Levanta uma problemática muito interessante sobre memória, silêncio, vergonha e deixa à mostra as complexidades que existiam na Alemanha da segunda guerra. Só fiquei passada com os parentes jogando objetos, móveis, roupas, cartas e tantos livros fora da avó que faleceu - acho que são pedaços de memória que se foram e confesso que fiquei chocada
Precisamos conhecer mais (e nos esforçar para saber mais) sobre as figuras públicas do nosso país. Apenas por isso o documentário já merecia uma atenção especial. Mas alem do mais, é um documentário que faz passagem por momentos muito particulares da nossa sociedade e nos ensina por si só. Vale a pena
Eu acho curioso como até hoje a França omite seu passado anti-semita, tanto no caso Dreyfus quanto durante o governo colaboracionista de Vichy. Tentam vender uma imagem de vanguarda progressista, quando na verdade possuem suas heranças racistas bem sedimentadas até hoje. O filme faz um bom retrato (ainda que muita gente tenha achado longo, ele encurtou muitos eventos para tentar passar a maior parte do caso) da tremenda injustiça que Dreyfus sofreu. Não custa levantar a questão: quantos casos semelhantes (envolvendo pessoas de grupos marginalizados socialmente ou até mesmo figuras importantes) não conhecemos em nossa contemporaneidade?
Muito fiel ao que aconteceu realmente com Halston, certa vez vi um documentário e essa série apresenta cada um dos episódios relatados lá, além de adicionar outros eventos. Eu simplesmente amei a caracterização das personagens - todas se pareciam exatamente aos seus respectivos representados - menos Halston: embora Ewan McGregor seja indubitavelmente um bom ator, acho que esteve bem longe de ser como Halston era (exceto nas cenas em que aparecia de óculos escuros, ficavam muito parecidos). O ponto alto foi Krysta Rodriguez interpretando ninguém menos que Liza Minelli, sua atuação e sua caracterização roubaram 90% das cenas em que participou, estava impecável. Também amei a interpretação e a caracterização da Rebecca Dayan como Elsa Peretti (se vocês pegarem imagens de ela fazendo design de joias e compararem com as cenas do filme, verão). Enfim, é uma excelente série, a única escolha que não se encaixou infelizmente foi o Ewan McGregor, ainda que tenha tido uma excelente atuação
Para todos que tem uma relação familiar assim próxima o filme mexe muito conosco. Só me lembro de chorar assim na cena de A lista de Schindler, quando levam as crianças do campo e elas ficam inocentemente dando tchau para as mães, em cima do caminhãozinho. Que tristeza que é a guerra
Vou um pouco na contramão, acho que as adaptações feitas foram válidas (afinal, adaptar é isso: moldar, transpor, ajustar) e o final foi poético. Não é porque a adaptação não foi como teríamos feito que ela não tenha sido interessante, imagino que as pessoas que ainda não conheciam Fahrenheit 451 podem ver esse filme e se interessarem
A série é boa? A série é boa. Ponto pacífico. Gostei muito e acho que ela faz seu papel de oferecer um entretenimento que prende a atenção e faz querer saber logo o desenlace, imagino que o Oriol Paulo pode se desenvolver ainda mais ao longo de sua carreira.
À parte isso, não podemos negar que existem buracos. Ela tem seus momentos forçados - que buscam se encaixar, fazem esforço nesse sentido, mas nem sempre conseguem. Parece que tem aí uma herança desses suspenses e filmes de ações em que miraculosamente tudo pode acontecer. Além disso, as atuações por vezes lembram dramas de novelas. Existem pontos cruciais na série em que os atores acabam não transmitindo bem as emoções (acho que isso acontece muito de maneira geral em séries e filmes quando uma história quer colocar muitas e pesadas situações dramáticas juntas: num mesmo filme tem a morte de entes queridos, vinganças extremas [os coreanos podem nos dar aulas de filmes e atuações espetaculares nesse sentido], surpresas incríveis na vida de alguém e por aí vai - acho que essas são situações muito fortes e que qualquer ser humano que vivesse alguma delas, no mínimo se descontrolaria totalmente - imagino que isso exija muito dos atores e não duvido que seja muito difícil, mas acaba denunciando algumas falhas de atuação, não tem jeito). Sei que muitos adoram o Mário Casas, mas até ele teve seus momentos de desequilíbrio. Isso, para mim, pode ser um erro conjunto: do roteiro, da direção, do esforço do ator. Por fim, existe uma grande quantidade de plot na série, algo que pode ser tão bom quanto ruim: a trama toda está interligada, mas para isso acontecer o roteiro acaba tendo que apelar para algumas narrativas que beiram o não crível
Acredito que muitas formas de representação podem ser adotadas ao se contar a história de um assassino em série, mas o que gostei desse filme foi a crueza escolhida. Para mostrar quão frio o Carlos foi, poderia-se apelar para muitos elementos (e acredito que diversos deles foram explorados nesse filme). A frieza está toda ali, as cenas de mortes são sempre curtas, diretas, parecem quase um pequeno intervalo, as vezes não tem sequer uma trilha sonora - acontecem e pronto, o filme segue - será que não é assim que um assassino frio vê seus crimes? Um momento como os outros, ou uma mera vírgula. É interessante observar como nesses momentos as cores viram um excelente instrumento narrativo (são muitas, quase sempre complementares e destoantes, que destacam Carlos do ambiente ao seu redor)
Alem disso acho que esse filme entrega para o espectador uma espécie peculiar de tensão - tensão sexual, tensão criminal, tensão social - que é transmitida o tempo todo de maneira indireta (nunca através de diálogos ou mesmo monólogos), sempre mediante cores (elas novamente), ou então com a trilha sonora (que por vezes cessa de forma abrupta, ou aumenta repentinamente e toma conta da cena), ou ainda através de leves mudanças e insinuações nas feições do incrível Lorenzo Ferro. Carlos pouco diz ao longo da trama, apenas o essencial, mas é o que mais age no meio de seu bando, além de estar sempre inerte e à parte, como se fosse de fato alguém pouco impressionável, alguém a quem nada surpreende e nada toca
Em tempo, as atuações são todas excelentes, a começar por Lorenzo Ferro, mas também o Chino Darín e as duas mães, Cecília Roth e Mercedes Morán, todos espetaculares. Era um filme que já estava na minha lista mesmo antes de estrear, valeu a pena assistir, fico ansiosa para os próximos filmes argentinos, que venham todos
Só acho que essa capa não faz jus ao conteúdo nem à proposta. E é evidente que ao assistirmos precisamos relevar as nuances sociais (tanto do papel masculino quanto do feminino na Europa do século XIX), mas isso não anula em nada a relevância do tema: esse é um filme sobre descobertas amorosas e sexuais - e aqui não se trata de pornografia, mas sim de erotismo. Em um contexto muito fechado e limitado da França na virada do século, vemos diante de nós a trajetória de uma mulher que provavelmente teria sido uma das poucas a poder explorar seu próprio corpo (não apenas carnalmente, mas também imageticamente, através das fotografias) e seus próprios sentimentos (atração, paixão, ciúmes, ternura) - e quantas em pleno século XXI ainda não exploram tudo isso? Enfim, além da temática (para lá de rica, na minha opinião), o filme tem narrativas de imagem que são lindas, com cores, enquadramentos, sombras. Muito lindo, me ganhou mesmo
O único discurso desse documentário que eu não consigo comprar é quanto ao pai. É difícil julgar, mas sabemos bem que a nossa sociedade é compreensível com a ausência paterna, se ele fosse mais presente, talvez Gypsey tivesse visto nele uma alternativa, fica um pouco obscuro qual era a relação de ambos. Enfim, muito delicado e difícil de julgar, mas é o único ponto do documentário que não me desceu
Um filme tocante, muito sensível. Se você está esperando um filme sobre espaço e ficção científica, abandone essa ideia. A proposta aqui é abordar os recônditos do pensamento sobre afastamento, sobre a vida, sobre escolhas e medos, inseguranças e amor. Tudo isso sem ser pedante. Achei muito realista e consegui me colocar em várias daquelas situações, fosse como mãe ou como filha. Bonito ponto de vista, necessário e bem abordado
Um filme com temática que lembra alguns trabalhos do Scorsese (como Depois de Horas ou O rei da Comédia - filmes que inspiraram tantos outros, me lembra Coringa), destacando a leviandade e a falta de escrúpulos de um meio midiático que é responsável por entorpecer a tantos e tantos espectadores. A atuação do Jake Gyllenhaal é o ponto forte, sem duvida responsável direto no êxito do filme
Tenho sentimentos ambíguos por Jezebel, mas se uma mulher como essa um dia tivesse existido em pleno século XIX, ela seria, no mínimo, admirável. Por mais egocêntrica que Jezebel fosse, é compreensível a sua audácia social e confesso que achei que Preston não a deixaria - ele foi tão progressista ao dançar com ela, para logo depois casar com uma moça do norte (ela vinda de uma região progressista e também sendo mais aberta), achei essas ações contraditórias. O filme é todo da Bette Davis e de seus olhos.
Em tempo: amei ver Henry Fonda e Bette Davis super jovens
Esse filme lembra os filmes dos Irmãos Coen, principalmente Fargo. É a história do inesperado, uma sucessão de erros que leva a uma torpe vitória. Acho que mostra o quanto a aparente ordem da vida na verdade está sempre por um triz. É uma comédia que vale a pena como um entretenimento breve e diferente
O documentário tem viés? Tem. Qualquer documentário teria, isso é indubitável. Ainda assim acredito que muitas circunstâncias foram podadas e descontextualizadas. A impressão que passa, em alguns momentos, é sem duvida enviesada e esvaziada de contexto (até parece que é proposital que a escassez impere na ilha - e os embargos?). Apesar de todo esse ponto de vista, é difícil para alguém antipático continuar com pés atrás com essa ilha apaixonante após ver o documentário. Até mesmo Fidel Castro (que algumas mídias insistem em vender como um grande ditador maldoso) aparece em outro lugar aqui. Ao final do documentário, embora eu tenha gostado muito, sinto falta de algumas explicações e contextos, isso traria muito mais compreensão para quem assiste e seria muito mais honesto intelectual e humanamente falando. De todo modo, vale muito a pena, e todos (todos) os cubanos mostrados nesse documentário são muito cativantes. Gracias!
Andra Day dá o seu melhor em um roteiro que tenta fazer malabares para englobar uma fase da vida da Holiday, em uma visão um tanto própria e individual. Eu tinha tudo para amar um filme com essa proposta, é uma pena. Billie Holiday: você foi excelente
Uma aula bonita de cinema. Talvez eu esteja topando com poucos longas em que os atores coadjuvantes sejam presentes e apaixonantes, porque esse me pareceu um dos raros filmes em que isso acontece. Nós nos envolvemos com o trio central (John Wayne, James Stewart e Vera Miles), mas também criamos apego com o editor e jornalista Peabody (Edmond O’Brien), com o fiel Pompey (Woody Strode) ou com o medroso xerife (Andy Devine). Todas as personagens tem sua construção e seu lugar em cena. Além disso, John Ford soube compor os planos das ações e nos mostrar suas intenções de filmagem (como os momentos em que mais de uma ação se desenvolve na cena, em seus diferentes planos - uma aula está se passando no primeiro plano, enquanto no segundo plano o Mrs Peabody espia emocionado dentro de sua pequena redação jornalística). A história em si traz também nuances, embora a dicotomia seja nítida entre barbarie e "civilização", entre "a letra e o revólver". O roteiro é encaixado e o drama é transmitido sem exageros grotescos. Eu teria mil motivos para continuar elogiando esse filme, recomendaria infinitamente, vale muito a pena
Se esse filme te incomodou porque pareceu moralmente incorreto, ou sem trazer uma mensagem agradável, ele atingiu grande parte do papel dele. Além de ser bem filmado e bem construído (ritmo bem encadeado, personagens cativantes, iluminação e coloração impecáveis), traz a tona cruamente tudo o que está diante de nossos olhos. Foi filmado na Índia, mas como Balram mesmo coloca: o seu país também é assim? Um excelente ponto de partida para pensar nossa sociedade, as dinâmicas que a envolvem, os sentimentos que ela mobiliza. Vale cada minuto
P. S.: eu acho muito curioso como é comum as pessoas interpretarem filmes como se, ao mostrar determinada história, o diretor (ou os produtores) concordasse com aquilo que é exposto. Ao mostrar algo no cinema, por exemplo, eles podem, ao contrário, querer apoiar exatamente o oposto daquilo que exibem na tela. Ou, melhor ainda, não apoiar nada e simplesmente deixar que os outros tomem seus lugares
Acho um filme primoroso por alguns motivos: a escolha do Henry Fonda foi muito acertada (ele tem uma rara sutileza de atuação - ainda mais para os anos 50, repleto de expressões carregadas e exageradas no cinema - que me pareceu adequada a personagem), a composição das cenas que frequentemente transmite uma angústia que cresce à medida que o filme se desenrola e, por último, a meticulosa construção de planos que Hitchcock nos apresenta, com diferentes cenas se desenrolando em cada um deles - a narrativa visual dele tem uma simplicidade que engana, parece que é fácil de fazer, quando na verdade exige criatividade considerável e pensamento em imagem. Resumindo, um filme que entrega de forma honesta aquilo que a história propõe
É um filme que levanta algumas questões éticas interessantes, adentra uma temática que acho bastante delicada: um serial killer tem um lado inocente? Ele tem uma mente "dividida"? É possível separar um lado "inocente" e outro "maléfico"? Esses conceitos existem dentro da lógica de um psicopata? Eu não sei se essas perguntas possuem respostas, mas rendem análises longas e atraentes
Eu não sou a maior fã do mundo de musicais, mas esse realmente está em outro nível. Excelente composição, construção de personagens, condução da história. As paisagens lindas, o contexto da guerra, o papel central da música na história. O tema das noviças que saem para uma redescoberta pode ser explorado no cinema por vários vieses, é um tema muito rico
O Apartamento
3.7 9Levanta uma problemática muito interessante sobre memória, silêncio, vergonha e deixa à mostra as complexidades que existiam na Alemanha da segunda guerra. Só fiquei passada com os parentes jogando objetos, móveis, roupas, cartas e tantos livros fora da avó que faleceu - acho que são pedaços de memória que se foram e confesso que fiquei chocada
A História do Homem Henry Sobel
3.1 2Precisamos conhecer mais (e nos esforçar para saber mais) sobre as figuras públicas do nosso país. Apenas por isso o documentário já merecia uma atenção especial. Mas alem do mais, é um documentário que faz passagem por momentos muito particulares da nossa sociedade e nos ensina por si só. Vale a pena
Dissecando Antonieta
4.2 3Um documentário bem familiar, que mescla uma história pessoal com a consciência social da vida pública, muito bonito
O Oficial e o Espião
3.7 70 Assista AgoraEu acho curioso como até hoje a França omite seu passado anti-semita, tanto no caso Dreyfus quanto durante o governo colaboracionista de Vichy. Tentam vender uma imagem de vanguarda progressista, quando na verdade possuem suas heranças racistas bem sedimentadas até hoje. O filme faz um bom retrato (ainda que muita gente tenha achado longo, ele encurtou muitos eventos para tentar passar a maior parte do caso) da tremenda injustiça que Dreyfus sofreu. Não custa levantar a questão: quantos casos semelhantes (envolvendo pessoas de grupos marginalizados socialmente ou até mesmo figuras importantes) não conhecemos em nossa contemporaneidade?
Halston
3.9 67 Assista AgoraMuito fiel ao que aconteceu realmente com Halston, certa vez vi um documentário e essa série apresenta cada um dos episódios relatados lá, além de adicionar outros eventos. Eu simplesmente amei a caracterização das personagens - todas se pareciam exatamente aos seus respectivos representados - menos Halston: embora Ewan McGregor seja indubitavelmente um bom ator, acho que esteve bem longe de ser como Halston era (exceto nas cenas em que aparecia de óculos escuros, ficavam muito parecidos). O ponto alto foi Krysta Rodriguez interpretando ninguém menos que Liza Minelli, sua atuação e sua caracterização roubaram 90% das cenas em que participou, estava impecável. Também amei a interpretação e a caracterização da Rebecca Dayan como Elsa Peretti (se vocês pegarem imagens de ela fazendo design de joias e compararem com as cenas do filme, verão). Enfim, é uma excelente série, a única escolha que não se encaixou infelizmente foi o Ewan McGregor, ainda que tenha tido uma excelente atuação
Quo Vadis, Aida?
4.2 177 Assista AgoraPara todos que tem uma relação familiar assim próxima o filme mexe muito conosco. Só me lembro de chorar assim na cena de A lista de Schindler, quando levam as crianças do campo e elas ficam inocentemente dando tchau para as mães, em cima do caminhãozinho. Que tristeza que é a guerra
Fahrenheit 451
2.6 173 Assista AgoraVou um pouco na contramão, acho que as adaptações feitas foram válidas (afinal, adaptar é isso: moldar, transpor, ajustar) e o final foi poético. Não é porque a adaptação não foi como teríamos feito que ela não tenha sido interessante, imagino que as pessoas que ainda não conheciam Fahrenheit 451 podem ver esse filme e se interessarem
O Inocente
4.0 305 Assista AgoraA série é boa? A série é boa. Ponto pacífico. Gostei muito e acho que ela faz seu papel de oferecer um entretenimento que prende a atenção e faz querer saber logo o desenlace, imagino que o Oriol Paulo pode se desenvolver ainda mais ao longo de sua carreira.
À parte isso, não podemos negar que existem buracos. Ela tem seus momentos forçados - que buscam se encaixar, fazem esforço nesse sentido, mas nem sempre conseguem. Parece que tem aí uma herança desses suspenses e filmes de ações em que miraculosamente tudo pode acontecer.
Além disso, as atuações por vezes lembram dramas de novelas. Existem pontos cruciais na série em que os atores acabam não transmitindo bem as emoções (acho que isso acontece muito de maneira geral em séries e filmes quando uma história quer colocar muitas e pesadas situações dramáticas juntas: num mesmo filme tem a morte de entes queridos, vinganças extremas [os coreanos podem nos dar aulas de filmes e atuações espetaculares nesse sentido], surpresas incríveis na vida de alguém e por aí vai - acho que essas são situações muito fortes e que qualquer ser humano que vivesse alguma delas, no mínimo se descontrolaria totalmente - imagino que isso exija muito dos atores e não duvido que seja muito difícil, mas acaba denunciando algumas falhas de atuação, não tem jeito). Sei que muitos adoram o Mário Casas, mas até ele teve seus momentos de desequilíbrio. Isso, para mim, pode ser um erro conjunto: do roteiro, da direção, do esforço do ator.
Por fim, existe uma grande quantidade de plot na série, algo que pode ser tão bom quanto ruim: a trama toda está interligada, mas para isso acontecer o roteiro acaba tendo que apelar para algumas narrativas que beiram o não crível
O Anjo
3.6 191Acredito que muitas formas de representação podem ser adotadas ao se contar a história de um assassino em série, mas o que gostei desse filme foi a crueza escolhida. Para mostrar quão frio o Carlos foi, poderia-se apelar para muitos elementos (e acredito que diversos deles foram explorados nesse filme). A frieza está toda ali, as cenas de mortes são sempre curtas, diretas, parecem quase um pequeno intervalo, as vezes não tem sequer uma trilha sonora - acontecem e pronto, o filme segue - será que não é assim que um assassino frio vê seus crimes? Um momento como os outros, ou uma mera vírgula. É interessante observar como nesses momentos as cores viram um excelente instrumento narrativo (são muitas, quase sempre complementares e destoantes, que destacam Carlos do ambiente ao seu redor)
Alem disso acho que esse filme entrega para o espectador uma espécie peculiar de tensão - tensão sexual, tensão criminal, tensão social - que é transmitida o tempo todo de maneira indireta (nunca através de diálogos ou mesmo monólogos), sempre mediante cores (elas novamente), ou então com a trilha sonora (que por vezes cessa de forma abrupta, ou aumenta repentinamente e toma conta da cena), ou ainda através de leves mudanças e insinuações nas feições do incrível Lorenzo Ferro. Carlos pouco diz ao longo da trama, apenas o essencial, mas é o que mais age no meio de seu bando, além de estar sempre inerte e à parte, como se fosse de fato alguém pouco impressionável, alguém a quem nada surpreende e nada toca
Em tempo, as atuações são todas excelentes, a começar por Lorenzo Ferro, mas também o Chino Darín e as duas mães, Cecília Roth e Mercedes Morán, todos espetaculares. Era um filme que já estava na minha lista mesmo antes de estrear, valeu a pena assistir, fico ansiosa para os próximos filmes argentinos, que venham todos
Curiosa
2.8 77 Assista AgoraSó acho que essa capa não faz jus ao conteúdo nem à proposta. E é evidente que ao assistirmos precisamos relevar as nuances sociais (tanto do papel masculino quanto do feminino na Europa do século XIX), mas isso não anula em nada a relevância do tema: esse é um filme sobre descobertas amorosas e sexuais - e aqui não se trata de pornografia, mas sim de erotismo. Em um contexto muito fechado e limitado da França na virada do século, vemos diante de nós a trajetória de uma mulher que provavelmente teria sido uma das poucas a poder explorar seu próprio corpo (não apenas carnalmente, mas também imageticamente, através das fotografias) e seus próprios sentimentos (atração, paixão, ciúmes, ternura) - e quantas em pleno século XXI ainda não exploram tudo isso? Enfim, além da temática (para lá de rica, na minha opinião), o filme tem narrativas de imagem que são lindas, com cores, enquadramentos, sombras. Muito lindo, me ganhou mesmo
Mamãe Morta e Querida
4.0 118 Assista AgoraO único discurso desse documentário que eu não consigo comprar é quanto ao pai. É difícil julgar, mas sabemos bem que a nossa sociedade é compreensível com a ausência paterna, se ele fosse mais presente, talvez Gypsey tivesse visto nele uma alternativa, fica um pouco obscuro qual era a relação de ambos. Enfim, muito delicado e difícil de julgar, mas é o único ponto do documentário que não me desceu
A Jornada
3.4 51 Assista AgoraUm filme tocante, muito sensível. Se você está esperando um filme sobre espaço e ficção científica, abandone essa ideia. A proposta aqui é abordar os recônditos do pensamento sobre afastamento, sobre a vida, sobre escolhas e medos, inseguranças e amor. Tudo isso sem ser pedante. Achei muito realista e consegui me colocar em várias daquelas situações, fosse como mãe ou como filha. Bonito ponto de vista, necessário e bem abordado
O Abutre
4.0 2,5K Assista AgoraUm filme com temática que lembra alguns trabalhos do Scorsese (como Depois de Horas ou O rei da Comédia - filmes que inspiraram tantos outros, me lembra Coringa), destacando a leviandade e a falta de escrúpulos de um meio midiático que é responsável por entorpecer a tantos e tantos espectadores. A atuação do Jake Gyllenhaal é o ponto forte, sem duvida responsável direto no êxito do filme
Jezebel
3.9 111Tenho sentimentos ambíguos por Jezebel, mas se uma mulher como essa um dia tivesse existido em pleno século XIX, ela seria, no mínimo, admirável. Por mais egocêntrica que Jezebel fosse, é compreensível a sua audácia social e confesso que achei que Preston não a deixaria - ele foi tão progressista ao dançar com ela, para logo depois casar com uma moça do norte (ela vinda de uma região progressista e também sendo mais aberta), achei essas ações contraditórias. O filme é todo da Bette Davis e de seus olhos.
Em tempo: amei ver Henry Fonda e Bette Davis super jovens
Últimas Notícias de Yuba County
3.2 32 Assista AgoraEsse filme lembra os filmes dos Irmãos Coen, principalmente Fargo. É a história do inesperado, uma sucessão de erros que leva a uma torpe vitória. Acho que mostra o quanto a aparente ordem da vida na verdade está sempre por um triz. É uma comédia que vale a pena como um entretenimento breve e diferente
Sob Suspeita: O Caso Wesphael (1ª Temporada)
3.0 10 Assista AgoraEssa história só não é mais absurda do que a quantidade enorme de casos semelhantes à ela no mundo
Cuba e o Cameraman
4.4 107 Assista AgoraO documentário tem viés? Tem. Qualquer documentário teria, isso é indubitável. Ainda assim acredito que muitas circunstâncias foram podadas e descontextualizadas. A impressão que passa, em alguns momentos, é sem duvida enviesada e esvaziada de contexto (até parece que é proposital que a escassez impere na ilha - e os embargos?). Apesar de todo esse ponto de vista, é difícil para alguém antipático continuar com pés atrás com essa ilha apaixonante após ver o documentário. Até mesmo Fidel Castro (que algumas mídias insistem em vender como um grande ditador maldoso) aparece em outro lugar aqui. Ao final do documentário, embora eu tenha gostado muito, sinto falta de algumas explicações e contextos, isso traria muito mais compreensão para quem assiste e seria muito mais honesto intelectual e humanamente falando. De todo modo, vale muito a pena, e todos (todos) os cubanos mostrados nesse documentário são muito cativantes. Gracias!
Judas e o Messias Negro
4.1 516 Assista AgoraA pergunta que não quer calar: por que a Dominique Fishback não foi indicada? Excelente atuação
Estados Unidos Vs Billie Holiday
3.3 150 Assista AgoraAndra Day dá o seu melhor em um roteiro que tenta fazer malabares para englobar uma fase da vida da Holiday, em uma visão um tanto própria e individual. Eu tinha tudo para amar um filme com essa proposta, é uma pena. Billie Holiday: você foi excelente
O Homem Que Matou o Facínora
4.3 167Uma aula bonita de cinema. Talvez eu esteja topando com poucos longas em que os atores coadjuvantes sejam presentes e apaixonantes, porque esse me pareceu um dos raros filmes em que isso acontece. Nós nos envolvemos com o trio central (John Wayne, James Stewart e Vera Miles), mas também criamos apego com o editor e jornalista Peabody (Edmond O’Brien), com o fiel Pompey (Woody Strode) ou com o medroso xerife (Andy Devine). Todas as personagens tem sua construção e seu lugar em cena. Além disso, John Ford soube compor os planos das ações e nos mostrar suas intenções de filmagem (como os momentos em que mais de uma ação se desenvolve na cena, em seus diferentes planos - uma aula está se passando no primeiro plano, enquanto no segundo plano o Mrs Peabody espia emocionado dentro de sua pequena redação jornalística). A história em si traz também nuances, embora a dicotomia seja nítida entre barbarie e "civilização", entre "a letra e o revólver". O roteiro é encaixado e o drama é transmitido sem exageros grotescos. Eu teria mil motivos para continuar elogiando esse filme, recomendaria infinitamente, vale muito a pena
O Tigre Branco
3.8 403 Assista AgoraSe esse filme te incomodou porque pareceu moralmente incorreto, ou sem trazer uma mensagem agradável, ele atingiu grande parte do papel dele. Além de ser bem filmado e bem construído (ritmo bem encadeado, personagens cativantes, iluminação e coloração impecáveis), traz a tona cruamente tudo o que está diante de nossos olhos. Foi filmado na Índia, mas como Balram mesmo coloca: o seu país também é assim? Um excelente ponto de partida para pensar nossa sociedade, as dinâmicas que a envolvem, os sentimentos que ela mobiliza. Vale cada minuto
P. S.: eu acho muito curioso como é comum as pessoas interpretarem filmes como se, ao mostrar determinada história, o diretor (ou os produtores) concordasse com aquilo que é exposto. Ao mostrar algo no cinema, por exemplo, eles podem, ao contrário, querer apoiar exatamente o oposto daquilo que exibem na tela. Ou, melhor ainda, não apoiar nada e simplesmente deixar que os outros tomem seus lugares
O Homem Errado
3.9 97 Assista AgoraAcho um filme primoroso por alguns motivos: a escolha do Henry Fonda foi muito acertada (ele tem uma rara sutileza de atuação - ainda mais para os anos 50, repleto de expressões carregadas e exageradas no cinema - que me pareceu adequada a personagem), a composição das cenas que frequentemente transmite uma angústia que cresce à medida que o filme se desenrola e, por último, a meticulosa construção de planos que Hitchcock nos apresenta, com diferentes cenas se desenrolando em cada um deles - a narrativa visual dele tem uma simplicidade que engana, parece que é fácil de fazer, quando na verdade exige criatividade considerável e pensamento em imagem. Resumindo, um filme que entrega de forma honesta aquilo que a história propõe
A Cela
3.1 396 Assista AgoraÉ um filme que levanta algumas questões éticas interessantes, adentra uma temática que acho bastante delicada: um serial killer tem um lado inocente? Ele tem uma mente "dividida"? É possível separar um lado "inocente" e outro "maléfico"? Esses conceitos existem dentro da lógica de um psicopata? Eu não sei se essas perguntas possuem respostas, mas rendem análises longas e atraentes
A Noviça Rebelde
4.2 801 Assista AgoraEu não sou a maior fã do mundo de musicais, mas esse realmente está em outro nível. Excelente composição, construção de personagens, condução da história. As paisagens lindas, o contexto da guerra, o papel central da música na história. O tema das noviças que saem para uma redescoberta pode ser explorado no cinema por vários vieses, é um tema muito rico