Clássico inglês dirigido por Carol Reed e com atores do quilate de Joseph Cotten, Alida Vali e Orson Welles. A fotografia em preto e a direção de arte fornecem a esse suspense policial, produzido dentro da estética visual noir, o clima de mistério e imprevisibilidade que envolvem os personagens. Os planos, em diversas cenas, usam o plongé e a câmera em diagonal, intensificando a sensação de desordem e caos. O cenário é a cidade de Budapeste do pós-guerra, fracionada entre as forças aliadas e onde a criminalidade e o mercado negro de consumo prospera. Alguns desenlaces narrativos são ingênuos e, mas mesmo assim O Terceiro Homem é uma obra imperdível.
O melhor filme, entre os três lançados até o momento, da nova adaptação do Planeta dos Macacos iniciada em 2011. Efeitos visuais mais apurados (os efeitos visuais com uso do movecap estão ainda mais surpreendentes !), edição super acelerada com cenas de ação bem desenvolvidas além do componente emocional/afetivo servido ao público com mais vigor do que nas edições anteriores, provocando uma empatia ainda maior ao espelhar em igualdade a personalidade das pessoas com as dos símios. Cesar o líder dos primatas é também um pai de família, cujos valores afetivos o impelem a uma busca pela convivência pacífica entre a sua espécie e a dos humanos. Somente com um acordo de paz é que ele poderá preservar sua prole, garantir a sobrevivência de todos e o fim da guerra. A perfeição utópica do seu caráter, mais civilizado do que os dos próprios humanos, é posta a prova quando a fúria 'animalesca' dos militares avançam contra sua comunidade, respondendo com fúria avassaladora em resposta ao pedido de recuo das agressões. Que a guerra comece !
Matthew McConaughey e os efeitos visuais de A Torre Negra não são suficientes para salvar a adaptação homônima da obra literária escrita por Stephen King da obliviedade. A imersão dos espectador é praticamente inexistente uma vez que o desenvolvimento do roteiro não produz uma empatia entre quem assiste e os personagens. As cenas carecem de espontaneidade e as sequencias são triviais. O clichê da eterna luta entre o bem e o mal e as piadinhas de Idris Elba (que faz o personagem de Roland Deschain, O Pistoleiro) parecem ser os únicos momentos de lógica que resistem as lacunas narrativas sem explicação que vão se amontoando. Sim, A Torre Negra é puro cinema comercial e,assistível, mas não correspondeu as expectativas de pre-lançamento. A parte da construção técnica das imagens é boa, contudo alguns momentos temos a impressão que o diretor tenta adicionar situações e dar um ritmo forçosamente mais acelerado para evitar que o publico da exibição tenha uma ataque de tédio agudo. Por diversas vezes, você se terá a impressão que sua pipoca foi a melhor parte de estar no cinema.
Fotografia e direção de arte sofisticadas neste drama/romance de época. Um bom filme que poderia ter sido melhor ainda, caso dissecasse os personagens e suas vertentes psicológicas com mais profundidade. O roteiro parece se deter muito no aspecto dos acontecimentos em conjunto e esquece a tarefa de casa que é levar ás telas, com mais clareza, a motivação das personagem e assim aproximá-las do publico. É sob os olhos de deslumbramentos da protagonista, a empregada Szebeni, que testemunha as atividades de interdependência entre Elza e Oramlany (a governanta), que o filme ganha forma. A paixão é o sentimento onipresente no fervor cultural e libertino da Hungria do início do século XIX assim como é a hipocrisia da sociedade reacionária na manutenção do status, mesmo que falido, de puritanismo. Um folhetim adaptado luxuosamente para o cinema.
Nada de novo neste drama elementar de apelo genérico que mostra os percalços de uma aspirante a modelo que sai da Dinamarca para tentar a sorte no concorrido mundo da moda de Paris. Fora os desafios e a concorrência num dos mercados mais ferozes do mundo a jovem Ema terá que administrar suas escolhas e lidar com sua própria imaturidade se quiser evitar que sua vida pessoal/profissional não entre em colapso. O roteiro é simples, linear e objetivo. As boas atuações fazem de Top Model um filme agradável, tradicional, mas sem nenhum elemento que lhe dê um maior destaque.
Improvável que Hollywood, algum dia, deixe de aproveitar as sequencias de uma franquia de alta rentabilidade em favor da coerência narrativa. Se continuar uma história anteriormente já bem finalizada, forçaria muito a barra, que tal falarmos sobre os antecedentes que levaram aquele fato ? Os roteiristas por lá tem criatividade suficiente para ressuscitar até Lázaro, quanto mais manter na ativa um filão lucrativo. Na escassez quase absoluta de bons filmes de terror, os fãs do gênero irão gostar de Annabelle 2 - A Criação do Mal que relata os antecedentes que fizeram com que esta boneca se tornasse tão ou mais famosa que Chucky, o brinquedo assassino. Com sustos sendo operados quase que de forma constante, este número dois da série Annabelle é, de longe, o que tem mais cenas de medo. Embora os produtores tenha caprichado na criação de um filme horripilante, seja na edição acelerada, na fotografia (que trabalha as cenas com fantasmas com realismo durante a iluminação dia/noite), nos efeitos visuais bem executados e na participação de crianças injetando um desespero maior pelo componente da inocência, o percentual do uso de clichês continua alto e a previsibilidade do desenrolar das sequencias é quase certa. Se este não é o mais criativo dos filmes, com certeza é o que mais se empenha para dar ao público mais sobressaltos.
O vampirismo possui no cinema uma vasta filmografia indo das produções silenciosas dos anos vinte até os blockbusters contemporâneos. Entre o folclore fantástico e os transtornos psíquicos a sede por sangue exibe os diversos matizes do fetiche clássico do imaginário popular. Em A Transfiguração, filme que pode ser categorizado mais como 'de arte' do que um terror, a psicopatia de um adolescente pelo líquido vermelho faz com que este se identifique com a mítica criatura das trevas. Em um cenário que dispõe de um grupo humano fértil para identificação de transtornos mentais (viciados em drogas, ex-combatente de guerra, vitimas de violência doméstica, gangsterismo) o jovem Milo é apenas uma das faces trágicas da juventude perdida no subúrbio de Nova Iorque. O filme consegue ser desconcertante com as cenas de violência e ao mesmo tempo intimidador com os extremos de loucura de que são capazes os personagens. As interpretações parecem enaltecer o ambiente desagregado e sem afeto daquela comunidade. Os sentimentos são poucos externados e essa distancia se mostra clara na relação triangular e a mais próxima do gostar que existe entre Kevin (irmão)-Milo-Sophie (namorada). Essa postura do elenco acompanha as cores frias, sem vigor e opacas utilizada pela fotografia no que parece ser um ambiente indiferente ao brilho, sem vida. Embora exista a preocupação de salientar os desajustes e suas consequências, A Transfiguração aponta pistas de antecedentes da insanidade sem fazer com que se tornem justificativas. O ponto fraco de A Transfiguração é que ele perde a objetividade, desacelerando. A lentidão com que o diretor desenvolve a narrativa é além da necessária. Se a construção fílmica é feita a conta gotas, poderia ele ter trabalhado melhor a profundidade, os objetivos dos conflitos nos personagens centrais e suas conexões. Essa estratégia daria mais coesão e substancia, deixando o filme melhor delineado.
Na adolescência o sentido da afirmação do caráter se torna mais imperativo do que nunca. Em O Garoto das Árvores você terá um interessante vislumbrar do amadurecimento humano diante dos dramas inerentes da idade. O filme faz um recorte de um grupo de amigos 'teens' que se identificam basicamente pelo valor de dominância que exercem na localidade. A necessidade de pertencer, decidir, liderar e até mesmo excluir os indesejados dessa elite juvenil, pode ser cruel e aterradora. Os conflitos assumem ares ainda mais assustadores quando ocorrem na noite de Halloween e os fatos e a fantasia entram em um túnel difuso pondo em dúvida a realidade e potencializando o clima ameaçador. Seria a puberdade uma fase tão sinistra quanto o dia das bruxas ? As alegorias com que o filme dispõe as cenas, embora didáticas, servem para narrar a história clássica da evolução das relações e a dificuldade de compreender o próximo. Os Garotos nas Árvores padece, no entanto, por não ter uma montagem mais vigorosa, por artificializar embates o que extrai a credibilidade de algumas circunstâncias e pela inconsistência da fotografia que não permite uma melhor imersão visual. Algumas cenas são desnecessárias e desfazem o climax ao diluir a carga emocional mais importante em situações de banalidade. De resto, um bom filme.
Os filmes de baixo orçamento dos anos 50/60 procuravam deter uma certa lógica, mesmo que absurda, em seus roteiros. Invasão Alienígena, embora faça uma referencia nostálgica aos filmes de ficção B que inundavam os cinemas há 60 anos atrás, esqueceu-se que uma construção imagética deve ter o mínimo de coerência para que possa ser comprada pelo espectador. Abdicando deste pressuposto de empatia, Invasão Alienígena põe o público dentro de um formato de ficção/terror trash que subestima a inteligência alheia e faz do tosco um insulto ao bom senso. Se o objetivo era ser levado a sério, Wesley Snipes não imprimiu, nem como uma grande brincadeira, essa condição. A saída era assumir a estética da limitação de recursos tão bem empregada por realizadores como Roger Corman, Jack Arnold, Edward Cahn que rodaram em condições precárias filmes 'vagabundos', mas com uma técnica e com uma atenção em estabelecer um eixo narrativo com coerência mesmo sem um grande financiamento. Invasão AlienÍgena erra ao querer ser sério e fazer piada ao mesmo tempo quando não há graça em nenhuma das duas alternativas.
A sequencia de O Planeta dos Macacos a Origem lançada em 2014, não desaponta o público ávido pela segunda parte da história. Os efeitos visuais são explorados com uma generosidade maior do que o do primeiro filme em 2011. A edição ágil privilegia as cenas aceleradas nas sequencias de perseguição. O aspecto psicológico dos personagens realça a tendência de igualdade entre as espécies no que tange aos desvios de comportamentos egóicos motivados por ingredientes típicos dos seres chamados racionais: vingança, detenção de poder e inveja. Estas qualidades guiarão as raças a uma iminente guerra. Diversão garantida.
A versão 2011 de O Planeta dos Macacos ganha nova roupagem, efeitos visuais de ponta, e dá início ao fracionamento da saga em capítulos apresentados de forma muito mais detalhada do que na adaptação original dos anos sessenta. Tendo como protagonista 'humano' o ator James Franco, A Origem fornece ao espectador as bases do início dessa revolução símia. Os alertas sobre a manipulação de drogas e os efeitos e o risco de seus efeitos é o mote para que se instaure um estado de caos em que os macacos irão prosperar. Reunindo elementos da ficção científica com comédia, aventura e suspense houve a preocupação por parte dos produtores em minimizar a carga de densidade psicológica e da violência a fim de que o filme tivesse menos restrições, facilitando uma classificação mais branda e consequentemente aumentando as chances de um maior retorno comercial. Os alertas sobre a manipulação genética das espécies escoa também não apenas para um viés de risco à saúde humana, mas também para a vida dos animais usados como cobais de laboratório. O Planeta dos Macacos A Origem por seu visual mais plastificado a base de CGI obviamente não tem o charme nostálgico da coletânea de mais de quase cinco décadas atras, mas funciona de forma satisfatória como espetáculo de puro entretenimento.
Fazia tempo que o cinema policial de entretenimento não infligia ao espectador um grau de satisfação e prazer tão grande como no espanhol Um Contratempo. Munido com uma história verosímil, o roteiro de reviravoltas dispõe com maestria os acontecimentos desencadeados por um acidente automobilístico cujas consequências desaguam em águas muito mais escuras. Nenhuma das cenas utilizadas pelo diretor nesta edição/montagem (perfeita !) se descarta. Lastreada por flashbacks que refletem uma pluralidade de depoimentos, o real esconde-se em qualquer lugar entre as várias versões que se contradizem. Nenhuma cena é irrelevante. Cada circunstância é indispensável para formar e se reavaliar a verdade dos fatos narrados, onde a incerteza e a desconstrução das ideias é a tônica do suspense. Nesta cadência de expectativa crescente, o desenvolvimento narrativo desenvolve a escalada do clímax de forma catártica e surpreendente. Imperdível.
Realizado três anos após Roberto Rossellini ter feito Roma Cidade Aberta (produção considerada como o marco inicial do neorealismo italiano), Ladrões de Bicicleta arrebatou o público em sua época. Até meados da década de 50 era considerado pela crítica especializada como o melhor filme de todos os tempos, perdendo a coroa de número um após Cidadão Kane ter sido redescoberto pela Cahiers du Cinema/André Bazin. O filme de Lucchino Viscotti foi construído num período de menos escassez em relação a Roma Cidade Aberta, mas todos os ingredientes que destacavam a dificuldade financeira do pós-guerra e que motivou o movimento estavam presentes: atores não profissionais, iluminação natural com quase a totalidade das cenas feitas externamente, temas ligados ao esforço de sobrevivência de parcela da sociedade no momento de profunda crise econômica. Cada cena tinha que ser gravada com poucos 'takes' uma vez que as películas para o registro das imagens eram caras e difíceis de serem adquiridas. Apesar de todas as diversidades, a técnica e a percepção sensível de Visconti na organização da misce-en-scene e na disposição da fotografia prevaleceriam e Ladrões de Bicicleta passaria a ser reconhecido mundialmente como uma obra prima da sétima arte. Visconti faz um filme com ar documental a partir do momento que extrai poesia do cotidiano sofrido da população italiana menos favorecida, desamparada e que diretamente foi o alvo secundário pelos anos de conflito. A câmera vai acompanhando o trajeto de Antonio que sob o olhar do filho Bruno na luta por um mínimo de dignidade e sem nunca perder o afeto. E a lente da câmera continua deslizando por entre os personagens, seguindo seus passos, contornando-os, salientando suas emoções. Plano abertos vislumbram a pulsante cidade de Roma em uma era de retomada de crescimento, mas ainda marcada pelos males dos anos passados e inglórios que despertam o desespero e a ingenuidade dos mais crédulos nas mais diversas categorias da criminalidade: charlatanismos, comércio negro de mercadorias e a falta de oportunidades se mostram como o mais trágico resultado do desemprego em níveis desafiadores. Planos fechados nos rostos dos protagonistas revelam os contrastes entre a inocência de Bruno e a desesperança de seu pai, Antonio, num momento incerto da vida de um povo sofrido, mas que vive sempre sob um fio de esperança e com a dignidade sempre submetida a provas. Um retrato de uma época italiana que ficou no passado, mas que parece bem ser o estado permanente de um Brasil em luta constante pela superação em meio ao caos. O sentido do neorealismo italiano foi, juntamente com as ideias da 'nouvelle vague' francesa, um dos norteadores do Cinema Novo Brasileiro que prosperou principalmente nos anos 60/70 e que influenciaria dali em diante toda a nossa filmografia.
Uma animação simples, de traços modestos, porém com uma incomparável delicadeza na exposição das ideias e das denúncias. O roteiro é executado de forma tão vigorosa e objetiva que dispensa o uso de um idioma específico para se fazer entender. O Menino e o Mundo descortina um universo que é explorado de forma lúdica pelo personagem central. A criança, o Menino que dá título a obra, sai do campo em que mora e vai em busca do pai que foi a grande metrópole. Nesta jornada ao desconhecido ele percebe a sua volta um ambiente hostil, ameaçador e em processo de degradação. Apesar do choque visual, o Menino processa as ideias sem que isso impeça o seu olhar poético de interpretar as imagens e os sons que inundam toda sua trajetória. O filme de Alê Abreu guarda surpresas em seu desenrolar, tornado-se uma das melhores produções do audiovisual brasileiro em 2013 e sendo inclusive indicada ao Oscar de melhor animação.
Como parte de um esforço motivacional, o conjunto da indústria do cinema de Hollywood engajou-se na luta contra os regimes fascistas que se expandiam na Europa causando a maior e mais duradoura guerra já vista. Todos os principais estúdios na década de quarenta produziram, em larga escala, uma filmografia documental e ficcional. Estas produções ao mesmo tempo que encorajavam o combate contra as forças do eixo através de boletins jornalísticos e propagandas de incentivo moral, fornecia um alivio escapista a população mesclando elementos de uma realidade com outros de pura fantasia criativa. O pano de fundo era quase sempre direta ou indiretamente o ambiente de intensos conflitos, as incertezas e a destruição que afligia o mundo e, de várias maneiras, afetavam a vida de todos. Em Coração de Uma Cidade, o roteiro fala de resistência que aqui é representada na figura de uma teatro londrino que insiste em manter-se funcionando mesmo sob o risco de ser bombardeado pelas forças alemãs nas chamadas 'Blitz'. Feito pela Columbia e estrelado pela sua primeira dama, a inigualável Rita Hayworth (radiante como sempre), Coração de Uma Cidade é um musical/romance/drama que apresenta um roteiro linear, com boas cenas coreografadas, boas interpretações e conflitos amorosos que ingenuamente vão se resolvendo sob as máculas da guerra. O show que continua e a vida que prevalece, fortalecendo-se com as perdas.
Carros, explosões, clichês a vontade, sequências inverossímeis e caricaturas dos arquétipos herói e vilão, fazem deste novo episódio de Velozes e Furiosos mais um capítulo da infindável e lucrativa saga. Fora toda a pirotecnia de efeitos visuais envolvendo as costumeiras cenas de perseguições o filme liderado por Vin Diesel e Dwayne Johnson contou com a participação de Charlize Theron como a inimiga de mentalidade patética que ainda sonha, nostalgicamente, em 'dominar o mundo'. Embora você saiba como a trama ira se processar, o fator entretenimento que ele se propõe alcança o objetivo. Velozes e Furiosos 8 se concretiza em sua finalidade de entretenimento em seus 136 minutos de subidas e descidas como em uma montanha russa no parque de diversões. Se curtir o gênero e não enjoar com as curvas fechadas, essa é a sua pedida.
Na sequencia do filme de 2014, John Wick 2 ostenta uma produção mais cara com cenas de ações e efeitos visuais complexos, mas com os mesmo ingredientes de apelo: perseguições frenéticas e embates alucinantes que leva o protagonista ao limite de sua milagrosa sobrevivência. O discurso latente é o da vingança que, mais uma vez, o fará quebrar seus votos de recolhimento a uma vida 'normal'. E começa tudo de novo...
Filme de ação hollywoodiano com bastante violência e que preenche os requisitos fundamentais do gênero para o agrado universal: história enxuta, edição acelerada, boas cenas de luta e anti-heroísmo. O cenário é a cidade de Nova Iorque que, vista de forma irônica pelo roteiro, se eleva como uma metrópole definitiva e altamente profissional onde até os criminosos possuem uma infraestrutura adequada para a realização de seus negócios. Keanu Reeves, reproduzindo sua tradicional cara de paisagem, protagoniza o clássico ex-assassino de aluguel que se torna o bom moço vingador após uma breve aposentadoria no uso de pistolas automáticas. Wiilliam Dafoe, como coadjuvante e com uma atuação total de menos de cinco minutos, é o destaque no elenco. John Wick repagina visualmente os filmes 'pancadaria' e dá início a uma nova e lucrativa série cinematográfica.
O ingrediente sobrenatural por si só não torna um filme de terror autoexplicativo. Awaken the Shadowman deixa o espectador completamente perdido em quase tudo. Do início ao fim tentamos nos situar para termos um mínimo de definição das motivações e mudanças repentinas da índole dos protagonistas, das súbitas exclusões de personagens que pareciam ter alguma relevância na trama e do nexo das sequencias. Direção totalmente comprometida com um roteiro fraco, mal acabado e desinteressante. Quem estiver procurando um filme legal de terror embarcará em uma busca frustrada, pois do ínicio ao fim o longa Awaken the Shadow Man não passa de uma embromação em que não se permite ao público saber o que se passa, quanto mais ventilar um entendimento minimamente lógico para dar a ele a chance de se assustar com algo. Total delírios dos produtores. Bomba total !
A cultura dos anos noventa aparece como um fetiche nonsense para os jovens desta década. Logo de cara Pânico na Escola se inspira, iniciando já pelo proprio título, no clássico de terror 'teen' Pânico dirigido por Wes Craven em 1996. Fazendo alusões nostálgicas e constantes à música, cinema, moda e estilo do que acontecia há duas décadas passadas e o choque de comportamentos com os adolescentes que foram nascidos e criados no ambiente contemporâneo de total dependência da intermete e da tecnologia. Pânico na Escola é uma comédia/terror/ficção escrita com humor de deboche e com o pastiche predominando nas cenas de 'suspense'. O eixo narrativo do filme fica trucado, em vários momentos, por tentar englobar e desenvolver as piadas num formato singular, extraindo a noção de continuidade do longa metragem. Com esse aspecto, por vezes, fragmentado das cenas, nos passa a impressão de um filme de quadros em que cada sequencia é independente da outra. O roteiro teve dificuldade de organizar e dispor com fluidez e ritmo a riqueza de referencias fazendo-o ficar arrastado. Embora as parodias, a ênfase nas diferenças e as redefinições de expectativas no embate entre as gerações sejam apontadas inteligentemente, o resultado poderia ser mais interessante se houvesse mais coesão narrativa.
Um thriller de suspense simples, de baixo orçamento, porém extremamente efetivo. A base é um roteiro bem escrito e dirigido em que se trabalha a ação em dois tempos diegéticos. O Acampamento soube desenvolver a tensão de forma constante, numa escalada vertiginosa até o clímax com os elementos fílmicos atuando sinergicamente. Surpreendente pela fluidez e as estratégias de criar empatia entre o público e os personagens que foram bem interpretados. Cenas de violência com uma intensidade 'hardcore' que podem chocar os mais incautos.
Filmar parece ser algo tão fácil quanto matar. Deve ser por isso que o psicopata em Lake Alice tem uma tara em capturar as imagens através da lente da câmera. Deve ser por isso também que qualquer um acha que para fazer um filme de terror envolvendo serial killers e afins é necessário apenas um punhado de vítimas fáceis ..ops, quero dizer, pessoas, alguns litros de sangue artificial e instinto assassino. Infelizmente é isso que se passa nessa produção capenga e sem a menor boa vontade de se fazer interessante. Um roteiro que tem mais furos que uma peneira e que ignora por completo a nossa capacidade de raciocínio. Ele se estrutura sobre falsas premissas e, forçosamente, tenta criar reviravoltas sem a menor efetividade. Dispensável.
Fotografia de primeira para um filme de segunda. Quanta técnica desperdiçada para algo tão medíocre. Utilizando um controle sofisticado de fotografia: planos abertos, fechados, detalhes, tomadas aéreas e uso de filtros que tratam a imagem deixando-a com uma qualidade irrepreensível de beleza. Tecnicamente não há o que se falar, mas em se tratando de roteiro e interpretações é tudo muito constrangedor. Ficamos na linha divisória entre o riso e a raiva. Uma das produções mais patéticas, sinistras e de mal gosto que eu já assisti.
Impressionante adaptação para 'live action' do desenho A Bela e a Fera que foi produzido pelos estúdios da Disney em 1992 e que fez com que, na época, pela primeira vez, uma produção no formato animação concorresse na categoria principal de melhor filme. Direção de arte, efeitos especiais, figurinos, cenas musicais, canções e trilha sonora convergem em uma reprodução quase que idêntica do que foi feito há 25 anos atrás. Apenas após esse período é que se conseguiu apurar uma tecnologia que pudesse conceber uma versão com atores reais. Sem perder a beleza visual na construção das imagens, a Disney apurou ao máximo a qualidade do aspecto de uma 'magia real' que é inerente para a ambientação da história. O cuidado na delicadeza da composição das cenas é espantoso. As performances e imagens dos protagonistas - Emma Watson, Luke Evans, Dan Stevens - não decepcionam o que nosso imaginário infantil poderia esperar de suas representações. Marcante.
O Terceiro Homem
4.2 175 Assista AgoraClássico inglês dirigido por Carol Reed e com atores do quilate de Joseph Cotten, Alida Vali e Orson Welles. A fotografia em preto e a direção de arte fornecem a esse suspense policial, produzido dentro da estética visual noir, o clima de mistério e imprevisibilidade que envolvem os personagens. Os planos, em diversas cenas, usam o plongé e a câmera em diagonal, intensificando a sensação de desordem e caos. O cenário é a cidade de Budapeste do pós-guerra, fracionada entre as forças aliadas e onde a criminalidade e o mercado negro de consumo prospera. Alguns desenlaces narrativos são ingênuos e, mas mesmo assim O Terceiro Homem é uma obra imperdível.
Planeta dos Macacos: A Guerra
4.0 970 Assista AgoraO melhor filme, entre os três lançados até o momento, da nova adaptação do Planeta dos Macacos iniciada em 2011. Efeitos visuais mais apurados (os efeitos visuais com uso do movecap estão ainda mais surpreendentes !), edição super acelerada com cenas de ação bem desenvolvidas além do componente emocional/afetivo servido ao público com mais vigor do que nas edições anteriores, provocando uma empatia ainda maior ao espelhar em igualdade a personalidade das pessoas com as dos símios. Cesar o líder dos primatas é também um pai de família, cujos valores afetivos o impelem a uma busca pela convivência pacífica entre a sua espécie e a dos humanos. Somente com um acordo de paz é que ele poderá preservar sua prole, garantir a sobrevivência de todos e o fim da guerra. A perfeição utópica do seu caráter, mais civilizado do que os dos próprios humanos, é posta a prova quando a fúria 'animalesca' dos militares avançam contra sua comunidade, respondendo com fúria avassaladora em resposta ao pedido de recuo das agressões. Que a guerra comece !
A Torre Negra
2.6 839 Assista AgoraMatthew McConaughey e os efeitos visuais de A Torre Negra não são suficientes para salvar a adaptação homônima da obra literária escrita por Stephen King da obliviedade. A imersão dos espectador é praticamente inexistente uma vez que o desenvolvimento do roteiro não produz uma empatia entre quem assiste e os personagens. As cenas carecem de espontaneidade e as sequencias são triviais. O clichê da eterna luta entre o bem e o mal e as piadinhas de Idris Elba (que faz o personagem de Roland Deschain, O Pistoleiro) parecem ser os únicos momentos de lógica que resistem as lacunas narrativas sem explicação que vão se amontoando. Sim, A Torre Negra é puro cinema comercial e,assistível, mas não correspondeu as expectativas de pre-lançamento. A parte da construção técnica das imagens é boa, contudo alguns momentos temos a impressão que o diretor tenta adicionar situações e dar um ritmo forçosamente mais acelerado para evitar que o publico da exibição tenha uma ataque de tédio agudo. Por diversas vezes, você se terá a impressão que sua pipoca foi a melhor parte de estar no cinema.
A Garota Húngara
3.3 67Fotografia e direção de arte sofisticadas neste drama/romance de época. Um bom filme que poderia ter sido melhor ainda, caso dissecasse os personagens e suas vertentes psicológicas com mais profundidade. O roteiro parece se deter muito no aspecto dos acontecimentos em conjunto e esquece a tarefa de casa que é levar ás telas, com mais clareza, a motivação das personagem e assim aproximá-las do publico. É sob os olhos de deslumbramentos da protagonista, a empregada Szebeni, que testemunha as atividades de interdependência entre Elza e Oramlany (a governanta), que o filme ganha forma. A paixão é o sentimento onipresente no fervor cultural e libertino da Hungria do início do século XIX assim como é a hipocrisia da sociedade reacionária na manutenção do status, mesmo que falido, de puritanismo. Um folhetim adaptado luxuosamente para o cinema.
Top Model
2.8 96 Assista AgoraNada de novo neste drama elementar de apelo genérico que mostra os percalços de uma aspirante a modelo que sai da Dinamarca para tentar a sorte no concorrido mundo da moda de Paris. Fora os desafios e a concorrência num dos mercados mais ferozes do mundo a jovem Ema terá que administrar suas escolhas e lidar com sua própria imaturidade se quiser evitar que sua vida pessoal/profissional não entre em colapso. O roteiro é simples, linear e objetivo. As boas atuações fazem de Top Model um filme agradável, tradicional, mas sem nenhum elemento que lhe dê um maior destaque.
Annabelle 2: A Criação do Mal
3.3 1,1K Assista AgoraImprovável que Hollywood, algum dia, deixe de aproveitar as sequencias de uma franquia de alta rentabilidade em favor da coerência narrativa. Se continuar uma história anteriormente já bem finalizada, forçaria muito a barra, que tal falarmos sobre os antecedentes que levaram aquele fato ? Os roteiristas por lá tem criatividade suficiente para ressuscitar até Lázaro, quanto mais manter na ativa um filão lucrativo. Na escassez quase absoluta de bons filmes de terror, os fãs do gênero irão gostar de Annabelle 2 - A Criação do Mal que relata os antecedentes que fizeram com que esta boneca se tornasse tão ou mais famosa que Chucky, o brinquedo assassino. Com sustos sendo operados quase que de forma constante, este número dois da série Annabelle é, de longe, o que tem mais cenas de medo. Embora os produtores tenha caprichado na criação de um filme horripilante, seja na edição acelerada, na fotografia (que trabalha as cenas com fantasmas com realismo durante a iluminação dia/noite), nos efeitos visuais bem executados e na participação de crianças injetando um desespero maior pelo componente da inocência, o percentual do uso de clichês continua alto e a previsibilidade do desenrolar das sequencias é quase certa. Se este não é o mais criativo dos filmes, com certeza é o que mais se empenha para dar ao público mais sobressaltos.
A Transfiguração
3.2 83 Assista AgoraO vampirismo possui no cinema uma vasta filmografia indo das produções silenciosas dos anos vinte até os blockbusters contemporâneos. Entre o folclore fantástico e os transtornos psíquicos a sede por sangue exibe os diversos matizes do fetiche clássico do imaginário popular. Em A Transfiguração, filme que pode ser categorizado mais como 'de arte' do que um terror, a psicopatia de um adolescente pelo líquido vermelho faz com que este se identifique com a mítica criatura das trevas. Em um cenário que dispõe de um grupo humano fértil para identificação de transtornos mentais (viciados em drogas, ex-combatente de guerra, vitimas de violência doméstica, gangsterismo) o jovem Milo é apenas uma das faces trágicas da juventude perdida no subúrbio de Nova Iorque. O filme consegue ser desconcertante com as cenas de violência e ao mesmo tempo intimidador com os extremos de loucura de que são capazes os personagens. As interpretações parecem enaltecer o ambiente desagregado e sem afeto daquela comunidade. Os sentimentos são poucos externados e essa distancia se mostra clara na relação triangular e a mais próxima do gostar que existe entre Kevin (irmão)-Milo-Sophie (namorada). Essa postura do elenco acompanha as cores frias, sem vigor e opacas utilizada pela fotografia no que parece ser um ambiente indiferente ao brilho, sem vida. Embora exista a preocupação de salientar os desajustes e suas consequências, A Transfiguração aponta pistas de antecedentes da insanidade sem fazer com que se tornem justificativas. O ponto fraco de A Transfiguração é que ele perde a objetividade, desacelerando. A lentidão com que o diretor desenvolve a narrativa é além da necessária. Se a construção fílmica é feita a conta gotas, poderia ele ter trabalhado melhor a profundidade, os objetivos dos conflitos nos personagens centrais e suas conexões. Essa estratégia daria mais coesão e substancia, deixando o filme melhor delineado.
Os Garotos nas Árvores
3.2 66 Assista AgoraNa adolescência o sentido da afirmação do caráter se torna mais imperativo do que nunca. Em O Garoto das Árvores você terá um interessante vislumbrar do amadurecimento humano diante dos dramas inerentes da idade. O filme faz um recorte de um grupo de amigos 'teens' que se identificam basicamente pelo valor de dominância que exercem na localidade. A necessidade de pertencer, decidir, liderar e até mesmo excluir os indesejados dessa elite juvenil, pode ser cruel e aterradora. Os conflitos assumem ares ainda mais assustadores quando ocorrem na noite de Halloween e os fatos e a fantasia entram em um túnel difuso pondo em dúvida a realidade e potencializando o clima ameaçador. Seria a puberdade uma fase tão sinistra quanto o dia das bruxas ? As alegorias com que o filme dispõe as cenas, embora didáticas, servem para narrar a história clássica da evolução das relações e a dificuldade de compreender o próximo. Os Garotos nas Árvores padece, no entanto, por não ter uma montagem mais vigorosa, por artificializar embates o que extrai a credibilidade de algumas circunstâncias e pela inconsistência da fotografia que não permite uma melhor imersão visual. Algumas cenas são desnecessárias e desfazem o climax ao diluir a carga emocional mais importante em situações de banalidade. De resto, um bom filme.
Invasão Alienígena
1.6 159 Assista AgoraOs filmes de baixo orçamento dos anos 50/60 procuravam deter uma certa lógica, mesmo que absurda, em seus roteiros. Invasão Alienígena, embora faça uma referencia nostálgica aos filmes de ficção B que inundavam os cinemas há 60 anos atrás, esqueceu-se que uma construção imagética deve ter o mínimo de coerência para que possa ser comprada pelo espectador. Abdicando deste pressuposto de empatia, Invasão Alienígena põe o público dentro de um formato de ficção/terror trash que subestima a inteligência alheia e faz do tosco um insulto ao bom senso. Se o objetivo era ser levado a sério, Wesley Snipes não imprimiu, nem como uma grande brincadeira, essa condição. A saída era assumir a estética da limitação de recursos tão bem empregada por realizadores como Roger Corman, Jack Arnold, Edward Cahn que rodaram em condições precárias filmes 'vagabundos', mas com uma técnica e com uma atenção em estabelecer um eixo narrativo com coerência mesmo sem um grande financiamento. Invasão AlienÍgena erra ao querer ser sério e fazer piada ao mesmo tempo quando não há graça em nenhuma das duas alternativas.
Planeta dos Macacos: O Confronto
3.9 1,8K Assista AgoraA sequencia de O Planeta dos Macacos a Origem lançada em 2014, não desaponta o público ávido pela segunda parte da história. Os efeitos visuais são explorados com uma generosidade maior do que o do primeiro filme em 2011. A edição ágil privilegia as cenas aceleradas nas sequencias de perseguição. O aspecto psicológico dos personagens realça a tendência de igualdade entre as espécies no que tange aos desvios de comportamentos egóicos motivados por ingredientes típicos dos seres chamados racionais: vingança, detenção de poder e inveja. Estas qualidades guiarão as raças a uma iminente guerra. Diversão garantida.
Planeta dos Macacos: A Origem
3.8 3,2K Assista AgoraA versão 2011 de O Planeta dos Macacos ganha nova roupagem, efeitos visuais de ponta, e dá início ao fracionamento da saga em capítulos apresentados de forma muito mais detalhada do que na adaptação original dos anos sessenta. Tendo como protagonista 'humano' o ator James Franco, A Origem fornece ao espectador as bases do início dessa revolução símia. Os alertas sobre a manipulação de drogas e os efeitos e o risco de seus efeitos é o mote para que se instaure um estado de caos em que os macacos irão prosperar. Reunindo elementos da ficção científica com comédia, aventura e suspense houve a preocupação por parte dos produtores em minimizar a carga de densidade psicológica e da violência a fim de que o filme tivesse menos restrições, facilitando uma classificação mais branda e consequentemente aumentando as chances de um maior retorno comercial. Os alertas sobre a manipulação genética das espécies escoa também não apenas para um viés de risco à saúde humana, mas também para a vida dos animais usados como cobais de laboratório. O Planeta dos Macacos A Origem por seu visual mais plastificado a base de CGI obviamente não tem o charme nostálgico da coletânea de mais de quase cinco décadas atras, mas funciona de forma satisfatória como espetáculo de puro entretenimento.
Um Contratempo
4.2 2,0KFazia tempo que o cinema policial de entretenimento não infligia ao espectador um grau de satisfação e prazer tão grande como no espanhol Um Contratempo. Munido com uma história verosímil, o roteiro de reviravoltas dispõe com maestria os acontecimentos desencadeados por um acidente automobilístico cujas consequências desaguam em águas muito mais escuras. Nenhuma das cenas utilizadas pelo diretor nesta edição/montagem (perfeita !) se descarta. Lastreada por flashbacks que refletem uma pluralidade de depoimentos, o real esconde-se em qualquer lugar entre as várias versões que se contradizem. Nenhuma cena é irrelevante. Cada circunstância é indispensável para formar e se reavaliar a verdade dos fatos narrados, onde a incerteza e a desconstrução das ideias é a tônica do suspense. Nesta cadência de expectativa crescente, o desenvolvimento narrativo desenvolve a escalada do clímax de forma catártica e surpreendente. Imperdível.
Ladrões de Bicicleta
4.4 533 Assista AgoraRealizado três anos após Roberto Rossellini ter feito Roma Cidade Aberta (produção considerada como o marco inicial do neorealismo italiano), Ladrões de Bicicleta arrebatou o público em sua época. Até meados da década de 50 era considerado pela crítica especializada como o melhor filme de todos os tempos, perdendo a coroa de número um após Cidadão Kane ter sido redescoberto pela Cahiers du Cinema/André Bazin. O filme de Lucchino Viscotti foi construído num período de menos escassez em relação a Roma Cidade Aberta, mas todos os ingredientes que destacavam a dificuldade financeira do pós-guerra e que motivou o movimento estavam presentes: atores não profissionais, iluminação natural com quase a totalidade das cenas feitas externamente, temas ligados ao esforço de sobrevivência de parcela da sociedade no momento de profunda crise econômica. Cada cena tinha que ser gravada com poucos 'takes' uma vez que as películas para o registro das imagens eram caras e difíceis de serem adquiridas. Apesar de todas as diversidades, a técnica e a percepção sensível de Visconti na organização da misce-en-scene e na disposição da fotografia prevaleceriam e Ladrões de Bicicleta passaria a ser reconhecido mundialmente como uma obra prima da sétima arte. Visconti faz um filme com ar documental a partir do momento que extrai poesia do cotidiano sofrido da população italiana menos favorecida, desamparada e que diretamente foi o alvo secundário pelos anos de conflito. A câmera vai acompanhando o trajeto de Antonio que sob o olhar do filho Bruno na luta por um mínimo de dignidade e sem nunca perder o afeto. E a lente da câmera continua deslizando por entre os personagens, seguindo seus passos, contornando-os, salientando suas emoções. Plano abertos vislumbram a pulsante cidade de Roma em uma era de retomada de crescimento, mas ainda marcada pelos males dos anos passados e inglórios que despertam o desespero e a ingenuidade dos mais crédulos nas mais diversas categorias da criminalidade: charlatanismos, comércio negro de mercadorias e a falta de oportunidades se mostram como o mais trágico resultado do desemprego em níveis desafiadores. Planos fechados nos rostos dos protagonistas revelam os contrastes entre a inocência de Bruno e a desesperança de seu pai, Antonio, num momento incerto da vida de um povo sofrido, mas que vive sempre sob um fio de esperança e com a dignidade sempre submetida a provas. Um retrato de uma época italiana que ficou no passado, mas que parece bem ser o estado permanente de um Brasil em luta constante pela superação em meio ao caos. O sentido do neorealismo italiano foi, juntamente com as ideias da 'nouvelle vague' francesa, um dos norteadores do Cinema Novo Brasileiro que prosperou principalmente nos anos 60/70 e que influenciaria dali em diante toda a nossa filmografia.
O Menino e o Mundo
4.3 734 Assista AgoraUma animação simples, de traços modestos, porém com uma incomparável delicadeza na exposição das ideias e das denúncias. O roteiro é executado de forma tão vigorosa e objetiva que dispensa o uso de um idioma específico para se fazer entender. O Menino e o Mundo descortina um universo que é explorado de forma lúdica pelo personagem central. A criança, o Menino que dá título a obra, sai do campo em que mora e vai em busca do pai que foi a grande metrópole. Nesta jornada ao desconhecido ele percebe a sua volta um ambiente hostil, ameaçador e em processo de degradação. Apesar do choque visual, o Menino processa as ideias sem que isso impeça o seu olhar poético de interpretar as imagens e os sons que inundam toda sua trajetória. O filme de Alê Abreu guarda surpresas em seu desenrolar, tornado-se uma das melhores produções do audiovisual brasileiro em 2013 e sendo inclusive indicada ao Oscar de melhor animação.
O Coração de uma Cidade
3.8 5Como parte de um esforço motivacional, o conjunto da indústria do cinema de Hollywood engajou-se na luta contra os regimes fascistas que se expandiam na Europa causando a maior e mais duradoura guerra já vista. Todos os principais estúdios na década de quarenta produziram, em larga escala, uma filmografia documental e ficcional. Estas produções ao mesmo tempo que encorajavam o combate contra as forças do eixo através de boletins jornalísticos e propagandas de incentivo moral, fornecia um alivio escapista a população mesclando elementos de uma realidade com outros de pura fantasia criativa. O pano de fundo era quase sempre direta ou indiretamente o ambiente de intensos conflitos, as incertezas e a destruição que afligia o mundo e, de várias maneiras, afetavam a vida de todos. Em Coração de Uma Cidade, o roteiro fala de resistência que aqui é representada na figura de uma teatro londrino que insiste em manter-se funcionando mesmo sob o risco de ser bombardeado pelas forças alemãs nas chamadas 'Blitz'. Feito pela Columbia e estrelado pela sua primeira dama, a inigualável Rita Hayworth (radiante como sempre), Coração de Uma Cidade é um musical/romance/drama que apresenta um roteiro linear, com boas cenas coreografadas, boas interpretações e conflitos amorosos que ingenuamente vão se resolvendo sob as máculas da guerra. O show que continua e a vida que prevalece, fortalecendo-se com as perdas.
Velozes e Furiosos 8
3.4 745 Assista AgoraCarros, explosões, clichês a vontade, sequências inverossímeis e caricaturas dos arquétipos herói e vilão, fazem deste novo episódio de Velozes e Furiosos mais um capítulo da infindável e lucrativa saga. Fora toda a pirotecnia de efeitos visuais envolvendo as costumeiras cenas de perseguições o filme liderado por Vin Diesel e Dwayne Johnson contou com a participação de Charlize Theron como a inimiga de mentalidade patética que ainda sonha, nostalgicamente, em 'dominar o mundo'. Embora você saiba como a trama ira se processar, o fator entretenimento que ele se propõe alcança o objetivo. Velozes e Furiosos 8 se concretiza em sua finalidade de entretenimento em seus 136 minutos de subidas e descidas como em uma montanha russa no parque de diversões. Se curtir o gênero e não enjoar com as curvas fechadas, essa é a sua pedida.
John Wick: Um Novo Dia Para Matar
3.9 1,1K Assista AgoraNa sequencia do filme de 2014, John Wick 2 ostenta uma produção mais cara com cenas de ações e efeitos visuais complexos, mas com os mesmo ingredientes de apelo: perseguições frenéticas e embates alucinantes que leva o protagonista ao limite de sua milagrosa sobrevivência. O discurso latente é o da vingança que, mais uma vez, o fará quebrar seus votos de recolhimento a uma vida 'normal'. E começa tudo de novo...
John Wick: De Volta ao Jogo
3.8 1,8K Assista AgoraFilme de ação hollywoodiano com bastante violência e que preenche os requisitos fundamentais do gênero para o agrado universal: história enxuta, edição acelerada, boas cenas de luta e anti-heroísmo. O cenário é a cidade de Nova Iorque que, vista de forma irônica pelo roteiro, se eleva como uma metrópole definitiva e altamente profissional onde até os criminosos possuem uma infraestrutura adequada para a realização de seus negócios. Keanu Reeves, reproduzindo sua tradicional cara de paisagem, protagoniza o clássico ex-assassino de aluguel que se torna o bom moço vingador após uma breve aposentadoria no uso de pistolas automáticas. Wiilliam Dafoe, como coadjuvante e com uma atuação total de menos de cinco minutos, é o destaque no elenco. John Wick repagina visualmente os filmes 'pancadaria' e dá início a uma nova e lucrativa série cinematográfica.
O Despertar das Sombras
1.5 31 Assista AgoraO ingrediente sobrenatural por si só não torna um filme de terror autoexplicativo. Awaken the Shadowman deixa o espectador completamente perdido em quase tudo. Do início ao fim tentamos nos situar para termos um mínimo de definição das motivações e mudanças repentinas da índole dos protagonistas, das súbitas exclusões de personagens que pareciam ter alguma relevância na trama e do nexo das sequencias. Direção totalmente comprometida com um roteiro fraco, mal acabado e desinteressante. Quem estiver procurando um filme legal de terror embarcará em uma busca frustrada, pois do ínicio ao fim o longa Awaken the Shadow Man não passa de uma embromação em que não se permite ao público saber o que se passa, quanto mais ventilar um entendimento minimamente lógico para dar a ele a chance de se assustar com algo. Total delírios dos produtores. Bomba total !
Pânico na Escola
2.6 434A cultura dos anos noventa aparece como um fetiche nonsense para os jovens desta década. Logo de cara Pânico na Escola se inspira, iniciando já pelo proprio título, no clássico de terror 'teen' Pânico dirigido por Wes Craven em 1996. Fazendo alusões nostálgicas e constantes à música, cinema, moda e estilo do que acontecia há duas décadas passadas e o choque de comportamentos com os adolescentes que foram nascidos e criados no ambiente contemporâneo de total dependência da intermete e da tecnologia. Pânico na Escola é uma comédia/terror/ficção escrita com humor de deboche e com o pastiche predominando nas cenas de 'suspense'. O eixo narrativo do filme fica trucado, em vários momentos, por tentar englobar e desenvolver as piadas num formato singular, extraindo a noção de continuidade do longa metragem. Com esse aspecto, por vezes, fragmentado das cenas, nos passa a impressão de um filme de quadros em que cada sequencia é independente da outra. O roteiro teve dificuldade de organizar e dispor com fluidez e ritmo a riqueza de referencias fazendo-o ficar arrastado. Embora as parodias, a ênfase nas diferenças e as redefinições de expectativas no embate entre as gerações sejam apontadas inteligentemente, o resultado poderia ser mais interessante se houvesse mais coesão narrativa.
O Acampamento
3.0 113 Assista AgoraUm thriller de suspense simples, de baixo orçamento, porém extremamente efetivo. A base é um roteiro bem escrito e dirigido em que se trabalha a ação em dois tempos diegéticos. O Acampamento soube desenvolver a tensão de forma constante, numa escalada vertiginosa até o clímax com os elementos fílmicos atuando sinergicamente. Surpreendente pela fluidez e as estratégias de criar empatia entre o público e os personagens que foram bem interpretados. Cenas de violência com uma intensidade 'hardcore' que podem chocar os mais incautos.
Pânico na Cabana
1.5 63 Assista AgoraFilmar parece ser algo tão fácil quanto matar. Deve ser por isso que o psicopata em Lake Alice tem uma tara em capturar as imagens através da lente da câmera. Deve ser por isso também que qualquer um acha que para fazer um filme de terror envolvendo serial killers e afins é necessário apenas um punhado de vítimas fáceis ..ops, quero dizer, pessoas, alguns litros de sangue artificial e instinto assassino. Infelizmente é isso que se passa nessa produção capenga e sem a menor boa vontade de se fazer interessante. Um roteiro que tem mais furos que uma peneira e que ignora por completo a nossa capacidade de raciocínio. Ele se estrutura sobre falsas premissas e, forçosamente, tenta criar reviravoltas sem a menor efetividade. Dispensável.
It Stains the Sands Red
2.6 27Fotografia de primeira para um filme de segunda. Quanta técnica desperdiçada para algo tão medíocre. Utilizando um controle sofisticado de fotografia: planos abertos, fechados, detalhes, tomadas aéreas e uso de filtros que tratam a imagem deixando-a com uma qualidade irrepreensível de beleza. Tecnicamente não há o que se falar, mas em se tratando de roteiro e interpretações é tudo muito constrangedor. Ficamos na linha divisória entre o riso e a raiva. Uma das produções mais patéticas, sinistras e de mal gosto que eu já assisti.
A Bela e a Fera
3.9 1,6K Assista AgoraImpressionante adaptação para 'live action' do desenho A Bela e a Fera que foi produzido pelos estúdios da Disney em 1992 e que fez com que, na época, pela primeira vez, uma produção no formato animação concorresse na categoria principal de melhor filme. Direção de arte, efeitos especiais, figurinos, cenas musicais, canções e trilha sonora convergem em uma reprodução quase que idêntica do que foi feito há 25 anos atrás. Apenas após esse período é que se conseguiu apurar uma tecnologia que pudesse conceber uma versão com atores reais. Sem perder a beleza visual na construção das imagens, a Disney apurou ao máximo a qualidade do aspecto de uma 'magia real' que é inerente para a ambientação da história. O cuidado na delicadeza da composição das cenas é espantoso. As performances e imagens dos protagonistas - Emma Watson, Luke Evans, Dan Stevens - não decepcionam o que nosso imaginário infantil poderia esperar de suas representações. Marcante.