Ficou naquele lamaçal sensaborão do meio. Achei que as coisas escalaram rápido demais, com o filme perdendo a pegada de verossímil (um certo nível de "suspensão de descrença", se poderia dizer) que é tão importante numa história dessas. A sequência final, quando a Blake Lively e o Jude Law se encontram é completamente desnecessária.
Despretensiosamente muito bom. É um filme engraçado sem forçar a barra (tá bom, força a barra uma ou outra vez), em que o altamente improvável de tudo o que acontece torna o surreal parte da piada. E olha que te vezes que você se pega tocado pelo verossímil...
A personagem da Charlize Theron resolvendo uma crise internacional sob efeito de drogas é um dos momentos memoráveis do filme. Seth Rogen foi, como de praxe, Seth Rogen, mas tudo bem, porque ele é engraçado. O barato é quando ele fica exasperado com alguma coisa (que, nesse filme, uns 85% do tempo): a voz dele fica mais aguda, ele começa a falar alto e rápido, se descontrola.
Esse filme é maravilhoso. Atores inspirados, direção de arte impecável, roteiro preciso. E, acima de tudo, me parece, um cuidado meticuloso em conduzir a trama de modo a não se perder na teia de conexões mas não deixar de abordar cada sutileza dos expedientes da corte amorosa.
Como ocorre com a má vontade com que por vezes se fala dos livros de Jane Austen, esse filme pode ser visto como "romance de mulherzinha" (ou "chic lit", como se fala na gringa), mas se estará deixando de lado a dimensão de romance de costumes e uma espirituosa radiografia social do mundo social da Inglaterra de então. Sutileza é palavra-chave aqui. Tudo está contido nos detalhes: numa palavra dita, num olhar perdido, num comentário escorregadio.
É um mérito inegável desse filme ter incorporado de corpo e alma essa poética das sutilezas de que Jane Austen foi uma eminente cronista.
Juro que passei o filme inteiro achando que o Adam McKay tinha dirigido. Tem umas estratégias narrativas rocambolescas que lembram muito 'Vice' e 'A grande aposta', e que são muito interessantes e, especialmente, muito instrutivas. A condução da narrativa em off ser feita por Banderas e Oldman é estupenda, e o aspecto carnavalesco da coisa toda reforça o surreal do mundo financeiro.
Ainda que se apresente como um filme, está mais para um documentário dramatizado, e é uma pena que tenha ganhado bem menos atenção do que deveria. Seu assunto é insosso e difícil de acompanhar (muito difícil, sinceramente), mas é de primeiríssima importância, determinante em nossas vidas de modo que nem sequer temos consciência muitas vezes.
É bastante conservador na condução da narrativa, e às vezes tem cara daqueles filmes de divulgação cristã feitos para a TV, tudo muito mastigado, redundante por vezes, ainda mais por ter um elenco sem rostos conhecidos. A partir da sequência do tribunal, no entanto, a trama sofre uma invertida e de repente o final te surpreende.
Não é um filmão, mas foi uma reviravolta interessante.
Se pensado como ficção científica ele não é muito bom. Porém, se visto como um filme de suspense, é ótimo. Como um ou como outro, a Elizabeth Moss justifica assistir.
Em dois detalhes, contudo, achei o diretor brilhante: 1) na construção das cenas de tensão, pelo enquadramento da câmera. Em diversas cenas a personagem da Moss (especialmente) é colocada mais próxima do limite da tela, um enquadramento que se costuma justificar quando há mais um personagem em cena. Por conta disso, tem-se a impressão de sempre ter alguém mais ali. Por vezes o personagem (qualquer que seja) vai se afastando do foco da câmera, mas esta não o segue, como se ficasse parada para manter aquele personagem e algum outro em tela. Num e noutro caso, não há ninguém aparecendo, mas pode ser (a dúvida é que o crucial!) que haja. A suspense que isso gera é tacada de mestre;
2) na "atualização" de uma história já bastante explorada para uma temática mais contemporânea, como é o caso da violência contra a mulher. A utilização desse drama para contar a história do 'homem invisível', ou a utilização da história do 'homem invisível' para falar desse drama, é muito bem feita. As duas casam tão bem que falar de uma é, ao mesmo tempo, falar da outra.
Como um filme tão lindo e tão majestosamente iluminado pode ser tão sombrio? Eu não costumo gostar de filmes de terror, mas assisto de vez em quando para não deixar o gosto embotar, e esse foi um verdadeiro achado. Lembra muito o 'Get out', em termos de subversão de expectativas: parece que vai ser um filme dramático, com alguma tragédia mais pesada, eventualmente um filme de aventura juvenil, e de repente se revela uma experiência perturbadora, que te dá calafrios pelo que vai sugerindo, pelo que vai deixando não dito ao longo do trama. Lembra também, mas pela temática, 'O homem de palha', por se alimentar de cultos pagãos como escopo para explorar o gênero terror.
Duas coisas merecem ainda destaque: 1) o trabalho do diretor em criar uma atmosfera alucinógena no filme, e 2) a excelente interpretação de Florence Pugh.
Quanto ao primeiro destaque, trata-se de algo muito presente no filme, seja porque os personagens estão sob efeito de alguma droga ou porque tudo é tão surreal que tem algo de sonho na coisa toda. O diretor, nesse sentido, teve a difícil tarefa de manter equilibrados o caráter meio onírico da situação (uma vila isolada, numa Suécia em que praticamente não há noite, com construções coloridas e cheias de símbolos, roupas tradicionais, coroas de flores, ritos estranhos, acontecimentos bizarros etc.) e a porção mais realista do filme (a relação entre os personagens, sua vida pregressa de universitários, como cada um chegou a meter-se naquele lugar etc.). Exemplos desse cuidadoso trabalho também se encontram no recorrente estado alterado de percepção que permeia o filme, como se estivéssemos sempre a um passo de uma 'bad trip': a vegetação do fundo esfumado parece estar se mexendo de modo estranho, o céu eventualente descreve espirais pouco naturais, o capim à meia altura se mexe de um modo que não parece ser resultado do vento. Um detalhe muito específico me chocou:
quando a personagem de Florence Pugh é coroado a Rainha de Maio, ela recebe uma coroa de flores mais incrementada, e nesta há uma flor rosa-claro com o miolo escuro, negro, o qual fica como que pulsando ao longo da cena em que ela, entorpecida pelo chá que tomara antes da competição, contempla o banquete feito em sua homenagem.
Há a constante sugestão de algo sobrenatural, de algo além de nossa percepção cotidiana. E nesse estado de dúvida o filme nos mantém, em transe face ao desconhecido, com todo o desconforto que isso nos causa.
Quanto ao segundo destaque, é preciso elogiar a atriz. Os gritos dela quando recebe a notícia aterradora no início do filme são viscerais, parecem vir do fundo da alma, como se algo primitivo tivesse sido tocado. São sobretudo urros de dor, que gradativamente vão desembocando no choro. Além disso, como uma das únicas personagens "de fora" da vila sueca que não tem estofo de antropólogo, ela parece ser nosso termômetro de normalidade, achando as coisas estranhas, desconfiando, ficando nervosa com o que está acontecendo, e como ela traduz essa sensação em confronto com a sensibilidade antropológica dos demais é ótimo.
Esse é um filme estranho, ou melhor dizendo, é um filme que me causa sensações conflitantes. Se por um lado tem a construção narrativa de um "filme de golpe" (meio 'Onze homens e um segredo', 'Golpe de mestre' ou outro heist-movie), por outro ele tem um tom de denúncia contra o racismo expresso pela situação em tela: dois negros precisando de um rosto branco para lhes dar álibi no universo dos negócios.
Naquela, somos metodicamente apresentados aos comos e quandos da escalada dos personagens, a narrativa se dispondo a apresentar-nos os detalhes objetivos da logística envolvida nessa ascensão à posição de poder dos dois no ramo imobiliário e, eventualmente, bancário. Nesta, somos confrontados com os limites raciais impostos aos dois, o infame pedágio que têm que pagar por "ser da cor de pele errada" (como diz o pai de Bernard Garrett, no início do filme): a surpresa dos familiares quando o protagonista não se presta a assumir a subalternidade no emprego, o desprezo do gerente do banco, a necessidade do arranjo de aparências que eles têm que fazer etc.
Assim, por suas convenções narrativas, o filme consegue fazer-nos torcer duplamente pelos protagonistas: como nos "filmes de golpe", nos pegamos torcendo quase sempre pelos golpistas, tornados simpáticos anti-heróis que sequestram nossa envergonhada solidariedade apesar das contradições morais; e como nos filmes de denúncia, tendemos a nos identificar com aqueles que foram feitos vítimas, os que se tornaram alvo da opressão, da injustiça, da negligência etc. Enquanto narrativa, aquela é rápida e um crescendo apoteótico; esta é lenta e contemplativa, um crescendo trágico. Ter conseguido equilibrá-las é um mérito do diretor, não há dúvida.
O detalhe é que Bernard Garrett e Joe Morris são especuladores financeiros e imobiliários, ainda que, eis o bizarro, sejam uma espécie de Robin Hood dentro dessa condição. Isso é o que causa estranhamento, para além da combinação inusitada de duas narrativas tão distintas como são as de "filmes-denúncia" e "filmes de golpe". É fácil entender porque eles são recobertos com o manto do heroísmo diante do racismo do sistema que desafiam, mas é bem menos fácil identificar no filme como eles contribuem com a força de geração de desigualdade desse mesmo sistema. Esse é o ponto que causa aquela estranheza que mencionei no início do comentário, o filme parece convencido demais do porte de heróis de Garrett e Morris, a ponto de não por em questão (nem por meio de ambiguidade) essa outra faceta da opressão: a econômica, perpetrada pela lógica especuladora do sistema financeiro. Não me tomem por moralista, mas esse silêncio me causa incômodo.
Um road-movie de animação envelopado numa campanha de RPG, que, ao fim e ao cabo, é uma fábula sobre pais e filhos. Acho que esse é um bom resumo, né?
No tema 'paternidade' não supera 'Coco' nem 'Procurando Nemo', a meu ver, mas é um filme muito tocante, cujo pico climático arranca lágrimas até dos mais durões.
Esse filme é muito bom, e ainda melhor quando posto diante do livro no qual foi baseado. A obra de Alcott é arrastada, repetitiva, morosa até dizer chega; o filme de Gerwig é criativo, engenhoso e mantém o enredo eletrificado o suficiente para não perder fôlego. O livro tem grandes porções de 'nada' ocorrendo entre um e outro ponto realmente importante da trama; o filme limou esses 'nadas' e usou a quebra da linearidade narrativa para dar conta de fazer isto. Nesses termos, eu diria que o filme é brilhante:
Jo serve como a força que impulsiona a narrativa, a qual, por sua vez, conduz o enredo até a morte de Beth, seu clímax trágico.
A adoção de uma tônica mais próxima do feminismo (ou pelo menos simpática a essa discussão) conseguiu ressaltar um ponto importante que, na obra de Alcott, do século XIX, era discutido de modo muito mais tímido. No livro é indiscutivelmente Jo a protagonista (provavelmente com muita carga autobiográfica da autora), e no filme esse protagonismo é mais equilibrado na tensão com Amy, que por outros caminhos vivencia situação parecida e explora temática similar. O livro é um tanto hostil com Amy, tratando-a como uma espécie de bonequinha meio desmiolada, enquanto Jo é a heroína empoderada e espirituosa. Gerwig teve a grande ideia de tornar Amy uma heroína trágica, que no dilema matrimonial parece uma personagem de Edith Wharton, extremamente interessante, delicada e (quase paradoxalmente!) rascante. A dureza das escolhas que tem que fazer (e daquelas que não pode fazer) fazem dela um dos pontos de referência da estória apesar da força que Jo permanece tendo.
Eis o resultado: preserva-se o espírito do obra-base fazendo todas as adaptações necessárias para a mudança de linguagem e atualização do clássico.
Apesar de eu não gostar do Tobey Maguire, o filme consegue dar a volta por cima disto.
A história do azarão (underdog story), tão popular nos Estados Unidos, é contada aqui com todas as ressonâncias que se pôde colher: o garoto jóquei que só perdia em tudo, o cavalo que não era um puro-sangue como manda o protocolo, o empresário que vira seu império automobilístico ser corroído pela crise, o treinador heterodoxo que não era visto com bons olhos pelos seus pares, e, enfim, os próprios Estados Unidos, combalidos pela crise de 1929. Todos esses elementos juntos, se alimentando entre si, vão construindo a escalada dramática do filme. É tanto azarão andando por aí que quase polui o enredo.
Aí é preciso ressaltar o cuidado todo especial em tornar as corridas os grandes pontos de condensação do filme, as amarras dramáticas propriamente ditas. Eles são mais do que os picos climáticos, são também o momento em que todas as estórias dos personagens são esticadas e postas a nu, traduzidas naquela linguagem da competição.
Momento de digressão: suspeito que a história de Seabiscuit tornou-se tão célebre por conta dessa predileção norte-americana pela história do azarão, a qual, tenho para mim, que tem a ver com a própria situação nacional dos Estados Unidos diante da Inglaterra durante muito tempo. Há inúmeros exemplos históricos de como os americanos eram tratados como o primo pobre dos ingleses: mais rústicos, menos refinados, sem tradições culturais longevas, antes dissidentes fugidos do que fruto da costela de Adão da Inglaterra. Abraçar essa condição para então revertê-la é um dos mantras do patriotismo ianque até hoje - patriotismo muito forte, aliás, para servir como antídoto a essa síndrome de azarão.
Adorei a extravagância da proposta como um todo. O carisma da Margot Robbie leva quas todo o filme nas costas, mas ao fim e ao cabo funciona, tornando a coisa muito caricata, estroboscópica, ensandecida mesmo. O único ponto em que fica difícil gostar é
a cena de batalha do final, com as Aves de Rapina trabalhando em equipe. Imaginar os capangas se abstendo de usar armas numa situação daquelas é forçar a verossimilhança da proposta do filme, independente de todo o clime de sandice psicodélica da coisa.
Em tempo: alguém mais achei que a Mary Elizabeth Winstead não tem nem metade do carisma da Ramona Flowers (do filme do Scott Pilgrim) quando encarna a Huntress? Não quis acreditar que era a mesma pessoa.
Uma das batalhas decisivas da Segunda Guerra envelopada num filme meio biográfico, meio suspense, sobre a história de um sniper. Tinha tudo para ser bom! Gosto especialmente da sobriedade do Ed Harris, que para mim rouba a cena do Jude Law.
A única coisa que desequilibra um pouco ele é uma atenção demasiada sobre os esforços de propaganda dos soviéticos, a erigir Zaitsev como grande herói. Por mais que se entenda que Annaud não tenha querido engrossar a cantilena patriótica, essa porção do filme como que compete com a outra, porque se de um lado vemos a destreza do atirador, de outro tenta-se miná-la o tempo todo, atribuindo-a mais à propaganda do que aos feitos em si.
É preciso fazer um esforço de se transportar para aquela época e para suas circunstâncias tecnológicas, para que o stop-motion do gorilão não incomode. Feito isto, acho que dá para apreciar o filme melhor, e perceber que ele tem uma certa densidade dramática, que às vezes fica escondida por detrás do efeito apoteótico do "monstro gigante!". O provérbio árabe que aparece no início do filme, falando sobre a vulnerabilidade da fera à beleza, enforma o filme, tornando o desfecho bem interessante, com subtons sentimentais curiosos se pensados em relação a um gorila gigante. O que quero dizer é que 'King Kong' é mais do que o filme da proeza técnica de tornar um gorila gigante personagem concreto de uma estória.
Além do mais, esse filme tem vários exemplos daquela engenhosidade do cinema das décadas de 30,40 e 50 em dar conta de criar saídas para limitações técnicos. No caso de 'King Kong', a questão das magnitudes é fundamental: há que criar modos de persuadir o espectador do tamanho do bicho, do tamanho dos cenários e da estatura de tudo o que é associado a ele. Abundam planos decupados, perspectivas forçadas, interposição de elementos em várias distâncias e uma série de recursos para tornar verossímil a interação do bonecão com partes do cenário e com outros personagens. Tudo para sustentar a ilusão de que, por exemplo, a ilha da Caveira é tão grande, ou de que na mão do gorilão cabia uma pessoa etc. Algumas são mais bem sucedidos, outros entosqueceram demais, mas é extremamente instrutivo e divertido ver a galera se desdobrando para inventar, em alguma medida, o cinema que a gente conhece hoje. Na pior das hipóteses se pode ver 'King Kong' com esse valor documental.
Acho que demorei demais para assistir esse filme. Já achei sem graça, muito cheio de piadas de trocadilho. Não sei mais se esse tipo de humor funciona.
OK, não é tão ruim quanto dizem, mas bom também não é. Eu acho que é a expectativa gerada pelo fato de ser rebento do Paul Verhoeven que atrapalha bastante, e uma protagonista morna, tanto como personagem quanto a atriz que a interpreta.
Gosto da concisão técnica do filme (dos diálogos, dos personagens, do cenário, dos elementos narrativos etc.) contrastando com as enormes reticências e sugestões dramáticas que ele abre. O silêncio dos não-ditos é ensurdecedor, perturbador pelas suas evocações.
Ademais, não é engenhoso que uma narrativa sobre trauma faça ele estar em todo lugar e, ao mesmo tempo, invisível, um vazio reprimido que insiste em ocupar todo o espaço? Tudo está lá o tempo todo, mas só o vemos através do silêncio dos personagens.
A semelhança da Charlize Theron com a Megyn Kelly é estarrecedora mesmo! Não é exagero do júri técnico de maquiagem do Oscar não.
É um filme político sim, em várias frentes, e como tal obviamente se alimenta da polêmica dos assuntos que se mantém em pauta, mas não me parece ser sensacionalista. O tema é delicado, os ânimos estão exaltados e vivemos num mundo muito polarizado; além do mais, não me pareceu que tenha se apoiado em maniqueísmos toscos, como se estivéssemos lidando com a essência da pureza inocente e a essência da maldade obscena. Se fosse para descrevê-lo, eu diria antes corajoso que sensacionalista...
Faz muito mais sentido para os americanos do que para nós, mas é um filme bom. Primeiramente, pela escolha certeira de ator para fazer o MisteRogers, já que o Tom Hanks é um cara com essa aura de gente boa também; e em segundo lugar, pelo modo como conseguiram adaptar a linguagem do show infantil (mesmo aquela estética tosca) para funcionar como forma narrativa. Sim, ela é um pouco óbvia às vezes, mas no geral é muito bem conduzida e muito orgânica no conjunto do filme.
Um filme bom, seguro de si e com uma história muito interessante sem ser apelativa, que consegue seguir três frentes narrativas sem perder o equilíbrio - muito em virtude de atuações sólidas, ainda que não brilhantes.
A direção do Vinterberg nesse filme tem uma coisa muito legal: ele faz tomadas abertas, como se enquadrasse uma paisagem num quadro, e faz os personagens se mexerem ali, ao invés de fazer a câmera acompanhá-los. Embora essas cenas não sejam numerosas, o efeito visual é impactante. Além disto, há a sequência
submersa, quando os dois marinheiros têm de buscar os cartuchos de oxigênio num dos compartimentos inundados do submarino. Aquela cena é muito bem feita, e dá uma agonia danada. Se você parar para pensar, o filme começa te preparando para ela, pois a primeira cena é a do moleque prendendo a respiração na banheira e o pai marcando o tempo no relógio de precisão.
O Ritmo da Vingança
2.5 72 Assista AgoraFicou naquele lamaçal sensaborão do meio. Achei que as coisas escalaram rápido demais, com o filme perdendo a pegada de verossímil (um certo nível de "suspensão de descrença", se poderia dizer) que é tão importante numa história dessas. A sequência final, quando a Blake Lively e o Jude Law se encontram é completamente desnecessária.
Casal Improvável
3.4 290 Assista AgoraDespretensiosamente muito bom. É um filme engraçado sem forçar a barra (tá bom, força a barra uma ou outra vez), em que o altamente improvável de tudo o que acontece torna o surreal parte da piada. E olha que te vezes que você se pega tocado pelo verossímil...
A personagem da Charlize Theron resolvendo uma crise internacional sob efeito de drogas é um dos momentos memoráveis do filme. Seth Rogen foi, como de praxe, Seth Rogen, mas tudo bem, porque ele é engraçado. O barato é quando ele fica exasperado com alguma coisa (que, nesse filme, uns 85% do tempo): a voz dele fica mais aguda, ele começa a falar alto e rápido, se descontrola.
Monster: Desejo Assassino
4.0 1,2K Assista AgoraVale a pena ver pela transformação física e pela atuação da Charlize Theron. Ponto.
De resto, o filme tem uma cara de made-for-TV que é difícil encarar. E prepare-se: o ar decadente do filme é terrível.
Emma.
3.4 290 Assista AgoraEsse filme é maravilhoso. Atores inspirados, direção de arte impecável, roteiro preciso. E, acima de tudo, me parece, um cuidado meticuloso em conduzir a trama de modo a não se perder na teia de conexões mas não deixar de abordar cada sutileza dos expedientes da corte amorosa.
Como ocorre com a má vontade com que por vezes se fala dos livros de Jane Austen, esse filme pode ser visto como "romance de mulherzinha" (ou "chic lit", como se fala na gringa), mas se estará deixando de lado a dimensão de romance de costumes e uma espirituosa radiografia social do mundo social da Inglaterra de então. Sutileza é palavra-chave aqui. Tudo está contido nos detalhes: numa palavra dita, num olhar perdido, num comentário escorregadio.
É um mérito inegável desse filme ter incorporado de corpo e alma essa poética das sutilezas de que Jane Austen foi uma eminente cronista.
A Lavanderia
3.3 247Juro que passei o filme inteiro achando que o Adam McKay tinha dirigido. Tem umas estratégias narrativas rocambolescas que lembram muito 'Vice' e 'A grande aposta', e que são muito interessantes e, especialmente, muito instrutivas. A condução da narrativa em off ser feita por Banderas e Oldman é estupenda, e o aspecto carnavalesco da coisa toda reforça o surreal do mundo financeiro.
Ainda que se apresente como um filme, está mais para um documentário dramatizado, e é uma pena que tenha ganhado bem menos atenção do que deveria. Seu assunto é insosso e difícil de acompanhar (muito difícil, sinceramente), mas é de primeiríssima importância, determinante em nossas vidas de modo que nem sequer temos consciência muitas vezes.
O Limite da Traição
3.2 596É bastante conservador na condução da narrativa, e às vezes tem cara daqueles filmes de divulgação cristã feitos para a TV, tudo muito mastigado, redundante por vezes, ainda mais por ter um elenco sem rostos conhecidos. A partir da sequência do tribunal, no entanto, a trama sofre uma invertida e de repente o final te surpreende.
Não é um filmão, mas foi uma reviravolta interessante.
O Homem Invisível
3.8 2,0K Assista AgoraSe pensado como ficção científica ele não é muito bom. Porém, se visto como um filme de suspense, é ótimo. Como um ou como outro, a Elizabeth Moss justifica assistir.
Em dois detalhes, contudo, achei o diretor brilhante:
1) na construção das cenas de tensão, pelo enquadramento da câmera. Em diversas cenas a personagem da Moss (especialmente) é colocada mais próxima do limite da tela, um enquadramento que se costuma justificar quando há mais um personagem em cena. Por conta disso, tem-se a impressão de sempre ter alguém mais ali. Por vezes o personagem (qualquer que seja) vai se afastando do foco da câmera, mas esta não o segue, como se ficasse parada para manter aquele personagem e algum outro em tela. Num e noutro caso, não há ninguém aparecendo, mas pode ser (a dúvida é que o crucial!) que haja. A suspense que isso gera é tacada de mestre;
2) na "atualização" de uma história já bastante explorada para uma temática mais contemporânea, como é o caso da violência contra a mulher. A utilização desse drama para contar a história do 'homem invisível', ou a utilização da história do 'homem invisível' para falar desse drama, é muito bem feita. As duas casam tão bem que falar de uma é, ao mesmo tempo, falar da outra.
Midsommar: O Mal Não Espera a Noite
3.6 2,8K Assista AgoraComo um filme tão lindo e tão majestosamente iluminado pode ser tão sombrio? Eu não costumo gostar de filmes de terror, mas assisto de vez em quando para não deixar o gosto embotar, e esse foi um verdadeiro achado. Lembra muito o 'Get out', em termos de subversão de expectativas: parece que vai ser um filme dramático, com alguma tragédia mais pesada, eventualmente um filme de aventura juvenil, e de repente se revela uma experiência perturbadora, que te dá calafrios pelo que vai sugerindo, pelo que vai deixando não dito ao longo do trama. Lembra também, mas pela temática, 'O homem de palha', por se alimentar de cultos pagãos como escopo para explorar o gênero terror.
Duas coisas merecem ainda destaque: 1) o trabalho do diretor em criar uma atmosfera alucinógena no filme, e 2) a excelente interpretação de Florence Pugh.
Quanto ao primeiro destaque, trata-se de algo muito presente no filme, seja porque os personagens estão sob efeito de alguma droga ou porque tudo é tão surreal que tem algo de sonho na coisa toda. O diretor, nesse sentido, teve a difícil tarefa de manter equilibrados o caráter meio onírico da situação (uma vila isolada, numa Suécia em que praticamente não há noite, com construções coloridas e cheias de símbolos, roupas tradicionais, coroas de flores, ritos estranhos, acontecimentos bizarros etc.) e a porção mais realista do filme (a relação entre os personagens, sua vida pregressa de universitários, como cada um chegou a meter-se naquele lugar etc.). Exemplos desse cuidadoso trabalho também se encontram no recorrente estado alterado de percepção que permeia o filme, como se estivéssemos sempre a um passo de uma 'bad trip': a vegetação do fundo esfumado parece estar se mexendo de modo estranho, o céu eventualente descreve espirais pouco naturais, o capim à meia altura se mexe de um modo que não parece ser resultado do vento. Um detalhe muito específico me chocou:
quando a personagem de Florence Pugh é coroado a Rainha de Maio, ela recebe uma coroa de flores mais incrementada, e nesta há uma flor rosa-claro com o miolo escuro, negro, o qual fica como que pulsando ao longo da cena em que ela, entorpecida pelo chá que tomara antes da competição, contempla o banquete feito em sua homenagem.
Há a constante sugestão de algo sobrenatural, de algo além de nossa percepção cotidiana. E nesse estado de dúvida o filme nos mantém, em transe face ao desconhecido, com todo o desconforto que isso nos causa.
Quanto ao segundo destaque, é preciso elogiar a atriz. Os gritos dela quando recebe a notícia aterradora no início do filme são viscerais, parecem vir do fundo da alma, como se algo primitivo tivesse sido tocado. São sobretudo urros de dor, que gradativamente vão desembocando no choro. Além disso, como uma das únicas personagens "de fora" da vila sueca que não tem estofo de antropólogo, ela parece ser nosso termômetro de normalidade, achando as coisas estranhas, desconfiando, ficando nervosa com o que está acontecendo, e como ela traduz essa sensação em confronto com a sensibilidade antropológica dos demais é ótimo.
O Banqueiro
3.8 75 Assista AgoraEsse é um filme estranho, ou melhor dizendo, é um filme que me causa sensações conflitantes. Se por um lado tem a construção narrativa de um "filme de golpe" (meio 'Onze homens e um segredo', 'Golpe de mestre' ou outro heist-movie), por outro ele tem um tom de denúncia contra o racismo expresso pela situação em tela: dois negros precisando de um rosto branco para lhes dar álibi no universo dos negócios.
Naquela, somos metodicamente apresentados aos comos e quandos da escalada dos personagens, a narrativa se dispondo a apresentar-nos os detalhes objetivos da logística envolvida nessa ascensão à posição de poder dos dois no ramo imobiliário e, eventualmente, bancário. Nesta, somos confrontados com os limites raciais impostos aos dois, o infame pedágio que têm que pagar por "ser da cor de pele errada" (como diz o pai de Bernard Garrett, no início do filme): a surpresa dos familiares quando o protagonista não se presta a assumir a subalternidade no emprego, o desprezo do gerente do banco, a necessidade do arranjo de aparências que eles têm que fazer etc.
Assim, por suas convenções narrativas, o filme consegue fazer-nos torcer duplamente pelos protagonistas: como nos "filmes de golpe", nos pegamos torcendo quase sempre pelos golpistas, tornados simpáticos anti-heróis que sequestram nossa envergonhada solidariedade apesar das contradições morais; e como nos filmes de denúncia, tendemos a nos identificar com aqueles que foram feitos vítimas, os que se tornaram alvo da opressão, da injustiça, da negligência etc. Enquanto narrativa, aquela é rápida e um crescendo apoteótico; esta é lenta e contemplativa, um crescendo trágico. Ter conseguido equilibrá-las é um mérito do diretor, não há dúvida.
O detalhe é que Bernard Garrett e Joe Morris são especuladores financeiros e imobiliários, ainda que, eis o bizarro, sejam uma espécie de Robin Hood dentro dessa condição. Isso é o que causa estranhamento, para além da combinação inusitada de duas narrativas tão distintas como são as de "filmes-denúncia" e "filmes de golpe". É fácil entender porque eles são recobertos com o manto do heroísmo diante do racismo do sistema que desafiam, mas é bem menos fácil identificar no filme como eles contribuem com a força de geração de desigualdade desse mesmo sistema. Esse é o ponto que causa aquela estranheza que mencionei no início do comentário, o filme parece convencido demais do porte de heróis de Garrett e Morris, a ponto de não por em questão (nem por meio de ambiguidade) essa outra faceta da opressão: a econômica, perpetrada pela lógica especuladora do sistema financeiro. Não me tomem por moralista, mas esse silêncio me causa incômodo.
Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica
3.9 662 Assista AgoraUm road-movie de animação envelopado numa campanha de RPG, que, ao fim e ao cabo, é uma fábula sobre pais e filhos. Acho que esse é um bom resumo, né?
No tema 'paternidade' não supera 'Coco' nem 'Procurando Nemo', a meu ver, mas é um filme muito tocante, cujo pico climático arranca lágrimas até dos mais durões.
Adoráveis Mulheres
4.0 975 Assista AgoraEsse filme é muito bom, e ainda melhor quando posto diante do livro no qual foi baseado. A obra de Alcott é arrastada, repetitiva, morosa até dizer chega; o filme de Gerwig é criativo, engenhoso e mantém o enredo eletrificado o suficiente para não perder fôlego. O livro tem grandes porções de 'nada' ocorrendo entre um e outro ponto realmente importante da trama; o filme limou esses 'nadas' e usou a quebra da linearidade narrativa para dar conta de fazer isto. Nesses termos, eu diria que o filme é brilhante:
Jo serve como a força que impulsiona a narrativa, a qual, por sua vez, conduz o enredo até a morte de Beth, seu clímax trágico.
A adoção de uma tônica mais próxima do feminismo (ou pelo menos simpática a essa discussão) conseguiu ressaltar um ponto importante que, na obra de Alcott, do século XIX, era discutido de modo muito mais tímido. No livro é indiscutivelmente Jo a protagonista (provavelmente com muita carga autobiográfica da autora), e no filme esse protagonismo é mais equilibrado na tensão com Amy, que por outros caminhos vivencia situação parecida e explora temática similar. O livro é um tanto hostil com Amy, tratando-a como uma espécie de bonequinha meio desmiolada, enquanto Jo é a heroína empoderada e espirituosa. Gerwig teve a grande ideia de tornar Amy uma heroína trágica, que no dilema matrimonial parece uma personagem de Edith Wharton, extremamente interessante, delicada e (quase paradoxalmente!) rascante. A dureza das escolhas que tem que fazer (e daquelas que não pode fazer) fazem dela um dos pontos de referência da estória apesar da força que Jo permanece tendo.
Eis o resultado: preserva-se o espírito do obra-base fazendo todas as adaptações necessárias para a mudança de linguagem e atualização do clássico.
Seabiscuit: Alma de Herói
3.7 122Apesar de eu não gostar do Tobey Maguire, o filme consegue dar a volta por cima disto.
A história do azarão (underdog story), tão popular nos Estados Unidos, é contada aqui com todas as ressonâncias que se pôde colher: o garoto jóquei que só perdia em tudo, o cavalo que não era um puro-sangue como manda o protocolo, o empresário que vira seu império automobilístico ser corroído pela crise, o treinador heterodoxo que não era visto com bons olhos pelos seus pares, e, enfim, os próprios Estados Unidos, combalidos pela crise de 1929. Todos esses elementos juntos, se alimentando entre si, vão construindo a escalada dramática do filme. É tanto azarão andando por aí que quase polui o enredo.
Aí é preciso ressaltar o cuidado todo especial em tornar as corridas os grandes pontos de condensação do filme, as amarras dramáticas propriamente ditas. Eles são mais do que os picos climáticos, são também o momento em que todas as estórias dos personagens são esticadas e postas a nu, traduzidas naquela linguagem da competição.
Momento de digressão: suspeito que a história de Seabiscuit tornou-se tão célebre por conta dessa predileção norte-americana pela história do azarão, a qual, tenho para mim, que tem a ver com a própria situação nacional dos Estados Unidos diante da Inglaterra durante muito tempo. Há inúmeros exemplos históricos de como os americanos eram tratados como o primo pobre dos ingleses: mais rústicos, menos refinados, sem tradições culturais longevas, antes dissidentes fugidos do que fruto da costela de Adão da Inglaterra. Abraçar essa condição para então revertê-la é um dos mantras do patriotismo ianque até hoje - patriotismo muito forte, aliás, para servir como antídoto a essa síndrome de azarão.
Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa
3.4 1,4KAdorei a extravagância da proposta como um todo. O carisma da Margot Robbie leva quas todo o filme nas costas, mas ao fim e ao cabo funciona, tornando a coisa muito caricata, estroboscópica, ensandecida mesmo. O único ponto em que fica difícil gostar é
a cena de batalha do final, com as Aves de Rapina trabalhando em equipe. Imaginar os capangas se abstendo de usar armas numa situação daquelas é forçar a verossimilhança da proposta do filme, independente de todo o clime de sandice psicodélica da coisa.
Em tempo: alguém mais achei que a Mary Elizabeth Winstead não tem nem metade do carisma da Ramona Flowers (do filme do Scott Pilgrim) quando encarna a Huntress? Não quis acreditar que era a mesma pessoa.
O Jaguar
3.4 6É meio tosco, tipo Sessão da Tarde mesmo, mas é muito divertido ver as representações que fazem do Brasil.
Círculo de Fogo
4.0 455 Assista AgoraUma das batalhas decisivas da Segunda Guerra envelopada num filme meio biográfico, meio suspense, sobre a história de um sniper. Tinha tudo para ser bom! Gosto especialmente da sobriedade do Ed Harris, que para mim rouba a cena do Jude Law.
A única coisa que desequilibra um pouco ele é uma atenção demasiada sobre os esforços de propaganda dos soviéticos, a erigir Zaitsev como grande herói. Por mais que se entenda que Annaud não tenha querido engrossar a cantilena patriótica, essa porção do filme como que compete com a outra, porque se de um lado vemos a destreza do atirador, de outro tenta-se miná-la o tempo todo, atribuindo-a mais à propaganda do que aos feitos em si.
King Kong
3.8 194 Assista AgoraÉ preciso fazer um esforço de se transportar para aquela época e para suas circunstâncias tecnológicas, para que o stop-motion do gorilão não incomode. Feito isto, acho que dá para apreciar o filme melhor, e perceber que ele tem uma certa densidade dramática, que às vezes fica escondida por detrás do efeito apoteótico do "monstro gigante!". O provérbio árabe que aparece no início do filme, falando sobre a vulnerabilidade da fera à beleza, enforma o filme, tornando o desfecho bem interessante, com subtons sentimentais curiosos se pensados em relação a um gorila gigante. O que quero dizer é que 'King Kong' é mais do que o filme da proeza técnica de tornar um gorila gigante personagem concreto de uma estória.
Além do mais, esse filme tem vários exemplos daquela engenhosidade do cinema das décadas de 30,40 e 50 em dar conta de criar saídas para limitações técnicos. No caso de 'King Kong', a questão das magnitudes é fundamental: há que criar modos de persuadir o espectador do tamanho do bicho, do tamanho dos cenários e da estatura de tudo o que é associado a ele. Abundam planos decupados, perspectivas forçadas, interposição de elementos em várias distâncias e uma série de recursos para tornar verossímil a interação do bonecão com partes do cenário e com outros personagens. Tudo para sustentar a ilusão de que, por exemplo, a ilha da Caveira é tão grande, ou de que na mão do gorilão cabia uma pessoa etc. Algumas são mais bem sucedidos, outros entosqueceram demais, mas é extremamente instrutivo e divertido ver a galera se desdobrando para inventar, em alguma medida, o cinema que a gente conhece hoje. Na pior das hipóteses se pode ver 'King Kong' com esse valor documental.
Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu
3.6 617 Assista AgoraAcho que demorei demais para assistir esse filme. Já achei sem graça, muito cheio de piadas de trocadilho. Não sei mais se esse tipo de humor funciona.
Jexi - Um Celular Sem Filtro
2.8 138 Assista AgoraTem seus momentos, e seu assunto é relevante, mas no geral é bobinho e um tanto maniqueísta. Legal mesmo é a personalidade sarcástica da Jexi.
O Império dos Sentidos
3.3 304 Assista AgoraUm dos filmes mais perturbadores que já assisti, desde o início até o fim. Começa como uma estória do Kawabata e termina como uma do Sade.
Showgirls
3.0 210 Assista AgoraOK, não é tão ruim quanto dizem, mas bom também não é. Eu acho que é a expectativa gerada pelo fato de ser rebento do Paul Verhoeven que atrapalha bastante, e uma protagonista morna, tanto como personagem quanto a atriz que a interpreta.
Shame
3.6 2,0K Assista AgoraGosto da concisão técnica do filme (dos diálogos, dos personagens, do cenário, dos elementos narrativos etc.) contrastando com as enormes reticências e sugestões dramáticas que ele abre. O silêncio dos não-ditos é ensurdecedor, perturbador pelas suas evocações.
Ademais, não é engenhoso que uma narrativa sobre trauma faça ele estar em todo lugar e, ao mesmo tempo, invisível, um vazio reprimido que insiste em ocupar todo o espaço? Tudo está lá o tempo todo, mas só o vemos através do silêncio dos personagens.
O Escândalo
3.6 459 Assista AgoraA semelhança da Charlize Theron com a Megyn Kelly é estarrecedora mesmo! Não é exagero do júri técnico de maquiagem do Oscar não.
É um filme político sim, em várias frentes, e como tal obviamente se alimenta da polêmica dos assuntos que se mantém em pauta, mas não me parece ser sensacionalista. O tema é delicado, os ânimos estão exaltados e vivemos num mundo muito polarizado; além do mais, não me pareceu que tenha se apoiado em maniqueísmos toscos, como se estivéssemos lidando com a essência da pureza inocente e a essência da maldade obscena. Se fosse para descrevê-lo, eu diria antes corajoso que sensacionalista...
Um Lindo Dia Na Vizinhança
3.5 273 Assista AgoraFaz muito mais sentido para os americanos do que para nós, mas é um filme bom. Primeiramente, pela escolha certeira de ator para fazer o MisteRogers, já que o Tom Hanks é um cara com essa aura de gente boa também; e em segundo lugar, pelo modo como conseguiram adaptar a linguagem do show infantil (mesmo aquela estética tosca) para funcionar como forma narrativa. Sim, ela é um pouco óbvia às vezes, mas no geral é muito bem conduzida e muito orgânica no conjunto do filme.
Kursk: A Última Missão
3.3 35 Assista AgoraUm filme bom, seguro de si e com uma história muito interessante sem ser apelativa, que consegue seguir três frentes narrativas sem perder o equilíbrio - muito em virtude de atuações sólidas, ainda que não brilhantes.
A direção do Vinterberg nesse filme tem uma coisa muito legal: ele faz tomadas abertas, como se enquadrasse uma paisagem num quadro, e faz os personagens se mexerem ali, ao invés de fazer a câmera acompanhá-los. Embora essas cenas não sejam numerosas, o efeito visual é impactante. Além disto, há a sequência
submersa, quando os dois marinheiros têm de buscar os cartuchos de oxigênio num dos compartimentos inundados do submarino. Aquela cena é muito bem feita, e dá uma agonia danada. Se você parar para pensar, o filme começa te preparando para ela, pois a primeira cena é a do moleque prendendo a respiração na banheira e o pai marcando o tempo no relógio de precisão.