Se tudo der certo é o q acontecerá a todos nós: Envelheceremos. O filme trata disso de forma pungente, dura sob áspera delicadeza. O labiríntico movimento da memória perdida em si mesma, o alzheimer, a velhice, a perda da solidez de uma realidade que não mais se pode captar onde tudo parece rodopiar em miríades de imagens que não mais correspondem aquelas que se tem do mundo pq representam um mundo que finda: a experiência da própria vida. A sólida percepção da realidade dá lugar agora a um mundo onde os sentido consolidado de uma vida se transtorna em fantasmagorias de uma realidade fraturada pela perda de si mesma. Atuação primorosa de Anthony Hopkins e belo trabalho de montagem q só valorizam em nós o sentimento expresso pela obra.
É de uma beleza e simplicidade que nos comovem. Um documentário verdadeiramente poético que na crueza de uma vida áspera nos leva ao mel do melhor cinema possível. As abelhas atemorizam, assustam com seus zumbidos, mas talvez por isso mesmo, por representarem a natureza na harmonia de um colmeia, nos digam e nos falem de perto sobre respeitar esse equilíbrio coisa que a personagem Hatidze faz tão bem. A convivência apresenta o contraste pelo modo predatório e violento como age o vizinho e sua família itinerante. É um filme que transborda da tela como o mel transborda dos favos e nos dá esse gosto da dura poesia que é a vida. Altamente recomendável!
É um bom filme. Tem no ciclo das estações, no périplo da vida sua razão de ser. Tudo muda, tudo flui entre o efêmero e o eterno naquilo que somos mais profundamente: mutações. A harmonia, o peso do mundo, a dor, o prazer e o aprendizado são as lições da obra que em silêncio nos diz muito convidando a uma viagem interior, a um falar baixo, a um olhar pra dentro na busca de si mesmo que na multiplicidade das coisas se perde e se reencontra. Contudo, há uma espécie de budismo made in exportação q soa como solução fácil e palatável ao gosto médio. Um didatismo dos símbolos apresentados como se o poético por si só não pudesse dizer mesmo sendo indizível. O fato é q é um filme que nos dá algo de nós mesmos e desse algo inexplicável a que chamamos vida. Vale muito a pena ver e rever.
Uma aula de cinema! A fotografia é um verdadeiro deslumbre estético. Fica fundo na gente esse gosto de melancolia, de funda nostalgia por coisas q não vivemos de fato, mas que aqui conseguimos experenciar. Um clima de época que nos fica sobretudo pelas imagens (em que pese a perversão humana há esse fascínio do olhar pela depravação) e as canções dos gêmeos reverberam fundo na alma como uma tristeza viva própria do corpo que decaído/elevado pela captura do olhar fotográfico encontra a si mesmo.
Filmaço! O ritmo alucinante, as perseguições, o tema dos excluídos, a violência para além da violência policial são tratados de modo preciso, sem rodeios indo direto ao ponto como numa espécie de documentário nada ficcional de uma França excluída, marginalizada. Como faz lembrar o Brasil e seus morros e sua miséria e sua gente humilhada e ofendida... Um caldeirão se forma e explode em rancor, em raiva dos que são pisoteados por todo um sistema que não dá a mínima pra eles, que os alija dos direitos mais básicos e os mantem reféns em precárias condições.
Mais um filme grego interessante e estranho. Apples, trata da memória e em última instância das experiências humanas constituídas através dela. Somos aquilo q vivemos e aquilo q lembramos q vivemos, ou seja, o que experenciamos, mas podemos tbm ser aquilo que inventamos e esquecemos de nós mesmos. A maçã símbolo recorrente aqui me faz pensar na queda do homem do paraíso bíblico. O interdito/ a proibição de não se poder comer esse q era o símbolo do conhecimento, portanto memória, portanto dor. Como um Adão decaído o homem contemporâneo vaga num mundo da perda da experiência posto q essa é sempre tomada como criação artificial vide as fotos, as selfies em redes sociais. Postar para viver q vida? Um vazio. A personagem surge como um autômato, um ser desprovido de subjetividade própria, sem identidade que foi perdida e essa perda o faz mergulhar num ciclo de falsas vivências do cotidiano, da própria vida: falsas pq desprovidas de sentido. O interessante é q nós espectadores vamos nos recordando, mordendo nossas maçãs conforme citam-se filmes e mesmo músicas no filme: É como se nós observássemos observando o personagem q fotografa mecanicamente a si mesmo numa espiral entre esquecimento e memória.
É um filme em que o poético se sobressaí ao narrativo, ou então a mistura entre um e outro aponta para um elemento de névoa, algo mais do toque, das sensações despertadas pela história que adensa-se em camadas de facetados sentidos. O que quero dizer é q a obra é belíssima, a fotografia encanta, tudo visa a harmonia entre a alma e o meio como diz um personagem a certa altura. É como se recitássemos um mantra vital, uma ode aos detalhes, ao cotidiano. Notória é a presença da natureza, o uso das cores, em especial os tons de verde, a música sempre tendendo ao suave, ao melancólico. Enfim, um enredo q cose para dentro da perspectiva interior das personagens corroborado pelas imagens q fortalecem essa perspectiva.
Certamente este é um dos filmes q mais gostei de todos q vi até hoje! É de um rigor lírico, de uma beleza estética estonteante, q surpreende, q fascina e q mais do isso: é muito gostoso de se assistir! A escolha pelo p&b só reforça e aprofunda a alma desta película q encanta pelos diálogos, pelas personagens em sua frágil humanidade, o enredo que mescla soberbamente o real e o sonho. Todos parecem precisar lidar com o passado, com o que fizeram e fazem de suas próprias vidas e nesse "acerto de contas" possibilitado pelo eclipse ( que parece servir para expurgar a passagem do tempo, congelá-lo momentaneamente ) onde como reflexo de vidas que se perderam pelo caminho agora podem expandir-se como que revelando-se pelo sentido ainda que melancólico de um futuro ainda que seja isto uma ilusão.
É um belo filme. A chuva aqui evidencia-se como metáfora/símbolo da interioridade nublada das personagens centrais: professora/aluno. Nesse encontro de duas solidões, há uma espécie de amparo mútuo. A professora que tem uma necessidade de afeto por lhe faltar um filho e tbm pelo marido demasiadamente ausente. O aluno cujos pais tbm não se fazem presentes. Há ainda uma questão política de fundo entre Malásia x Singapura e mesmo a da velhice em desamparo do sogro da professora de mandarim. O mais belo mesmo é o modo como se dão em todas as suas nuances e dificuldades as relações humanas.
O filme trata da morte. E por consequência da vida. São reflexões sobre a morte. Sobre o fim. A finitude da vida humana. Seu desaparecimento. Tendemos a acreditar q a morte é o oposto da vida quando ela seria na verdade uma parte necessária da própria vida. Não há vida sem morte. Uma vida só está completa quando finda, quando termina. E, justamente em face da morte é q podemos dar sentido a nossa própria existência q não é eterna, por isso a obra nos ajuda a pensar sobre a condição de cada um de nós, sobre o modo como estamos vivendo. Se a única certeza é o nosso encontro com o fim, a outra certeza deveria ser que estamos fazendo esta vida valer a pena.
Este filme vale cada um dos minutos de suas pouco mais de duas horas de duração. Para mim apresenta claramente a estrutura de um pesadelo, isto é, de um estrutura onírica fechada sobre si mesma da qual o sujeito não pode e não consegue escapar. O ambiente é claustrofóbico tanto no sentido do espaço exterior, o próprio apartamento e mais ainda no sentido que envolve a psique da personagem que é tomada totalmente pela obsessão do suicídio da antiga inquilina. Há um tom profundamente literário na obra e até kafkiano no sentido do pesadelo experenciado pela personagem do inquilino que numa espiral de paranoia vê-se preso de sua própria mente perturbada arrastado é claro pelo mundo frio em que parece ser um pária ademais pela sua condição de estrangeiro, é um polonês vivendo na França. O clima de tensão crescente leva a exasperação dos atos e nunca temos certeza de que se trata apenas de um delírio de uma mente transtornada ou se tudo seria mesmo uma espécie de conspiração contra ele mesmo tramada pelos demais moradores do prédio. O fato é que temos uma obra irrepreensível que nos atrai e fascina pelo que permite evocar, uma obra maestra que vale muito a pena ser assistida.
História simples contada de modo preciso. Há uma angústia mergulhada em melancolia, uma espécie de tristeza geral, um quê de solidão nas personagens que transbordam humanidade pelos poros. Num certo sentido, da paisagem, da desolação, do vazio me fez pensar na obra de Edward Hopper. A dificuldade da vida, da falta de emprego nunca torna-se aqui empecilho para a esperança mesmo que parca e mesmo que desafiada pelos "tombos" que a vida dá na gente. Retrato por vezes comovente ora cômico que de deve-se seguir em frente apesar de.
Arte reflexiva, arte do silêncio. Alta tensão. Cinema áspero, puro, sem ruídos, onde tudo fluí inescrupulosamente sem retoques confirmando esta obra prima. Me lembrou "Grande sertão: veredas" do Rosa: o sertão o deserto: dentro da gente. A bruta flor da violência desabrochando na alma, na paisagem mais do que paisagem anima. Na rudeza de um elemento que de tão tenso transborda em sangue, em perseguição, não apenas num dado circunstancial entre determinados personagens, mas como uma forma maior, um espécie de destino, de carma, quem sabe entre forças que não são apenas pura contraposição antes complementares de uma mesma alma que se contorne num debate de feições metafísicas. Se o mal é a essência, o cujo das coisas, a morte companheira obscura é a eterna perseguição daquilo que não se acaba ou um fim em si mesma; daí que o sentido escorre e não se mantenha inteiriço, em aberto o destino segue no desvão ao aparente rumo ao mais além.
É um filme estranho, esquisito, bizarro e talvez por isso mesmo muito bom! Foge de uma narrativa convencional investindo no absurdo de uma narrativa (espécie de conto de fadas expressionista), onde ao invés da floresta temos o bunker ( a remeter quem sabe a prisão provisória vide quartos, apartamentos, de filhos superprotegidos que devem vencer na vida (bons empregos, bons salários e coisas assim). O comportamento exagerado entre uma rigidez formal e algo caricatural da família expõe uma fissura por onde entra um elemento estranho a este espaço: a figura do estudante que aos poucos acaba por naturalizar o nonsense e metaforicamente nos dizer mais de nossa sociedade do que ousamos saber. Em suma: eu recomendo!
É um filme belíssimo! De caráter amplamente contemplativo com uma fotografia em p&b. O filme tem uma espécie de força poética que ressoa ora em tons melancólicos e tristes, ora numa alegria manifestada pela própria vida,pelo estar-se vivo. Partindo da mirada de duas crianças parece expressar o desejo de espanta-se, de admirar-se com a descoberta das coisas e do mundo na medida em que compreende as estações do ano e mostra sentimentos e perspectivas distintas contemplando assim a própria vida em tudo que ela tem de maravilhoso e de ruim, na inteireza de suas tensões e na felicidade clandestina do viver. Vale muito a pena ver esse filme!
Um bando de cães raivosos, eis a memória. Q nos mordem, espicaçam, estraçalham fundo como bombardeios. Este documentário animação é belíssimo em pleno contraste com o tema que trata: a chaga aberta da guerra. Aquilo que fica no apagar do que se quer esquecer, do que se resgata é uma ferida pulsante a céu aberto. O final, a cena final é de quebrar a espinha da alma. Da espécie de sonho/pesadelo da guerra animação rememorada/recontada para a imagem de uma lancinante e aguda daquilo que faz calar o sentido mesmo do que é a humanidade.
É um excelente filme! Um filme que exige um espectador ativo que "crie" aquilo que pode não estar literalmente na tela por conta da câmera fixa e do proposital "desenquadramento" que nos incomoda e obriga a refletir sobre o que paradoxalmente se revela escondendo. As histórias narradas tem mais um sentido de painel social do que o de uma narrativa linear onde se há um ponto que as une é naquilo se que depreende de cada situação, ou seja, pontos limites levados ao extremo, quando algo foge ao controle do indivíduo na medida do cerceamento deste pelo grupo do qual faz parte.
Um grande filme q proporciona um expurgo, isto é, uma espécie de catarse, um processo de purificação pelo qual passam as personagens e nós ao final da película. O mal é aqui mostrado como aquilo que permanece em meio a passagem do tempo, aquilo que pode nos aniquilar feito um veneno que fica em nossa veias. Daí a necessidade dos flashbacks do filme, para mostrar que em contextos distintos a presença do mal é uma semente que deve ser extirpada de nós.
Belo como um pesadelo e inútil como um poema. São esses dois sentimentos que me assaltam ao ver o filme: pesadelo e poema. Por contraditório que possa parecer acho que para mim é isso mesmo: um pesadelo fecundado por um poema ou um poema grávido de um pesadelo. A estrutura da obra em quadros não estanques, mas comunicativos lembra isso do pesadelo ao mesmo tempo em que o triunfo visual, a excepcionalidade imagética do preto e branco aqui dá o tom de um poema forte e rude. O anjo da história sabemos é terrível e tbm torpe e vil. O que há de atroz na obra é então esse pesadelo poético que de tão feroz apresenta uma brutal delicadeza.
É um filme que não se quer como filme apenas, que não se contenta em narrar uma história na medida que o que busca e propõe é uma experiência para além do que pode ser dito em linguagem cinematográfica: ele ambiciona ( e consegue) colocar-se como uma forma sinestésica, como uma espécie de devir não racional pois busca o sentir em sua totalidade daí o uso da cor, daí o harmonioso entrelaçamento da música que suscita e faz despertar estados de alma para além do rigor de uma linguagem específica. Me lembra sob certos aspectos o tipo de narrativa de Clarice Lispector, a exemplo: "Não se compreende música: ouve-se. Ouve-me então com teu corpo inteiro", ou seja, apesar do teor abstratizante da obra que deseja o estado de alma tem-se uma corporificação pelo sentir que se dá e se revela não num aspecto, mas na busca de uma totalidade que perde-se no eu que tenta compreendê-la.
A questão é saber-se pó e nada. Saber-se tempo. Solidão, labirinto e passagem. Quando afogar-se nas nuvens o que dirá das ondas? Venta sobre a sua vida. Venta sobre a sua vida agora e não depois.
É divertido, é muito gostoso de ver, é engenhoso. Cada cena, cada diálogo é como uma pequena peça de uma engrenagem q funciona muito bem, q está perfeitamente em seu devido lugar. Aqueles q sempre se lascaram, q foram passados pra trás, aqueles q pagam as contas, aquelas pessoas comuns feito eu e vocês, os tontos enfim parecem ter vez nesta obra deliciosa. É tão bom torcer pros personagens q a gente se emociona junto, vibra junto e quer mais mesmo q os hijos de puta deste mundo se ferrem, como é prazeroso esse filme q sim mostra a força da cooperação dos tontos e do que eles com engenho e arte são capazes.
"Dançamos em círculos e supomos, mas o segredo senta no meio e sabe" Robert Frost. Gosto mais das coisas q não entendo do q daquelas q posso compreender facilmente. Post Tenebras Lux é exatamente isso. Toque uma música ao contrário. Um sonho. Memórias desamparadas. Prenhe de símbolos a obra caminha vagarosamente embaralhando elipses sem explicação, demostrando um afã hermético, um gosto pelo mistério, por um animismo onde tudo parece respirar numa voltagem do mais além. Mais além da compreensão as peças são dispostas num fiapo narrativo q antes aprofunda-se sem q tenha propriamente o desejo de se fazer entender. O mais engraçado é q ao não compreender compreendemos. Uma espécie de inquietação permanente q parece nos vir por um processo do q não está e está lá ao mesmo tempo, uma coisa q palpita como uma epifania, um mistério q tangenciamos sabendo q o perdemos ainda q o tenhamos por vias outras q não a razão.
É um filme pautado sobretudo pela incompreensão mútua de todos os personagens. A sombra de uma árvore q seria signo e significado de paz e tranquilidade é aqui justamente o seu oposto e serve de estopim para pequenos detonadores do ódio cotidiano. A convivência quer entre vizinhos ou entre um casal esboroa-se gradualmente pela falta de uma comunicação verdadeira, de uma razoabilidade necessária, onde ninguém mais escuta ninguém e se preocupa apenas com seus próprios motivos. O filme é muito feliz no modo como constrói esse acirramento de ânimos, essa coisa q explode sem sentido como mínimas fagulhas q fazem as coisas desandarem até um ponto sem volta. Um diálogo de surdos nunca é melhor resposta ao dissabores da vida social por conduzir inevitavelmente a um beco sem saída.
Meu Pai
4.4 1,2K Assista AgoraSe tudo der certo é o q acontecerá a todos nós: Envelheceremos. O filme trata disso de forma pungente, dura sob áspera delicadeza. O labiríntico movimento da memória perdida em si mesma, o alzheimer, a velhice, a perda da solidez de uma realidade que não mais se pode captar onde tudo parece rodopiar em miríades de imagens que não mais correspondem aquelas que se tem do mundo pq representam um mundo que finda: a experiência da própria vida. A sólida percepção da realidade dá lugar agora a um mundo onde os sentido consolidado de uma vida se transtorna em fantasmagorias de uma realidade fraturada pela perda de si mesma. Atuação primorosa de Anthony Hopkins e belo trabalho de montagem q só valorizam em nós o sentimento expresso pela obra.
Honeyland
4.1 152É de uma beleza e simplicidade que nos comovem. Um documentário verdadeiramente poético que na crueza de uma vida áspera nos leva ao mel do melhor cinema possível. As abelhas atemorizam, assustam com seus zumbidos, mas talvez por isso mesmo, por representarem a natureza na harmonia de um colmeia, nos digam e nos falem de perto sobre respeitar esse equilíbrio coisa que a personagem Hatidze faz tão bem. A convivência apresenta o contraste pelo modo predatório e violento como age o vizinho e sua família itinerante. É um filme que transborda da tela como o mel transborda dos favos e nos dá esse gosto da dura poesia que é a vida. Altamente recomendável!
Primavera, Verão, Outono, Inverno e... Primavera
4.3 377 Assista AgoraÉ um bom filme. Tem no ciclo das estações, no périplo da vida sua razão de ser. Tudo muda, tudo flui entre o efêmero e o eterno naquilo que somos mais profundamente: mutações. A harmonia, o peso do mundo, a dor, o prazer e o aprendizado são as lições da obra que em silêncio nos diz muito convidando a uma viagem interior, a um falar baixo, a um olhar pra dentro na busca de si mesmo que na multiplicidade das coisas se perde e se reencontra. Contudo, há uma espécie de budismo made in exportação q soa como solução fácil e palatável ao gosto médio. Um didatismo dos símbolos apresentados como se o poético por si só não pudesse dizer mesmo sendo indizível. O fato é q é um filme que nos dá algo de nós mesmos e desse algo inexplicável a que chamamos vida. Vale muito a pena ver e rever.
Sobre Homens e Aberrações
3.9 9Uma aula de cinema! A fotografia é um verdadeiro deslumbre estético. Fica fundo na gente esse gosto de melancolia, de funda nostalgia por coisas q não vivemos de fato, mas que aqui conseguimos experenciar. Um clima de época que nos fica sobretudo pelas imagens (em que pese a perversão humana há esse fascínio do olhar pela depravação) e as canções dos gêmeos reverberam fundo na alma como uma tristeza viva própria do corpo que decaído/elevado pela captura do olhar fotográfico encontra a si mesmo.
Os Miseráveis
4.0 162Filmaço! O ritmo alucinante, as perseguições, o tema dos excluídos, a violência para além da violência policial são tratados de modo preciso, sem rodeios indo direto ao ponto como numa espécie de documentário nada ficcional de uma França excluída, marginalizada. Como faz lembrar o Brasil e seus morros e sua miséria e sua gente humilhada e ofendida... Um caldeirão se forma e explode em rancor, em raiva dos que são pisoteados por todo um sistema que não dá a mínima pra eles, que os alija dos direitos mais básicos e os mantem reféns em precárias condições.
Fruto da Memória
3.5 21 Assista AgoraMais um filme grego interessante e estranho. Apples, trata da memória e em última instância das experiências humanas constituídas através dela. Somos aquilo q vivemos e aquilo q lembramos q vivemos, ou seja, o que experenciamos, mas podemos tbm ser aquilo que inventamos e esquecemos de nós mesmos. A maçã símbolo recorrente aqui me faz pensar na queda do homem do paraíso bíblico. O interdito/ a proibição de não se poder comer esse q era o símbolo do conhecimento, portanto memória, portanto dor. Como um Adão decaído o homem contemporâneo vaga num mundo da perda da experiência posto q essa é sempre tomada como criação artificial vide as fotos, as selfies em redes sociais. Postar para viver q vida? Um vazio. A personagem surge como um autômato, um ser desprovido de subjetividade própria, sem identidade que foi perdida e essa perda o faz mergulhar num ciclo de falsas vivências do cotidiano, da própria vida: falsas pq desprovidas de sentido. O interessante é q nós espectadores vamos nos recordando, mordendo nossas maçãs conforme citam-se filmes e mesmo músicas no filme: É como se nós observássemos observando o personagem q fotografa mecanicamente a si mesmo numa espiral entre esquecimento e memória.
As Luzes de um Verão
3.8 14É um filme em que o poético se sobressaí ao narrativo, ou então a mistura entre um e outro aponta para um elemento de névoa, algo mais do toque, das sensações despertadas pela história que adensa-se em camadas de facetados sentidos. O que quero dizer é q a obra é belíssima, a fotografia encanta, tudo visa a harmonia entre a alma e o meio como diz um personagem a certa altura. É como se recitássemos um mantra vital, uma ode aos detalhes, ao cotidiano. Notória é a presença da natureza, o uso das cores, em especial os tons de verde, a música sempre tendendo ao suave, ao melancólico. Enfim, um enredo q cose para dentro da perspectiva interior das personagens corroborado pelas imagens q fortalecem essa perspectiva.
Judy Berlin
3.6 2Certamente este é um dos filmes q mais gostei de todos q vi até hoje! É de um rigor lírico, de uma beleza estética estonteante, q surpreende, q fascina e q mais do isso: é muito gostoso de se assistir! A escolha pelo p&b só reforça e aprofunda a alma desta película q encanta pelos diálogos, pelas personagens em sua frágil humanidade, o enredo que mescla soberbamente o real e o sonho. Todos parecem precisar lidar com o passado, com o que fizeram e fazem de suas próprias vidas e nesse "acerto de contas" possibilitado pelo eclipse ( que parece servir para expurgar a passagem do tempo, congelá-lo momentaneamente ) onde como reflexo de vidas que se perderam pelo caminho agora podem expandir-se como que revelando-se pelo sentido ainda que melancólico de um futuro ainda que seja isto uma ilusão.
Estação das Chuvas
3.3 7É um belo filme. A chuva aqui evidencia-se como metáfora/símbolo da interioridade nublada das personagens centrais: professora/aluno. Nesse encontro de duas solidões, há uma espécie de amparo mútuo. A professora que tem uma necessidade de afeto por lhe faltar um filho e tbm pelo marido demasiadamente ausente. O aluno cujos pais tbm não se fazem presentes. Há ainda uma questão política de fundo entre Malásia x Singapura e mesmo a da velhice em desamparo do sogro da professora de mandarim. O mais belo mesmo é o modo como se dão em todas as suas nuances e dificuldades as relações humanas.
Die Tomorrow
3.9 8O filme trata da morte. E por consequência da vida. São reflexões sobre a morte. Sobre o fim. A finitude da vida humana. Seu desaparecimento. Tendemos a acreditar q a morte é o oposto da vida quando ela seria na verdade uma parte necessária da própria vida. Não há vida sem morte. Uma vida só está completa quando finda, quando termina. E, justamente em face da morte é q podemos dar sentido a nossa própria existência q não é eterna, por isso a obra nos ajuda a pensar sobre a condição de cada um de nós, sobre o modo como estamos vivendo. Se a única certeza é o nosso encontro com o fim, a outra certeza deveria ser que estamos fazendo esta vida valer a pena.
O Inquilino
4.0 292Este filme vale cada um dos minutos de suas pouco mais de duas horas de duração. Para mim apresenta claramente a estrutura de um pesadelo, isto é, de um estrutura onírica fechada sobre si mesma da qual o sujeito não pode e não consegue escapar. O ambiente é claustrofóbico tanto no sentido do espaço exterior, o próprio apartamento e mais ainda no sentido que envolve a psique da personagem que é tomada totalmente pela obsessão do suicídio da antiga inquilina. Há um tom profundamente literário na obra e até kafkiano no sentido do pesadelo experenciado pela personagem do inquilino que numa espiral de paranoia vê-se preso de sua própria mente perturbada arrastado é claro pelo mundo frio em que parece ser um pária ademais pela sua condição de estrangeiro, é um polonês vivendo na França. O clima de tensão crescente leva a exasperação dos atos e nunca temos certeza de que se trata apenas de um delírio de uma mente transtornada ou se tudo seria mesmo uma espécie de conspiração contra ele mesmo tramada pelos demais moradores do prédio. O fato é que temos uma obra irrepreensível que nos atrai e fascina pelo que permite evocar, uma obra maestra que vale muito a pena ser assistida.
Nuvens Passageiras
4.0 20História simples contada de modo preciso. Há uma angústia mergulhada em melancolia, uma espécie de tristeza geral, um quê de solidão nas personagens que transbordam humanidade pelos poros. Num certo sentido, da paisagem, da desolação, do vazio me fez pensar na obra de Edward Hopper. A dificuldade da vida, da falta de emprego nunca torna-se aqui empecilho para a esperança mesmo que parca e mesmo que desafiada pelos "tombos" que a vida dá na gente. Retrato por vezes comovente ora cômico que de deve-se seguir em frente apesar de.
Onde os Fracos Não Têm Vez
4.1 2,4K Assista AgoraArte reflexiva, arte do silêncio. Alta tensão. Cinema áspero, puro, sem ruídos, onde tudo fluí inescrupulosamente sem retoques confirmando esta obra prima. Me lembrou "Grande sertão: veredas" do Rosa: o sertão o deserto: dentro da gente. A bruta flor da violência desabrochando na alma, na paisagem mais do que paisagem anima. Na rudeza de um elemento que de tão tenso transborda em sangue, em perseguição, não apenas num dado circunstancial entre determinados personagens, mas como uma forma maior, um espécie de destino, de carma, quem sabe entre forças que não são apenas pura contraposição antes complementares de uma mesma alma que se contorne num debate de feições metafísicas. Se o mal é a essência, o cujo das coisas, a morte companheira obscura é a eterna perseguição daquilo que não se acaba ou um fim em si mesma; daí que o sentido escorre e não se mantenha inteiriço, em aberto o destino segue no desvão ao aparente rumo ao mais além.
O Bunker
2.9 25É um filme estranho, esquisito, bizarro e talvez por isso mesmo muito bom! Foge de uma narrativa convencional investindo no absurdo de uma narrativa (espécie de conto de fadas expressionista), onde ao invés da floresta temos o bunker ( a remeter quem sabe a prisão provisória vide quartos, apartamentos, de filhos superprotegidos que devem vencer na vida (bons empregos, bons salários e coisas assim). O comportamento exagerado entre uma rigidez formal e algo caricatural da família expõe uma fissura por onde entra um elemento estranho a este espaço: a figura do estudante que aos poucos acaba por naturalizar o nonsense e metaforicamente nos dizer mais de nossa sociedade do que ousamos saber. Em suma: eu recomendo!
A Pequena Cidade
3.7 8É um filme belíssimo! De caráter amplamente contemplativo com uma fotografia em p&b. O filme tem uma espécie de força poética que ressoa ora em tons melancólicos e tristes, ora numa alegria manifestada pela própria vida,pelo estar-se vivo. Partindo da mirada de duas crianças parece expressar o desejo de espanta-se, de admirar-se com a descoberta das coisas e do mundo na medida em que compreende as estações do ano e mostra sentimentos e perspectivas distintas contemplando assim a própria vida em tudo que ela tem de maravilhoso e de ruim, na inteireza de suas tensões e na felicidade clandestina do viver. Vale muito a pena ver esse filme!
Valsa com Bashir
4.2 305 Assista AgoraUm bando de cães raivosos, eis a memória. Q nos mordem, espicaçam, estraçalham fundo como bombardeios. Este documentário animação é belíssimo em pleno contraste com o tema que trata: a chaga aberta da guerra. Aquilo que fica no apagar do que se quer esquecer, do que se resgata é uma ferida pulsante a céu aberto. O final, a cena final é de quebrar a espinha da alma. Da espécie de sonho/pesadelo da guerra animação rememorada/recontada para a imagem de uma lancinante e aguda daquilo que faz calar o sentido mesmo do que é a humanidade.
Involuntário
3.1 18É um excelente filme! Um filme que exige um espectador ativo que "crie" aquilo que pode não estar literalmente na tela por conta da câmera fixa e do proposital "desenquadramento" que nos incomoda e obriga a refletir sobre o que paradoxalmente se revela escondendo. As histórias narradas tem mais um sentido de painel social do que o de uma narrativa linear onde se há um ponto que as une é naquilo se que depreende de cada situação, ou seja, pontos limites levados ao extremo, quando algo foge ao controle do indivíduo na medida do cerceamento deste pelo grupo do qual faz parte.
Expurgo
4.1 40Um grande filme q proporciona um expurgo, isto é, uma espécie de catarse, um processo de purificação pelo qual passam as personagens e nós ao final da película. O mal é aqui mostrado como aquilo que permanece em meio a passagem do tempo, aquilo que pode nos aniquilar feito um veneno que fica em nossa veias. Daí a necessidade dos flashbacks do filme, para mostrar que em contextos distintos a presença do mal é uma semente que deve ser extirpada de nós.
O Pássaro Pintado
4.1 103 Assista AgoraBelo como um pesadelo e inútil como um poema. São esses dois sentimentos que me assaltam ao ver o filme: pesadelo e poema. Por contraditório que possa parecer acho que para mim é isso mesmo: um pesadelo fecundado por um poema ou um poema grávido de um pesadelo. A estrutura da obra em quadros não estanques, mas comunicativos lembra isso do pesadelo ao mesmo tempo em que o triunfo visual, a excepcionalidade imagética do preto e branco aqui dá o tom de um poema forte e rude. O anjo da história sabemos é terrível e tbm torpe e vil. O que há de atroz na obra é então esse pesadelo poético que de tão feroz apresenta uma brutal delicadeza.
A Liberdade é Azul
4.1 650 Assista AgoraÉ um filme que não se quer como filme apenas, que não se contenta em narrar uma história na medida que o que busca e propõe é uma experiência para além do que pode ser dito em linguagem cinematográfica: ele ambiciona ( e consegue) colocar-se como uma forma sinestésica, como uma espécie de devir não racional pois busca o sentir em sua totalidade daí o uso da cor, daí o harmonioso entrelaçamento da música que suscita e faz despertar estados de alma para além do rigor de uma linguagem específica. Me lembra sob certos aspectos o tipo de narrativa de Clarice Lispector, a exemplo: "Não se compreende música: ouve-se. Ouve-me então com teu corpo inteiro", ou seja, apesar do teor abstratizante da obra que deseja o estado de alma tem-se uma corporificação pelo sentir que se dá e se revela não num aspecto, mas na busca de uma totalidade que perde-se no eu que tenta compreendê-la.
By the Time It Gets Dark
3.8 6A questão é saber-se pó e nada. Saber-se tempo. Solidão, labirinto e passagem. Quando afogar-se nas nuvens o que dirá das ondas? Venta sobre a sua vida. Venta sobre a sua vida agora e não depois.
A Odisseia dos Tontos
3.8 165É divertido, é muito gostoso de ver, é engenhoso. Cada cena, cada diálogo é como uma pequena peça de uma engrenagem q funciona muito bem, q está perfeitamente em seu devido lugar. Aqueles q sempre se lascaram, q foram passados pra trás, aqueles q pagam as contas, aquelas pessoas comuns feito eu e vocês, os tontos enfim parecem ter vez nesta obra deliciosa. É tão bom torcer pros personagens q a gente se emociona junto, vibra junto e quer mais mesmo q os hijos de puta deste mundo se ferrem, como é prazeroso esse filme q sim mostra a força da cooperação dos tontos e do que eles com engenho e arte são capazes.
Luz Depois das Trevas
3.6 52"Dançamos em círculos e supomos, mas o segredo senta no meio e sabe" Robert Frost. Gosto mais das coisas q não entendo do q daquelas q posso compreender facilmente. Post Tenebras Lux é exatamente isso. Toque uma música ao contrário. Um sonho. Memórias desamparadas. Prenhe de símbolos a obra caminha vagarosamente embaralhando elipses sem explicação, demostrando um afã hermético, um gosto pelo mistério, por um animismo onde tudo parece respirar numa voltagem do mais além. Mais além da compreensão as peças são dispostas num fiapo narrativo q antes aprofunda-se sem q tenha propriamente o desejo de se fazer entender. O mais engraçado é q ao não compreender compreendemos. Uma espécie de inquietação permanente q parece nos vir por um processo do q não está e está lá ao mesmo tempo, uma coisa q palpita como uma epifania, um mistério q tangenciamos sabendo q o perdemos ainda q o tenhamos por vias outras q não a razão.
A Sombra da Árvore
3.7 35É um filme pautado sobretudo pela incompreensão mútua de todos os personagens. A sombra de uma árvore q seria signo e significado de paz e tranquilidade é aqui justamente o seu oposto e serve de estopim para pequenos detonadores do ódio cotidiano. A convivência quer entre vizinhos ou entre um casal esboroa-se gradualmente pela falta de uma comunicação verdadeira, de uma razoabilidade necessária, onde ninguém mais escuta ninguém e se preocupa apenas com seus próprios motivos. O filme é muito feliz no modo como constrói esse acirramento de ânimos, essa coisa q explode sem sentido como mínimas fagulhas q fazem as coisas desandarem até um ponto sem volta. Um diálogo de surdos nunca é melhor resposta ao dissabores da vida social por conduzir inevitavelmente a um beco sem saída.