O filme aborda simbolicamente certas questões que talvez nos fogem aos olhos, como; tradição, cultura, ganância, pureza, crença, ecologia, progresso, harmonia, etc.
O filme é bem explícito ao dar o significado inicial da jornada, ou seja, é uma busca por riquezas em terras onde habita um povo que foi protegido, devido à geografia, ao "mau contato" com a civilização, e têm crenças e modos de vida peculiares. É como se fosse um paraíso intocado, onde reina a inocência e a harmonia, em contraponto aos explorados que buscam apenas extrair de lá a maior quantidade de riquezas materiais possíveis, sem se importarem com o povo.
Yun Nan, como dito no filme, é de onde pensam derivar a cultura e o povo japonês, portanto é um local ancestral quase que inatingível na China, e devemos pensar como os "orientais" pensam, há um profundo respeito pelos antepassados, devê-se respeitá-los, e os exploradores buscam apenas a ganância, e se sentem atingidos em certa altura ao que lhes acontece, a jornada fora como uma busca espiritual, dera a eles um significado de existência, e se veem confrontados acerca disto, pois a maior riqueza que encontraram não fora a que buscavam. É como se Yun Nan fosse aquele Japão antigo e ancestral que se perdeu frente à ocidentalização, que se manteve intacto frente à toda loucura que adentrou no Japão e isto, talvez, desde antes mesmo dessa ocidentalização extrema, já no período do Japão Imperial na Segunda Guerra.
O tal progresso é posto sobre uma análise, se de fato é válido na medida em que quando mais se avança mais se perde toda esta harmonia e toda a exuberância natural de um lugar intocado, ou se pode ser controlado, e assim trazer coisas boas às populações locais, ou aos povos que vivem em plena harmonia.
É colocado uma oposição; se é válida a exploração por ganância, se crer na ambição é de fato racional tão quanto ao fato do povo do vilarejo crer nas suas histórias, lendas, superstições,etc. Alfim, descobrem que o homem que veio dos céus também era um explorador, alguém que não se importava tanto assim com aquele local. Porém no final a crença do povo no poder de voar fora verdadeira. Eles provaram que poderiam fazer aquilo que sempre acreditavam.
Um filme sublime, que parece ser superficial em alguns momentos, mas é bem singelo, e conta uma grande história não de um povo, mas do próprio mundo.
Experiência única vinda da genialidade de um diretor!
Temos que assistir ao filme tendo em mente que apenas 14 anos separavam-nos da SGM, e que um pouco antes Hiroshima era cinza e pó.
Alain Resnais tomou uma atitude monumental ao criar em vez de um documentário um romance que na verdade não é apenas uma história sobre dois apaixonados, que na impossibilidade de se amarem se veem impedidos pelo condicionamento que os encerra em seus contextos sociais, não, não é só isso, há muito mais profundidade, há várias camadas.
Após a SGM os artistas se puseram num dilema, de como era possível colocar a arte para contar toda a crueldade cometida por humanos contra outros humanos.
O que requeria à humanidade não era apenas rememorar o passado, este muitas vezes contado da perspectiva dos ganhadores, mas era preciso recuperá-lo através dos destroços, do que restou, através daqueles que foram vencidos, dos que foram dizimados, dos que sofreram, e de todos os escombros recriar tais eventos,e a partir daí pôr um olhar além daquilo que nos oferecem como uma história oficial.
Ambos protagonistas não viram as fatalidades dos quais dizem saber tudo, e são sempre confrontados um pelo outro, pois não viram nada, mas apenas souberam dos relatos, daquilo que ficou, daquilo que permaneceu como escombro. E disso tiram suas experiências, seus conhecimentos, é a memória da história que deve ser lembrada. Não apenas e somente de uma perspectiva, mas pelo que restou, pelos dramas sofridos, pelos amores perdidos, pelas famílias perdidas, pelos sentimentos etc. É disso que se trata esta obra. As recordações quando rememoradas são também sofrimento. A atriz diz que participa sobre um filme de paz, mas seu passado não demonstra isso, já que sua experiência (como ela mesma diz, era uma "má pessoa"), sua vida era o oposto daquilo que podemos esperar de uma pessoa para um papel num filme destes, e em partes isso se deveu apenas por ter amado alguém, não alguém errado, mas por ter amado alguém temporalmente e espacialmente errado para aquele contexto.
Assim, talvez, seja um paralelo sobre a justificativa de soltar duas bombas atômicas sobre duas cidades (que em sua grande parte era composto de civis, mulheres, crianças e idosos); era pela paz, pelo fim da guerra!
Hiroshima e Nagasaki mostraram a hipocrisia da história que é contada pelos vencedores. Pois cabia aos "heróis" ganhadores da guerra não cometerem um ato bárbaro à altura do que fora cometido pelos nazistas, fascistas e pelo Japão na sua também ânsia fascistóide de superioridade imperial. A condescendência dos vencedores é exposta como uma marca trágica de quando se termina uma guerra, não para evitar conflitos, mas para mostrar uma superioridade militar e tecnológica, o mesmo que fora o princípio do conflito, ou como bem se expõe no filme, uma raça escravizando a outra, uma nação escravizando a outra, uma classe escravizando a outra. A guerra terminou, mas a tragédia não!
As paixões criam as guerras, os remorsos, as injustiças. Pois se se ama àquilo ou àquele que destrói, e como seres semelhantes, se odeia a si mesmo. Pois quando se destrói um ente da mesma humanidade se destrói a si mesmo.
Isto é perceptível em como a história de Hiroshima é cercada pela arrogância humana e pelo desprezo pelo outro, quem pilotou o avião que lançou a primeira bomba nuclear da história da humanidade foi Paul Tibbets, lançou-a sobre Hiroshima, a bomba tinha um nome simpático - Little Boy - ou "garotinho", o avião que Paul pilotou continha uma singela homenagem à sua mãe, tendo uma frase grafada em sua lataria "Enola Gay" ou "Enola feliz"... o ato de ceifar vidas não poderia ser uma homenagem e muito menos uma arrogante felicidade para ninguém.
É preciso lembrar do que aconteceu, é preciso lembrar daquilo que não pode ser esquecido. É preciso experienciar àquilo que se passou, é preciso mergulhar nos destroços, nos sentimentos, na dor do que fora cometido para que assim possamos evitar que de novo a história se repita.
Este é o tipo de filme que o cinema atual carece, por ter a vida real de trabalhadores explorados retratada da forma mais cruel possível, de imigrantes feitos de escravos pelos senhores de terras, antes terras de indígenas, que quase dizimados (há alguns que reclamam ainda de seus territórios usurpados da Patagônia) se tornaram errantes. Depois, os negros foram os escravos, mas as políticas argentinas extremamente racistas fizeram um embranquecimento. Imigrantes foram requeridos... mas não pense que com eles as maiores ideias do tempo não vieram, ideias de emancipação humana, luta por justiça e maior igualdade!
Documentário mais se destaca pelas célebres personalidade intelectuais do que pela premissa, que parece ser um pouco difusa e confusa em se mostrar claramente. É a transição de um capitalismo neoliberal para um capitalismo autoritário, que não é mais um capitalismo produtivo, mas especulativo, que se consome a si mesmo e que consome os mais vulneráveis antes.Anteriormente havia nalguns países um pouco de liberdades, direitos, hoje vemos a total destruição do que foi o estado de bem estar social, ou welfare state, que muitos da esquerda ao redor do mundo apoiavam para conter as contradições do sistema capitalista, mas como sempre, as soluções são momentâneas.
Dedo na ferida... mas essa ferida é gerado por uma doença de alguns poucos parasitas. A ideologia quando se mostra como uma não ideologia, ou seja, quando há a permissibilidade de criar um ambiente despolitizado, onde as massas são facilmente enganadas, aceitam as consequências de escolhas políticas como se fossem escolhas razoáveis, pois, tentam nos dar a entender que acima de tudo a economia, ou seja, os lucros de alguns poucos, devem sempre aumentar para que todos possamos ser felizes. O que é uma contradição explícita, mas a ideologia trabalha nas mentes e permeia quase tudo ao redor; hoje vemos a tal Revolução 4.0 diante dos olhos, mas não podemos detê-la, apesar de sabermos de sua consequência! Criaram uma ideologia para que pensássemos que livres de patrões e autônomos estaríamos melhor! Veja a "uberização" do mundo! Através de um aplicativo se condiciona pessoas sem qualquer vínculo empregatício ou garantias trabalhistas com uma mega-empresa que sequer sabemos quem é o dono!
A face mais maldita não é a dos que se mostram cruéis, mas daqueles que se escondem por trás de máscaras, tal como hoje dizem; os gestores que comendo caviar querem cortar a merenda das crianças e dar-lhes comida podre estragada, dar-lhes ração!
Não existe politica sem políticos, ou sejamos nós os políticos, ou numa atitude torpe, ou niilista, deixemos outros tomarem dela conta, ou os tais técnicos nisso e naquilo, sempre "gestores" ou "especialistas" que nada mais são que cadelas do sistema econômico.
O absurdo só se torna aceitável porque por trás dele há alguma justificativa bem convincente para as massas.
E neste ponto o professor (não me lembro quem) bem disse no documentário sobre aquele que souber usar as ferramentas disponíveis e falar na mesma linguagem, e o que querem ouvir, será o "messias" desse abismo deixado pela esquerda que não soube dialogar com o povo.
Esquerda que serviu-se a comer do tal identitarismo e dos postulados pós-modernos irracionalistas. A esquerda foi vencida pelo jogo de alguns intelectuais pseudo-burgueses, ou pagos pelos burgueses para criar uma ideologia ainda mais danosa às pessoas; como quando pensam antes nas suas individualidades que no coletivo, já estão pensando como os burgueses querem! Não digo que uma coisa não admita a outra, mas a luta de classes é e está aí mais visível do que nunca, mas dessa vez quem a combate não tem mais uma alternativa, mais uma utopia a seguir.
O problema já fora dado por autores socialistas há tempos! Quem quiser que procure, mas Lenin já dizia sobre a especulação imobiliária em seus escritos, tal como eu a vejo hoje pelo Brasil, nessa gourmetização de áreas até então negligenciadas.
Fome, filme bem interessante, uma roteirização bem fiel à obra literária homônima do pra lá de polêmico escritor Knut Hamsun, que não é tão conhecida como merecia, e isso tem sua causa nas suas posições políticas pró-nazistas e também consideradas traidoras da pátria, no caso, da Noruega. A história tem muito de autobiográfica. E isto dá a ela maior credibilidade quanto ao que sente o protagonista.
Li o livro por sorte, pois achei grande parte da coleção Prêmio Nobel jogada num terreno baldio como entulho, a tradução foi à cargo de Drummond, porém de uma versão francesa... coisa que é irrelevante quando tem-se à frente alguém consagrado no campo da literatura.
O livro contém recursos narrativos que não foram postos ao filme, o que coloca o filme num outro tipo de narrativa, uma mais intuitiva ao espectador, que tem que desvendar certas situações. No livro é usado o fluxo de consciência, o que dá ao personagem famélico, que percorre as ruas de Kristiana, maior desenvolvimento, deveras ao teor psicológico dele ser o próprio narrador, e assim narrar não só sua desgraça, mas aquilo que passa a sua mente, suas pensamentos, alucinações, etc. Pensei que o filme iria utilizar deste mesmo recurso, com um narrador-personagem, mas não, e considerei muito criativo o tipo de narrativa cinematográfica utilizada. A começar pela utilização do preto e branco para aumentar ainda mais o tom dramático e angustiante, a excelente fotografia, a atuação do protagonista, que deu mesmo vida ao escritor, e a montagem bem feita que reproduz a narrativa tal qual se encontra no livro.
O recurso narrativo da nebulosidade, nas cenas onde há um esbranquiçamento, utilizado para mostrar os sonhos e logo mais a atormentação mental do escritor foi muito bem pensada. O escritor mostra-se um famélico devido a situação no qual se encontra, porém se martiriza quando pode, mesmo com alguns tostões, para ainda assim passar fome, pois dali tira sua inspiração, portanto, o sofrer de fome, ou seja, a dor dá ao escritor inspiração e é uma fonte de criatividade. É quase uma jornada heroica, onde o protagonista tenta a toda exaustão se mostrar digno, não se deixar levar pela sua evidente condição miserável,manter o status de uma pessoa que não precisa ser ajudada, ou não se rebaixa a pedir qualquer ajuda, e assim, tenta manter um certo orgulho.
A narrativa é fortemente influenciada por Dostoievski, que pode ser visto retratado numa pintura durante o filme, na hora em que o protagonista adentra à sala do chefe do jornal.
Obra clássica da literatura que deve ser lida, e o filme deve ser visto, ambos no caso desconhecidos do grande público.
Não conheço outros trabalhos do diretor, mas nesse vejo uma veia quase visceral de um catolicismo explícito, ainda mais se pesquisarmos o passado do diretor e entendermos o contexto sócio-político em que viveu e que tentou retratar no filme, então, a percepção que tive foi que ele exagera numa comparação, e talvez faça contrapor como se houvesse uma oposição entre ser comunista e católico (não estou a defender nada, apenas a analisar), e o que a lei propunha para um tal crime é também o crime como sentença, ou seja, com isso quer condenar o sistema judicial de pena capital, alojá-lo como intrínseco ao sistema dito comunista da Polônia e assim ele que julga e ele, diretor,é quem condena.
Há que ser astuto para perceber as tonalidades de uma crítica universal aos governos opressores e uma crítica direcionada à apenas um sistema ideológico. O diretor declarou em muitas entrevistas que o comunismo era como uma doença ao seu país, portanto, no caso a condenação ao sistema pode ser válida, pois de fato, não foram bons os anos de seu país (mas no pós-segunda guerra, qual país foi uma maravilha?) sob tal regime, mas há que acentuar e conhecer o restante do mundo todo. Ele se vê quase que como um católico, creio que tenha sido. Diz em entrevistas que o Ocidente alcançou liberdades para seus cidadãos, onde eles podem viver onde querem, comprar o que querem quando querem, podem escolher com quem querem se relacionar, etc. Coisa que considerei digna de uma pessoa bem idiota (no sentido clássico da palavra) quanto ao mundo real desse Ocidente idealizado por ele, pareceu mais que inocência, pareceu uma convincente visão ideológica.
E, a julgar pelo que o filme tentou passar fora isso mesmo, a condenação de um sistema político, mas, mesmo assim, podemos discordar, afinal de contas, os EUA ou outros países não socialistas/comunistas do Ocidente tinham leis rígidas e severas, muitos ainda adotam a pena capital (como no caso dos EUA) onde é confirmado que muitos inocentes já foram mortos pelo estado, mas aí há uma desvinculação com o sistema político e ideológico vigente, a religião é permitida e existe por lá. Isto me faz pensar que o diretor fracassa nesse seu filme.
Em certo ponto o filme chegou a ser estúpido, principalmente na utilização daquelas grosseiras tonalidades monocromáticas e aqueles "borrões" sob diversas cenas, truques que intencionavam um certo tom artístico, porém, me causou desconforto, por parecer forçado e artificial demais, estragaram o filme, até pensei que fosse meu player que tivesse algum (d)efeito... mas não, fora proposital tal fotografia e direção de arte! Sobre a trama; é bem simplista, diria que até previsível, por demais piegas em muitos pontos, e não considerei nada chocante, afinal de contas, é difícil até mesmo para católicos mostrar empatia com certos personagens, talvez seja isso, talvez seja essa a dificuldade que o diretor quisera passar. O advogado parece mais um palhaço, ou melhor, um inocente que adentrou um lugar chefiado por criminosos, as cenas com a motocicleta foram ridículas, forçadas demais e tudo isso para acentuar uma aura de um completo sonhador, um inocente, uma "criança" adentrando a vida adulta, depois de sua infância no estágio de 4 anos. Exagerado na simplicidade e pretensioso demais para todo o resto...
Este filme definitivamente é impactante, não há como, vai se passar um século, e ainda assim o filme será sempre recordado, penso no impacto à época, com toda as imagens sublimes, experimentais, surrealistas e os efeitos inovadores e truques utilizados.
A cena do corredor simplesmente é genial, fico pensando aqui se houvesse uma possibilidade dela ser estendida no filme, consideraria perfeito alguns minutos a mais daquelas olhadelas pelo buraco da fechadura.
Cinema do mais alto nível, feito por um pioneiro, um artista de fato, que transitou por vários ramos da arte, então, ele mais que qualquer cineasta cultuado hoje, merece os reconhecimentos devidos, não era só cinema, era poesia.
De princípio logo quando o ato inesperado acontece eu exitava em tentar desvendar a trama, mas logo, por ter assistido Ex-Drummer, percebi do que se tratava e entendi a situação, e esperava mais, até porque Ex-Drummer é um filme inquestionável nos quesitos "chocar" o espectador... aqui se vê a estética e o estilo do Koen Mortier se definindo, mas não foi tão provocativo e intenso como o primeiro filme mencionado.
Destaque que o final é algo interessante de se analisar sociologicamente até porque recentemente vimos algo parecido por aqui. E esta tendência niilista tende só a aumentar. E o diretor tem consciência sobre isso, o trabalho dele é voltado para a crítica social.
O filme tenta criar uma atmosfera única e um universo por vezes iguais as das pinturas do artista retratado, e ainda conter objetos de épocas posteriores interagindo com os personagens, mas aí isso não me impactou devidamente como acho que pretendia ser o esperado pelo diretor, pensei aquilo ser mero exibicionismo para causar ainda mais polêmica, assim como o teor com que é mostrado a ICAR e por trás de suas cortinas.
Vale mais pela maravilhosa encenação, pela fotografia do que pela história em si, já que ela é por demais vaga e não é uma biografia como estamos acostumados. Gostei mais do diretor em Wittgenstein, pois ali fora sensacional, e o conteúdo ao menos a mim era familiar, já que estudava à época tal filósofo.
Já aqui não assimilei tanto o que quis se passar. Talvez devesse ler mais sobre o Caravaggio, que conheço pouco, e assim rever o filme.
Tá aí quando eu vou na pegada de filmes que tem nota alta e uma porcentagem imensa de pessoas daqui colocam como "favorito", logo por tê-lo visto por demais em várias listas, me pego e ponho a assistir a este filminho indie de vampiro.
O que salvou é que a trama de início parecia ser a de um serial killer, mas logo a graça foi perdendo ao mostrar os protagonistas, que nem precisa de spoiler para descobrir o que está porvir, ou seja, um romance entre dois adolescentes. Não é porque acho tola as histórias de vampiro que considero esse filme tosco, mas porque a previsibilidade até certo ponto é aceitável, já aqui não, o roteiro pode ser descrito em pouco minutos, a trama toda pode ser "adivinhada", não há nem mesmo suspense, nem terror, há apenas um romance meloso que quer assumir um tom terrificante mas mesmo assim "fofo".
É o tipo de filme que adolescentes curtem, não eu. Portanto, vou aos quesitos técnicos, que para além de uma boa fotografia não acrescenta em nada, porque é piegas demais, os atores se saem bem, porque em certo sentido, eles são apáticos, e outro ponto que talvez não deva ser escrachado por todo é devido aos efeitos especiais bem convincentes. Mas fica só nisto... Afinal de contas, se percebemos o título do filme já sabemos do que se trata todo o roteiro desse filme.
Filme fantástico, a começar pelo título, que é por demais chamativo ao tipo de narrativa a ser encontrada. O filme começa com um televisor ligado e se encerra em um televisor ligado, uma das últimas cenas é exatamente o protagonista rompendo um espelho, que dá-se a entender que o ciclo recomeça novamente, numa busca incessante por aquilo que não se encontra, ou como diz na própria narrativa, que não há um lugar a se chegar, mas o próprio caminho é o lugar, e talvez aqui, se encaixa também o que o próprio diretor pensava acerca da utopia no qual acreditava - nunca podemos parar, sempre temos que prosseguir para alcançá-la, mesmo que inatingível - me lembrando bem Eduardo Galeano dizendo o que pensava da utopia que ela era inacessível, mas que faria os homens caminharem sempre.
Eu muito ouvia falar da Boca do Lixo como cinema marginal, mas esse marginal não era o antagônico de erudito, o tempo delineou outros significados à palavra "marginal". O termo era ligado ao que havia e que era marginalizado, ou seja, posto de lado, às margens. As referências literárias do diretor são visíveis em sua obra, que explora essa mundo secreto, ou sub-mundo, destes personagens que vivem nos meandros da sociedade.
No curta Sangue Corsário há uma citação ao escritor Lautréamont, autor dos Cantos de Maldoror, e talvez o mais maldito dos malditos, e sua obra é mais que a subversão, é a total e completa perversão, e para além, é o choque, a paráfrase onde transgride excertos de outros autores. Em Filme Demência num certo momento há uma cena para lá de intrigante e excepcional, onde a personagem de Wagner declama "FODER, FODER, QUEM SABE GOZAR" num prostíbulo, esta frase é uma referência retirada da peça Hamlet de Shakespeare, na original temos o "Dormir, dormir, quem sabe sonhar". E ali é um dos momentos mais geniais do filme, porque mostra toda erudição de um personagem que se encontra aplicando golpes, tentando ganhar a vida como o bom e velho malandro das sub-culturas, do sub-mundo que foge aos olhos da maioria dos que vivem na grande metrópole paulista, mas que ainda assim é em certo sentido um erudito daquele mundo.
A busca de Fausto de certo modo tem relação com o que acontece com o personagem central de São Paulo Sociedade Anônima, no qual isso é bem explícito se observado com atenção, afinal Reichenbach, escreve nos créditos finais que o filme é dedicado a Luís Sérgio Person. Em ambas as tramas, as personagens buscam uma aspiração superior ao que pode ser encontrado no mundo capitalista, embora o do protagonista de Filme Demência seja um industrial falido, que já não tem nem casamento, é traído, fica de saco cheio e resolve se aventurar numa jornada que é a busca de seu sonho, seu lugar encantado, seu Éden. E Carlos de São Paulo S/A, ao contrário, seja um personagem em completa ascensão financeira, com um casamento dito perfeito nos moldes burgueses mas que também está de saco cheio dessa superficialidade e encarra uma jornada de abandono deste mundo para uma busca que é a rejeição destas ideias superficiais aspiradas pela classe média daquele época em que São Paulo ainda ascendia enquanto pólo industrial e comercial.
Ambas personagens, mesmo que dentro de um contexto burguês em época diferentes, tendo talvez vidas opostos ao que se supõe os comportamentos daquela classe, tem portanto a mesma aspiração de abandono destas frivolidades banais do cotidiano entendiante e sufocante da metrópole, querem sua redenção, abandonam tudo para buscar no caminho algum sentido para aquilo de mais profundo que provém do interno, que está além do que pode ser oferecido dentro destes contextos pré-estabelecidos, dentro dos padrões superficiais de uma sociedade que é dividida em classes e funciona como uma máquina que se consome a si mesma, e nisso consome aos próprios homens que nela vivem, sufocando-os nalguma distração que não permite suas buscas existencialistas. Vivem numa sociedade condenada a um propósito de um não-viver.
Como Henry David Thoreau dissera nalguns excertos de Walden "Os homens trabalham sob o engano. (...) Por um destino ilusório chamado de NECESSIDADE, eles se dedicam (...) a acumular tesouros que serão roídos pelas traças e pela ferrugem e roubados pelos ladrões. É uma vida de tolo, como vão descobrir quando chegarem ao final dela, ou talvez antes. Eu fui para o bosque porque queria viver deliberadamente, defrontar-me apenas com os fatos essenciais da vida, e ver se podia aprender o que tinha a me ensinar, em vez de descobrir à hora da morte que não tenha vivido."
Segue-se portanto uma busca que é atemporal a todos humanos que querem transcender suas condições de vida impostas pela sociedade, seus anseios não são os anseios materiais, mas espirituais, uma raison d'être, um sentido mais que físico, mas metafísico, que por ora não pode ser alcançado, mas que sempre aspiraram os grandes poetas.
Apesar desse ter uma melhor produção e excelentes efeitos especiais, as tramas anteriores de Romero sobre os mortos-vivos tinham mais conteúdo sociológico e filosófico a ser extraído. Aqui creio que houve uma tentativa de dar mais ação e um ritmo mais hollywoodiano ao filme. Mas mesmo assim é um filme ousado, e cria novas perspectivas acerca deste mundo zumbificado, ao ponto de nos compadecermos mais com um morto-vivo do que com um humano.
Não sei como encontrei este filme e vim a assisti-lo, mas não me arrependo de nada, foi uma sorte tê-lo encontrado assim sem saber do que se tratava e sem nem ter lido qualquer resenha sobre.
O filme mostra não o preconceito explícito ou velado que existe, pois a família é receptiva às escolhas de Lara, não que o filme não mostre isso, mas não se foca nisso, o que quer ser transmito são os sentimentos de Lara, como ela se sente, como sua vida é dificultada, como ela tem que vencer suas batalhas cotidianas, ainda mais pela escolha da personagem de querer se tornar bailarina, coisa que é por demais rigorosa, extenuante e por vezes até violenta.
O filme é a vida de uma adolescente, só que de uma perspectiva não tão debatida no cinema, e o protagonista é primoroso em dar vida à personagem, pois por vezes aquilo era tão convincente que parecia um documentário, sua atuação merecia mais reconhecimento, além dele realmente ser dançarino, ele além de atuar, realmente mostrou sua arte.
Ponto baixo é que a trilha sonora não é assim tão envolvente e não chega num certo clímax que pensei que atingiria. Somente fica à crítica quanto a trilha sonora mesmo, pois esta deveria ser melhor trabalhada.
Não vou mentir, mas esperava mais deste filme, até porque levou mais de 2 décadas para ser concluído. Porém, um ponto alto do filme, apesar de não achá-lo excelente, é que os efeitos especiais práticos foram além do esperado, muito bem feitos e filmados, a fotografia do filme é excelente, assim como as atuações, e como sempre, chegamos a nos envolver tanto na trama que já não sabemos onde termina a realidade e começa a fantasia, ou vice-versa. Intrigante como o Gilliam sobre esta premissa cria um universo tão exuberante e mágico.
E, ao contrário dos últimos trabalhos que vi do diretor (os mais recentes), me deixaram desconfortáveis, pois o uso de CGI me deu uma sensação de artificialidade exagerada e um certo desconserto quanto a qualidade, houve momentos em que achava que estes últimos filmes foram feitos às pressas ou tiveram que ser concluídos com orçamento reduzido, o efeito foi avesso aos trabalhos mais antigos e magistrais do diretor.
O ano de 2005 foi um divisor de águas para quem o acompanha, pois neste ano foram lançados dois de seus filmes; Tideland e Irmãos Grimm, o primeiro considero excelente e excepcional, já o segundo um fracasso, tão raso e medíocre que jamais pensaria que fosse do Gilliam se não fosse a ele dado os créditos no filme. Deste ano seguinte para mim todos os seus filmes abusaram demais da artificialidade do uso da computação frente ao uso dos efeitos especiais mais práticos, pois o deslumbre que o diretor criava girava em torno desses grandes efeitos especiais, tal como em As Aventuras do Barão Munchausen e Brazil o filme, e aqui neste O Homem que Matou Don Quixote Gilliam retorna às origens, e faz jus ao seu tipo de cinema. Creio que deva assisti-lo novamente para criar uma outra percepção dos pormenores que devam ter sido passados abatidos e assim a experiência se torne outra, e me adentre mais na história.
Conheci a pouco o trabalho de Leon Hirszman e estou tentando ver todos os seus filmes. Neste aqui o impacto com a realidade daqueles tempos com a nossa atualidade é inevitável, o tema, para nossa infelicidade, é ainda recente e está mais atual do que nunca, se trata da luta de classes. O filme é atual e impactante não só pela temática do conflito entre classes, mas também sobre o conflito entre familiares, quando os pensamentos dos pais divergem dos dos filhos, a trama é envolvente, e deixa um grande dilema para aqueles que veem o filme, ou seja, de qual lado devemos estar: dos poderosos ou dos explorados.
O filme me envolveu e me remeteu a dois livros sobre greve e luta de classes (e mais muitos conflitos humanos), um chamado "Parque Industrial" de Patrícia Galvão, mais conhecida como Pagu, o outro, "O Germinal" de Émile Zola, ambos podem ser complementares para entender melhor a amplidão da temática do filme de Hirszman.
Só o título já é pretensioso demais, porque para mim nada de extraordinário acontece que não já tenha visto num road movie. A história quer dar um tom de fábula moderna, tentando criar personagens que tem uma certa complexidade, mas que não cativam em momento algum, até mesmo o protagonista parece carecer de tal inteligência certas vezes quando é por demais ingênuo, e em grande parte o filme pareceu desnecessário, principalmente nas imagens da viagem. Pura enrolação.
Não me deixou preso na narrativa, me deixou o oposto, cansado, entendiado, nada demais acontece, e sem contar as cenas melodramáticas e as situações que seriam chave para o filme... bem mal roteirizadas. Sem qualquer clímax. O que mais de extraordinário tem nesse filme é seu orçamento em torno de 33 milhões de dólares e arrecadou em torno de 9 milhões de dólares. A crítica pode ter sido positiva, mas pode mais ser devido a excelente fotografia, mas nada de extraordinário que já não tenha sido visto antes.
Jean-Pierra Jeunet mais uma vez erra em tentar criar uma história fantasiosa, ele estragou a sequência do Alien, que considero o pior de todos, é vergonhoso. Ele tenta querer ser um tipo de Terry Gillian e um pouco de Tim Burton, criando um universo fantástico dentro da própria realidade, mas se sai mal. O grande trabalho dele realmente é o Fabuloso Destino de Amélie Poulain, que considero excelente, tanto a história, o roteiro, a fotografia, e a excepcional trilha sonora. Nalguns outros filmes mais sombrios ele se dá bem, por conseguir criar uma atmosfera surreal como em Delicatessen e Ladrão de sonhos.
Li algumas resenhas que comparam este filme com Mãe! lançado no mesmo ano e que se baseiam em mitologias, mas transpostas par a atualidade. Ambos soam por demais pretensiosos, o primeiro ainda consegue se sair melhor, porque de certa forma há algum sentido dentro da trama, pois a realidade do universo do filme permite aquilo que se passa, já o segundo, não se sai tão bem assim, porque além de pretensioso é por deveras forçado e chato.
No Sacrifício do Cervo Sagrado há uma inquietação que para mim foi a de não fazer sentido aquilo que acontecia para aquele universo, considerei não um erro, mas uma pretensão imensa, pois, faria sentido o mito de Ifigênia dentro de uma outra ocorrência, mas o contexto deveria ser aquele mesmo onde ele se situa, os deuses e humanos eram iguais, e possuíam temperamentos semelhantes, interviam na realidade e no cotidiano. O sacrifício viria para pôr ordem no caos. Adaptações requerem muito mais que isso, requerem uma certa genialidade que poucos alcançam com suas obras. Não sabia sobre o mito de Ifigênia, embora se soubesse, creio que também consideraria o filme o mesmo que considerei. Talvez pelo diretor ser grego e estar mais familiarizado com estas temáticas, possa a ele soar mais normal transpor este mito para atualidade.
Sei que há escritores e cineastas que conseguem fazer isso com maestria, mas aqui não foi o caso, ainda mais se tratando de um filme com atores hollywoodianos, que não me convencem, e desde o princípio me soou que o filme se impunha numa narrativa que enrolou para criar um clima exagerado sobre o que estava porvir.
Esteticamente é impecável, não há o que se dizer quanto ao que se refere às imagens captadas, destaque também para a trilha sonora envolvente, que por ora nos leva a crer que estamos num transe, assim como a câmera quando se movimenta freneticamente.
A história deriva de um livro, portanto, não dá pra julgar tanto o roteiro, creio que para os soviéticos seja mais fácil assimilar a história, e entrar na narrativa trágica, porém poética. Eu demorei um pouco para entender algumas das coisas passadas no filme. Alfim a história não era aquilo que pensava que seria.
Dois gênios singulares que se conheciam e se auto admiravam, suas artes refletem de certa forma aquilo que seus espíritos ansiavam e que queriam transcender.
Ambos perseguidos pela censura, ambos tendo que ter sua arte retalhada em prol de uma arte oficial que era por demais pobre e carecia de uma transcendência. O problema de ambos era que tinham uma espirituosidade que era vista como religiosa, coisa que o então regime soviético quisera combater. Mas mesmo eu, que me considero um ateu, vejo que até quem não acredita em nada ainda sim há muita relevância e sentido naquilo que retratavam, naquilo que quiseram que sentíssemos. É este algo que movimenta a vida humana, que quer elevar-se, como a mulher em o Sacrifício de Tarcovsky, que flutua.
Poderiam ter feito muito mais filmes, ambos tiveram suas vidas cerceadas como suas arte, um sendo até mesmo preso por anos. E me considero um socialista/comunista, se comparado ao que temos de sistema que é o capitalismo como mandante atual, e a crítica é apenas à política ideológica adotada que corrompeu seus valores mais fundamentais, tanto no comunismo da URSS como nos EUA havia censura, em Hollywood houve uma lista imensa de diretores boicotados e perseguidos, portanto a censura está aí, sempre está, e pelo visto continuará.
No capitalismo o que dita às vezes a censura é o poder econômico, tendo os diretores que se encaixar em determinados padrões aceitos pelos estúdios, ou pelo que fará orçamento e dará lucro, como bem podemos notar com está crítica que foi feita por David Lynch em alguns de seus filmes, ou como quando caçavam comunistas, como fizeram nos EUA antes, durante e até depois da guerra fria.
Hoje o que dita a censura é talvez a moralidade, que é usada para exercer ódio das massas manipuláveis (como temos visto no Brasil), onde acreditam que o dinheiro público não deva financiar qualquer tipo de arte, ao menos o que eles consideram arte.
David Cronenberg também foi acusado de utilizar dinheiro público para fazer seu Videodrome, quiseram boicotar o filme, alegando contar violência e conteúdo sexual violento, isso por parte de políticos conservadores canadenses.
Achei que seria um filme meio paspalhão tosqueira, mas me surpreendi pela qualidade, ainda mais tendo visto que foi feito pela VICE.
Pelo que sei da cena de BM muito daquilo que está ali na película é difundido como sendo verdade, e a mensagem do começo do filme deixa transparecer essa intenção, de aquilo ser um filme que não necessariamente precisaria da aprovação de fãs, das pessoas retratadas, etc, mas sim da história que muitos deles mesmo difundiram e de lendas que surgiram daquele estilo extremo de música.
Legal é que a galerinha lá era tudo bem de vida, papai e mamãe bancando os revoltados... e a revolta deles era por? Pela sociedade que eles viviam, onde é um dos países que mais tem IDH no mundo ? Porém sofre por índices altos de suicídios, talvez pela localização geográfica, e pela sociedade até que calma demais (pelo menos na época). Eles queriam curtição, adrenalina...
Eu não curto BM, mas conheço as bandas, conheço essas histórias, e tudo que o filme conta é o que eu sabia a respeito, até nos pormenores, como: Euronymous idolatrar o comunismo/stalinismo e de Varg ser nazista, mas mesmo assim satanista e mais outros "istas" (como os jornalistas o questionam) eram verdades, e o Varg até hoje não deixou de ser um otário.
O filme tem cenas bem fortes, chocantes mesmo, que não sei se deveria ser recomendado para maiores de 16, ao meu ver deveria ser acima de 18 anos.
O que se pode ver é que aqueles jovens eram párias da sociedade, eram apenas jovens que curtiam um estilo de música, escutavam as letras, foram levados a pensar que as letras de uma música (que é arte) deveriam ser verdadeiras, começaram a cultuar o mal, fazer coisas chocantes e extremas, ou seja, levaram a sério demais o que para alguns era apenas brincadeira. E, é bem percebido que eram jovens problemáticos, que tinham traumas, que tinham que ir ao psiquiatra, e isto meio que foi negligenciado em algum ponto de suas vidas. O escape deles foi um tentar ser mais extremo que o outro, chamarem a atenção, posarem de malignos (como dizem mesmo no filme).
Acho que a realidade consegue ser mais perturbadora do que esse filme, não sei porque se impressionar, afinal de contas, se pegarem o noticiário dos últimos dias encontrarão lá coisa bem pior, talvez até vídeos de algumas atrocidades espalhadas pelo whatsapp.
Por isso nem me impressionei, e para a época pode te sido ousado - bem ousado- mas é até hoje para alguns, mas há filmes piores, mais perturbadores e impactam mais pela realidade de algumas cenas, a deste acho que a única coisa que fica é que a cena do cocô parece ser real. E isso transparece no nojo da própria personagem mais podre do mundo.
É divertido até certo ponto, é bizarro, usa da contra-cultural mais marginal para dar vida a um mundo desconhecido de muitos, é cheio de tabus, mas tem furos de roteiros muito amadores: e
os policiais que foram mortos? isso não pode e nem deveria passar batido.
No mais hoje existem sim no mundo pessoas que tenta se mostrar umas as outras de suas sub-culturas as mais extremas possíveis. Creio que uma galera que assiste esse filme, talvez, quisesse mesmo estar ali naquela vida, ou sendo a pessoa mais podre do mundo.
Concluindo, não é um filme para Sessão da Tarde. rs
O documentário é interessante, nos põe a pensar sobre o movimento em torno do pixo, pois o mesmo não pode e acho que nem deve ser considerado um movimento artístico, porque precisa de definições claras de um conceito que inexiste ali, e tal como muitos ora argumentam que o pixo é arte, ora argumentam que é uma coisa contrária à arte, à especulação financeira e à beleza estética.
Em certas hora parece ter mais a ver com adrenalina, confronto, rebeldia pura pois é crime, gera polêmica, e mesmo uns argumentando que hoje o pixo tem algum valor político não vejo isso, pode ter a ver com contextos sociais, mas ali não transparece nenhuma mensagem política, como antes havia, hoje no mais é como um selo, ou um sigilo mágico, um logotipo daqueles que querem no meio urbano deixar seus rastros, como se quisessem marcar um território, em partes mostra que o tal movimento até começou a ter intrigas dentro de si, e se tornaram como gangues rivais. Claramente mostram um comportamento de gangues, como quando o tiozinho sozinho impede alguns de pixarem o prédio, dizem que estão em mais número que ele e o ameaçam - ora isso é anarquismo onde? é rebeldia onde?
Duchamp inverteu um mictório e também pôs um "selo" (assinatura) de R. MUTT nele, os tempos se passaram e... todos sabemos.Os pixos claramente podem não ter um valor mercantil, mas aquilo que atravessa o tempo tem, aquelas pastinhas com as folhas com que eles trocam suas assinaturas um dia terá, será um documento (como bem dizem).
No mais na minha opinião a mensagem contra o sistema é válida quando ela chega ao observador e o põe a refletir (como quando contra a ditadura, ao autoritarismo, etc), mas há os que colocam valor que não existe em certas coisas. Garanto que muitos que diziam que aquilo é anarquia nem devem ter lido nenhum teórico anárquico, e possivelmente suas ideias de anarquia sejam contraditórias.
The Bird People In China
4.1 16O filme aborda simbolicamente certas questões que talvez nos fogem aos olhos, como; tradição, cultura, ganância, pureza, crença, ecologia, progresso, harmonia, etc.
O filme é bem explícito ao dar o significado inicial da jornada, ou seja, é uma busca por riquezas em terras onde habita um povo que foi protegido, devido à geografia, ao "mau contato" com a civilização, e têm crenças e modos de vida peculiares. É como se fosse um paraíso intocado, onde reina a inocência e a harmonia, em contraponto aos explorados que buscam apenas extrair de lá a maior quantidade de riquezas materiais possíveis, sem se importarem com o povo.
Yun Nan, como dito no filme, é de onde pensam derivar a cultura e o povo japonês, portanto é um local ancestral quase que inatingível na China, e devemos pensar como os "orientais" pensam, há um profundo respeito pelos antepassados, devê-se respeitá-los, e os exploradores buscam apenas a ganância, e se sentem atingidos em certa altura ao que lhes acontece, a jornada fora como uma busca espiritual, dera a eles um significado de existência, e se veem confrontados acerca disto, pois a maior riqueza que encontraram não fora a que buscavam. É como se Yun Nan fosse aquele Japão antigo e ancestral que se perdeu frente à ocidentalização, que se manteve intacto frente à toda loucura que adentrou no Japão e isto, talvez, desde antes mesmo dessa ocidentalização extrema, já no período do Japão Imperial na Segunda Guerra.
O tal progresso é posto sobre uma análise, se de fato é válido na medida em que quando mais se avança mais se perde toda esta harmonia e toda a exuberância natural de um lugar intocado, ou se pode ser controlado, e assim trazer coisas boas às populações locais, ou aos povos que vivem em plena harmonia.
É colocado uma oposição; se é válida a exploração por ganância, se crer na ambição é de fato racional tão quanto ao fato do povo do vilarejo crer nas suas histórias, lendas, superstições,etc. Alfim, descobrem que o homem que veio dos céus também era um explorador, alguém que não se importava tanto assim com aquele local. Porém no final a crença do povo no poder de voar fora verdadeira. Eles provaram que poderiam fazer aquilo que sempre acreditavam.
Um filme sublime, que parece ser superficial em alguns momentos, mas é bem singelo, e conta uma grande história não de um povo, mas do próprio mundo.
Hiroshima, Meu Amor
4.2 314 Assista AgoraExperiência única vinda da genialidade de um diretor!
Temos que assistir ao filme tendo em mente que apenas 14 anos separavam-nos da SGM, e que um pouco antes Hiroshima era cinza e pó.
Alain Resnais tomou uma atitude monumental ao criar em vez de um documentário um romance que na verdade não é apenas uma história sobre dois apaixonados, que na impossibilidade de se amarem se veem impedidos pelo condicionamento que os encerra em seus contextos sociais, não, não é só isso, há muito mais profundidade, há várias camadas.
Após a SGM os artistas se puseram num dilema, de como era possível colocar a arte para contar toda a crueldade cometida por humanos contra outros humanos.
O que requeria à humanidade não era apenas rememorar o passado, este muitas vezes contado da perspectiva dos ganhadores, mas era preciso recuperá-lo através dos destroços, do que restou, através daqueles que foram vencidos, dos que foram dizimados, dos que sofreram, e de todos os escombros recriar tais eventos,e a partir daí pôr um olhar além daquilo que nos oferecem como uma história oficial.
Ambos protagonistas não viram as fatalidades dos quais dizem saber tudo, e são sempre confrontados um pelo outro, pois não viram nada, mas apenas souberam dos relatos, daquilo que ficou, daquilo que permaneceu como escombro. E disso tiram suas experiências, seus conhecimentos, é a memória da história que deve ser lembrada. Não apenas e somente de uma perspectiva, mas pelo que restou, pelos dramas sofridos, pelos amores perdidos, pelas famílias perdidas, pelos sentimentos etc. É disso que se trata esta obra. As recordações quando rememoradas são também sofrimento. A atriz diz que participa sobre um filme de paz, mas seu passado não demonstra isso, já que sua experiência (como ela mesma diz, era uma "má pessoa"), sua vida era o oposto daquilo que podemos esperar de uma pessoa para um papel num filme destes, e em partes isso se deveu apenas por ter amado alguém, não alguém errado, mas por ter amado alguém temporalmente e espacialmente errado para aquele contexto.
Assim, talvez, seja um paralelo sobre a justificativa de soltar duas bombas atômicas sobre duas cidades (que em sua grande parte era composto de civis, mulheres, crianças e idosos); era pela paz, pelo fim da guerra!
Hiroshima e Nagasaki mostraram a hipocrisia da história que é contada pelos vencedores. Pois cabia aos "heróis" ganhadores da guerra não cometerem um ato bárbaro à altura do que fora cometido pelos nazistas, fascistas e pelo Japão na sua também ânsia fascistóide de superioridade imperial. A condescendência dos vencedores é exposta como uma marca trágica de quando se termina uma guerra, não para evitar conflitos, mas para mostrar uma superioridade militar e tecnológica, o mesmo que fora o princípio do conflito, ou como bem se expõe no filme, uma raça escravizando a outra, uma nação escravizando a outra, uma classe escravizando a outra. A guerra terminou, mas a tragédia não!
As paixões criam as guerras, os remorsos, as injustiças. Pois se se ama àquilo ou àquele que destrói, e como seres semelhantes, se odeia a si mesmo. Pois quando se destrói um ente da mesma humanidade se destrói a si mesmo.
Isto é perceptível em como a história de Hiroshima é cercada pela arrogância humana e pelo desprezo pelo outro, quem pilotou o avião que lançou a primeira bomba nuclear da história da humanidade foi Paul Tibbets, lançou-a sobre Hiroshima, a bomba tinha um nome simpático - Little Boy - ou "garotinho", o avião que Paul pilotou continha uma singela homenagem à sua mãe, tendo uma frase grafada em sua lataria "Enola Gay" ou "Enola feliz"... o ato de ceifar vidas não poderia ser uma homenagem e muito menos uma arrogante felicidade para ninguém.
É preciso lembrar do que aconteceu, é preciso lembrar daquilo que não pode ser esquecido. É preciso experienciar àquilo que se passou, é preciso mergulhar nos destroços, nos sentimentos, na dor do que fora cometido para que assim possamos evitar que de novo a história se repita.
A Patagônia Rebelde
4.2 4Este é o tipo de filme que o cinema atual carece, por ter a vida real de trabalhadores explorados retratada da forma mais cruel possível, de imigrantes feitos de escravos pelos senhores de terras, antes terras de indígenas, que quase dizimados (há alguns que reclamam ainda de seus territórios usurpados da Patagônia) se tornaram errantes. Depois, os negros foram os escravos, mas as políticas argentinas extremamente racistas fizeram um embranquecimento. Imigrantes foram requeridos... mas não pense que com eles as maiores ideias do tempo não vieram, ideias de emancipação humana, luta por justiça e maior igualdade!
Dedo na Ferida
4.0 6Documentário mais se destaca pelas célebres personalidade intelectuais do que pela premissa, que parece ser um pouco difusa e confusa em se mostrar claramente. É a transição de um capitalismo neoliberal para um capitalismo autoritário, que não é mais um capitalismo produtivo, mas especulativo, que se consome a si mesmo e que consome os mais vulneráveis antes.Anteriormente havia nalguns países um pouco de liberdades, direitos, hoje vemos a total destruição do que foi o estado de bem estar social, ou welfare state, que muitos da esquerda ao redor do mundo apoiavam para conter as contradições do sistema capitalista, mas como sempre, as soluções são momentâneas.
Dedo na ferida... mas essa ferida é gerado por uma doença de alguns poucos parasitas.
A ideologia quando se mostra como uma não ideologia, ou seja, quando há a permissibilidade de criar um ambiente despolitizado, onde as massas são facilmente enganadas, aceitam as consequências de escolhas políticas como se fossem escolhas razoáveis, pois, tentam nos dar a entender que acima de tudo a economia, ou seja, os lucros de alguns poucos, devem sempre aumentar para que todos possamos ser felizes.
O que é uma contradição explícita, mas a ideologia trabalha nas mentes e permeia quase tudo ao redor; hoje vemos a tal Revolução 4.0 diante dos olhos, mas não podemos detê-la, apesar de sabermos de sua consequência! Criaram uma ideologia para que pensássemos que livres de patrões e autônomos estaríamos melhor! Veja a "uberização" do mundo! Através de um aplicativo se condiciona pessoas sem qualquer vínculo empregatício ou garantias trabalhistas com uma mega-empresa que sequer sabemos quem é o dono!
A face mais maldita não é a dos que se mostram cruéis, mas daqueles que se escondem por trás de máscaras, tal como hoje dizem; os gestores que comendo caviar querem cortar a merenda das crianças e dar-lhes comida podre estragada, dar-lhes ração!
Não existe politica sem políticos, ou sejamos nós os políticos, ou numa atitude torpe, ou niilista, deixemos outros tomarem dela conta, ou os tais técnicos nisso e naquilo, sempre "gestores" ou "especialistas" que nada mais são que cadelas do sistema econômico.
O absurdo só se torna aceitável porque por trás dele há alguma justificativa bem convincente para as massas.
E neste ponto o professor (não me lembro quem) bem disse no documentário sobre aquele que souber usar as ferramentas disponíveis e falar na mesma linguagem, e o que querem ouvir, será o "messias" desse abismo deixado pela esquerda que não soube dialogar com o povo.
Esquerda que serviu-se a comer do tal identitarismo e dos postulados pós-modernos irracionalistas. A esquerda foi vencida pelo jogo de alguns intelectuais pseudo-burgueses, ou pagos pelos burgueses para criar uma ideologia ainda mais danosa às pessoas; como quando pensam antes nas suas individualidades que no coletivo, já estão pensando como os burgueses querem! Não digo que uma coisa não admita a outra, mas a luta de classes é e está aí mais visível do que nunca, mas dessa vez quem a combate não tem mais uma alternativa, mais uma utopia a seguir.
O problema já fora dado por autores socialistas há tempos! Quem quiser que procure, mas Lenin já dizia sobre a especulação imobiliária em seus escritos, tal como eu a vejo hoje pelo Brasil, nessa gourmetização de áreas até então negligenciadas.
1964: O Brasil Entre Armas e Livros
3.1 330Produzido pelo Brasil Paralelo sobre um universo paralelo...
Fome
4.2 23Fome, filme bem interessante, uma roteirização bem fiel à obra literária homônima do pra lá de polêmico escritor Knut Hamsun, que não é tão conhecida como merecia, e isso tem sua causa nas suas posições políticas pró-nazistas e também consideradas traidoras da pátria, no caso, da Noruega. A história tem muito de autobiográfica. E isto dá a ela maior credibilidade quanto ao que sente o protagonista.
Li o livro por sorte, pois achei grande parte da coleção Prêmio Nobel jogada num terreno baldio como entulho, a tradução foi à cargo de Drummond, porém de uma versão francesa... coisa que é irrelevante quando tem-se à frente alguém consagrado no campo da literatura.
O livro contém recursos narrativos que não foram postos ao filme, o que coloca o filme num outro tipo de narrativa, uma mais intuitiva ao espectador, que tem que desvendar certas situações. No livro é usado o fluxo de consciência, o que dá ao personagem famélico, que percorre as ruas de Kristiana, maior desenvolvimento, deveras ao teor psicológico dele ser o próprio narrador, e assim narrar não só sua desgraça, mas aquilo que passa a sua mente, suas pensamentos, alucinações, etc. Pensei que o filme iria utilizar deste mesmo recurso, com um narrador-personagem, mas não, e considerei muito criativo o tipo de narrativa cinematográfica utilizada. A começar pela utilização do preto e branco para aumentar ainda mais o tom dramático e angustiante, a excelente fotografia, a atuação do protagonista, que deu mesmo vida ao escritor, e a montagem bem feita que reproduz a narrativa tal qual se encontra no livro.
O recurso narrativo da nebulosidade, nas cenas onde há um esbranquiçamento, utilizado para mostrar os sonhos e logo mais a atormentação mental do escritor foi muito bem pensada. O escritor mostra-se um famélico devido a situação no qual se encontra, porém se martiriza quando pode, mesmo com alguns tostões, para ainda assim passar fome, pois dali tira sua inspiração, portanto, o sofrer de fome, ou seja, a dor dá ao escritor inspiração e é uma fonte de criatividade. É quase uma jornada heroica, onde o protagonista tenta a toda exaustão se mostrar digno, não se deixar levar pela sua evidente condição miserável,manter o status de uma pessoa que não precisa ser ajudada, ou não se rebaixa a pedir qualquer ajuda, e assim, tenta manter um certo orgulho.
A narrativa é fortemente influenciada por Dostoievski, que pode ser visto retratado numa pintura durante o filme, na hora em que o protagonista adentra à sala do chefe do jornal.
Obra clássica da literatura que deve ser lida, e o filme deve ser visto, ambos no caso desconhecidos do grande público.
Não Matarás
4.1 131 Assista AgoraNão conheço outros trabalhos do diretor, mas nesse vejo uma veia quase visceral de um catolicismo explícito, ainda mais se pesquisarmos o passado do diretor e entendermos o contexto sócio-político em que viveu e que tentou retratar no filme, então, a percepção que tive foi que ele exagera numa comparação, e talvez faça contrapor como se houvesse uma oposição entre ser comunista e católico (não estou a defender nada, apenas a analisar), e o que a lei propunha para um tal crime é também o crime como sentença, ou seja, com isso quer condenar o sistema judicial de pena capital, alojá-lo como intrínseco ao sistema dito comunista da Polônia e assim ele que julga e ele, diretor,é quem condena.
Há que ser astuto para perceber as tonalidades de uma crítica universal aos governos opressores e uma crítica direcionada à apenas um sistema ideológico.
O diretor declarou em muitas entrevistas que o comunismo era como uma doença ao seu país, portanto, no caso a condenação ao sistema pode ser válida, pois de fato, não foram bons os anos de seu país (mas no pós-segunda guerra, qual país foi uma maravilha?) sob tal regime, mas há que acentuar e conhecer o restante do mundo todo. Ele se vê quase que como um católico, creio que tenha sido. Diz em entrevistas que o Ocidente alcançou liberdades para seus cidadãos, onde eles podem viver onde querem, comprar o que querem quando querem, podem escolher com quem querem se relacionar, etc. Coisa que considerei digna de uma pessoa bem idiota (no sentido clássico da palavra) quanto ao mundo real desse Ocidente idealizado por ele, pareceu mais que inocência, pareceu uma convincente visão ideológica.
E, a julgar pelo que o filme tentou passar fora isso mesmo, a condenação de um sistema político, mas, mesmo assim, podemos discordar, afinal de contas, os EUA ou outros países não socialistas/comunistas do Ocidente tinham leis rígidas e severas, muitos ainda adotam a pena capital (como no caso dos EUA) onde é confirmado que muitos inocentes já foram mortos pelo estado, mas aí há uma desvinculação com o sistema político e ideológico vigente, a religião é permitida e existe por lá. Isto me faz pensar que o diretor fracassa nesse seu filme.
Em certo ponto o filme chegou a ser estúpido, principalmente na utilização daquelas grosseiras tonalidades monocromáticas e aqueles "borrões" sob diversas cenas, truques que intencionavam um certo tom artístico, porém, me causou desconforto, por parecer forçado e artificial demais, estragaram o filme, até pensei que fosse meu player que tivesse algum (d)efeito... mas não, fora proposital tal fotografia e direção de arte! Sobre a trama; é bem simplista, diria que até previsível, por demais piegas em muitos pontos, e não considerei nada chocante, afinal de contas, é difícil até mesmo para católicos mostrar empatia com certos personagens, talvez seja isso, talvez seja essa a dificuldade que o diretor quisera passar. O advogado parece mais um palhaço, ou melhor, um inocente que adentrou um lugar chefiado por criminosos, as cenas com a motocicleta foram ridículas, forçadas demais e tudo isso para acentuar uma aura de um completo sonhador, um inocente, uma "criança" adentrando a vida adulta, depois de sua infância no estágio de 4 anos.
Exagerado na simplicidade e pretensioso demais para todo o resto...
O Sangue de um Poeta
4.2 44Este filme definitivamente é impactante, não há como, vai se passar um século, e ainda assim o filme será sempre recordado, penso no impacto à época, com toda as imagens sublimes, experimentais, surrealistas e os efeitos inovadores e truques utilizados.
A cena do corredor simplesmente é genial, fico pensando aqui se houvesse uma possibilidade dela ser estendida no filme, consideraria perfeito alguns minutos a mais daquelas olhadelas pelo buraco da fechadura.
Cinema do mais alto nível, feito por um pioneiro, um artista de fato, que transitou por vários ramos da arte, então, ele mais que qualquer cineasta cultuado hoje, merece os reconhecimentos devidos, não era só cinema, era poesia.
22 de Maio
3.9 22 Assista AgoraDe princípio logo quando o ato inesperado acontece eu exitava em tentar desvendar a trama, mas logo, por ter assistido Ex-Drummer, percebi do que se tratava e entendi a situação, e esperava mais, até porque Ex-Drummer é um filme inquestionável nos quesitos "chocar" o espectador... aqui se vê a estética e o estilo do Koen Mortier se definindo, mas não foi tão provocativo e intenso como o primeiro filme mencionado.
Destaque que o final é algo interessante de se analisar sociologicamente até porque recentemente vimos algo parecido por aqui. E esta tendência niilista tende só a aumentar. E o diretor tem consciência sobre isso, o trabalho dele é voltado para a crítica social.
Caravaggio
3.5 63O filme tenta criar uma atmosfera única e um universo por vezes iguais as das pinturas do artista retratado, e ainda conter objetos de épocas posteriores interagindo com os personagens, mas aí isso não me impactou devidamente como acho que pretendia ser o esperado pelo diretor, pensei aquilo ser mero exibicionismo para causar ainda mais polêmica, assim como o teor com que é mostrado a ICAR e por trás de suas cortinas.
Vale mais pela maravilhosa encenação, pela fotografia do que pela história em si, já que ela é por demais vaga e não é uma biografia como estamos acostumados. Gostei mais do diretor em Wittgenstein, pois ali fora sensacional, e o conteúdo ao menos a mim era familiar, já que estudava à época tal filósofo.
Já aqui não assimilei tanto o que quis se passar. Talvez devesse ler mais sobre o Caravaggio, que conheço pouco, e assim rever o filme.
Deixa Ela Entrar
4.0 1,6KTá aí quando eu vou na pegada de filmes que tem nota alta e uma porcentagem imensa de pessoas daqui colocam como "favorito", logo por tê-lo visto por demais em várias listas, me pego e ponho a assistir a este filminho indie de vampiro.
O que salvou é que a trama de início parecia ser a de um serial killer, mas logo a graça foi perdendo ao mostrar os protagonistas, que nem precisa de spoiler para descobrir o que está porvir, ou seja, um romance entre dois adolescentes. Não é porque acho tola as histórias de vampiro que considero esse filme tosco, mas porque a previsibilidade até certo ponto é aceitável, já aqui não, o roteiro pode ser descrito em pouco minutos, a trama toda pode ser "adivinhada", não há nem mesmo suspense, nem terror, há apenas um romance meloso que quer assumir um tom terrificante mas mesmo assim "fofo".
É o tipo de filme que adolescentes curtem, não eu. Portanto, vou aos quesitos técnicos, que para além de uma boa fotografia não acrescenta em nada, porque é piegas demais, os atores se saem bem, porque em certo sentido, eles são apáticos, e outro ponto que talvez não deva ser escrachado por todo é devido aos efeitos especiais bem convincentes. Mas fica só nisto... Afinal de contas, se percebemos o título do filme já sabemos do que se trata todo o roteiro desse filme.
Filme Demência
4.1 42 Assista AgoraFilme fantástico, a começar pelo título, que é por demais chamativo ao tipo de narrativa a ser encontrada. O filme começa com um televisor ligado e se encerra em um televisor ligado, uma das últimas cenas é exatamente o protagonista rompendo um espelho, que dá-se a entender que o ciclo recomeça novamente, numa busca incessante por aquilo que não se encontra, ou como diz na própria narrativa, que não há um lugar a se chegar, mas o próprio caminho é o lugar, e talvez aqui, se encaixa também o que o próprio diretor pensava acerca da utopia no qual acreditava - nunca podemos parar, sempre temos que prosseguir para alcançá-la, mesmo que inatingível - me lembrando bem Eduardo Galeano dizendo o que pensava da utopia que ela era inacessível, mas que faria os homens caminharem sempre.
Eu muito ouvia falar da Boca do Lixo como cinema marginal, mas esse marginal não era o antagônico de erudito, o tempo delineou outros significados à palavra "marginal". O termo era ligado ao que havia e que era marginalizado, ou seja, posto de lado, às margens. As referências literárias do diretor são visíveis em sua obra, que explora essa mundo secreto, ou sub-mundo, destes personagens que vivem nos meandros da sociedade.
No curta Sangue Corsário há uma citação ao escritor Lautréamont, autor dos Cantos de Maldoror, e talvez o mais maldito dos malditos, e sua obra é mais que a subversão, é a total e completa perversão, e para além, é o choque, a paráfrase onde transgride excertos de outros autores. Em Filme Demência num certo momento há uma cena para lá de intrigante e excepcional, onde a personagem de Wagner declama "FODER, FODER, QUEM SABE GOZAR" num prostíbulo, esta frase é uma referência retirada da peça Hamlet de Shakespeare, na original temos o "Dormir, dormir, quem sabe sonhar". E ali é um dos momentos mais geniais do filme, porque mostra toda erudição de um personagem que se encontra aplicando golpes, tentando ganhar a vida como o bom e velho malandro das sub-culturas, do sub-mundo que foge aos olhos da maioria dos que vivem na grande metrópole paulista, mas que ainda assim é em certo sentido um erudito daquele mundo.
A busca de Fausto de certo modo tem relação com o que acontece com o personagem central de São Paulo Sociedade Anônima, no qual isso é bem explícito se observado com atenção, afinal Reichenbach, escreve nos créditos finais que o filme é dedicado a Luís Sérgio Person. Em ambas as tramas, as personagens buscam uma aspiração superior ao que pode ser encontrado no mundo capitalista, embora o do protagonista de Filme Demência seja um industrial falido, que já não tem nem casamento, é traído, fica de saco cheio e resolve se aventurar numa jornada que é a busca de seu sonho, seu lugar encantado, seu Éden. E Carlos de São Paulo S/A, ao contrário, seja um personagem em completa ascensão financeira, com um casamento dito perfeito nos moldes burgueses mas que também está de saco cheio dessa superficialidade e encarra uma jornada de abandono deste mundo para uma busca que é a rejeição destas ideias superficiais aspiradas pela classe média daquele época em que São Paulo ainda ascendia enquanto pólo industrial e comercial.
Ambas personagens, mesmo que dentro de um contexto burguês em época diferentes, tendo talvez vidas opostos ao que se supõe os comportamentos daquela classe, tem portanto a mesma aspiração de abandono destas frivolidades banais do cotidiano entendiante e sufocante da metrópole, querem sua redenção, abandonam tudo para buscar no caminho algum sentido para aquilo de mais profundo que provém do interno, que está além do que pode ser oferecido dentro destes contextos pré-estabelecidos, dentro dos padrões superficiais de uma sociedade que é dividida em classes e funciona como uma máquina que se consome a si mesma, e nisso consome aos próprios homens que nela vivem, sufocando-os nalguma distração que não permite suas buscas existencialistas. Vivem numa sociedade condenada a um propósito de um não-viver.
Como Henry David Thoreau dissera nalguns excertos de Walden "Os homens trabalham sob o engano. (...) Por um destino ilusório chamado de NECESSIDADE, eles se dedicam (...) a acumular tesouros que serão roídos pelas traças e pela ferrugem e roubados pelos ladrões. É uma vida de tolo, como vão descobrir quando chegarem ao final dela, ou talvez antes.
Eu fui para o bosque porque queria viver deliberadamente, defrontar-me apenas com os fatos essenciais da vida, e ver se podia aprender o que tinha a me ensinar, em vez de descobrir à hora da morte que não tenha vivido."
Segue-se portanto uma busca que é atemporal a todos humanos que querem transcender suas condições de vida impostas pela sociedade, seus anseios não são os anseios materiais, mas espirituais, uma raison d'être, um sentido mais que físico, mas metafísico, que por ora não pode ser alcançado, mas que sempre aspiraram os grandes poetas.
Dia dos Mortos
3.7 304 Assista AgoraApesar desse ter uma melhor produção e excelentes efeitos especiais, as tramas anteriores de Romero sobre os mortos-vivos tinham mais conteúdo sociológico e filosófico a ser extraído. Aqui creio que houve uma tentativa de dar mais ação e um ritmo mais hollywoodiano ao filme. Mas mesmo assim é um filme ousado, e cria novas perspectivas acerca deste mundo zumbificado, ao ponto de nos compadecermos mais com um morto-vivo do que com um humano.
Girl
3.8 161 Assista AgoraNão sei como encontrei este filme e vim a assisti-lo, mas não me arrependo de nada, foi uma sorte tê-lo encontrado assim sem saber do que se tratava e sem nem ter lido qualquer resenha sobre.
O filme mostra não o preconceito explícito ou velado que existe, pois a família é receptiva às escolhas de Lara, não que o filme não mostre isso, mas não se foca nisso, o que quer ser transmito são os sentimentos de Lara, como ela se sente, como sua vida é dificultada, como ela tem que vencer suas batalhas cotidianas, ainda mais pela escolha da personagem de querer se tornar bailarina, coisa que é por demais rigorosa, extenuante e por vezes até violenta.
O filme é a vida de uma adolescente, só que de uma perspectiva não tão debatida no cinema, e o protagonista é primoroso em dar vida à personagem, pois por vezes aquilo era tão convincente que parecia um documentário, sua atuação merecia mais reconhecimento, além dele realmente ser dançarino, ele além de atuar, realmente mostrou sua arte.
Ponto baixo é que a trilha sonora não é assim tão envolvente e não chega num certo clímax que pensei que atingiria. Somente fica à crítica quanto a trilha sonora mesmo, pois esta deveria ser melhor trabalhada.
O Homem Que Matou Dom Quixote
3.2 86 Assista AgoraNão vou mentir, mas esperava mais deste filme, até porque levou mais de 2 décadas para ser concluído. Porém, um ponto alto do filme, apesar de não achá-lo excelente, é que os efeitos especiais práticos foram além do esperado, muito bem feitos e filmados, a fotografia do filme é excelente, assim como as atuações, e como sempre, chegamos a nos envolver tanto na trama que já não sabemos onde termina a realidade e começa a fantasia, ou vice-versa. Intrigante como o Gilliam sobre esta premissa cria um universo tão exuberante e mágico.
E, ao contrário dos últimos trabalhos que vi do diretor (os mais recentes), me deixaram desconfortáveis, pois o uso de CGI me deu uma sensação de artificialidade exagerada e um certo desconserto quanto a qualidade, houve momentos em que achava que estes últimos filmes foram feitos às pressas ou tiveram que ser concluídos com orçamento reduzido, o efeito foi avesso aos trabalhos mais antigos e magistrais do diretor.
O ano de 2005 foi um divisor de águas para quem o acompanha, pois neste ano foram lançados dois de seus filmes; Tideland e Irmãos Grimm, o primeiro considero excelente e excepcional, já o segundo um fracasso, tão raso e medíocre que jamais pensaria que fosse do Gilliam se não fosse a ele dado os créditos no filme. Deste ano seguinte para mim todos os seus filmes abusaram demais da artificialidade do uso da computação frente ao uso dos efeitos especiais mais práticos, pois o deslumbre que o diretor criava girava em torno desses grandes efeitos especiais, tal como em As Aventuras do Barão Munchausen e Brazil o filme, e aqui neste O Homem que Matou Don Quixote Gilliam retorna às origens, e faz jus ao seu tipo de cinema. Creio que deva assisti-lo novamente para criar uma outra percepção dos pormenores que devam ter sido passados abatidos e assim a experiência se torne outra, e me adentre mais na história.
Eles Não Usam Black-Tie
4.3 286Conheci a pouco o trabalho de Leon Hirszman e estou tentando ver todos os seus filmes. Neste aqui o impacto com a realidade daqueles tempos com a nossa atualidade é inevitável, o tema, para nossa infelicidade, é ainda recente e está mais atual do que nunca, se trata da luta de classes.
O filme é atual e impactante não só pela temática do conflito entre classes, mas também sobre o conflito entre familiares, quando os pensamentos dos pais divergem dos dos filhos, a trama é envolvente, e deixa um grande dilema para aqueles que veem o filme, ou seja, de qual lado devemos estar: dos poderosos ou dos explorados.
O filme me envolveu e me remeteu a dois livros sobre greve e luta de classes (e mais muitos conflitos humanos), um chamado "Parque Industrial" de Patrícia Galvão, mais conhecida como Pagu, o outro, "O Germinal" de Émile Zola, ambos podem ser complementares para entender melhor a amplidão da temática do filme de Hirszman.
Salve o Cinema
4.3 38Deveria ter assistido este antes de Um Instante de Inocência, assim imersaria melhor nessa experiência metalinguística cinematográfica!
Uma Viagem Extraordinária
4.1 611 Assista AgoraSó o título já é pretensioso demais, porque para mim nada de extraordinário acontece que não já tenha visto num road movie. A história quer dar um tom de fábula moderna, tentando criar personagens que tem uma certa complexidade, mas que não cativam em momento algum, até mesmo o protagonista parece carecer de tal inteligência certas vezes quando é por demais ingênuo, e em grande parte o filme pareceu desnecessário, principalmente nas imagens da viagem. Pura enrolação.
Não me deixou preso na narrativa, me deixou o oposto, cansado, entendiado, nada demais acontece, e sem contar as cenas melodramáticas e as situações que seriam chave para o filme... bem mal roteirizadas. Sem qualquer clímax. O que mais de extraordinário tem nesse filme é seu orçamento em torno de 33 milhões de dólares e arrecadou em torno de 9 milhões de dólares. A crítica pode ter sido positiva, mas pode mais ser devido a excelente fotografia, mas nada de extraordinário que já não tenha sido visto antes.
Jean-Pierra Jeunet mais uma vez erra em tentar criar uma história fantasiosa, ele estragou a sequência do Alien, que considero o pior de todos, é vergonhoso. Ele tenta querer ser um tipo de Terry Gillian e um pouco de Tim Burton, criando um universo fantástico dentro da própria realidade, mas se sai mal. O grande trabalho dele realmente é o Fabuloso Destino de Amélie Poulain, que considero excelente, tanto a história, o roteiro, a fotografia, e a excepcional trilha sonora. Nalguns outros filmes mais sombrios ele se dá bem, por conseguir criar uma atmosfera surreal como em Delicatessen e Ladrão de sonhos.
O Sacrifício do Cervo Sagrado
3.7 1,2K Assista AgoraLi algumas resenhas que comparam este filme com Mãe! lançado no mesmo ano e que se baseiam em mitologias, mas transpostas par a atualidade. Ambos soam por demais pretensiosos, o primeiro ainda consegue se sair melhor, porque de certa forma há algum sentido dentro da trama, pois a realidade do universo do filme permite aquilo que se passa, já o segundo, não se sai tão bem assim, porque além de pretensioso é por deveras forçado e chato.
No Sacrifício do Cervo Sagrado há uma inquietação que para mim foi a de não fazer sentido aquilo que acontecia para aquele universo, considerei não um erro, mas uma pretensão imensa, pois, faria sentido o mito de Ifigênia dentro de uma outra ocorrência, mas o contexto deveria ser aquele mesmo onde ele se situa, os deuses e humanos eram iguais, e possuíam temperamentos semelhantes, interviam na realidade e no cotidiano. O sacrifício viria para pôr ordem no caos. Adaptações requerem muito mais que isso, requerem uma certa genialidade que poucos alcançam com suas obras. Não sabia sobre o mito de Ifigênia, embora se soubesse, creio que também consideraria o filme o mesmo que considerei. Talvez pelo diretor ser grego e estar mais familiarizado com estas temáticas, possa a ele soar mais normal transpor este mito para atualidade.
Sei que há escritores e cineastas que conseguem fazer isso com maestria, mas aqui não foi o caso, ainda mais se tratando de um filme com atores hollywoodianos, que não me convencem, e desde o princípio me soou que o filme se impunha numa narrativa que enrolou para criar um clima exagerado sobre o que estava porvir.
Os Cavalos de Fogo
4.1 36 Assista AgoraEsteticamente é impecável, não há o que se dizer quanto ao que se refere às imagens captadas, destaque também para a trilha sonora envolvente, que por ora nos leva a crer que estamos num transe, assim como a câmera quando se movimenta freneticamente.
A história deriva de um livro, portanto, não dá pra julgar tanto o roteiro, creio que para os soviéticos seja mais fácil assimilar a história, e entrar na narrativa trágica, porém poética. Eu demorei um pouco para entender algumas das coisas passadas no filme. Alfim a história não era aquilo que pensava que seria.
Andrei Tarkovsky & Sergei Parajanov: Islands
4.0 3Dois gênios singulares que se conheciam e se auto admiravam, suas artes refletem de certa forma aquilo que seus espíritos ansiavam e que queriam transcender.
Ambos perseguidos pela censura, ambos tendo que ter sua arte retalhada em prol de uma arte oficial que era por demais pobre e carecia de uma transcendência. O problema de ambos era que tinham uma espirituosidade que era vista como religiosa, coisa que o então regime soviético quisera combater. Mas mesmo eu, que me considero um ateu, vejo que até quem não acredita em nada ainda sim há muita relevância e sentido naquilo que retratavam, naquilo que quiseram que sentíssemos. É este algo que movimenta a vida humana, que quer elevar-se, como a mulher em o Sacrifício de Tarcovsky, que flutua.
Poderiam ter feito muito mais filmes, ambos tiveram suas vidas cerceadas como suas arte, um sendo até mesmo preso por anos. E me considero um socialista/comunista, se comparado ao que temos de sistema que é o capitalismo como mandante atual, e a crítica é apenas à política ideológica adotada que corrompeu seus valores mais fundamentais, tanto no comunismo da URSS como nos EUA havia censura, em Hollywood houve uma lista imensa de diretores boicotados e perseguidos, portanto a censura está aí, sempre está, e pelo visto continuará.
No capitalismo o que dita às vezes a censura é o poder econômico, tendo os diretores que se encaixar em determinados padrões aceitos pelos estúdios, ou pelo que fará orçamento e dará lucro, como bem podemos notar com está crítica que foi feita por David Lynch em alguns de seus filmes, ou como quando caçavam comunistas, como fizeram nos EUA antes, durante e até depois da guerra fria.
Hoje o que dita a censura é talvez a moralidade, que é usada para exercer ódio das massas manipuláveis (como temos visto no Brasil), onde acreditam que o dinheiro público não deva financiar qualquer tipo de arte, ao menos o que eles consideram arte.
David Cronenberg também foi acusado de utilizar dinheiro público para fazer seu Videodrome, quiseram boicotar o filme, alegando contar violência e conteúdo sexual violento, isso por parte de políticos conservadores canadenses.
Mayhem: Senhores Do Caos
3.5 280Achei que seria um filme meio paspalhão tosqueira, mas me surpreendi pela qualidade, ainda mais tendo visto que foi feito pela VICE.
Pelo que sei da cena de BM muito daquilo que está ali na película é difundido como sendo verdade, e a mensagem do começo do filme deixa transparecer essa intenção, de aquilo ser um filme que não necessariamente precisaria da aprovação de fãs, das pessoas retratadas, etc, mas sim da história que muitos deles mesmo difundiram e de lendas que surgiram daquele estilo extremo de música.
Legal é que a galerinha lá era tudo bem de vida, papai e mamãe bancando os revoltados... e a revolta deles era por? Pela sociedade que eles viviam, onde é um dos países que mais tem IDH no mundo ? Porém sofre por índices altos de suicídios, talvez pela localização geográfica, e pela sociedade até que calma demais (pelo menos na época). Eles queriam curtição, adrenalina...
Eu não curto BM, mas conheço as bandas, conheço essas histórias, e tudo que o filme conta é o que eu sabia a respeito, até nos pormenores, como: Euronymous idolatrar o comunismo/stalinismo e de Varg ser nazista, mas mesmo assim satanista e mais outros "istas" (como os jornalistas o questionam) eram verdades, e o Varg até hoje não deixou de ser um otário.
O filme tem cenas bem fortes, chocantes mesmo, que não sei se deveria ser recomendado para maiores de 16, ao meu ver deveria ser acima de 18 anos.
O que se pode ver é que aqueles jovens eram párias da sociedade, eram apenas jovens que curtiam um estilo de música, escutavam as letras, foram levados a pensar que as letras de uma música (que é arte) deveriam ser verdadeiras, começaram a cultuar o mal, fazer coisas chocantes e extremas, ou seja, levaram a sério demais o que para alguns era apenas brincadeira. E, é bem percebido que eram jovens problemáticos, que tinham traumas, que tinham que ir ao psiquiatra, e isto meio que foi negligenciado em algum ponto de suas vidas. O escape deles foi um tentar ser mais extremo que o outro, chamarem a atenção, posarem de malignos (como dizem mesmo no filme).
Pink Flamingos
3.4 878Acho que a realidade consegue ser mais perturbadora do que esse filme, não sei porque se impressionar, afinal de contas, se pegarem o noticiário dos últimos dias encontrarão lá coisa bem pior, talvez até vídeos de algumas atrocidades espalhadas pelo whatsapp.
Por isso nem me impressionei, e para a época pode te sido ousado - bem ousado- mas é até hoje para alguns, mas há filmes piores, mais perturbadores e impactam mais pela realidade de algumas cenas, a deste acho que a única coisa que fica é que a cena do cocô parece ser real. E isso transparece no nojo da própria personagem mais podre do mundo.
É divertido até certo ponto, é bizarro, usa da contra-cultural mais marginal para dar vida a um mundo desconhecido de muitos, é cheio de tabus, mas tem furos de roteiros muito amadores: e
os policiais que foram mortos? isso não pode e nem deveria passar batido.
No mais hoje existem sim no mundo pessoas que tenta se mostrar umas as outras de suas sub-culturas as mais extremas possíveis. Creio que uma galera que assiste esse filme, talvez, quisesse mesmo estar ali naquela vida, ou sendo a pessoa mais podre do mundo.
Concluindo, não é um filme para Sessão da Tarde. rs
Pixo
4.2 134O documentário é interessante, nos põe a pensar sobre o movimento em torno do pixo, pois o mesmo não pode e acho que nem deve ser considerado um movimento artístico, porque precisa de definições claras de um conceito que inexiste ali, e tal como muitos ora argumentam que o pixo é arte, ora argumentam que é uma coisa contrária à arte, à especulação financeira e à beleza estética.
Em certas hora parece ter mais a ver com adrenalina, confronto, rebeldia pura pois é crime, gera polêmica, e mesmo uns argumentando que hoje o pixo tem algum valor político não vejo isso, pode ter a ver com contextos sociais, mas ali não transparece nenhuma mensagem política, como antes havia, hoje no mais é como um selo, ou um sigilo mágico, um logotipo daqueles que querem no meio urbano deixar seus rastros, como se quisessem marcar um território, em partes mostra que o tal movimento até começou a ter intrigas dentro de si, e se tornaram como gangues rivais. Claramente mostram um comportamento de gangues, como quando o tiozinho sozinho impede alguns de pixarem o prédio, dizem que estão em mais número que ele e o ameaçam - ora isso é anarquismo onde? é rebeldia onde?
Duchamp inverteu um mictório e também pôs um "selo" (assinatura) de R. MUTT nele, os tempos se passaram e... todos sabemos.Os pixos claramente podem não ter um valor mercantil, mas aquilo que atravessa o tempo tem, aquelas pastinhas com as folhas com que eles trocam suas assinaturas um dia terá, será um documento (como bem dizem).
No mais na minha opinião a mensagem contra o sistema é válida quando ela chega ao observador e o põe a refletir (como quando contra a ditadura, ao autoritarismo, etc), mas há os que colocam valor que não existe em certas coisas. Garanto que muitos que diziam que aquilo é anarquia nem devem ter lido nenhum teórico anárquico, e possivelmente suas ideias de anarquia sejam contraditórias.