A impecável reconstituição de época, a direção refinada e atenta aos detalhes, e a poderosa música tema composta por Alexandre Desplat (The Painted Veil), concedem um tom épico ao filme.
Contudo, apesar do plano de fundo histórico e político, o filme não pretende discutir estes aspectos diretamente, nem se encerra como thriller de espionagem. Está mais interessado no comportamento humano diante do contexto opressor e desprovido de perspectivas. Assim as contundentes cenas de sexo estão longe de serem gratuitas, uma vez que diversos estudiosos do assunto já preconizaram que sentimentos sufocados podem aflorar através da sexualidade. Inclusive, cada um dos encontros demarca uma nítida evolução na relação entre os protagonistas. A princípio agressiva e carnal, partindo de um quase estupro, passando por variações dignas do Kama Sutra, que expressam o desespero de ambos, até a delicadeza do encontro na casa de chá, onde o personagem do veterano Tony Leung acolhe a parceira nos braços, e o sexo já não se faz mais necessário, prevalecendo o carinho e a cumplicidade. Mas em tempos hostis amar pode ser uma vulnerabilidade, especialmente quando o desejo traça caminhos alheios a razão. Residindo nesta dicotomia fundamental o cerne do filme.
A novata Wei Tang (Late Autumn) está realmente fabulosa, e esbanja maturidade no complexo papel.
Outro acerto é que, junto a Tim Squyres, seu editor habitual, Ang Lee consegue tornar a narrativa tão dinâmica que nos deixa a impressão de que nenhuma cena poderia ter sido subtraída do filme sem que lhe causasse prejuízo, mesmo diante da sua longa duração.
Através da mise-en-scène altamente simbólica Kurosawa desenha com absoluta precisão o estado decadente em que se encontrava o Japão no pós guerra, atolado numa miséria social profunda e sob crescente influência Ocidental. Influência essa assimilada pelo próprio Kurosawa que, dentre os grandes mestres japoneses, talvez tenha sido o mais aberto a nova cultura, ainda que as antigas tradições fossem elementos constantes na sua obra.
Este filme consiste num marco na carreira do diretor, pois foi primeiro a ser realizado sem a intervenção do governo, e denota um amadurecimento técnico e temático que culminaria nas obras-primas da década seguinte.
Exemplo disso são sequências como aquela, notadamente expressionista, onde Matsunaga se depara com o próprio caixão durante um sonho, ou mesmo na da sua morte, em que, apesar da estabanada cena de luta, se consegue esboçar uma poesia que mais tarde se tornaria costumaz.
Takashi Shimura e Toshiro Mifune - no primeiro trabalho da prolífica parceria com o diretor - dão vida a personagens que odeiam aquilo que projetam de si mesmos, um no outro, reciprocamente. E paradoxalmente, é a partir disso que, após a turbulenta aproximação, estabelecem alguma afinidade e desenvolvem um respeito mútuo. Apesar de rude, o solícito e dedicado médico se compadece ao ver o jovem chefe Yakuza se entregar a vícios similares aos que haviam o destruído. Mas esse, por sua vez, preso aos rígidos códigos da máfia japonesa, e ocupado em manter sua posição, não vislumbra uma saída possível. Sendo nesta sordidez, e consequentemente no inevitável fatalismo, que esta película mais se aproxima dos filmes noir americanos.
Em meio a anjos e demônios, médicos e mafiosos, ao alívio e a dor, o tema central é a degradação humana vivenciada naquele momento, refletida no ambiente e no modo como os personagens vivem, mas o filme se encerra com uma acalentadora ponta de esperança.
Esse filme me fez lembrar da antológica primeira sentença de Anna Karenina, que diz que toda família feliz é igual, mas entre as infelizes cada uma o é a sua maneira. Neste caso eu diria que elas são infelizes a sua maneira, mas em decorrência de causas muito parecidas... Sendo onipresente a dissonância em relações humanas idealizadas.
O desfecho expõe o adúltero casal de modo conformista, como se fossem crianças que saem da caixa de areia para apanhar um novo brinquedo, e até gostam da experiência, mas regressam logo que possível a zona de conforto. Faria todo sentido, considerando o próprio título original, se a irritante voz em off, com seu teor de auto-ajuda, não contradissesse a proposta.
Abordando um tema polêmico, com pitadas de humor negro, a trama paralela do pedófilo com síndrome de Peter Pan se revela moralmente mais interessante, ainda que prejudicada pela forçada redenção do ex-policial. É curioso notar como os indivíduos da pequena comunidade olham com horror para a aberração mais visível, perfeitamente talhada para bode expiatório, sentindo-se pilares da normalidade e da ética.
As atuações de Kate Winslet e Jackie Earle Halley (Watchmen, A Hora do Pesadelo) se destacam perante as outras e fazem jus as indicações ao Oscar.
Impressiona que os personagens sejam meros fantoches nas mãos do diretor e ainda assim o filme consiga nos deixar em absoluto estado de êxtase. Contribue muito para isso que os esforços sejam concentrados nas cenas de ação, preterindo um pouco os verborrágicos diálogos e realçando a homenagem aos filmes de artes marciais produzidos na China e no Japão. Se lhe couber a palavra genial, será justamente pela capacidade de criar um universo tão interessante a partir de um fiapo de trama.
Cabe destacar Kill Bill como a mais deslumbrante e significativa produção entre as obras de Tarantino até então. Do figurino à música, dos enquadramentos às coreografias, o esmero se faz notar em cada detalhe. A avalanche de referências está organicamente integrada ao filme, enriquecendo a mise-en-scène e resultando nalgo surpreendentemente coeso. Foi trabalho de mestre contar a origem de O-Ren Ishii através de uma sequência em anime sem destoar daquelas em live action.
Também é curioso notar que apesar da violência onipresente, o filme em si não é violento, pois a retrata de forma tão exagerada quanto caricata, num estilo bem cartunesco.
Particularmente, questiono somente a desconstrução da linearidade narrativa, que acabou servindo como mera distração, ao contrário do que ocorria em trabalhos anteriores, nos quais ajudava a criar tensão e surpreender o espectador. Mas, uma vez que o filme foi partido em dois volumes, provavelmente foi a melhor solução encontrada pela Sally Menke, que entendeu como ninguém a cabeça do diretor.
A direção do Padilha apresenta alguns traços pessoais e chega até a proporcionar bons momentos, mas em geral é genérica e está claramente a serviço dos interesses do estúdio. Ter criado expectativas em torno das entrevistas que falavam de transumanismo, filosofia da mente, entre outros temas correlatos, talvez tenha sido meu grande problema com o filme, que apenas arranha a superfície dos mesmos.
Se o filme de 1987 se concentrava na sátira política e na trama criminal, neste buscou-se focar o drama pessoal do policial Murphy. O que, infelizmente, não foi plenamente atingido, especialmente no núcleo familiar, que soa inexpressivo e sem propósito. Muito da identificação do público junto ao personagem título também foi perdido em função do seu apático intérprete, e da ausência de um antagonista melhor definido. Sabemos que a grande vilã é a própria OmniCorp, mas o roteiro foi infeliz ao personificar essa vilania na figura do capanga do CEO, menos ameaçador do que caricato. Seguindo a tendência, o cientista vivido por Gary Oldman, com todos os seus dilemas éticos, acaba sendo mais um dentre tantos outros elementos desperdiçados.
De modo geral, a primeira parte do filme acaba se revelando mais interessante que o desenvolvimento pós transformação que, falhando na construção dos personagens e soando apressado, culmina no desastroso último ato.
E ainda que as atualizações tecnológicas, como a introdução dos drones e a integração do RoboCop com sistemas de informação online, tenham sido positivas, não justificaram a realização desse remake que, mesmo não sendo desastroso, é efêmero e carece de personalidade.
Stephen Chbosky consegue manter o difícil equilíbrio numa história que não sendo exatamente uma comédia jamais se entrega ao melodrama, ainda que soe bastante melancólica.
Certamente por também ser o autor do material de origem, o diretor tem um carinho especial pelo trio de protagonistas, valorizando cada uma das suas aparições, e demonstrando uma compreensão profunda dos conflitos vividos por estes que atravessam uma fase tipicamente difícil, devido a constante busca pela aceitação, mas ao mesmo tempo mágica, por todas as descobertas proporcionadas. E a frase "Nós aceitamos o amor que julgamos merecer" é marcante neste sentido, rendendo, sozinha, algumas boas reflexões.
Logan Lerman (Percy Jackson) , Emma Watson (Harry Porter) e Ezra Miller (Precisamos Falar Sobre o Kevin) encabeçam o elenco e, para além de atingirem um entrosamento ímpar, estão realmente cativantes em seus respectivos papéis.
Destaca-se também a bem cuidada trilha sonora - composta por clássicos de David Bowie, The Smiths, Cocteau Twins, New Order, entre outros -, que está afinada com a trama, consistindo num importante elemento de identificação entre os personagens, e proporciona um verdadeiro revival das décadas de 80 e 90.
Mas a verdade é que, apesar da forma sincera e delicada com que retrata a adolescência, adotando uma postura de cumplicidade em detrimento da moralidade, não tem nada de novo a dizer sobre o tema.
É necessário certo distanciamento, que não se faça juízo sobre a atividade retratada, para que se possa desfrutar plenamente do documentário, que fornece um material riquíssimo para alimentar discussões a respeito do assunto.
O filme apresenta uma perspectiva - a qual me alinho - onde a pichação seria uma forma de expressão motivada basicamente pelo ego, pela adrenalina ou pelo protesto. Descartando as duas primeiras, que poderiam ser enquadradas como mera rebeldia juvenil - ingênua e sem objetivo -, é interessante pensar na pichação como protesto. Sendo protesto, poderia ser vista como intervenção urbana? Sendo intervenção, seria arte? O que é arte? Estes são questionamentos que renderiam horas de discussão, com a certeza de que mesmo que chegássemos a um consenso, uma definição seria impossível…
Mas tomemos como exemplo, no Rio de Janeiro, o Cristo Redentor ou qualquer construção que bloqueie a visão para a exuberante paisagem da cidade. Acredito que todos tenhamos a certeza de que constituem intervenções sobre a paisagem natural… Por que seriam elas legítimas? O que as diferenciaria da pichação? Interesses econômicos?
Como saldo me resta a certeza de que devemos repensar com responsabilidade e comprometimento essa sociedade que gera indivíduos que têm no ódio e na violência seus únicos meios de expressão...
Talvez um dos participantes do filme nos forneça um caminho para a questão: "é a arte da pobreza, que expõe tudo o que a gente sente, sentimentos que ninguém quer ver"
É provável que a decepção de muitos decorra da expectativa criada em torno das produções dos irmãos Coen. Eu, no fim das contas, apreciei a experiência, e diria até que vale realmente à pena, embora não o recomende a qualquer pessoa. Não por elitismo ou qualquer outro argumento defendido por pseudo intelectuais, mas devido ao estilo peculiar dos cineastas.
Diferente do que alguns alegam, não me parece que seja pretensioso - apesar das críticas inclusas -, mas certamente trabalha com um tipo de humor negro e cerebral que, jamais hilário, conquista mais pela inusitada e intricada teia de acontecimentos do que pelas situações histriônicas, ainda que os personagens de Brad Pitt e George Clooney apresentem imenso potencial cômico.
Assim, escrachando a alienação humana em meio a uma sátira aos trhillers de espionagem, mesmo que não seja memorável, o filme pode ser bastante divertido se você embarcar na proposta...
Woody Allen, no que talvez seja o seu mais bem sucedido projeto na Europa, e não obstante ter captado a essência da Cidade Luz em todo seu romantismo e efervescência cultural, em verdade desenvolve um divertido tratado sobre a nostalgia.
Quem nunca sonhou viver numa era a qual não pertencemos, coabitando-a com nossos maiores ídolos? Pois é exatamente isso que o velho Woody proporciona ao seu protagonista, com a sabedoria de não permitir que as célebres e interessantes figuras do início do século XX subjuguem-no; ainda que o cineasta, reconhecidamente afeito as referências culturais - característica apontada pelos detratores como mera masturbação mental -, aqui as torne parte integrante da própria obra.
É interessante notar como o filme se utiliza das viagens no tempo, que são um expediente habitual da ficção científica mas que aqui vemos tratadas sob a perspectiva da fantasia. E, dispensado de maiores explicações, o roteiro tem total liberdade para nos conduzir por um belíssimo passeio pela história parisiense.
Somente com as sutilezas da direção de arte e diálogos bem sacados, sem qualquer vestígio de efeitos especiais, somos transportados do século XXI à Belle Époque, para então constatarmos, junto ao protagonista, a insensatez que existe em renegar o tempo presente e todos os avanços tecnológicos, além da tolice em que consiste o saudosismo pois, como bem disse Faulkner, o passado nunca morre. Assim o protagonista parece ter encontrado o caminho para recriar o presente apropriando-se do passado.
A ressalva fica por conta da necessidade de algum conhecimento prévio sobre as personalidades/épocas retratadas para um pleno desfrute da película.
Após os sucessos de "Extermínio" e "Madrugada dos Mortos", George Romero, que sempre moldou suas películas como contundentes crônicas sociais, ressurge 20 anos depois da sua clássica trilogia com esse libelo escancarado contra o imperialismo da era Bush e o abismo entre as diferentes classes.
Não há dúvidas de que o filme tenha seus méritos. Porém a tentativa de reinvenção da mitologia zumbi, fazendo com que criaturas antes totalmente instintivas demonstrem indícios de consciência, ainda que primitiva, não me convenceu por completo... Revolução do proletariado zumbi é demais pra minha imaginação!
O filme discorre sobre um tema já explorado à exaustão dentro do gênero recorrendo a um recurso narrativo quase que esgotado recentemente - exorcismos e falsos documentários, respectivamente.
No fundo não passa de um pastiche, mas consegue ir além, e chega a satirizar o clássico mor do gênero durante uma simulação de exorcismo, que acaba funcionando como uma antítese ao filme de 1974. Uma ousadia, sem dúvida, ainda que perfeitamente alinhada com a postura contestatória do protagonista frente ao sobrenatural.
Apesar do baixo orçamento a equipe de produção soube se aproveitar das paisagens e do misticismo presente na região da Louisiana para criar a atmosfera soturna em meio a qual a história é contada.
Entretanto é no seu desfecho que o filme realmente decepciona ao aniquilar aquilo que seria o seu grande trunfo: a ambiguidade entre uma real possessão e um possível distúrbio mental decorrente de algum trauma. Ao cruzar a fronteira entre o suspense e o terror ele acaba desprezando toda a sutileza com a qual havia construído a trama.
A cena da luta no táxi não me deixa mentir... O diretor esbanja sagacidade e virtuosismo! Trabalhando com elementos de torture porn num thriller de vingança, ele consegue explorar ao máximo os limites do gênero, contudo sem extrapolá-los.
Mas o que me cativou realmente foi o mergulho na mente humana proporcionado, explorando o confronto entre o anjo e o diabo - superego e id? - a que estamos expostos diariamente sob a tutela da razão (ego). Quando submetido a um intenso trauma o protagonista teve sua razão dilacerada, o que o aproximou psicologicamente do seu antagonista, um psicopata, que por definição despreza as normas sociais. Fica evidente que a verdadeira treva habita em nós, tanto quanto a luz. E o próprio espectador, ao torcer pela vingança, vislumbra os seus demônios.
Por fim, parafraseando um amigo: "Olho por olho, dente por dente... E, em breve, estaremos todos cegos e banguelos!"
A trama se desenvolve com tamanha criatividade que parece brincar com os clichês do gênero somente para subvertê-los ao final. E é justamente na capacidade de tecer comentários inteligentes sobre situações banais que reside a genialidade do roteirista/diretor, que apesar de não atuar se faz presente em cada quadro deste filme, que está entre seus trabalhos mais seguros. Contudo essa onipresença de forma alguma impossibilita as contribuições dos colaboradores, especialmente a de Mia Farrow, com sua encantadora composição para uma personagem doce, ingênua e sensível. Jeff Daniels (Deby & Lóide) por sua vez também convence como um aspirante a astro hollywoodiano que interpreta tanto um personagem fictício como uma persona social que dá corpo a seus interesses pessoais.
Ambientá-lo num período onde prevalecia a desilusão - Grande Depressão -, ofereceu um interessante contraponto entre a dureza da realidade e o encantamento proporcionado pelo cinema. E, discutindo a relação entre o espectador e o cinema, se desenrola nesse espaço/tempo mágico que existe entre a tela e os nossos olhos. A tela, assim como o espelho de Alice, funciona como um portal para outra dimensão.
Ao fim, inevitavelmente, e parafraseando o próprio Woody Allen: "Infelizmente temos que escolher a realidade, que acaba por nos decepcionar e esmagar. Mas ainda é o único lugar onde se consegue comida chinesa." Entretanto, o belíssimo e derradeiro plano do filme, onde Cecília mesmo que abalada pelos acontecimentos conserva o brilho no olhar, soa como uma exaltação a cinefilia pois, por mais que tenhamos que voltar a amarga realidade ao acender das luzes, o sonho e a esperança sempre estarão vivos no reino da sétima arte.
Ainda há espaço para críticas à indústria cultural em cenas como quando os personagens do meta filme discutem a respeito do protagonismo sob uma perspectiva comercial e não da importância para a obra propriamente dita, ou quando os produtores revelam a manipulação da opinião pública através da imprensa - no que Noam Chomsky chamou de consenso manufaturado.
O naturalismo da história não concede espaço a vilões ou heróis. Ao invés disso compõe um quadro onde indivíduos tentam sobreviver desesperadamente à beira de um colapso.
Beto Brant constrói o suspense com maestria, provocando o espectador desde o início com a iminência de um crime, e conseguindo manter latente a sensação do colapso durante todo o desenrolar da trama.
A ousada e competente direção se utiliza de recursos como a câmera tremida e uma fotografia suja para refletir a instabilidade dos personagens e sua consequente decadência moral. Outra jogada interessante da direção foi representar o personagem do Paulo Miklos através da câmera subjetiva enquanto este encontrava-se à margem, trazendo-o para primeiro plano conforme este dominava a situação, tomando para si o protagonismo. Uma evidente metáfora a invasão/ascensão social empreendida pelo mesmo.
Para além do ótimo entretenimento o roteiro ainda se permite analisar o padrão de comportamento deveras comum em nossa sociedade, cuja prioridade é o desejo de levar vantagem em qualquer situação a qualquer custo. E onde há desejo, há espaço para corrupção. Também é curioso notar que apesar de tratar da violência urbana o filme não contém sequer uma cena de violência explícita.
Paulo Miklos impressiona em sua estreia diante das câmeras, compondo seu personagem de forma tão visceral quanto convincente, apesar de alguns deslizes primários, como no monólogo diante do espelho - provavelmente uma referência ao Travis Bickle de Taxi Driver. E a despeito da excelência de todo o elenco, Marco Ricca - a la Raskólnikov - é outro que se destaca, atingindo seu auge no ato final.
Infelizmente a interessante premissa, que discute a relação entre a memória e a formação da identidade, é desenvolvida de forma irregular. Fica a sensação de que o filme poderia ter sido muito mais...
O desfecho, apesar de aquém as expectativas, é curioso, pois John Murdoch, antes visto como uma espécie de messias que libertaria os humanos, acaba se revelando bastante egoísta e dominado por desejos oriundos de uma memória incerta.
Grande parte do encanto se deve a direção de arte, explicitamente inspirada no clássico Metrópolis. É impossível não reconhecer a semelhança arquitetônica e o ar expressionista da cidade. Dos filmes noir, para além da atmosfera soturna, percebemos uma estrutura narrativa com diversos elementos em comum: crime, investigação, femme fatale, etc.
Já a alardeada relação com o contemporâneo Matrix é indireta, e talvez se deva as influências comuns, especialmente da cultura cyberpunk. Além de terem compartilhado o mesmo estúdio na Austrália, o que explica a semelhança de cenas como a da escadaria, por exemplo. Mais intrigante é perceber que além dos filmes supracitados, eXistenZ e Truman Show, que são da mesma época, também discorrem sobre a simulação da realidade.
Revendo essa pérola chilena, e refletindo sobre o imperialismo cultural - introjetado de tal forma que chegamos a gozar em inglês -, me recordei de um poema do Leminski:
"Podem ficar com a realidade Esse baixo astral Em que tudo entra pelo cano
Eu quero viver de verdade Eu fico com o cinema americano"
A estética expressionista aliada a inventividade de Lang proporciona momentos excepcionais mas, infelizmente, o mal aproveitamento do argumento de Graham Greene unido à intervenção do estúdio - acrescentando aquele epílogo ridículo - prejudicaram bastante a obra.
Um detalhe que me impressionou positivamente foi a coreografia das lutas.
Um triângulo sórdido que, sustentado pela obsessão por algo ou alguém, estava fadado ao pior. Todos os lados são algozes e vítimas uns dos outros, e se afogam no mar de consequências oriundo de seus próprios excessos.
Diferente de Jean Renoir, que diluiu seus personagens em meio ao humor e certo determinismo, Fritz Lang os expõe em sua mediocridade individual, valorizando o potencial trágico.
De todas as obras legadas pelo mestre alemão, nenhuma outra me envolveu tanto emocionalmente quanto essa. Ele conseguiu explorar assombrosamente o abismo que consumiria o protagonista, abalando irreversivelmente sua dignidade. No último quadro do filme só restam ao protagonista os escombros da esperança e da ilusão de outrora.
Edward G. Robinson, com seu talento sobrenatural para interpretar gente comum, nos arrebata de forma incontestável. Sua face sofrida e amargurada estabelece a imagem definitiva deste clássico desconhecido. Joan Bennet iludiu não somente àquele pobre homem, mas também a mim, que cheguei a acreditar que sua personagem nutria algum sentimento bom por ele.
Inicialmente o onírico desfecho da história me incomodou um pouco. Então, pensando no contexto em que o filme foi produzido, percebi que a solucão poderia ser uma forma de abordar temas polêmicos e malvistos na época, burlando a censura imposta pelo Código Hays.
Pelo excerto abaixo constatamos que foi realmente premeditado...
"Fui repreendido pelos críticos por terminar o filme como um sonho. Nem sempre fui objetivo quanto ao meu trabalho, mas neste caso a escolha foi consciente. Rejeitei a conclusão lógica porque me parecia demasiadamente pessimista, uma tragédia em decorrência de um momento de descuido." (Fritz Lang em Happily Ever After)
É possível notar uma afinidade com as teorias defendidas por Freud no clássico "A Interpretação do Sonhos".
A femme fatale, e a situação como um todo, pode ser vista como manifestação do inconsciente do protagonista diante de pulsões não saciadas - algo explicitado no encontro com os amigos. Posteriormente, o superego intervém através do assassinato, trazendo à tona a culpa pelo desvio de conduta. E, não por acaso, o sonho é interrompido diante das fotos da família.
O diretor, em entrevista a Cahiers du Cinéma 99: "(...) o filme do Renoir é tão melhor. Mas eu tinha um contrato (...) O produtor me disse que gostava muito do filme, mas não poderia haver um pervertido sexual. Precisávamos de um americano bem apessoado (...) Meu filme não é A Besta Humana, tanto é que batizaram-no em inglês de Human Desire. Pergunto-me por que vocês escreveram uma boa crítica na Cahiers."
Esse excelente thriller fazia parte, dentre vários outros filmes, do esforço de guerra dos aliados contra o eixo no plano ideológico. Mas, diferente da maioria dos filmes que expressam um momento histórico, e com o tempo acabam valendo apenas como registro de uma época, esse ainda oferece um extraordinário entretenimento. Sendo, inclusive, reconhecido pelo Tarantino como uma das inspirações para o recente "Bastardos Inglórios".
Em meio a simbólica mise en scène, um Lang inspirado conduz a história com a objetividade e inteligência que lhe é comum. Da abertura em meio a caçada na floresta até a separação na ponte em Londres, passando pelo interrogatório dos nazistas, o encontro de Thorndike com Jerry e a perseguição no metrô, todas as sequências do filme são memoráveis!
A adorável Joan Bennett rouba a cena em sua primeira colaboração com Fritz Lang. Mais tarde eles repetiriam a parceria com ela encarnando a femme fatale dos filmes "Um Retrato de Mulher", "Almas Perversas" e "O Segredo da Porta Fechada".
As românticas aspirações das mulheres e a irresponsável sedução dos homens numa trama que, mesmo com o desfecho precipitado e convencional, se revela simples mas envolvente.
O toque de Fritz Lang é notado através da solução visual que divide a narrativa em duas linhas que se alternam. Uma feminina, em clima de cumplicidade, com cenários bem iluminados e limpos. E outra masculina, cínica, com pouca luz e muitas sombras, evocando a típica atmosfera noir.
Anne Baxter (A Malvada) está encantadora e corresponde plenamente às exigências do papel. Enquanto Nat King Cole, numa participação em cena enxertada por exigência da Warner, preenche o ambiente com sua voz marcante, dando um ar requintado a produção.
Coppola consegue expressar, com sofisticada ironia, a essência medíocre e insana de todas as guerras, na sequência onde o excêntrico Coronel Kilgore destrói uma vila inteira apenas pelo prazer de surfar. Acabando por presentear o espectador com o antológico ataque aéreo ao som da Cavalgada das Valquírias de Richard Wagner. E através de cenas surreais como essa o diretor conduz a narrativa com um corrosivo humor, cedendo espaço ao tom mais sombrio apenas em seu ato final. Enquanto a maioria dos filmes, quando muito, possui uma única sequência memorável, aqui as vemos em profusão, uma após a outra, interligadas pela jornada rio acima.
O trabalho de Walter Murch como designer de som nesse filme é simplesmente impecável. Ele consegue mesclar com fluidez uma trilha sonora que harmoniza rock'n'roll e música clássica ao onipresente barulho dos helicópteros e outros ruídos da guerra. A sequência inicial é um primor! Em meio aos bombardeios, embalados pelos acordes do The Doors, surge o rosto de Martin Sheen estirado numa cama de hotel em algum lugar de Saigon. Numa transição brilhante, o ventilador de teto transforma-se numa hélice de helicóptero, enquanto ouvimos o som do motor, e a música se dispersa. Somos apresentados ao Capitão Willard, e todas essas imagens e sons são oriundos de lembranças que inundam a sua mente.
Apocalypse Now! se diferencia de outros filmes do gênero pela sua abordagem psicológica de personagens afetados pela guerra, especialmente o Coronel Kurtz, em cuja mente mergulhamos junto ao Capitão Willard em busca da compreensão do que o teria levado aquela situação. E descobrimos: "O horror, o horror..." A guerra que interessa ao filme é travada nos confins da mente humana.
Apesar das controvérsias, há quem situe o encontro entre Brigitte Bardot e Roger Vadim neste filme como um dos precursores da Nouvelle Vague. Especialmente se pensarmos na ousadia que foi tratar tabus de forma tão espontânea, sacudindo décadas de moralismo.
Porém, não podemos abstrair que por trás de uma fachada pretensiosamente transgressora, o filme chega a ser bastante conservador. Vide o próprio título, uma inegável referência ao mito da Criação. Sendo a protagonista, assim como Eva, colocada como uma ameaça a ordem e aos bons costumes, induzindo os homens a ruína e ao pecado.
É interessante notar que o estilo de vida intenso e libertário levado por BB não se distancia tanto da sua persona cinematográfica e do mito criado em torno dela. Contudo, para além do símbolo sexual, Brigitte Bardot foi peça fundamental na revolução perpetrada pelas mulheres no século XX.
Desejo e Perigo
3.9 108 Assista AgoraA impecável reconstituição de época, a direção refinada e atenta aos detalhes, e a poderosa música tema composta por Alexandre Desplat (The Painted Veil), concedem um tom épico ao filme.
Contudo, apesar do plano de fundo histórico e político, o filme não pretende discutir estes aspectos diretamente, nem se encerra como thriller de espionagem. Está mais interessado no comportamento humano diante do contexto opressor e desprovido de perspectivas. Assim as contundentes cenas de sexo estão longe de serem gratuitas, uma vez que diversos estudiosos do assunto já preconizaram que sentimentos sufocados podem aflorar através da sexualidade.
Inclusive, cada um dos encontros demarca uma nítida evolução na relação entre os protagonistas. A princípio agressiva e carnal, partindo de um quase estupro, passando por variações dignas do Kama Sutra, que expressam o desespero de ambos, até a delicadeza do encontro na casa de chá, onde o personagem do veterano Tony Leung acolhe a parceira nos braços, e o sexo já não se faz mais necessário, prevalecendo o carinho e a cumplicidade.
Mas em tempos hostis amar pode ser uma vulnerabilidade, especialmente quando o desejo traça caminhos alheios a razão. Residindo nesta dicotomia fundamental o cerne do filme.
A novata Wei Tang (Late Autumn) está realmente fabulosa, e esbanja maturidade no complexo papel.
Outro acerto é que, junto a Tim Squyres, seu editor habitual, Ang Lee consegue tornar a narrativa tão dinâmica que nos deixa a impressão de que nenhuma cena poderia ter sido subtraída do filme sem que lhe causasse prejuízo, mesmo diante da sua longa duração.
O Anjo Embriagado
4.0 36 Assista AgoraAtravés da mise-en-scène altamente simbólica Kurosawa desenha com absoluta precisão o estado decadente em que se encontrava o Japão no pós guerra, atolado numa miséria social profunda e sob crescente influência Ocidental. Influência essa assimilada pelo próprio Kurosawa que, dentre os grandes mestres japoneses, talvez tenha sido o mais aberto a nova cultura, ainda que as antigas tradições fossem elementos constantes na sua obra.
Este filme consiste num marco na carreira do diretor, pois foi primeiro a ser realizado sem a intervenção do governo, e denota um amadurecimento técnico e temático que culminaria nas obras-primas da década seguinte.
Exemplo disso são sequências como aquela, notadamente expressionista, onde Matsunaga se depara com o próprio caixão durante um sonho, ou mesmo na da sua morte, em que, apesar da estabanada cena de luta, se consegue esboçar uma poesia que mais tarde se tornaria costumaz.
Takashi Shimura e Toshiro Mifune - no primeiro trabalho da prolífica parceria com o diretor - dão vida a personagens que odeiam aquilo que projetam de si mesmos, um no outro, reciprocamente. E paradoxalmente, é a partir disso que, após a turbulenta aproximação, estabelecem alguma afinidade e desenvolvem um respeito mútuo.
Apesar de rude, o solícito e dedicado médico se compadece ao ver o jovem chefe Yakuza se entregar a vícios similares aos que haviam o destruído. Mas esse, por sua vez, preso aos rígidos códigos da máfia japonesa, e ocupado em manter sua posição, não vislumbra uma saída possível. Sendo nesta sordidez, e consequentemente no inevitável fatalismo, que esta película mais se aproxima dos filmes noir americanos.
Em meio a anjos e demônios, médicos e mafiosos, ao alívio e a dor, o tema central é a degradação humana vivenciada naquele momento, refletida no ambiente e no modo como os personagens vivem, mas o filme se encerra com uma acalentadora ponta de esperança.
Pecados Íntimos
3.8 569 Assista AgoraEsse filme me fez lembrar da antológica primeira sentença de Anna Karenina, que diz que toda família feliz é igual, mas entre as infelizes cada uma o é a sua maneira. Neste caso eu diria que elas são infelizes a sua maneira, mas em decorrência de causas muito parecidas... Sendo onipresente a dissonância em relações humanas idealizadas.
O desfecho expõe o adúltero casal de modo conformista, como se fossem crianças que saem da caixa de areia para apanhar um novo brinquedo, e até gostam da experiência, mas regressam logo que possível a zona de conforto. Faria todo sentido, considerando o próprio título original, se a irritante voz em off, com seu teor de auto-ajuda, não contradissesse a proposta.
Abordando um tema polêmico, com pitadas de humor negro, a trama paralela do pedófilo com síndrome de Peter Pan se revela moralmente mais interessante, ainda que prejudicada pela forçada redenção do ex-policial. É curioso notar como os indivíduos da pequena comunidade olham com horror para a aberração mais visível, perfeitamente talhada para bode expiatório, sentindo-se pilares da normalidade e da ética.
As atuações de Kate Winslet e Jackie Earle Halley (Watchmen, A Hora do Pesadelo) se destacam perante as outras e fazem jus as indicações ao Oscar.
Kill Bill: Volume 1
4.2 2,3K Assista AgoraImpressiona que os personagens sejam meros fantoches nas mãos do diretor e ainda assim o filme consiga nos deixar em absoluto estado de êxtase. Contribue muito para isso que os esforços sejam concentrados nas cenas de ação, preterindo um pouco os verborrágicos diálogos e realçando a homenagem aos filmes de artes marciais produzidos na China e no Japão. Se lhe couber a palavra genial, será justamente pela capacidade de criar um universo tão interessante a partir de um fiapo de trama.
Cabe destacar Kill Bill como a mais deslumbrante e significativa produção entre as obras de Tarantino até então. Do figurino à música, dos enquadramentos às coreografias, o esmero se faz notar em cada detalhe. A avalanche de referências está organicamente integrada ao filme, enriquecendo a mise-en-scène e resultando nalgo surpreendentemente coeso. Foi trabalho de mestre contar a origem de O-Ren Ishii através de uma sequência em anime sem destoar daquelas em live action.
Também é curioso notar que apesar da violência onipresente, o filme em si não é violento, pois a retrata de forma tão exagerada quanto caricata, num estilo bem cartunesco.
Particularmente, questiono somente a desconstrução da linearidade narrativa, que acabou servindo como mera distração, ao contrário do que ocorria em trabalhos anteriores, nos quais ajudava a criar tensão e surpreender o espectador. Mas, uma vez que o filme foi partido em dois volumes, provavelmente foi a melhor solução encontrada pela Sally Menke, que entendeu como ninguém a cabeça do diretor.
RoboCop
3.3 2,0K Assista AgoraA direção do Padilha apresenta alguns traços pessoais e chega até a proporcionar bons momentos, mas em geral é genérica e está claramente a serviço dos interesses do estúdio. Ter criado expectativas em torno das entrevistas que falavam de transumanismo, filosofia da mente, entre outros temas correlatos, talvez tenha sido meu grande problema com o filme, que apenas arranha a superfície dos mesmos.
Se o filme de 1987 se concentrava na sátira política e na trama criminal, neste buscou-se focar o drama pessoal do policial Murphy. O que, infelizmente, não foi plenamente atingido, especialmente no núcleo familiar, que soa inexpressivo e sem propósito.
Muito da identificação do público junto ao personagem título também foi perdido em função do seu apático intérprete, e da ausência de um antagonista melhor definido. Sabemos que a grande vilã é a própria OmniCorp, mas o roteiro foi infeliz ao personificar essa vilania na figura do capanga do CEO, menos ameaçador do que caricato.
Seguindo a tendência, o cientista vivido por Gary Oldman, com todos os seus dilemas éticos, acaba sendo mais um dentre tantos outros elementos desperdiçados.
De modo geral, a primeira parte do filme acaba se revelando mais interessante que o desenvolvimento pós transformação que, falhando na construção dos personagens e soando apressado, culmina no desastroso último ato.
E ainda que as atualizações tecnológicas, como a introdução dos drones e a integração do RoboCop com sistemas de informação online, tenham sido positivas, não justificaram a realização desse remake que, mesmo não sendo desastroso, é efêmero e carece de personalidade.
As Vantagens de Ser Invisível
4.2 6,9K Assista AgoraStephen Chbosky consegue manter o difícil equilíbrio numa história que não sendo exatamente uma comédia jamais se entrega ao melodrama, ainda que soe bastante melancólica.
Certamente por também ser o autor do material de origem, o diretor tem um carinho especial pelo trio de protagonistas, valorizando cada uma das suas aparições, e demonstrando uma compreensão profunda dos conflitos vividos por estes que atravessam uma fase tipicamente difícil, devido a constante busca pela aceitação, mas ao mesmo tempo mágica, por todas as descobertas proporcionadas. E a frase "Nós aceitamos o amor que julgamos merecer" é marcante neste sentido, rendendo, sozinha, algumas boas reflexões.
Logan Lerman (Percy Jackson) , Emma Watson (Harry Porter) e Ezra Miller (Precisamos Falar Sobre o Kevin) encabeçam o elenco e, para além de atingirem um entrosamento ímpar, estão realmente cativantes em seus respectivos papéis.
Destaca-se também a bem cuidada trilha sonora - composta por clássicos de David Bowie, The Smiths, Cocteau Twins, New Order, entre outros -, que está afinada com a trama, consistindo num importante elemento de identificação entre os personagens, e proporciona um verdadeiro revival das décadas de 80 e 90.
Mas a verdade é que, apesar da forma sincera e delicada com que retrata a adolescência, adotando uma postura de cumplicidade em detrimento da moralidade, não tem nada de novo a dizer sobre o tema.
Pixo
4.2 134É necessário certo distanciamento, que não se faça juízo sobre a atividade retratada, para que se possa desfrutar plenamente do documentário, que fornece um material riquíssimo para alimentar discussões a respeito do assunto.
O filme apresenta uma perspectiva - a qual me alinho - onde a pichação seria uma forma de expressão motivada basicamente pelo ego, pela adrenalina ou pelo protesto.
Descartando as duas primeiras, que poderiam ser enquadradas como mera rebeldia juvenil - ingênua e sem objetivo -, é interessante pensar na pichação como protesto.
Sendo protesto, poderia ser vista como intervenção urbana? Sendo intervenção, seria arte? O que é arte? Estes são questionamentos que renderiam horas de discussão, com a certeza de que mesmo que chegássemos a um consenso, uma definição seria impossível…
Mas tomemos como exemplo, no Rio de Janeiro, o Cristo Redentor ou qualquer construção que bloqueie a visão para a exuberante paisagem da cidade. Acredito que todos tenhamos a certeza de que constituem intervenções sobre a paisagem natural… Por que seriam elas legítimas? O que as diferenciaria da pichação? Interesses econômicos?
Como saldo me resta a certeza de que devemos repensar com responsabilidade e comprometimento essa sociedade que gera indivíduos que têm no ódio e na violência seus únicos meios de expressão...
Talvez um dos participantes do filme nos forneça um caminho para a questão: "é a arte da pobreza, que expõe tudo o que a gente sente, sentimentos que ninguém quer ver"
Queime Depois de Ler
3.2 1,3K Assista AgoraÉ provável que a decepção de muitos decorra da expectativa criada em torno das produções dos irmãos Coen. Eu, no fim das contas, apreciei a experiência, e diria até que vale realmente à pena, embora não o recomende a qualquer pessoa. Não por elitismo ou qualquer outro argumento defendido por pseudo intelectuais, mas devido ao estilo peculiar dos cineastas.
Diferente do que alguns alegam, não me parece que seja pretensioso - apesar das críticas inclusas -, mas certamente trabalha com um tipo de humor negro e cerebral que, jamais hilário, conquista mais pela inusitada e intricada teia de acontecimentos do que pelas situações histriônicas, ainda que os personagens de Brad Pitt e George Clooney apresentem imenso potencial cômico.
Assim, escrachando a alienação humana em meio a uma sátira aos trhillers de espionagem, mesmo que não seja memorável, o filme pode ser bastante divertido se você embarcar na proposta...
Meia-Noite em Paris
4.0 3,8K Assista AgoraWoody Allen, no que talvez seja o seu mais bem sucedido projeto na Europa, e não obstante ter captado a essência da Cidade Luz em todo seu romantismo e efervescência cultural, em verdade desenvolve um divertido tratado sobre a nostalgia.
Quem nunca sonhou viver numa era a qual não pertencemos, coabitando-a com nossos maiores ídolos?
Pois é exatamente isso que o velho Woody proporciona ao seu protagonista, com a sabedoria de não permitir que as célebres e interessantes figuras do início do século XX subjuguem-no; ainda que o cineasta, reconhecidamente afeito as referências culturais - característica apontada pelos detratores como mera masturbação mental -, aqui as torne parte integrante da própria obra.
É interessante notar como o filme se utiliza das viagens no tempo, que são um expediente habitual da ficção científica mas que aqui vemos tratadas sob a perspectiva da fantasia. E, dispensado de maiores explicações, o roteiro tem total liberdade para nos conduzir por um belíssimo passeio pela história parisiense.
Somente com as sutilezas da direção de arte e diálogos bem sacados, sem qualquer vestígio de efeitos especiais, somos transportados do século XXI à Belle Époque, para então constatarmos, junto ao protagonista, a insensatez que existe em renegar o tempo presente e todos os avanços tecnológicos, além da tolice em que consiste o saudosismo pois, como bem disse Faulkner, o passado nunca morre. Assim o protagonista parece ter encontrado o caminho para recriar o presente apropriando-se do passado.
A ressalva fica por conta da necessidade de algum conhecimento prévio sobre as personalidades/épocas retratadas para um pleno desfrute da película.
Terra dos Mortos
3.0 292 Assista AgoraApós os sucessos de "Extermínio" e "Madrugada dos Mortos", George Romero, que sempre moldou suas películas como contundentes crônicas sociais, ressurge 20 anos depois da sua clássica trilogia com esse libelo escancarado contra o imperialismo da era Bush e o abismo entre as diferentes classes.
Não há dúvidas de que o filme tenha seus méritos. Porém a tentativa de reinvenção da mitologia zumbi, fazendo com que criaturas antes totalmente instintivas demonstrem indícios de consciência, ainda que primitiva, não me convenceu por completo... Revolução do proletariado zumbi é demais pra minha imaginação!
O Último Exorcismo
2.2 1,8K Assista AgoraO filme discorre sobre um tema já explorado à exaustão dentro do gênero recorrendo a um recurso narrativo quase que esgotado recentemente - exorcismos e falsos documentários, respectivamente.
No fundo não passa de um pastiche, mas consegue ir além, e chega a satirizar o clássico mor do gênero durante uma simulação de exorcismo, que acaba funcionando como uma antítese ao filme de 1974. Uma ousadia, sem dúvida, ainda que perfeitamente alinhada com a postura contestatória do protagonista frente ao sobrenatural.
Apesar do baixo orçamento a equipe de produção soube se aproveitar das paisagens e do misticismo presente na região da Louisiana para criar a atmosfera soturna em meio a qual a história é contada.
Entretanto é no seu desfecho que o filme realmente decepciona ao aniquilar aquilo que seria o seu grande trunfo: a ambiguidade entre uma real possessão e um possível distúrbio mental decorrente de algum trauma. Ao cruzar a fronteira entre o suspense e o terror ele acaba desprezando toda a sutileza com a qual havia construído a trama.
Eu Vi o Diabo
4.1 1,1KA cena da luta no táxi não me deixa mentir... O diretor esbanja sagacidade e virtuosismo!
Trabalhando com elementos de torture porn num thriller de vingança, ele consegue explorar ao máximo os limites do gênero, contudo sem extrapolá-los.
Mas o que me cativou realmente foi o mergulho na mente humana proporcionado, explorando o confronto entre o anjo e o diabo - superego e id? - a que estamos expostos diariamente sob a tutela da razão (ego).
Quando submetido a um intenso trauma o protagonista teve sua razão dilacerada, o que o aproximou psicologicamente do seu antagonista, um psicopata, que por definição despreza as normas sociais.
Fica evidente que a verdadeira treva habita em nós, tanto quanto a luz. E o próprio espectador, ao torcer pela vingança, vislumbra os seus demônios.
Por fim, parafraseando um amigo: "Olho por olho, dente por dente... E, em breve, estaremos todos cegos e banguelos!"
A Rosa Púrpura do Cairo
4.1 591 Assista AgoraA trama se desenvolve com tamanha criatividade que parece brincar com os clichês do gênero somente para subvertê-los ao final. E é justamente na capacidade de tecer comentários inteligentes sobre situações banais que reside a genialidade do roteirista/diretor, que apesar de não atuar se faz presente em cada quadro deste filme, que está entre seus trabalhos mais seguros.
Contudo essa onipresença de forma alguma impossibilita as contribuições dos colaboradores, especialmente a de Mia Farrow, com sua encantadora composição para uma personagem doce, ingênua e sensível. Jeff Daniels (Deby & Lóide) por sua vez também convence como um aspirante a astro hollywoodiano que interpreta tanto um personagem fictício como uma persona social que dá corpo a seus interesses pessoais.
Ambientá-lo num período onde prevalecia a desilusão - Grande Depressão -, ofereceu um interessante contraponto entre a dureza da realidade e o encantamento proporcionado pelo cinema. E, discutindo a relação entre o espectador e o cinema, se desenrola nesse espaço/tempo mágico que existe entre a tela e os nossos olhos. A tela,
assim como o espelho de Alice, funciona como um portal para outra dimensão.
Ao fim, inevitavelmente, e parafraseando o próprio Woody Allen: "Infelizmente temos que escolher a realidade, que acaba por nos decepcionar e esmagar. Mas ainda é o único lugar onde se consegue comida chinesa."
Entretanto, o belíssimo e derradeiro plano do filme, onde Cecília mesmo que abalada pelos acontecimentos conserva o brilho no olhar, soa como uma exaltação a cinefilia pois, por mais que tenhamos que voltar a amarga realidade ao acender das luzes, o sonho e a esperança sempre estarão vivos no reino da sétima arte.
Ainda há espaço para críticas à indústria cultural em cenas como quando os personagens do meta filme discutem a respeito do protagonismo sob uma perspectiva comercial e não da importância para a obra propriamente dita, ou quando os produtores revelam a manipulação da opinião pública através da imprensa - no que Noam Chomsky chamou de consenso manufaturado.
O Invasor
3.6 171O naturalismo da história não concede espaço a vilões ou heróis. Ao invés disso compõe um quadro onde indivíduos tentam sobreviver desesperadamente à beira de um colapso.
Beto Brant constrói o suspense com maestria, provocando o espectador desde o início com a iminência de um crime, e conseguindo manter latente a sensação do colapso durante todo o desenrolar da trama.
A ousada e competente direção se utiliza de recursos como a câmera tremida e uma fotografia suja para refletir a instabilidade dos personagens e sua consequente decadência moral. Outra jogada interessante da direção foi representar o personagem do Paulo Miklos através da câmera subjetiva enquanto este encontrava-se à margem, trazendo-o para primeiro plano conforme este dominava a situação, tomando para si o protagonismo. Uma evidente metáfora a invasão/ascensão social empreendida pelo mesmo.
Para além do ótimo entretenimento o roteiro ainda se permite analisar o padrão de comportamento deveras comum em nossa sociedade, cuja prioridade é o desejo de levar vantagem em qualquer situação a qualquer custo. E onde há desejo, há espaço para corrupção.
Também é curioso notar que apesar de tratar da violência urbana o filme não contém sequer uma cena de violência explícita.
Paulo Miklos impressiona em sua estreia diante das câmeras, compondo seu personagem de forma tão visceral quanto convincente, apesar de alguns deslizes primários, como no monólogo diante do espelho - provavelmente uma referência ao Travis Bickle de Taxi Driver.
E a despeito da excelência de todo o elenco, Marco Ricca - a la Raskólnikov - é outro que se destaca, atingindo seu auge no ato final.
Cidade das Sombras
3.6 283 Assista AgoraInfelizmente a interessante premissa, que discute a relação entre a memória e a formação da identidade, é desenvolvida de forma irregular. Fica a sensação de que o filme poderia ter sido muito mais...
O desfecho, apesar de aquém as expectativas, é curioso, pois John Murdoch, antes visto como uma espécie de messias que libertaria os humanos, acaba se revelando bastante egoísta e dominado por desejos oriundos de uma memória incerta.
Grande parte do encanto se deve a direção de arte, explicitamente inspirada no clássico Metrópolis. É impossível não reconhecer a semelhança arquitetônica e o ar expressionista da cidade.
Dos filmes noir, para além da atmosfera soturna, percebemos uma estrutura narrativa com diversos elementos em comum: crime, investigação, femme fatale, etc.
Já a alardeada relação com o contemporâneo Matrix é indireta, e talvez se deva as influências comuns, especialmente da cultura cyberpunk. Além de terem compartilhado o mesmo estúdio na Austrália, o que explica a semelhança de cenas como a da escadaria, por exemplo.
Mais intrigante é perceber que além dos filmes supracitados, eXistenZ e Truman Show, que são da mesma época, também discorrem sobre a simulação da realidade.
Tony Manero
3.4 86 Assista AgoraRevendo essa pérola chilena, e refletindo sobre o imperialismo cultural - introjetado de tal forma que chegamos a gozar em inglês -, me recordei de um poema do Leminski:
"Podem ficar com a realidade
Esse baixo astral
Em que tudo entra pelo cano
Eu quero viver de verdade
Eu fico com o cinema americano"
Quando Desceram As Trevas
3.6 15A estética expressionista aliada a inventividade de Lang proporciona momentos excepcionais mas, infelizmente, o mal aproveitamento do argumento de Graham Greene unido à intervenção do estúdio - acrescentando aquele epílogo ridículo - prejudicaram bastante a obra.
Um detalhe que me impressionou positivamente foi a coreografia das lutas.
Almas Perversas
4.2 76 Assista AgoraUm triângulo sórdido que, sustentado pela obsessão por algo ou alguém, estava fadado ao pior. Todos os lados são algozes e vítimas uns dos outros, e se afogam no mar de consequências oriundo de seus próprios excessos.
Diferente de Jean Renoir, que diluiu seus personagens em meio ao humor e certo determinismo, Fritz Lang os expõe em sua mediocridade individual, valorizando o potencial trágico.
De todas as obras legadas pelo mestre alemão, nenhuma outra me envolveu tanto emocionalmente quanto essa. Ele conseguiu explorar assombrosamente o abismo que consumiria o protagonista, abalando irreversivelmente sua dignidade. No último quadro do filme só restam ao protagonista os escombros da esperança e da ilusão de outrora.
Edward G. Robinson, com seu talento sobrenatural para interpretar gente comum, nos arrebata de forma incontestável. Sua face sofrida e amargurada estabelece a imagem definitiva deste clássico desconhecido. Joan Bennet iludiu não somente àquele pobre homem, mas também a mim, que cheguei a acreditar que sua personagem nutria algum sentimento bom por ele.
Um Retrato de Mulher
4.1 97Inicialmente o onírico desfecho da história me incomodou um pouco. Então, pensando no contexto em que o filme foi produzido, percebi que a solucão poderia ser uma forma de abordar temas polêmicos e malvistos na época, burlando a censura imposta pelo Código Hays.
Pelo excerto abaixo constatamos que foi realmente premeditado...
"Fui repreendido pelos críticos por terminar o filme como um sonho. Nem sempre fui objetivo quanto ao meu trabalho, mas neste caso a escolha foi consciente. Rejeitei a conclusão lógica porque me parecia demasiadamente pessimista, uma tragédia em decorrência de um momento de descuido." (Fritz Lang em Happily Ever After)
É possível notar uma afinidade com as teorias defendidas por Freud no clássico "A Interpretação do Sonhos".
A femme fatale, e a situação como um todo, pode ser vista como manifestação do inconsciente do protagonista diante de pulsões não saciadas - algo explicitado no encontro com os amigos. Posteriormente, o superego intervém através do assassinato, trazendo à tona a culpa pelo desvio de conduta. E, não por acaso, o sonho é interrompido diante das fotos da família.
Desejo Humano
3.8 33 Assista AgoraO diretor, em entrevista a Cahiers du Cinéma 99: "(...) o filme do Renoir é tão melhor. Mas eu tinha um contrato (...) O produtor me disse que gostava muito do filme, mas não poderia haver um pervertido sexual. Precisávamos de um americano bem apessoado (...) Meu filme não é A Besta Humana, tanto é que batizaram-no em inglês de Human Desire. Pergunto-me por que vocês escreveram uma boa crítica na Cahiers."
O Homem que Quis Matar Hitler
3.7 25Esse excelente thriller fazia parte, dentre vários outros filmes, do esforço de guerra dos aliados contra o eixo no plano ideológico. Mas, diferente da maioria dos filmes que expressam um momento histórico, e com o tempo acabam valendo apenas como registro de uma época, esse ainda oferece um extraordinário entretenimento. Sendo, inclusive, reconhecido pelo Tarantino como uma das inspirações para o recente "Bastardos Inglórios".
Em meio a simbólica mise en scène, um Lang inspirado conduz a história com a objetividade e inteligência que lhe é comum. Da abertura em meio a caçada na floresta até a separação na ponte em Londres, passando pelo interrogatório dos nazistas, o encontro de Thorndike com Jerry e a perseguição no metrô, todas as sequências do filme são memoráveis!
A adorável Joan Bennett rouba a cena em sua primeira colaboração com Fritz Lang. Mais tarde eles repetiriam a parceria com ela encarnando a femme fatale dos filmes "Um Retrato de Mulher", "Almas Perversas" e "O Segredo da Porta Fechada".
Gardênia Azul
4.0 26As românticas aspirações das mulheres e a irresponsável sedução dos homens numa trama que, mesmo com o desfecho precipitado e convencional, se revela simples mas envolvente.
O toque de Fritz Lang é notado através da solução visual que divide a narrativa em duas linhas que se alternam. Uma feminina, em clima de cumplicidade, com cenários bem iluminados e limpos. E outra masculina, cínica, com pouca luz e muitas sombras, evocando a típica atmosfera noir.
Anne Baxter (A Malvada) está encantadora e corresponde plenamente às exigências do papel. Enquanto Nat King Cole, numa participação em cena enxertada por exigência da Warner, preenche o ambiente com sua voz marcante, dando um ar requintado a produção.
Apocalypse Now
4.3 1,2K Assista AgoraCoppola consegue expressar, com sofisticada ironia, a essência medíocre e insana de todas as guerras, na sequência onde o excêntrico Coronel Kilgore destrói uma vila inteira apenas pelo prazer de surfar. Acabando por presentear o espectador com o antológico ataque aéreo ao som da Cavalgada das Valquírias de Richard Wagner. E através de cenas surreais como essa o diretor conduz a narrativa com um corrosivo humor, cedendo espaço ao tom mais sombrio apenas em seu ato final.
Enquanto a maioria dos filmes, quando muito, possui uma única sequência memorável, aqui as vemos em profusão, uma após a outra, interligadas pela jornada rio acima.
O trabalho de Walter Murch como designer de som nesse filme é simplesmente impecável. Ele consegue mesclar com fluidez uma trilha sonora que harmoniza rock'n'roll e música clássica ao onipresente barulho dos helicópteros e outros ruídos da guerra.
A sequência inicial é um primor! Em meio aos bombardeios, embalados pelos acordes do The Doors, surge o rosto de Martin Sheen estirado numa cama de hotel em algum lugar de Saigon. Numa transição brilhante, o ventilador de teto transforma-se numa hélice de helicóptero, enquanto ouvimos o som do motor, e a música se dispersa. Somos apresentados ao Capitão Willard, e todas essas imagens e sons são oriundos de lembranças que inundam a sua mente.
Apocalypse Now! se diferencia de outros filmes do gênero pela sua abordagem psicológica de personagens afetados pela guerra, especialmente o Coronel Kurtz, em cuja mente mergulhamos junto ao Capitão Willard em busca da compreensão do que o teria levado aquela situação. E descobrimos: "O horror, o horror..."
A guerra que interessa ao filme é travada nos confins da mente humana.
...E Deus Criou a Mulher
3.5 113 Assista AgoraApesar das controvérsias, há quem situe o encontro entre Brigitte Bardot e Roger Vadim neste filme como um dos precursores da Nouvelle Vague. Especialmente se pensarmos na ousadia que foi tratar tabus de forma tão espontânea, sacudindo décadas de moralismo.
Porém, não podemos abstrair que por trás de uma fachada pretensiosamente transgressora, o filme chega a ser bastante conservador. Vide o próprio título, uma inegável referência ao mito da Criação. Sendo a protagonista, assim como Eva, colocada como uma ameaça a ordem e aos bons costumes, induzindo os homens a ruína e ao pecado.
É interessante notar que o estilo de vida intenso e libertário levado por BB não se distancia tanto da sua persona cinematográfica e do mito criado em torno dela.
Contudo, para além do símbolo sexual, Brigitte Bardot foi peça fundamental na revolução perpetrada pelas mulheres no século XX.