"[...] a violência se instaura como uma força construtiva em delimitar vivências e instaurando o terror. Mas, vejam bem, o terror não começa por debaixo, isto é, nas comunidades carentes, nas favelas e afins. O terror vem de cima para baixo; quem constrói esse estado catatônico violento é quem o sustenta de fato. A violência de baixo para cima nada mais é do que uma consequência desse mecanismo que fugiu do controle. Em outras palavras, em uma sociedade desigual, alicerçada por preconceitos e genocídio, quase ninguém está a salvo da violência, nem aqueles que se julgam acima do bem e do mal por sua condição e status social. Portanto, a violência se generalizou."
Esse filme me deixou em completa angústia. A vida não é fácil, está longe disso. A gente se agarra ao que pode para poder condensar as dores que carregamos ao longo dela e assumir um personagem para que vivamos na selva de pedra que é a sociedade. Nesse sentido, “Tiranossauro” toca forte na ferida de dois opostos que se atraem. Mas serão tão opostos assim, haja vista as situações que em estão?
Muitas pessoas escolhem como viver suas dores, frustrações, medos e anseios. Joseph (Peter Mullan, soberbo) foi pelo caminho mais fácil, a agressividade e persona non grata. Já Hannah (Olivia Colman, que atriz, meus caros!) caminha por um lugar difícil: a da positividade e religiosidade para mascarar as feridas internas e externas de um casamento abusivo. Há um choque entre os dois e para quem assiste. Somos convidados a sermos testemunhas, de como um ajuda o outro de alguma forma. O mínimo de acolhimento possível pode ser a porta para uma libertação.
Gosto como Paddy Considine coordena a direção de uma história pesadíssima, mas sem cair no dramalhão. E até me senti confortável por isso, por mais que fosse pesada tem um alívio ali que você se compadece. E a gente se alivia, não é mesmo? Achei muito humano o filme.
Ainda assim, é estarrecedor, tanto o motivo que dá o título do filme, que justifica muito as atitudes de Joseph, como as atitudes de Hannah em tentar sobreviver. Ao fim, quem é que pode julgar?
Comédia romântica boba e inofensiva, tudo que os yag necessitavam. Principalmente o público teen, quem me dera se na minha época de adolescente tivesse produções como essas. Adorei a química entre os dois protagonistas, Nicholas Galitzine (pelas minhas pesquisas, parece ser um dos nomes do momento) e Taylor Perez (!!!). Me surpreendi com a Uma Thurman, não sabia que estava no elenco, como está bela. No mais, é isso.
"Laços familiares não são tão fáceis de lidar como aparenta ser; há muitas camadas e complexidades que estão para além do elo e do sangue. Os sentimentos envolvidos são muitos e todos se condensam nessa liquidificação que a vida nos coloca. Então, quando acontece uma ruptura drástica das mais inevitáveis, como recuperar o que foi perdido e remontar o vaso quebrado que, parcialmente intacto, têm seus cacos que não se encaixam e que de tão quebrados, não tem como uni-los?"
Drama noir que mostra a força de uma mãe na proteção de suas filhas. Tragédias acontecem pelo meio do caminho, mas nada disso é capaz de tirar o fôlego de Mildred para ascender na vida tão somente para agradar a filha purgante e insuportável. Contudo, como um filme de suspense noir fica devendo. Mas como um drama familiar, a produção consegue se sair melhor. “Alma em Suplício” é um daqueles filmes feitos para um artista brilhar, no caso, a poderosa Joan Crawford, espetacular em cena. Sem a sua presença o filme seria pífio. Uma atuação média, nada exagerada, contida até e, ainda assim, dominando a cena. Todos os mistos e sensações dessa mãe que faz tudo para ver a filha feliz e realizada, nem que para isso tivesse de ser uma mulher completamente esgotada e no meio desse esgotamento, ainda que uma vida confortável há um grande acontecimento que muda a vida de todos. E ainda assim, tentar se manter de pé. Mas, verdade seja dita:
“A Rosa Tatuada” é um filme convincente em sua primeira parte como um dramalhão que, infelizmente, debanda para uma bobagem no seu segundo ato. Os estereótipos dos italianos elevados ao nível máximo não é exatamente um problema no drama do 1° ato, mas fica extremamente enfadonho na 2° parte. O Burt Lancaster irritantemente canastrão e bonachão é a prova. Quem sustenta o filme e o faz acontecer é ela: Anna Magnani, que presença cênica! Mesmo com um texto raso (isso porque o roteiro é baseado na obra do mestre Tennessee Williams que, penso eu, perde muito do seu brilho na direção inconstante de Daniel Mann), ela imprime drama, comédia, alívio e demais camadas de uma personagem riquíssima dessa mulher sofrida em ebulição para a libertação. Oscar de melhor atriz justíssimo logo em seu primeiro papel em Hollywood.
"Por isso gostava de Ariel, mesmo sem saber, a sua audácia e rebeldia (coisas que nem sabia o significado na época) me encantavam e gostava disso. Ela bancava o seu querer independente de qualquer coisa, era curiosa e desobediente. E isso atravessava muito em mim. Eu queria ser a princesa, ora bolas! E poderia. Aliás, Ariel e She-Ra eram os meus espíritos animais da infância. Enquanto as meninas queriam ser as outras princesas e os meninos queriam ser o He-Man, Jaspion ou similares da época que você de mais de 30 anos bem sabe, eu queria ser elas. Me sentia representado por estes poderes delas, mesmo sendo brancas, mas isso é outra questão..."
Restante da minha crítica ao clássico em: <cineset. com. br/por-que-a-pequena-sereia-foi-tao- importante-em-minha-vida/#google_vignette>
Uma dramédia romântica charmosa e longa cansando após os seus 90 minutos. Inclusive, penso ser uma versão mais “leve” e não menos espirituosa e pesada que “Alice Não Mora Mais Aqui” do Scorsese. Quanto as performances, Marsha Manson é a alma do filme, ela te induz a torcer por essa persona nada perfeita. É a luz do filme, enche a tela com seu carisma e angustia nas mesmas proporções, coisas que só uma grande atriz pode proporcionar. Uma pena ter perdido o Oscar e caído no ano de Diane Keaton, imbatível e incontestável em “Annie Hall” (ou “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”), naquele distante ano de 1978. O mesmo não posso falar do seu parceiro de tela, Richard Dreyfuss, vencedor da estatueta dourada de melhor ator. Caricato, chato e uns dez tons acima o, então jovem ator, abocanhou o prêmio batendo o favorito daquela noite, Woody Allen por “Annie Hall” que acabou vencendo direção (algo comum na Academia, em indicações duplas de atuação e direção, eles sempre vencem a segunda). E a atriz que faz a filha de Marsha, também indicada no auge de sua infância aos dez anos, é uma graça de simpatia. No mais, um filme interessante carregado por uma força (subestimada) feminina chamada Marsha Manson.
No mais: ela sempre dá adeus ou sempre dão adeus para ela? Ela se joga nos relacionamentos, espera muito dos homens que se relaciona e acaba jogada para escanteio, dando adeus ao romance, as expectativas, ao concreto, ao sonho em comum. Dão adeus para ela que se reconstitui em novos romances até a próxima despedida. Mas ela, agora, se compreende como única protagonista de sua própria jornada. O adeus já não é um pesar, é um até logo na certeza da volta e do concreto.
"O foco que Colm Bairéad coloca em sua direção entre o silêncio e o estado sensorial das descobertas dessa menina e do casal em ter uma criança/alguém para cuidar é de delicadeza acolhedora. O motivo que os leva a acolher Cáit (que sabemos aos poucos, mas, há indícios nas entrelinhas desde o início) coloca essa menina quieta, silenciosa e solitária no centro de um universo que ela nunca compreendera como seu, talvez nunca compreendesse se não tivesse a oportunidade de sair e sentir um outro mundo para além do físico, mas sentimental."
"Baseado no curta-metragem que fez muito burburinho tempos passados, Marcel, agora, volta em um falso documentário sobre ele e sua visão de vida, comunidade, companheirismo, amor, mundo, família e dúvidas acerca da inconstância da existência. O protagonista dublado por Jenny Slate é incrivelmente sagaz, inteligente e questionador. Junto ao narrador do filme (Dean Fleischer-Camp, que também dirige) ele mostra que o seu mundo ao lado da avó, Connie (voz de Isabella Rossellini) pode ser tão complexo quanto divertido."
Trecho da minha crítica que pode ser vista no site Cine Set. com. br /critica-marcel-the-shell-with-the-shoes-on-a24/
Baseado na obra de Milton Hatoum, “O Rio do Desejo” é um filme regular, não é ruim, mas também não é excelente, fica nesse meio termo do insosso de quase um retângulo amoroso que já vimos milhares de vezes. Penso que o grande trunfo é justamente a performance de Sophie Charlotte, o grande nome do filme. Ela entrega vulnerabilidade em estado máximo. A cenografia auxilia na construção da narrativa, mas os diálogos e certos dialetos daqui do Amazonas, em tela, me soou meio forçado. Gostei de ver grandes nomes da atuação local em cena, como Adanilo, Isabela Catão e Rosa Malagueta. Extraindo alguma coisa, a obsessão e a inveja que deveria ser um protagonismo ficou meio à deriva. No mais, dá um certo orgulho em ver nosso norte, nosso Amazonas, em tela.
Quando a vida se mostra madrasta das circunstâncias e nada se desenvolve como o que se almejava e o ciclo de pobreza e miséria continuam a girar, não resta outra alternativa senão sonhar. A vida é bruta, difícil e, quase sempre, lhe dá uma rasteira daquelas. Então, um certo devaneio é sempre bem vindo como um sopro de fuga de realidade e tentar viver em meio às turbulências causadas pelas circunstâncias, escolhas e pessoas que aparecem em nosso caminho que não vem para somar, mas para nos regredir cada vez mais.
Me compadeço completamente com a Senhora Ross, interpretada de forma magistral e avassaladora por Edith Evans. Ela é a representação das pessoas que não deram certo em nada na vida, mas para continuar sobrevivendo se prende a uma ilusão. É tão triste quanto crível. Principalmente na sua solidão de uma pessoa já no final da vida sem ninguém por perto senão filho e marido de caráter duvidoso que não acrescentaram em nada em sua vida. Resta a ilusão como melhor amiga e apoio.
Uma pena que o filme se perde na descentralização do protagonismo quando resolvem dar foco em Archie (Eric Portman) o marido malandro da minha velhinha, me pareceu uma forma muito contraditória em justificar o porquê dela ser assim, solitária. Ele não acrescentou em nada tanto na vida, quanto no filme.
E a cena final? Que dorzinha no peito.
Infelizmente, naqueles devaneios que só o Oscar comete, ela perdeu a estatueta de melhor atriz para Katherine Hepburn por “Adivinhe quem vem para jantar” que, sem comparado com o absurdo que Edith Evans entrega em cena, esse prêmio é uma ultrajante.
Tenho minhas ressalvas quanto ao filme no que tange escolhas artísticas, como narração, roteiro, edição e diálogos, aparentam um certo grau de conservadorismo – ok, estamos falando de 1950 – mas, sei lá, a representação dos médicos muito didáticos e pouco convincentes no que estavam fazendo, aliado ao machismo do marido, me soaram penosos.
Portanto, a melhor coisa do filme é realmente Joanne Woodward, muito convincente e hipnótica na pele de Eva White, Eva Black e Jane. Suas mudanças de expressão, o trabalho corporal e de voz deram o tom mais sofisticado e mais interessante a um filme que, num contexto geral, soa regular, mas sua presença é o que lhe fortalece, muito maravilhosa. Uma boa abordagem do que seria a famosa dupla personalidade, aqui, no caso, tripla.
Apesar do título melodramático (eu prefiro o título original), gostei bastante dessa produção que fala do amor enlouquecido até as últimas consequências e as consequências desses atos impulsivos (ou não) em nome de uma paixão.
E que bad bitch é essa Ellen Berent? Que desempenho de Gene Tierney, nunca fazendo a linha enlouquecida e acima do tom, sempre sarcástica e usando de sua educação, sedução e beleza para manipular e destroçar todos à sua volta em nome de um amor desmedido que só ela sentia. E pior que isso não é nem história de filme, viu. Realmente acontece. Achei crível.
E que plot final dela, hein? Que sádica, que bandida sem mais nada a perder... Ou não... Pena que os momentos finais do são meio broxantes.
E que direção de arte e figurinos, viu. Um primor. Essas casas e figurinos belíssimos, gente?
Culpa, remorso, inquietação, frustração e automutilação, dentre tantos termos para classificar “A Baleia”, penso que estes são os que mais resumem esta obra controvérsia de Darren Aronofsky, e qual filme dele não vem recheado de polêmicas, não é mesmo?
Vamos ao fato: “A Baleia” é propositalmente um filme claustrofóbico, em todos os sentidos. Como Charlie (Brendan Fraser) preso ao seu corpo, a sua mente, as suas impulsividades alimentares descontando tudo na comida e o ambiente fechado que imprime esse lugar insalubre.
Por debaixo dos panos, o filme narra, também, a questão do corpo enquanto uma ferramenta de defesa do sujeito (tipo, meu templo, minhas regras) e não uma matéria que está a serviço de Deus e religiosidade e todo aquele papo fundamentalista da repressão ao corpo e se estar preso às artimanhas do homem em nome do Todo Poderoso. Ora, se há um Deus, nossos corpos, nossas vontades, desejos e amores não seriam uma forma de penalização Dele em assumirmos tais paixões, base de um discurso religioso opressivo. Neste sentido, a sexualidade também é contada de uma maneira muito prática, quase didática, dentro do mundo Aronofsky.
O abandono também é uma parte fundamental na rotina de Charlie e na direção de Aronofsky. O abandono por amor: e aqui há duas questões, o abandono de Charlie de sua família por amor ao seu namorado e o abandono do seu corpo, de sua vida e de suas expectativas por conta dessa consequência até ele chegar do jeito que está.
E o abandono têm suas consequências. Como retornar uma relação amistosa e saudável com a filha depois de anos? Logicamente que há dores e traumas e os dois, Charlie e Ellie (Sadie Sink) são duas pessoas completamente destruídas, mas que devem seguir a vida e convivência, pela dor ou por amor, vai saber.
Sim, é um filme problemático que trata a obesidade de uma maneira muito cruel, quase como se fosse uma escolha. A cena dele comendo tudo que encontra pela frente é tão cruel quanto crível. Lembrando sempre que obesidade não é uma escolha, sim, uma doença.
De todo modo, a forma de aberração como Charlie é tratado por si mesmo e pelos demais personagens, somente Liz (Hong Chau) compreende e explora esse lado mais afetivo dele, incomoda bastante. Acho que a contradição reside aí: a aberração como exploração do sofrimento: para causar ou para refletir? Você decide.
No mais, um elenco fantástico, com destaque total para Hong Chau, minha favorita do filme, e Brendan Fraser imprimindo, medo, compaixão, sofrimento, doçura em todas as proporções possíveis. Um trabalho minucioso que, por mais que esteja com próteses, você vê a sua interpretação, sente o ator, ele não usa desse artifício para entregar algo genérico. É realmente tocante.
Se focar nas entrelinhas, onde o filme fala sobre raízes, zelo, memória e identidade na construção do sujeito, é uma boa história. Se deixar de pensar sobre isso, o filme torna-se enfadonho, tendo como único artifício a excelente composição de uma atriz genial e do peso de Geraldine Page. Ela rouba todos os holofotes para ela. É uma composição que poderia cair na caricatura de uma senhora em busca de um sonho (im)possível, mas, em suas mãos, ela imprime, leveza, simpatia e determinação. Não tem como não se encantar por ela e por seus trejeitos escalafobéticos.
"A direção de Michael Morris (conhecido por dirigir séries como “13 Reasons Why”, “House of Cards”, “Brothers & Sisters”, “Kingdom”, “Bloodline”, entre outros) entrega um filme padrão do buraco sem fim das almas atormentadas. “To Leslie” não apresenta nada de novo e extraordinário na jornada do/a herói/protagonista para a sua redenção; já vimos isso em diversas ocasiões para o bem ou mal."
Minha crítica completa no site Cine Set: critica-to-leslie-andrea-riseborough/
Eu estou em estado catártico com esse filme: ao mesmo tempo em que estou arrasado, quero rever novamente e colocar pai e filha em uma caixinha. Uma história muito crua e genuína da relação entre pai e filha, duas pessoas diferentes ao mesmo tempo iguais e jovens descobrindo coisas da vida.
O filme, na minha visão, é como um pedido de desculpas de Charlotte Wells (em uma estreia na direção magistral) e de como ela era inocente, uma criança, afinal, para perceber e compreender o que se passava na cabeça do seu pai. Hoje, adulta, talvez ao longo da vida em uma briga interna entre ela e ela mesma e com o próprio pai, ela percebeu que, talvez, uma possível ausência paterna estava ligada a saúde mental dele.
E ele não estava bem. Era um caos. É angustiante assistir Paul Mescal (FABULOSO é pouco para classificar o que esse cara faz aqui) tentando ser um bom pai, em uma figura padronizada de ser pai ao mesmo tempo sendo jovem e querendo uma liberdade para a filha, algo que nunca teve e também, tendo que lidar com seus demônios internos.
Eu realmente estou devastado com esse filme, pois é muito sensorial também, você sente as dores do pai, sente a energia da descoberta da filha. Mas acaba tomando partido dele porque são dores fundamentadas nos diversos traumas ao longo da vida, falo por experiência própria, que nem filhos ou o maior dos amores pode apagar, sabe?
Por isso que digo que “Aftersun” é uma carta de amor e um pedido de desculpas de Wells por não entende-lo e também é um trabalho de memória, para não apagar a lembrança que ela teve com ele e tem dele. O manter intacto do jeito que ele é. E a cena final, meu Deus. O que é aquilo? É à volta ao caos em seu estado bruto e sem volta. Doloroso.
Olha, sinceramente, por mais que Tár seja um filme excelente e tenha como pano de fundo uma boa história acerca do cancelamento e julgamentos precipitados ou não, e Todd Field foi bem sagaz em não tomar partidos, ele joga na tela para quem assiste tire sua própria conclusão, não dá para falar do filme sem mencionar Cate Blanchett.
O que essa mulher faz em tela é coisa de louco. Ela se transforma de uma cena para outra ou na mesma cena, a medida que sua incrível Lydia Tár é confrontada. Uma personagem extremamente difícil, poderosa, bruta, pragmática e um tanto etérea (aqui, unicamente no seu cuidado e conhecimento com a música, como se fossem unos). Simplesmente não dá para tirar o olho e perder a atenção com ela, Tár te domina e te chama para entrar em seu mundo e em sua mente. Mas, perspicaz que é ela se deixa ver até certo ponto, até onde ela quer ser desvendada. E é aí que mora toda a magnitude do poder de Blanchett em cena, cada atitude sua é como ela tivesse nos testando também.
Assistir Tár é quase que uma experiência sensorial. Pois ela provoca, instiga e sabe de sua força bruta, dos seus conhecimentos e é segura no que faz, para o bem ou para o mal.
E aí, meu amigo realmente não dá para tomar partidos. Ela é uma bitch? Certamente, mas no mundo dos leões e dos homens, uma mulher lésbica assumir todo esse poder, com certeza, vem carregado de muitos problemas e até traumas que nem precisam ser citados, pois está estampado na sua cara e na sua linguagem corporal.
Eu acho que quem dirigiu esse filme, na verdade, foi a Cate Blanchett, pois ela que coordena tudo, todos os outros são totalmente irrelevantes. Eu estou em êxtase com essa performance. Bravíssimo!
Uma comédia romântica fina e cheia de estilo, mas que infelizmente desliza do meio para o fim caindo em um marasmo, perde o timing do início.
Fora isso, ótima protagonista de Glenda Jackson, vencendo o seu segundo Oscar de atriz aqui. Uma personagem madura, segura de si, a frente do seu tempo, empoderada e toda debochada, adoro.
Um encanto de novelão das 18h versão Spielberg. Agora sério, como a arte tem um papel fundamental na construção social e até educacional da pessoa, né? Sem arte a gente não vive. Sem o lúdico para encarar a realidade.
Gosto dessa linguagem nada inovadora de Spielberg para falar da necessidade da arte, aqui, do cinema, na sua construção enquanto pessoa e futuro profissional e como ela salva de diversas dores que temos ao longo da nossa jornada. Aliado, claro, ao incentivo da família em desenvolver essas habilidades e talentos natos.
Mas não apenas isso, é uma ruptura com o padronizado, um mundo novo que se abre ao leque de opções. Achei eficaz.
Gabriel LeBelle é um talento. Paul Dano na melhor atuação do filme, cheio de complexidades e camadas. Michelle Williams, como sempre ótima, mas já esteve melhor em outras ocasiões e Seth Rogen bastante interessante. E que luxo a participação de David Lynch, hein?
Seria “Jezebel” o início da personificação de Bette Davis em papeis de mulheres mal amadas, amarguradas, vingativas e debochadas? Se sim, gostei bastante. Um Oscar de melhor atriz justíssimo e bem melhor que a xurumela da sua primeira vitória.
Aqui, o filme sai de um vindouro romance para um drama sobre a vingança de uma mulher de ego ferido que tem como pano de fundo a escravidão (notem que todos são escravocratas convictos e orgulhosos) e da febre amarela que dizimou meio mundo. Todavia, acho que essa parte mais histórica acontece de forma muito ligeira, deveria ter sido mais bem desenvolvida, pois é muito mais interessante que metade do filme.
O bem da verdade mesmo é que o filme foi feito para Bette Davis brilhar e, como uma grande estrela que é, brilhou. Seja usando branco pueril ou o vermelho profano.
Martin McDonagh nos entrega mais um bom filme no seu currículo, embora se comparado a “Três Anúncios Para Um Crime” haja uma decaída no roteiro e ritmo, ainda assim, acima da média.
Gosto que o filme dialoga sobre uma amizade verdadeira entre dois homens do início do século XX em plena Guerra Civil. É bem raro de vermos em tela o relacionamento afetivo entre dois homens (sim, amizade é um relacionamento afetivo!). E, para além da questão do afeto, há a questão do legado. Quando morremos, quem lembrará gente? Para Pádraic (Colin Farrell) o legado é a bondade, simpatia, empatia e lealdade aos seus. Para Colm (Brendan Gleeson), o legado é a atemporalidade, isto é, fazer algo que entre para história e ser reconhecido para sempre, assim, ele nunca morrerá.
É um conflito existencial e ético aí. Pois, ao final, o que realmente importa? Fama e atemporalidade ou ser esquecido, mas ter sido amado, amou e cuidou dos seus? Polêmico.
Contudo, acho que mesmo usando do humor sarcástico e refinado, McDonagh peca pelo ritmo arrastado no meio da produção que ganha fôlego somente nos últimos 20 minutos de película.
Acho interessante a atitude drástica de Colm, uma metáfora para o total desapego, o desespero e a urgência em ser enxergado, nem que para isso, se desfaça de uma amizade e... Bem, vocês sabem.
Também há uma prepotência dele em achar o amigo, bronco, burro e de poucos saberes. Aí entra uma outra questão da sabedoria que não é tão somente acadêmica e/ou de absorvidas pelo externo, mas os saberes de vida, não são saberes?
O elenco principal é um primor, McDonagh sabe como poucos da atualidade dirigir atores. Colin Farrell excelente e em estado de graça como seu bronco e de pouco estudo Pádraic. Finalmente Brendan Gleeson está tendo o seu devido reconhecimento fora do eixo Europa. Barry Keoghan é um dos melhores de sua geração, grande ator. Mas, em minha opinião, a melhor performance e quem rouba a cena é Kerry Condon com sua preocupada e angustiada irmã de Pádraic, Siobhán, maravilhosa.
Belíssimo, difícil e intenso filme que se aprofunda nas complexidades dos relacionamentos e amores. Amor pela vida, pelo outro, por si mesmo, amor pelo material, enfim, amores. Gosto da tensão sexual entre os rapazes. Acho que mais do que a bissexualidade claramente envolvida, há ali a questão da necessidade de gostar e ser gostado por alguém, não importa o gênero. Precisamos disso de alguma forma para suprir necessidades, rombos ou o que queriam classificar, no sentido existencial. Algumas pessoas lidam bem com isso outras não. E não sei se está tudo bem por motivos de repressão ao próprio sentimento (e por sentimento não falo somente de amor romântico) por conta das convenções sociais que reprimem sentimentos, desejos, corpos. Eu prefiro acreditar que eles tinham um tórrido romance e as mulheres como convenção social para reprimir mais os desejos. Grandiosa performance de todos os envolvidos, especialmente Glenda Jackson em seu primeiro e peculiar Oscar de melhor atriz. No fim, tudo é sobre amor, poder, sexo, cobiça, crise existencial e certa dose de cinismo.
Tempos de Barbárie – Ato I: Terapia da Vingança
2.3 9"[...] a violência se instaura como uma força construtiva em delimitar vivências e instaurando o terror. Mas, vejam bem, o terror não começa por debaixo, isto é, nas comunidades carentes, nas favelas e afins. O terror vem de cima para baixo; quem constrói esse estado catatônico violento é quem o sustenta de fato. A violência de baixo para cima nada mais é do que uma consequência desse mecanismo que fugiu do controle. Em outras palavras, em uma sociedade desigual, alicerçada por preconceitos e genocídio, quase ninguém está a salvo da violência, nem aqueles que se julgam acima do bem e do mal por sua condição e status social. Portanto, a violência se generalizou."
Minha crítica completa: cineset .com .br/critica-tempos-de-barbarie-ato-1/
Tiranossauro
4.0 236 Assista AgoraEsse filme me deixou em completa angústia. A vida não é fácil, está longe disso. A gente se agarra ao que pode para poder condensar as dores que carregamos ao longo dela e assumir um personagem para que vivamos na selva de pedra que é a sociedade. Nesse sentido, “Tiranossauro” toca forte na ferida de dois opostos que se atraem. Mas serão tão opostos assim, haja vista as situações que em estão?
Muitas pessoas escolhem como viver suas dores, frustrações, medos e anseios. Joseph (Peter Mullan, soberbo) foi pelo caminho mais fácil, a agressividade e persona non grata. Já Hannah (Olivia Colman, que atriz, meus caros!) caminha por um lugar difícil: a da positividade e religiosidade para mascarar as feridas internas e externas de um casamento abusivo. Há um choque entre os dois e para quem assiste. Somos convidados a sermos testemunhas, de como um ajuda o outro de alguma forma. O mínimo de acolhimento possível pode ser a porta para uma libertação.
Gosto como Paddy Considine coordena a direção de uma história pesadíssima, mas sem cair no dramalhão. E até me senti confortável por isso, por mais que fosse pesada tem um alívio ali que você se compadece. E a gente se alivia, não é mesmo? Achei muito humano o filme.
Ainda assim, é estarrecedor, tanto o motivo que dá o título do filme, que justifica muito as atitudes de Joseph, como as atitudes de Hannah em tentar sobreviver. Ao fim, quem é que pode julgar?
Vermelho, Branco e Sangue Azul
3.6 307 Assista AgoraComédia romântica boba e inofensiva, tudo que os yag necessitavam. Principalmente o público teen, quem me dera se na minha época de adolescente tivesse produções como essas. Adorei a química entre os dois protagonistas, Nicholas Galitzine (pelas minhas pesquisas, parece ser um dos nomes do momento) e Taylor Perez (!!!). Me surpreendi com a Uma Thurman, não sabia que estava no elenco, como está bela.
No mais, é isso.
Bem-Vindos de Novo
3.4 6"Laços familiares não são tão fáceis de lidar como aparenta ser; há muitas camadas e complexidades que estão para além do elo e do sangue. Os sentimentos envolvidos são muitos e todos se condensam nessa liquidificação que a vida nos coloca. Então, quando acontece uma ruptura drástica das mais inevitáveis, como recuperar o que foi perdido e remontar o vaso quebrado que, parcialmente intacto, têm seus cacos que não se encaixam e que de tão quebrados, não tem como uni-los?"
Crítica completa: cineset .com. br/critica-bem-vindos-de-novo-marcos-yosh/
Alma em Suplício
4.2 140 Assista AgoraDrama noir que mostra a força de uma mãe na proteção de suas filhas. Tragédias acontecem pelo meio do caminho, mas nada disso é capaz de tirar o fôlego de Mildred para ascender na vida tão somente para agradar a filha purgante e insuportável. Contudo, como um filme de suspense noir fica devendo. Mas como um drama familiar, a produção consegue se sair melhor. “Alma em Suplício” é um daqueles filmes feitos para um artista brilhar, no caso, a poderosa Joan Crawford, espetacular em cena. Sem a sua presença o filme seria pífio. Uma atuação média, nada exagerada, contida até e, ainda assim, dominando a cena.
Todos os mistos e sensações dessa mãe que faz tudo para ver a filha feliz e realizada, nem que para isso tivesse de ser uma mulher completamente esgotada e no meio desse esgotamento, ainda que uma vida confortável há um grande acontecimento que muda a vida de todos. E ainda assim, tentar se manter de pé.
Mas, verdade seja dita:
Que cena inicial podre, hein? Eu morri de rir com a cena da morte e a péssima interpretação do Zachary Scott.
A Rosa Tatuada
3.7 28“A Rosa Tatuada” é um filme convincente em sua primeira parte como um dramalhão que, infelizmente, debanda para uma bobagem no seu segundo ato. Os estereótipos dos italianos elevados ao nível máximo não é exatamente um problema no drama do 1° ato, mas fica extremamente enfadonho na 2° parte. O Burt Lancaster irritantemente canastrão e bonachão é a prova. Quem sustenta o filme e o faz acontecer é ela: Anna Magnani, que presença cênica! Mesmo com um texto raso (isso porque o roteiro é baseado na obra do mestre Tennessee Williams que, penso eu, perde muito do seu brilho na direção inconstante de Daniel Mann), ela imprime drama, comédia, alívio e demais camadas de uma personagem riquíssima dessa mulher sofrida em ebulição para a libertação. Oscar de melhor atriz justíssimo logo em seu primeiro papel em Hollywood.
A Pequena Sereia
3.7 577 Assista Agora"Por isso gostava de Ariel, mesmo sem saber, a sua audácia e rebeldia (coisas que nem sabia o significado na época) me encantavam e gostava disso. Ela bancava o seu querer independente de qualquer coisa, era curiosa e desobediente. E isso atravessava muito em mim. Eu queria ser a princesa, ora bolas! E poderia. Aliás, Ariel e She-Ra eram os meus espíritos animais da infância. Enquanto as meninas queriam ser as outras princesas e os meninos queriam ser o He-Man, Jaspion ou similares da época que você de mais de 30 anos bem sabe, eu queria ser elas. Me sentia representado por estes poderes delas, mesmo sendo brancas, mas isso é outra questão..."
Restante da minha crítica ao clássico em: <cineset. com. br/por-que-a-pequena-sereia-foi-tao- importante-em-minha-vida/#google_vignette>
A Garota do Adeus
3.9 55 Assista AgoraUma dramédia romântica charmosa e longa cansando após os seus 90 minutos. Inclusive, penso ser uma versão mais “leve” e não menos espirituosa e pesada que “Alice Não Mora Mais Aqui” do Scorsese. Quanto as performances, Marsha Manson é a alma do filme, ela te induz a torcer por essa persona nada perfeita. É a luz do filme, enche a tela com seu carisma e angustia nas mesmas proporções, coisas que só uma grande atriz pode proporcionar. Uma pena ter perdido o Oscar e caído no ano de Diane Keaton, imbatível e incontestável em “Annie Hall” (ou “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”), naquele distante ano de 1978. O mesmo não posso falar do seu parceiro de tela, Richard Dreyfuss, vencedor da estatueta dourada de melhor ator. Caricato, chato e uns dez tons acima o, então jovem ator, abocanhou o prêmio batendo o favorito daquela noite, Woody Allen por “Annie Hall” que acabou vencendo direção (algo comum na Academia, em indicações duplas de atuação e direção, eles sempre vencem a segunda). E a atriz que faz a filha de Marsha, também indicada no auge de sua infância aos dez anos, é uma graça de simpatia. No mais, um filme interessante carregado por uma força (subestimada) feminina chamada Marsha Manson.
No mais: ela sempre dá adeus ou sempre dão adeus para ela? Ela se joga nos relacionamentos, espera muito dos homens que se relaciona e acaba jogada para escanteio, dando adeus ao romance, as expectativas, ao concreto, ao sonho em comum. Dão adeus para ela que se reconstitui em novos romances até a próxima despedida. Mas ela, agora, se compreende como única protagonista de sua própria jornada. O adeus já não é um pesar, é um até logo na certeza da volta e do concreto.
A Menina Silenciosa
4.0 132 Assista Agora"O foco que Colm Bairéad coloca em sua direção entre o silêncio e o estado sensorial das descobertas dessa menina e do casal em ter uma criança/alguém para cuidar é de delicadeza acolhedora. O motivo que os leva a acolher Cáit (que sabemos aos poucos, mas, há indícios nas entrelinhas desde o início) coloca essa menina quieta, silenciosa e solitária no centro de um universo que ela nunca compreendera como seu, talvez nunca compreendesse se não tivesse a oportunidade de sair e sentir um outro mundo para além do físico, mas sentimental."
Minha crítica completa em: https:// www. cineset. com. br /critica-a-menina-silenciosa-colm-bairead/
Marcel a Concha de Sapatos
3.8 104 Assista Agora"Baseado no curta-metragem que fez muito burburinho tempos passados, Marcel, agora, volta em um falso documentário sobre ele e sua visão de vida, comunidade, companheirismo, amor, mundo, família e dúvidas acerca da inconstância da existência. O protagonista dublado por Jenny Slate é incrivelmente sagaz, inteligente e questionador. Junto ao narrador do filme (Dean Fleischer-Camp, que também dirige) ele mostra que o seu mundo ao lado da avó, Connie (voz de Isabella Rossellini) pode ser tão complexo quanto divertido."
Trecho da minha crítica que pode ser vista no site Cine Set. com. br /critica-marcel-the-shell-with-the-shoes-on-a24/
O Rio do Desejo
3.4 45Baseado na obra de Milton Hatoum, “O Rio do Desejo” é um filme regular, não é ruim, mas também não é excelente, fica nesse meio termo do insosso de quase um retângulo amoroso que já vimos milhares de vezes. Penso que o grande trunfo é justamente a performance de Sophie Charlotte, o grande nome do filme. Ela entrega vulnerabilidade em estado máximo. A cenografia auxilia na construção da narrativa, mas os diálogos e certos dialetos daqui do Amazonas, em tela, me soou meio forçado. Gostei de ver grandes nomes da atuação local em cena, como Adanilo, Isabela Catão e Rosa Malagueta.
Extraindo alguma coisa, a obsessão e a inveja que deveria ser um protagonismo ficou meio à deriva. No mais, dá um certo orgulho em ver nosso norte, nosso Amazonas, em tela.
The Whisperers
3.6 10Quando a vida se mostra madrasta das circunstâncias e nada se desenvolve como o que se almejava e o ciclo de pobreza e miséria continuam a girar, não resta outra alternativa senão sonhar. A vida é bruta, difícil e, quase sempre, lhe dá uma rasteira daquelas. Então, um certo devaneio é sempre bem vindo como um sopro de fuga de realidade e tentar viver em meio às turbulências causadas pelas circunstâncias, escolhas e pessoas que aparecem em nosso caminho que não vem para somar, mas para nos regredir cada vez mais.
Me compadeço completamente com a Senhora Ross, interpretada de forma magistral e avassaladora por Edith Evans. Ela é a representação das pessoas que não deram certo em nada na vida, mas para continuar sobrevivendo se prende a uma ilusão. É tão triste quanto crível. Principalmente na sua solidão de uma pessoa já no final da vida sem ninguém por perto senão filho e marido de caráter duvidoso que não acrescentaram em nada em sua vida. Resta a ilusão como melhor amiga e apoio.
Uma pena que o filme se perde na descentralização do protagonismo quando resolvem dar foco em Archie (Eric Portman) o marido malandro da minha velhinha, me pareceu uma forma muito contraditória em justificar o porquê dela ser assim, solitária. Ele não acrescentou em nada tanto na vida, quanto no filme.
E a cena final? Que dorzinha no peito.
Infelizmente, naqueles devaneios que só o Oscar comete, ela perdeu a estatueta de melhor atriz para Katherine Hepburn por “Adivinhe quem vem para jantar” que, sem comparado com o absurdo que Edith Evans entrega em cena, esse prêmio é uma ultrajante.
As Três Máscaras de Eva
3.9 114Tenho minhas ressalvas quanto ao filme no que tange escolhas artísticas, como narração, roteiro, edição e diálogos, aparentam um certo grau de conservadorismo – ok, estamos falando de 1950 – mas, sei lá, a representação dos médicos muito didáticos e pouco convincentes no que estavam fazendo, aliado ao machismo do marido, me soaram penosos.
Portanto, a melhor coisa do filme é realmente Joanne Woodward, muito convincente e hipnótica na pele de Eva White, Eva Black e Jane. Suas mudanças de expressão, o trabalho corporal e de voz deram o tom mais sofisticado e mais interessante a um filme que, num contexto geral, soa regular, mas sua presença é o que lhe fortalece, muito maravilhosa. Uma boa abordagem do que seria a famosa dupla personalidade, aqui, no caso, tripla.
Amar Foi Minha Ruína
4.1 122 Assista AgoraApesar do título melodramático (eu prefiro o título original), gostei bastante dessa produção que fala do amor enlouquecido até as últimas consequências e as consequências desses atos impulsivos (ou não) em nome de uma paixão.
E que bad bitch é essa Ellen Berent? Que desempenho de Gene Tierney, nunca fazendo a linha enlouquecida e acima do tom, sempre sarcástica e usando de sua educação, sedução e beleza para manipular e destroçar todos à sua volta em nome de um amor desmedido que só ela sentia. E pior que isso não é nem história de filme, viu. Realmente acontece. Achei crível.
E que plot final dela, hein? Que sádica, que bandida sem mais nada a perder... Ou não...
Pena que os momentos finais do são meio broxantes.
E que direção de arte e figurinos, viu. Um primor. Essas casas e figurinos belíssimos, gente?
E, mais uma vez, que FDP!
A Baleia
4.0 1,0K Assista AgoraCulpa, remorso, inquietação, frustração e automutilação, dentre tantos termos para classificar “A Baleia”, penso que estes são os que mais resumem esta obra controvérsia de Darren Aronofsky, e qual filme dele não vem recheado de polêmicas, não é mesmo?
Vamos ao fato: “A Baleia” é propositalmente um filme claustrofóbico, em todos os sentidos. Como Charlie (Brendan Fraser) preso ao seu corpo, a sua mente, as suas impulsividades alimentares descontando tudo na comida e o ambiente fechado que imprime esse lugar insalubre.
Por debaixo dos panos, o filme narra, também, a questão do corpo enquanto uma ferramenta de defesa do sujeito (tipo, meu templo, minhas regras) e não uma matéria que está a serviço de Deus e religiosidade e todo aquele papo fundamentalista da repressão ao corpo e se estar preso às artimanhas do homem em nome do Todo Poderoso. Ora, se há um Deus, nossos corpos, nossas vontades, desejos e amores não seriam uma forma de penalização Dele em assumirmos tais paixões, base de um discurso religioso opressivo. Neste sentido, a sexualidade também é contada de uma maneira muito prática, quase didática, dentro do mundo Aronofsky.
O abandono também é uma parte fundamental na rotina de Charlie e na direção de Aronofsky. O abandono por amor: e aqui há duas questões, o abandono de Charlie de sua família por amor ao seu namorado e o abandono do seu corpo, de sua vida e de suas expectativas por conta dessa consequência até ele chegar do jeito que está.
E o abandono têm suas consequências. Como retornar uma relação amistosa e saudável com a filha depois de anos? Logicamente que há dores e traumas e os dois, Charlie e Ellie (Sadie Sink) são duas pessoas completamente destruídas, mas que devem seguir a vida e convivência, pela dor ou por amor, vai saber.
Agora o problema:
Sim, é um filme problemático que trata a obesidade de uma maneira muito cruel, quase como se fosse uma escolha. A cena dele comendo tudo que encontra pela frente é tão cruel quanto crível. Lembrando sempre que obesidade não é uma escolha, sim, uma doença.
De todo modo, a forma de aberração como Charlie é tratado por si mesmo e pelos demais personagens, somente Liz (Hong Chau) compreende e explora esse lado mais afetivo dele, incomoda bastante. Acho que a contradição reside aí: a aberração como exploração do sofrimento: para causar ou para refletir? Você decide.
No mais, um elenco fantástico, com destaque total para Hong Chau, minha favorita do filme, e Brendan Fraser imprimindo, medo, compaixão, sofrimento, doçura em todas as proporções possíveis. Um trabalho minucioso que, por mais que esteja com próteses, você vê a sua interpretação, sente o ator, ele não usa desse artifício para entregar algo genérico. É realmente tocante.
O Regresso para Bountiful
3.6 27 Assista AgoraSe focar nas entrelinhas, onde o filme fala sobre raízes, zelo, memória e identidade na construção do sujeito, é uma boa história. Se deixar de pensar sobre isso, o filme torna-se enfadonho, tendo como único artifício a excelente composição de uma atriz genial e do peso de Geraldine Page. Ela rouba todos os holofotes para ela. É uma composição que poderia cair na caricatura de uma senhora em busca de um sonho (im)possível, mas, em suas mãos, ela imprime, leveza, simpatia e determinação. Não tem como não se encantar por ela e por seus trejeitos escalafobéticos.
A Sorte Grande
3.4 89 Assista Agora"A direção de Michael Morris (conhecido por dirigir séries como “13 Reasons Why”, “House of Cards”, “Brothers & Sisters”, “Kingdom”, “Bloodline”, entre outros) entrega um filme padrão do buraco sem fim das almas atormentadas. “To Leslie” não apresenta nada de novo e extraordinário na jornada do/a herói/protagonista para a sua redenção; já vimos isso em diversas ocasiões para o bem ou mal."
Minha crítica completa no site Cine Set: critica-to-leslie-andrea-riseborough/
Aftersun
4.1 716Eu estou em estado catártico com esse filme: ao mesmo tempo em que estou arrasado, quero rever novamente e colocar pai e filha em uma caixinha. Uma história muito crua e genuína da relação entre pai e filha, duas pessoas diferentes ao mesmo tempo iguais e jovens descobrindo coisas da vida.
O filme, na minha visão, é como um pedido de desculpas de Charlotte Wells (em uma estreia na direção magistral) e de como ela era inocente, uma criança, afinal, para perceber e compreender o que se passava na cabeça do seu pai. Hoje, adulta, talvez ao longo da vida em uma briga interna entre ela e ela mesma e com o próprio pai, ela percebeu que, talvez, uma possível ausência paterna estava ligada a saúde mental dele.
E ele não estava bem. Era um caos. É angustiante assistir Paul Mescal (FABULOSO é pouco para classificar o que esse cara faz aqui) tentando ser um bom pai, em uma figura padronizada de ser pai ao mesmo tempo sendo jovem e querendo uma liberdade para a filha, algo que nunca teve e também, tendo que lidar com seus demônios internos.
Eu realmente estou devastado com esse filme, pois é muito sensorial também, você sente as dores do pai, sente a energia da descoberta da filha. Mas acaba tomando partido dele porque são dores fundamentadas nos diversos traumas ao longo da vida, falo por experiência própria, que nem filhos ou o maior dos amores pode apagar, sabe?
Por isso que digo que “Aftersun” é uma carta de amor e um pedido de desculpas de Wells por não entende-lo e também é um trabalho de memória, para não apagar a lembrança que ela teve com ele e tem dele. O manter intacto do jeito que ele é.
E a cena final, meu Deus. O que é aquilo? É à volta ao caos em seu estado bruto e sem volta.
Doloroso.
Tár
3.7 396 Assista AgoraOlha, sinceramente, por mais que Tár seja um filme excelente e tenha como pano de fundo uma boa história acerca do cancelamento e julgamentos precipitados ou não, e Todd Field foi bem sagaz em não tomar partidos, ele joga na tela para quem assiste tire sua própria conclusão, não dá para falar do filme sem mencionar Cate Blanchett.
O que essa mulher faz em tela é coisa de louco. Ela se transforma de uma cena para outra ou na mesma cena, a medida que sua incrível Lydia Tár é confrontada. Uma personagem extremamente difícil, poderosa, bruta, pragmática e um tanto etérea (aqui, unicamente no seu cuidado e conhecimento com a música, como se fossem unos). Simplesmente não dá para tirar o olho e perder a atenção com ela, Tár te domina e te chama para entrar em seu mundo e em sua mente. Mas, perspicaz que é ela se deixa ver até certo ponto, até onde ela quer ser desvendada. E é aí que mora toda a magnitude do poder de Blanchett em cena, cada atitude sua é como ela tivesse nos testando também.
Assistir Tár é quase que uma experiência sensorial. Pois ela provoca, instiga e sabe de sua força bruta, dos seus conhecimentos e é segura no que faz, para o bem ou para o mal.
E aí, meu amigo realmente não dá para tomar partidos. Ela é uma bitch? Certamente, mas no mundo dos leões e dos homens, uma mulher lésbica assumir todo esse poder, com certeza, vem carregado de muitos problemas e até traumas que nem precisam ser citados, pois está estampado na sua cara e na sua linguagem corporal.
Eu acho que quem dirigiu esse filme, na verdade, foi a Cate Blanchett, pois ela que coordena tudo, todos os outros são totalmente irrelevantes. Eu estou em êxtase com essa performance. Bravíssimo!
Um Toque de Classe
3.4 12Uma comédia romântica fina e cheia de estilo, mas que infelizmente desliza do meio para o fim caindo em um marasmo, perde o timing do início.
Fora isso, ótima protagonista de Glenda Jackson, vencendo o seu segundo Oscar de atriz aqui. Uma personagem madura, segura de si, a frente do seu tempo, empoderada e toda debochada, adoro.
Os Fabelmans
4.0 389Um encanto de novelão das 18h versão Spielberg.
Agora sério, como a arte tem um papel fundamental na construção social e até educacional da pessoa, né? Sem arte a gente não vive. Sem o lúdico para encarar a realidade.
Gosto dessa linguagem nada inovadora de Spielberg para falar da necessidade da arte, aqui, do cinema, na sua construção enquanto pessoa e futuro profissional e como ela salva de diversas dores que temos ao longo da nossa jornada. Aliado, claro, ao incentivo da família em desenvolver essas habilidades e talentos natos.
Mas não apenas isso, é uma ruptura com o padronizado, um mundo novo que se abre ao leque de opções. Achei eficaz.
Gabriel LeBelle é um talento. Paul Dano na melhor atuação do filme, cheio de complexidades e camadas. Michelle Williams, como sempre ótima, mas já esteve melhor em outras ocasiões e Seth Rogen bastante interessante. E que luxo a participação de David Lynch, hein?
Fora a questão técnica, um deslumbre visual.
Jezebel
3.9 112Seria “Jezebel” o início da personificação de Bette Davis em papeis de mulheres mal amadas, amarguradas, vingativas e debochadas? Se sim, gostei bastante. Um Oscar de melhor atriz justíssimo e bem melhor que a xurumela da sua primeira vitória.
Aqui, o filme sai de um vindouro romance para um drama sobre a vingança de uma mulher de ego ferido que tem como pano de fundo a escravidão (notem que todos são escravocratas convictos e orgulhosos) e da febre amarela que dizimou meio mundo. Todavia, acho que essa parte mais histórica acontece de forma muito ligeira, deveria ter sido mais bem desenvolvida, pois é muito mais interessante que metade do filme.
O bem da verdade mesmo é que o filme foi feito para Bette Davis brilhar e, como uma grande estrela que é, brilhou. Seja usando branco pueril ou o vermelho profano.
Os Banshees de Inisherin
3.9 573Martin McDonagh nos entrega mais um bom filme no seu currículo, embora se comparado a “Três Anúncios Para Um Crime” haja uma decaída no roteiro e ritmo, ainda assim, acima da média.
Gosto que o filme dialoga sobre uma amizade verdadeira entre dois homens do início do século XX em plena Guerra Civil. É bem raro de vermos em tela o relacionamento afetivo entre dois homens (sim, amizade é um relacionamento afetivo!). E, para além da questão do afeto, há a questão do legado. Quando morremos, quem lembrará gente? Para Pádraic (Colin Farrell) o legado é a bondade, simpatia, empatia e lealdade aos seus. Para Colm (Brendan Gleeson), o legado é a atemporalidade, isto é, fazer algo que entre para história e ser reconhecido para sempre, assim, ele nunca morrerá.
É um conflito existencial e ético aí. Pois, ao final, o que realmente importa? Fama e atemporalidade ou ser esquecido, mas ter sido amado, amou e cuidou dos seus? Polêmico.
Contudo, acho que mesmo usando do humor sarcástico e refinado, McDonagh peca pelo ritmo arrastado no meio da produção que ganha fôlego somente nos últimos 20 minutos de película.
Acho interessante a atitude drástica de Colm, uma metáfora para o total desapego, o desespero e a urgência em ser enxergado, nem que para isso, se desfaça de uma amizade e... Bem, vocês sabem.
Também há uma prepotência dele em achar o amigo, bronco, burro e de poucos saberes. Aí entra uma outra questão da sabedoria que não é tão somente acadêmica e/ou de absorvidas pelo externo, mas os saberes de vida, não são saberes?
O elenco principal é um primor, McDonagh sabe como poucos da atualidade dirigir atores. Colin Farrell excelente e em estado de graça como seu bronco e de pouco estudo Pádraic. Finalmente Brendan Gleeson está tendo o seu devido reconhecimento fora do eixo Europa. Barry Keoghan é um dos melhores de sua geração, grande ator. Mas, em minha opinião, a melhor performance e quem rouba a cena é Kerry Condon com sua preocupada e angustiada irmã de Pádraic, Siobhán, maravilhosa.
Mulheres Apaixonadas
3.9 32Belíssimo, difícil e intenso filme que se aprofunda nas complexidades dos relacionamentos e amores. Amor pela vida, pelo outro, por si mesmo, amor pelo material, enfim, amores. Gosto da tensão sexual entre os rapazes. Acho que mais do que a bissexualidade claramente envolvida, há ali a questão da necessidade de gostar e ser gostado por alguém, não importa o gênero. Precisamos disso de alguma forma para suprir necessidades, rombos ou o que queriam classificar, no sentido existencial. Algumas pessoas lidam bem com isso outras não. E não sei se está tudo bem por motivos de repressão ao próprio sentimento (e por sentimento não falo somente de amor romântico) por conta das convenções sociais que reprimem sentimentos, desejos, corpos. Eu prefiro acreditar que eles tinham um tórrido romance e as mulheres como convenção social para reprimir mais os desejos.
Grandiosa performance de todos os envolvidos, especialmente Glenda Jackson em seu primeiro e peculiar Oscar de melhor atriz.
No fim, tudo é sobre amor, poder, sexo, cobiça, crise existencial e certa dose de cinismo.