Má que filmeco irritante este Beira-Mar. Pior câncer que existe no cinema nacional é essa tentativa de emular drameco francês com aquela fotografia intimista cinzenta gélida de sempre e personagens apáticos, blasés, fumando cigarros enquanto contemplam o tédio de suas existências juvenis. Era pra ser algo sensorial, mas terminou um Os Famosos e os Duendes da Morte que deu muito, mas muito errado, com protagonistas branquinhos classe média tão interessantes quanto postes e dramas muito mal costurados para disfarçar um filme sobre desabrochar sexual/amizade que tem absolutamente nada a acrescentar ao gênero.
Fellini Satyricon não é um filme, é um espetáculo. Lindo, absurdo, surreal.
O que dizer da cena em que Encólpio e Gitão fazem um passeio dantesco pelos compartimentos de um bordel, repletos de figuras grotescas e decadentes e cheias de volúpia encarando o espectador como se nos acusassem de estar participando daquele gozo onírico coletivo? Só essa cena e a do banquete dionisíaco de Trimalquião valem todo o filme. Loucura loucura loucura.
“Quero ser livre. É assim que eu amo.”, diz a mãe ao filho de 15 anos após uma desilusão amorosa (com um amante). Durante a confidência, o garoto responde: “Vai encontrar alguém que te ame do jeito que você é.”. Cenas como essa que, normalmente, soariam incômodas, se transformam em momentos de afeto e acalento nas mãos do Louis Malle nessa pequena joia sobre o desabrochar para a vida adulta de um jovem de família burguesa na França dos anos 50.
Creio que de todos os cineastas atuais, talvez só o Almodóvar, com sua destreza em alfinetar instituições sagradas como família e Igreja e de construir personagens deliciosamente absurdas com espontaneidade e humor, seria capaz de realizar um filme como Le souffle au cœur nos dias de hoje. É a arte perdida de transgredir e provocar com sensibilidade, sem deixar que a mão e o ego esmaguem a obra.
Apaixonado por Charlie Parker (cujas músicas embalam o filme), o jovem protagonista é precoce e está sempre disposto a soltar algum comentário desconcertante sobre política, fé ou morte: “Não, sacrilégio não me interessa. É como blasfêmia: significa que você ainda crê.”, diz ele, que é coroinha, após auxiliar uma missa. O filme é recheado de cenas impagáveis como essa e até a mais controversa delas, de tão sutil e bela, quase passa despercebida.
Junto com a rebeldia juvenil de Les quatre cents coups e a nostalgia onírica de Amarcord, nunca foi tão gostoso reviver em um filme o despertar para a vida.
Não há nada mais revigorante que ver este filme aos vinte e poucos anos. Ainda que não estejamos isentos de amarguras e pequenas crises, para nós há o frescor de toda uma vida adiante, sem o peso das nossas decisões a nos esmagar, sem a sombra da morte a nos sussurrar no ouvido, sem o tempo a esvaecer ao nosso redor com a desoladora constatação de que se teve uma vida estéril, solitária e sem amor.
O cinema muito raramente atinge esse nível de excelência e amplitude, sendo capaz de dialogar com todas as gerações sobre um tema tão universal como o tempo sem aderir a um saudosismo barato. Não me recordo de ter sido tão movido emocionalmente por uma cena como aquela em que o Isak Borg está na sacada despedindo-se do trio de jovens intempestivos que conheceu em sua road-trip existencialista. “Mandem notícias.”, diz com o olhar melancólico, porém acalentado: não há como reverter os ponteiros do tempo, mas ainda é possível se conectar com as pessoas. Ali, ele havia aceitado suas falhas e se libertado de toda culpa que o afligia. Que epifania cinematográfica! Uma lágrima inesperada escorreu ali.
Inegável que este seja o filme mais terno e otimista do Bergman. Não que isso seja necessariamente uma falha, mas seu cinema não é marcado por grandes arroubos. Ainda que ele sempre nos ponha a refletir sobre temas como impossibilidade da fé e deterioramento psicológico, a reflexão é quase sempre silenciosa, rígida. Isso não ocorre com Morangos Silvestres, que parece a união perfeita entre o Bergman simbólico de O Sétimo Selo e o Bergman dramático e emocional de Sonata de Outono.
Uma obra magnífica para rever inúmeras vezes ao longo da vida. E sobre esse duelo “Que estou fazendo da minha vida? vs. Que fiz de minha vida até aqui?”, como não lembrar de Hier Encore?
“Porque meus amores morreram antes de existir Meus amigos partiram e não mais retornarão Por minha culpa eu criei o vazio em torno a mim E gastei minha vida e meus anos de juventude Do melhor e do pior descartando o melhor Imobilizei meus sorrisos e congelei meus choros Onde estão agora, meus vinte anos?”
Dia desses, li um comentário do tipo “Defender é fácil, quero ver alguém namorar uma pessoa trans”, assim em tom irônico, mas que tem, sim, algo a ser problematizado. No cinema não é diferente. Poucas vezes vi filmes/romances protagonizados por pessoas trans tratadas com a humanização que lhes é devida, sem colocá-las na condição de vítimas (embora seja um retrato politicamente necessário). Até o próprio cinema queer é perverso nesse sentido. Com a exceção de Fassbinder, Almodóvar, John Cameron Mitchell, João Pedro Rodrigues ou mais recentemente Xavier Dolan (com Lawrence Anyways) e a série Transparent, pra citar alguns, pouco conheço de filmes com personagens mais complexas, nuas em sua humanidade e, ainda assim, verossímeis. O fato é que nas listas de filmes LGBT que saem por aí, sempre vemos personagens [cis]convencionais, que quase nunca fogem, por exemplo, do genérico binarismo de gênero, ignorando daí o vasto espectro que existe entre o masculino e o feminino. No fim, quando não secundarizadas em personagens que servem apenas como suporte cômico, as pessoas trans estão quase sempre confinadas em filmes didáticos ou sem força alguma.
Nånting måste gå sönder (Something Must Break, referência à música do Joy Division), do sueco Ester Martin Bergsmark, se destaca nesse cenário não só por ser cuidadoso e certeiro ao retratar diversas questões/situações importantes (que suponho rotineiras quando você é uma pessoa trans), mas por ser um filme competente e honesto. Uma história de amour fou “impossível” entre um rapaz “hétero” e uma jovem proletária que ainda batalha internamente entre o Sebastian que lhe foi designado e a Ellie que sente/deseja ser. Embora comunguem de uma paixão intensa, a indefinição dos papéis sexuais de gênero impede que a relação funcione e floresça da forma que desejam (apesar disso, as cenas de sexo são belíssimas). Em dado momento, ainda confuso com a natureza daquela relação, o rapaz diz “Não sou gay”, de modo que Sebastian/Ellie rapidamente responde “Nem eu”, evidenciando ali a velha confusão que se faz entre orientação sexual e identidade de gênero. “Você é tão bela que me faz querer vomitar”, diz em outra.
Ainda que não lhe falte nuances, o filme não é cristalino na construção da protagonista. Sebastian/Ellie ainda desabrocha, ainda busca por si mesma – e Bergsmark faz questão de não enquadrá-la, de não confiná-la em uma caixinha. Com feições andróginas, em nenhum momento ela se mostra inadequada em seu corpo, apesar de vivenciar situações de vergonha e constrangimento e de reafirmar externamente sua identidade feminina. Afinal, nem toda mulher trans deseja se submeter à transgenitalização. Ellie é bela e se sente bela. Sua batalha é mais interna: o quanto de mim devo sacrificar para ser o que eu quero/sinto ser ou vale a pena sacrificar uma parte de mim para que esse amor torto e belo dê certo? “É como se eu tivesse destruindo a mim mesmo, para me tornar ela.”, reflete. Talvez por isso Sebastian/Ellie seja uma personagem tão multidimensional e instigante, que ora se revela frágil, ora emponderada e autoconfiante.
Um filme muito bonito e também muito necessário. E todo ele com uma trilha sonora espetacular e um olhar tão intimista que até as cenas mais fortes/”sujas” têm sua poesia. Uma delas, inclusive, deixa quaisquer cenas com slow-motion do Lars Von Trier e do Xavier Dolan no chinelo.
Que turbilhão esse filme! Absolutamente magnífico. Uma ode à vida, aos amores, às relações genuínas que resistem ao tempo e, sobretudo, ao majestoso cinema italiano (com direito a aparições do Fellini e do Mastroianni “gravando” aquela cena clássica na Fontana di Trevi). Tantos momentos marcantes pra guardar na memória, tantas cenas feitas com absoluta paixão e delicadeza que me é difícil pôr em palavras agora.
“Mas ouça... em vez de perseguir uma felicidade impossível, talvez seja melhor preparar uma lembrança para o futuro. Como a desta noite.”
Como essa fala diz tanto sobre o filme inteiro e sobre a vida. Por que nunca nos cruzamos antes, Scola?
Dói-me dizer isso, mas ainda não tive nenhum arroubo, nenhum arrebatamento com o cinema do Bresson. Será que é 2deepforme? Há essa frase de que gosto muito, onde ele diz “Eu prefiro que as pessoas sintam um filme antes de compreendê-lo”, e isso me fez esperar grandes epifanias vendo seus filmes (algo que Bergman consegue muito naturalmente). Vi apenas este e Au Hasard Balthazar (suas ditas obras-primas), mas nada extraordinário aconteceu, ainda não bateu.
Não digo, com isso, que desgosto do filme ou do estilo do diretor. Gosto muito, me identifico com a temática e adoro o minimalismo da direção. Todas aquelas mãos dançando por entre bolsas e paletós em cortes certeiros e coreografados é formidável. Mas talvez o que mais me impressione é a forma como Bresson consegue extrair o melhor dos seus atores “amadores”. Por mais hermético que seja o protagonista, as expressões faciais e corporais do Martin LaSalle (sempre com o olhar gélido, com postura cabisbaixa, como quem carrega uma culpa maior que suas forças) o denunciam. A última vez que vi uma expressão tão marcante em um ator foi com o Sandro Panseri, em Il Posto, do Ermanno Olmi. Ainda assim, achei difícil compreendê-lo. Não li Crime e Castigo (já tentei uma vez) e isso deve ter pesado em minha absorção do filme, mas não deveria.
“Às vezes passo horas sem pensar em você, e é maravilhoso.” (Marianne) “Nos refugiamos em uma existência hermeticamente fechada.” (Johan)
Toda intensidade e toda frágil segurança dos relacionamentos nunca foram tão bem examinadas e dissecadas como neste filme do Bergman. Foram 5 horas consumidas em doses estrategicamente homeopáticas, em 6 episódios que são uma verdadeira jornada na conturbada vida conjugal desses dois grandes analfabetos emocionais: Marianne e Johan (Liv Ullmann e Erland Josephson, absolutamente irrepreensíveis).
De violência verbal à física, de silêncios e olhares a pequenos gestos que denunciam as urgências pessoais e a deterioração progressiva do matrimônio, vamos acompanhando o desmanchar das aparências e as idas e vindas dos dois: suas certezas, dúvidas, angústias, anseios, mágoas, medos, negações e contradições. Os diálogos densos, porém envolventes, e os planos secos (quase fisicamente insuportáveis de tão imersivos) vão revelando a fenomenal habilidade do ser humano em ser tão estranho ao outro, mesmo quando se é tão íntimo. Aos poucos, e muito duramente, constatamos aquela velha lição de que só o amor, quando ele existe, não basta.
Sem dúvidas, o melhor, mais cuidadoso e mais genial trabalho do Bergman visto até agora.
“Fazia minhas preces para um deus-eco, que me dava respostas agradáveis e bênçãos tranquilizadoras. Toda vez que confrontava Deus com questões reais, percebia que Ele se transformava em algo feio e revoltante. Um Deus-aranha, um monstro.”
“Se Deus não existe, isso realmente faria alguma diferença? A vida se tornaria compreensível. Seria um alívio. E a morte seria a extinção da vida. O fim do corpo e do espírito. Crueldade, solidão e medo. Todas estas coisas seriam claras e transparentes.”
Duas coisas que eu certamente não falaria a um potencial suicida em crise existencial.
Mark M for murderer. Está aí um clássico que faz jus ao prestígio que foi adquirindo ao longo dos anos. Para quem gosta de uma boa e complexa investigação sobre assassinato, M é sedutor, mas engana: está mais para drama social do que suspense (embora seja uma exemplar combinação dos dois). Interessante como, por mais envolvente que seja a atmosfera de crescente paranoia ou que o filme contenha vários elementos do film noir, não há aquela glamorização romanesca típica do gênero, mas sim uma abordagem mais humana, psicológica, repleta de nuances, e com forte, porém sutil teor social.
É um filme primoroso e visionário, tanto pela direção sofisticada e cuidadosa do Fritz (os planos criativos, os reflexos, as sombras, a justaposição de cenas, o uso certeiro do som), quanto pela atemporalidade e complexidade da trama. Meu único problema é que o diretor dedica tempo demais nas cenas de investigação (algumas, a meu ver, descartáveis), mas nada que comprometa o filme, sobretudo os brilhantes minutos iniciais e finais.
Em tempos de justiceiros sociais, o dilema moral lançado pelo filme é mesmo impressionante, seja pela coragem do Fritz em investigar a natureza assassina do criminoso, humanizando-o, seja por esse embate permanecer atual hoje, 80 anos depois. Ficarei com aquele testemunho do esbugalhado Peter Lorre martelando na cabeça por um bom tempo: “Quero escapar, quero fugir de mim mesmo, mas é impossível”. Obra-prima.
Acho que nunca vi e jamais verei nada igual a esse documentário. Talvez nem o próprio Fitzcarraldo e o Mein liebster Feind juntos consigam ser tão poderosos quanto o registro feito pelo Les Blank. E não bastassem todas as cenas do Herzog desafiando o impossível para realizar seu projeto megalomaníaco, ele ainda solta esse monólogo aqui:
“Kinski sempre diz que a natureza é cheia de elementos eróticos. Não vejo tanto erotismo. Vejo-a mais cheia de obscenidade. A natureza aqui é vil e ordinária. Não veria nada erótico aqui. Eu veria fornicação e asfixia. Enforcamento e luta por sobrevivência e crescimento e apodrecimento. Claro, há muito sofrimento. Mas é a mesma dor que está ao nosso redor. As árvores estão em dor e os pássaros também. Eu não acho que eles cantam. Eles gritam de dor. É como uma maldição pesando por toda uma paisagem. E qualquer um que vá fundo nisso tem sua parte dessa maldição. Então estamos amaldiçoados com o que estamos fazendo aqui. É uma terra que Deus, se ele existe, criou com raiva. É a única terra onde a criação está inacabada ainda. Dando uma boa olhada no que está ao redor, há um tipo de harmonia. É a harmonia da devastação e morte coletiva. E em comparação à vilania e baixeza e obscenidade de toda esta selva, nós, em comparação a esta enorme articulação, soamos e parecemos como mal pronunciadas e meio-terminadas sentenças de uma estúpida novela suburbana barata. E temos que ficar humildes diante dessa miséria devastadora e fornicação devastadora, desse amadurecimento devastador e dessa falta de ordem devastadora. Mesmo as estrelas no céu pareçam uma bagunça. Não há harmonia no universo. Temos que conhecer esta ideia de que não há real harmonia como nós temos. Mas quando eu digo isso, eu digo cheio de admiração pela selva. Não é que eu a odeie. Eu a amo. Eu a amo demais. Mas eu amo contra meu melhor julgamento.”
Buddy-cop meets possession movie. Derrickson já tinha feito isso antes (mesclar dois gêneros bem distintos) em The Exorcism of Emily Rose, ao combinar possessão demoníaca e drama de tribunal. Muita gente rejeitou a ideia, eu achei sensacional e é um dos meus filmes de terror prediletos (sue me haters!). Mas, infelizmente, essa nova transa não funcionou muito bem em Deliver Us from Evil, talvez por ele repetir os mesmos maneirismos batidos dos filmes de ação policial: mulher e filha negligenciadas e secundarizadas pela exaustiva jornada de trabalho do homem, que mantém a casa (arco dramático zzz do filme); demônios internos oriundos da culpa por algo cometido no passado; busca por redenção, etc. Quem já viu Se7en, The Exorcist, curte um Abel Ferrara ou Michael Mann vai entender que ele tentou emular tudo isso num filme só, mas não conseguiu. E o resultado é um suspense superproduzido, atabalhoado e ineficaz.
As 2 estrelas vão então para a tensa cena de exorcismo, para o notável bom gosto musical do capeta, que curte um The Doors maroto, e para aquele padre sensual wild & fumante que parece o próprio Jim Morrison.
Excelente estreia do Fernando Coimbra no cinema. Thriller bem sólido que flerta com o noir policial e até com o clássico nipônico Rashômon, do Kurosowa, que lhe empresta a mesma narrativa ambígua e capciosa, ao contar sobre a investigação de um suposto crime passional. Quanto menos se ler a respeito, melhor. Dito isso, a trama em si pode até não ser das mais extraordinárias e o diretor se prolonga desnecessariamente em alguns planos, mas a tensão, o mistério e a progressiva [des]construção dos personagens no decorrer do filme, acompanhada de uma atmosfera cada vez mais sombria, são suficientes para envolver o espectador até um desfecho brutal e inesperado (e uma das sequências mais belas e fortes do filme). Senti um que de Nelson Rodrigues, mas como não dá para falar muito sem revelar detalhes importantes, só digo uma coisa: Leandra Leal, tu é foda, mulher!
Sou fã confesso do Araki, amando quase tudo que ele dirigiu até aqui (tudo dos anos 90) e talvez por isso tenha ido com muita sede ao pote pra esse seu novo filme, ainda mais depois de um trailer tão promissor. Mas nem Cocteau Twins tocando na abertura (e toda a vibe onírica dream pop que o filme evoca) e nem o plot twist que ninguém esperava me fizeram morrer de amores aqui.
Não li o livro, mas a história me parece meio pointless para os dias de hoje, lembrando bastante o ótimo Far From Heaven, do Todd Haynes. Bate sim uma nostalgia gostosa e nota-se um amadurecimento estético do diretor, que traz uma pegada mais sensorial, só acho uma pena que tudo isso não tenha sido o bastante.
Mas uma coisa é certa: Eva Green está histericamente soberba e rouba todas as cenas.
A Pelada funciona bem como uma comédia urbana porque satiriza a monotonia (e até o sexismo) na vida sexual do brasileiro comum. É um tipo de humor que funciona porque coloca esses personagens em desafios e situações de constrangimento e frustração com as quais o espectador pode facilmente se identificar e rir a respeito. Análise completa: http://bit.do/SMzj
Puro delírio sobre luxúria, culpa cristã, corrupção e poder. E ninguém melhor indicado que o Ken Russell para satirizar a Igreja e o Estado disputando entre si o papel mais vil da/na História. Filme plasticamente lindo (tinha que ter o dedo do Derek Jarman) e cheio de sequências antológicas e blasfêmicas. Vanessa Redgrave como Madre Joana dos Anjos siriricando já é uma das cenas mais audaciosas e profanas do cinema! Loucura loucura loucura...
E recomendo fortemente o Matka Joanna od Aniolów, do Jerzy Kawalerowicz.
Life is complicated, so what? 85 minutos de Tom Hardy barbudo confinado num carro e lacrando na atuação/sotaque nunca é demais, mas achei os dramas de Locke um tanto esquecíveis e seu desfecho apressado e sem graça. O personagem é muito bem desenvolvido e tem um minimalismo interessante na direção que lembra bastante Like Someone In Love, do Abbas Kiarostami, mas, para além disso, não vi nada demais (considerando o quanto o filme tem sido louvado por aí).
Garota Sombria Caminha Pela Noite
3.7 343 Assista AgoraJim Jarmusch fazendo escola.
Beira-Mar
2.7 454Má que filmeco irritante este Beira-Mar. Pior câncer que existe no cinema nacional é essa tentativa de emular drameco francês com aquela fotografia intimista cinzenta gélida de sempre e personagens apáticos, blasés, fumando cigarros enquanto contemplam o tédio de suas existências juvenis. Era pra ser algo sensorial, mas terminou um Os Famosos e os Duendes da Morte que deu muito, mas muito errado, com protagonistas branquinhos classe média tão interessantes quanto postes e dramas muito mal costurados para disfarçar um filme sobre desabrochar sexual/amizade que tem absolutamente nada a acrescentar ao gênero.
Stonewall: Onde o Orgulho Começou
3.1 95 Assista AgoraTodas as trans finíssimas sendo cortadas do filme. Medo.
Satyricon de Fellini
3.8 145 Assista AgoraFellini Satyricon não é um filme, é um espetáculo. Lindo, absurdo, surreal.
O que dizer da cena em que Encólpio e Gitão fazem um passeio dantesco pelos compartimentos de um bordel, repletos de figuras grotescas e decadentes e cheias de volúpia encarando o espectador como se nos acusassem de estar participando daquele gozo onírico coletivo? Só essa cena e a do banquete dionisíaco de Trimalquião valem todo o filme. Loucura loucura loucura.
O Homem-Urso
4.1 141 Assista Agora"The overwhelming indifference of nature."
O Sopro do Coração
4.0 97“Quero ser livre. É assim que eu amo.”, diz a mãe ao filho de 15 anos após uma desilusão amorosa (com um amante). Durante a confidência, o garoto responde: “Vai encontrar alguém que te ame do jeito que você é.”. Cenas como essa que, normalmente, soariam incômodas, se transformam em momentos de afeto e acalento nas mãos do Louis Malle nessa pequena joia sobre o desabrochar para a vida adulta de um jovem de família burguesa na França dos anos 50.
Creio que de todos os cineastas atuais, talvez só o Almodóvar, com sua destreza em alfinetar instituições sagradas como família e Igreja e de construir personagens deliciosamente absurdas com espontaneidade e humor, seria capaz de realizar um filme como Le souffle au cœur nos dias de hoje. É a arte perdida de transgredir e provocar com sensibilidade, sem deixar que a mão e o ego esmaguem a obra.
Apaixonado por Charlie Parker (cujas músicas embalam o filme), o jovem protagonista é precoce e está sempre disposto a soltar algum comentário desconcertante sobre política, fé ou morte: “Não, sacrilégio não me interessa. É como blasfêmia: significa que você ainda crê.”, diz ele, que é coroinha, após auxiliar uma missa. O filme é recheado de cenas impagáveis como essa e até a mais controversa delas, de tão sutil e bela, quase passa despercebida.
Junto com a rebeldia juvenil de Les quatre cents coups e a nostalgia onírica de Amarcord, nunca foi tão gostoso reviver em um filme o despertar para a vida.
Morangos Silvestres
4.4 656Não há nada mais revigorante que ver este filme aos vinte e poucos anos. Ainda que não estejamos isentos de amarguras e pequenas crises, para nós há o frescor de toda uma vida adiante, sem o peso das nossas decisões a nos esmagar, sem a sombra da morte a nos sussurrar no ouvido, sem o tempo a esvaecer ao nosso redor com a desoladora constatação de que se teve uma vida estéril, solitária e sem amor.
O cinema muito raramente atinge esse nível de excelência e amplitude, sendo capaz de dialogar com todas as gerações sobre um tema tão universal como o tempo sem aderir a um saudosismo barato. Não me recordo de ter sido tão movido emocionalmente por uma cena como aquela em que o Isak Borg está na sacada despedindo-se do trio de jovens intempestivos que conheceu em sua road-trip existencialista. “Mandem notícias.”, diz com o olhar melancólico, porém acalentado: não há como reverter os ponteiros do tempo, mas ainda é possível se conectar com as pessoas. Ali, ele havia aceitado suas falhas e se libertado de toda culpa que o afligia. Que epifania cinematográfica! Uma lágrima inesperada escorreu ali.
Inegável que este seja o filme mais terno e otimista do Bergman. Não que isso seja necessariamente uma falha, mas seu cinema não é marcado por grandes arroubos. Ainda que ele sempre nos ponha a refletir sobre temas como impossibilidade da fé e deterioramento psicológico, a reflexão é quase sempre silenciosa, rígida. Isso não ocorre com Morangos Silvestres, que parece a união perfeita entre o Bergman simbólico de O Sétimo Selo e o Bergman dramático e emocional de Sonata de Outono.
Uma obra magnífica para rever inúmeras vezes ao longo da vida. E sobre esse duelo “Que estou fazendo da minha vida? vs. Que fiz de minha vida até aqui?”, como não lembrar de Hier Encore?
“Porque meus amores morreram antes de existir
Meus amigos partiram e não mais retornarão
Por minha culpa eu criei o vazio em torno a mim
E gastei minha vida e meus anos de juventude
Do melhor e do pior descartando o melhor
Imobilizei meus sorrisos e congelei meus choros
Onde estão agora, meus vinte anos?”
Cães Errantes
3.8 42O abismo nos olhos do Lee Kang-sheng.
Parece que toda a trajetória dessa parceria foi feita pra desembocar aqui.
Difícil sair ileso.
Algo a Romper
3.9 17 Assista AgoraDia desses, li um comentário do tipo “Defender é fácil, quero ver alguém namorar uma pessoa trans”, assim em tom irônico, mas que tem, sim, algo a ser problematizado. No cinema não é diferente. Poucas vezes vi filmes/romances protagonizados por pessoas trans tratadas com a humanização que lhes é devida, sem colocá-las na condição de vítimas (embora seja um retrato politicamente necessário). Até o próprio cinema queer é perverso nesse sentido. Com a exceção de Fassbinder, Almodóvar, John Cameron Mitchell, João Pedro Rodrigues ou mais recentemente Xavier Dolan (com Lawrence Anyways) e a série Transparent, pra citar alguns, pouco conheço de filmes com personagens mais complexas, nuas em sua humanidade e, ainda assim, verossímeis. O fato é que nas listas de filmes LGBT que saem por aí, sempre vemos personagens [cis]convencionais, que quase nunca fogem, por exemplo, do genérico binarismo de gênero, ignorando daí o vasto espectro que existe entre o masculino e o feminino. No fim, quando não secundarizadas em personagens que servem apenas como suporte cômico, as pessoas trans estão quase sempre confinadas em filmes didáticos ou sem força alguma.
Nånting måste gå sönder (Something Must Break, referência à música do Joy Division), do sueco Ester Martin Bergsmark, se destaca nesse cenário não só por ser cuidadoso e certeiro ao retratar diversas questões/situações importantes (que suponho rotineiras quando você é uma pessoa trans), mas por ser um filme competente e honesto. Uma história de amour fou “impossível” entre um rapaz “hétero” e uma jovem proletária que ainda batalha internamente entre o Sebastian que lhe foi designado e a Ellie que sente/deseja ser. Embora comunguem de uma paixão intensa, a indefinição dos papéis sexuais de gênero impede que a relação funcione e floresça da forma que desejam (apesar disso, as cenas de sexo são belíssimas). Em dado momento, ainda confuso com a natureza daquela relação, o rapaz diz “Não sou gay”, de modo que Sebastian/Ellie rapidamente responde “Nem eu”, evidenciando ali a velha confusão que se faz entre orientação sexual e identidade de gênero. “Você é tão bela que me faz querer vomitar”, diz em outra.
Ainda que não lhe falte nuances, o filme não é cristalino na construção da protagonista. Sebastian/Ellie ainda desabrocha, ainda busca por si mesma – e Bergsmark faz questão de não enquadrá-la, de não confiná-la em uma caixinha. Com feições andróginas, em nenhum momento ela se mostra inadequada em seu corpo, apesar de vivenciar situações de vergonha e constrangimento e de reafirmar externamente sua identidade feminina. Afinal, nem toda mulher trans deseja se submeter à transgenitalização. Ellie é bela e se sente bela. Sua batalha é mais interna: o quanto de mim devo sacrificar para ser o que eu quero/sinto ser ou vale a pena sacrificar uma parte de mim para que esse amor torto e belo dê certo? “É como se eu tivesse destruindo a mim mesmo, para me tornar ela.”, reflete. Talvez por isso Sebastian/Ellie seja uma personagem tão multidimensional e instigante, que ora se revela frágil, ora emponderada e autoconfiante.
Um filme muito bonito e também muito necessário. E todo ele com uma trilha sonora espetacular e um olhar tão intimista que até as cenas mais fortes/”sujas” têm sua poesia. Uma delas, inclusive, deixa quaisquer cenas com slow-motion do Lars Von Trier e do Xavier Dolan no chinelo.
Altamente recomendado.
Nós que nos Amávamos Tanto
4.4 79Que turbilhão esse filme! Absolutamente magnífico. Uma ode à vida, aos amores, às relações genuínas que resistem ao tempo e, sobretudo, ao majestoso cinema italiano (com direito a aparições do Fellini e do Mastroianni “gravando” aquela cena clássica na Fontana di Trevi). Tantos momentos marcantes pra guardar na memória, tantas cenas feitas com absoluta paixão e delicadeza que me é difícil pôr em palavras agora.
“Mas ouça... em vez de perseguir uma felicidade impossível, talvez seja melhor preparar uma lembrança para o futuro. Como a desta noite.”
Como essa fala diz tanto sobre o filme inteiro e sobre a vida. Por que nunca nos cruzamos antes, Scola?
Na Cadência do Amor
4.0 92O olhar de conforto da mãe ao perceber que o filho era amado e o monólogo final dela são de uma beleza sem tamanho.
Mister Lonely
3.8 105“It's hard to always laugh when you don't know what people find so funny.”
O Batedor de Carteiras
3.9 117Dói-me dizer isso, mas ainda não tive nenhum arroubo, nenhum arrebatamento com o cinema do Bresson. Será que é 2deepforme? Há essa frase de que gosto muito, onde ele diz “Eu prefiro que as pessoas sintam um filme antes de compreendê-lo”, e isso me fez esperar grandes epifanias vendo seus filmes (algo que Bergman consegue muito naturalmente). Vi apenas este e Au Hasard Balthazar (suas ditas obras-primas), mas nada extraordinário aconteceu, ainda não bateu.
Não digo, com isso, que desgosto do filme ou do estilo do diretor. Gosto muito, me identifico com a temática e adoro o minimalismo da direção. Todas aquelas mãos dançando por entre bolsas e paletós em cortes certeiros e coreografados é formidável. Mas talvez o que mais me impressione é a forma como Bresson consegue extrair o melhor dos seus atores “amadores”. Por mais hermético que seja o protagonista, as expressões faciais e corporais do Martin LaSalle (sempre com o olhar gélido, com postura cabisbaixa, como quem carrega uma culpa maior que suas forças) o denunciam. A última vez que vi uma expressão tão marcante em um ator foi com o Sandro Panseri, em Il Posto, do Ermanno Olmi. Ainda assim, achei difícil compreendê-lo. Não li Crime e Castigo (já tentei uma vez) e isso deve ter pesado em minha absorção do filme, mas não deveria.
Cenas de um Casamento
4.4 232“Às vezes passo horas sem pensar em você, e é maravilhoso.” (Marianne)
“Nos refugiamos em uma existência hermeticamente fechada.” (Johan)
Toda intensidade e toda frágil segurança dos relacionamentos nunca foram tão bem examinadas e dissecadas como neste filme do Bergman. Foram 5 horas consumidas em doses estrategicamente homeopáticas, em 6 episódios que são uma verdadeira jornada na conturbada vida conjugal desses dois grandes analfabetos emocionais: Marianne e Johan (Liv Ullmann e Erland Josephson, absolutamente irrepreensíveis).
De violência verbal à física, de silêncios e olhares a pequenos gestos que denunciam as urgências pessoais e a deterioração progressiva do matrimônio, vamos acompanhando o desmanchar das aparências e as idas e vindas dos dois: suas certezas, dúvidas, angústias, anseios, mágoas, medos, negações e contradições. Os diálogos densos, porém envolventes, e os planos secos (quase fisicamente insuportáveis de tão imersivos) vão revelando a fenomenal habilidade do ser humano em ser tão estranho ao outro, mesmo quando se é tão íntimo. Aos poucos, e muito duramente, constatamos aquela velha lição de que só o amor, quando ele existe, não basta.
Sem dúvidas, o melhor, mais cuidadoso e mais genial trabalho do Bergman visto até agora.
Luz de Inverno
4.3 173“Fazia minhas preces para um deus-eco, que me dava respostas agradáveis e bênçãos tranquilizadoras. Toda vez que confrontava Deus com questões reais, percebia que Ele se transformava em algo feio e revoltante. Um Deus-aranha, um monstro.”
“Se Deus não existe, isso realmente faria alguma diferença? A vida se tornaria compreensível. Seria um alívio. E a morte seria a extinção da vida. O fim do corpo e do espírito. Crueldade, solidão e medo. Todas estas coisas seriam claras e transparentes.”
Duas coisas que eu certamente não falaria a um potencial suicida em crise existencial.
M, o Vampiro de Dusseldorf
4.3 278 Assista AgoraMark M for murderer. Está aí um clássico que faz jus ao prestígio que foi adquirindo ao longo dos anos. Para quem gosta de uma boa e complexa investigação sobre assassinato, M é sedutor, mas engana: está mais para drama social do que suspense (embora seja uma exemplar combinação dos dois). Interessante como, por mais envolvente que seja a atmosfera de crescente paranoia ou que o filme contenha vários elementos do film noir, não há aquela glamorização romanesca típica do gênero, mas sim uma abordagem mais humana, psicológica, repleta de nuances, e com forte, porém sutil teor social.
É um filme primoroso e visionário, tanto pela direção sofisticada e cuidadosa do Fritz (os planos criativos, os reflexos, as sombras, a justaposição de cenas, o uso certeiro do som), quanto pela atemporalidade e complexidade da trama. Meu único problema é que o diretor dedica tempo demais nas cenas de investigação (algumas, a meu ver, descartáveis), mas nada que comprometa o filme, sobretudo os brilhantes minutos iniciais e finais.
Em tempos de justiceiros sociais, o dilema moral lançado pelo filme é mesmo impressionante, seja pela coragem do Fritz em investigar a natureza assassina do criminoso, humanizando-o, seja por esse embate permanecer atual hoje, 80 anos depois. Ficarei com aquele testemunho do esbugalhado Peter Lorre martelando na cabeça por um bom tempo: “Quero escapar, quero fugir de mim mesmo, mas é impossível”. Obra-prima.
Burden of Dreams
4.2 19Acho que nunca vi e jamais verei nada igual a esse documentário. Talvez nem o próprio Fitzcarraldo e o Mein liebster Feind juntos consigam ser tão poderosos quanto o registro feito pelo Les Blank. E não bastassem todas as cenas do Herzog desafiando o impossível para realizar seu projeto megalomaníaco, ele ainda solta esse monólogo aqui:
“Kinski sempre diz que a natureza é cheia de elementos eróticos. Não vejo tanto erotismo. Vejo-a mais cheia de obscenidade. A natureza aqui é vil e ordinária. Não veria nada erótico aqui. Eu veria fornicação e asfixia. Enforcamento e luta por sobrevivência e crescimento e apodrecimento. Claro, há muito sofrimento. Mas é a mesma dor que está ao nosso redor. As árvores estão em dor e os pássaros também. Eu não acho que eles cantam. Eles gritam de dor. É como uma maldição pesando por toda uma paisagem. E qualquer um que vá fundo nisso tem sua parte dessa maldição. Então estamos amaldiçoados com o que estamos fazendo aqui. É uma terra que Deus, se ele existe, criou com raiva. É a única terra onde a criação está inacabada ainda. Dando uma boa olhada no que está ao redor, há um tipo de harmonia. É a harmonia da devastação e morte coletiva. E em comparação à vilania e baixeza e obscenidade de toda esta selva, nós, em comparação a esta enorme articulação, soamos e parecemos como mal pronunciadas e meio-terminadas sentenças de uma estúpida novela suburbana barata. E temos que ficar humildes diante dessa miséria devastadora e fornicação devastadora, desse amadurecimento devastador e dessa falta de ordem devastadora. Mesmo as estrelas no céu pareçam uma bagunça. Não há harmonia no universo. Temos que conhecer esta ideia de que não há real harmonia como nós temos. Mas quando eu digo isso, eu digo cheio de admiração pela selva. Não é que eu a odeie. Eu a amo. Eu a amo demais. Mas eu amo contra meu melhor julgamento.”
Foda.
Livrai-nos do Mal
2.8 1,0K Assista AgoraBuddy-cop meets possession movie. Derrickson já tinha feito isso antes (mesclar dois gêneros bem distintos) em The Exorcism of Emily Rose, ao combinar possessão demoníaca e drama de tribunal. Muita gente rejeitou a ideia, eu achei sensacional e é um dos meus filmes de terror prediletos (sue me haters!). Mas, infelizmente, essa nova transa não funcionou muito bem em Deliver Us from Evil, talvez por ele repetir os mesmos maneirismos batidos dos filmes de ação policial: mulher e filha negligenciadas e secundarizadas pela exaustiva jornada de trabalho do homem, que mantém a casa (arco dramático zzz do filme); demônios internos oriundos da culpa por algo cometido no passado; busca por redenção, etc. Quem já viu Se7en, The Exorcist, curte um Abel Ferrara ou Michael Mann vai entender que ele tentou emular tudo isso num filme só, mas não conseguiu. E o resultado é um suspense superproduzido, atabalhoado e ineficaz.
As 2 estrelas vão então para a tensa cena de exorcismo, para o notável bom gosto musical do capeta, que curte um The Doors maroto, e para aquele padre sensual wild & fumante que parece o próprio Jim Morrison.
O Lobo Atrás da Porta
4.0 1,3K Assista AgoraExcelente estreia do Fernando Coimbra no cinema. Thriller bem sólido que flerta com o noir policial e até com o clássico nipônico Rashômon, do Kurosowa, que lhe empresta a mesma narrativa ambígua e capciosa, ao contar sobre a investigação de um suposto crime passional. Quanto menos se ler a respeito, melhor. Dito isso, a trama em si pode até não ser das mais extraordinárias e o diretor se prolonga desnecessariamente em alguns planos, mas a tensão, o mistério e a progressiva [des]construção dos personagens no decorrer do filme, acompanhada de uma atmosfera cada vez mais sombria, são suficientes para envolver o espectador até um desfecho brutal e inesperado (e uma das sequências mais belas e fortes do filme). Senti um que de Nelson Rodrigues, mas como não dá para falar muito sem revelar detalhes importantes, só digo uma coisa: Leandra Leal, tu é foda, mulher!
Cabaret
4.2 253Everybody loves a winner, so nobody loved me!
Como não morrer de amores pela Liza Minnelli?
Pássaro Branco na Nevasca
3.6 442 Assista AgoraSou fã confesso do Araki, amando quase tudo que ele dirigiu até aqui (tudo dos anos 90) e talvez por isso tenha ido com muita sede ao pote pra esse seu novo filme, ainda mais depois de um trailer tão promissor. Mas nem Cocteau Twins tocando na abertura (e toda a vibe onírica dream pop que o filme evoca) e nem o plot twist que ninguém esperava me fizeram morrer de amores aqui.
Não li o livro, mas a história me parece meio pointless para os dias de hoje, lembrando bastante o ótimo Far From Heaven, do Todd Haynes. Bate sim uma nostalgia gostosa e nota-se um amadurecimento estético do diretor, que traz uma pegada mais sensorial, só acho uma pena que tudo isso não tenha sido o bastante.
Mas uma coisa é certa: Eva Green está histericamente soberba e rouba todas as cenas.
A Pelada
2.5 38A Pelada funciona bem como uma comédia urbana porque satiriza a monotonia (e até o sexismo) na vida sexual do brasileiro comum. É um tipo de humor que funciona porque coloca esses personagens em desafios e situações de constrangimento e frustração com as quais o espectador pode facilmente se identificar e rir a respeito. Análise completa: http://bit.do/SMzj
Os Demônios
3.9 153Puro delírio sobre luxúria, culpa cristã, corrupção e poder. E ninguém melhor indicado que o Ken Russell para satirizar a Igreja e o Estado disputando entre si o papel mais vil da/na História. Filme plasticamente lindo (tinha que ter o dedo do Derek Jarman) e cheio de sequências antológicas e blasfêmicas. Vanessa Redgrave como Madre Joana dos Anjos siriricando já é uma das cenas mais audaciosas e profanas do cinema! Loucura loucura loucura...
E recomendo fortemente o Matka Joanna od Aniolów, do Jerzy Kawalerowicz.
Locke
3.5 444 Assista AgoraLife is complicated, so what? 85 minutos de Tom Hardy barbudo confinado num carro e lacrando na atuação/sotaque nunca é demais, mas achei os dramas de Locke um tanto esquecíveis e seu desfecho apressado e sem graça. O personagem é muito bem desenvolvido e tem um minimalismo interessante na direção que lembra bastante Like Someone In Love, do Abbas Kiarostami, mas, para além disso, não vi nada demais (considerando o quanto o filme tem sido louvado por aí).