faz não seja convincente só porque ele está protegido pela conveniência do roteiro. Tipo, há personagens que realmente impõe um ar de "badass" e que realmente dão a impressão que seriam capazes de matar trocentos caras sem dificuldade como ele faz aqui. Murphy (Costner), não é um deles. Não que ele seja realmente mau ator, mas aqui realmente ele está forçado DEMAIS.
Kurt Russell como Michael convence mais precisamente porque seu personagem (além de ter sete vidas) não faz nada de tão extraordinário que te deixe com cara de besta.
Tirando algumas cenas de violência absolutamente nonsense (eu recomendo pular metade do último ato), o filme é sim um bom filme de ação para passar o tempo. Nada que você vá querer rever muitas vezes, no entanto.
Courtney Cox e seu filhinho chato roubam a cena.
A Filha Perdida
3.6 573A nossa época experimenta um prazer tão grande em denunciar os exageros do feminismo, inclusive grande parte das mulheres mesmo, que parece imperioso que seja um HOMEM a dizer em alto e bom som para as feministas que elas TÊM RAZÃO, em quase tudo, ainda que o afã de denunciar os males do machismo e do "patriarcado" as façam cair na caricatura facilmente às vezes.
É importante que um homem venha reabilitar e ressignificar o feminismo porque, afinal, FOI um homem que criou o feminismo moderno. A obra "A Mulher de Trinta Anos", de Honoré de Balzac, publicada há 180 anos atrás, apresenta aquele que, acho, é o primeiro discurso feminista da história. A protagonista, Julie/Júlia, um belo momento se dá conta e declara que, mesmo na supostamente sofisticada civilização francesa do século XIX, o que se esperava da mulher era O MESMO DE SEMPRE: ser boa filha, casar, ser boa esposa, ter filhos, ser boa mãe, morrer. Finis. Ou seja, todas as revoluções que a França se orgulhava de ter gerado não tinham tido senão um efeito ilusoriamente libertador, pois o lugar da mulher, da "femme", continuava sendo o mesmo de antes: filha, irmã, esposa e mãe. Ironicamente, no livro, a idade de trinta anos representa o início do FIM para a mulher. Já na prática, o termo "balzaquiana" passou a ser associado à mulheres de trinta anos, significando "no auge da vida".
De Balzac à "Filha Perdida" passam-se 180 anos, mas poderiam ser apenas dez, ou nenhum. Pois a mensagem do gênio francês parece que se perdeu: a mulher, cada mulher, também é um indivíduo, também é um ser ÚNICO. Mas eis que um cada vez maior contingente de mulheres surge na internet para "denunciar" os males do feminismo, juntando-se, inconscientemente, à turba de conservadores que Júlia denuncia no romance, e que acredita, basicamente, que "lugar de mulher é na cozinha". Assim vemos mulheres boicotando a si mesmas na vã tentativa de rir dos exageros feministas, quando TODO o feminismo se resume na seguinte ideia: a mulher também tem uma existência individual.
Existência individual no sentido de que ela tem sentimentos e vontades próprias, aspirações próprias, um "ethos" e um "pathos" próprio, um lugar próprio no mundo que ela quer ocupar, haja ou não um homem do lado dela. Até 1842, a mulher raramente participava da história, da própria história. Até Cleópatra entra na história como mulher sedutora, e paixão de César e Marco Antônio, não como rainha ou líder. Podemos dizer que até o século vinte, não existia a mulher enquanto indivíduo. Até os socialistas, pretensamente libertários, continuavam vendo a mulher de forma objetificada. Foi necessário uma Simone de Beauvoir para provar que mulher podia ser intelectual, e desenvolver pensamento próprio, tão profundo quanto o criado por homens.
A existência e a percepção de uma pessoa como indivíduo, separado de TODOS os demais em definitivo, implica necessariamente que às vezes você vai acordar, olhar para o teu pai, tua mulher, teu filho e perguntar: "Quem é essa pessoa? E o que eu estou fazendo do lado dela?" É um estranhamento natural que advém da constatação do nosso isolamento, da nossa solidão neste mundo. Quando o homem percebe isso, já fomos informados exaustivamente do que ele faz, via literatura, cinema e jornais. Quando a MULHER percebe isso, porém, estamos diante de um dilema: a fêmea é nitidamente mais sensível E sensata que o macho, e não consegue largar seu "imperativo biológico" em definitivo nunca. Em outros termos: a mulher nunca consegue deixar de sentir muito, ao menos um pouco, por não ser boa irmã, boa filha, boa esposa, boa mãe. A culpa disso é mais da BIOLOGIA que da educação dela. Mas o fato é que ela PODE aprender a NÃO sentir muito, como o homem aprende desde muito cedo. Na verdade, se dependesse apenas do "macho", nossa espécie estaria extinta há muito tempo. Isso não apenas porque é a mulher que reproduz, mas porque é a mulher que SE IMPORTA, e é a mulher que tenta NOS ensinar a se importar, na maioria das vezes em vão.
Você poderá ver este filme numa luz dignificante se correlacioná-lo, para além da obra original que o inspirou, com o "manifesto feminista" de Balzac de 180 anos atrás. Leia "A Mulher de Trinta Anos" e tente refletir no que mudou até aqui. A protagonista "foge" da maternidade como um homem fugiria da paternidade- alegando que um "momento de descuido" não vai fazê-lo ficar sem dormir para o resto da vida. Sim, num mundo de mulheres cônscias de si mesmas, algumas vão ter filhas, olhar para elas e não entender onde estavam com a cabeça. Porque aquele ser humano adulto diante de si e entendem que ele deveria estar buscando uma realização plena da vida no mundo, não procurando uma "mãe" que só existiu hipoteticamente. O filme serve de lição para nós deixarmos nossas mães, filhas, irmãs e esposas respirarem, como exigimos que elas façam conosco. Porque todos nós idealizamos uma vida "solta", sem regras, sem freios, sem laços. É próprio do indivíduo pensar assim. Você tem que ter a percepção de que muitas vezes você é um FARDO para tua mãe, como ela pode ser um FARDO para ti.
Também desromantiza a maternidade. Que, afinal, nada mais é que uma função biológica que teu corpo pode vir a desempenhar até involuntariamente. Não, num mundo idealmente livre, uma mulher não pode ser "culpada" de ter filhos se não consegue se prender a eles depois de nascidos, porque eles SÃO, de fato, estranhos para ela, do nascimento à morte. E se o filho ou filha não consegue usar a lição do afastamento da mãe para entender nosso inescapável isolamento (nossa unicidade) neste mundo, a reaproximação da genitora não vai servir para nada além de uma pretensa fuga de si mesmo.
No dia em que aprendermos a olhar as mulheres de nossa vida como as estranhas que elas são, aprenderemos a respeitá-las mais, como elas fazem conosco sem dificuldades. Não adianta você se voltar para tua mãe como uma fonte intocada que está lá apenas para te servir, para servir como porto e ancoradouro. Porque ser tua mãe é apenas uma das características dela, e pode ser uma das características de que ela menos se orgulha. Quando você entende que ela é um ser À PARTE, você aprende a respeitá-la mais (e o mesmo ocorre com tua mulher, tua filha, etc). Assim tu não pode usar a "rejeição" materna como argumento para nada na vida, porque, como ser adulto, entender que cada um é um indivíduo, e que ninguém deve ser o cerne, a razão de ser da vida de ninguém deveria ser requisito sine qua non para alguém ser classificado como ser adulto pensante, como "homo sapiens".
Sorria
3.1 845 Assista AgoraO Coringa vai exigir direitos autorais deste aqui.
A Órfã
3.6 3,4K Assista AgoraEu já achava este aqui bom, mas agora, diante daquela horrível prequel, virou uma obra de arte.
Ilusões Perdidas
3.9 22 Assista AgoraBalzac dedicou a edição original das “Ilusões Perdidas” a Victor Hugo.
Assim, um dos dois maiores escritores franceses do século XIX dedicou sua obra mais conhecida... ao OUTRO.
E esta obra, peça central da “Comédia Humana”, funciona mesmo como um resumo de toda a obra balzaquiana, centrada na complexa sociedade francesa da época, “sediada” em Paris.
Já este filme serve como um resumo do livro e uma introdução a Balzac.
É uma pena que não haja mais filmes assim. A literatura francesa daquela época, e mesmo a “Comédia Humana”, renderia um gênero do cinema por si só. Aqui temos uma história “coming of age” situada no século XIX onde os personagens NÃO falam e agem como homens e mulheres de 2022 fantasiados. Houve todo um cuidado na produção e na ambientação, o que já é facilitado pelo texto do velho Balzac, riquíssimo em detalhes, que fornece um panorama completo da sociedade parisiense da época em todos os seus estratos. O protagonista, Lucien, muito parecido com Balzac (também é escritor) vai passando, pouco ao pouco, do otimismo e romantismo ingênuo da juventude à decepção e à maturidade, pois a sociedade da época é um jogo de aparências que esmaga impiedosamente quem não joga segundo as regras.
Nesse processo de maturidade do protagonista, vamos conhecendo tantos detalhes da França naquela época que se piscar você perde o fio da meada. A história é perfeitamente bem construída e, apesar de ser “de época” não aborrece em nenhum momento, dando a impressão que deveria ser MAIS LONGA para realmente fazer jus ao material original.
O grande Gerard Depardieu faz uma participação mais que especial, e o ator protagonista é a cara de um ator brasileiro cujo nome não recordo.
Nota máxima, impecável.
Nascido em 4 de Julho
3.7 243 Assista AgoraAté hoje a grande atuação da carreira de Tom Cruise.
Nunca mais fez um papel denso assim.
O que me agrada em Oliver Stone é que o diretor tem uma visão não romantizada da história e da guerra que, em termos de cinema, ajuda a contar histórias mais realistas, profundas e interessantes que o gênero “guerra” permite.
Porque esse gênero está permeado por aquela visão do homem norte-americano como bastião civilizatório do mundo, que sacrifica tudo pela honra, pela família, pela nação, pela civilização ocidental, etc. Mas nós sabemos que os Estados Unidos são não o lado “certo” de qualquer guerra, mas o lado VENCEDOR, o lado que coloca a guerra numa perspectiva dicotômica onde eles, invariavelmente, representam o “bem”.
Nesse cenário, Stone conta a história “coming of age” de Ron Kovic, que começa a história como um patriótico jovem querendo lutar pelo seu país e termina melancolicamente, sozinho, preso a uma cadeira de rodas e rotulado como agitador.
O filme passa de um clima do mais completo ufanismo para o mais desolador abandono no final, quando o protagonista volta para casa, mutilado, e não consegue se readequar a uma vida que nunca efetivamente viveu.
É aí que a sensibilidade de Stone acerca das mazelas da guerra vem à tona. Ele sabe que existem DUAS guerras: a que imaginamos na nossa cabeça, como jovens entusiasmados, e a que efetivamente lutamos, suja, sangrenta, um salve-se quem puder glamourizado por um hino nacional aqui, um hasteamento da bandeira acolá.
Kovic experimenta os dois lados com igual intensidade. Como jovem soldado, ele é incentivado por todos a ir à guerra e lutar pelo país. Como veterano aleijado, ele é recebido como alguém que não deve nunca se lamentar por ter apenas cumprido com sua obrigação. Ocorre que o cara nunca efetivamente VIVEU. Ele tinha toda a vida pela frente antes da guerra, agora se lamenta porque nem seu PÊNIS funciona mais (=não pode se realizar plenamente como homem).
Assim o “protesto” de Stone se cristaliza (e este é um exemplo perfeito de filme ANTIBÉLICO) e somos forçados a lidar com a contestação que um soldado é um INSTRUMENTO útil para a realização de um fim, e tanto faz se ele volta vivo, são e saudável, pois se morrer também terá cumprido sua função. Isso leva a uma reconsideração completa do que o povo norte-americano REALMENTE considera como correto, digno, decente, etc. Você sai do ufanismo mais completo para uma quase certeza de que, na sociedade norte-americana, você não é mais que um objeto, como as coisas que você compra.
O filme é bom para ser assistido do início ao fim como um legítimo “filme de protesto” que tem algo a dizer, e diz eloquentemente!
O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel
4.4 1,9K Assista AgoraIsto aqui é uma verdadeira AULA de como se faz uma adaptação de uma grande obra literária para o cinema. Acho que só a adaptação francesa d'Os Miseráveis (com Gerard Depardieu e John Malkovich) consegue chegar perto em riqueza e perfeição.
Até porque, nos dois casos, a película, para além de servir como entretenimiento por si só, serve como INTRODUÇÃO à obra do autor (Tolkien ou Víctor Hugo), o que já é uma contribuição ao incentivo da descoberta da literatura pelo público do cinema.
Como Peter Jackson conseguiu essa proeza? TRABALHANDO. Simplesmente isso. Ele sabia que os fãs de Tolkien esperavam há décadas por uma versão cinematográfica do Senhor dos Anéis. E sabia que seria necessário um filme ENORME pra dar conta da empreitada. Então decidiu dedicar alguns ANOS de sua vida à tarefa, que poderia se mostrar inglória. Deu resultado, o público reconheceu o esmero do diretor e de toda equipe técnica, e a trilogia segue sendo a mais perfeita da história, catapultando sozinha o nome de Jackson para o hall dos grandes do cinema.
Qual o segredo para fazer com que uma história, seja qual o meio em que seja contada, tenha o mesmo valor na época do lançamento, anos ou décadas à frente. Primeiro, é preciso que seja uma BOA história, com começo, meio e fim. Segundo, é preciso encontrar a forma certa de manter o público sentado na cadeira, lendo ou assistindo, através de ganchos que o façam querer continuar "viajando" na história. Terceiro, é preciso saber usar os recursos do meio escolhido com maestria.
Jackson soube fazer as três coisas perfeitamente, TRADUZINDO o universo tolkeniano com perfeição do papel à tela e mais, despertando toda uma geração a redescobrir o escritor, movida pela curiosidade de conhecer detalhes que fogem à atenção na tela.
Isso não foi uma tarefa fácil, é um contingente enorme de cenários, atores e figurantes, sendo que cada detalhe tinha que sair à perfeição ou nada feito, então da seleção de elenco ao figurino, da trilha sonora à maquiagem, o sujeito só aceitava a PERFEIÇÃO, e o resultado NÓS só desfrutamos parcialmente, porque Jackson mesmo é quem o desfrutou completamente, porque ao prazer estético de ASSISTIR ele juntou o prazer intelectual de CRIAR.
O fruto do árduo trabalho dele e sua equipe qual foi? Foi que ISTO AQUI é "O Senhor dos Anéis". Este aqui é Sauron, estes são os hobbits, estes são os orcs, este é Frodo, está é Galadriel, este é Gandalf. O filme conseguiu dar uma imagem definitiva a esses personagens e à Terra Média. Tanto que qualquer diretor que tentar refilmar essa trilogia terá muito trabalho em substituir os atores do clássico no imaginário popular.
O filme tem alguns detalhes que me chateiam e alguns que cansam um pouco, mas devido ao esmero técnico e em respeito ao enorme trabalho que deu criar essa história de forma tão impecável, dar menos que a nota máxima para ele me parece coisa de quem não sabe agradecer a um artista pela arte que ele humildemente nos oferece.
E Jackson, como todos os envolvidos no filme, é um artista, um artista como Tolkien, um criador que nos faz viajar com ele e lamentar muito quando a viagem termina.
O Preço do Amanhã
3.6 2,9K Assista AgoraO roteiro trabalha com uma ideia original, mas o desenvolvimento peca pelos problemas de sempre no gênero.
Gosto do Justin como cantor, então tendo a "passar pano" pra atuação dele naturalmente. Com certeza nada digno de Oscar, mas nada comprometedor. Cillian Murphy e Amanda Seyfried nos papéis "típicos" deles. Você olha pra cara dele e vê um vilão, você olha pra cara dela e vê uma mocinha rebelde.
Não espere um "Solaris" ou "Blade Runner 2049" da vida e irá se divertir!
Blonde
2.6 443 Assista AgoraLi TANTAS críticas a este filme que achei que vi a película errada!
Este filme é um candidato certo ao Oscar 2023! Junto com "Elvis". Montagem, trilha sonora, fotografia, ambientação, atuações, tudo muito bem feito. Reprodução das imagens icônicas de Marilyn Monroe beiram à perfeição (e superam "Elvis"). E Ana de Armas merece, no mínimo, uma indicação.
A crítica de o filme ser um "pornô" não tem fundamento. Há pouco sexo, nada realmente explícito, e ela aparece menos nua do que andam dizendo.
Se quiserem, é ideal assistir isso aqui como se faz com "Psicopata Americano". Uma sátira. Uma autocrítica.
Porque este filme toca FUNDO num problema que eu diria ser a quintessência, a definição mesmo do lado PODRE, debilóide, patético de Hollywood, do cinema, do "mundo dos famosos", etc. A fetichização que criamos em torno de figuras como Marilyn (e Elvis, e Rodolfo Valentino, e Angelina, e Tom Cruise, etc, etc, etc), transformando-as (em nossa cabeça) em algo que elas NÃO ERAM/SÃO para nosso deleite, para preenchimento de uma necessidade, de um vazio nosso, em detrimento de qualquer coisa de valor que tais pessoas possam efetivamente fazer/ter feito.
Em como enxergamos astros de cinema (e da música, e agora, da internet também) como BONECOS sem vontade que existem para saciar/realizar uma fetiche qualquer nosso- seja o de nos presentear com um ideal de beleza/sexualidade inatingível, seja o de nos fazer lembrar "ad eternum" de uns "bons e velhos tempos" que só existem na nossa cabeça. Quem cria a fantasia, Hollywood ou nós mesmos? Essa é a questão. Parece um típico caso de retroalimentação.
O público gosta de tomar parte na criação/glorificação de ídolos. Ele tem que aceitar sua responsabilidade pela queda e ruína desses ídolos também.
No caso em questão, Marilyn Monroe, o ícone, a atriz, a diva, a deusa, etc, está claro aqui, NUNCA EXISTIU. Sempre foi um PERSONAGEM, uma MARCA, algo criado para impulsionar uma indústria, para VENDER, para DAR LUCRO. Um PRODUTO enfim. Como Elvis (perguntem ao Coronel Parker) e tantos outros.
Para viver uma vida realmente humana, e realmente saudável, Norma Jeane nunca deveria ter colocado seus pés em Hollywood. Assim, claro, nunca teríamos Marilyn Monroe. Mas talvez ela tivesse uma vida minimamente normal. Porque o que ela teve não foi vida, na definição real dessa palavra. Então, quanto você (sim, VOCÊ) critica a exposição exagerada de Marilyn, você deve fazer uma autocrítica, porque você contribui para isso. Contribui quando transforma um PERSONAGEM de cinema em algo real, em algo tangível, quando você se ilude imaginando que um ser humano DE CARNE E OSSO tem a obrigação de ser "linda e gostosa" 24 horas por dia, quando sonha e se ilude com um "glamour" que desaparece diante de uma caixa de remédios para dormir. Você (sim, VOCÊ, o fã, o endeusador de Marilyn) é parcialmente responsável pelo fim trágico dela também.
A imagem que a indústria de Hollywood VENDE de um artista é totalmente falsa e fabricada para qualquer um com um par de olhos funcionais na cara. Até aí tudo certo. No caso de Marilyn, ela não foi a primeira nem a última, mas certamente se transformou NO símbolo sexual de Hollywood por excelência, a personificação eterna da loira "fácil" e, digamos, pouco inteligente. Alguém dado ao público (masculino) para que ele sonhasse e a devorasse com os olhos, incapaz de ver nela qualquer mínimo grau de profundidade. Em suma, "alguém que eu gostaria de levar pra cama". Essa imagem foi criada com a ajuda da própria Norma Jeane ou ela foi levada ingenuamente a aceitá-la? Pouco importa, o fato é que não se livraria mais dela, e SABIA que, quando envelhecesse, seria deixada de lado pela indústria e trocada, para falar de modo cru, por "carne fresca". Porque dela não se esperava mais nada além de ser "burra e gostosa", e como não era burra, e um dia deixaria de ser gostosa, o dilema era óbvio: HOLLYWOOD NÃO ERA PARA ELA!
Não dá para imaginar uma atriz como, digamos, Elizabeth Taylor ou Katherine Hepburn, embora também objetos de desejo, terminando de forma trágica como Marilyn Monroe. Essas duas, para além de terem o talento reconhecido cedo, sabiam "dobrar" a máquina de Hollywood e usá-la a seu favor. Eram divas, mas divas espertas, donas de seus narizes. Faltava a Norma Jeane exatamente o quê? Talento? Maturidade? Bons agentes? Um casamento sólido com um sujeito que lhe desse suporte? Não dá pra dizer ao certo, apenas o suicídio indica com certeza QUE FALTAVA ALGO.
Quando você se sentir incomodado (a) com a crueza desse filme, esqueça um pouco a magia e pense na podridão do cinema. Sim, tudo tem um lado podre, inclusive a "sétima arte". Pense nessa indústria de ILUSÃO que você alimenta. Pense nesses homens e mulheres vivendo vidas "de mentirinha", para as câmeras, às vezes depressivos, às vezes, depravados, às vezes enrustidos, mas sempre "encenando" uma felicidade perfeita aos olhos do público (e ganhando muito dinheiro em cima da ilusão que vendem). Pense nas pessoas DE CARNE E OSSO por trás dessa indústria, pessoas que adoecem, mental e fisicamente, como quaisquer outras, e que não poderão contar COM TUA AJUDA na hora em que o desespero falar mais alto. Pensando nisso, talvez você chegue à óbvia conclusão: "Marilyn Monroe" é uma ideia fixa dentro da tua cabeça, nada mais que isso. Nunca existiu de verdade, e a pessoa real, uma tal Norma Jeane, está morta, e bem morta, há 60 anos. Você nunca a conheceu e nunca a conhecerá. Tudo o que você tem dela são fantasias (às vezes a pessoa fica fantasiada totalmente nua), fantasias que te alimentam e te entusiasmam, mas que não tem mais realidade que o sorriso de felicidade eterno dela.
É com essa dura realidade que o filme trabalha, vemos uma pessoa reduzida à condição de "carne", mas é ISSO que o público pede, implora, quando idolatra as imagens que Hollywood vende, é esse objeto de desejo inatingível (para a maioria), que no final se reduz a quase uma prostituta de estrada, e termina quase como uma, da forma mais melancólica possível e totalmente sozinha, suicidando-se aos 36 anos sem ter vivido quase nada das fantasias e sonhos que uma turba de fãs alucinados insistem em projetar nela até hoje, mas só acontecem em suas cabeças febris, sonhos que ela nunca pôde viver porque estava ocupada fingindo felicidade para alimentar os TEUS.
Órfã 2: A Origem
2.7 773 Assista Agoraem tempo: se o filme fosse uma SEQUÊNCIA do original, mostrando que Esther já não consegue disfarçar muito bem a real idade dela, funcionaria muito melhor.
A Mulher Rei
4.1 486 Assista AgoraEste filme é tão importante, historicamente, como Pantera Negra.
Pena que não vai bater a bilheteria.
Porque este é o lado forte e empoderado do homem negro, ou melhor da MULHER negra que até hoje nunca foi devidamente mostrado no cinema.
A forma como a luta contra a escravidão poderia ter sido mais bem sucedida se a maioria preferisse A MORTE a correntes pega fundo quem tem alguma sensibilidade REAL. Os europeus nunca foram moralmente, intelectualmente ou fisicamente superiores aos africanos. Os donos da civilização foram apenas mais ESPERTOS.
É ficcional? É exagerado? Claro, bem-vindo à Hollywood. Mas se tu assistir como uma metáfora "blockbuster" da luta africana pela sobrevivência (luta muito mais aguerrida devido às condições peculiares da África), vai assistir com outros olhos.
Viola Davis, claro, TINHA que ser a protagonista, já que ela é A atriz negra da atualidade.
Independente dos argumentos de quem crítica, para mim isto aqui é a lacração QUE FUNCIONA.
Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto
3.7 331O filme tem uma pegada "tarantinesca" discreta (bom para quem não gosta dos exageros de Tarantino) e também parece ter sido feito nos anos 70 às vezes, com uma trilha sonora que remete a décadas passadas e um roteiro que não entrega "lições de moral", como se espera da Hollywood politicamente correta de hoje.
Na primeira vez que vi, achei fraco, confuso e arrastado. Na segunda percebi melhor que história o Lumet quis vender. Continua sendo arrastado em algumas partes, mas é uma história ORIGINAL, com alguns lances de roteiro que eu nunca tinha visto, tipo
filhos causando a morte da própria mãe por engano e o pai matando o próprio filho no final
Destaques para Seymour-Hoffman e Ethan Hawke, embora o personagem deste seja chorão demais. Michael Shannon também aparece numa participação muito pequena e Marisa Tomei é uma figurante quase, sem importância na história.
Se chegar na metade e enjoar recomendo pular algumas cenas e ASSISTIR ATÉ O FINAL. É a parte mais impactante do longa.
Órfã 2: A Origem
2.7 773 Assista AgoraIsabelle Fuhrman parecia uma jovem atriz muito promissora no primeiro filme. Não apenas convencia atuando, mas fazia com que você realmente sentisse medo da personagem.
Mas como acontece com muitos talentos mirins, parece que o talento dela não tem sido valorizado (só vi outros dois filmes com ela). Então ela se submete a voltar "às raízes" e encarar uma versão MAIS JOVEM de um personagem que fez... há 13 anos atrás.
O que prova para os pobres mortais que atores também se submetem às circunstâncias para sobreviver.
Não vou dar nota ao filme porque NÃO CONSEGUI TERMINAR. Isso é raro comigo, porque eu vou assistir filmes sabendo o que me espera, não vou assistir "bombas" voluntariamente. Não consegui terminar porque o filme me deixou DEPRIMIDO. Além do filtro e da montagem bizarra para a moça parecer criança, a história que você já sabe onde vai dar, me veio aquela sensação de como a indústria do entretenimento pode ser ridícula ao tentar repetir um sucesso de anos atrás literalmente chamando o público de IDIOTA.
Não, ela não convence em NENHUM momento, e por simpatizar com ela eu me recuso a terminar de ver isso. Parece uma tentativa desesperada de permanecer relevante, quando o talento dela lhe deveria angariar papéis muito melhores que esse.
Solaris
4.2 369 Assista AgoraEntre este, Metropolis e 2001: Uma Odisseia no Espaço, fica difícil escolher qual a MAIOR obra-prima da ficção científica no cinema.
Assistindo os três em sequência, você fica com a sensação que metade desse gênero está contido nesses três filmes. E todo o "resto" (com o devido respeito a Ridley Scott, Denis Villeneuve et alia) empalidece em comparação.
De fato "Solaris" não fica devendo nada às grandes obras da literatura russa em beleza e profundidade. E algumas partes acho que nem a mente privilegiada de um Tolstoy poderia conceber com igual intensidade. O filme assim prova que o cinema pode funcionar como uma ARTE com seus próprios méritos.
Para assistir num lugar calmo, tranquilo, para que o filme possa realmente ser apreciado como a obra-prima rara, única, que é.
Encurralados em Veneza
2.5 39Nota 2,5.
Destaques: o cenário (claro), o roteiro minimamente original para um slasher
Muito ruim: os "vilões" competem com os "heróis" para ver quem é mais irritante.
Abracadabra 2
3.3 349 Assista AgoraRecomendação de médico: para ver imediatamente depois de "Dahmer".
O Telefone Preto
3.5 1,0K Assista AgoraO filme parece um spin-off de Stranger Things, da primeira à última cena. Inclusive o protagonista lembra muito a "Onze" (Millie Bobby Brown).
Assim como, assistindo a Stranger Things, o nome de Stephen King deveria PELO MENOS ser creditado como o óbvio inspirador do roteiro, já que a história parece em tudo escrita por ele, em "O Telefone Preto" temos praticamente uma história kinguiana que King nunca escreveu. Descobri que o roteiro se baseia num conto dum FILHO de King. Aparentemente, o filho bebe da fonte do pai e não se preocupa em desenvolver um estilo próprio.
A coisa mais fácil do mundo vai ser você associar o psicopata deste filme ao palhaço do It, já que os "alvos" são os mesmos. Mas este aqui nem de longe chega perto daquele filme em termos de consistência e TER uma história para contar. Na verdade é uma daquelas películas que você se esquece de ter visto uns dias depois. E como se baseia num CONTO, não há muita história, efetivamente.
O que me deixou um pouco admirado é que o
psicopata parece ser do tipo que faz qualquer coisa sem nenhuma dificuldade, enfia um machado na cabeça do irmão sem sentir nenhum remorso e, no fim, acaba levando uma SURRA daquelas de um garoto! Todo o impacto que o "vilão" poderia causar se perde aí!
Falam do Ethan Hawke mas a verdade é que, de máscara, qualquer um poderia tranquilamente estar no lugar dele e você nem notaria.
Elvis
3.8 759Reassistindo este filme numa enorme tela de 50 polegadas, confirmei o que escrevi anteriormente: o filme é um ESPETÁCULO VISUAL IMPECÁVEL, mas peca por nos apresentar um retrato de Elvis, no mínimo, parcial.
Vou aproveitar para repostar aqui o comentário que eu fiz anteriormente onde expus em detalhes minha opinião sobre este filme, e apaguei por causa de IMBECIS que frequentam este site e não entendem que qualquer é livre aqui para escrever O QUE e QUANTO quiser. Tens preguiça de ler comentários longos? Então faz o grande favor de passar pro próximo E NÃO ENCHER O SACO!
“A tua reação diante deste filme vai variar conforme sejas ou não fã de Elvis Presley.
Caso sejas fã, vais (provavelmente) ficar tão extasiado pela possibilidade de ver teu ídolo finalmente encarnado numa película decente que já terás, de antemão, “aprovado” o filme e dado um Oscar para Austin Butler, outro para Tom Hanks, dois para Baz Luhrmann e um pra trilha sonora do filme.
Caso não sejas, e, como eu, conheças apenas o MITO Elvis, entrevisto apenas através da persona inimitável e dos muitos hits que se tornaram parte do repertório universal da música pop, como “It’s Now or Never”, “All Shook Up”, “Sylvia” (músicas ausentes no filme, diga-se), “Jailhouse Rock”, “Hounddog”, “Unchained Melody”, etc, etc, então, nessa segunda hipótese, tu terás mais discernimento para julgar os méritos e deméritos do filme, julgá-lo “comme il faut”, enfim: como apenas mais um filme.
Baz Luhrmann é um diretor facilmente reconhecível por seu estilo propositalmente exagerado e maior que a vida. Desde Romeu + Julieta (1996) passando por Moulin Rouge (2001) e O Grande Gatsby (2014), o diretor se comprometeu a entregar ESPETÁCULOS VISUAIS que podem ou não vir acompanhados de uma grande história, mas que, mesmo somente pelo apuro técnico na produção, já não pode ser tratado como um filmezinho qualquer de início. Esse espetáculo visual pode ou não satisfazer os mais criteriosos (eu confesso que até hoje “peno” pra entender Romeu + Julieta), que podem, ao invés de se inebriar pela variegada oferta de luzes e cores, reclamar da absoluta vacuidade do roteiro, que às vezes nada mais faz que oferecer “migalhas “ de uma história que parece estar sendo contada em outro lugar.
O Filmow já nos alerta de cara que a película em questão é sobre o DONO de Elvis Presley, o “coroner” Parker (nosso querido Tom Hanks) e não sobre o “Rei do Rock” em si, embora ele seja, obviamente, o que a absoluta maioria quer ver aqui. Eu não sei se contar a história do ponto de vista do “coroner” prejudica ou não a experiência audiovisual de quem assiste. Evidentemente, o sujeito tinha na cabeça que ele FEZ Elvis, que Elvis NÃO EXISTIRIA sem ele. E a história vai tentar nos convencer mais ou menos disso. Já, se fosse Elvis o narrador aqui, NÃO TERÍAMOS UMA HISTÓRIA MENOS ENVIESADA. Porque mais do que o talento de Elvis, o seu EGO era descomunal. Ele realmente se julgava “O Rei do Rock”, embora o gênero tenha se saído muito bem sem ele. Já que é assim, e que dificilmente teremos essa outra versão para compararmos, fiquemos com o que nos foi oferecido, a história do maior mito da cultura pop no século XX pela ótica de seu “dono”.
Essa história entretém? Tem qualidade? É oscarizável (sic) como o superestimado “Bohemian Rhapsody”?
Que entretém isso não há dúvida. Sobre a qualidade técnica, acabei de falar que o diretor costuma oferecer ESPETÁCULOS VISUAIS. Quanto ao Oscar, acho que só Tom Hanks aqui é um candidato óbvio e certo.
Austin Butler, um novato de quem nunca tinha ouvido falar, não se parece, a princípio, com Presley. Mas até aí, não há um problema grande, porque Val Kilmer também não se parecia com Jim Morrinson, nem Joaquin Phoenix com Johnny Cash ou Rami Malek com Freddy Mercury. E o que dizer de Kurt Russell (?) como Elvis? Enfim, Butler parece ter visto neste papel a sua chance de estourar e se esforçou o máximo que podia para incorporar os trejeitos do cantor. Conseguiu? Eu diria que ele merece nota DEZ pelo esforço e nota OITO pelo desempenho. Não, em NENHUM momento do filme podemos dizer “este É Elvis Presley “. No máximo podemos dizer “eis um cara que lembra muito Elvis Presley“. O cara evidentemente começou a pouco tempo e recebeu a incumbência de encarnar um mito do século passado. Nesse contexto, se saiu bem. Mas no geral, na interpretação, na real encarnação do ser humano Elvis? Sem chance.
Talvez seja culpa do estilo Luhrmann ou da perspectiva que se conta a história, mas ESTE Elvis não te faz entrar na história dele, não cria contato contigo em nenhum momento. A falta de experiência dramática de Butler fica evidente quando se percebe o esforço que ele faz para parecer emocionado em algumas cenas e o quanto, simplesmente, não convence quando o personagem está passando por momentos vitais (a morte da mãe, seu retorno aos palcos, a separação de Priscila). Em uma das últimas cenas do filme é mencionado o quanto Elvis estava receoso de aparecer em público devido ao seu ganho de peso. Porém, isso não se nota no físico de Butler, que continua com a mesmíssima aparência, aos 40, de quando o personagem tinha 20 e estava no auge da carreira e fisicamente.
Como eu disse, a atuação do ator é boa considerando as circunstâncias e o peso do personagem, mas ele DIFICILMENTE ganhará o Oscar por este filme. Tom Hanks é uma aposta muito mais certeira. Se o filme fosse narrado pelo próprio Elvis, o resultado tampouco seria outro. Falta a um ator novato experiência para compor um personagem passando por diferentes fases da vida. Pois, na sua cabeça, imitar os trejeitos de Elvis no palco já é 90% do trabalho. NÃO É. Elvis, o Elvis do palco, o “The Pelvis”, era ELE MESMO UM PERSONAGEM! Um personagem, conforme se conta neste filme, criado pelo “coroner” Parker. Então, Butler é UM ATOR IMITANDO OUTRO ATOR. Sua performance não vai além da superfície. Boa sorte para quem, usando este filme, queira criar uma imagem verossímil do ser humano Elvis Aaron Presley. Não consegue.
Por exemplo, o filme dá a entender que havia duas mulheres fundamentais na vida de Elvis, sua mãe e sua esposa Priscila. Da mãe conseguimos até ter uma ideia mais ou menos clara de quem era e de como amava o filho. De Priscila não conseguimos saber ou entender quase nada. Seja porque Parker não gostava dela, seja porque não a entendia (ciúmes? inveja?), o fato é que mal vemos Priscila neste filme, não entendemos como Elvis pôde ter se apaixonado tão perdidamente por ela e tampouco entendemos o real motivo da separação dos dois. A atuação da atriz que interpreta Priscila também não ajuda muito. Os dois mal interagem, mas o pouco em que aparecem juntos não há química. Sabemos que Priscila Presley, a exemplo de Yoko Ono e Courtney Love, é uma das grandes "viúvas negras" do rock, até hoje odiada por muitos fãs por supostamente ser responsável pela decadência do astro e por se aproveitar, no post mortem, de seu legado. Porém, por ESTE filme não conseguiríamos jamais ter uma ideia sobre isso. Ainda será necessário um novo longa pra trabalhar com essa complexa história de amor Elvis e Priscila.
Luhrmann poderia ter aproveitado para incluir no filme números musicais completos. O filme não pode ser efetivamente classificado como musical por isso. Inúmeras músicas de Elvis tocam durante o filme, mas sempre de modo quebrado, desritmado, e às vezes parece que sequer se deram ao trabalho de escolher a melhor gravação daquela música (por exemplo: "Jailhouse Rock"). Evidentemente, a voz que aparece no filme é a de Elvis, não de Butler, e temos que nos perguntar porque cargas d'água, com um cantor de repertório tão famoso e vasto (quem não é fã se surpreende no filme com quantas músicas de Elvis estava familiarizado sem saber), eles escolhem colocar músicas DE OUTROS CANTORES na trilha sonora!!! Doja Cat???? Por que não trabalhar só com o repertório de Elvis, ou, no máximo, com o de cantores que o influenciaram? Eles perderam a oportunidade de fazer uma versão atualizada daquele clipe absolutamente ICÔNICO de "Jailhouse Rock" onde Elvis, de uniforme de presidiário, aparece dançando numa prisão. Aquela é seguramente uma das imagens mais emblemáticas, não apenas da carreira do cantor, mas da cultura pop como um todo. Fora isso músicas como "Hounddog" e "Can't Help Falling in Love" que, se apresentadas na íntegra, poderiam representar bem facetas do cantor (o rebelde, o apaixonado) são apresentadas cortadas e fora de contexto.
Contexto é algo aliás que não temos aqui para nada que Elvis tenha feito na vida. Todas as músicas que ele gravou, todos os discos que lançou e até sua carreira cinematográfica (feita inteiramente de filmes "água com açúcar" e sem profundidade, como ele mesmo comenta no filme), tudo é apresentado de relance, sem que possamos entender, sequer, o que uma determinada canção significava pra ele, o que um disco representava em sua carreira (em termos de evolução musical), o que a "invasão" de Hollywood mudou em sua vida.
Ao contrário, num momento Elvis está na crista da onda, "requebrando" geral (e atiçando a ira da "tradicional família norte-americana" com sua indecência- que tempos, meu Deus! que tempos!), no outro está sendo arrastado, a contra gosto, para o exército, num momento está no auge, no outro, sabe-se lá por que, está por baixo, num momento faz um show homericamente histórico, para 1,5 bilhão de pessoas no mundo, no outro está a um passo da falência. Tudo quase sem contexto, e, como eu disse, falta densidade à interpretação de Butler para que possamos saber como o astro lidava, internamente, com tais (e tantas) mudanças.
Podemos nos perguntar, temos o direito como telespectadores, se o diretor não poderia ter optado por uma abordagem levemente diferente que, mesmo levando em consideração a perspectiva "parker-ana", lograsse mostrar o "outro lado", a perspectiva do "homem por trás do mito", o impacto que Elvis realmente teve na cultura norte-americana e mundial, o que a popularização que ele deu à música negra ajudou na lutra contra a segregação racial, como ele ajudou a quebrar estereótipos artistíticos e sexuais (as garotas começam na história sem entender o que aquele sujeito pensa estar fazendo em cima de um palco e terminam, como sabemos, quase tendo um orgasmo coletivo em público). Qual seu real LEGADO CULTURAL E ARTÍSTICO, enfim.
Porque, pensemos, Elvis é um dos maiores, não, é O MAIOR mito da cultura pop de todos os tempos. Comparemos o sujeito com outros mitos, tipo, com Marilyn Monroe. Qual a diferença? Exceto para os fãs apaixonados da loura mais famosa da história, a diferença salta aos olhos. Fora sua beleza acachapante, Marilyn tinha muito pouco a oferecer. Mas muito pouco MESMO. Qualquer um de seus papéis poderia ser feito, tranquilamente, por qualquer outra atriz. Ela se tornou um mito sexual, ok, mas por trás do mito, por trás da "fachada" e da saia esvoaçante, não havia muita coisa. Uma atriz mediana, no máximo. Já Elvis é OUTRO tipo de mito, porque o TALENTO estava ali, desde o início, sua voz e seu carisma não eram coisas que alguém como Parker poderia inventar (ele inventou o PERSONAGEM Elvis, como eu disse), ele nasceu com eles, o sujeito simplesmente poderia cantar QUALQUER coisa, a música mais besta do mundo, e fazê-la soar bem! A diferença entre um Elvis e uma Marilyn ou um James Dean consiste nisso, o de haver ALGO por trás do ídolo.
No filme esse ALGO é mais esboçado, é mais INTUÍDO por nós do que efetivamente mostrado. De novo, é um terceiro "falando" sobre Elvis. Lidamos aqui, novamente, com um problema já verificado em outras biopics, como por exemplo, Closer (sobre o Ian Curtis do Joy Division): um grande artista aparecendo sobre uma luz insuficiente para que possamos discernir seus reais contornos.
No geral, este é um filme MUITO BOM, um espetáculo visual como poucos e um filme que se pode assistir diversas vezes porque não há nada, minimamente, que o torne chato ou cansativo de assistir. Como cinebiografia de Elvis é uma negação, e como biografia de Parker também parece muito enviesada. Digamos, e julgo esse um jeito decente de avaliar esse filme, as DUAS histórias poderiam ser contadas de forma melhor, de outra forma, talvez um pouco mais de HISTÓRIA e menos cores e luzes e sons. A diferença é que esta é a ÚNICA forma de tornar a história do "coroner" assistível, já Elvis, evidentemente, parece ser capaz de render histórias muito mais densas e completas.
No meu comentário sobre o filme Batman (2022), eu disse que aquele é um bom filme, mas como o personagem Batman é o MAIOR e o MELHOR das histórias em quadrinhos, ele não merece apenas um "bom filme", mas o MELHOR filme, com o melhor elenco e o melhor diretor possíveis. Raciocío semelhante pode ser usado em relação a Elvis. Mesmo eu que não sou fã reconheço o quão emblemática é a figura, que influenciou todos os artistas de rock que vieram depois deles, desde os Beatles até Elton John, passando pelo nosso Raul Seixas. Para além da mera influência musical, Elvis representa, como ninguém, um símbolo da CULTURA DA IMAGEM. O sujeito era, no palco, como eu disse, um personagem. Nada "daquilo" tinha substância, nada era real. Exceto, claro, seu talento vocal inquestionável e seu carisma. Mas com sua imagem, seus figurinos, seu corte de cabelo, e seus "requebros", é claro, Elvis inaugurou todo um "tipo" de artista que nunca mais sairia do imaginário popular, o artista "bigger than life", para usar uma expressão que ele mesmo usaria. Elton John, David Bowie, Freddy Mercury et alia tinham que sair de algum lugar, né? Até que um sujeito conseguisse enfrentar os tabus da "tradicional família norte-americana" e subir num palco exalando sexualidade, demorou muito, mas ALGUÉM tinha que fazê-lo, certo? Evidentemente (e o filme trata disso) ele não veio "do nada", e os próprios requebrados já estavam nos cantores negros que o inspiraram. MAS ele espalhou a imagem do showman que é, em si mesmo, um evento de tal forma que todos os que vieram antes dele JUNTOS não poderiam se comparar.
Assistindo este filme, o telespectador comum (não o fã, que, claro, conhece a história do cara de cabo a rabo e saberá dizer cada detalhe do filme que corresponda ou não com a realidade) terá a chance de se perguntar, até que ponto o insuportável "coroner" Parker é responsável por ter grudado essa imagem na nossa cabeça por toda a eternidade. E, o sendo, será convidado a dizer se ele merece mesmo ser julgado tão rispidamente quanto o filme dá a entender (um tirano que se julgava, literalmente, DONO de Elvis). A atuação impecável do grande Tom Hanks faz com que lá no fundo simpatizemos com ele. E (de novo) a atuação limitada de Austin Butler nos faz questionar se Elvis era mais do que o boneco manipulável que Parker imaginava. Daí minhas reservas quanto à atuação dele. Com certeza, para um iniciante, está ótimo, mas temos que nos perguntar se o MITO foi adequadamente representado pelo aprendiz de ator ou se ele, meramente, nos deixou entrever uma grandeza que seria mais adequadamente retratada por um ator mais experiente e capaz de maior densidade.
No geral, o saldo é positivo, o filme é um espetáculo visual que certamente ganhará vários Oscars nas categorias técnicas, muito merecidamente um para Tom Hanks e dificilmente um para Butler (a não ser que tenhamos uma safra particularmente medíocre de filmes e atuações em 2022), mas só se o cara for INDICADO para ele já será uma vitória.
Resta saber se uma versão ESTENDIDA deste filme conterá números músicais completos e algum background melhor para a criação das músicas mais emblemáticas de Elvis.
Nota 8.
O Segredo de Davi
3.0 163 Assista AgoraEu acabei de rasgar elogios para o "Psicose" por causa, entre outras coisas, do psicopata plácido Norman Bates, e eis aqui um Norman Bates tupiniquim, um moleque com pinta de nerd que, como o título entrega, esconde uma personalidade sombria.
O elenco não muito "global" entrega de cara que o filme TENTA se desprender da fórmula porno-comédia do cinema nacional. Apesar do Prates ser o típico ator de novelas, ele se esforça para convencer no papel. Mas particularmente eu acho que Bruno Gagliasso se sairia melhor (apesar da idade).
Não dá para dizer que o filme seja um lixo completo porque o roteiro segue direções não óbvias. É óbvio que o diretor quis trabalhar com o tema da psicopatia numa ótica própria, embora algumas atitudes do protagonista te deixem com aquela cara de "Como?" algumas vezes.
Vale uma conferida sem grandes expectativas de encontrar o "Psicose" brasileiro.
As Verdades
2.7 19 Assista AgoraLázaro Ramos num papel diferente do habitual, mostrando o bom ator que é, e a lindíssima Bianca Bin num papel que lhe cai como uma luva fazem com que este aqui valha uma conferida.
O nosso nível de cinema é tão baixo que qualquer coisa que não tenha piadas e palavrões aleatórios a cada minuto já faz a diferença.
Psicose
4.4 2,5K Assista AgoraJamie Lee Curtis, a musa-mor do gênero slasher, era só uma criança de 02 anos quando sua mãe, Janet Leigh, inaugurou o reino das “scream queens” no cinema. Embora grite muito menos (felizmente) que suas sucessoras, Janet conseguiu o que nenhuma delas conseguiu: imortalizou-se na história do cinema graças a uma única e icônica cena.
Porque Marion (Leigh) não é uma “final girl” aqui, o filme é todo de Anthony Perkins (Norman Bates). Não é o primeiro psicopata da história do cinema, mas é certamente um personagem icônico, inaugurando uma série de vilões de terror que se tornariam mais amados que os heróis que os combateriam (inutilmente). De certa forma, embora essa dificilmente fosse a intenção de Hitchcock, o fato de Bates sobreviver e terminar o filme sorrindo antevê a sina do gênero “slasher”: o mal, personificado na figura do antagonista, nunca morre. Sempre volta a aterrorizar porque intimamente suas razões não são as nossas, e em seu cérebro confuso o que faz obedece a uma lógica que o senso comum não logra compreender.
Tal como foi repetido posteriormente (sem intenção?) em certa franquia de terror, o assassino tem uma obsessão com a figura materna que o leva a demonstrar o comportamento mais anti-maternal possível em relação a todos os outros. Longe de mim querer comparar Rob Zombie com o grande Hitchcock, mas em Halloween 02 (2009), Michael Myers tem visões de sua mãe que, de certa forma, emulam Norman Bates, embora as motivações de ambos sejam diferentes. A mãe aparece como uma figura intocada pela corrupção que permeia todo o resto, como o único ser digno de permanecer vivo, e Zombie faz questão de deixar claro que ela era a única criatura viva que Michael Myers jamais mataria. Dentro da narrativa esquizofrênica que estabeleceu para a franquia “Halloween”, a própria perseguição implacável à irmã Laurie Strode, a qual foi “adotada” por outra família após o suicídio da mãe, ganharia uma nova perspectiva. E o suicídio da mãe seria o estopim para Myers liberar as poucas restrições mentais que ainda tinha.
Mas deixemos de lado essa comparação, que envergonharia Hitchcock, já que o “Halloween” de Zombie não merece sequer ser citado conjuntamente com Psicose.
O fato é que temos aqui uma inauguração muito digna para um subgênero do terror que se tornaria incrivelmente repetitivo e enfadonho nas décadas seguintes. Imaginem se tivéssemos mais Hitchcocks e menos Wes Andersons nesse estilo de filmes. Teríamos muito mais filmes interessantes ao invés da parte 1 até 20 da mesma história. E de fato, a história de Norman Bates aparece como um bom estopim para serem exploradas no cinema todas as possibilidades dessa confusa engrenagem chamada psicopatia. O sujeito é obcecado com a mãe de tal forma que se recusa a existir sem ser dominado pela figura dela. Chega ao ponto de imitar sua voz perfeitamente, e a “dialogar” consigo mesmo as conversas que teria com a genitora. Não é difícil imaginar que não foi apenas a cena do chuveiro que “chocou” o público 60 anos atrás. A figura absolutamente frágil e anódina de Bates contrasta com um assassino cruel “guardado” dentro dele. Ninguém, absolutamente, esperaria ser assassinado por ele. Antes E hoje. Daí termos essa desconcertante revelação destruindo o paradigma do vilão naturalmente repulsivo. Bates te desconcerta e te desarma à primeira vista. Ele é o perfeito psicopata. Já na “evolução” do slasher tivemos o que? Assassinos que só faltam carregar uma placa com os dizeres “eu sou um assassino”.
Olha, eu gostaria de imaginar a sensação de assistir a esse filme em 1960, num mundo muito, digamos, despreparado para lidar com a implacável constatação da selvageria que todo homem teima em esconder (ainda bem). Mas o filme causa impacto ainda hoje, e muito. As cenas no “Bates Motel” são, todas, impecáveis (à exceção da desajeitada “revelação” final) e a vista noturna do lugar é ainda genuinamente assustadora. Mas o realmente assustador é o quanto de Norman Bates existem por aí, o que, na era da informação instantânea, se torna cada dia mais patente. Sujeitos plácidos à toda prova que, “um belo dia”, aparecem com uma faca nas tuas costas- ou com uma metralhadora na escola do teu filho.
Como entretenimento, como ARTE, o filme merece toda a reputação que tem. Como retrato de uma parte da realidade humana da qual gostaríamos de fugir, é ainda mais impactante.
Sem dúvida o maior dos clássicos do terror e um dos maiores do grande mestre Hitchcock.
Os Pássaros
3.9 1,1KExiste aqui uma atmosfera que me remeteu a Poe, pois eu acho que apenas o grande escritor norte-americano conseguia criar, com a necessária sutileza que sua época exigia, esses cenários de “horror” onde o mais inusitado acontece sem que o sujeito saiba o que está acontecendo plenamente, tendo somente que deixar-se dominar pela certeza de sua impotência.
Para emular um gênio (Poe), precisamos de outro (Hitchcock), e de fato o velho Hitch foi um dos poucos que realmente aprenderam e dominaram à perfeição a arte de contar histórias interessantes numa tela. Se Poe dispunha de todo o enorme vocabulário da língua inglesa para prender e assustar seus leitores, Hitchcock dispõe de um meio igualmente poderoso: a IMAGEM. Sua câmera passeia pelo cenário e te imerge de tal forma dentro dele que você prescinde de um grande vocabulário para sentir as mesmas coisas que alguém lendo Poe numa sombria noite gelada lá dos idos de 1850 sentiria, e com muito mais intensidade. Pois a literatura te permite o jogo da imaginação de forma mais ampla, enquanto o cinema já te oferece um quadro muito mais amplo e bem delineado do “horror”.
Eis aqui o primeiro (e único?) momento da história do cinema em que pássaros são os vilões da vez. Como ninguém pensou nisso antes? Essas criaturas PODEM ser assustadoras. Especialmente quando se juntam em grandes revoadas. E o fato de não esperarmos normalmente um comportamento agressivo por parte de pássaros, já que eles usualmente são vistos como símbolo da harmonia da natureza, torna a possibilidade de uma história de ataque de aves mais perturbadora.
E de fato o velho Hitch consegue nos perturbar sem esforço aqui. A história começa num tom tipicamente hitchcockiano, dando a entender que se trata de uma simples comédia romântica ou algo do tipo, e vai num crescendo de tensão que os mais afoitos por “sustos” imediatos vão chamar de convite ao tédio. Quando chegamos ao “ataque final”, já estamos tão enojados dos nossos amigos penudos que quase esquecemos que é só uma história, tal o poder que o grande diretor tem de nos “vender” sua ideia. A cena final, especialmente o corte final, é uma coisa tão brilhantemente concebida e preparada que parece um quadro adaptado ao cinema. Como se uma história de Poe fosse resumida em um quadro por algum pintor expressionista.
Assistido em 2022, 60 anos depois do lançamento, o filme não perde quase nada de seu impacto. Exceto pelas cenas que denunciam as limitações da época (o sangue falso, etc), nada pode ser tirado sem que se perca um lance importante da história. Como uma legítima obra-prima, o filme é irretocável, e de se lamentar que mais diretores do gênero terror não aproveitem para emular o exemplo hitchcockiano, preocupando-se, antes de mais nada, em CONTAR UMA HISTÓRIA, e, depois, se necessário, em “chocar” o telespectador com sustos, berros e o sangue de sempre. Mais ou menos a mesma coisa com a literatura de horror que, no século XIX, tinha que se ater a limites que a tornavam tão esteticamente apreciável quanto genuinamente perturbadora.
De certa forma temos que nos dar por felizes que os dois gênios (Poe e Hitchcock) viveram em suas respectivas épocas.
Os Últimos na Terra
2.7 192O filme tem uma premissa já explorada em outras produções, e realmente não inova o conceito nem traz nenhum momento acachapante.
Apesar de ser ficção científica, às vezes tem-se a impressão de se estar assistindo a uma comédia romântica, especialmente quando o Chris Pine aparece.
Margot Robbie é linda e carismática (alguém ainda não sabia disso?), e sua atuação é de longe a melhor coisa aqui. O filme mais parece um episódio ou spin-off de alguma série. O final te deixa frustrado por uma história que sequer começou