Achei que o conjunto da obra ficou muito bom, muito bem vinda essa produção coreana que traz um entretenimento de qualidade, fiquei até nostálgica
Ele tem o estilo dos filmes que passavam na Sessão da Tarde ou no Tela Quente nos anos 2000. As personagens têm seus desenvolvimentos (até que bem fechados mesmo que com tempo curto - e a menininha é extremamente cativante), o visual e o figurino que lembram muito uma estética Blade Runner ou Alien (ou filmes dos anos 80 num geral), os efeitos especiais que são bons e não me pareceram tão artificiais. No fim você vê que se apega às personagens e torce com entusiasmo para que tudo dê certo
Bom, é claro que existem algumas dificuldades no caminho: o filme poderia ter sido uma série curta, para dar o devido espaço às personagens e para entregar algumas explicações que o roteiro não consegue colocar com a clareza que seria necessária. Mas de todo modo esse filme é, num geral, um belíssimo achado
A impressão que me deu é que esse filme poderia ser bem melhor. Parece que tinha uma intenção excelente, mas se perde porque a história acaba superficial. Ao tentar dramatizar os conflitos internos dos policiais esse final me pareceu pouco possível (ou mesmo provável, arriscaria dizer que até um pouco pedante). Enfim, teve a intenção de ser Seven (os sete pecados capitais) e acabou sendo uma trama inconsistente e com um fim pouco impactante, ainda que com ótimos atores
Gente, pelo amor, cuidem da saúde mental de vocês para não serem como os pais dessa menina. Sejam livres, amem, ouçam vocês mesmos. Essa história louca deveria ser sobre os pais e sobre o pedófilo, só isso. Um homem minimamente sagaz conseguiria dar um nó nessa família do interior (e quantas outras talvez não existam por aí?). Que nervoso. A própria série acaba falando da dificuldade que foi das meninas perdoarem e entender as atitudes dos pais, que o tempo todo atribuem ao Berchtold todo mal que aconteceu. Complicado, um documentário que traz a tona muitas questões
Já sei que muitos (talvez quase todos) vão me execrar, mas para mim esse filme faz sentido dentro de uma ligação totalmente nostálgica que estabeleço com ele. Acho que poucas são as pessoas que vão ter essa conexão, mas acho que se vermos ele a partir desse lugar (e tentarmos nos distanciar das ligações com o jogo original da Nintendo - que aliás é uma empresa muito questionável no que tange os direitos autorais), podemos fruir o filme sem esses apegos, acho que a arte pode se permitir invenções ou conexões livres. Enfim, se enxergarmos o longa como uma herança do estilo de cidade pós-futurista do Alien e do Blade Runner, dessas referências bizarras que mesclam cultura periférica e humor debochado, podemos entender melhor o lugar de Super Mario Bros
As cenas iniciais do jovem Ben na festa que a família faz para ele, com closes super fechados no rosto dele causam nitidamente a sensação de angústia e pressão que ele vivencia. Mais tarde o jogo rápido entre os olhares de Ben para o corpo da Sra Robinson, ou as trocas rápidas entre suas cenas de descontração na piscina e as noites na cama com ela. A cena em que ele conta tudo para Elaine e a Sra Robinson aparece minúscula e totalmente vulnerável no fim do corredor. Enfim, poderia enumerar infinitas cenas das incríveis narrativas visuais que Mike Nichols constrói nesse filme. Entre a vontade de desrespeitar todas as regras e assumir um futuro imediato e controlado, vamos sofrendo as angústias junto a Benjamin. Trilha sonora dispensa comentários e se mescla com perfeição à história. Para mim a Anne Bancroft dominou o filme, é incrível. Filme para reassistir sempre
Um dos filmes mais bem pensados do ponto de vista de imagem, se continuássemos revendo encontraríamos inumeráveis elementos de diálogo entre imagem e narrativa
Dos que eu assisti, é o filme do Hitchcock em que ele mais consegue transmitir angústia através da câmera. Inúmeros exemplos disso: a cena inicial alternando rapidamente entre o caminhar de Guy e Bruno (que se encontram em seguida); a cena penosa e arrastada que oscila entre o jogo de tênis e a chegada de Bruno ao parque de diversões (a crescente angústia que essa cena causa não é à toa) e, é claro, a cena do carrossel que mescla uma luta infinita entre ambos com o engatinhar do operador da máquina debaixo do carrossel. A quantidade grande de alternâncias e os zooms graduais que Hitchcock utiliza nos causam uma progressiva aflição e sensação de embate, um lindo exemplo de narrativa pelo movimento
Aqui só gostaria de colocar dois comentários (visto que tem um excelente logo abaixo ressaltando os aspectos do filme):
1) ao final fiquei me questionando a importância da paixão (um quase-romance mútuo) entre Holly e Anna. É apenas mais um filme de suspense? A história do Harry e o drama da penicilina são de fato o centro dessa narrativa? O romance não correspondido, esse talvez-amor que poderia ter ocorrido me fez refletir mais do que os crimes e o engano. Ainda mais se considerarmos um cenário pós-guerra de profunda desesperança e decepção. Confesso que isso me tocou mais, terminei o filme pensando "é uma história de lealdade, amor e solidão, afinal"
2) certa vez ouvi que nada no cinema é por acaso, de modo que a idéia de repetir continuamente uma trilha sonora que não condiz com a expectativa de um filme noir possivelmente foi consciente. Temos várias chaves para pensar nela: um elemento irônico-cômico sobre como todos estavam sendo enganados desde o começo (e de forma inclusive patética do ponto de vista racional: desde o começo do filme cogitamos as mentiras); também uma tentativa de instigar antagonismo através da música (o que nossos olhos veem é para ser levado como suspense ou como outra coisa?); ou então como contraponto sonoro que faz o filme parecer um dos romances baratos da personagem de Holly Martins (uma narrativa jornalesca e barata de romance policial bem que poderia ter uma trilha sonora dessas, não poderia?). Enfim, as possibilidades são infinitas
Isso não é necessariamente ruim, mas não assistam esse filme esperando questionamentos existenciais e emocionais de alguém perdido em Marte. Assistam (como disse alguém aí nos comentários) como se fosse um bom blockbuster. That’s all folks
Criei o hábito de assistir filmes só por causa da Audrey Hepburn, não me arrependo. Mas de todos que já vi, esse tem sido o menos favorito. Acredito que o casal não desenvolveu a química necessária (o Albert Finney tem, no primeiro terço do filme, um papel um tanto forçado e jocoso que incomoda). O que mais me cativou foi a montagem do filme, com as passagens de tempo tão encaixadas e contribuindo para a narrativa. Mas, ao final, a impressão que fica é que o filme podia ter deixado de lado alguns clichês e se aplicado mais profundamente aos diálogos e complexidade do casal central. Vale a pena, mas fiquei com a impressão de que poderia ser melhor
Em tempo, a melhor metáfora do filme é quando Mark (Finney) pede para os funcionários da obra não retirarem uma árvore desgastada e antiga, argumentando que embora estivesse assim ainda estava viva e havia futuro para ela. Linda metáfora
Um filme cíclico, como uma espécie de herança familiar deturpada. O sul interiorano dos EUA mesclado a pobreza, manifestações da fé, aproveitadores e muita violência. Parece um conto da Flannery O’Connor transformado em filme. Roteiro bem encaixado, cores que dialogam com a narrativa, desenvolvimento de cada personagem, enfim, filme excelente
A maneira com que os filmes de Sherlock com o Basil Rathbone e o Nigel Bruce são produzidos deixam um filme de 1942 muito próximo aos filmes atuais. Não sei se estou forçando, mas acho as atuações sem exageros dramáticos (que eram comuns na época), o filme mesmo aposta muito do seu mistério nos diálogos e nas soluções dos enigmas, sem recorrer a performances enérgicas ou em cenas de ação. Estou encantada, parece que encontrei um Sherlock Holmes muito mais a vontade e muito melhor dos que os que eu já assisti até hoje
O Sherlock Holmes de Basil Rathbone é mais leve, menos estereotipado e forçado, ainda que mantenha seu ar de astuto e perspicaz. Me pareceu um Sherlock Holmes mais humano e próximo a nós, embora com todas as características próprias da personagem original. Talvez por isso a história se desenrolou menos como um mistério de época e mais como uma trama policial em que nossa curiosidade fica aguçada e acompanha o desenrolar mediante pistas e diálogos, ou insights das personagens
Me lembrou A infância de Ivan (do Tarkovsky), mostrar a guerra pela ótica de um adolescente que inicialmente tinha apenas aquilo que muitos adolescentes tem: idéias, expectativas, vontade de serem vistos, de serem úteis, de serem heróis. Tudo se esvai dentro do contexto de necessidade extrema que a guerra impõe. Me fez pensar que os russos buscam a delicadeza gráfica mesmo em cenas chocantes. Neblina, lama, sangue, pobreza: a Rússia dos confins rurais foi muito triste durante a guerra (Svetlana Aleksievitch aprofunda bem o tema em A guerra não tem rosto de mulher). O filme deixa a duvida: quem são os vencedores? É realmente possível apontar quem ganhou? Do ponto de vista micro, me parece que todos perdem
Algumas falas ficaram artificiais e forçadas? Sim. Algumas atuações deixaram a desejar? Sim (e as vezes isso acontece até por conta da própria direção, que sugere determinada postura ou entonação de fala). Mas em nada isso exclui a boa produção que foi Desalma, é um prazer ver uma produção nacional que se propõe como mistério e suspense. O local ter sido o Sul e terem buscado a relação com imigrantes também é boa. Enfim, quem sabe o Brasil não esteja dando uma nova respirada cultural? A fotografia é bem pensada e faz referência a Dark e outras séries de mistério
Apesar de ter um tema interessante, acho que a segunda temporada pecou em repetir os recursos narrativos da primeira. A história segue um rumo muito semelhante, os apelos lembram o roteiro da primeira temporada, com algumas mudanças de personagens e de ambiente. Eles se apaixonam, brigam, se separam, sentem ciúmes, retornam. Não que seja inválido, mas resultou pouco criativo dada a temática que poderia ser muito melhor explorada. Ah, sem contar os furos que existem e ficam aparentemente sem resolução. De todo modo, isso não faz da série ruim
Uma preciosidade nacional. Os ambientes decrépitos e arruinados, a melancolia que é exaltada também pelas cores, pelo foco da câmera nas personagens. Os quartos que sufocam, o hospital que sufoca, as boates que sufocam. E ao mesmo tempo, um amor e uma narrativa tão inesperada e acidental. Enfim, uma maravilha de montagem e atuações. Marco Nanini não deixou para ninguém
Um filme mais sobre ética jornalista e narcisismo do mundo da fama do que propriamente sobre assassinatos - o que, de nenhum modo, desmerece a obra, ao contrário, acho que lhe confere mais nuances e camadas. Para quem se interessa pelo tema (e pelo jornalismo literário) indico fortemente os livros da Janet Malcolm, especialmente O jornalista e o assassino. Em tempo: Phillip Seymour Hoffman passa a impressão de que compreendeu totalmente o universo controverso de Truman Capote, o contraste entre a pessoa espalhafatosa e alguém duvidosamente descritivo sobre o que o cerca ficou demonstrado de maneira tão sensível que acho difícil algum outro ator conseguir isso novamente
A linguagem cinematográfica e a forma de narrativa das filmagens muda com o tempo. O filme do Hitchcock parece mais seco e direto, com os plots sendo entregues de acordo com a narrativa, por vezes de maneira crua. Esse filme é mais gradual, mais em consonância com os padrões atuais. Quanto ao roteiro, é claro que hoje em dia seria menos aceitável um crime como esses (o que, pasmem, não impede de continuar acontecendo e tendo seus apoiadores), mas enfim, é preciso considerar não apenas o período de sua filmagem original, como também a mentalidade da época. O que mais conta para mim é o engano que a Sra de Winters tem ao longo da trama, além da oposição que se estabelece entre o que ela acredita ser e o que realmente é. Acredito que ambas versões tem seus méritos e, se a ideia era ser fiel a história original mas adaptar a um suspense mais atual (na medida do possível), esse filme fez muito bem seu papel. Um último adendo: gostei muito da atuação da Kristin Scott Thomas
Um filme que reforça o estado de embaraço das instituições sociais e da vida: os policiais se perdem na enfadonha burocracia e nos erros estratégicos que se somam e ganham consistências inimagináveis, além da relação das personagens com o espaço labiríntico da cidade, da dificuldade de encontrar os esconderijos emaranhados nas ruelas e nas casas que se amontoam. O próprio embaraço do protagonista, que inicialmente acredita piamente que o criminoso está "apenas" vendendo suas trabalhadoras. Tudo isso é genialmente mostrado no filme, de forma a nos deixar angustiados do começo ao fim.
Além disso é um filme tristemente realista, responsável por dar ao cinema coreano um novo respiro, hoje já mais consolidado. Ele me fez pensar que, assim como a vida, infelizmente, os filmes não tem obrigação de nos agradar
Um filme tão solar quanto sombrio, com uma profundidade que me faz lembrar Uma mulher sob influência, ou Noite de Estreia, ou Mãe, ou mesmo Almodóvar. Enfim, um filme que leva a outros filmes
Como disse uma querida amiga, se essa série não fosse contada como é, talvez fôssemos levados a criar não apenas antipatia mas até mesmo repulsa pela personagem da Phoebe Waller-Bridge (aliás, excelente atriz). A narrativa vai te envolvendo a ela, aos dramas (tão banais quanto absolutamente humanos) e tristezas dela até que, apenas no último episódio, é revelado o plot. Caso soubéssemos dele desde o começo, provavelmente não fruiríamos a série (e nem nos envolveríamos tão profundamente com a personagem) do mesmo modo. Ao final, é muito mais simples de entender que todos erram e que, sim, é possível um sincero (e devastador) arrependimento. Só por essa forma de narrativa e condução, já mereceria uma nota boa. Mas além disso tem o humor mais comum, mais sensível e, acho eu, extremamente feminino (no sentido de apropriação de um humor que implica os anseios de parte das mulheres contemporâneas) da série, sarcástico e também humano, na dose certa. Phoebe Waller-Bridge arrasa
Cowboy Bebop: O Filme
4.1 114E essa trilha sonora maravilhosa?
Nova Ordem Espacial
3.6 118Achei que o conjunto da obra ficou muito bom, muito bem vinda essa produção coreana que traz um entretenimento de qualidade, fiquei até nostálgica
Ele tem o estilo dos filmes que passavam na Sessão da Tarde ou no Tela Quente nos anos 2000. As personagens têm seus desenvolvimentos (até que bem fechados mesmo que com tempo curto - e a menininha é extremamente cativante), o visual e o figurino que lembram muito uma estética Blade Runner ou Alien (ou filmes dos anos 80 num geral), os efeitos especiais que são bons e não me pareceram tão artificiais. No fim você vê que se apega às personagens e torce com entusiasmo para que tudo dê certo
Bom, é claro que existem algumas dificuldades no caminho: o filme poderia ter sido uma série curta, para dar o devido espaço às personagens e para entregar algumas explicações que o roteiro não consegue colocar com a clareza que seria necessária. Mas de todo modo esse filme é, num geral, um belíssimo achado
Os Pequenos Vestígios
3.0 394 Assista AgoraA impressão que me deu é que esse filme poderia ser bem melhor. Parece que tinha uma intenção excelente, mas se perde porque a história acaba superficial. Ao tentar dramatizar os conflitos internos dos policiais esse final me pareceu pouco possível (ou mesmo provável, arriscaria dizer que até um pouco pedante). Enfim, teve a intenção de ser Seven (os sete pecados capitais) e acabou sendo uma trama inconsistente e com um fim pouco impactante, ainda que com ótimos atores
Sequestrada à Luz do Dia
3.4 226 Assista AgoraGente, pelo amor, cuidem da saúde mental de vocês para não serem como os pais dessa menina. Sejam livres, amem, ouçam vocês mesmos. Essa história louca deveria ser sobre os pais e sobre o pedófilo, só isso. Um homem minimamente sagaz conseguiria dar um nó nessa família do interior (e quantas outras talvez não existam por aí?). Que nervoso. A própria série acaba falando da dificuldade que foi das meninas perdoarem e entender as atitudes dos pais, que o tempo todo atribuem ao Berchtold todo mal que aconteceu. Complicado, um documentário que traz a tona muitas questões
Super Mario Bros.
1.8 434Já sei que muitos (talvez quase todos) vão me execrar, mas para mim esse filme faz sentido dentro de uma ligação totalmente nostálgica que estabeleço com ele. Acho que poucas são as pessoas que vão ter essa conexão, mas acho que se vermos ele a partir desse lugar (e tentarmos nos distanciar das ligações com o jogo original da Nintendo - que aliás é uma empresa muito questionável no que tange os direitos autorais), podemos fruir o filme sem esses apegos, acho que a arte pode se permitir invenções ou conexões livres. Enfim, se enxergarmos o longa como uma herança do estilo de cidade pós-futurista do Alien e do Blade Runner, dessas referências bizarras que mesclam cultura periférica e humor debochado, podemos entender melhor o lugar de Super Mario Bros
A Primeira Noite de Um Homem
4.1 809 Assista AgoraAs cenas iniciais do jovem Ben na festa que a família faz para ele, com closes super fechados no rosto dele causam nitidamente a sensação de angústia e pressão que ele vivencia. Mais tarde o jogo rápido entre os olhares de Ben para o corpo da Sra Robinson, ou as trocas rápidas entre suas cenas de descontração na piscina e as noites na cama com ela. A cena em que ele conta tudo para Elaine e a Sra Robinson aparece minúscula e totalmente vulnerável no fim do corredor. Enfim, poderia enumerar infinitas cenas das incríveis narrativas visuais que Mike Nichols constrói nesse filme. Entre a vontade de desrespeitar todas as regras e assumir um futuro imediato e controlado, vamos sofrendo as angústias junto a Benjamin. Trilha sonora dispensa comentários e se mescla com perfeição à história. Para mim a Anne Bancroft dominou o filme, é incrível. Filme para reassistir sempre
Pacto Sinistro
4.1 293 Assista AgoraUm dos filmes mais bem pensados do ponto de vista de imagem, se continuássemos revendo encontraríamos inumeráveis elementos de diálogo entre imagem e narrativa
Dos que eu assisti, é o filme do Hitchcock em que ele mais consegue transmitir angústia através da câmera. Inúmeros exemplos disso: a cena inicial alternando rapidamente entre o caminhar de Guy e Bruno (que se encontram em seguida); a cena penosa e arrastada que oscila entre o jogo de tênis e a chegada de Bruno ao parque de diversões (a crescente angústia que essa cena causa não é à toa) e, é claro, a cena do carrossel que mescla uma luta infinita entre ambos com o engatinhar do operador da máquina debaixo do carrossel. A quantidade grande de alternâncias e os zooms graduais que Hitchcock utiliza nos causam uma progressiva aflição e sensação de embate, um lindo exemplo de narrativa pelo movimento
O Terceiro Homem
4.2 175 Assista AgoraAqui só gostaria de colocar dois comentários (visto que tem um excelente logo abaixo ressaltando os aspectos do filme):
1) ao final fiquei me questionando a importância da paixão (um quase-romance mútuo) entre Holly e Anna. É apenas mais um filme de suspense? A história do Harry e o drama da penicilina são de fato o centro dessa narrativa? O romance não correspondido, esse talvez-amor que poderia ter ocorrido me fez refletir mais do que os crimes e o engano. Ainda mais se considerarmos um cenário pós-guerra de profunda desesperança e decepção. Confesso que isso me tocou mais, terminei o filme pensando "é uma história de lealdade, amor e solidão, afinal"
2) certa vez ouvi que nada no cinema é por acaso, de modo que a idéia de repetir continuamente uma trilha sonora que não condiz com a expectativa de um filme noir possivelmente foi consciente. Temos várias chaves para pensar nela: um elemento irônico-cômico sobre como todos estavam sendo enganados desde o começo (e de forma inclusive patética do ponto de vista racional: desde o começo do filme cogitamos as mentiras); também uma tentativa de instigar antagonismo através da música (o que nossos olhos veem é para ser levado como suspense ou como outra coisa?); ou então como contraponto sonoro que faz o filme parecer um dos romances baratos da personagem de Holly Martins (uma narrativa jornalesca e barata de romance policial bem que poderia ter uma trilha sonora dessas, não poderia?). Enfim, as possibilidades são infinitas
Perdido em Marte
4.0 2,3K Assista AgoraIsso não é necessariamente ruim, mas não assistam esse filme esperando questionamentos existenciais e emocionais de alguém perdido em Marte. Assistam (como disse alguém aí nos comentários) como se fosse um bom blockbuster. That’s all folks
A Escolha de Sofia
4.0 514 Assista AgoraVale pensar: à qual escolha de Sofia o nome do filme se reporta?
Um Caminho Para Dois
4.1 95Criei o hábito de assistir filmes só por causa da Audrey Hepburn, não me arrependo. Mas de todos que já vi, esse tem sido o menos favorito. Acredito que o casal não desenvolveu a química necessária (o Albert Finney tem, no primeiro terço do filme, um papel um tanto forçado e jocoso que incomoda). O que mais me cativou foi a montagem do filme, com as passagens de tempo tão encaixadas e contribuindo para a narrativa. Mas, ao final, a impressão que fica é que o filme podia ter deixado de lado alguns clichês e se aplicado mais profundamente aos diálogos e complexidade do casal central. Vale a pena, mas fiquei com a impressão de que poderia ser melhor
Em tempo, a melhor metáfora do filme é quando Mark (Finney) pede para os funcionários da obra não retirarem uma árvore desgastada e antiga, argumentando que embora estivesse assim ainda estava viva e havia futuro para ela. Linda metáfora
O Diabo de Cada Dia
3.8 1,0K Assista AgoraUm filme cíclico, como uma espécie de herança familiar deturpada. O sul interiorano dos EUA mesclado a pobreza, manifestações da fé, aproveitadores e muita violência. Parece um conto da Flannery O’Connor transformado em filme. Roteiro bem encaixado, cores que dialogam com a narrativa, desenvolvimento de cada personagem, enfim, filme excelente
Sherlock Holmes e a Arma Secreta
3.8 20 Assista AgoraA maneira com que os filmes de Sherlock com o Basil Rathbone e o Nigel Bruce são produzidos deixam um filme de 1942 muito próximo aos filmes atuais. Não sei se estou forçando, mas acho as atuações sem exageros dramáticos (que eram comuns na época), o filme mesmo aposta muito do seu mistério nos diálogos e nas soluções dos enigmas, sem recorrer a performances enérgicas ou em cenas de ação. Estou encantada, parece que encontrei um Sherlock Holmes muito mais a vontade e muito melhor dos que os que eu já assisti até hoje
Melodia Fatal
3.7 12 Assista AgoraO Sherlock Holmes de Basil Rathbone é mais leve, menos estereotipado e forçado, ainda que mantenha seu ar de astuto e perspicaz. Me pareceu um Sherlock Holmes mais humano e próximo a nós, embora com todas as características próprias da personagem original. Talvez por isso a história se desenrolou menos como um mistério de época e mais como uma trama policial em que nossa curiosidade fica aguçada e acompanha o desenrolar mediante pistas e diálogos, ou insights das personagens
Vá e Veja
4.5 756 Assista AgoraMe lembrou A infância de Ivan (do Tarkovsky), mostrar a guerra pela ótica de um adolescente que inicialmente tinha apenas aquilo que muitos adolescentes tem: idéias, expectativas, vontade de serem vistos, de serem úteis, de serem heróis. Tudo se esvai dentro do contexto de necessidade extrema que a guerra impõe. Me fez pensar que os russos buscam a delicadeza gráfica mesmo em cenas chocantes. Neblina, lama, sangue, pobreza: a Rússia dos confins rurais foi muito triste durante a guerra (Svetlana Aleksievitch aprofunda bem o tema em A guerra não tem rosto de mulher). O filme deixa a duvida: quem são os vencedores? É realmente possível apontar quem ganhou? Do ponto de vista micro, me parece que todos perdem
Desalma (1ª Temporada)
3.8 195Algumas falas ficaram artificiais e forçadas? Sim. Algumas atuações deixaram a desejar? Sim (e as vezes isso acontece até por conta da própria direção, que sugere determinada postura ou entonação de fala). Mas em nada isso exclui a boa produção que foi Desalma, é um prazer ver uma produção nacional que se propõe como mistério e suspense. O local ter sido o Sul e terem buscado a relação com imigrantes também é boa. Enfim, quem sabe o Brasil não esteja dando uma nova respirada cultural? A fotografia é bem pensada e faz referência a Dark e outras séries de mistério
Você (2ª Temporada)
3.5 611 Assista AgoraApesar de ter um tema interessante, acho que a segunda temporada pecou em repetir os recursos narrativos da primeira. A história segue um rumo muito semelhante, os apelos lembram o roteiro da primeira temporada, com algumas mudanças de personagens e de ambiente. Eles se apaixonam, brigam, se separam, sentem ciúmes, retornam. Não que seja inválido, mas resultou pouco criativo dada a temática que poderia ser muito melhor explorada. Ah, sem contar os furos que existem e ficam aparentemente sem resolução. De todo modo, isso não faz da série ruim
Greta
3.5 74 Assista AgoraUma preciosidade nacional. Os ambientes decrépitos e arruinados, a melancolia que é exaltada também pelas cores, pelo foco da câmera nas personagens. Os quartos que sufocam, o hospital que sufoca, as boates que sufocam. E ao mesmo tempo, um amor e uma narrativa tão inesperada e acidental. Enfim, uma maravilha de montagem e atuações. Marco Nanini não deixou para ninguém
Capote
3.8 372 Assista AgoraUm filme mais sobre ética jornalista e narcisismo do mundo da fama do que propriamente sobre assassinatos - o que, de nenhum modo, desmerece a obra, ao contrário, acho que lhe confere mais nuances e camadas. Para quem se interessa pelo tema (e pelo jornalismo literário) indico fortemente os livros da Janet Malcolm, especialmente O jornalista e o assassino. Em tempo: Phillip Seymour Hoffman passa a impressão de que compreendeu totalmente o universo controverso de Truman Capote, o contraste entre a pessoa espalhafatosa e alguém duvidosamente descritivo sobre o que o cerca ficou demonstrado de maneira tão sensível que acho difícil algum outro ator conseguir isso novamente
Rebecca: A Mulher Inesquecível
2.9 334 Assista AgoraA linguagem cinematográfica e a forma de narrativa das filmagens muda com o tempo. O filme do Hitchcock parece mais seco e direto, com os plots sendo entregues de acordo com a narrativa, por vezes de maneira crua. Esse filme é mais gradual, mais em consonância com os padrões atuais. Quanto ao roteiro, é claro que hoje em dia seria menos aceitável um crime como esses (o que, pasmem, não impede de continuar acontecendo e tendo seus apoiadores), mas enfim, é preciso considerar não apenas o período de sua filmagem original, como também a mentalidade da época. O que mais conta para mim é o engano que a Sra de Winters tem ao longo da trama, além da oposição que se estabelece entre o que ela acredita ser e o que realmente é. Acredito que ambas versões tem seus méritos e, se a ideia era ser fiel a história original mas adaptar a um suspense mais atual (na medida do possível), esse filme fez muito bem seu papel. Um último adendo: gostei muito da atuação da Kristin Scott Thomas
O Caçador
4.1 313Um filme que reforça o estado de embaraço das instituições sociais e da vida: os policiais se perdem na enfadonha burocracia e nos erros estratégicos que se somam e ganham consistências inimagináveis, além da relação das personagens com o espaço labiríntico da cidade, da dificuldade de encontrar os esconderijos emaranhados nas ruelas e nas casas que se amontoam. O próprio embaraço do protagonista, que inicialmente acredita piamente que o criminoso está "apenas" vendendo suas trabalhadoras. Tudo isso é genialmente mostrado no filme, de forma a nos deixar angustiados do começo ao fim.
Além disso é um filme tristemente realista, responsável por dar ao cinema coreano um novo respiro, hoje já mais consolidado. Ele me fez pensar que, assim como a vida, infelizmente, os filmes não tem obrigação de nos agradar
Equilibrium
3.5 601 Assista AgoraUm Kill Bill distópico, um John Wick versão do futuro? Sim. Mas gostei? Gostei
Julieta dos Espíritos
4.0 130 Assista AgoraUm filme tão solar quanto sombrio, com uma profundidade que me faz lembrar Uma mulher sob influência, ou Noite de Estreia, ou Mãe, ou mesmo Almodóvar. Enfim, um filme que leva a outros filmes
Fleabag (1ª Temporada)
4.4 627 Assista AgoraComo disse uma querida amiga, se essa série não fosse contada como é, talvez fôssemos levados a criar não apenas antipatia mas até mesmo repulsa pela personagem da Phoebe Waller-Bridge (aliás, excelente atriz). A narrativa vai te envolvendo a ela, aos dramas (tão banais quanto absolutamente humanos) e tristezas dela até que, apenas no último episódio, é revelado o plot. Caso soubéssemos dele desde o começo, provavelmente não fruiríamos a série (e nem nos envolveríamos tão profundamente com a personagem) do mesmo modo. Ao final, é muito mais simples de entender que todos erram e que, sim, é possível um sincero (e devastador) arrependimento. Só por essa forma de narrativa e condução, já mereceria uma nota boa. Mas além disso tem o humor mais comum, mais sensível e, acho eu, extremamente feminino (no sentido de apropriação de um humor que implica os anseios de parte das mulheres contemporâneas) da série, sarcástico e também humano, na dose certa. Phoebe Waller-Bridge arrasa