o filme se luxuria na decadência dos personagens. nunca vi tamanha depravação na tela, que forma um espetáculo pro espectador se indulgir nos prazeres mais sujos do cinema, ao mesmo tempo que condena essas pessoas, fora "The Wolf of Wall Street", que só não dividia ganância com balas e sangue. (os cortes que revezam atiradores e alvejados resumem a fusão do moral com o entretenimento.)
temos tipo um mocinho no ex-integrante da gangue, o que é adorável, já que os atos dos ex-companheiros fazem ele parecer que está mudado pra melhor, praticamente um santo. como o filme resolve essa ponta solta, brilhante, fica pra você assistir. sem contar na rivalidade com o atual líder que perfeitamente faz de conta que estamos vendo o bem contra o mal, enquanto a violência implacável deixa, na verdade, claro que o único jeito de livrar o Oeste desses desgraçados é com pólvora.
puro excesso, um filme enorme e denso que abre um monte de portas sem se perder em nenhuma das subtramas, e consegue até resolver algumas pontas soltas de um jeito que parece desprezível na visão panorâmica, sem deixar que essas conclusões sejam simplesmente jogadas.
por mais que seja fodida a jornada do personagem, nós nunca perdemos de vista o potencial do moleque, a descoberta dele na vida (até de novos jeitos de viver melhor). enquanto a violência tá em primeiro plano, tentando sufocar a vida do protagonista, o filme é uma ode à infância, que num trabalho sutil (tirando a trilha sonora) constrói esse personagem que se faz de adulto pra sobreviver, mas não deixa de ter a energia ingênua de uma criança.
flui impecável entre o épico e o humano. a destruição é muito bem conduzida e o drama, apesar de artificial no caso da família do protagonista inexpressivo, é tocante ao redor do Bryan Cranston e dos inúmeros personagens menores.
enfim, parece que não tem um arco nesse filme, uma moral que deixa ele redondinho no final, o que é um pouco decepcionante.
eu vou ter que reassistir a merda do próximo filme. tem coisas que esses filmes comunicam sobre os bichos que não aparecem em qualquer sinopse, visual e auditivamente
se tratando de uma corrupção cósmica vagarosa, o filme realmente não tem como alegar seriamente que dá conta de mostrar algo que não tem como ser mostrado, então a construção lenta do clima sem muito a... mostrar... não agrada mesmo. felizmente, tem o suficiente tanto em manifestações mais concretas d'Aquilo, como na distorção nas mentes dos personagens.
mesmo antes de qualquer merda realmente acontecer, me agradou essa estrutura familiar problemática mas benigna, com falhas definitivas mas que se escondem nas boas intenções gerais daquelas pessoas, mostrando que uma família não precisa ter violência doméstica pra precisar de um sério conserto. assim, o que consome os 5, também por meio de um consumindo o outro, funciona como uma catarse transcendente (dentro e fora do filme), cuja carga emocional apenas comove e não alivia, já que tem muito a se lamentar no jeito que essa família desmorona.
obs.: nunca vou entender por que tem esses personagens mais sensatos que todo mundo, sozinhos no filme (o hidrólogo), que nunca têm nada de interessante e... bem, assista o filme
que Binoche, essa mulher. me lembra a Alana de "Licorice Pizza", que podia estar brigando três quartos do tempo de tela* que eu ainda estaria apaixonado. na verdade, isso era parte do charme dela. enfim, com a protagonista desse aqui é amor mesmo.
ajuda nisso a direção, que usa movimentos simples, cortes básicos e enfoques intuitivos que nos colocam bem perto da Binoche, e daí nós somos transportados na jornada romântica dela, já que a atriz transparece volatilidade com a fluidez de uma mestra.
gosto demais de como temos momentos fora da vida amorosa dela (já imaginou?) e dos cortes cada vez maiores conforme o filme chega ao fim. é menos sobre agilizar a trama do que abraçar o vendaval romântico da protagonista. no final, isso, além de uma cena breve dedicada a um personagem que nunca vimos mais gordo, encerra o filme com uma franqueza que faz da obra um exercício de humildade.
*claro que neste caso ela tem razão pra ficar puta
teve partes que eu não absorvi tudo o que tinha pra ser absorvido na tela. graças a deus, porque eu não tava preparado.
nunca vi contradições mais significativas num filme. e passado, presente e, tragicamente, futuro são justapostos de uma maneira que não poderia fazer mais sentido, fazer mais parte do mesmo corpo, mesmo que o longa arraste o espectador por esse mosaico sem pressa pra expor nos detalhes o que é que fervia tanta insatisfação na vida daquela família.
isso deve ser o que chamam (por bem ou por mal) de estilo como substância. o filme faz jus a megalópoles de sci-fi, gangues de adolescentes motoqueiros, militarismo científico, cataclismas apocalípticos e destruição divina com sua estética: cada quadro deve ser apreciado e a música é nada menos que sublime. não fui só eu que saí da primeira sessão murcho por não me relacionar com nada além do visual, mas acho que isso é um degrau na direção de poder apreciar cinema deste jeito também. afinal, anos depois, não só o espetáculo é incrível como as cenas mais humanas, como dizem no inglês, batem como um caminhão
ainda tem da idiotice que estragou o filme anterior — umas caracterizações bobas, tanto do mundo como dos personagens, e algumas falas são ridículas —, mas se redime porque cristaliza o papel da Katniss como uma heroína complexa, muito desconfortável no papel de símbolo que a vida dela insiste que seja. os momentos pesados e sensíveis que anteriormente acabaram ficando como vislumbres de filmes melhores se tornam o filme todo (a partir de certo ponto), assim como a atuação da Jennifer Lawrence sempre foi.
é um tipo raro de filme popular que decide levar o espectador por um caminho angustiante (traumatizante, até, pros miúdos do público-alvo), e usa acontecimentos pesados a fim de alcançar o máximo de pessoas com uma crítica da guerra e da propaganda. mais do que provocar raiva e tristeza no espectador, o filme quer que ele admita a realidade fodida de uma situação que poderia ser real se adaptada prum cenário não futurista. ver a Katniss ser exposta ao horror de um holocausto pra poder se emocionar diante de uma câmera, pra conseguir fazer um discurso motivacional de costas prum incêndio cheio de gente viva — se isso é artificial e constrangedor pra gente, é porque é natural nesse cenário, o que se torna intrigante.
assim como em Harry Potter, a mitose do capítulo final não se parece muito como uma mera tática quando eu olho pra parte 1, que muda o foco da ação (você viu a ação por aí?) pra uma incursão demorada no mundo da saga que dá muito certo. que bela afirmação de propósito é aquele final
no começo as atuações não foram nenhum problema pra mim. apesar de amadoras, as reações simples mas exageradas, junto com um ambiente artificial perpétuo, além de movimentos de câmera dramáticos e aquela lente que deixa o cabeção grandão perto da câmera, tudo isso cria um ambiente isolado do que nós consideramos orgânico num filme. o veredito até aí é bom, com uma tensão bem básica, mas que cutuca bem as nossas ansiedades; e, claro, não deixa de ser fascinante que estejamos vendo o mesmo ambiente por 1h 30, com nada além de uma mudança de cores e a ocasional armadilha (que também costuma ser praticamente invisível).
infelizmente, talvez seja inevitável que um aumento nas tensões entre os personagens exija... mais performance dos atores. em alguns momentos é divertido ver um certo personagem ficar completamente despirocado, mas o recheio do filme acaba dependendo da expressividade dos caras e isso não deveria ter acontecido. é mais crível ver estacas finas de metal computadorizado, prateado e brilhante, da época em que os efeitos especiais parecem 100% ter sido feitos num computador (hoje em dia os exemplos ruins só parecem sujeira).
onde fica a trilha sonora nisso?... nos estágios de planejamento, parece. o momento explicitamente kafkiano foi interessante
a transposição do visual clássico dos filmes antiguíssimos é incrível. Gojira de borracha, miniaturas das cidades sendo dizimadas; o monstro acabando com a cidade é simplesmente pornografia, e o filme não alcança isso tentando competir com Hollywood.
a trama política é bem-vinda e esperada de alguns pontos da franquia, mas vai competir com o primeiro parágrafo...
narrativa cheia de curvas e truques, que no geral tornam o filme interessante. o protagonista não é radiante de personalidade, mas o modo que a jornada trata ele — todas as porradas e lições que ela dá — preenche a lacuna.
o problema aqui é inexperiência do diretor, que não só começa e termina com uma narração capenga do James Craig, mas também não instiga em quase nenhum momento decisivo. pior ainda é quando o filme tenta compensar isso com uma ou outra cena ao som de música do fundo do barril de alguma biblioteca de som, uma dramaticidade que, destoante do resto do filme, só pode ser produto de ironia, já que esse filme despojado acredita que é descolado. provavelmente.
um começo dispensável pra carreira do Matthew Vaughn
quando é revelado que o filme até então era um filme, me perguntei: afinal, quem é que iria querer ver um filme desses? alguns segundos depois, lembrei que eu mesmo amei a maestria da direção em construir um sonho que não exagera na falta de sentido, constrói mistérios irresistíveis e estimula os sentimentos com uma mistura do inocente e do sombrio, com uma leve bizarrice que quase leva ao riso e momentos de terror fortíssimo.
aí eu fui informado que na verdade era um sonho, o que não apaga o que eu disse e ainda abre várias interpretações fascinantes e que eu não conseguiria nunca alcançar sozinho (sonhos dentro do sonho, cronologia completamente bagunçada...). a história por trás do sonho é triste e amarga demais, demais — é difícil lembrar do filme desde então — e esclarece o sonho como joga luz na amor com que aquela farsa é construída pelos artistas responsáveis
muita gente vai despachar o filme por causa das cenas alegres muito bonitinhas e a consciência social "perfeita" das pequenas mulheres, apesar dessas personagens serem perfeitamente multifacetadas. enfim, estão perdendo muito: o filme aquece o coração com uma sensibilidade forte e acaba arrasando o mesmo de vez em quando também. como disse, os direitos das mulheres na sociedade e o papel delas entre elas mesmas tão na cara aqui, mas logo eu me acostumei e comecei a enxergar essas figuras como ícones inspiradores de sororidade. não são todas elas tão grandes como a protagonista ou a Marmy, que o filme exalta de forma hagiográfica, mas admite, num dos momentos mais simples e honestos do longa, que ela não tá tão longe da tempestuosidade que bagunça a vida de suas filhas.
a justaposição de momentos separados no tempo torna a história muito dinâmica (admito que talvez eu elogie TODOS os filmes que quebrarem a linearidade da trama) e a direção é vivaz, resultando num filme que contrapõe momentos tocantes com outros vibrantes. o contraste entre a fotografia laranja com a acinzentada já alcança muito, mas a diretora ainda coloca em cima certos enquadramentos impecáveis nas transições entre o antes e o agora, cenas que são singelas visualmente mas poderosas como marca-páginas íntimos.
obs.: um dos exemplos mais geniais de como mostrar o título de um filme: a capa do livro é tanto perfeita como um title card como também faz parte das cenas primeira e última
a fluidez do filme seria incrível se eu tivesse o azar de estar vivo pra assistir no cinema. mas ainda é interessante. além de que, ver certas conquistas e inovações da história antiga do cinema parece imbuir a sessão com um frescor, tipo uma pílula que nós tomamos antes de assistir algo que sabemos que foi muito novo na sua época.
mas não deixa de ser legal a tensão que essa técnica — a ilusão de não haver cortes em 80 min de filme — constrói, tanto no nervoso e "apertado" do Phillip como no solto e psicopático do Brandon.
enfim, soubesse disso ou não, o filme estava esperando pelo James Stewart. dentro do que, num filme ansiógeno desse, pode se considerar de certa maneira divertido, o Rupert do ator é motivo pra comemoração, que mostra ao que o filme veio. com relativamente pouco tempo de tela, ele resolve a situação (não no sentido do bem vencer, mas no de cumprir o propósito da obra) e de quebra ainda completa um arco pessoal marcante
faz sentido que esse seja o filme que o PTA mais gostou de fazer. o estilo imperceptível de filmes como There Will Be Blood e Phantom Thread — que é uma observação atenta de personagens fascinantes e nos mantém a uma certa distância enquanto essas figuras pedem que entremos na mente delas — cai como uma luva nesse projeto.
dá pra dizer que o filme é sobre um punhado de coisas diferentes: a manipulação que movimentos religiosos empregam todo dia, a necessidade humana de obedecer a uma entidade superior, o conflito entre as diferentes partes da nossa mente etc. mas talvez ele não "seja sobre" nenhuma dessas coisas especificamente, ele só consegue dialogar com todos esses conceitos enquanto os desdobramentos psicológicos diante de nós acontecem de maneira nítida, mas mesmo assim escondendo uma caralhada de respostas.
The Master é tão incrível na abordagem dos seus temas que deve ter a capacidade de estragar boa parte do cinema pro espectador, ainda mais aquele cinema que incluir o estilo Netflix de mostrar uma seita, nem lá nem cá, bobo mas sem a diversão da ignorância. "talvez" porque... o filme não se trata exatamente disso, trata?
chega a altos mórbidos, inacreditavelmente perturbadores na sua história de legado (fardo) familial e emancipação. estética impecável, uso de cores significativo e de todos os tipos de transições de cena no catálogo, misturando a dimensão gótica daquele mundo com uma brincadeira constante, o que é simplesmente a protagonista, indo do mau ao pior saltitando (quase literalmente) sem um sorriso. ver esses vampiros (se são ou não, descubra) existirem no mundo de hoje, ver a dupla reação da India é precioso demais. é um filme que eu amaria ter feito, mas não consigo me imaginar tendo o nível técnico desse diretor
obs.: o final é o melhor exemplo de suportes pra livros cinematográfico que eu já vi
simplicidade que expande a mente pras possibilidades de um longa-metragem. a frase-título, é limitada no seu romantismo, é invertida numa admissão amarga, o que infelizmente cobre muito mais chão na nossa realidade, e essa mudança sintetiza de um jeito muito legal a própria progressão do personagem — do próprio discurso do filme.
o fato que o tempo de projeção não é todo bem aproveitado só prejudica o filme, não quer dizer que ele deveria ser um curta. nem acho que o efeito único deste longa pode ser bem replicado nessas condições
a fisicalidade do filme se sente na pele, uma experiência sensorial que tá em profunda sintonia com os intrigantes protagonistas Ferrugem e Osso. a personagem da Cotillard acaba sendo a âncora do filme, não tinha como ser o contrário, e é apaixonante ver ela se apaixonar, seja lá pelo que for — até quando o sujeito é o personagem do Schoenaerts, já que, por mais que seja um neandertal, imaturo e claramente perigoso, ele se mostra mais do que positivo em como se encaixa certinho na vida dela, ou melhor, na ressurreição da mulher. perto dela, ele parece redimível e capaz de canalizar por mais tempo aquele cuidado que ele de vez em quando mostra ao filho.
o filme é excelente apesar de não aceitar minha dica e terminar com a protagonista revisitando as baleias, seguindo, em vez disso, uma boa parte da duração num drama que só pode ser chamado de convencional, que serve como um comentário até que interessante sobre o resultado do relacionamento (pra quem se importou até ali, né), mas que corre risco de ser chamado de bobo às vezes. a narração em off é puramente ruim mesmo
Meu Ódio Será Sua Herança
4.2 204 Assista Agorao filme se luxuria na decadência dos personagens. nunca vi tamanha depravação na tela, que forma um espetáculo pro espectador se indulgir nos prazeres mais sujos do cinema, ao mesmo tempo que condena essas pessoas, fora "The Wolf of Wall Street", que só não dividia ganância com balas e sangue. (os cortes que revezam atiradores e alvejados resumem a fusão do moral com o entretenimento.)
temos tipo um mocinho no ex-integrante da gangue, o que é adorável, já que os atos dos ex-companheiros fazem ele parecer que está mudado pra melhor, praticamente um santo. como o filme resolve essa ponta solta, brilhante, fica pra você assistir. sem contar na rivalidade com o atual líder que perfeitamente faz de conta que estamos vendo o bem contra o mal, enquanto a violência implacável deixa, na verdade, claro que o único jeito de livrar o Oeste desses desgraçados é com pólvora.
puro excesso, um filme enorme e denso que abre um monte de portas sem se perder em nenhuma das subtramas, e consegue até resolver algumas pontas soltas de um jeito que parece desprezível na visão panorâmica, sem deixar que essas conclusões sejam simplesmente jogadas.
assisti a versão do diretor.
Os Incompreendidos
4.4 645por mais que seja fodida a jornada do personagem, nós nunca perdemos de vista o potencial do moleque, a descoberta dele na vida (até de novos jeitos de viver melhor). enquanto a violência tá em primeiro plano, tentando sufocar a vida do protagonista, o filme é uma ode à infância, que num trabalho sutil (tirando a trilha sonora) constrói esse personagem que se faz de adulto pra sobreviver, mas não deixa de ter a energia ingênua de uma criança.
Godzilla
3.1 2,1K Assista Agoraflui impecável entre o épico e o humano. a destruição é muito bem conduzida e o drama, apesar de artificial no caso da família do protagonista inexpressivo, é tocante ao redor do Bryan Cranston e dos inúmeros personagens menores.
enfim, parece que não tem um arco nesse filme, uma moral que deixa ele redondinho no final, o que é um pouco decepcionante.
eu vou ter que reassistir a merda do próximo filme. tem coisas que esses filmes comunicam sobre os bichos que não aparecem em qualquer sinopse, visual e auditivamente
A Cor que Caiu do Espaço
3.1 347se tratando de uma corrupção cósmica vagarosa, o filme realmente não tem como alegar seriamente que dá conta de mostrar algo que não tem como ser mostrado, então a construção lenta do clima sem muito a... mostrar... não agrada mesmo. felizmente, tem o suficiente tanto em manifestações mais concretas d'Aquilo, como na distorção nas mentes dos personagens.
mesmo antes de qualquer merda realmente acontecer, me agradou essa estrutura familiar problemática mas benigna, com falhas definitivas mas que se escondem nas boas intenções gerais daquelas pessoas, mostrando que uma família não precisa ter violência doméstica pra precisar de um sério conserto. assim, o que consome os 5, também por meio de um consumindo o outro, funciona como uma catarse transcendente (dentro e fora do filme), cuja carga emocional apenas comove e não alivia, já que tem muito a se lamentar no jeito que essa família desmorona.
obs.: nunca vou entender por que tem esses personagens mais sensatos que todo mundo, sozinhos no filme (o hidrólogo), que nunca têm nada de interessante e... bem, assista o filme
Deixe a Luz do Sol Entrar
3.0 73que Binoche, essa mulher. me lembra a Alana de "Licorice Pizza", que podia estar brigando três quartos do tempo de tela* que eu ainda estaria apaixonado. na verdade, isso era parte do charme dela. enfim, com a protagonista desse aqui é amor mesmo.
ajuda nisso a direção, que usa movimentos simples, cortes básicos e enfoques intuitivos que nos colocam bem perto da Binoche, e daí nós somos transportados na jornada romântica dela, já que a atriz transparece volatilidade com a fluidez de uma mestra.
gosto demais de como temos momentos fora da vida amorosa dela (já imaginou?) e dos cortes cada vez maiores conforme o filme chega ao fim. é menos sobre agilizar a trama do que abraçar o vendaval romântico da protagonista. no final, isso, além de uma cena breve dedicada a um personagem que nunca vimos mais gordo, encerra o filme com uma franqueza que faz da obra um exercício de humildade.
*claro que neste caso ela tem razão pra ficar puta
Lavoura Arcaica
4.2 381 Assista Agorateve partes que eu não absorvi tudo o que tinha pra ser absorvido na tela. graças a deus, porque eu não tava preparado.
nunca vi contradições mais significativas num filme. e passado, presente e, tragicamente, futuro são justapostos de uma maneira que não poderia fazer mais sentido, fazer mais parte do mesmo corpo, mesmo que o longa arraste o espectador por esse mosaico sem pressa pra expor nos detalhes o que é que fervia tanta insatisfação na vida daquela família.
Akira
4.3 868 Assista Agoraisso deve ser o que chamam (por bem ou por mal) de estilo como substância. o filme faz jus a megalópoles de sci-fi, gangues de adolescentes motoqueiros, militarismo científico, cataclismas apocalípticos e destruição divina com sua estética: cada quadro deve ser apreciado e a música é nada menos que sublime. não fui só eu que saí da primeira sessão murcho por não me relacionar com nada além do visual, mas acho que isso é um degrau na direção de poder apreciar cinema deste jeito também. afinal, anos depois, não só o espetáculo é incrível como as cenas mais humanas, como dizem no inglês, batem como um caminhão
Em Busca do Ouro
4.4 275 Assista Agorao abismo de talento entre o ator principal e o narrador
assisti o relançamento narrado
Uma Noite Sobre a Terra
3.8 88 Assista Agorararo o filme que tenta ser tão irritante
Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1
3.8 2,4K Assista Agoraainda tem da idiotice que estragou o filme anterior — umas caracterizações bobas, tanto do mundo como dos personagens, e algumas falas são ridículas —, mas se redime porque cristaliza o papel da Katniss como uma heroína complexa, muito desconfortável no papel de símbolo que a vida dela insiste que seja. os momentos pesados e sensíveis que anteriormente acabaram ficando como vislumbres de filmes melhores se tornam o filme todo (a partir de certo ponto), assim como a atuação da Jennifer Lawrence sempre foi.
é um tipo raro de filme popular que decide levar o espectador por um caminho angustiante (traumatizante, até, pros miúdos do público-alvo), e usa acontecimentos pesados a fim de alcançar o máximo de pessoas com uma crítica da guerra e da propaganda. mais do que provocar raiva e tristeza no espectador, o filme quer que ele admita a realidade fodida de uma situação que poderia ser real se adaptada prum cenário não futurista. ver a Katniss ser exposta ao horror de um holocausto pra poder se emocionar diante de uma câmera, pra conseguir fazer um discurso motivacional de costas prum incêndio cheio de gente viva — se isso é artificial e constrangedor pra gente, é porque é natural nesse cenário, o que se torna intrigante.
assim como em Harry Potter, a mitose do capítulo final não se parece muito como uma mera tática quando eu olho pra parte 1, que muda o foco da ação (você viu a ação por aí?) pra uma incursão demorada no mundo da saga que dá muito certo. que bela afirmação de propósito é aquele final
Cubo
3.3 879 Assista Agorano começo as atuações não foram nenhum problema pra mim. apesar de amadoras, as reações simples mas exageradas, junto com um ambiente artificial perpétuo, além de movimentos de câmera dramáticos e aquela lente que deixa o cabeção grandão perto da câmera, tudo isso cria um ambiente isolado do que nós consideramos orgânico num filme. o veredito até aí é bom, com uma tensão bem básica, mas que cutuca bem as nossas ansiedades; e, claro, não deixa de ser fascinante que estejamos vendo o mesmo ambiente por 1h 30, com nada além de uma mudança de cores e a ocasional armadilha (que também costuma ser praticamente invisível).
infelizmente, talvez seja inevitável que um aumento nas tensões entre os personagens exija... mais performance dos atores. em alguns momentos é divertido ver um certo personagem ficar completamente despirocado, mas o recheio do filme acaba dependendo da expressividade dos caras e isso não deveria ter acontecido. é mais crível ver estacas finas de metal computadorizado, prateado e brilhante, da época em que os efeitos especiais parecem 100% ter sido feitos num computador (hoje em dia os exemplos ruins só parecem sujeira).
onde fica a trilha sonora nisso?... nos estágios de planejamento, parece. o momento explicitamente kafkiano foi interessante
Jogos Mortais X
3.4 479 Assista Agoraa tradição da série Viu é jogar 10 flashbacks no final do filme, inclusive de uma cena 5 min antes?
Paprika
4.2 503 Assista Agorauma proposta imensamente diferente de Inception...
Shin Godzilla
3.6 152 Assista Agoraa transposição do visual clássico dos filmes antiguíssimos é incrível. Gojira de borracha, miniaturas das cidades sendo dizimadas; o monstro acabando com a cidade é simplesmente pornografia, e o filme não alcança isso tentando competir com Hollywood.
a trama política é bem-vinda e esperada de alguns pontos da franquia, mas vai competir com o primeiro parágrafo...
Jogos Vorazes: Em Chamas
4.0 3,3K Assista Agoraos philip seymour-hoffman da vida realmente pegam uns papéis só pelo dinheiro mesmo né?
"this is the revolution"... seria menos ridículo se fosse no telefone: "—quem é? —aqui é a revolução
Nem Tudo é o que Parece
3.5 116 Assista Agoranarrativa cheia de curvas e truques, que no geral tornam o filme interessante. o protagonista não é radiante de personalidade, mas o modo que a jornada trata ele — todas as porradas e lições que ela dá — preenche a lacuna.
o problema aqui é inexperiência do diretor, que não só começa e termina com uma narração capenga do James Craig, mas também não instiga em quase nenhum momento decisivo. pior ainda é quando o filme tenta compensar isso com uma ou outra cena ao som de música do fundo do barril de alguma biblioteca de som, uma dramaticidade que, destoante do resto do filme, só pode ser produto de ironia, já que esse filme despojado acredita que é descolado. provavelmente.
um começo dispensável pra carreira do Matthew Vaughn
Cidade dos Sonhos
4.2 1,7K Assista Agoraquando é revelado que o filme até então era um filme, me perguntei: afinal, quem é que iria querer ver um filme desses? alguns segundos depois, lembrei que eu mesmo amei a maestria da direção em construir um sonho que não exagera na falta de sentido, constrói mistérios irresistíveis e estimula os sentimentos com uma mistura do inocente e do sombrio, com uma leve bizarrice que quase leva ao riso e momentos de terror fortíssimo.
aí eu fui informado que na verdade era um sonho, o que não apaga o que eu disse e ainda abre várias interpretações fascinantes e que eu não conseguiria nunca alcançar sozinho (sonhos dentro do sonho, cronologia completamente bagunçada...). a história por trás do sonho é triste e amarga demais, demais — é difícil lembrar do filme desde então — e esclarece o sonho como joga luz na amor com que aquela farsa é construída pelos artistas responsáveis
Adoráveis Mulheres
4.0 975 Assista Agoramuita gente vai despachar o filme por causa das cenas alegres muito bonitinhas e a consciência social "perfeita" das pequenas mulheres, apesar dessas personagens serem perfeitamente multifacetadas. enfim, estão perdendo muito: o filme aquece o coração com uma sensibilidade forte e acaba arrasando o mesmo de vez em quando também. como disse, os direitos das mulheres na sociedade e o papel delas entre elas mesmas tão na cara aqui, mas logo eu me acostumei e comecei a enxergar essas figuras como ícones inspiradores de sororidade. não são todas elas tão grandes como a protagonista ou a Marmy, que o filme exalta de forma hagiográfica, mas admite, num dos momentos mais simples e honestos do longa, que ela não tá tão longe da tempestuosidade que bagunça a vida de suas filhas.
a justaposição de momentos separados no tempo torna a história muito dinâmica (admito que talvez eu elogie TODOS os filmes que quebrarem a linearidade da trama) e a direção é vivaz, resultando num filme que contrapõe momentos tocantes com outros vibrantes. o contraste entre a fotografia laranja com a acinzentada já alcança muito, mas a diretora ainda coloca em cima certos enquadramentos impecáveis nas transições entre o antes e o agora, cenas que são singelas visualmente mas poderosas como marca-páginas íntimos.
obs.: um dos exemplos mais geniais de como mostrar o título de um filme: a capa do livro é tanto perfeita como um title card como também faz parte das cenas primeira e última
Festim Diabólico
4.3 882 Assista Agoraa fluidez do filme seria incrível se eu tivesse o azar de estar vivo pra assistir no cinema. mas ainda é interessante. além de que, ver certas conquistas e inovações da história antiga do cinema parece imbuir a sessão com um frescor, tipo uma pílula que nós tomamos antes de assistir algo que sabemos que foi muito novo na sua época.
mas não deixa de ser legal a tensão que essa técnica — a ilusão de não haver cortes em 80 min de filme — constrói, tanto no nervoso e "apertado" do Phillip como no solto e psicopático do Brandon.
enfim, soubesse disso ou não, o filme estava esperando pelo James Stewart. dentro do que, num filme ansiógeno desse, pode se considerar de certa maneira divertido, o Rupert do ator é motivo pra comemoração, que mostra ao que o filme veio. com relativamente pouco tempo de tela, ele resolve a situação (não no sentido do bem vencer, mas no de cumprir o propósito da obra) e de quebra ainda completa um arco pessoal marcante
O Mestre
3.7 1,0K Assista Agorafaz sentido que esse seja o filme que o PTA mais gostou de fazer. o estilo imperceptível de filmes como There Will Be Blood e Phantom Thread — que é uma observação atenta de personagens fascinantes e nos mantém a uma certa distância enquanto essas figuras pedem que entremos na mente delas — cai como uma luva nesse projeto.
dá pra dizer que o filme é sobre um punhado de coisas diferentes: a manipulação que movimentos religiosos empregam todo dia, a necessidade humana de obedecer a uma entidade superior, o conflito entre as diferentes partes da nossa mente etc. mas talvez ele não "seja sobre" nenhuma dessas coisas especificamente, ele só consegue dialogar com todos esses conceitos enquanto os desdobramentos psicológicos diante de nós acontecem de maneira nítida, mas mesmo assim escondendo uma caralhada de respostas.
The Master é tão incrível na abordagem dos seus temas que deve ter a capacidade de estragar boa parte do cinema pro espectador, ainda mais aquele cinema que incluir o estilo Netflix de mostrar uma seita, nem lá nem cá, bobo mas sem a diversão da ignorância. "talvez" porque... o filme não se trata exatamente disso, trata?
Tokyo Revengers
3.6 12porra, eu achei que fosse o filme do Sion Sono. bem, o anime com certeza vai pra lista
Segredos de Sangue
3.5 1,2K Assista Agorachega a altos mórbidos, inacreditavelmente perturbadores na sua história de legado (fardo) familial e emancipação. estética impecável, uso de cores significativo e de todos os tipos de transições de cena no catálogo, misturando a dimensão gótica daquele mundo com uma brincadeira constante, o que é simplesmente a protagonista, indo do mau ao pior saltitando (quase literalmente) sem um sorriso. ver esses vampiros (se são ou não, descubra) existirem no mundo de hoje, ver a dupla reação da India é precioso demais. é um filme que eu amaria ter feito, mas não consigo me imaginar tendo o nível técnico desse diretor
obs.: o final é o melhor exemplo de suportes pra livros cinematográfico que eu já vi
Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo
3.9 502 Assista Agorasimplicidade que expande a mente pras possibilidades de um longa-metragem. a frase-título, é limitada no seu romantismo, é invertida numa admissão amarga, o que infelizmente cobre muito mais chão na nossa realidade, e essa mudança sintetiza de um jeito muito legal a própria progressão do personagem — do próprio discurso do filme.
o fato que o tempo de projeção não é todo bem aproveitado só prejudica o filme, não quer dizer que ele deveria ser um curta. nem acho que o efeito único deste longa pode ser bem replicado nessas condições
Ferrugem e Osso
3.9 821 Assista Agoraa fisicalidade do filme se sente na pele, uma experiência sensorial que tá em profunda sintonia com os intrigantes protagonistas Ferrugem e Osso. a personagem da Cotillard acaba sendo a âncora do filme, não tinha como ser o contrário, e é apaixonante ver ela se apaixonar, seja lá pelo que for — até quando o sujeito é o personagem do Schoenaerts, já que, por mais que seja um neandertal, imaturo e claramente perigoso, ele se mostra mais do que positivo em como se encaixa certinho na vida dela, ou melhor, na ressurreição da mulher. perto dela, ele parece redimível e capaz de canalizar por mais tempo aquele cuidado que ele de vez em quando mostra ao filho.
o filme é excelente apesar de não aceitar minha dica e terminar com a protagonista revisitando as baleias, seguindo, em vez disso, uma boa parte da duração num drama que só pode ser chamado de convencional, que serve como um comentário até que interessante sobre o resultado do relacionamento (pra quem se importou até ali, né), mas que corre risco de ser chamado de bobo às vezes. a narração em off é puramente ruim mesmo