Este é o filme seguinte de M. Night Shyalaman após o Sexto Sentido. O cinema de Shyalaman já define uma singularidade notória que é a exposição do sobrenatural sob um olhar fantástico tendo as pessoas comuns como agentes dessas experiencias . Em Corpo Fechado ele adiciona uma característica espetacular a David Dunne, um segurança de um estádio de futebol interpretado por Bruce Willis. A habilidade que tem o protagonista em manter-se saudável e imune fisicamente aos acidentes no qual está envolvido deixa-o, em um primeiro momento, mais desconfortável do que fascinado. Uma habilidade que se contrapõe a deficiência experimentada por Elijah, vivido aqui por Samuel L. Jackson, que tem uma doença rara chamada osteogênese imperfeita que torna os seus ossos mais suscetíveis a fraturas e por isso é chamado de ossos de vidro. Elijah possui por David um fascínio obsessivo, enxergando nele o complemento de sua própria imagem, levando o espectador a assumir conclusões estarrecedores no que tange a necessidade da coexistência do bem e do mal - e aqui se faz a conexão com seu recém lançado 'Fragmentado' . Infelizmente Corpo Fechado desacelera, esfria e perde vigor por fracionar equitativamente a atenção do espectador entre uma obra de ação e a de análise psicológica da condição humana, deixando o filme no limbo entre as duas propostas. Ficamos na tensão por mais profundidade entre esses dois polos e acabamos frustrados pela volatilidade do roteiro que vai esvanecendo diante da inércia da evolução dos personagens e da definição de suas motivações. A impressão de que 'falta alguma coisa' de algo que poderia ser bem mais e melhor explorado é inevitável.
Poderoso exercício de reflexão sobre as fórmulas violentas, muitas vezes invisíveis, da escravidão permanente imposta pelos negros, mesmo após as leis abolicionistas e de anti-segregação nos Estados Unidos. O filme vai desenvolvendo sua ideia a partir de anotações não publicadas de James Baldwin (narradas em off por Samuel L. Jackson), escritor e um dos homens mais engajados e com ideias mais bem articuladas a respeito das causas referentes aos direitos civis e igualdade racial. Os documentaristas vao descortinando os fatos liderados pelo material produzido por Baldwin alinhado as imagens históricas de arquivos (principalmente cinema e tv) mostrando nao apenas os confrontos marcantes e os atentados contra os lideres das comunidades, mas também, como toda a maquina midiática, principalmente durante o seculo dezenove, estabelece um esteriótipo de debilidade a imagem do negro frente a população, colaborando na formação da consciência de um negro incapaz, cativo, subserviente e, por vezes, animalesco e selvagem. Pior de tudo, com ajuda da omissão governamental. Reportagens e declarações de figuras famosas da mesma época que Baldwin como Marther Luther King, Malcom X e Medgar Evers complementam as ideias que esclarecem a dimensão e a brutalidade do preconceito de uma cultura baseada na superioridade branca. Tema de importância universal, onipresente - sob diferente formatos (anti-semitismo, homofobia, xenofobia) - em todos os continentes. Pelo que se constata, levando em conta as acoes dos extremistas de extrema direita da supremacia ariana nos Estados Unidos, ainda floresce furiosamente, sacrificando o direito a dignidade, e ate mesmo a vida, de varias gerações. Os enfrentamentos entre grupos na Virginia (localizada apenas ha duas horas de carro da capital Washington !) e apenas a ponta do iceberg de uma chaga latente, incurável e de raízes profundas que de forma sintética Eu Não Sou Seu Negro tenta evidenciar.
Filme produzido pela Warner durante a segunda guerra mundial e que demonstrava o engajamento dos estúdios no combate pela frente aliada ao nazismo que se expandia pelo mundo. Dirigido por Jean Negulesco (pintor romeno que emigrou para os Estados Unidos e se tornou fotógrafo de filmes e posteriormente diretor), estrelado por Hedy Lamarr, Paul Henreid e o inigualável ator alemão Peter Lorre (M. O Vampiro de Dusseldorf), Os Conspiradores utilizam uma atmosfera de policial noir com grande sofisticação na fotografia, figurinos e boas atuações. A trama de espionagem se desenvolve com fluidez e, embora exceda na ingenuidade do ingrediente romântico dos protagonistas - aspecto indispensável nos filmes comerciais hollywoodianos, Os Conspiradores retém a atenção quase que ininterruptamente. Interessante ver a trilha musical que apresenta uma canção em português 'brasileiro', uma vez que a história se desenvolve nas cidades portuguesas de Lisboa, Estoril e Cascais.
A fábula do Rei Arthur concebida com considerável liberdade artística numa plataforma rica em efeitos visuais e com ótimas estratégias narrativas, mas que confunde o público condensando aventura, suspense, comedia e toques de autoralidade. Guy Ritchie fez um dos filmes mais caros de todos os tempos, contudo o retorno em bilheteria lhe confere, simultaneamente, o título do maior fracasso comercial de uma produção em relação ao seu custo. Ritchie arriscou, no que poderia ter sido um 'blockbuster', adicionar uma montagem criativa que enriqueceu a trama, mas tornou-a menos objetiva e palatável aos olhos do grande público. E este público, para qual foi criada a expectativa da chegada deste personagem clássico, esperou um filme mais objetivo, linear e fidedigno à conhecida lenda/história. Resultado: o híbrido de filme 'Cult High-Tech' onde uma vertente criativa da manipulação da imagem se justapõe ao conjunto de signos de fácil aceitação, mas não agradando o público IMAX e nem os cinéfilos comprometidos com a estética da rebeldia anti-hollywoodiana. Salas esvaziadas a parte, não é de se espantar, por exemplo, que as diversas cenas em que a diegética fracionou o tempo em três momentos tenha provocado no espectador uma reação de estranhamento ao desacelerar a sequencia e fazê-lo pensar. Mesmo a ferocidade surpreendente de algumas soluções do roteiro, principalmente as vinculadas a infância e relações familiares, atordoou quem esperava um filme medieval nos moldes de uma violência antecipadamente presumida para o gênero. Por um outro lado as escolhas ousadas do diretor lhe rendem mais elogios do que desméritos uma vez que ele consegue quebrar um padrão e distingui esta nova proposta de recontar e recortar a saga do Rei Arthur com total competência.
Documentário em formato de coleta de depoimentos. Tratando de uma assunto delicado, as documentaristas acessam a intimidade de quatro cidadãos dos Estados Unidos para revelar as dificuldades decorrentes do consumo do álcool e como isso afeta sua relação familiar. Traumas, medos e angústias são verificados não só pelos dependentes, mas também pelos que estão a sua órbita. O documentário também ouve medicos e especialistas da área que problematizam a questão e mapeiam os ricos do uso abusivo da substância. Embora tenha um desenvolvimento tradicional / contemporâneo dentro do estilo e não consiga se aprofundar nas questões de forma mais contundente (existe ainda um glamour na captura da melhor imagem e uma preparação de misce-en-scene dos depoentes frente a câmera que não se alia a força destrutiva do tema), Bebedores de Risco expões de uma forma genérica os dramas individuais e as consequências dentro daquele núcleo.
Um mar de cores saturadas e uma infinidade de efeitos visuais. Guardiões das Galáxias, em seu segundo volume, engata novas aventuras, mantém as piadas e redime personagens. A pirotecnia CGI parece ainda ser mais relevante do que no primeiro episódio. Quase uma mistura de animação com 'live action'. Prato cheio para os fãs dos anti-heróis mais divertidos da Marvel.
A adaptação da obra de J.K. Rowling cumpre com sua função de filme fantasia, mas sem a mesma riqueza de construção de personagens como na saga Harry Potter. O roteiro um tanto quanto ingênuo não é o ponto mais forte da produção, entretanto se alinha de forma equilibrada com o objetivo de entretenimento. As lições de moral que dão um contorno filme família são quase clássicas e permeiam relações menos complexas das existentes outrora em Hogwarts. Efeitos visuais de ponta e boas interpretações de um elenco reconhecido, creditam seriedade a, talvez, uma nova franquia voltada para os fãs do universo ficcional dos bruxos, iniciada com Potter e companhia.
Sabe aquele filme que quando termina você se pergunta: valeu a pena perder uma hora e meia de minha vida para testemunhar tamanha escrotice ? Se alguém quiser se habilitar a ter essa experiência, pode embarcar em A Ilha do Medo que vai saber exatamente o que me refiro. Com imagens de registros de câmeras alheias, inspirado no 'found footage' (embora não haja informação de como essa material foi 'found'), esse suspense (?) constrangedor é uma produção de baixo orçamento, mas que consegue ser ainda mais inferior do que se poderia esperar. O dinheiro investido poderia ter sido infinitamente melhor aproveitado com qualquer cineasta que tivesse mais criatividade e bom senso. No final acho que quem mais se divertiu foi o elenco e a equipe de filmagem que aproveitaram as paradisíacas praias da Tailândia.
Com o instável M. Night Shyamalan a nossa expectativa, seja positiva ou não, deve ser controlada. As marteladas das produções que tem sua assinatura acertam, de forma variável, o cravo ou a ferradura. Para nossa sorte, dessa vez, Shyamalan vai no ponto e faz, ate o o momento, o melhor thriller de terror/suspense do ano. Desenvolvendo o roteiro em cima da composição multifacetada da personalidade humana e suas loucuras, o diretor de O Sexto Sentido desenvolve personagens ambivalentes e de faces sinistras. Fragmentado, infelizmente, cai em algumas armadilhas fáceis para a evolução de algumas sequencias e se vê encurralado com recursos de clichê. Essa saída fácil para o desenvolvimento narrativo não compromete o conjunto do filme. O resultado é quase que totalmente satisfatório: bem montado, dirigido e com a excelente atuação de James McAvoy. A direção de arte e a fotografia - detalhes técnicos criteriosos em sua filmografia como diretor, roteirista, produtor - estão, como sempre, cuidadosamente pensadas.
Videoclipe erótico, bem editado, de 115 minutos. Não há muito o que justifique essa embromação que tenta sentimentalizar a rotina de fetiches dos bilionários americanos que, nem tentando, conseguem descer do pedestal. Se na primeira adaptação o fator ineditismo de um roteiro baseado em uma obra literária de sucesso favoreceu o espectador para a forma de como o romance seria adaptado ás telas, neste segundo momento a monotonia predomina. A apelação para o sexo coreografado e previsível faz de Cinquenta Tons Mais Escuros um marasmo total. As caras e bocas de Dakota Johnson são insuficientes para manter o interesse do espectador. Sentimentos de riso e constrangimento (ou um misto dos dois) será sentido pelo público diante da debilidade de algumas cenas. A participação da bela e sexagenária Kim Bassinger (novamente como amuleto da sensualidade) nos remete imediatamente a década de oitenta em que era festejada em filmes como Nove e Meias Semanas de Amor e Encontro as Escuras que lhe renderam o status de símbolo sexual. Nesse ponto o filme faz uma homenagem remissiva nostálgica e até simpática.... e só.
A qualidade das produções comerciais do gênero romance da Era de Ouro do cinema clássico dos grandes estúdios, ostenta não apenas o glamour visual, mas por diversas vezes percebe-se ousadias com as fórmulas de apresentação da construção narrativa (a cena do vagalume é de um erotismo sem igual). Em Pede-se Um Marido a sofisticação dos figurinos de Adrian e da direção de arte de Cedric Gibbons, unem-se a para acrescentar interesse nesta trama. Incrivelmente ela consegue burlar as normas imperativas do Código Hays (código criado nos anos 20 e instituído no início dos anos 30 e que defendia a uma censura aos filmes que não respeitasse regras da preservação da moral e dos bons costumes) e transgride quando anuncia a pactualidade na relação aberta dentro do matrimônio 'sagrado' quando admite o casamento aberto, tema tabu nos dias de hoje e impensável no início da década de 40. James Stewart e Heddy Lamarr possuem o 'timing' e a química perfeita na intepretação dos protagonistas. Imperdível.
De forma lírica Herzog constrói através de imagens, poesias e música clássica o drama de um Armagedon real vivido pelo Kwait após a expulsão dos iraquianos invasores. Poucos textos e muita metáfora são usadas para que o espectador tenha uma imersão em um mundo, a primeira vista, irreconhecível. Belíssima construção imagética e um discurso que nos alerta sobre as consequências destruidoras da guerra para o homem e para natureza, mas que ficam, por vezes, invisível.
O desfecho de O Hospede Maldito vem seguindo a linha high tech das ultimas edições: muitos efeitos visuais de ponta com uma cardápio generoso de CGI. Os diálogos são mais abundantes neste episódio, uma vez que se torna indispensável, a principio, para a conclusão da franquia (será ?) que sejam dadas as explicações necessárias. E estas não faltam. Novos entendimentos são lançados a luz para que a trama alcance um nível ainda mais complexo do que já parecia ser. E sabe que os novos rumos das causas de como tudo começou faz sentido ! Indo ao que interessa, quem vai assistir Resident Evil está mais interessado nos confrontos de Alice com os zumbis/mutantes/monstros do que em explicações pedagógicas. E a ação é o que não falta neste 'game movie' clássico. É só se acomodar diante da tela e se divertir com essa incansável e altruísta heroína.
A geniosidade de Carlos Saura é conseguir fazer de um conto simples, comum, que trata de recordações, nostalgia e sentimentos reprimidos na infância, numa obra singular e de estratégias fabulosas. As reflexões de Luis, em cada ambiente que se depara, lhe traz lembranças e aciona flashbacks da infância com o ator adulto representando o personagem tanto no presente quanto no passado (claro informe da existência de lacunas afetivas que o persegue). Há uma homogeneidade entre as dimensões de amadurecimento que fundem o personagem em um só: a criança no adulto e o adulto na criança. Na verdade, quase todos os atores/atrizes fazem a representação nos dois tempos, mas de pessoas diferentes. O que poderia ser banal, ganha contornos de obra prima pelo roteiro e pela direção que acentua o drama dos protagonistas aproximando o espectador de uma intimidade em permanente vínculo com seus históricos de paixão juvenil ainda não superada. Após A Prima Angélica Carlos Saura se empenha em outra realização que também lida com a transformação das relações sob o efeito do passar dos anos: Cria Cuervos, um dos filmes mais celebrados da cinematografia mundial.
Se 'O Filme da Minha Vida' fosse tão morno e insosso como esse do Selton Melo eu encomendaria uma nova encarnação com urgência. Tentando reproduzir um truque já conhecido unindo memórias, nostalgia, ludismo e uma vertente lírica a base de cinefilia, o diretor emprega um expediente de sedução copiado de peças muito mais representativas e refinadas no âmbito internacional. Cinema Paradiso, Splendor e Os Sonhadores (são os que lembro de imediato) conseguem estruturar um diálogo poderoso entre imagem, discurso e poesia de forma coerente, crível e, de fato, tocante. Se inspirar em outras obras é normal - diria até que inevitável após mais de cem anos de cinema, mas traçar uma linha narrativa sem soluções inteligentes e sem um mínimo de criatividade poética é trivializar todo o trabalho dentro de uma montagem de clichês. Hoje em dia nem para uma indicação ao prêmio comercial do Oscar esse formato funciona. Para o espectador , fica patente a relevância da produção apenas na substancia técnica da composição das imagens. Isso porque nem o elenco, inclua-se ai o protagonista, o próprio Selton Melo e o francês Vincent Cassel, convencem em seus papeis. O roteiro não busca estratégias de dar um status de distinção ao banal. O Filme da Minha Vida não empolga, não comove, não te dá raiva, não te perturba, ele apenas é o que é: indiferente. Fosse ser avaliado apenas pela qualidade da fotografia do incomparável Walter Carvalho, seria cinco estrelas fácil. Carvalho tem um domínio indiscutível no uso das lentes, na iluminação e no enquadramento dos planos que se une a sensibilidade de acomodar essas peças dentro do que e esperado pelo diretor. Pena que para se fazer um bom filme é necessário um complexo de elementos que não se reduzem apenas a captação de belas imagens e montá-las alinhavando com diálogos e 'voice over', mas, sobretudo, na expertise de saber surpreender.
Brie Larson no filme do King Kong ??? Deve ser uma história bem bacana ...alguns podem pensar. O problema é que a ganhadora do Oscar é uma protagonista de relevância limitada e assim, como o restante do elenco, mostra-se indiferente para a história. Sua posição aqui não é o da mocinha em perigo, sexualizada para freiar (ou maximizar) os ímpetos sexuais do símio agigantado como aconteceu com Fay Wray em 1933, com Jessica Lange em 1976 ou Naomi Watts em 2005. Larson apenas empresta o nome de atriz já reconhecida a uma produção cuja maior qualidade são os gráficos em CGI e não a interpretação dramática. Dito isso, o que esperar a não ser ótimos efeitos visuais e cenas alucinantes dentro de uma edição veloz que valoriza a narrativa de perseguição e violência ? Não tente compreender o roteiro em sua lógica e propósitos, a não ser o de pura diversão. Agora é só você pegar seu combo pipoca + refri e aproveitar a pirotecnia imagética e cheias de clichês já esperados que na qual Hollywood domina'.
Embarcando na moda 'The Walking Dead', esta produção sueca reproduz o terror zumbi num formato idêntico ao já explorado pelo seriado dos Estados Unidos. O problema é que A Epidemia Zumbi não consegue passar ao espectador seja pelo elenco ou pelo roteiro sem surpresas, o mesmo teor de seriedade e angústia que percebermos no seriado do AMC. Tão assistível quanto esquecível.
A sina de insucesso dos filmes de terror, talvez o motivo de a grande maioria destas produções cair no limbo do ordinário, vem da tentativa de subestimar o bom senso da audiência. Embora existam qualidades técnicas interessantes como a fotografia e alguns efeitos visuais, o elenco é mal dirigido e pouco empático com exceção de Sofia Rosinsky que faz a pequena Lucy. Do Outro Lado da Porta reproduz todos os clichês que sempre tememos rever em um filme de terror. A criatividade aqui passou longe. Não há absolutamente nada na cartilha, já exaustivamente explorada, de sustos e reviravoltas que não esteja presente neste roteiro manjado, ingênuo e que vai te facilitar a dar risadas e não sustos.
Tim Burton se distancia mais do ambiente gótico, marca registrada de sua autoralidade na composição da arte, e faz de O Lar das Crianças Peculiares um filme multicolorido, mas de pouco interesse e frívolo. Com um roteiro tão pouco empolgante, personagens deslocados na trama e interpretações insípidas, o melhor que podemos fazer é nos deixar levar pela qualidade técnica da produção (efeitos visuais e o carisma de alguns personagens). Um dos poucos trabalhos do diretor/produtor/roteirista que vão para o rol dos esquecíveis.
Difícil não gostar de uma animação que tem como ponto de partida uma 'fábrica' de bebês. O Poderoso Chefinho é um projeto da Dreamworks que trabalha com tudo que há de mais lúdico. Da forma como os bebês vem ao mundo até a perspectiva infantil de enxergar o universo deles como um parque de diversões, aventuras e fantasia. O mundo para os pequenos não poderia ser mais divertido, colorido, surreal e competitivo (o irmão mais novo é um concorrente invencível) . O ponto de conflito do filme ocorre quando o 'chefinho' entra em missão para provar que o amor pelos bebês não pode ser substituído pelo filhotes de cães que estão ocupando espaço que seria deles. Divertido e 'fofinho', mas fica por aí mesmo sem mais aprofundamentos.
Na Nova Iorque dos anos 40, a corrupção é principal recurso na briga pelo poder. Policial noir de baixo orçamento, bem executado, porém sem muito brilho. Esta produção da Fox (estúdio que mais realizou o gênero policial noir junto com a Warner) se vale de um roteiro simples, com a história recontada por flashbacks e bons atores. A fotografia não apresenta uma dinâmica diferenciada, expondo a estética elementar do noir que marca o subgênero dentro do padrão. A lendária Carole Landis novamente atuando como a 'femme fatale'.
Antes de Pacto Sinistro (Billy Wilder, 1942) ser considerada a obra que deu origem ao surgimento do gênero policial noir com todos os ingredientes que lhe eram atribuídos, outros exemplos desta vertente estilística já dominava o cinema da Hollywood do fim dos anos trinta e início dos anos quarenta. Quem Matou Vicki ? reúne muitos do elementos que o classificam como um policial noir tanto no que tange ao roteiro: investigação de um assassinato, múltiplos suspeitos, mulheres sedutoras, passionalidade, reviravoltas na linha narrativa; como no que se refere a técnica: ambientes escuros, sombras em profusão, fotografia destacando o ambiente urbano. Quem Matou Vicki ? Incorpora bem essa tendência que seguiu os passos da literatura 'pulp fiction' e da estética expressionista europeia. Estrelado pelos lendários Victor Mature, Betty Grable, Carole Landis (tragicamente suicidou-se aos 29 anos), o filme da Fox apresenta boas atuações, uma fotografia extremamente sofisticada e um roteiro bem construido em cima de um eixo narrativo não linear e montado com 'flashbacks'. Inserções da trilha 'Over the Raimbow' do Mágico de Oz é o tema dos protagonistas do personagens Jill e Frankie, refletindo a esperança de paz para ambos após todo o tormento. A cena em que a câmera registra, do outro lado da rua, a conversa inaudível entre a personagem de Grable e o florista e aos poucos vai aproximando, atravessa a vitrine - de forma quase mágica - e, em plano americano, o som do diálogo entre os dois passa a ser nitidamente ouvido, é espetacular e já vale o filme. Clássico.
Narrado sob a forma de um extenso 'flashback', Teeth of Love, sem título em português, é uma história trágica do cotidiano. O então estreante diretor/roteirista Yuxin Zhuang conta parte da travessia de uma mulher pela vida, da adolescência á fase adulta. Sua natureza, os traumas das relações e as dificuldade das escolhas e decisões se somam, resultando numa sensação de mudança de pólos em que o agente da trama vai de um início confortável e controlador para um lado de permanente impropriedade à luz de um amadurecimento modelado pelas perdas. São dilemas que parecem irromper com mais força em sociedades em que se exige um padrão feminino de dependência/obediência. Qian Yehong parece reproduzir uma condição de gênero comum para sua classe social na China contemporânea. Seu histórico lhe põe em pé de condições de igualdade com suas amigas cujas vidas escoam para o mesmo destino. Não há um conceito de exceção, mas de um modelo de realidade que se repete. Apesar de denso e desenhado sob contornos trágicos, Teeth of Love é econômico nas lágrimas... e também nos diálogos. O enfrentamento da protagonista e o peso emocional que precisa suportar não deixa espaço para o melodrama e para a comoção fácil. A vida que segue mesmo com cicatrizes. Desta forma a atuação de Yan Bingyan é fundamental e a atriz dá conta do recado, impulsionando momentos de leveza com outros de grande impetuosidade gestual. A fotografia usa os planos e contra planos clássicos, sem inovar ou deixar acentuado um recurso estilístico mais específico. A elipse temporal, no entanto, no primeiro momento, se faz de forma preguiçosa e sem capricho, ela apenas acontece. Em uma segunda parte o diretor tem a boa vontade de nos situar por legendas um novo momento. Outro detalhe que reduz a fluidez desta produçao chinesa é o fato de que alguns elementos importantes vão se perdendo na evolução do roteiro. Não há porque nos familiarizar, para depois nos despojar deles. São personagens e eventos que substanciariam a trama e a tornaria mais alicerçada, nos trazendo intimidade e menos distanciamento neste universo de caracteres desfigurados e não totalmente compreendidos.
Exemplo de que se o cinema usar bem seus recursos de fotografia, som e montagem, o que poderia ser apenas um filme básico, supercial e fabricado em regime de estúdio, pode se transformar numa obra de relevância. O que Martin Scorcesse chamou de "fratura de autoralidade no cinema comercial americano" pode ser visto em Odeio-te Meu Amor, péssimo título em portugues para Unfaithfull Yours - algo que soaria melhor na tradução literal 'Infielmente Sua'. Preston Sturges (dirigiu o imperdível A Viagem dos Sullivan) tem domínio total da construção narrativa desta comédia com toques de humor negro, cinismo e sofisticação realizada já no fim da era de ouro de Hollywood. Construído sob o mote da mente criativa (ou não) de uma sugestiva possível infidelidade em um casamento aparentemente em total harmonia, qual seria a reação diante de uma circunstancia antes impensada ? As opções são esboçadas a medida que a câmera invade os pensamentos mais perturbadores do maestro e as possibilidades se expandem seguindo a trilha do concerto que está sendo apresentado sob sua regência. Em total colapso mental, vivendo a hipótese de estar sendo traído, o músico se tortura até que decide partir para a ação. Como se estivesse criando uma partitura musical, o personagem de Rex Harrison confabula sua vingança onde a teoria é muito mais fácil do que por em prática. O aspecto psicológico é refletido pela trilha sonora que vai moldando a oscilação de humor do protagonista, indicando ao público as variantes de animosidade. A fotografia também descreve com precisão cirúrgica a importância dos personagens em cada plano, conservando as características do glamour do cinema norte americano da época, principalmente nas cenas da sempre radiante Linda Darnel. Interpretações de ótimo nível coroam o filme com um resultado inquietante. 5 estrelas.
Corpo Fechado
3.7 1,3K Assista AgoraEste é o filme seguinte de M. Night Shyalaman após o Sexto Sentido. O cinema de Shyalaman já define uma singularidade notória que é a exposição do sobrenatural
sob um olhar fantástico tendo as pessoas comuns como agentes dessas experiencias . Em Corpo Fechado ele adiciona uma característica espetacular a David Dunne, um segurança de um estádio de futebol interpretado por Bruce Willis. A habilidade que tem o protagonista em manter-se saudável e imune fisicamente aos acidentes no qual está envolvido deixa-o, em um primeiro momento, mais desconfortável do que fascinado. Uma habilidade que se contrapõe a deficiência experimentada por Elijah, vivido aqui por Samuel L. Jackson, que tem uma doença rara chamada osteogênese imperfeita que torna os seus ossos mais suscetíveis a fraturas e por isso é chamado de ossos de vidro. Elijah possui por David um fascínio obsessivo, enxergando nele o complemento de sua própria imagem, levando o espectador a assumir conclusões estarrecedores no que tange a necessidade da coexistência do bem e do mal - e aqui se faz a conexão com seu recém lançado 'Fragmentado' . Infelizmente Corpo Fechado desacelera, esfria e perde vigor por fracionar equitativamente a atenção do espectador entre uma obra de ação e a de análise psicológica da condição humana, deixando o filme no limbo entre as duas propostas. Ficamos na tensão por mais profundidade entre esses dois polos e acabamos frustrados pela volatilidade do roteiro que vai esvanecendo diante da inércia da evolução dos personagens e da definição de suas motivações. A impressão de que 'falta alguma coisa' de algo que poderia ser bem mais e melhor explorado é inevitável.
Eu Não Sou Seu Negro
4.5 137 Assista AgoraPoderoso exercício de reflexão sobre as fórmulas violentas, muitas vezes invisíveis, da escravidão permanente imposta pelos negros, mesmo após as leis abolicionistas e de anti-segregação nos Estados Unidos. O filme vai desenvolvendo sua ideia a partir de anotações não publicadas de James Baldwin (narradas em off por Samuel L. Jackson), escritor e um dos homens mais engajados e com ideias mais bem articuladas a respeito das causas referentes aos direitos civis e igualdade racial. Os documentaristas vao descortinando os fatos liderados pelo material produzido por Baldwin alinhado as imagens históricas de arquivos (principalmente cinema e tv) mostrando nao apenas os confrontos marcantes e os atentados contra os lideres das comunidades, mas também, como toda a maquina midiática, principalmente durante o seculo dezenove, estabelece um esteriótipo de debilidade a imagem do negro frente a população, colaborando na formação da consciência de um negro incapaz, cativo, subserviente e, por vezes, animalesco e selvagem. Pior de tudo, com ajuda da omissão governamental. Reportagens e declarações de figuras famosas da mesma época que Baldwin como Marther Luther King, Malcom X e Medgar Evers complementam as ideias que esclarecem a dimensão e a brutalidade do preconceito de uma cultura baseada na superioridade branca. Tema de importância universal, onipresente - sob diferente formatos (anti-semitismo, homofobia, xenofobia) - em todos os continentes. Pelo que se constata, levando em conta as acoes dos extremistas de extrema direita da supremacia ariana nos Estados Unidos, ainda floresce furiosamente, sacrificando o direito a dignidade, e ate mesmo a vida, de varias gerações. Os enfrentamentos entre grupos na Virginia (localizada apenas ha duas horas de carro da capital Washington !) e apenas a ponta do iceberg de uma chaga latente, incurável e de raízes profundas que de forma sintética Eu Não Sou Seu Negro tenta evidenciar.
Conspiradores
3.5 3Filme produzido pela Warner durante a segunda guerra mundial e que demonstrava o engajamento dos estúdios no combate pela frente aliada ao nazismo que se expandia pelo mundo. Dirigido por Jean Negulesco (pintor romeno que emigrou para os Estados Unidos e se tornou fotógrafo de filmes e posteriormente diretor), estrelado por Hedy Lamarr, Paul Henreid e o inigualável ator alemão Peter Lorre (M. O Vampiro de Dusseldorf), Os Conspiradores utilizam uma atmosfera de policial noir com grande sofisticação na fotografia, figurinos e boas atuações. A trama de espionagem se desenvolve com fluidez e, embora exceda na ingenuidade do ingrediente romântico dos protagonistas - aspecto indispensável nos filmes comerciais hollywoodianos, Os Conspiradores retém a atenção quase que ininterruptamente. Interessante ver a trilha musical que apresenta uma canção em português 'brasileiro', uma vez que a história se desenvolve nas cidades portuguesas de Lisboa, Estoril e Cascais.
Rei Arthur: A Lenda da Espada
3.2 623A fábula do Rei Arthur concebida com considerável liberdade artística numa plataforma rica em efeitos visuais e com ótimas estratégias narrativas, mas que confunde o público condensando aventura, suspense, comedia e toques de autoralidade. Guy Ritchie fez um dos filmes mais caros de todos os tempos, contudo o retorno em bilheteria lhe confere, simultaneamente, o título do maior fracasso comercial de uma produção em relação ao seu custo. Ritchie arriscou, no que poderia ter sido um 'blockbuster', adicionar uma montagem criativa que enriqueceu a trama, mas tornou-a menos objetiva e palatável aos olhos do grande público. E este público, para qual foi criada a expectativa da chegada deste personagem clássico, esperou um filme mais objetivo, linear e fidedigno à conhecida lenda/história. Resultado: o híbrido de filme 'Cult High-Tech' onde uma vertente criativa da manipulação da imagem se justapõe ao conjunto de signos de fácil aceitação, mas não agradando o público IMAX e nem os cinéfilos comprometidos com a estética da rebeldia anti-hollywoodiana. Salas esvaziadas a parte, não é de se espantar, por exemplo, que as diversas cenas em que a diegética fracionou o tempo em três momentos tenha provocado no espectador uma reação de estranhamento ao desacelerar a sequencia e fazê-lo pensar. Mesmo a ferocidade surpreendente de algumas soluções do roteiro, principalmente as vinculadas a infância e relações familiares, atordoou quem esperava um filme medieval nos moldes de uma violência antecipadamente presumida para o gênero. Por um outro lado as escolhas ousadas do diretor lhe rendem mais elogios do que desméritos uma vez que ele consegue quebrar um padrão e distingui esta nova proposta de recontar e recortar a saga do Rei Arthur com total competência.
Bebedores de Risco
3.8 2 Assista AgoraDocumentário em formato de coleta de depoimentos. Tratando de uma assunto delicado, as documentaristas acessam a intimidade de quatro cidadãos dos Estados Unidos para revelar as dificuldades decorrentes do consumo do álcool e como isso afeta sua relação familiar. Traumas, medos e angústias são verificados não só pelos dependentes, mas também pelos que estão a sua órbita. O documentário também ouve medicos e especialistas da área que problematizam a questão e mapeiam os ricos do uso abusivo da substância. Embora tenha um desenvolvimento tradicional / contemporâneo dentro do estilo e não consiga se aprofundar nas questões de forma mais contundente (existe ainda um glamour na captura da melhor imagem e uma preparação de misce-en-scene dos depoentes frente a câmera que não se alia a força destrutiva do tema), Bebedores de Risco expões de uma forma genérica os dramas individuais e as consequências dentro daquele núcleo.
Guardiões da Galáxia Vol. 2
4.0 1,7K Assista AgoraUm mar de cores saturadas e uma infinidade de efeitos visuais. Guardiões das Galáxias, em seu segundo volume, engata novas aventuras, mantém as piadas e redime personagens. A pirotecnia CGI parece ainda ser mais relevante do que no primeiro episódio. Quase uma mistura de animação com 'live action'. Prato cheio para os fãs dos anti-heróis mais divertidos da Marvel.
Animais Fantásticos e Onde Habitam
4.0 2,2K Assista AgoraA adaptação da obra de J.K. Rowling cumpre com sua função de filme fantasia, mas sem a mesma riqueza de construção de personagens como na saga Harry Potter. O roteiro um tanto quanto ingênuo não é o ponto mais forte da produção, entretanto se alinha de forma equilibrada com o objetivo de entretenimento. As lições de moral que dão um contorno filme família são quase clássicas e permeiam relações menos complexas das existentes outrora em Hogwarts. Efeitos visuais de ponta e boas interpretações de um elenco reconhecido, creditam seriedade a, talvez, uma nova franquia voltada para os fãs do universo ficcional dos bruxos, iniciada com Potter e companhia.
A Ilha do Mal
1.2 46Sabe aquele filme que quando termina você se pergunta: valeu a pena perder uma hora e meia de minha vida para testemunhar tamanha escrotice ? Se alguém quiser se habilitar a ter essa experiência, pode embarcar em A Ilha do Medo que vai saber exatamente o que me refiro. Com imagens de registros de câmeras alheias, inspirado no 'found footage' (embora não haja informação de como essa material foi 'found'), esse suspense (?) constrangedor é uma produção de baixo orçamento, mas que consegue ser ainda mais inferior do que se poderia esperar. O dinheiro investido poderia ter sido infinitamente melhor aproveitado com qualquer cineasta que tivesse mais criatividade e bom senso. No final acho que quem mais se divertiu foi o elenco e a equipe de filmagem que aproveitaram as paradisíacas praias da Tailândia.
Fragmentado
3.9 3,0K Assista AgoraCom o instável M. Night Shyamalan a nossa expectativa, seja positiva ou não, deve ser controlada. As marteladas das produções que tem sua assinatura acertam, de forma variável, o cravo ou a ferradura. Para nossa sorte, dessa vez, Shyamalan vai no ponto e faz, ate o o momento, o melhor thriller de terror/suspense do ano. Desenvolvendo o roteiro em cima da composição multifacetada da personalidade humana e suas loucuras, o diretor de O Sexto Sentido desenvolve personagens ambivalentes e de faces sinistras. Fragmentado, infelizmente, cai em algumas armadilhas fáceis para a evolução de algumas sequencias e se vê encurralado com recursos de clichê. Essa saída fácil para o desenvolvimento narrativo não compromete o conjunto do filme. O resultado é quase que totalmente satisfatório: bem montado, dirigido e com a excelente atuação de James McAvoy. A direção de arte e a fotografia - detalhes técnicos criteriosos em sua filmografia como diretor, roteirista, produtor - estão, como sempre, cuidadosamente pensadas.
Cinquenta Tons Mais Escuros
2.5 762 Assista AgoraVideoclipe erótico, bem editado, de 115 minutos. Não há muito o que justifique essa embromação que tenta sentimentalizar a rotina de fetiches dos bilionários americanos que, nem tentando, conseguem descer do pedestal. Se na primeira adaptação o fator ineditismo de um roteiro baseado em uma obra literária de sucesso favoreceu o espectador para a forma de como o romance seria adaptado ás telas, neste segundo momento a monotonia predomina. A apelação para o sexo coreografado e previsível faz de Cinquenta Tons Mais Escuros um marasmo total. As caras e bocas de Dakota Johnson são insuficientes para manter o interesse do espectador. Sentimentos de riso e constrangimento (ou um misto dos dois) será sentido pelo público diante da debilidade de algumas cenas. A participação da bela e sexagenária Kim Bassinger (novamente como amuleto da sensualidade) nos remete imediatamente a década de oitenta em que era festejada em filmes como Nove e Meias Semanas de Amor e Encontro as Escuras que lhe renderam o status de símbolo sexual. Nesse ponto o filme faz uma homenagem remissiva nostálgica e até simpática.... e só.
Pede-se um Marido
4.1 16A qualidade das produções comerciais do gênero romance da Era de Ouro do cinema clássico dos grandes estúdios, ostenta não apenas o glamour visual, mas por diversas vezes percebe-se ousadias com as fórmulas de apresentação da construção narrativa (a cena do vagalume é de um erotismo sem igual). Em Pede-se Um Marido a sofisticação dos figurinos de Adrian e da direção de arte de Cedric Gibbons, unem-se a para acrescentar interesse nesta trama. Incrivelmente ela consegue burlar as normas imperativas do Código Hays (código criado nos anos 20 e instituído no início dos anos 30 e que defendia a uma censura aos filmes que não respeitasse regras da preservação da moral e dos bons costumes) e transgride quando anuncia a pactualidade na relação aberta dentro do matrimônio 'sagrado' quando admite o casamento aberto, tema tabu nos dias de hoje e impensável no início da década de 40. James Stewart e Heddy Lamarr possuem o 'timing' e a química perfeita na intepretação dos protagonistas. Imperdível.
Lições da Escuridão
4.3 14De forma lírica Herzog constrói através de imagens, poesias e música clássica o drama de um Armagedon real vivido pelo Kwait após a expulsão dos iraquianos invasores. Poucos textos e muita metáfora são usadas para que o espectador tenha uma imersão em um mundo, a primeira vista, irreconhecível. Belíssima construção imagética e um discurso que nos alerta sobre as consequências destruidoras da guerra para o homem e para natureza, mas que ficam, por vezes, invisível.
Resident Evil 6: O Capítulo Final
3.0 953 Assista AgoraO desfecho de O Hospede Maldito vem seguindo a linha high tech das ultimas edições: muitos efeitos visuais de ponta com uma cardápio generoso de CGI. Os diálogos são mais abundantes neste episódio, uma vez que se torna indispensável, a principio, para a conclusão da franquia (será ?) que sejam dadas as explicações necessárias. E estas não faltam. Novos entendimentos são lançados a luz para que a trama alcance um nível ainda mais complexo do que já parecia ser. E sabe que os novos rumos das causas de como tudo começou faz sentido ! Indo ao que interessa, quem vai assistir Resident Evil está mais interessado nos confrontos de Alice com os zumbis/mutantes/monstros do que em explicações pedagógicas. E a ação é o que não falta neste 'game movie' clássico. É só se acomodar diante da tela e se divertir com essa incansável e altruísta heroína.
A Prima Angélica
3.7 3A geniosidade de Carlos Saura é conseguir fazer de um conto simples, comum, que trata de recordações, nostalgia e sentimentos reprimidos na infância, numa obra singular e de estratégias fabulosas. As reflexões de Luis, em cada ambiente que se depara, lhe traz lembranças e aciona flashbacks da infância com o ator adulto representando o personagem tanto no presente quanto no passado (claro informe da existência de lacunas afetivas que o persegue). Há uma homogeneidade entre as dimensões de amadurecimento que fundem o personagem em um só: a criança no adulto e o adulto na criança. Na verdade, quase todos os atores/atrizes fazem a representação nos dois tempos, mas de pessoas diferentes. O que poderia ser banal, ganha contornos de obra prima pelo roteiro e pela direção que acentua o drama dos protagonistas aproximando o espectador de uma intimidade em permanente vínculo com seus históricos de paixão juvenil ainda não superada. Após A Prima Angélica Carlos Saura se empenha em outra realização que também lida com a transformação das relações sob o efeito do passar dos anos: Cria Cuervos, um dos filmes mais celebrados da cinematografia mundial.
O Filme da Minha Vida
3.6 500 Assista AgoraSe 'O Filme da Minha Vida' fosse tão morno e insosso como esse do Selton Melo eu encomendaria uma nova encarnação com urgência. Tentando reproduzir um truque já conhecido unindo memórias, nostalgia, ludismo e uma vertente lírica a base de cinefilia, o diretor emprega um expediente de sedução copiado de peças muito mais representativas e refinadas no âmbito internacional. Cinema Paradiso, Splendor e Os Sonhadores (são os que lembro de imediato) conseguem estruturar um diálogo poderoso entre imagem, discurso e poesia de forma coerente, crível e, de fato, tocante. Se inspirar em outras obras é normal - diria até que inevitável após mais de cem anos de cinema, mas traçar uma linha narrativa sem soluções inteligentes e sem um mínimo de criatividade poética é trivializar todo o trabalho dentro de uma montagem de clichês. Hoje em dia nem para uma indicação ao prêmio comercial do Oscar esse formato funciona. Para o espectador , fica patente a relevância da produção apenas na substancia técnica da composição das imagens. Isso porque nem o elenco, inclua-se ai o protagonista, o próprio Selton Melo e o francês Vincent Cassel, convencem em seus papeis. O roteiro não busca estratégias de dar um status de distinção ao banal. O Filme da Minha Vida não empolga, não comove, não te dá raiva, não te perturba, ele apenas é o que é: indiferente. Fosse ser avaliado apenas pela qualidade da fotografia do incomparável Walter Carvalho, seria cinco estrelas fácil. Carvalho tem um domínio indiscutível no uso das lentes, na iluminação e no enquadramento dos planos que se une a sensibilidade de acomodar essas peças dentro do que e esperado pelo diretor. Pena que para se fazer um bom filme é necessário um complexo de elementos que não se reduzem apenas a captação de belas imagens e montá-las alinhavando com diálogos e 'voice over', mas, sobretudo, na expertise de saber surpreender.
Kong: A Ilha da Caveira
3.3 1,2K Assista AgoraBrie Larson no filme do King Kong ??? Deve ser uma história bem bacana ...alguns podem pensar. O problema é que a ganhadora do Oscar é uma protagonista de relevância limitada e assim, como o restante do elenco, mostra-se indiferente para a história. Sua posição aqui não é o da mocinha em perigo, sexualizada para freiar (ou maximizar) os ímpetos sexuais do símio agigantado como aconteceu com Fay Wray em 1933, com Jessica Lange em 1976 ou Naomi Watts em 2005. Larson apenas empresta o nome de atriz já reconhecida a uma produção cuja maior qualidade são os gráficos em CGI e não a interpretação dramática. Dito isso, o que esperar a não ser ótimos efeitos visuais e cenas alucinantes dentro de uma edição veloz que valoriza a narrativa de perseguição e violência ? Não tente compreender o roteiro em sua lógica e propósitos, a não ser o de pura diversão. Agora é só você pegar seu combo pipoca + refri e aproveitar a pirotecnia imagética e cheias de clichês já esperados que na qual Hollywood domina'.
A Epidemia Zumbi
2.2 69Embarcando na moda 'The Walking Dead', esta produção sueca reproduz o terror zumbi num formato idêntico ao já explorado pelo seriado dos Estados Unidos. O problema é que A Epidemia Zumbi não consegue passar ao espectador seja pelo elenco ou pelo roteiro sem surpresas, o mesmo teor de seriedade e angústia que percebermos no seriado do AMC. Tão assistível quanto esquecível.
Do Outro Lado da Porta
2.6 175A sina de insucesso dos filmes de terror, talvez o motivo de a grande maioria destas produções cair no limbo do ordinário, vem da tentativa de subestimar o bom senso da audiência. Embora existam qualidades técnicas interessantes como a fotografia e alguns efeitos visuais, o elenco é mal dirigido e pouco empático com exceção de Sofia Rosinsky que faz a pequena Lucy. Do Outro Lado da Porta reproduz todos os clichês que sempre tememos rever em um filme de terror. A criatividade aqui passou longe. Não há absolutamente nada na cartilha, já exaustivamente explorada, de sustos e reviravoltas que não esteja presente neste roteiro manjado, ingênuo e que vai te facilitar a dar risadas e não sustos.
O Lar das Crianças Peculiares
3.3 1,5K Assista AgoraTim Burton se distancia mais do ambiente gótico, marca registrada de sua autoralidade na composição da arte, e faz de O Lar das Crianças Peculiares um filme multicolorido, mas de pouco interesse e frívolo. Com um roteiro tão pouco empolgante, personagens deslocados na trama e interpretações insípidas, o melhor que podemos fazer é nos deixar levar pela qualidade técnica da produção (efeitos visuais e o carisma de alguns personagens). Um dos poucos trabalhos do diretor/produtor/roteirista que vão para o rol dos esquecíveis.
O Poderoso Chefinho
3.4 521 Assista AgoraDifícil não gostar de uma animação que tem como ponto de partida uma 'fábrica' de bebês. O Poderoso Chefinho é um projeto da Dreamworks que trabalha com tudo que há de mais lúdico. Da forma como os bebês vem ao mundo até a perspectiva infantil de enxergar o universo deles como um parque de diversões, aventuras e fantasia. O mundo para os pequenos não poderia ser mais divertido, colorido, surreal e competitivo (o irmão mais novo é um concorrente invencível) . O ponto de conflito do filme ocorre quando o 'chefinho' entra em missão para provar que o amor pelos bebês não pode ser substituído pelo filhotes de cães que estão ocupando espaço que seria deles. Divertido e 'fofinho', mas fica por aí mesmo sem mais aprofundamentos.
Audácia de Criminoso
3.6 11Na Nova Iorque dos anos 40, a corrupção é principal recurso na briga pelo poder. Policial noir de baixo orçamento, bem executado, porém sem muito brilho. Esta produção da Fox (estúdio que mais realizou o gênero policial noir junto com a Warner) se vale de um roteiro simples, com a história recontada por flashbacks e bons atores. A fotografia não apresenta uma dinâmica diferenciada, expondo a estética elementar do noir que marca o subgênero dentro do padrão. A lendária Carole Landis novamente atuando como a 'femme fatale'.
Quem Matou Vicki?
3.6 18Antes de Pacto Sinistro (Billy Wilder, 1942) ser considerada a obra que deu origem ao surgimento do gênero policial noir com todos os ingredientes que lhe eram atribuídos, outros exemplos desta vertente estilística já dominava o cinema da Hollywood do fim dos anos trinta e início dos anos quarenta. Quem Matou Vicki ? reúne muitos do elementos que o classificam como um policial noir tanto no que tange ao roteiro: investigação de um assassinato, múltiplos suspeitos, mulheres sedutoras, passionalidade, reviravoltas na linha narrativa; como no que se refere a técnica: ambientes escuros, sombras em profusão, fotografia destacando o ambiente urbano. Quem Matou Vicki ? Incorpora bem essa tendência que seguiu os passos da literatura 'pulp fiction' e da estética expressionista europeia. Estrelado pelos lendários Victor Mature, Betty Grable, Carole Landis (tragicamente suicidou-se aos 29 anos), o filme da Fox apresenta boas atuações, uma fotografia extremamente sofisticada e um roteiro bem construido em cima de um eixo narrativo não linear e montado com 'flashbacks'. Inserções da trilha 'Over the Raimbow' do Mágico de Oz é o tema dos protagonistas do personagens Jill e Frankie, refletindo a esperança de paz para ambos após todo o tormento. A cena em que a câmera registra, do outro lado da rua, a conversa inaudível entre a personagem de Grable e o florista e aos poucos vai aproximando, atravessa a vitrine - de forma quase mágica - e, em plano americano, o som do diálogo entre os dois passa a ser nitidamente ouvido, é espetacular e já vale o filme. Clássico.
Teeth of Love
3.5 2Narrado sob a forma de um extenso 'flashback', Teeth of Love, sem título em português, é uma história trágica do cotidiano. O então estreante diretor/roteirista Yuxin Zhuang conta parte da travessia de uma mulher pela vida, da adolescência á fase adulta. Sua natureza, os traumas das relações e as dificuldade das escolhas e decisões se somam, resultando numa sensação de mudança de pólos em que o agente da trama vai de um início confortável e controlador para um lado de permanente impropriedade à luz de um amadurecimento modelado pelas perdas. São dilemas que parecem irromper com mais força em sociedades em que se exige um padrão feminino de dependência/obediência. Qian Yehong parece reproduzir uma condição de gênero comum para sua classe social na China contemporânea. Seu histórico lhe põe em pé de condições de igualdade com suas amigas cujas vidas escoam para o mesmo destino. Não há um conceito de exceção, mas de um modelo de realidade que se repete. Apesar de denso e desenhado sob contornos trágicos, Teeth of Love é econômico nas lágrimas... e também nos diálogos. O enfrentamento da protagonista e o peso emocional que precisa suportar não deixa espaço para o melodrama e para a comoção fácil. A vida que segue mesmo com cicatrizes. Desta forma a atuação de Yan Bingyan é fundamental e a atriz dá conta do recado, impulsionando momentos de leveza com outros de grande impetuosidade gestual. A fotografia usa os planos e contra planos clássicos, sem inovar ou deixar acentuado um recurso estilístico mais específico. A elipse temporal, no entanto, no primeiro momento, se faz de forma preguiçosa e sem capricho, ela apenas acontece. Em uma segunda parte o diretor tem a boa vontade de nos situar por legendas um novo momento. Outro detalhe que reduz a fluidez desta produçao chinesa é o fato de que alguns elementos importantes vão se perdendo na evolução do roteiro. Não há porque nos familiarizar, para depois nos despojar deles. São personagens e eventos que substanciariam a trama e a tornaria mais alicerçada, nos trazendo intimidade e menos distanciamento neste universo de caracteres desfigurados e não totalmente compreendidos.
Odeio-te, Meu Amor
3.7 7Exemplo de que se o cinema usar bem seus recursos de fotografia, som e montagem, o que poderia ser apenas um filme básico, supercial e fabricado em regime de estúdio, pode se transformar numa obra de relevância. O que Martin Scorcesse chamou de "fratura de autoralidade no cinema comercial americano" pode ser visto em Odeio-te Meu Amor, péssimo título em portugues para Unfaithfull Yours - algo que soaria melhor na tradução literal 'Infielmente Sua'. Preston Sturges (dirigiu o imperdível A Viagem dos Sullivan) tem domínio total da construção narrativa desta comédia com toques de humor negro, cinismo e sofisticação realizada já no fim da era de ouro de Hollywood. Construído sob o mote da mente criativa (ou não) de uma sugestiva possível infidelidade em um casamento aparentemente em total harmonia, qual seria a reação diante de uma circunstancia antes impensada ? As opções são esboçadas a medida que a câmera invade os pensamentos mais perturbadores do maestro e as possibilidades se expandem seguindo a trilha do concerto que está sendo apresentado sob sua regência. Em total colapso mental, vivendo a hipótese de estar sendo traído, o músico se tortura até que decide partir para a ação. Como se estivesse criando uma partitura musical, o personagem de Rex Harrison confabula sua vingança onde a teoria é muito mais fácil do que por em prática. O aspecto psicológico é refletido pela trilha sonora que vai moldando a oscilação de humor do protagonista, indicando ao público as variantes de animosidade. A fotografia também descreve com precisão cirúrgica a importância dos personagens em cada plano, conservando as características do glamour do cinema norte americano da época, principalmente nas cenas da sempre radiante Linda Darnel. Interpretações de ótimo nível coroam o filme com um resultado inquietante. 5 estrelas.