A superstição, presente nas pessoas, levaria o mais desavisado a acreditar que “13 Fantasmas” trata-se de uma obra amaldiçoada. O número 13 é tido para o senso comum como o número do azar. Na obra de William Castle, a procura pela décima terceira é eminente, e não por menos pavorosa. O diretor estadunisense gostava de quebrar paradigmas e com essa obra não foi diferente. A família americana, retratada com exaustão como afortunada, inexiste. Os verdadeiros americanos de Castgle vivem em situação semelhante a milhares de pessoas reais: endividados, sem dinheiro e a ponto de perder a casa. Contudo, a herança de um familiar rico aparentemente muda os ares da família que herda uma mansão... Mal-assombrada. Falar de fantasmas, ainda mais nos 60, remete à limitação dos recursos visuais da época, entretanto, os efeitos elaborados para a obra funcionam perfeitamente, aliados ao preto e branco e o enclausuramento tornam o filme assustador. A desconstrução de modelos do diretor mostra-se novamente presente com a figura da criança, normalmente puritana e inocente, deixa de lado a “fofura“ para familiarizar com fantasmas e passar o medo da criança para o adulto. A ambição também está presente e torna-se crescente com o consentimento de uma herança milionária que inverte o papel de vilão da trama, deixando de ser os fantasmas para o homem assumir tal figura, o mal de todos. A obra de William Castle é uma mistura d suspense, ficção científica e humor que comprovam que se um filme, mesmo após 51 anos realizado, causa gritos de susto, é porque sua essência foi mantida com o tempo.
William Castle pode não ser um nome conhecido hoje em dia, mas ele deixou sua marca na história da boa e velha Hollywood. Quando se fala no diretor, vem em mente o suspense presente em seus filmes. Fortemente influenciado por Alfred Hitchcock - bem, não acredito na possibilidade de haver um bom diretor que não tenha influência do mestre do suspense -, William Castle fazia do cinema puro entretenimento. A falta de seriedade desse “show man” é tida como um fator positivo, pois seus frutos renderam o clássico estadunidense “Eu Vi Que Foi Você”. A infância, aos olhos de Castle, é vista sem a beleza e a pureza contidas nas crianças. As travessuras de três crianças ao mandarem trotes para diversas pessoas com a mensagem “Eu vi o que você fez e eu sei quem você é” levaram as crianças a crescerem instantaneamente para encarar o medo como adultos, e como se fosse Cinderela, o “encanto” teria um final e voltariam a ser o que eram. Joan Crawford, que atuou no ano anterior em “Almas Mortas”, também de Castle, não é de extrema relevância para a construção da trama, pois a brevidade de seu papel serviu para a publicidade da obra, já que as verdadeiras estrelas são o trio de crianças. Assustador. William Castle era mestre em exprimir o medo humano e transmiti-lo, como uma doença, para o espectador. Sua reverência a Alfred Hitchcock fez com que ele realizasse uma cena semelhante à do banheiro em “Psicose” (1960), tão assustadora quanto a original. O lado sarcástico do diretor apresenta-se no desenlace da obra, após 80 minutos de extrema intensidade, um final cômico para quebrar o gelo. Castle brinca com o medo humano, ironiza a estrutura da família America e brinda com uma pequena pérola do cinema, uma pedra resistente, presente até nos dias de hoje.
A versatilidade de Billy Wilder no cinema é positivamente impressionante. O diretor realizou dramas, suspenses, históricos e, claro, aclamadas comédias inesquecíveis, como o caso de “Se Meu Apartamento Falasse”. É uma tarefa um tanto árdua para a Academia do Oscar levar as comédias a sério e premiá-las com estatuetas relevantes. Em 83 edições realizadas, recordo apenas de “Aconteceu Naquela Noite” (1934), “Do Mundo Nada se Leva” (1938), ambos de Frank Capra, “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” (1977), de Woody Allen, e “Se Meu Apartamento Falasse” (1960), de Billy Wilder representam o pequeno grupo de filmes de comédia a levar a estatueta de melhor filme. Após dirigir “Quanto Mais Quente Melhor”, para muitos sua obra-prima definitiva, Billy Wilder mostrou sua magnificência no auge de sua carreira com “Se Meu Apartamento Falasse”. Provavelmente a comédia com maior apelo crítico e dramático do diretor. O longa-metragem apresenta C.C. Baxter, o “amigo” dos chefes, empregado de uma empresa de seguros que cresce profissionalmente com o aluguel de seu apartamento diariamente, melhor dizendo, no período noturno para seus patrões desfrutarem de casos extraconjugais. É clarividente a solidão e a introversão do protagonista que erroneamente é tachado de “garanhão” por seus vizinhos que sofrem com as longas noitadas. Infeliz em sua vida pessoal, feliz na vida profissional. Como uma troca de favores, a não permanência em seu lar serve como um degrau construído para alavancar a carreira profissional de Baxter. Em 1960, o adultério deixou de ser um tabu para Billy Wilder, que também discutiu questões como o lado pútrido das empresas (e do homem, por que não?) no qual a honestidade é colocada em xeque. O diretor ainda encontrou uma brecha para criticar a televisão que sucumbiu aos encantos (leia-se cifrões) da propaganda. A seriedade da obra apresenta-se no comportamento do homem, no caso o protagonista, que deixa se levar pela ambição para unir-se ao clube dos poderosos e pobres de espírito. Sempre há uma segunda chance e Baxter elucida seu valor humano e engrandece o papel da mulher, vista pela ótica do homem como um mero objeto de satisfação. O arrependimento, e consequentemente a remissão, nunca se mostraram tão hilários em uma obra icônica. O valimento da obra superou a barreira do tempo e hoje se mostra enxuta com mais de 50 anos. “Se Meu Apartamento Falasse” está no mais alto escalão do cinema de qualidade e Billy Wilder está entre os grandes diretores da história do cinema.
Duas das maiores estrelas hollywoodianas da história do cinema, Bette Davis e Joan Crawford, proporcionaram uma experiência estrondosa nas telas, o que poderia ser facilmente o retrato de suas relações fora do set de gravação. A obra “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?” é a representação do ódio, da inveja e da ambição. Duas irmãs com vidas completamente diferentes. Uma criança afamada e a outra anônima. Os anos passam e os papéis se invertem. A criança prodigiosa cai no esquecimento e a outra encontra sua identidade no cinema. Duas irmãs distintas. O tempo modifica a notoriedade de ambas e o presente delas encontra-se recluso em uma casa, vivendo do célebre passado. A reciprocidade entre ambas faz-se sabível. Baby Jane e Blanche Hudson se odeiam, sentem inveja uma da outra e fariam de tudo para não ver a sombra nefasta de sua irmã. A inversão de papéis no longa ocorre até mesmo quando a figura odiosa é substituída pela até então serena e compassiva. A maldade é mais que presente, assim como a loucura de suas vilãs que são o elemento chave que transforma “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?” em uma obra estarrecedora. O título da obra responde Baby Jane como uma triste vítima do passado. Bette Davis e Joan Crawford, em atuações descomunais, são pura pólvora e provaram nesse clássico do suspense que o ódio resulta em uma obra atemporal.
O segredo de um passado obscuro é a peça-chave da trama. No mundo da arte, as empregadas domésticas, babás e afins, geralmente são retratadas como meras coadjuvantes que compõem um longa, mas isso não ocorre em “The Nanny”, filme da produtora Hammer que tem Bette Davis interpretando com brilhantismo uma babá. A família Fane, visivelmente desestabilizada prepara-se para receber o filho Joey após dois anos de permanência em um internato. O passado dos Fane esconde a brutal morte da filha caçula dentro da própria casa. Um acidente, um crime premeditado, ou uma crise de loucura. Ninguém sabe ou prefere apagar o inapagável da memória. A figura da babá de extrema onipotência, reparando os freqüentes abalos da família, inclusive os de Joey, o garoto problemático que a maltrata veementemente. Os freqüentes maus tratos não são em vão, afinal nenhuma criança no mundo ofenderia a tão atenciosa e afável Nanny. O segredo vem à tona e o delírio de loucura, constante na obra, mostra-se presente na figura, até então, inofensiva. As revelações vêm como turbilhões que desgarram a insanidade da “mulher que cuida dos filhos dos outros e esquece os seus”. Um descuido afetuoso ocasionou em uma tragédia dupla danificou vidas inocentes. Embora a premissa seja boníssima, “The Nanny” é uma obra morna e não funciona. Tampouco o suspense sessentista que gerou tantos clássicos esteve escondido, como o misterioso segredo da família Lane.
A crueldade e o sadismo presentes em uma época que o mundo vivia seu ápice aflingente. O retrato perfeito para “A Dama Enjaulada”. Um feriado estadunidense é o ponto de partida da história. Cornelia, uma senhora robusta e de saúde frágil, é o ingrediente principal para a trama. O tempo quente não era apenas sinônimo de temperatura, como também a situação presenciada pelos Estados Unidos na década de 1960 (o perigo crescente da Guerra Fria que assolava o território do país). As notícias assombrosas e um tanto apocalípticas anunciadas no rádio eram o prenúncio de um violento jogo de gato e rato. Um acidente causado pelo destino mantém a senhora presa em seu elevador privado. O clamor por ajuda atrai o mau, pessoas com interesse em semear a discórdia e desenhar a morte para os inocentes. A nomeação “pessoa” é inválida para seres que agem como animais famintos, de acordo com a protagonista. A ironia da obra está presente no ser humano que se encontra enjaulado, enquanto os “animais” estão livres para devorar o que quiserem. Entretanto, os momentos cruciais da trama revelam que todos os presentes no ambiente recluso são animais e sabe-se que o tratamento destinado a eles não é mais singelo existente. Por mais que existam os “quadrúpedes irracionais’’, há sempre aquele astuto que escapa da jaula. A violência estrondosa do longa-metragem é assustadora e sua originalidade causa um impacto atordoador. Após a mensagem “The End” aparecer na tela, o espectador sente-se livre para respirar com alívio, tamanha intensidade presente nesse clássico do cinema.
A primeira palavra que vem à cabeça após assistir "Strait Jacket" é: Perversão. A obra do diretor William Castle, que no Brasil recebeu a infeliz e redundante tradução "Almas Mortas", retrata a história de Lucy Harbin, uma mulher de meia-idade à procura de sua recuperação física e mental. As sombras do passado obscurso persistem estarem presentes em sua vida. Passado esse marcado pela morte brutal de seu marido infiel e sua amante, momento acompanhado pelos olhos de Carol Harbin, filha do casal. A dimensão de tempo faz com que o presente torne-se passado: uma mulher aparentemente jovem, sedutora e completamente transtornada. A sanidade dá lugar à loucura que ocasiona as piores consequências. A tal perversão citada no início não se deve à insanidade da protagonista, e sim ao desenlace da trama que revela que o perigo pode estar em qualquer, até no seio de uma família compassiva. Os papéis de loucura desvairada e extrema fragilidade invertem-se em um clímax inesquecível. Em um filme extremamente violento, até mesmo nos dias recentes, “Strait Jacket” brinca com a mente do espectador em uma trama atraente e memorável. Uma brincadeira maléfica, mas não menos apreciável.
Uma noite em 72 minutos foi o tempo necessário para o diretor Robert Wise desconstruir a imagem de herói de um boxeador e fazer dele uma simples peça desnecessária de um plano maléfico. O pugilista “Stoker” sente-se seguro quanto à luta da noite, embora sua carreira tenha sido um fracasso nos últimos tempos. Seu otimismo não é avisado da fatalidade que seu agente proporcionara a ele. Robert Wise critica, através de sua câmera, o fascínio que as pessoas apresentam pelo esporte. Os homens no ringue transformam-se em galos de briga em uma arena na qual o mais forte sobrevive, segundo a ótica do espectador. O lado desumano aflora-se e as pessoas anseiam ver o sangue alheio, desejam a morte do fraco, apostam dinheiro, até mesmo o cego deseja ver o esboço da morte a ser criado. Uma perda total de valores, talvez não tão pungente quanto aos agentes que“ cuidam” de sua pepita de ouro. A crueldade é vigente na obra que corrói brutalmente a figura de um herói e rebaixa-o a um nível vil. Um retrato cru e real, com a ausência de um final feliz.
Abram-se as cortinas! O espetáculo de Darren Aronofsky está prestes a começar. O diretor estadunidense realizou em “Cisne Negro” sua obra-prima definitiva. A história da bailarina Nina Sayers (brilhantemente interpretada por Natalie Portman), que se transforma de uma jovem frágil em uma pessoa transtornada devido ao medo e à insegurança constantes em sua vida profissional. A ambição, muitas vezes retratada, foi trabalhada com sutileza e beleza no mundo dos palcos. O lago dos cisnes. Outro tema dispêndio. A reunião desses elementos poderia resultar em simplesmente “mais um filme”. Felizmente não. As nuanças inseridas por Aronofsky fazem da obra um verdadeiro deleite. Acompanhar a fraqueza e o medo de uma bailarina diminuta à figura de um cisne é uma experiência estarrecedora, provando que a ternura de Nina pôde assumir a figura demoníaca e ameaçadora do mal. Um espetáculo à parte, como o balé, a obra é um exímio suspense que desgarra os sentimentos mais íntimos do ser humano. Um filme alcança a eternidade graças à sua qualidade, à sua marca que fará com que as pessoas sempre se lembrem de seus personagens e suas falas, ao seu brilhantismo, à sua capacidade de superar o mortal. Se “A Rede Social” é o chamado “Cidadão Kane do século XXI”, se “Avatar” é a definição do fantástico na tecnologia, “Cisne Negro” é o filme que alcançou a imortalidade e uniu-se a clássicos indiscutíveis como “Casablanca”, “... E o Vento Levou” e “Psicose”. A perfeição, tão buscada pela protagonista, foi finalmente alcançada com a realização dessa obra-prima.
Se existe um tema demasiadamente explorado no cinema é o boxe. O esporte no qual os punhos são a arma fatal tem presença marcada nas grandes produções hollywoodianas. Anônimos ou não, fictícios ou não, a história de um lutador conquista legião de fãs mundo afora. A obra mais recente do mundo da luta é "O Vencedor". O longa-metragem do diretor David O. Russell retrata a trajetória dos Irmãos Mickey e Dickie Ward. Diferentemente de filmes como ‘’A Trágica Farsa’’ (1956), no qual o vilão atribui-se à figura corrupta de empresários, ou a saga "Rocky", no qual o oponente é o grande desafio de Balboa, a obra de Russel tem a família como algoz, melhor, a grande vilã da história. Em uma família completamente desestruturada e repleta de dependência, Mickey anseia ser um lutador de renome, e não apenas um simples lutador que não se recupera das quedas, mas a superproteção de sua família o impede de traçar seu rumo. Drogas, violência, ameaças. É clarividente o quão pesada é a vida familiar. Tão pesada quanto é a trilha sonora composta por clássicos do rock, como Aerosmith, The Rolling Stones e Led Zeppelin, que marcam a intricada trajetória de Mickie rumo à tão almejada consagração. Como o título sugere, “O Vencedor” marca não apenas a vitória nos ringues, como também a vitória na vida. Um êxito brilhante no cinema estadunidense.
O cinema nacional tem levado milhões de brasileiros às telas com dramas espíritas, policial e agora com a biografia de Bruna Surfistinha, ex-garota de programa. Os constantes desafetos familiares e a zombaria na escola levaram a jovem Raquel Pacheco a criar seu alter ego profissional, Bruna Surfistinha. A garota que antes era considerada a Carrie, só que sem os poderes telecinéticos, alvo de chacota dos colegas de escola, transforma-se no principal alvo de desejo sexual. A popularidade obtida através de seu corpo e suas façanhas entre quatro paredes fazem da jovem uma notória figura no mundo do sexo, a versão oposta de Cabíria. Toda ascensão tem uma queda, entretanto a de Bruna foi abrupta e tão devastadora que a deixou em seu estado inicial, ou ainda pior, com um companheiro indesejável: O vício em drogas. O filme cria duas imagens do mundo da prostituição: O luxo e a riqueza com muito suor, literalmente, e a desconstrução do mundo fantasioso onde os excessos levam a vida de uma profissional do sexo do céu ao inferno em um estalar de dedos. O longa inicialmente apresenta um drama aceitável, contudo a partir da segunda metade torna-se maçante e fica a impressão de que o diretor Marcus Baldini reuniu as cenas gravadas, jogou-as para o alto e selecionou as melhores para compor o desenvolvimento do filme, tamanha desconexão presente. Lamentável para um filme que prometia e no final apresentou um conteúdo desmotivador, mostrando que "O Doce Veneno do Escorpião’’, na verdade é bem amargo.
No mundo do cinema existem tarefas quase inatingíveis para conseguir fazer êxito em um filme. “Festim Diabólico” é apenas um exemplo cuja premissa desafiadora tornou-se um clássico incontestável. O quase inatingível foi vencido por Danny Boyle ao dirigir o belíssimo drama “127 Horas’’. O desafio do diretor inglês foi quase tão árduo quanto o do alpinista Aron Ralston. Este que vos escreve confessa que ao saber há mais de um ano do novo filme do aclamado diretor de “Trainspotting” não demonstrou sequer interesse em assistir ao filme por não se sentir seduzido pela história. Engano. Feliz engano. O longa é baseado na história real de Aron Ralston, vivido brilhantemente por James Franco, um alpinista nas horas vagas, intrépido aventureiro que durante seu “rotineiro” fim de semana de escalada, sofreu um acidente nas montanhas do Estado americano de Utah e ficou preso sob uma pedra por aproximadamente 127 horas (daí o título). A luta, na obra, serve tanto para a sobrevivência de Aron Ralston, quanto para Danny Boyle ao extrair algo proveitoso da monotonia do protagonista. O desespero é constante ao longo da jornada de resistência de Aron. Aos poucos ele exprime seus sentimentos e mostra tamanha culpabilidade por ter ignorado a família antes de sair rumo ao abismo. Mãe, pai e namorada vêm à tona na mente do alpinista, e vendo-se próximo da morte, o flashback de sua vida atinge em cheio e o medo de não consertar os erros torna-se tão grande quanto a rocha que o priva da liberdade. O sofrimento de Aron é perpassado para o espectador. O desespero transforma-se em alucinação, o que seria a única saída para esquecer, mesmo que brevemente, da enorme pedra que estava em seu caminho. A criatividade e inventividade de Danny Boyle ao conduzir a história são estarrecedoras. O que tinha de tudo para ser maçante transformou-se em cenas envolventes, perturbadoras e até em certos momentos engraçadas. O triunfo de Aron veio a partir da perda de seu braço (o que não é mais novidade). Perder para ganhar. O desespero deu lugar a esperança e todo o sofrimento vivido pelo protagonista transforma-se em contentamento para Aron. O feito de Danny Boyle em “127 Horas” mostrou não apenas a superação de um homem, mas também a de um diretor que tirou leite de pedra em um filme surpreendente que só merece complementos. Um filme com final feliz.
Espanto é a palavra que vem à cabeça após assistir "Confiança". Espanto positivo consequente de uma obra peculiar de extrema originalidade que causa fascínio em quem assiste. Hal Hartley desconstruiu a mesmice de dramas na vida de adolescentes problemáticos ao introduzir o humor satírico para dar vida à história de seu longa-metragem. Maria (Adrienne Shelly) é uma jovem americana que causa a morte de seu pai após contar-lhe sobre sua gravidez. Matthew (Martin Donovan) é o gênio incompreendido temperamental que não convive em harmonia com as pessoas ao redor. Suas vidas desgraçadas são o ponto principal para a união de ambos. O enlace entre os jovens é como um barril de pólvora (ou uma granada?) que pode explodir a qualquer momento um emaranhado de incertezas, medos e conturbações no qual apenas a confiança recíproca é capaz de impedir. A crescente preocupação assolada entre os adolescentes é tratada com unificidade com diálogos ácidos e incisivos aliados a um elenco e direção brilhantes que passou com clareza a imagem fútil, inocente e amedrontada atribuída aos jovens. Questões como gravidez, casamento e a adequação à sociedade são postas à maneira de Hal Hartley, e por mais que seja sabível o quão árduo é tal situação, o diretor transforma em uma discussão bem-humorada e também reflexiva. A ousadia do diretor ao criar uma obra fascinante que não segue o convencionalismo das demais já seria o bastante para gostar de "Confiança", mas pensar no quão completo e único é esse filme, faz com que a apreciação aumente em alta escala.
O cinema de Sofia Coppola divie opinião desde a realização de seu primeiro longa-metragem ''As Virgens Suicidas'', e mesmo mais de uma década passada e com a nova obra "Um Lugar Qualquer'', a cineasta é adorada e questionada por muitos cinéfilos. Em seu mais recente trabalho, a diretora e também roteirista realizou o que remete para muitos a obra-prima ''Encontros e Desencontros''. As semelhanças são inegáveis, contudo é importante ressaltar as qualidades existentes entre ambas as obras e afirmar que a obra é uma mera cópia é francamente incorreto. A vida maçante do ator Johnny Marco é regada à muito luxo e belas mulheres, mas essa situação se reverte quando sua jovem filha, Cleo, vem a seu caminho e o comportamento do ator deve ser alterado para o bem dele e de sua garotinha. Sofia conduz a obra através dde cenas longas e cortes secos que revelam a total falta de química entre pai e filha. O longa desenvolve-se com naturalidade, mostrando o que cada personagem sente dentro de si, seus sentimentos são claramente passados para o espectador, e isso torna a obra cativante. Com a realização de ''Um Lugar Qualquer'', Sofia fez um filme que não se aprofunda na solidão de uma pessoa com excessos, contudo o resultado da leveza da obra é sublime.
A estreia de Daniel Grou por trás das câmeras é a prova do quão amarga e/ou dolorosa pode ser a vingança. A cena inicial lembra Michael Haneke e seu clássico ''O Vídeo de Benny'', contudo as semelhanças ficam apenas no prólogo. O longa reproduz a história de uma família bem-sucedida, cujos membros são Bruno e Sylvie, que tem sua única filha brutalmente estuprada e consequentemente assassinada. Dominado pelo desejo de vinganças, o pai da garota planeja sequestrar o assassino, torturá-lo e matá-lo em um período de sete dias. O motivo do tempo destinado para a morte do malfeitor diz respeito à data de aniversário da filha que seria a uma semana. O plano é minuciosamente elaborado e concluído. Enquanto a violência é explicitamente distribuída- de modo perturbador-, a proporção do caso é tamanha que torna-se nacional e, consequemente, faz com que que a polícia local saia em busca de Bruno e do facínora. É clarividente que o desejo de vingança é carregado pela culpabilidade de um pai que ''colaborou'' com a morte, vendo-a cruelmente violentada. Os momentos pai/maníaco são de extrema tensão e proporcionam cenas memoráveis e aflitivos. A obra segue até o final coberta de vingança e culpa atribuídas ao seu protagonista até o desfecho surpreendente que coroa um filme magnificente. Incisivo, cru, mordaz. Um filme tão brutal como a vingança.
Na estreia como diretor, Sergio Caballero seguiu uma proposta um tanto inusitada ao dirigir um filme no molde surrealista. A obra retrata a história de dois fantasmas que desejam ser humanos, só que para isso eles terão de enfrentar uma longa jornada até Finisterrae, o destino almejado pelos seres inanimados. O longa cumpre a proposta surreal, tendo locações desde árvores com orelhas que emitem um eco quase que ensurdecedor a uma coruja que se comunica com os ''seres''. Entretanto, o o desenvolvimento da obra é desalentador. Os poucos diálogos são fracos e nada acrescentam na obra. O que há de ser ressaltado é a belíssima fotografia que alterna com harmoniosidade a diversificação de cores. É deveras interessante ressaltar que a obra tem um apelo espiritual muito forte, pois o rumo à Finisterra é traçado para a busca da ascensão do espírito. No mais, Sergio Caballero realizou uma obra interessante com uma visão extremamente bizarra no que diz respeito à humanização.
Ramin Bahrani realizou em seu mais novo longa-metragem “Goodbye Solo’’, uma obra cujo título incisivo traz consigo a amarga melancolia de uma pessoa na ponta do abismo. A trama envolve Solo, um taxista senegalês que trabalha nos Estados Unidos há alguns anos tempo e William, um senhor de idade que um dia foi símbolo do rock nos anos 70. Exercendo seu ofício, Solo é surpreendido por William ao oferecer uma proposta irrecusável: Levá-lo até o topo das montanhas (Blowing Rock) em uma viagem longa com um lucro de mil dólares. O que parecia ser um simples road movie transforma-se em um dos grandes filmes dos últimos anos. Os protagonistas apresentam dois extremos divergentes: Solo é um homem com sonhos, de bem com a vida, almeja um futuro melhor para ele e sua família. William é um idoso no fim de sua jornada que apresenta empatia para com todos em sua vida abatida. O sentimentalismo da obra não se apega à previsibilidade, haja vista que se o filme fosse de outro de diretor, o desfecho seria o mais positivo possível, pois ‘’Goodbye Solo’’ não é um filme sobre heroísmo, redenção ou vitória, é a triste e penosa realidade de um mundo onde apenas a ilusão cria um ensaio de uma vida sem problemas. O desfecho da obra apresenta momentos belíssimos no qual o silêncio (exterior e interior) valeu como resposta para um homem que fraquejou em sua vida inexpressível. Inspirador, tocante, poderoso, entre outros inúmeros adjetivos. Goodbye Solo é belíssimo ao mostrar que a vida não é composta apenas de bons frutos e que às vezes a covardia é a única saída para um mundo inóspito
A cenografia relembra as inúmeras favelas espalhadas Brasil afora, aliás, poderia ser facilmente um filme nacional, mas Ramin Bahrani é mestre no que diz respeito a expor as classes mais abastadas do país mais poderoso do mundo: Estados Unidos. O enredo narra a história de Ale, um garoto pobre de Queens que faz de tudo para dar uma vida melhor a si e para sua irmã mais velha, Isamar. A obra aproxima-se muito ao neo-realismo ao retratar a vida de pessoas simples em situações corriqueiras em suas vidas que almejam uma vida decente. É assim que a obra desenvolve-se, Ale pula estágios de sua vida, não tendo infância ou adolescência e repentinamente vê-se na vida adulta com responsabilidade dobrada e trabalhos triplicados. Por mais que Ale ainda seja um garoto que encara a realidade de maneira bruta, ele mostra-se mais maduro que Isamar que segue caminhos inversos e mostra-se que é uma adolescente irresponsável em certos pontos. A obra não apela para clichês apelativos para promover comoção, a naturalidade com que se desenvolve é o que faz com que “Chop Shop” seja brilhante em sua proposta. A realização de Bahrani é um filme sobre sonhos destronados, mas que no fundo traz uma mensagem positivo quanto a não desistir dos nossos desejos e mesmo que sejamos golpeados pela vida, há de manter a esperança. Ale cresceu precocemente, vende balas, trabalha em uma mecânica e vende filmes pirateados. Qualquer semelhança com um garoto brasileiro não é mera coincidência. Uma obra que desgarra a vida de muitas pessoas que passam pela mesma situação de um garoto que não tem nada a não ser sonhos.
Ramin Bahrani é um diretor que sabe lidar com os problemas sociais, e provou isso na obra-prima do cinema atual “Man Push Cart”. A trama segue a história de Ahmad, um paquistanês reconhecido como astro do rock em seu país que mudou para os Estados Unidos com sua esposa e filho para cuidar de um quiosque nas ruas nova iorquinas. A esposa do protagonista morre subitamente e seu filho é tirado dos seus braços, contudo isso não o impede de seguir sua vida para traçar rumos melhores e ter seu filho de volta. O diretor Ramin Bahrani conduz a história com maestria ao retratar Nova York de uma maneira completamente diferente aos olhos de Woody Allen, por exemplo, e sim atenta aos imigrantes que partem dos seus países de origem para ocuparem profissões “menores’’ em um país altamente desenvolvido. Ahmad é um personagem um tanto curioso, é por trás da apatia (ou indiferença à vida) que esconde a solidão de um homem em busca de construir seus sonhos e procura alguma saída (que não seja o quiosque) para preencher o vazio que assola dentro de si, um gato para substituir a ausência paterna ou uma jovem jornaleira para fazê-lo esquecer do passado interrompido abruptamente. Sem apelar ao melodrama barato, Ramin Bahrani criou uma obra impressionante que se desenvolve com extrema beleza e simplicidade conduzida por um elenco de atores não muito conhecidos, mas competentes. A sequência final da obra é sufocante e paralisa o coração do espectador ao mostrar a destruição de um sonho que se mantém vivo na mente de um homem. Não seria exagero dizer que a obra de Ramin Bahrani é um filme iraniano feito nos Estados Unidos. Em um filme belo e trágico, “Man Push Cart” é a prova de que o sonho americano nem sempre é possível e que se para uma pessoa torná-lo real, será preciso carregar o peso de tal ambição com persistência e jamais pensar em desistir.
O cinema argentino tem crescido descomunalmente ao longo dos anos. Seus filmes têm ganhado reconhecimento internacional, contudo não é possível acertar em cheio em 100% dos filmes. A comédia romântica “Amorosa Soledad” dos diretores Martín Carranza e Victoria Galardi traz Soledad, uma jovem nos seus vinte e poucos anos que foi deixada pelo namorado. Em consequência do ocorrido, a frágil jovem decide ficar sozinha por 3 anos, mas tudo muda quando ela conhece um homem que muda sua vida, que coincidentemente tem o mesmo nome de seu ex, Nicolas. A obra desenvolve-se com as constantes paranoias da protagonista, que mostra-se insegura quanto a tudo e a todos, mas não há como não sentir-se cativado pela beleza e até ingenuidade. A paranoia de Soledad parece ser hereditária, pois sua família é apresentada e tem-se um pai ausente e uma mãe que anseia ser mais jovem. A ternura da obra e de Soledad não são capazes de manter a obra, pois há um grande vazio não preenchido na obra quanto às relações a dois de Soledad. Não há um conflito a ser encarado e tudo parece ser apenas mais um episódio, uma crônica da vida de uma pessoa problemática. Embora decepcionante, “Amorosa Soledad’’ é um filme leve e de estonteante beleza estética. Nada surpreendente, nada atemporal, apenas um filme de extrema delicadeza.
O diretor sul-africano Darrell Arrodt realizou em ‘’Yesterday’’ uma das obras mais belas e comoventes dos últimos tempos. A trama envolve a personagem cujo nome leva o título do filme, Yesterday, uma mulher que vive com sua filha Beauty em Rooihoek, área carente da África do Sul, diferente de Johannesburgo, a capital do país onde encontra-se atualmente o marido da jovem mulher. Yesterday tem sua cansativa rotina rompida quando apresenta sintomas de fraqueza e decide ir ao médico para solucionar o problema. A ineficácia do sistema de saúde do país faz com que ela volte repetidamente ao local. Após várias tentativas, ela recebe a notícia que é portadora do vírus HIV. Quando este seria o ponto crucial para a desistência da vida, Yesterday mostra-se uma mulher guerreira e encara a vida normalmente. A obra apresenta uma personagem extremamente cativante, que com seu sorriso contagia o espectador. A beleza da obra está na simplicidade em como ela é feita e nem mesmo os golpes que a vida aplica são capazes de derrubar um ser humano que tem como sonho ver a filha estudar. Darrell Arrodt também apresenta o lado de protesto em um país onde a maioria das pessoas não tem informação sobre a saúde e o que a ausência do preservativo pode acarretar na vida de uma pessoa e a intolerância de uma comunidade para com uma pessoa doente é consequente de atos desumanos. A jornada ininterrupta de Yesterday leva-a a rumos em que sua bravura é posta em xeque, mas suas atitudes são exultantes, o que resulta em lágrimas para quem assiste. "Yesterday" é um filme belo e simplório, uma lição de vida para todos que engrandecem seus problemas e desistem na primeira tentativa. Uma obra-prima do cinema contemporâneo.
A prolífica carreira de Woody Allen é vista por críticos repleta de altos e baixos, sendo a última década a mais escassa na carreira do diretor. Porém não são todos que concordam que filmes como “Match Point”, “Igual a Tudo na Vida” e “Tudo Pode dar Certo” sejam fracos, mas é quase unânime que ‘’Você Vai Conhecer O Homem dos Seus Sonhos’’ é uma obra decepcionante. A trama gira em torno de um casal da terceira idade, Alfie e Helena, que tem uma filha, Sally, casada com Roy, escritor frustrado. Ambos os casais têm em comum a infelicidade no seu relacionamento e este é o estopim para os desafortunados personagens irem à procura do parceiro dos seus sonhos. O longa desenvolve com personagens que procuram o amor de formas excêntricas: a partir do mundo fantasioso que ‘’prevê’’ o futuro, um homem acima dos 60 anos que procura sua juventude em uma ex-atriz pornô, um voyeur que observa a vizinha pela janela do prédio e a ineficácia de uma jovem mulher em engravidar que apaixona-se pelo seu chefe. O lado tragicômico de Allen não se aflorou na obra, pois o que é representado são personagens vazios que vivenciam situações vazias. A obra desenvolve-se com a constante busca pela atração do sexo oposto, contudo o que é representado na tela é deveras embaraçoso, nem mesmo o humor ácido do diretor surtiu em um efeito positivo. Diferente de ‘’Crimes e Pecados’’, a obra não apresenta um lado reflexivo ou cômico, é apenas uma comédia romântica passageira que não acrescenta na carreira do diretor. O desfecho inconclusivo apenas reforça mais a ideia do narrador nos minutos iniciais ‘’É uma história (...) que nada significa’’, ou seja, uma obra sem brilhantismo cujo foco principal não foi retratado com a mesma magnificência de outros clássicos do diretor.
De forma deveras dolorosa, o diretor Rafi Pitts realizou o seu mais novo trabalho sobre um homem que encontra-se em um beco sem saída. O diretor e também protagonista, vive Ali, um ex-presidiário que convive com o preconceito diariamente e encontra na caça a razão para desconectar-se da crueldade. Sua vida é pacata, porém digna ao lado de sua esposa e filha. O contato com a família é quase que inexistente, pois ele trabalha de segurança à noite e sua mulher trabalha de dia, enquanto a pequena filha estuda. A vida de Ali muda completamente quando sua mulher e filha são mortas acidentalmente em um protesto político. Rafi Pitts mostra o quão amplo é o descaso para com a vida no Irã, se for pensar na vida da mulher, o descaso se multiplicará. A ineficiência da polícia faz com que o homem simplório tome uma decisão crucial que virá a marcar sua vida. Em uma cena que lembra muito ‘’Na Mira da Morte ‘’(primeiro longa do diretor Peter Bogdanovich), o ‘’caçador’’ busca uma presa diferente, que tem como consequência uma busca implacável e os papéis de caça e caçador invertem-se. O longa não segue um ritmo alucinante, mas isto não faz com que ele torne-se enfadonho, pois o que é mostrado na tela é o que o protagonista sente, desesperançoso, vê sua vida desmoronar repentinamente e não há como reerguer-se tendo sua existência tão afetada como ele teve. O desfecho, embora lúgubre, mostra que o caçador de fato procurou ser a caça. Rafi Pitts dirigiu um filme que, embora tenha recebido inúmeras críticas negativas, é de uma qualidade indiscutível e mostra que o cinema iraniano é estupendo.
O título escalafobético dá a impressão de ‘’Good Dick’’ ser um filme pornográfico, contudo a famosa expressão de ‘’não se julga o livro pela capa’’, ou melhor, o filme pelo título, é mais que válida. A diretora e também protagonista Marianna Palka realizou um trabalho primoroso e de extrema aprofundação ao retratar os sentimentos mais complexos do ser humano. Em uma trama simples, um jovem atendente de uma locadora apaixona-se por uma cliente que aluga filmes pornôs e decide conquistá-la, embora suas tentativas falhem constantemente. O roteiro tragicômico apresenta diálogos consistentes e bem elaborados e situações que, embora ocorram em sua maioria em apenas uma locação, trazem consigo momentos reflexivos e cômicos. A obra desenvolve-se com a frequente rejeição da jovem para com o atendente e a introversão dela torna-se instigante e faz com que a busca pelo amor dela seja incessante. A solidão nesse filme é assombrosa, não apenas a do elenco principal, como também o de apoio que mostram-se pessoas dependentes das outras e por mais que sejam unidas, no fundo sentem-se vazias. A bizarrice do amor dá lugar a um desfecho que revela o motivo do distanciamento da jovem para com os outros (o que não soou previsível) e uma cena final memorável e um tanto bela. Em uma obra que de início já tem o nome convencional e a trama segue o mesmo parâmetro, há também o lado que revela um filme sensibilíssimo e uma terna história sobre o amor entre duas pessoas.
13 Fantasmas
3.1 46 Assista AgoraA superstição, presente nas pessoas, levaria o mais desavisado a acreditar que “13 Fantasmas” trata-se de uma obra amaldiçoada.
O número 13 é tido para o senso comum como o número do azar. Na obra de William Castle, a procura pela décima terceira é eminente, e não por menos pavorosa. O diretor estadunisense gostava de quebrar paradigmas e com essa obra não foi diferente. A família americana, retratada com exaustão como afortunada, inexiste. Os verdadeiros americanos de Castgle vivem em situação semelhante a milhares de pessoas reais: endividados, sem dinheiro e a ponto de perder a casa. Contudo, a herança de um familiar rico aparentemente muda os ares da família que herda uma mansão... Mal-assombrada.
Falar de fantasmas, ainda mais nos 60, remete à limitação dos recursos visuais da época, entretanto, os efeitos elaborados para a obra funcionam perfeitamente, aliados ao preto e branco e o enclausuramento tornam o filme assustador.
A desconstrução de modelos do diretor mostra-se novamente presente com a figura da criança, normalmente puritana e inocente, deixa de lado a “fofura“ para familiarizar com fantasmas e passar o medo da criança para o adulto. A ambição também está presente e torna-se crescente com o consentimento de uma herança milionária que inverte o papel de vilão da trama, deixando de ser os fantasmas para o homem assumir tal figura, o mal de todos.
A obra de William Castle é uma mistura d suspense, ficção científica e humor que comprovam que se um filme, mesmo após 51 anos realizado, causa gritos de susto, é porque sua essência foi mantida com o tempo.
Eu Vi Que Foi Você
3.4 39William Castle pode não ser um nome conhecido hoje em dia, mas ele deixou sua marca na história da boa e velha Hollywood.
Quando se fala no diretor, vem em mente o suspense presente em seus filmes. Fortemente influenciado por Alfred Hitchcock - bem, não acredito na possibilidade de haver um bom diretor que não tenha influência do mestre do suspense -, William Castle fazia do cinema puro entretenimento. A falta de seriedade desse “show man” é tida como um fator positivo, pois seus frutos renderam o clássico estadunidense “Eu Vi Que Foi Você”.
A infância, aos olhos de Castle, é vista sem a beleza e a pureza contidas nas crianças. As travessuras de três crianças ao mandarem trotes para diversas pessoas com a mensagem “Eu vi o que você fez e eu sei quem você é” levaram as crianças a crescerem instantaneamente para encarar o medo como adultos, e como se fosse Cinderela, o “encanto” teria um final e voltariam a ser o que eram. Joan Crawford, que atuou no ano anterior em “Almas Mortas”, também de Castle, não é de extrema relevância para a construção da trama, pois a brevidade de seu papel serviu para a publicidade da obra, já que as verdadeiras estrelas são o trio de crianças.
Assustador. William Castle era mestre em exprimir o medo humano e transmiti-lo, como uma doença, para o espectador. Sua reverência a Alfred Hitchcock fez com que ele realizasse uma cena semelhante à do banheiro em “Psicose” (1960), tão assustadora quanto a original. O lado sarcástico do diretor apresenta-se no desenlace da obra, após 80 minutos de extrema intensidade, um final cômico para quebrar o gelo.
Castle brinca com o medo humano, ironiza a estrutura da família America e brinda com uma pequena pérola do cinema, uma pedra resistente, presente até nos dias de hoje.
Se Meu Apartamento Falasse
4.3 422 Assista AgoraA versatilidade de Billy Wilder no cinema é positivamente impressionante. O diretor realizou dramas, suspenses, históricos e, claro, aclamadas comédias inesquecíveis, como o caso de “Se Meu Apartamento Falasse”.
É uma tarefa um tanto árdua para a Academia do Oscar levar as comédias a sério e premiá-las com estatuetas relevantes. Em 83 edições realizadas, recordo apenas de “Aconteceu Naquela Noite” (1934), “Do Mundo Nada se Leva” (1938), ambos de Frank Capra, “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” (1977), de Woody Allen, e “Se Meu Apartamento Falasse” (1960), de Billy Wilder representam o pequeno grupo de filmes de comédia a levar a estatueta de melhor filme.
Após dirigir “Quanto Mais Quente Melhor”, para muitos sua obra-prima definitiva, Billy Wilder mostrou sua magnificência no auge de sua carreira com “Se Meu Apartamento Falasse”. Provavelmente a comédia com maior apelo crítico e dramático do diretor. O longa-metragem apresenta C.C. Baxter, o “amigo” dos chefes, empregado de uma empresa de seguros que cresce profissionalmente com o aluguel de seu apartamento diariamente, melhor dizendo, no período noturno para seus patrões desfrutarem de casos extraconjugais. É clarividente a solidão e a introversão do protagonista que erroneamente é tachado de “garanhão” por seus vizinhos que sofrem com as longas noitadas. Infeliz em sua vida pessoal, feliz na vida profissional. Como uma troca de favores, a não permanência em seu lar serve como um degrau construído para alavancar a carreira profissional de Baxter.
Em 1960, o adultério deixou de ser um tabu para Billy Wilder, que também discutiu questões como o lado pútrido das empresas (e do homem, por que não?) no qual a honestidade é colocada em xeque. O diretor ainda encontrou uma brecha para criticar a televisão que sucumbiu aos encantos (leia-se cifrões) da propaganda.
A seriedade da obra apresenta-se no comportamento do homem, no caso o protagonista, que deixa se levar pela ambição para unir-se ao clube dos poderosos e pobres de espírito. Sempre há uma segunda chance e Baxter elucida seu valor humano e engrandece o papel da mulher, vista pela ótica do homem como um mero objeto de satisfação. O arrependimento, e consequentemente a remissão, nunca se mostraram tão hilários em uma obra icônica.
O valimento da obra superou a barreira do tempo e hoje se mostra enxuta com mais de 50 anos. “Se Meu Apartamento Falasse” está no mais alto escalão do cinema de qualidade e Billy Wilder está entre os grandes diretores da história do cinema.
O Que Terá Acontecido a Baby Jane?
4.4 828 Assista AgoraDuas das maiores estrelas hollywoodianas da história do cinema, Bette Davis e Joan Crawford, proporcionaram uma experiência estrondosa nas telas, o que poderia ser facilmente o retrato de suas relações fora do set de gravação.
A obra “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?” é a representação do ódio, da inveja e da ambição. Duas irmãs com vidas completamente diferentes. Uma criança afamada e a outra anônima. Os anos passam e os papéis se invertem. A criança prodigiosa cai no esquecimento e a outra encontra sua identidade no cinema. Duas irmãs distintas. O tempo modifica a notoriedade de ambas e o presente delas encontra-se recluso em uma casa, vivendo do célebre passado. A reciprocidade entre ambas faz-se sabível. Baby Jane e Blanche Hudson se odeiam, sentem inveja uma da outra e fariam de tudo para não ver a sombra nefasta de sua irmã. A inversão de papéis no longa ocorre até mesmo quando a figura odiosa é substituída pela até então serena e compassiva. A maldade é mais que presente, assim como a loucura de suas vilãs que são o elemento chave que transforma “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?” em uma obra estarrecedora. O título da obra responde Baby Jane como uma triste vítima do passado.
Bette Davis e Joan Crawford, em atuações descomunais, são pura pólvora e provaram nesse clássico do suspense que o ódio resulta em uma obra atemporal.
Nas Garras do Ódio
3.8 35O segredo de um passado obscuro é a peça-chave da trama.
No mundo da arte, as empregadas domésticas, babás e afins, geralmente são retratadas como meras coadjuvantes que compõem um longa, mas isso não ocorre em “The Nanny”, filme da produtora Hammer que tem Bette Davis interpretando com brilhantismo uma babá.
A família Fane, visivelmente desestabilizada prepara-se para receber o filho Joey após dois anos de permanência em um internato. O passado dos Fane esconde a brutal morte da filha caçula dentro da própria casa. Um acidente, um crime premeditado, ou uma crise de loucura. Ninguém sabe ou prefere apagar o inapagável da memória.
A figura da babá de extrema onipotência, reparando os freqüentes abalos da família, inclusive os de Joey, o garoto problemático que a maltrata veementemente. Os freqüentes maus tratos não são em vão, afinal nenhuma criança no mundo ofenderia a tão atenciosa e afável Nanny. O segredo vem à tona e o delírio de loucura, constante na obra, mostra-se presente na figura, até então, inofensiva. As revelações vêm como turbilhões que desgarram a insanidade da “mulher que cuida dos filhos dos outros e esquece os seus”. Um descuido afetuoso ocasionou em uma tragédia dupla danificou vidas inocentes.
Embora a premissa seja boníssima, “The Nanny” é uma obra morna e não funciona. Tampouco o suspense sessentista que gerou tantos clássicos esteve escondido, como o misterioso segredo da família Lane.
A Dama Enjaulada
4.0 59A crueldade e o sadismo presentes em uma época que o mundo vivia seu ápice aflingente. O retrato perfeito para “A Dama Enjaulada”.
Um feriado estadunidense é o ponto de partida da história. Cornelia, uma senhora robusta e de saúde frágil, é o ingrediente principal para a trama. O tempo quente não era apenas sinônimo de temperatura, como também a situação presenciada pelos Estados Unidos na década de 1960 (o perigo crescente da Guerra Fria que assolava o território do país). As notícias assombrosas e um tanto apocalípticas anunciadas no rádio eram o prenúncio de um violento jogo de gato e rato.
Um acidente causado pelo destino mantém a senhora presa em seu elevador privado. O clamor por ajuda atrai o mau, pessoas com interesse em semear a discórdia e desenhar a morte para os inocentes. A nomeação “pessoa” é inválida para seres que agem como animais famintos, de acordo com a protagonista. A ironia da obra está presente no ser humano que se encontra enjaulado, enquanto os “animais” estão livres para devorar o que quiserem. Entretanto, os momentos cruciais da trama revelam que todos os presentes no ambiente recluso são animais e sabe-se que o tratamento destinado a eles não é mais singelo existente. Por mais que existam os “quadrúpedes irracionais’’, há sempre aquele astuto que escapa da jaula.
A violência estrondosa do longa-metragem é assustadora e sua originalidade causa um impacto atordoador. Após a mensagem “The End” aparecer na tela, o espectador sente-se livre para respirar com alívio, tamanha intensidade presente nesse clássico do cinema.
Almas Mortas
3.9 80 Assista AgoraA primeira palavra que vem à cabeça após assistir "Strait Jacket" é: Perversão.
A obra do diretor William Castle, que no Brasil recebeu a infeliz e redundante tradução "Almas Mortas", retrata a história de Lucy Harbin, uma mulher de meia-idade à procura de sua recuperação física e mental. As sombras do passado obscurso persistem estarem presentes em sua vida. Passado esse marcado pela morte brutal de seu marido infiel e sua amante, momento acompanhado pelos olhos de Carol Harbin, filha do casal. A dimensão de tempo faz com que o presente torne-se passado: uma mulher aparentemente jovem, sedutora e completamente transtornada. A sanidade dá lugar à loucura que ocasiona as piores consequências.
A tal perversão citada no início não se deve à insanidade da protagonista, e sim ao desenlace da trama que revela que o perigo pode estar em qualquer, até no seio de uma família compassiva. Os papéis de loucura desvairada e extrema fragilidade invertem-se em um clímax inesquecível.
Em um filme extremamente violento, até mesmo nos dias recentes, “Strait Jacket” brinca com a mente do espectador em uma trama atraente e memorável. Uma brincadeira maléfica, mas não menos apreciável.
Punhos de Campeão
4.0 21Uma noite em 72 minutos foi o tempo necessário para o diretor Robert Wise desconstruir a imagem de herói de um boxeador e fazer dele uma simples peça desnecessária de um plano maléfico.
O pugilista “Stoker” sente-se seguro quanto à luta da noite, embora sua carreira tenha sido um fracasso nos últimos tempos. Seu otimismo não é avisado da fatalidade que seu agente proporcionara a ele.
Robert Wise critica, através de sua câmera, o fascínio que as pessoas apresentam pelo esporte. Os homens no ringue transformam-se em galos de briga em uma arena na qual o mais forte sobrevive, segundo a ótica do espectador. O lado desumano aflora-se e as pessoas anseiam ver o sangue alheio, desejam a morte do fraco, apostam dinheiro, até mesmo o cego deseja ver o esboço da morte a ser criado. Uma perda total de valores, talvez não tão pungente quanto aos agentes que“ cuidam” de sua pepita de ouro.
A crueldade é vigente na obra que corrói brutalmente a figura de um herói e rebaixa-o a um nível vil. Um retrato cru e real, com a ausência de um final feliz.
Cisne Negro
4.2 7,9K Assista AgoraAbram-se as cortinas! O espetáculo de Darren Aronofsky está prestes a começar.
O diretor estadunidense realizou em “Cisne Negro” sua obra-prima definitiva. A história da bailarina Nina Sayers (brilhantemente interpretada por Natalie Portman), que se transforma de uma jovem frágil em uma pessoa transtornada devido ao medo e à insegurança constantes em sua vida profissional. A ambição, muitas vezes retratada, foi trabalhada com sutileza e beleza no mundo dos palcos. O lago dos cisnes. Outro tema dispêndio. A reunião desses elementos poderia resultar em simplesmente “mais um filme”. Felizmente não. As nuanças inseridas por Aronofsky fazem da obra um verdadeiro deleite. Acompanhar a fraqueza e o medo de uma bailarina diminuta à figura de um cisne é uma experiência estarrecedora, provando que a ternura de Nina pôde assumir a figura demoníaca e ameaçadora do mal. Um espetáculo à parte, como o balé, a obra é um exímio suspense que desgarra os sentimentos mais íntimos do ser humano.
Um filme alcança a eternidade graças à sua qualidade, à sua marca que fará com que as pessoas sempre se lembrem de seus personagens e suas falas, ao seu brilhantismo, à sua capacidade de superar o mortal. Se “A Rede Social” é o chamado “Cidadão Kane do século XXI”, se “Avatar” é a definição do fantástico na tecnologia, “Cisne Negro” é o filme que alcançou a imortalidade e uniu-se a clássicos indiscutíveis como “Casablanca”, “... E o Vento Levou” e “Psicose”. A perfeição, tão buscada pela protagonista, foi finalmente alcançada com a realização dessa obra-prima.
O Vencedor
4.0 1,3K Assista AgoraSe existe um tema demasiadamente explorado no cinema é o boxe. O esporte no qual os punhos são a arma fatal tem presença marcada nas grandes produções hollywoodianas. Anônimos ou não, fictícios ou não, a história de um lutador conquista legião de fãs mundo afora. A obra mais recente do mundo da luta é "O Vencedor".
O longa-metragem do diretor David O. Russell retrata a trajetória dos Irmãos Mickey e Dickie Ward. Diferentemente de filmes como ‘’A Trágica Farsa’’ (1956), no qual o vilão atribui-se à figura corrupta de empresários, ou a saga "Rocky", no qual o oponente é o grande desafio de Balboa, a obra de Russel tem a família como algoz, melhor, a grande vilã da história. Em uma família completamente desestruturada e repleta de dependência, Mickey anseia ser um lutador de renome, e não apenas um simples lutador que não se recupera das quedas, mas a superproteção de sua família o impede de traçar seu rumo. Drogas, violência, ameaças. É clarividente o quão pesada é a vida familiar. Tão pesada quanto é a trilha sonora composta por clássicos do rock, como Aerosmith, The Rolling Stones e Led Zeppelin, que marcam a intricada trajetória de Mickie rumo à tão almejada consagração.
Como o título sugere, “O Vencedor” marca não apenas a vitória nos ringues, como também a vitória na vida. Um êxito brilhante no cinema estadunidense.
Bruna Surfistinha
2.9 3,0K Assista AgoraO cinema nacional tem levado milhões de brasileiros às telas com dramas espíritas, policial e agora com a biografia de Bruna Surfistinha, ex-garota de programa.
Os constantes desafetos familiares e a zombaria na escola levaram a jovem Raquel Pacheco a criar seu alter ego profissional, Bruna Surfistinha. A garota que antes era considerada a Carrie, só que sem os poderes telecinéticos, alvo de chacota dos colegas de escola, transforma-se no principal alvo de desejo sexual. A popularidade obtida através de seu corpo e suas façanhas entre quatro paredes fazem da jovem uma notória figura no mundo do sexo, a versão oposta de Cabíria. Toda ascensão tem uma queda, entretanto a de Bruna foi abrupta e tão devastadora que a deixou em seu estado inicial, ou ainda pior, com um companheiro indesejável: O vício em drogas.
O filme cria duas imagens do mundo da prostituição: O luxo e a riqueza com muito suor, literalmente, e a desconstrução do mundo fantasioso onde os excessos levam a vida de uma profissional do sexo do céu ao inferno em um estalar de dedos.
O longa inicialmente apresenta um drama aceitável, contudo a partir da segunda metade torna-se maçante e fica a impressão de que o diretor Marcus Baldini reuniu as cenas gravadas, jogou-as para o alto e selecionou as melhores para compor o desenvolvimento do filme, tamanha desconexão presente. Lamentável para um filme que prometia e no final apresentou um conteúdo desmotivador, mostrando que "O Doce Veneno do Escorpião’’, na verdade é bem amargo.
127 Horas
3.8 3,1K Assista AgoraNo mundo do cinema existem tarefas quase inatingíveis para conseguir fazer êxito em um filme. “Festim Diabólico” é apenas um exemplo cuja premissa desafiadora tornou-se um clássico incontestável.
O quase inatingível foi vencido por Danny Boyle ao dirigir o belíssimo drama “127 Horas’’. O desafio do diretor inglês foi quase tão árduo quanto o do alpinista Aron Ralston. Este que vos escreve confessa que ao saber há mais de um ano do novo filme do aclamado diretor de “Trainspotting” não demonstrou sequer interesse em assistir ao filme por não se sentir seduzido pela história. Engano. Feliz engano.
O longa é baseado na história real de Aron Ralston, vivido brilhantemente por James Franco, um alpinista nas horas vagas, intrépido aventureiro que durante seu “rotineiro” fim de semana de escalada, sofreu um acidente nas montanhas do Estado americano de Utah e ficou preso sob uma pedra por aproximadamente 127 horas (daí o título). A luta, na obra, serve tanto para a sobrevivência de Aron Ralston, quanto para Danny Boyle ao extrair algo proveitoso da monotonia do protagonista. O desespero é constante ao longo da jornada de resistência de Aron. Aos poucos ele exprime seus sentimentos e mostra tamanha culpabilidade por ter ignorado a família antes de sair rumo ao abismo. Mãe, pai e namorada vêm à tona na mente do alpinista, e vendo-se próximo da morte, o flashback de sua vida atinge em cheio e o medo de não consertar os erros torna-se tão grande quanto a rocha que o priva da liberdade. O sofrimento de Aron é perpassado para o espectador. O desespero transforma-se em alucinação, o que seria a única saída para esquecer, mesmo que brevemente, da enorme pedra que estava em seu caminho.
A criatividade e inventividade de Danny Boyle ao conduzir a história são estarrecedoras. O que tinha de tudo para ser maçante transformou-se em cenas envolventes, perturbadoras e até em certos momentos engraçadas. O triunfo de Aron veio a partir da perda de seu braço (o que não é mais novidade). Perder para ganhar. O desespero deu lugar a esperança e todo o sofrimento vivido pelo protagonista transforma-se em contentamento para Aron.
O feito de Danny Boyle em “127 Horas” mostrou não apenas a superação de um homem, mas também a de um diretor que tirou leite de pedra em um filme surpreendente que só merece complementos. Um filme com final feliz.
Confiança
4.1 65Espanto é a palavra que vem à cabeça após assistir "Confiança". Espanto positivo consequente de uma obra peculiar de extrema originalidade que causa fascínio em quem assiste.
Hal Hartley desconstruiu a mesmice de dramas na vida de adolescentes problemáticos ao introduzir o humor satírico para dar vida à história de seu longa-metragem. Maria (Adrienne Shelly) é uma jovem americana que causa a morte de seu pai após contar-lhe sobre sua gravidez. Matthew (Martin Donovan) é o gênio incompreendido temperamental que não convive em harmonia com as pessoas ao redor. Suas vidas desgraçadas são o ponto principal para a união de ambos. O enlace entre os jovens é como um barril de pólvora (ou uma granada?) que pode explodir a qualquer momento um emaranhado de incertezas, medos e conturbações no qual apenas a confiança recíproca é capaz de impedir. A crescente preocupação assolada entre os adolescentes é tratada com unificidade com diálogos ácidos e incisivos aliados a um elenco e direção brilhantes que passou com clareza a imagem fútil, inocente e amedrontada atribuída aos jovens. Questões como gravidez, casamento e a adequação à sociedade são postas à maneira de Hal Hartley, e por mais que seja sabível o quão árduo é tal situação, o diretor transforma em uma discussão bem-humorada e também reflexiva.
A ousadia do diretor ao criar uma obra fascinante que não segue o convencionalismo das demais já seria o bastante para gostar de "Confiança", mas pensar no quão completo e único é esse filme, faz com que a apreciação aumente em alta escala.
Um Lugar Qualquer
3.3 810 Assista AgoraO cinema de Sofia Coppola divie opinião desde a realização de seu primeiro longa-metragem ''As Virgens Suicidas'', e mesmo mais de uma década passada e com a nova obra "Um Lugar Qualquer'', a cineasta é adorada e questionada por muitos cinéfilos.
Em seu mais recente trabalho, a diretora e também roteirista realizou o que remete para muitos a obra-prima ''Encontros e Desencontros''. As semelhanças são inegáveis, contudo é importante ressaltar as qualidades existentes entre ambas as obras e afirmar que a obra é uma mera cópia é francamente incorreto.
A vida maçante do ator Johnny Marco é regada à muito luxo e belas mulheres, mas essa situação se reverte quando sua jovem filha, Cleo, vem a seu caminho e o comportamento do ator deve ser alterado para o bem dele e de sua garotinha.
Sofia conduz a obra através dde cenas longas e cortes secos que revelam a total falta de química entre pai e filha. O longa desenvolve-se com naturalidade, mostrando o que cada personagem sente dentro de si, seus sentimentos são claramente passados para o espectador, e isso torna a obra cativante.
Com a realização de ''Um Lugar Qualquer'', Sofia fez um filme que não se aprofunda na solidão de uma pessoa com excessos, contudo o resultado da leveza da obra é sublime.
7 Dias
3.5 76A estreia de Daniel Grou por trás das câmeras é a prova do quão amarga e/ou dolorosa pode ser a vingança.
A cena inicial lembra Michael Haneke e seu clássico ''O Vídeo de Benny'', contudo as semelhanças ficam apenas no prólogo. O longa reproduz a história de uma família bem-sucedida, cujos membros são Bruno e Sylvie, que tem sua única filha brutalmente estuprada e consequentemente assassinada. Dominado pelo desejo de vinganças, o pai da garota planeja sequestrar o assassino, torturá-lo e matá-lo em um período de sete dias. O motivo do tempo destinado para a morte do malfeitor diz respeito à data de aniversário da filha que seria a uma semana. O plano é minuciosamente elaborado e concluído. Enquanto a violência é explicitamente distribuída- de modo perturbador-, a proporção do caso é tamanha que torna-se nacional e, consequemente, faz com que que a polícia local saia em busca de Bruno e do facínora. É clarividente que o desejo de vingança é carregado pela culpabilidade de um pai que ''colaborou'' com a morte, vendo-a cruelmente violentada. Os momentos pai/maníaco são de extrema tensão e proporcionam cenas memoráveis e aflitivos. A obra segue até o final coberta de vingança e culpa atribuídas ao seu protagonista até o desfecho surpreendente que coroa um filme magnificente.
Incisivo, cru, mordaz. Um filme tão brutal como a vingança.
Finisterrae
3.5 40Na estreia como diretor, Sergio Caballero seguiu uma proposta um tanto inusitada ao dirigir um filme no molde surrealista.
A obra retrata a história de dois fantasmas que desejam ser humanos, só que para isso eles terão de enfrentar uma longa jornada até Finisterrae, o destino almejado pelos seres inanimados. O longa cumpre a proposta surreal, tendo locações desde árvores com orelhas que emitem um eco quase que ensurdecedor a uma coruja que se comunica com os ''seres''. Entretanto, o o desenvolvimento da obra é desalentador. Os poucos diálogos são fracos e nada acrescentam na obra. O que há de ser ressaltado é a belíssima fotografia que alterna com harmoniosidade a diversificação de cores. É deveras interessante ressaltar que a obra tem um apelo espiritual muito forte, pois o rumo à Finisterra é traçado para a busca da ascensão do espírito.
No mais, Sergio Caballero realizou uma obra interessante com uma visão extremamente bizarra no que diz respeito à humanização.
Adeus
3.7 28Ramin Bahrani realizou em seu mais novo longa-metragem “Goodbye Solo’’, uma obra cujo título incisivo traz consigo a amarga melancolia de uma pessoa na ponta do abismo.
A trama envolve Solo, um taxista senegalês que trabalha nos Estados Unidos há alguns anos tempo e William, um senhor de idade que um dia foi símbolo do rock nos anos 70. Exercendo seu ofício, Solo é surpreendido por William ao oferecer uma proposta irrecusável: Levá-lo até o topo das montanhas (Blowing Rock) em uma viagem longa com um lucro de mil dólares. O que parecia ser um simples road movie transforma-se em um dos grandes filmes dos últimos anos. Os protagonistas apresentam dois extremos divergentes: Solo é um homem com sonhos, de bem com a vida, almeja um futuro melhor para ele e sua família. William é um idoso no fim de sua jornada que apresenta empatia para com todos em sua vida abatida. O sentimentalismo da obra não se apega à previsibilidade, haja vista que se o filme fosse de outro de diretor, o desfecho seria o mais positivo possível, pois ‘’Goodbye Solo’’ não é um filme sobre heroísmo, redenção ou vitória, é a triste e penosa realidade de um mundo onde apenas a ilusão cria um ensaio de uma vida sem problemas. O desfecho da obra apresenta momentos belíssimos no qual o silêncio (exterior e interior) valeu como resposta para um homem que fraquejou em sua vida inexpressível.
Inspirador, tocante, poderoso, entre outros inúmeros adjetivos. Goodbye Solo é belíssimo ao mostrar que a vida não é composta apenas de bons frutos e que às vezes a covardia é a única saída para um mundo inóspito
Chop Shop
3.3 5A cenografia relembra as inúmeras favelas espalhadas Brasil afora, aliás, poderia ser facilmente um filme nacional, mas Ramin Bahrani é mestre no que diz respeito a expor as classes mais abastadas do país mais poderoso do mundo: Estados Unidos.
O enredo narra a história de Ale, um garoto pobre de Queens que faz de tudo para dar uma vida melhor a si e para sua irmã mais velha, Isamar. A obra aproxima-se muito ao neo-realismo ao retratar a vida de pessoas simples em situações corriqueiras em suas vidas que almejam uma vida decente. É assim que a obra desenvolve-se, Ale pula estágios de sua vida, não tendo infância ou adolescência e repentinamente vê-se na vida adulta com responsabilidade dobrada e trabalhos triplicados. Por mais que Ale ainda seja um garoto que encara a realidade de maneira bruta, ele mostra-se mais maduro que Isamar que segue caminhos inversos e mostra-se que é uma adolescente irresponsável em certos pontos. A obra não apela para clichês apelativos para promover comoção, a naturalidade com que se desenvolve é o que faz com que “Chop Shop” seja brilhante em sua proposta. A realização de Bahrani é um filme sobre sonhos destronados, mas que no fundo traz uma mensagem positivo quanto a não desistir dos nossos desejos e mesmo que sejamos golpeados pela vida, há de manter a esperança.
Ale cresceu precocemente, vende balas, trabalha em uma mecânica e vende filmes pirateados. Qualquer semelhança com um garoto brasileiro não é mera coincidência. Uma obra que desgarra a vida de muitas pessoas que passam pela mesma situação de um garoto que não tem nada a não ser sonhos.
Man Push Cart
3.3 1Ramin Bahrani é um diretor que sabe lidar com os problemas sociais, e provou isso na obra-prima do cinema atual “Man Push Cart”.
A trama segue a história de Ahmad, um paquistanês reconhecido como astro do rock em seu país que mudou para os Estados Unidos com sua esposa e filho para cuidar de um quiosque nas ruas nova iorquinas. A esposa do protagonista morre subitamente e seu filho é tirado dos seus braços, contudo isso não o impede de seguir sua vida para traçar rumos melhores e ter seu filho de volta. O diretor Ramin Bahrani conduz a história com maestria ao retratar Nova York de uma maneira completamente diferente aos olhos de Woody Allen, por exemplo, e sim atenta aos imigrantes que partem dos seus países de origem para ocuparem profissões “menores’’ em um país altamente desenvolvido. Ahmad é um personagem um tanto curioso, é por trás da apatia (ou indiferença à vida) que esconde a solidão de um homem em busca de construir seus sonhos e procura alguma saída (que não seja o quiosque) para preencher o vazio que assola dentro de si, um gato para substituir a ausência paterna ou uma jovem jornaleira para fazê-lo esquecer do passado interrompido abruptamente. Sem apelar ao melodrama barato, Ramin Bahrani criou uma obra impressionante que se desenvolve com extrema beleza e simplicidade conduzida por um elenco de atores não muito conhecidos, mas competentes. A sequência final da obra é sufocante e paralisa o coração do espectador ao mostrar a destruição de um sonho que se mantém vivo na mente de um homem.
Não seria exagero dizer que a obra de Ramin Bahrani é um filme iraniano feito nos Estados Unidos. Em um filme belo e trágico, “Man Push Cart” é a prova de que o sonho americano nem sempre é possível e que se para uma pessoa torná-lo real, será preciso carregar o peso de tal ambição com persistência e jamais pensar em desistir.
Amorosa Soledad
3.2 121O cinema argentino tem crescido descomunalmente ao longo dos anos. Seus filmes têm ganhado reconhecimento internacional, contudo não é possível acertar em cheio em 100% dos filmes.
A comédia romântica “Amorosa Soledad” dos diretores Martín Carranza e Victoria Galardi traz Soledad, uma jovem nos seus vinte e poucos anos que foi deixada pelo namorado. Em consequência do ocorrido, a frágil jovem decide ficar sozinha por 3 anos, mas tudo muda quando ela conhece um homem que muda sua vida, que coincidentemente tem o mesmo nome de seu ex, Nicolas. A obra desenvolve-se com as constantes paranoias da protagonista, que mostra-se insegura quanto a tudo e a todos, mas não há como não sentir-se cativado pela beleza e até ingenuidade. A paranoia de Soledad parece ser hereditária, pois sua família é apresentada e tem-se um pai ausente e uma mãe que anseia ser mais jovem. A ternura da obra e de Soledad não são capazes de manter a obra, pois há um grande vazio não preenchido na obra quanto às relações a dois de Soledad. Não há um conflito a ser encarado e tudo parece ser apenas mais um episódio, uma crônica da vida de uma pessoa problemática.
Embora decepcionante, “Amorosa Soledad’’ é um filme leve e de estonteante beleza estética. Nada surpreendente, nada atemporal, apenas um filme de extrema delicadeza.
Yesterday
4.1 29O diretor sul-africano Darrell Arrodt realizou em ‘’Yesterday’’ uma das obras mais belas e comoventes dos últimos tempos.
A trama envolve a personagem cujo nome leva o título do filme, Yesterday, uma mulher que vive com sua filha Beauty em Rooihoek, área carente da África do Sul, diferente de Johannesburgo, a capital do país onde encontra-se atualmente o marido da jovem mulher. Yesterday tem sua cansativa rotina rompida quando apresenta sintomas de fraqueza e decide ir ao médico para solucionar o problema. A ineficácia do sistema de saúde do país faz com que ela volte repetidamente ao local. Após várias tentativas, ela recebe a notícia que é portadora do vírus HIV. Quando este seria o ponto crucial para a desistência da vida, Yesterday mostra-se uma mulher guerreira e encara a vida normalmente. A obra apresenta uma personagem extremamente cativante, que com seu sorriso contagia o espectador. A beleza da obra está na simplicidade em como ela é feita e nem mesmo os golpes que a vida aplica são capazes de derrubar um ser humano que tem como sonho ver a filha estudar. Darrell Arrodt também apresenta o lado de protesto em um país onde a maioria das pessoas não tem informação sobre a saúde e o que a ausência do preservativo pode acarretar na vida de uma pessoa e a intolerância de uma comunidade para com uma pessoa doente é consequente de atos desumanos. A jornada ininterrupta de Yesterday leva-a a rumos em que sua bravura é posta em xeque, mas suas atitudes são exultantes, o que resulta em lágrimas para quem assiste.
"Yesterday" é um filme belo e simplório, uma lição de vida para todos que engrandecem seus problemas e desistem na primeira tentativa. Uma obra-prima do cinema contemporâneo.
Você vai Conhecer o Homem dos seus Sonhos
2.9 778A prolífica carreira de Woody Allen é vista por críticos repleta de altos e baixos, sendo a última década a mais escassa na carreira do diretor. Porém não são todos que concordam que filmes como “Match Point”, “Igual a Tudo na Vida” e “Tudo Pode dar Certo” sejam fracos, mas é quase unânime que ‘’Você Vai Conhecer O Homem dos Seus Sonhos’’ é uma obra decepcionante.
A trama gira em torno de um casal da terceira idade, Alfie e Helena, que tem uma filha, Sally, casada com Roy, escritor frustrado. Ambos os casais têm em comum a infelicidade no seu relacionamento e este é o estopim para os desafortunados personagens irem à procura do parceiro dos seus sonhos. O longa desenvolve com personagens que procuram o amor de formas excêntricas: a partir do mundo fantasioso que ‘’prevê’’ o futuro, um homem acima dos 60 anos que procura sua juventude em uma ex-atriz pornô, um voyeur que observa a vizinha pela janela do prédio e a ineficácia de uma jovem mulher em engravidar que apaixona-se pelo seu chefe. O lado tragicômico de Allen não se aflorou na obra, pois o que é representado são personagens vazios que vivenciam situações vazias. A obra desenvolve-se com a constante busca pela atração do sexo oposto, contudo o que é representado na tela é deveras embaraçoso, nem mesmo o humor ácido do diretor surtiu em um efeito positivo. Diferente de ‘’Crimes e Pecados’’, a obra não apresenta um lado reflexivo ou cômico, é apenas uma comédia romântica passageira que não acrescenta na carreira do diretor.
O desfecho inconclusivo apenas reforça mais a ideia do narrador nos minutos iniciais ‘’É uma história (...) que nada significa’’, ou seja, uma obra sem brilhantismo cujo foco principal não foi retratado com a mesma magnificência de outros clássicos do diretor.
O Caçador
3.2 14De forma deveras dolorosa, o diretor Rafi Pitts realizou o seu mais novo trabalho sobre um homem que encontra-se em um beco sem saída.
O diretor e também protagonista, vive Ali, um ex-presidiário que convive com o preconceito diariamente e encontra na caça a razão para desconectar-se da crueldade. Sua vida é pacata, porém digna ao lado de sua esposa e filha. O contato com a família é quase que inexistente, pois ele trabalha de segurança à noite e sua mulher trabalha de dia, enquanto a pequena filha estuda. A vida de Ali muda completamente quando sua mulher e filha são mortas acidentalmente em um protesto político. Rafi Pitts mostra o quão amplo é o descaso para com a vida no Irã, se for pensar na vida da mulher, o descaso se multiplicará. A ineficiência da polícia faz com que o homem simplório tome uma decisão crucial que virá a marcar sua vida.
Em uma cena que lembra muito ‘’Na Mira da Morte ‘’(primeiro longa do diretor Peter Bogdanovich), o ‘’caçador’’ busca uma presa diferente, que tem como consequência uma busca implacável e os papéis de caça e caçador invertem-se. O longa não segue um ritmo alucinante, mas isto não faz com que ele torne-se enfadonho, pois o que é mostrado na tela é o que o protagonista sente, desesperançoso, vê sua vida desmoronar repentinamente e não há como reerguer-se tendo sua existência tão afetada como ele teve. O desfecho, embora lúgubre, mostra que o caçador de fato procurou ser a caça.
Rafi Pitts dirigiu um filme que, embora tenha recebido inúmeras críticas negativas, é de uma qualidade indiscutível e mostra que o cinema iraniano é estupendo.
Good Dick
3.4 55O título escalafobético dá a impressão de ‘’Good Dick’’ ser um filme pornográfico, contudo a famosa expressão de ‘’não se julga o livro pela capa’’, ou melhor, o filme pelo título, é mais que válida.
A diretora e também protagonista Marianna Palka realizou um trabalho primoroso e de extrema aprofundação ao retratar os sentimentos mais complexos do ser humano. Em uma trama simples, um jovem atendente de uma locadora apaixona-se por uma cliente que aluga filmes pornôs e decide conquistá-la, embora suas tentativas falhem constantemente. O roteiro tragicômico apresenta diálogos consistentes e bem elaborados e situações que, embora ocorram em sua maioria em apenas uma locação, trazem consigo momentos reflexivos e cômicos. A obra desenvolve-se com a frequente rejeição da jovem para com o atendente e a introversão dela torna-se instigante e faz com que a busca pelo amor dela seja incessante. A solidão nesse filme é assombrosa, não apenas a do elenco principal, como também o de apoio que mostram-se pessoas dependentes das outras e por mais que sejam unidas, no fundo sentem-se vazias. A bizarrice do amor dá lugar a um desfecho que revela o motivo do distanciamento da jovem para com os outros (o que não soou previsível) e uma cena final memorável e um tanto bela.
Em uma obra que de início já tem o nome convencional e a trama segue o mesmo parâmetro, há também o lado que revela um filme sensibilíssimo e uma terna história sobre o amor entre duas pessoas.