Eis um excelente filme, a narração em voice over é precisa pois transmite a atmosfera dessa gigantesca cidade. A escolha por fugir dos estúdios e utilizar os mais diversos cantos de Nova York foi genial, pois a Big Apple acabou sa tornando mais um personagem do filme, que mantém o ritmo de suspense do começo ao fim.
A sequência final de perseguição é perfeita e de tirar o fôlego, o final até me remeteu a Fúria Sanguinária.
Parece uma mistura de ação, noir e neorrealismo. Excelente. Nota 8.1
De Humani Corporis Fabrica é um excelente filme documental que desnuda todos os segredos que se escondem dentro de um hospital.
Através de cirurgias endoscócpicas, de coluna, análises de tumores, microcameras passeiam por absolutamente todas as partes do corpo humano, fazendo com que entendamos que a vida é efêmera.
Essa obra nos mostra que pensar na morte com angústia é desnecessário, haja vista o lado inevitável da mesma. O melhor a se fazer é aceitar nossa fraqueza diante da força do tempo, que cedo ou tarde nos devorará.
Os médicos e enfermeiras do hospital, que diuturnamente veem cadáveres, doentes mentais, moribundos, após o expediente foram para uma festa dançar. Isso pois o ato de encarar a morte já se tornou uma rotina, portanto, a empatia frente as inúmeras perdas que o hospital presencia já se esvaiu.
Um filme denso que aborda a relação entre duas irmãs, intercalando o presente momento com flashbacks de suas infâncias.
Retrata os anos de chumbo na Alemanha, período da Guerra Fria onde inúmeros conflitos políticos borbulhavam, sobretudo na Europa oriental, onde grupos revolucionários e terroristas de extrema-esquerda e extrema direita se intensificavam.
Os anos de chumbo, embora muito bem retratado no filme, serve como caminho para contar a estória de toda aquela família, seus traumas, seus anseios e suas relações mais íntimas.
SPOILER AQUI
A Julianne tendo que cuidar do Jyan, filho da sua irmã Marianne que faleceu (provavelmente não por suicídio, mas sim por assassinato) é de uma realidade muito forte e ao mesmo tempo bela.
Trem da Vida é um filme muito belo dirigido por Radu Mihaileanu, pois mascla perfeitamente o cômico com o dramático. As ideologias e religiões são motivo de piadas leves e não desrespeitosas.
Mostra que os oprimidos se unem visando uma melhor vivência, sobretudo em momentos difíceis. Ciganos e Judeus trajaram-se com vestes de oficiais nazistas visando a sobrevivência.
Os judeus criaram um trem com o objetivo de sair da zona de domínio nazista, tudo isso para um desfecho emocionante, triste e que deixa uma dúvida no ar do que realmente aconteceu.
Um filme bom mas nada além disso, as atuações são primorosas e até o meio do filme tudo indicava que nos levaria algum desfecho interessante, mas não.
O filme não entende que mensagem quer passar, termina com um final digno de comédia romântica de Adam Sandler e não parece que foi dirigido pelo mesmo cara que fez os geniais A Caça e Festa de Família.
Aqui o filme é estéril, me pareceu um filme com roteiro bem meia boca dirigido por um gênio e protagonizado por exímios atores, é claro que não poderia ter resultado em um filme ruim, mas está longe de ser ótimo.
Uma obra facilmente esquecível, parecia que eu estava vendo um filme adolescente americano onde eles fazem festas na casa dos pais que foram viajar, estilo "SuperBad - É Hoje". Só vai ganhar 6 por conta das atuações e da direção e tá mais que de bom tamanho!
A Baleia superou minhas expectativas, a competente atuação de Brendan Fraser como um obeso mórbido em estado terminal carregou o filme nas costas do começo ao fim.
Por se tratar de um filme com 2 horas de duração, que se passa inteiramente na mesma locação, é complexo prender a atenção dos espectadores durante todo o filme, e A Baleia consegue isso por alguns fatores: a atuação do protagonista e o trabalho deveras competente da montagem, da trilha sonora e de toda a equipe de som.
A cada tosse que fazia palpitar o coração de Charlie a trilha marcava com sons de percussão como se fossem os batimentos cardíacos daquele homem.
A primeira cena do filme, onde vemos uma aula online, com o rosto de todos os alunos a aparecer em suas respectivas janelas e de forma centralizada, um quadrado preto representando que a câmera do professor estava fechada, já anunciava o impacto que o filme teria.
Aquele homem tinha vergonha de sua própria imagem, mas não somente porque ali denotava uma feiúra estética, mas sim porque aquele excesso de pele refletia o seu fracasso pessoal como pai, como marido e como ser humano.
O seu corpo imprestável era uma testemunha de toda a sua dor interior, que através de diálogos deveras bem construídos podemos perceber, quando Charlie desabafou dizendo "você não sabe o que é ter mofo entre os dedos, você não sabe o que é ter a bunda assada e feridas por todo o corpo, você não sabe como é suar nas juntas e sentir sua pele arder em carne viva".
Uma pena que ao contrário de Brendan Fraser, os demais atores e atrizes do filme não atuaram no mesmo nível, muito pelo contrário. Entretanto, as atuações não tão memoráveis dos outros partícipes da película não atrapalharam a mensagem final de A Baleia, que é um drama potente capaz de tirar diversas lágrimas dos espectadores.
A paixão de Charlie por outro homem fez com que ele abandonasse a sua filha criança e sua esposa. Nota-se a culpa dele perante todos os seus vícios e erros como ser humano, que infelizmente chegou tarde demais, quando a morte já batia em sua porta.
Acredito que o tom lúdico da parte final do filme fez com que o mesmo perdesse um pouco do máximo potencial que poderia ter extraído, deveria, ao meu ver, ter seguido um realismo maior como visto no filme Amor, do Haneke, por exemplo.
Ainda assim, mesmo que um filme com acertos e erros, acho que merece a nota 7,8.
Polisse é um excelente filme francês que mostra a vida de diversos profissionais que trabalham na Polícia de Proteção a Crianças e Adolescentes.
Trabalhar com isso é difícil e triste, pois as mais dolorosas situações são testemunhadas por esses policiais. Como por exemplo, uma adolescente que fora estuprada e teve que abortar sua criança, segura o cadáver do bebê em seus braços e chora copiosamente.
Uma mãe imigrante que vive nas ruas de Paris com o seu filho criança, por não aguentar mais passar fome e frio com esse, decide procurar a polícia e se vê obrigada a abandonar o seu filho o deixando na delegacia para posteriormente ser levado a um abrigo. A cena de despedida entre mãe e filho, com a criança chorando desesperada, impacta e impressiona a nós espectadores.
Soma-se a isso uma crítica social do choque entre duas culturas totalmente diferentes que coexistem na França, a cultura Islâmica e a cultura ocidental. A imigração em massa por parte dos muçulmanos na França colocam em pauta diversos problemas morais e sociais, pois inevitavelmente, tratam-se de culturas distintas com hábitos também distintos.
Para algumas vertentes muçulmanas, é ainda comum pais fazerem casamentos arranjados para suas filhas, às vezes essas possuem até 13 anos e são submetidas a casarem-se com um adulto, que logicamente irá praticar sexo com essa. Isso para os franceses configura como estupro, já para algumas vertentes muçulmanas não.
É sabido que os muçulmanos tendem a fazer mais filhos que os europeus, que cada vez mais optam por gerar menos vidas, logicamente, haja vista as diferenças culturais e crescimento populacional de indivíduos islâmicos, isso trás e trará conflitos na França e em demais partes da Europa.
Há inclusive uma cena no filme que representa essa divergência cultural na delegacia.
Todos esses pormenores são abordados pelo filme de forma cuidadosa para não flertarem com a xenofobia e com o preconceito.
Além disso, a vida a dois dos personagens são muito bem desnudadas pelos diálogos e situações que o filme apresenta.
Em suma, trata-se de uma obra muito interessante, que aborda um tema delicadíssimo e pesado, que é a pedofilia, com muita competência.
Sidney Lumet é um dos melhores diretores de todos os tempos quando o assunto é diálogos impactantes e direção de atores. Ele faz isso com maestria.
Desde o começo do filme eu notei que esse possuía um tom de literatura, agora, ao término dele, descobri que foi adaptado de um livro. E que adaptação fantástica.
Absolutamente todos os atores nesse filme estão impecáveis, Marlon Brando como um andarilho que finalmente tenta se fixar em uma terra visando ter um lar para chamar de seu. Ana Magnani que interpreta uma mulher madura que vive um casamento infeliz e carrega inúmeros traumas do passado.
Joanne Woodward que interpreta magistralmente uma degenerada social que tem suas manias, suas carências e seu transtorno de ansiedade generalizada, também vítima de trauma. E claro, Victor Jory, que está incrível interpretando o papel de um inválido terminal malvado, invejoso e impotente, que descarrega toda a sua autofrustração no mundo com tods a crueldade possível.
Os atores foram tão bem dirigidos pelo Sidney Lumet que nós, na condição de espectadores, conseguíamos enxergar para além da pele dos personagens, observamos suas almas e interiores, fazendo uma leitura profunda de suas personas, as personalidades de todos ali foram desnudadas de forma sublime.
Quando Brando diz para Magnani "Tem um outro tipo de gente, é um tipo que não pertence a lugar nenhum. Um tipo de pássaro que não tem nenhuma perna e não pode pousar em lugar nenhum. Tem que passar a vida inteira voando e voando. Uma vez eu conheci um, morreu e caiu no chao", era como se ele estivesse profetizando o seu trágico final.
Quando ele enfim achava um lugar para se fixar e chamar de seu, o destino insistia, tal qual o pássaro incapaz de pousar, em não lhe permitir fazer isso.
Ah, que desfecho potente, uma mãe sendo assassinada pelo seu próprio marido enquanto carregava um bebê no ventre, o seu sonho em forma de cafeteira ardendo em chamas tal qual outrora ardeu o pomar de seu pai.
A jaqueta do Marlon Brando, tal qual uma cobra que troca de pele ficou de souvenir para a outra andarilha, como que a dizer que ele marcou onde passou.
Enfim, no último plano do filme o pássaro consegue pousar, pois o protagonista morto estava.
Nota 10/10 e quem chama essa adaptação de novelão em tom pejorativo precisa rever.
O filme surpreende na sequência final quando nos damos conta que o parceiro sexual da protagonista era na verdade seu pai. Isso surpreende tanto o filho quanto o pai, também correlacionado com as imagens de pôster do Édipo Rei que aparecerem anteriormente.
O suicídio da travesti que se sentiu abandonada e velha, trocada pela mais nova também foi impactante, sobretudo pelos bonecos de voodoo, como a profetizarem o final.
Um brilhante filme antiguerra que remete aquela música do Geraldo Vandré "nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição, de morrer pela Pátria e viver sem razão".
Algumas cenas do filme são tão brilhantes e impactantes, sobretudo na sequência final, onde as situações de batalha são de um primor técnico inquestionável, que por vezes, através da angústia daqueles meninos, apavorados, me lembrei do fenomenal Vá e Veja.
É um filme onde tudo ocorre praticamente em tempo real, aquela entediante e cansativa busca pelo cadáver nos mergulha na rotina dos policiais e dos profissionais.
Nós como espectadores até nos entediamos, mas isso é proposital, o Nuri Bilge Ceylan quis isso, para nos tornar partícipes daquilo.
No fim, quando os profissionais estão fazendo a autópsia no morto eles encontram terra nos pulmões desse, deixando claro que ele foi enterrado vivo. Entretanto, o homem que estava anotando os detalhes da autópsia na ata pergunta ao médico mais experiente e também protagonista do filme
- Ele foi enterrado vivo, doutor?
(Ele pensa e diz)
- Não, coloque que os pulmões foram encontrados em condições normais.
Talvez ele omitiu esse fato para poupar a viúva, que já estava dilacerada pela morte do marido e teria que cuidar de um filho pequeno sozinha, sem o amparo emocional e financeiro do cônjuge.
E de dentro da sala da autópsia, na sequência final, a câmera encosta na janela e vemos uma escola, onde crianças brincam de jogar futebol e onde a viúva e a criança órfã de pai caminham por uma estrada, mostrando que a vida continua e que no fim somos frágeis e limitados, ninguém é eterno.
Mais um grande filme do Bergman, os diálogos do professor de matemática como que a nos apresentar os temas que viriam é estupendo e já nos mostra um Bergman maduro se aprofundando no existencialismo.
A sequência onde a personagem de Brigitta visita seus pesadelos que lhe atormentam por ter permitido a morte de sua filha recém nascida é perturbadora.
Mais um grande filme do Bergman que nos surpreende por várias vezes, até o suicídio da protagonista na presença de uma fotografia brilhante mesclando luz e sombras ao amanhecer.
Yasujiro Ozu faleceu no ano de 1963, portanto, infelizmente não pode ver esse belíssimo filme dirigido por Edward Yang.
As Coisas Simples da Vida remetem muito a forma como os filmes de Ozu vão crescendo aos poucos, sem incríveis reviravoltas e cenas eletrizantes, o roteiro vai enriquecendo a narrativa mostrando pequenas cenas do quotidiano, como um reflexo da vida.
Esse filme acompanha a vida dos mais diversos personagens, com as mais distintas e idades e nos mostra que todos temos nossos segredos, anseios e angústias.
No fim, a vó (matriarca da família) em coma por conta do derrame era a pessoa que mais fazia com que os outros desabafassem, talvez porque ela, naquela condição, não julgaria ninguém e tampouco condenaria as atitudes alheias.
A planta que insiste em florescer para adolescente somente quando essa passa por frustrações é traumas, mostra que é preciso sofrer para muitas vezes o amadurecimento surgir.
A criança lendo sua cartinha no túmulo da avó, os conflitos da vida adulta com seus amores ocultos e com as preocupações financeiras. Tudo é belo nesse filme e soa como uma doce novela.
Um filme que aborda intolerância religiosa, opressão por parte das mais variadas camadas de poderes, além da desmoralização da cidade se em comparação com o campo e interior. Lindíssimo filme.
Tal como A Montanha dos Sete Abutres de Billy Wilder, a espetacularização do sofrimento humano é abordada de forma genial que nos leva a um final belíssimo e emocionante, somente não chorei porque já havia lido o livro e sabia o que aconteceria.
Além de ser um filme que tem uma direção de arte formidável, desde a ambientação que te coloca dentro dos anos 70 mexicano, ou das fezes do cão na garagem que vão trocando de lugar conforme o tempo vai passando, ou a barriga da protagonista que após o parto ainda se mantém como uma saliência, todo o resto também é igualmente brilhante. Há uma sintonia fantástica entre continuistas e diretores de arte, pois em obras como essa, com número elevado de figurantes, torna-se fácil encontrar erros de continuidade, e eu particularmente não encontrei nenhum.
Roma tem um dos planos sequências e travelings mais perfeitos que eu já vi na história do cinema. A montagem é tão, mas tão competente que tu não a percebe, tudo flui no mesmo ritmo, a edição soa como se fosse invisível, ela sequer é notada. Todos os atores estão impecáveis, além da fotografia, do som, do roteiro e de toda a ambientação.
As cenas onde a protagonista abraça o filho morto e a sequência final onde a mesma salva os filhos da patroa que estão se afogando no mar são de uma beleza sublime. O abraço final daquela família demonstra que Roma é mais do que um filme brilhante esteticamente falando, pois por trás do brilhantismo há uma homenagem à força feminina, que em todas as classes, de forma mais acentuada ou menos, há mulheres que sofrem e precisam ser guerreiras. Quantas criam filhos sozinhas por aí. Fenomenal, favoritado e nota 9,6 de 10
PS: Todo o sofrimento da protagonista nos é transmitido sem o mínimo pieguismo e melodrama hollywoodiano. É cru como a vida. Não tem zoom expondo excesso de lágrimas dos personagens sendo utilizado como bengala para potencializar o drama para os espectadores de forma clichê. O drama acontece naturalmente e de forma competente, um parabéns especial a todos os figurantes que foram incríveis.
Trata-se de um ótimo filme sobre o período da Alemanha Nazista, pois foca em diversos temas que por vezes são esquecidos em outras obras que abordam o mesmo tema.
A droga, por exemplo, no período da Alemanha nazista o Pervitin era consumido e vendido a rodo, que nada mais é que uma metanfetamina hiper potente. A droga era usada por donas de casa sob o pretexto de "aumentar a disposição", usada por criança com a desculpa de "aumentar a concentração nos estudos" e pelos soldados alemães para perderem a sensibilidade, sono e fome, para literalmente se tornarem uma máquina de matar.
Existem cenas onde Oskar usa e abusa de uma substância arenosa enquanto desfruta dos prazeres da carne, talvez seja uma alusão ao Pervitin.
O lado fantasioso para tirar o peso do filme, onde Oskar é capaz de destruir copos com a força de sua aguda voz, as freiras a subirem no céu após a morte, dão a obra um tom diferencial para quebrar a seriedade.
O tambor sendo jogado no caixão do último elo perdido de Oskar mostra que em meio ao caos de uma guerra e de uma Alemanha destruída mortalmente, ele aprendeu a ser homem.
Um detalhe especial para a participação de Aznavour e para a deveras competente direção de arte. PS: visando um realismo maior os anões e Oskar deveriam ser mortos por conta de suas deficiências, haja vista que na Alemanha nazi deficientes eram mortos em campos de concentração. Mas há uma cena onde tentam levar Oskar. 8,2.
Bacurau é muito mais que um filme brasileiro, é uma vingança entalada de um povo inteiro.
Bacurau é a vingança pelos colonizadores que estupraram nosso povo nativo e roubaram nossas riquezas!
Bacurau é a vingança pelos políticos que ao invés de ajudarem o nosso sofrido povo, aproveitam-se desses para se perpetuar no poder e enriquecer as custas do sofrimento alheio.
Bacurau é a vingança contra os gringos que fazem turismo sexual com crianças a adolescentes no nordeste brasileiro.
Todos os países que foram colonizados e explorados devem ter nesse filme um grito entalado, como diz a música de Geraldo Vandré ''Vim aqui só pra dizer Ninguém há de me calar''.
Kleber Mendonça Filho, agradecimento eterno por ter levado essa obra-prima a Cannes e mostrado aos europeus e imperialistas que eles tem sangue inocente entre os dedos. PS: Notem vocês que as armas utilizadas para a vingança contra os assassinos foram retiradas das paredes do museu local, numa clara metáfora de que é na cultura, na arte e o no conhecimento que está a salvação. Filmaço,
O final mostra que a vida continua. Inevitavelmente, a vida precisa continuar. Tal como Voltaire nos ensinou no livro Cândido "precisamos continuar a cultivar o nosso jardim".
Primeiro o filme nos brinda com belíssimas cenas do quotidiano daquela família, que mesmo na modernidade do Japão, insistia em se isolar com tradições feudais. A partir daí, a amizade entre os dois irmãos e a sempre idêntica rotina nos é apresentada, até a tragédia e até o final, onde a câmera se afasta e se afasta mostrando o isolamento daquela família. Filme incrível, poetico e muito belo.
Simplesmente uma obra-prima do cinema, todas as sequências e cenas das consequências da explosão da bomba são de um realismo chocante, corpos carbonizados onde mães seguram o cadáver de seus bebês mortos e etc. Mas o filme vai muito além disso, pois foca no pós guerra e nas consequências desastrosas que aquela ''little boy'' acarretou em diversas famílias, que foram morrendo aos poucos, posteriormente.
A cena final onde o tio diz ''se tiver um arco-íris ela vai sobreviver'' e nenhum arco-íris aparece no plano mostra o quanto tentamos nos apegar em galhos invisíveis para objetivando um escape da realidade que dilacera.
A cena onde a personagem interpretada por Yoshikito Tanaka contempla as belezas dos pulos das carpas no lago, ainda sob influência da doença é de uma poeticidade absurda.
O filme terminou e já faz 30 minutos que estou deitado no sofá, pensativo. É evidente que essa obra se arrasta bastante e poderia ter aproximadamente 40 minutos a menos passando a mesma mensagem, entretanto, percebo que o lado entediante seja justamente um reflexo do que é a vida.
A vida não é incrível e ágil como um filme clássico de Hollywood, às vezes ela é deprimente. No fundo estamos completamente sozinhos e ninguém se importa conosco tanto quanto nós mesmos. Somos uma poeira de nada no meio desse cosmos, egoístas, frágeis e frustrados.
Sinedoque NY tem uma capacidade imensa de te deprimir, pois ele é como um espelho que reflete todo o lado medíocre da gente. A vida passa num piscar de olhos, nossas manias e hipocondria não deixam de ser um medo do inevitável. Filme muito complexo, ainda estou digerindo tudo isso.
Esse filme me matou por dentro.
A hipocondria é uma forma doentia de tentar acertar exatamente qual será o dia e a hora da sua morte, é um fetiche com a morte que eu tenho, ele fazendo a peça da vida dele é um reflexo de sua hipocondria.
Excelente filme de David Lynch com um roteiro muito bem escrito que foca mais em fazer perguntas do que respondê-las, muito embora não deixe de esclarecer alguns pontos.
A tensão sexual do filme é gigante e o trabalho de som e de trilha sonora é muito competente.
Robert Blake e Robert Loggia estão maravilhosos no papel. Nota 8,5
Cidade Nua
3.9 34 Assista AgoraEis um excelente filme, a narração em voice over é precisa pois transmite a atmosfera dessa gigantesca cidade. A escolha por fugir dos estúdios e utilizar os mais diversos cantos de Nova York foi genial, pois a Big Apple acabou sa tornando mais um personagem do filme, que mantém o ritmo de suspense do começo ao fim.
A sequência final de perseguição é perfeita e de tirar o fôlego, o final até me remeteu a Fúria Sanguinária.
Parece uma mistura de ação, noir e neorrealismo.
Excelente. Nota 8.1
De Humani Corporis Fabrica
3.6 6De Humani Corporis Fabrica é um excelente filme documental que desnuda todos os segredos que se escondem dentro de um hospital.
Através de cirurgias endoscócpicas, de coluna, análises de tumores, microcameras passeiam por absolutamente todas as partes do corpo humano, fazendo com que entendamos que a vida é efêmera.
Essa obra nos mostra que pensar na morte com angústia é desnecessário, haja vista o lado inevitável da mesma. O melhor a se fazer é aceitar nossa fraqueza diante da força do tempo, que cedo ou tarde nos devorará.
Os médicos e enfermeiras do hospital, que diuturnamente veem cadáveres, doentes mentais, moribundos, após o expediente foram para uma festa dançar. Isso pois o ato de encarar a morte já se tornou uma rotina, portanto, a empatia frente as inúmeras perdas que o hospital presencia já se esvaiu.
Um ótimo filme que nos põe a pensar.
Nota 7,8
Os Anos de Chumbo
4.1 15Um filme denso que aborda a relação entre duas irmãs, intercalando o presente momento com flashbacks de suas infâncias.
Retrata os anos de chumbo na Alemanha, período da Guerra Fria onde inúmeros conflitos políticos borbulhavam, sobretudo na Europa oriental, onde grupos revolucionários e terroristas de extrema-esquerda e extrema direita se intensificavam.
Os anos de chumbo, embora muito bem retratado no filme, serve como caminho para contar a estória de toda aquela família, seus traumas, seus anseios e suas relações mais íntimas.
SPOILER AQUI
A Julianne tendo que cuidar do Jyan, filho da sua irmã Marianne que faleceu (provavelmente não por suicídio, mas sim por assassinato) é de uma realidade muito forte e ao mesmo tempo bela.
Em suma, trata-se de um excelente filme.
Nota 8,4
Trem da Vida
4.3 176Trem da Vida é um filme muito belo dirigido por Radu Mihaileanu, pois mascla perfeitamente o cômico com o dramático. As ideologias e religiões são motivo de piadas leves e não desrespeitosas.
Mostra que os oprimidos se unem visando uma melhor vivência, sobretudo em momentos difíceis. Ciganos e Judeus trajaram-se com vestes de oficiais nazistas visando a sobrevivência.
Os judeus criaram um trem com o objetivo de sair da zona de domínio nazista, tudo isso para um desfecho emocionante, triste e que deixa uma dúvida no ar do que realmente aconteceu.
Quando a Mulher Sobe a Escada
4.2 18Em resumo o filme aborda a vida dura de uma mulher forte e honesta em meio de uma sociedade hipócrita. Excelente.
Não o acho tão genial quanto Rua da Vergonha e Noites de Cabíria, mas é uma ótima obra ao abordar os detalhes do mundo da prostituição.
Druk: Mais Uma Rodada
3.9 797 Assista AgoraUm filme bom mas nada além disso, as atuações são primorosas e até o meio do filme tudo indicava que nos levaria algum desfecho interessante, mas não.
O filme não entende que mensagem quer passar, termina com um final digno de comédia romântica de Adam Sandler e não parece que foi dirigido pelo mesmo cara que fez os geniais A Caça e Festa de Família.
Aqui o filme é estéril, me pareceu um filme com roteiro bem meia boca dirigido por um gênio e protagonizado por exímios atores, é claro que não poderia ter resultado em um filme ruim, mas está longe de ser ótimo.
Uma obra facilmente esquecível, parecia que eu estava vendo um filme adolescente americano onde eles fazem festas na casa dos pais que foram viajar, estilo "SuperBad - É Hoje". Só vai ganhar 6 por conta das atuações e da direção e tá mais que de bom tamanho!
A Baleia
4.0 1,0K Assista AgoraTEM SPOILER
A Baleia superou minhas expectativas, a competente atuação de Brendan Fraser como um obeso mórbido em estado terminal carregou o filme nas costas do começo ao fim.
Por se tratar de um filme com 2 horas de duração, que se passa inteiramente na mesma locação, é complexo prender a atenção dos espectadores durante todo o filme, e A Baleia consegue isso por alguns fatores: a atuação do protagonista e o trabalho deveras competente da montagem, da trilha sonora e de toda a equipe de som.
A cada tosse que fazia palpitar o coração de Charlie a trilha marcava com sons de percussão como se fossem os batimentos cardíacos daquele homem.
A primeira cena do filme, onde vemos uma aula online, com o rosto de todos os alunos a aparecer em suas respectivas janelas e de forma centralizada, um quadrado preto representando que a câmera do professor estava fechada, já anunciava o impacto que o filme teria.
Aquele homem tinha vergonha de sua própria imagem, mas não somente porque ali denotava uma feiúra estética, mas sim porque aquele excesso de pele refletia o seu fracasso pessoal como pai, como marido e como ser humano.
O seu corpo imprestável era uma testemunha de toda a sua dor interior, que através de diálogos deveras bem construídos podemos perceber, quando Charlie desabafou dizendo "você não sabe o que é ter mofo entre os dedos, você não sabe o que é ter a bunda assada e feridas por todo o corpo, você não sabe como é suar nas juntas e sentir sua pele arder em carne viva".
Uma pena que ao contrário de Brendan Fraser, os demais atores e atrizes do filme não atuaram no mesmo nível, muito pelo contrário. Entretanto, as atuações não tão memoráveis dos outros partícipes da película não atrapalharam a mensagem final de A Baleia, que é um drama potente capaz de tirar diversas lágrimas dos espectadores.
A paixão de Charlie por outro homem fez com que ele abandonasse a sua filha criança e sua esposa. Nota-se a culpa dele perante todos os seus vícios e erros como ser humano, que infelizmente chegou tarde demais, quando a morte já batia em sua porta.
Acredito que o tom lúdico da parte final do filme fez com que o mesmo perdesse um pouco do máximo potencial que poderia ter extraído, deveria, ao meu ver, ter seguido um realismo maior como visto no filme Amor, do Haneke, por exemplo.
Ainda assim, mesmo que um filme com acertos e erros, acho que merece a nota 7,8.
Políssia
4.0 273Tem SPOILER
Polisse é um excelente filme francês que mostra a vida de diversos profissionais que trabalham na Polícia de Proteção a Crianças e Adolescentes.
Trabalhar com isso é difícil e triste, pois as mais dolorosas situações são testemunhadas por esses policiais. Como por exemplo, uma adolescente que fora estuprada e teve que abortar sua criança, segura o cadáver do bebê em seus braços e chora copiosamente.
Uma mãe imigrante que vive nas ruas de Paris com o seu filho criança, por não aguentar mais passar fome e frio com esse, decide procurar a polícia e se vê obrigada a abandonar o seu filho o deixando na delegacia para posteriormente ser levado a um abrigo. A cena de despedida entre mãe e filho, com a criança chorando desesperada, impacta e impressiona a nós espectadores.
Soma-se a isso uma crítica social do choque entre duas culturas totalmente diferentes que coexistem na França, a cultura Islâmica e a cultura ocidental. A imigração em massa por parte dos muçulmanos na França colocam em pauta diversos problemas morais e sociais, pois inevitavelmente, tratam-se de culturas distintas com hábitos também distintos.
Para algumas vertentes muçulmanas, é ainda comum pais fazerem casamentos arranjados para suas filhas, às vezes essas possuem até 13 anos e são submetidas a casarem-se com um adulto, que logicamente irá praticar sexo com essa. Isso para os franceses configura como estupro, já para algumas vertentes muçulmanas não.
É sabido que os muçulmanos tendem a fazer mais filhos que os europeus, que cada vez mais optam por gerar menos vidas, logicamente, haja vista as diferenças culturais e crescimento populacional de indivíduos islâmicos, isso trás e trará conflitos na França e em demais partes da Europa.
Há inclusive uma cena no filme que representa essa divergência cultural na delegacia.
Todos esses pormenores são abordados pelo filme de forma cuidadosa para não flertarem com a xenofobia e com o preconceito.
Além disso, a vida a dois dos personagens são muito bem desnudadas pelos diálogos e situações que o filme apresenta.
Em suma, trata-se de uma obra muito interessante, que aborda um tema delicadíssimo e pesado, que é a pedofilia, com muita competência.
Nota: 7,6
Pasqualino Sete Belezas
4.1 23Um ótimo filme que mistura comédia com drama, as cenas no campo de concentração são muito impactantes e valeu a pena a sessão.
A atuação de Shirley Stoler como uma secretária nazista do alto comando, insensível e má, está espetacular.
Nota 7,9
Vidas em Fuga
3.9 45 Assista AgoraTEM SPOILER
Sidney Lumet é um dos melhores diretores de todos os tempos quando o assunto é diálogos impactantes e direção de atores. Ele faz isso com maestria.
Desde o começo do filme eu notei que esse possuía um tom de literatura, agora, ao término dele, descobri que foi adaptado de um livro. E que adaptação fantástica.
Absolutamente todos os atores nesse filme estão impecáveis, Marlon Brando como um andarilho que finalmente tenta se fixar em uma terra visando ter um lar para chamar de seu. Ana Magnani que interpreta uma mulher madura que vive um casamento infeliz e carrega inúmeros traumas do passado.
Joanne Woodward que interpreta magistralmente uma degenerada social que tem suas manias, suas carências e seu transtorno de ansiedade generalizada, também vítima de trauma. E claro, Victor Jory, que está incrível interpretando o papel de um inválido terminal malvado, invejoso e impotente, que descarrega toda a sua autofrustração no mundo com tods a crueldade possível.
Os atores foram tão bem dirigidos pelo Sidney Lumet que nós, na condição de espectadores, conseguíamos enxergar para além da pele dos personagens, observamos suas almas e interiores, fazendo uma leitura profunda de suas personas, as personalidades de todos ali foram desnudadas de forma sublime.
Quando Brando diz para Magnani "Tem um outro tipo de gente, é um tipo que não pertence a lugar nenhum. Um tipo de pássaro que não tem nenhuma perna e não pode pousar em lugar nenhum. Tem que passar a vida inteira voando e voando. Uma vez eu conheci um, morreu e caiu no chao", era como se ele estivesse profetizando o seu trágico final.
Quando ele enfim achava um lugar para se fixar e chamar de seu, o destino insistia, tal qual o pássaro incapaz de pousar, em não lhe permitir fazer isso.
Ah, que desfecho potente, uma mãe sendo assassinada pelo seu próprio marido enquanto carregava um bebê no ventre, o seu sonho em forma de cafeteira ardendo em chamas tal qual outrora ardeu o pomar de seu pai.
A jaqueta do Marlon Brando, tal qual uma cobra que troca de pele ficou de souvenir para a outra andarilha, como que a dizer que ele marcou onde passou.
Enfim, no último plano do filme o pássaro consegue pousar, pois o protagonista morto estava.
Nota 10/10 e quem chama essa adaptação de novelão em tom pejorativo precisa rever.
O Funeral das Rosas
4.3 69 Assista AgoraTEM SPOILER !!!!!
O filme surpreende na sequência final quando nos damos conta que o parceiro sexual da protagonista era na verdade seu pai. Isso surpreende tanto o filho quanto o pai, também correlacionado com as imagens de pôster do Édipo Rei que aparecerem anteriormente.
O suicídio da travesti que se sentiu abandonada e velha, trocada pela mais nova também foi impactante, sobretudo pelos bonecos de voodoo, como a profetizarem o final.
Filme interessante, nota 7,3
A Ponte da Desilusão
4.2 17Um brilhante filme antiguerra que remete aquela música do Geraldo Vandré "nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição, de morrer pela Pátria e viver sem razão".
Algumas cenas do filme são tão brilhantes e impactantes, sobretudo na sequência final, onde as situações de batalha são de um primor técnico inquestionável, que por vezes, através da angústia daqueles meninos, apavorados, me lembrei do fenomenal Vá e Veja.
Excelente obra, nota 8,8
Era Uma Vez na Anatólia
3.8 60TEM SPOILER
É um filme onde tudo ocorre praticamente em tempo real, aquela entediante e cansativa busca pelo cadáver nos mergulha na rotina dos policiais e dos profissionais.
Nós como espectadores até nos entediamos, mas isso é proposital, o Nuri Bilge Ceylan quis isso, para nos tornar partícipes daquilo.
No fim, quando os profissionais estão fazendo a autópsia no morto eles encontram terra nos pulmões desse, deixando claro que ele foi enterrado vivo. Entretanto, o homem que estava anotando os detalhes da autópsia na ata pergunta ao médico mais experiente e também protagonista do filme
- Ele foi enterrado vivo, doutor?
(Ele pensa e diz)
- Não, coloque que os pulmões foram encontrados em condições normais.
Talvez ele omitiu esse fato para poupar a viúva, que já estava dilacerada pela morte do marido e teria que cuidar de um filho pequeno sozinha, sem o amparo emocional e financeiro do cônjuge.
E de dentro da sala da autópsia, na sequência final, a câmera encosta na janela e vemos uma escola, onde crianças brincam de jogar futebol e onde a viúva e a criança órfã de pai caminham por uma estrada, mostrando que a vida continua e que no fim somos frágeis e limitados, ninguém é eterno.
Excelente filme, nota 8.0
Prisão
3.9 25TEM SPOILER
Mais um grande filme do Bergman, os diálogos do professor de matemática como que a nos apresentar os temas que viriam é estupendo e já nos mostra um Bergman maduro se aprofundando no existencialismo.
A sequência onde a personagem de Brigitta visita seus pesadelos que lhe atormentam por ter permitido a morte de sua filha recém nascida é perturbadora.
Mais um grande filme do Bergman que nos surpreende por várias vezes, até o suicídio da protagonista na presença de uma fotografia brilhante mesclando luz e sombras ao amanhecer.
Mais uma grande obra do gênio, nota 8.0
As Coisas Simples da Vida
4.3 120Yasujiro Ozu faleceu no ano de 1963, portanto, infelizmente não pode ver esse belíssimo filme dirigido por Edward Yang.
As Coisas Simples da Vida remetem muito a forma como os filmes de Ozu vão crescendo aos poucos, sem incríveis reviravoltas e cenas eletrizantes, o roteiro vai enriquecendo a narrativa mostrando pequenas cenas do quotidiano, como um reflexo da vida.
Esse filme acompanha a vida dos mais diversos personagens, com as mais distintas e idades e nos mostra que todos temos nossos segredos, anseios e angústias.
No fim, a vó (matriarca da família) em coma por conta do derrame era a pessoa que mais fazia com que os outros desabafassem, talvez porque ela, naquela condição, não julgaria ninguém e tampouco condenaria as atitudes alheias.
A planta que insiste em florescer para adolescente somente quando essa passa por frustrações é traumas, mostra que é preciso sofrer para muitas vezes o amadurecimento surgir.
A criança lendo sua cartinha no túmulo da avó, os conflitos da vida adulta com seus amores ocultos e com as preocupações financeiras. Tudo é belo nesse filme e soa como uma doce novela.
Nota: 8,7
O Pagador de Promessas
4.3 363 Assista AgoraUm filme que aborda intolerância religiosa, opressão por parte das mais variadas camadas de poderes, além da desmoralização da cidade se em comparação com o campo e interior. Lindíssimo filme.
Tal como A Montanha dos Sete Abutres de Billy Wilder, a espetacularização do sofrimento humano é abordada de forma genial que nos leva a um final belíssimo e emocionante, somente não chorei porque já havia lido o livro e sabia o que aconteceria.
Roma
4.1 1,4K Assista AgoraTEM SPOILER
Além de ser um filme que tem uma direção de arte formidável, desde a ambientação que te coloca dentro dos anos 70 mexicano, ou das fezes do cão na garagem que vão trocando de lugar conforme o tempo vai passando, ou a barriga da protagonista que após o parto ainda se mantém como uma saliência, todo o resto também é igualmente brilhante. Há uma sintonia fantástica entre continuistas e diretores de arte, pois em obras como essa, com número elevado de figurantes, torna-se fácil encontrar erros de continuidade, e eu particularmente não encontrei nenhum.
Roma tem um dos planos sequências e travelings mais perfeitos que eu já vi na história do cinema. A montagem é tão, mas tão competente que tu não a percebe, tudo flui no mesmo ritmo, a edição soa como se fosse invisível, ela sequer é notada. Todos os atores estão impecáveis, além da fotografia, do som, do roteiro e de toda a ambientação.
As cenas onde a protagonista abraça o filho morto e a sequência final onde a mesma salva os filhos da patroa que estão se afogando no mar são de uma beleza sublime. O abraço final daquela família demonstra que Roma é mais do que um filme brilhante esteticamente falando, pois por trás do brilhantismo há uma homenagem à força feminina, que em todas as classes, de forma mais acentuada ou menos, há mulheres que sofrem e precisam ser guerreiras. Quantas criam filhos sozinhas por aí. Fenomenal, favoritado e nota 9,6 de 10
PS: Todo o sofrimento da protagonista nos é transmitido sem o mínimo pieguismo e melodrama hollywoodiano. É cru como a vida. Não tem zoom expondo excesso de lágrimas dos personagens sendo utilizado como bengala para potencializar o drama para os espectadores de forma clichê. O drama acontece naturalmente e de forma competente, um parabéns especial a todos os figurantes que foram incríveis.
O Tambor
3.9 92 Assista AgoraTrata-se de um ótimo filme sobre o período da Alemanha Nazista, pois foca em diversos temas que por vezes são esquecidos em outras obras que abordam o mesmo tema.
A droga, por exemplo, no período da Alemanha nazista o Pervitin era consumido e vendido a rodo, que nada mais é que uma metanfetamina hiper potente. A droga era usada por donas de casa sob o pretexto de "aumentar a disposição", usada por criança com a desculpa de "aumentar a concentração nos estudos" e pelos soldados alemães para perderem a sensibilidade, sono e fome, para literalmente se tornarem uma máquina de matar.
Existem cenas onde Oskar usa e abusa de uma substância arenosa enquanto desfruta dos prazeres da carne, talvez seja uma alusão ao Pervitin.
O lado fantasioso para tirar o peso do filme, onde Oskar é capaz de destruir copos com a força de sua aguda voz, as freiras a subirem no céu após a morte, dão a obra um tom diferencial para quebrar a seriedade.
O tambor sendo jogado no caixão do último elo perdido de Oskar mostra que em meio ao caos de uma guerra e de uma Alemanha destruída mortalmente, ele aprendeu a ser homem.
Um detalhe especial para a participação de Aznavour e para a deveras competente direção de arte.
PS: visando um realismo maior os anões e Oskar deveriam ser mortos por conta de suas deficiências, haja vista que na Alemanha nazi deficientes eram mortos em campos de concentração. Mas há uma cena onde tentam levar Oskar. 8,2.
Bacurau
4.3 2,7K Assista AgoraTEM SPOILER
Bacurau é muito mais que um filme brasileiro, é uma vingança entalada de um povo inteiro.
Bacurau é a vingança pelos colonizadores que estupraram nosso povo nativo e roubaram nossas riquezas!
Bacurau é a vingança pelos políticos que ao invés de ajudarem o nosso sofrido povo, aproveitam-se desses para se perpetuar no poder e enriquecer as custas do sofrimento alheio.
Bacurau é a vingança contra os gringos que fazem turismo sexual com crianças a adolescentes no nordeste brasileiro.
Todos os países que foram colonizados e explorados devem ter nesse filme um grito entalado, como diz a música de Geraldo Vandré ''Vim aqui só pra dizer
Ninguém há de me calar''.
Kleber Mendonça Filho, agradecimento eterno por ter levado essa obra-prima a Cannes e mostrado aos europeus e imperialistas que eles tem sangue inocente entre os dedos.
PS: Notem vocês que as armas utilizadas para a vingança contra os assassinos foram retiradas das paredes do museu local, numa clara metáfora de que é na cultura, na arte e o no conhecimento que está a salvação.
Filmaço,
A Ilha Nua
4.4 25TEM SPOILER
O final mostra que a vida continua. Inevitavelmente, a vida precisa continuar. Tal como Voltaire nos ensinou no livro Cândido "precisamos continuar a cultivar o nosso jardim".
Primeiro o filme nos brinda com belíssimas cenas do quotidiano daquela família, que mesmo na modernidade do Japão, insistia em se isolar com tradições feudais. A partir daí, a amizade entre os dois irmãos e a sempre idêntica rotina nos é apresentada, até a tragédia e até o final, onde a câmera se afasta e se afasta mostrando o isolamento daquela família. Filme incrível, poetico e muito belo.
Black Rain - A Coragem de uma Raça
4.0 18TEM SPOILER, SE NAO ASSISTIU NAO LEIA
Simplesmente uma obra-prima do cinema, todas as sequências e cenas das consequências da explosão da bomba são de um realismo chocante, corpos carbonizados onde mães seguram o cadáver de seus bebês mortos e etc. Mas o filme vai muito além disso, pois foca no pós guerra e nas consequências desastrosas que aquela ''little boy'' acarretou em diversas famílias, que foram morrendo aos poucos, posteriormente.
A cena final onde o tio diz ''se tiver um arco-íris ela vai sobreviver'' e nenhum arco-íris aparece no plano mostra o quanto tentamos nos apegar em galhos invisíveis para objetivando um escape da realidade que dilacera.
A cena onde a personagem interpretada por Yoshikito Tanaka contempla as belezas dos pulos das carpas no lago, ainda sob influência da doença é de uma poeticidade absurda.
nota 10 de 10
Sinédoque, Nova York
4.0 477O filme terminou e já faz 30 minutos que estou deitado no sofá, pensativo. É evidente que essa obra se arrasta bastante e poderia ter aproximadamente 40 minutos a menos passando a mesma mensagem, entretanto, percebo que o lado entediante seja justamente um reflexo do que é a vida.
A vida não é incrível e ágil como um filme clássico de Hollywood, às vezes ela é deprimente. No fundo estamos completamente sozinhos e ninguém se importa conosco tanto quanto nós mesmos. Somos uma poeira de nada no meio desse cosmos, egoístas, frágeis e frustrados.
Sinedoque NY tem uma capacidade imensa de te deprimir, pois ele é como um espelho que reflete todo o lado medíocre da gente. A vida passa num piscar de olhos, nossas manias e hipocondria não deixam de ser um medo do inevitável. Filme muito complexo, ainda estou digerindo tudo isso.
Esse filme me matou por dentro.
A hipocondria é uma forma doentia de tentar acertar exatamente qual será o dia e a hora da sua morte, é um fetiche com a morte que eu tenho, ele fazendo a peça da vida dele é um reflexo de sua hipocondria.
Estrada Perdida
4.1 469 Assista AgoraExcelente filme de David Lynch com um roteiro muito bem escrito que foca mais em fazer perguntas do que respondê-las, muito embora não deixe de esclarecer alguns pontos.
A tensão sexual do filme é gigante e o trabalho de som e de trilha sonora é muito competente.
Robert Blake e Robert Loggia estão maravilhosos no papel. Nota 8,5
A Mulher Infiel
3.8 12É um bom filme de Chabrol, mas não tão genial quanto Mulheres Diabólicas, Um Assunto de Mulheres e O Açougueiro. Nota 7,6.