Irônico que um sujeito como Truffaut seja admirador se Sacha Guitry. Afinal, foi a (quase sempre chatíssima) "nouvelle vague" que enterrou de modo irreversível o cinema muito superior produzido na França nos anos trinta, quarenta e cinquenta do século passado.
O ROMANCE DE UM TRAPACEIRO é só mais um de muitos representantes dessa ótima safra, com uso sarcástico e cortante da narração over pelo filme todo, especialmente no primeiro ato com o impagável flashback sobre a infância do protagonista.
Embora longas sobre o holocausto judeu encham demais o saco vistos aos olhos de 2021 e o montante inacreditável que o cinema dos países da OTAN produziu sobre o assunto, é necessário reconhecer a coragem do diretor Frank Borzage (do excelente filme mudo SÉTIMO CÉU) de tratar esse tema ainda antes do ataque de Pearl Harbour, como também fez O GRANDE DITADOR do Chaplin.
Naquela época (anos trinta até 1940), pra quem não sabe (e infelizmente são muitos que desconhecem esse fato), boa parte do povo estadunidense nutria uma ingênua (apesar de distanciada) simpatia pelo Terceiro Reich.
Revolução cultural chinesa é um assunto que me desperta reações mistas, mais que, or exemplo, o Grande Salto Adiante. Com todos os inegáveis exageros, não dá pra deixar de notar que há sim um caráter louvável, arrojado e progressista na ideia em si dos alunos tomarem as rédeas dos professores.
Infelizmente, essas nuances acabam não sendo contempladas neste e em vários outros longas noventistas dos chineses que acabam por condenar de modo unidimensional esses acontecimentos.
O SONHO AZUL acaba sendo apenas razoável no todo. Narrativa agradável (diferente do tedioso longa anterior do mesmo cineasta, LADRÃO DE CAVALOS), elenco atuando no piloto automático e um roteiro que exagera no partidarismo. Dessa safra revisionista histórica da revolução maoísta, o melhor filme sem dúvidas é TEMPO DE VIVER, do Zhang Yimou.
O período do cinema australiano que vai de WAKE IN FRIGHT até UTU, cobrindo toda a década de setenta até o começo dos oitenta, foi prolífico em ótimos produtos. Gerou cineastas de grande calibre, como Peter Weir e George Miller.
O CANTO DE JIMMIE BLACKSMITH é mais um representante dessa boa safra que veio da Oceania naquele período, sendo tematicamente parecido com o já citado UTU (1983), embora não tenha personagens tão memoráveis e nem a verve satírica do longa de 83. É muito bem feito esteticamente e tem cenas de revolta contra o colonialismo graficamente violentas de modo acertado, já que o tema pedia mesmo por mais choque e impacto.
"Melhor um cara pobre que me coma direito do que um rico que não saiba fazer nada." (minha Isabelle Huppert é GIGANTE!)
Pena que fora alguns bons momentos (e diálogos) isolados, além de boas performances do casal central, é um longa bastante esquecível, mal e porcamente dirigido pelo mesmo cineasta do péssimo SOB O SOL DE SATÃ, um dos piores vencedores da história da Palma de Ouro.
Mockumentary é um gênero que tende a envelhecer bem justamente porque, graças ao paradigma da microeletrônica (ascensão da internet e seus derivados), a confusão entre o que é real e o que é ficção, intromissão da mídia na vida privada e temas correlatos só tende a ganhar força. Infelizmente.
Longa que poderia ser banal estilo adaptação de Jane Austen com estética novela das seis, porém com política um pouco mais densa que o normal do gênero (tem verve claramente feminista) e elenco competente. Acima da média.
Fui assistir de novo e muita coisa melhorou bem no meu conceito, apesar de ainda não ser nem um filme que eu classificaria sequer como "muito bom".
Visualmente tem méritos grandes no figurino e no design de produção, como as naves parecendo libélulas que lembram uma criação de Leonardo Da Vinci. Ainda tenho problemas com os dois pontos mais badalados da estética dessa adaptação (a fotografia e a música), porém agora bem menos que na primeira assistida. Se ainda há sombra e névoa demais na fotografia, pelo menos agora o recurso tem mais sentido narrativo - embora, repito, continua sendo um visual pasteurizado e preguiçoso pra economizar CGI. E se tem mesmo gritaria e vocal demais na música, não dá pra negar que a faixa PAUL'S DREAM é super bonita.
De resto, o roteiro fez muito mais sentido numa revisão e é mesmo relativamente fácil de seguir para quem, como eu, não conhece o livro. O primeiro e o segundo atos - do prólogo até o ataque surpresa Harkonnen - beiram a perfeição e não desperdiçam um só diálogo. O que dá uma freada brusca e parece deslocado é o terceiro ato, todo no deserto e antecipando o começo do arco com os fremen que, arrisco dizer, poderia tranquilamente ser passado na íntegra para a agora confirmada parte 2, de modo que a parte 1 terminasse de modo mais impactante, memorável e até surpreendente - a la final das temporadas 1 e 3 de GAME OF THRONES.
Quando vier a segunda metade e não for mais encarado como filme independente, aí teremos noção exata do quanto Villeneuve acertou e do quanto errou na adaptação.
Que a gente anda vendo filmes sobre a crise do que representa ser homem, viril, masculino e etc na cinematografia mais recente - que vai de ALIEN a CORINGA, entre tantos outros - já sabemos que é chover no molhado. Mas a curiosidade foi ver esse tipo de conflito numa geração não tão distante do imediato pós-guerra nos EUA, quando ainda se estava num período de maior bonança social e cultural naquele país.
Oriundo do distante ano de 1957, O INCRÍVEL HOMEM QUE ENCOLHEU é, na superfície, um longa de menos de noventa minutos até divertidinho estilo QUERIDA ENCOLHI AS CRIANÇAS. Uma sessão da tarde dos anos cinquenta pra entreter os mais incautos. Numa análise mais freudiana do filme é que ele realmente mostra a que veio. Se você trocar "homem" por "falo" no título do filme, vai matar quase toda a charada vendo o longa a partir dessa perspectiva.
A partir daí, diálogos sobre a crise do casamento, com a mulher cada vez literalmente maior que o sujeito com medo de soar ridículo tanto para a parceira quanto aos olhos alheios, não parecem tão casuais no roteiro. E de jeito nenhum é por acaso que a "antagonista" do filme acaba sendo justamente um inseto agigantado que remete ao órgão sexual feminino.
Quem quiser ver em O INCRÍVEL HOMEM QUE ENCOLHEU um mero passatempo infanto-juvenil até vai se divertir, embora a experiência tropeçará em efeitos visuais arcaicos e sobretudo num elenco fraco (a atriz que faz a esposa, principalmente, é péssima!). Mas é nessa análise psicanalítica, que te convido aqui a fazer, que você realmente vai conseguir ver contornos mais densos no enredo.
Dennis Villeneuve foi o melhor cineasta dos anos 2010. Desde INCÊNDIOS até a gloriosa sequência tardia de BLADE RUNNER, passando no meio do caminho por gemas da sétima arte como A CHEGADA e o subestimadíssimo O HOMEM DUPLICADO, o canadense pegou o mundo do cinema - tanto artística quanto comercialmente - de supetão e revelou uma inventividade que eu já considerava morta e enterrada lá pras bandas da América do Norte.
Quando foi anunciada sua intenção de adaptar DUNA, filmado antes numa versão razoável pelo tresloucado David Lynch (que eu revi há poucos dias em montagem alternativa de três horas), fiquei bastante ansioso. Desde o longa de 84, com todos os seus muitos erros, vejo potencial naquela história literária que nunca li, mas cuja curiosidade nasceu e só cresceu agora com esse filme novo.
Infelizmente, porém, o resultado final é novamente decepcionante e - na qualidade de quem nunca leu a obra de Frank Herbert - passo cada vez mais a concordar com as muitas vozes que classificam o livro de 65 como "infilmável". O resultado final foi um roteiro adaptado pelas metades, interrompido de modo meio abrupto, com um produto final confuso no enredo e claudicante na estética.
No tocante ao enredo, DUNA ficou parecendo só uma espécie de passagem (até bem contadinha, porém limitada) pela ascensão e queda do clã Atreides. Pouco sabemos sobre o clã rival Harkonnen (apesar das aparições do barão e seu sobrinho serem impactantes) e principalmente sobre o imperador. É quase só Calladan e Arrakis, dando a impressão de um universo muito mais restrito e inventivo do que me pareceu ser o caso quando vi o longa de 84. Há ainda uma dificuldade de transpor conceitos e momentos aparentemente muito difíceis para a linguagem audiovisual sem se valer da "muleta" do voice over como na outra adaptação. O momento do "dardo do traidor" contra Paul Atreides, por exemplo, ficou com aquele gosto de "quê?".
Na estética, há sem dúvida nenhuma melhoras parciais na comparação com a datadíssima adaptação de Lynch, principalmente nos escudos ligados por botão e na cenografia. O design das naves e dos figurinos ficou legal, embora meio confuso no tocante a ser ou não um negócio meio "moderno" e não meio medieval, como aquele universo que repeliu as máquinas high-tech talvez demandasse. O trabalho de efeitos sonoros é bom e as poucas cenas de ação satisfazem
Vou ainda discordar de dois elogios categóricos que DUNA versão 2021 vem recebendo a torto e a direito: trilha musical e fotografia. Hans Zimmer é, diferente da fama que tem, um dos PIORES compositores da mainstream hollywoodiana, fazendo uma tapeçaria musical sem identidade nem marca, se escorando em barulhada e vocais. Em BLADE RUNNER 2049 ele não chega a atrapalhar e até casa com o futuro distópico e caótico daquele universo, mas aqui ficou parecendo muita pompa pra pouca circunstância. O tema musical central do filme de 84 era bem melhor (e mais memorável). Já a fotografia, putz, não é a sombra do que vimos no longa anterior de Villeneuve. Quando está em Arrakis, usa e abusa de vento e areia pra economizar na CGI. No resto, é sombras e a insuportável "paleta cinzenta" que tomou de assalto o cinema comercial faz tempo.
Apesar dos muitos contras, não é um filme ruim. Chega a ter momentos realmente impactantes e emocionantes mesmo sendo introspectivos, não tem aqueles trechos simplesmente risíveis como no longa de 84 (como o "bafo letal" do Duque Leto) e o elenco é satisfatório, apesar de nada especialmente marcante.
Resumidamente, a expectativa para uma eventual parte 2 (que o estúdio nem teve culhão pra bancar por antecedência) cai significativamente pra mim e cresce a impressão de ser uma história infilmável mesmo. Mas sobretudo, cresce também o interesse em ler o livro, o que um dia eu ainda tenho que fazer pra rever todas essas adaptações a partir de uma nova perspectiva...
Bobajada surrealista sem nexo nem qualquer marca artística mais profunda, apesar de vagos e esparsos bons momentos isolados (especialmente pela performance do sempre carismático Marcello Mastroianni). Quem nasceu pra Raoul Ruiz nunca chega a Luis Buñuel.
Uma das muitas vantagens de Taiwan ser devolvida ao lugar que lhe pertence (caso isso aconteça), a saber, uma mera província da China continental, é que o cinema mocorongo de gente prolixa e esquecível como Hsiao-Hsien e Edward Yang daria mais espaço para cineastas do naipe de um Zhang Yimou. Quem nasceu pra Taipei nunca chega a Pequim mesmo.
(Re)Visto hoje na versão de três horas, com montagem de fã, disponível na faixa no Youtube, alternando entre dublagem e som original legendado.
Acho que não só a edição nova, como a própria idade (afinal, vi a versão de 84 em VHS faz uns quinze anos) me fizeram entender melhor a história, embora muito ainda se perca numa adaptação (não li o livro - mas a curiosidade só aumenta) muito provavelmente infilmável.
Tem ainda defeitos sérios, como momentos francamente ridículos - o pior é o momento do "bafo letal" do Duque Leto (Jurgen Prochnow). Elenco irregular, com o clã do barão flutuante bem caricato. Parte visual igualmente irregular, com excelente figurino, cenografia boa apesar de umas bolas foras e efeitos visuais estupidamente datados até para os padrões de 1984. Já os efeitos práticos de design são bons, como o impressionante visual do guild navigator. Gosto da música tema principal, todavia nem tanto das incursões guitarrísticas repentinas em Arrakis. Fora os momentos do roteiro que só mesmo quem leu o livro entenderá.
O saldo final dessa montagem acaba sendo mediano, um pouco melhor que a memória que eu tinha da época da versão do cinema em VHS. Foi pouco pra deixar o filme bem no meu conceito, mas muito pra aguçar minha curiosidade sobre a versão Dennis Villeneuve que vem logo ali e, principalmente, para a obra literária que foi a base de tudo...
Tentativa meia-sola de um cineasta genial de compreender a cultura e o momento social dos EUA na virada dos anos cinquenta para os sessenta do século passado.
Tem sacadas ótimas sim e momentos memoráveis, como a cena com a boa metáfora da galinha devorada. Mas tem defeitos, principalmente a personagem songamonga que dá título ao filme, muito aquém da malícia duvidosa de uma Lolita do Nabokov.
Enfim, é acima da média sem dúvidas e como análise de um estrangeiro sobre aquele país, naquele momento, rende um caldo. Mas não vá esperando uma obra-prima padrão LOS OLVIDADOS, nem de longe...
Inacabado e raso, bastante comprometido pela ausência das cenas no navio sobretudo no primeiro ato planejado pelo diretor.
E francamente, ninguém aguenta mais o milionésimo filme sobre campo de concentração nazista. A LISTA DE SCHINDLER e O PIANISTA, somados, já serviriam pra esgotar um tema explorado à exaustão no cinema mundial enquanto vários outros temas da Segunda Guerra Mundial ficam bem menos evidenciados.
Ah, e pra quem quiser um filme bom polonês sobre a SGM, recomendo o ótimo KANAL, do Wajda.
Bom (melo)drama do diretor bengalês Ritwik Ghatak, com elenco capitaneado pela atriz de CHARULATA e A GRANDE CIDADE, Madhabi Mukherjee. A tragédia final é cruel e filmada de modo contundente.
Não chega a ser tão bom quanto o filme anterior do cineasta, MEGHE DHAKA TARA, especialmente porque o uso das canções ficou pior aqui do que naquele filme e o desenvolvimento do personagem do pai adotivo precisava ser mais longo na fase da infância pro efeito final ser ainda mais intenso.
Mas é um longa bastante acima da média de qualquer forma. Restou a curiosidade de conhecer mais da filmografia de Ghatak.
Como disseram ai embaixo, sessão da tarde soviético. Infelizmente só vai ser mesmo empolgante para o público local. Para o resto de nós vai ser só uma comédia pastelão totalmente esquecível, como é também o outro longa do mesmo diretor que vi, SEQUESTRO NO CÁUCASO.
Aquém do que eu esperava. O uso de reconstituições por flashbacks em "câmera lenta" ficou meio tosco e tem falsas polêmicas (pelo menos na minha opinião, claro) incensadas à exaustão como se fossem o mais importante daquele episódio todo. Por exemplo, se o "canibalismo" deles seria justificável ou não. Claro que é, caramba. O pessoal já tava morto mesmo - que pelo menos o cadáver servisse para manter os demais vivos. Isso não faria de nenhum deles um sósia comportamental do Hannibal Lecter.
Sonhos da Ópera de Pequim
3.7 4Esquecível sessão da tarde de Hong Kong. Se for pra ver ação chinesa daquele período, prefira os longas do John Woo.
O Romance de um Trapaceiro
3.4 9Irônico que um sujeito como Truffaut seja admirador se Sacha Guitry. Afinal, foi a (quase sempre chatíssima) "nouvelle vague" que enterrou de modo irreversível o cinema muito superior produzido na França nos anos trinta, quarenta e cinquenta do século passado.
O ROMANCE DE UM TRAPACEIRO é só mais um de muitos representantes dessa ótima safra, com uso sarcástico e cortante da narração over pelo filme todo, especialmente no primeiro ato com o impagável flashback sobre a infância do protagonista.
Tempestades D'Alma
4.0 26Embora longas sobre o holocausto judeu encham demais o saco vistos aos olhos de 2021 e o montante inacreditável que o cinema dos países da OTAN produziu sobre o assunto, é necessário reconhecer a coragem do diretor Frank Borzage (do excelente filme mudo SÉTIMO CÉU) de tratar esse tema ainda antes do ataque de Pearl Harbour, como também fez O GRANDE DITADOR do Chaplin.
Naquela época (anos trinta até 1940), pra quem não sabe (e infelizmente são muitos que desconhecem esse fato), boa parte do povo estadunidense nutria uma ingênua (apesar de distanciada) simpatia pelo Terceiro Reich.
O Sonho Azul
3.7 16REVISIONISMO HISTÓRICO MANIQUEÍSTA
Revolução cultural chinesa é um assunto que me desperta reações mistas, mais que, or exemplo, o Grande Salto Adiante. Com todos os inegáveis exageros, não dá pra deixar de notar que há sim um caráter louvável, arrojado e progressista na ideia em si dos alunos tomarem as rédeas dos professores.
Infelizmente, essas nuances acabam não sendo contempladas neste e em vários outros longas noventistas dos chineses que acabam por condenar de modo unidimensional esses acontecimentos.
O SONHO AZUL acaba sendo apenas razoável no todo. Narrativa agradável (diferente do tedioso longa anterior do mesmo cineasta, LADRÃO DE CAVALOS), elenco atuando no piloto automático e um roteiro que exagera no partidarismo. Dessa safra revisionista histórica da revolução maoísta, o melhor filme sem dúvidas é TEMPO DE VIVER, do Zhang Yimou.
Arcanjo
3.2 5Exercício de estilo banal e descartável. Quem nasceu pra Guy Maddin nunca chega a Buñuel.
O Canto de Jimmie Blacksmith
3.5 8O período do cinema australiano que vai de WAKE IN FRIGHT até UTU, cobrindo toda a década de setenta até o começo dos oitenta, foi prolífico em ótimos produtos. Gerou cineastas de grande calibre, como Peter Weir e George Miller.
O CANTO DE JIMMIE BLACKSMITH é mais um representante dessa boa safra que veio da Oceania naquele período, sendo tematicamente parecido com o já citado UTU (1983), embora não tenha personagens tão memoráveis e nem a verve satírica do longa de 83. É muito bem feito esteticamente e tem cenas de revolta contra o colonialismo graficamente violentas de modo acertado, já que o tema pedia mesmo por mais choque e impacto.
Loulou
3.7 25"Melhor um cara pobre que me coma direito do que um rico que não saiba fazer nada." (minha Isabelle Huppert é GIGANTE!)
Pena que fora alguns bons momentos (e diálogos) isolados, além de boas performances do casal central, é um longa bastante esquecível, mal e porcamente dirigido pelo mesmo cineasta do péssimo SOB O SOL DE SATÃ, um dos piores vencedores da história da Palma de Ouro.
A Vida Como Ela É
3.3 2Mockumentary é um gênero que tende a envelhecer bem justamente porque, graças ao paradigma da microeletrônica (ascensão da internet e seus derivados), a confusão entre o que é real e o que é ficção, intromissão da mídia na vida privada e temas correlatos só tende a ganhar força. Infelizmente.
As Quatro Irmãs
3.4 14Longa que poderia ser banal estilo adaptação de Jane Austen com estética novela das seis, porém com política um pouco mais densa que o normal do gênero (tem verve claramente feminista) e elenco competente. Acima da média.
Duna: Parte 1
3.8 1,6K Assista AgoraFui assistir de novo e muita coisa melhorou bem no meu conceito, apesar de ainda não ser nem um filme que eu classificaria sequer como "muito bom".
Visualmente tem méritos grandes no figurino e no design de produção, como as naves parecendo libélulas que lembram uma criação de Leonardo Da Vinci. Ainda tenho problemas com os dois pontos mais badalados da estética dessa adaptação (a fotografia e a música), porém agora bem menos que na primeira assistida. Se ainda há sombra e névoa demais na fotografia, pelo menos agora o recurso tem mais sentido narrativo - embora, repito, continua sendo um visual pasteurizado e preguiçoso pra economizar CGI. E se tem mesmo gritaria e vocal demais na música, não dá pra negar que a faixa PAUL'S DREAM é super bonita.
De resto, o roteiro fez muito mais sentido numa revisão e é mesmo relativamente fácil de seguir para quem, como eu, não conhece o livro. O primeiro e o segundo atos - do prólogo até o ataque surpresa Harkonnen - beiram a perfeição e não desperdiçam um só diálogo. O que dá uma freada brusca e parece deslocado é o terceiro ato, todo no deserto e antecipando o começo do arco com os fremen que, arrisco dizer, poderia tranquilamente ser passado na íntegra para a agora confirmada parte 2, de modo que a parte 1 terminasse de modo mais impactante, memorável e até surpreendente - a la final das temporadas 1 e 3 de GAME OF THRONES.
Quando vier a segunda metade e não for mais encarado como filme independente, aí teremos noção exata do quanto Villeneuve acertou e do quanto errou na adaptação.
Duna
2.9 412 Assista AgoraVersão pro cinema - nota 4
Versão fanedit de 3h - nota 6
Trilha musical da banda Toto e design de produção do guild navigator - nota 10
Viy: A Lenda do Monstro
3.8 81Cine trash soviético. Vale a assistida pela curiosidade de ver um "terrir" temperado pelo cristianismo ortodoxo e só.
O Incrível Homem Que Encolheu
4.1 116 Assista AgoraCRISE DA MASCULINIDADE, VERSÃO BABY BOOMER
Que a gente anda vendo filmes sobre a crise do que representa ser homem, viril, masculino e etc na cinematografia mais recente - que vai de ALIEN a CORINGA, entre tantos outros - já sabemos que é chover no molhado. Mas a curiosidade foi ver esse tipo de conflito numa geração não tão distante do imediato pós-guerra nos EUA, quando ainda se estava num período de maior bonança social e cultural naquele país.
Oriundo do distante ano de 1957, O INCRÍVEL HOMEM QUE ENCOLHEU é, na superfície, um longa de menos de noventa minutos até divertidinho estilo QUERIDA ENCOLHI AS CRIANÇAS. Uma sessão da tarde dos anos cinquenta pra entreter os mais incautos. Numa análise mais freudiana do filme é que ele realmente mostra a que veio. Se você trocar "homem" por "falo" no título do filme, vai matar quase toda a charada vendo o longa a partir dessa perspectiva.
A partir daí, diálogos sobre a crise do casamento, com a mulher cada vez literalmente maior que o sujeito com medo de soar ridículo tanto para a parceira quanto aos olhos alheios, não parecem tão casuais no roteiro. E de jeito nenhum é por acaso que a "antagonista" do filme acaba sendo justamente um inseto agigantado que remete ao órgão sexual feminino.
Quem quiser ver em O INCRÍVEL HOMEM QUE ENCOLHEU um mero passatempo infanto-juvenil até vai se divertir, embora a experiência tropeçará em efeitos visuais arcaicos e sobretudo num elenco fraco (a atriz que faz a esposa, principalmente, é péssima!). Mas é nessa análise psicanalítica, que te convido aqui a fazer, que você realmente vai conseguir ver contornos mais densos no enredo.
India Song
3.3 21 Assista AgoraPrecisamos falar sobre a çolidaum da colonialista entediada: vai cortar uns hectares de cana que passa. Ponto.
Puta filminho soporífero do caraio...
Duna: Parte 1
3.8 1,6K Assista AgoraMUITA AREIA PRA POUCO CAMINHÃO
Dennis Villeneuve foi o melhor cineasta dos anos 2010. Desde INCÊNDIOS até a gloriosa sequência tardia de BLADE RUNNER, passando no meio do caminho por gemas da sétima arte como A CHEGADA e o subestimadíssimo O HOMEM DUPLICADO, o canadense pegou o mundo do cinema - tanto artística quanto comercialmente - de supetão e revelou uma inventividade que eu já considerava morta e enterrada lá pras bandas da América do Norte.
Quando foi anunciada sua intenção de adaptar DUNA, filmado antes numa versão razoável pelo tresloucado David Lynch (que eu revi há poucos dias em montagem alternativa de três horas), fiquei bastante ansioso. Desde o longa de 84, com todos os seus muitos erros, vejo potencial naquela história literária que nunca li, mas cuja curiosidade nasceu e só cresceu agora com esse filme novo.
Infelizmente, porém, o resultado final é novamente decepcionante e - na qualidade de quem nunca leu a obra de Frank Herbert - passo cada vez mais a concordar com as muitas vozes que classificam o livro de 65 como "infilmável". O resultado final foi um roteiro adaptado pelas metades, interrompido de modo meio abrupto, com um produto final confuso no enredo e claudicante na estética.
No tocante ao enredo, DUNA ficou parecendo só uma espécie de passagem (até bem contadinha, porém limitada) pela ascensão e queda do clã Atreides. Pouco sabemos sobre o clã rival Harkonnen (apesar das aparições do barão e seu sobrinho serem impactantes) e principalmente sobre o imperador. É quase só Calladan e Arrakis, dando a impressão de um universo muito mais restrito e inventivo do que me pareceu ser o caso quando vi o longa de 84. Há ainda uma dificuldade de transpor conceitos e momentos aparentemente muito difíceis para a linguagem audiovisual sem se valer da "muleta" do voice over como na outra adaptação. O momento do "dardo do traidor" contra Paul Atreides, por exemplo, ficou com aquele gosto de "quê?".
Na estética, há sem dúvida nenhuma melhoras parciais na comparação com a datadíssima adaptação de Lynch, principalmente nos escudos ligados por botão e na cenografia. O design das naves e dos figurinos ficou legal, embora meio confuso no tocante a ser ou não um negócio meio "moderno" e não meio medieval, como aquele universo que repeliu as máquinas high-tech talvez demandasse. O trabalho de efeitos sonoros é bom e as poucas cenas de ação satisfazem
Vou ainda discordar de dois elogios categóricos que DUNA versão 2021 vem recebendo a torto e a direito: trilha musical e fotografia. Hans Zimmer é, diferente da fama que tem, um dos PIORES compositores da mainstream hollywoodiana, fazendo uma tapeçaria musical sem identidade nem marca, se escorando em barulhada e vocais. Em BLADE RUNNER 2049 ele não chega a atrapalhar e até casa com o futuro distópico e caótico daquele universo, mas aqui ficou parecendo muita pompa pra pouca circunstância. O tema musical central do filme de 84 era bem melhor (e mais memorável). Já a fotografia, putz, não é a sombra do que vimos no longa anterior de Villeneuve. Quando está em Arrakis, usa e abusa de vento e areia pra economizar na CGI. No resto, é sombras e a insuportável "paleta cinzenta" que tomou de assalto o cinema comercial faz tempo.
Apesar dos muitos contras, não é um filme ruim. Chega a ter momentos realmente impactantes e emocionantes mesmo sendo introspectivos, não tem aqueles trechos simplesmente risíveis como no longa de 84 (como o "bafo letal" do Duque Leto) e o elenco é satisfatório, apesar de nada especialmente marcante.
Resumidamente, a expectativa para uma eventual parte 2 (que o estúdio nem teve culhão pra bancar por antecedência) cai significativamente pra mim e cresce a impressão de ser uma história infilmável mesmo. Mas sobretudo, cresce também o interesse em ler o livro, o que um dia eu ainda tenho que fazer pra rever todas essas adaptações a partir de uma nova perspectiva...
Três Vidas e Uma Só Morte
3.3 9Bobajada surrealista sem nexo nem qualquer marca artística mais profunda, apesar de vagos e esparsos bons momentos isolados (especialmente pela performance do sempre carismático Marcello Mastroianni). Quem nasceu pra Raoul Ruiz nunca chega a Luis Buñuel.
A Cidade das Tristezas
4.1 16Uma das muitas vantagens de Taiwan ser devolvida ao lugar que lhe pertence (caso isso aconteça), a saber, uma mera província da China continental, é que o cinema mocorongo de gente prolixa e esquecível como Hsiao-Hsien e Edward Yang daria mais espaço para cineastas do naipe de um Zhang Yimou. Quem nasceu pra Taipei nunca chega a Pequim mesmo.
Duna
2.9 412 Assista AgoraADAPTAÇÃO MEIA-BOCA QUE AGUÇA A CURIOSIDADE
(Re)Visto hoje na versão de três horas, com montagem de fã, disponível na faixa no Youtube, alternando entre dublagem e som original legendado.
Acho que não só a edição nova, como a própria idade (afinal, vi a versão de 84 em VHS faz uns quinze anos) me fizeram entender melhor a história, embora muito ainda se perca numa adaptação (não li o livro - mas a curiosidade só aumenta) muito provavelmente infilmável.
Tem ainda defeitos sérios, como momentos francamente ridículos - o pior é o momento do "bafo letal" do Duque Leto (Jurgen Prochnow). Elenco irregular, com o clã do barão flutuante bem caricato. Parte visual igualmente irregular, com excelente figurino, cenografia boa apesar de umas bolas foras e efeitos visuais estupidamente datados até para os padrões de 1984. Já os efeitos práticos de design são bons, como o impressionante visual do guild navigator. Gosto da música tema principal, todavia nem tanto das incursões guitarrísticas repentinas em Arrakis. Fora os momentos do roteiro que só mesmo quem leu o livro entenderá.
O saldo final dessa montagem acaba sendo mediano, um pouco melhor que a memória que eu tinha da época da versão do cinema em VHS. Foi pouco pra deixar o filme bem no meu conceito, mas muito pra aguçar minha curiosidade sobre a versão Dennis Villeneuve que vem logo ali e, principalmente, para a obra literária que foi a base de tudo...
A Adolescente
3.8 16Tentativa meia-sola de um cineasta genial de compreender a cultura e o momento social dos EUA na virada dos anos cinquenta para os sessenta do século passado.
Tem sacadas ótimas sim e momentos memoráveis, como a cena com a boa metáfora da galinha devorada. Mas tem defeitos, principalmente a personagem songamonga que dá título ao filme, muito aquém da malícia duvidosa de uma Lolita do Nabokov.
Enfim, é acima da média sem dúvidas e como análise de um estrangeiro sobre aquele país, naquele momento, rende um caldo. Mas não vá esperando uma obra-prima padrão LOS OLVIDADOS, nem de longe...
A Passageira
3.9 8Inacabado e raso, bastante comprometido pela ausência das cenas no navio sobretudo no primeiro ato planejado pelo diretor.
E francamente, ninguém aguenta mais o milionésimo filme sobre campo de concentração nazista. A LISTA DE SCHINDLER e O PIANISTA, somados, já serviriam pra esgotar um tema explorado à exaustão no cinema mundial enquanto vários outros temas da Segunda Guerra Mundial ficam bem menos evidenciados.
Ah, e pra quem quiser um filme bom polonês sobre a SGM, recomendo o ótimo KANAL, do Wajda.
Subarnarekha
3.2 3Bom (melo)drama do diretor bengalês Ritwik Ghatak, com elenco capitaneado pela atriz de CHARULATA e A GRANDE CIDADE, Madhabi Mukherjee. A tragédia final é cruel e filmada de modo contundente.
Não chega a ser tão bom quanto o filme anterior do cineasta, MEGHE DHAKA TARA, especialmente porque o uso das canções ficou pior aqui do que naquele filme e o desenvolvimento do personagem do pai adotivo precisava ser mais longo na fase da infância pro efeito final ser ainda mais intenso.
Mas é um longa bastante acima da média de qualquer forma. Restou a curiosidade de conhecer mais da filmografia de Ghatak.
Ivan Vassilevich Muda de Profissão
3.9 10Como disseram ai embaixo, sessão da tarde soviético. Infelizmente só vai ser mesmo empolgante para o público local. Para o resto de nós vai ser só uma comédia pastelão totalmente esquecível, como é também o outro longa do mesmo diretor que vi, SEQUESTRO NO CÁUCASO.
A Informante
3.8 327 Assista AgoraBacaninha por apontar o dedo pra ONU, algo que raramente vejo. Mas como drama é raso e tem elenco mal dirigido.
A Sociedade da Neve
4.2 31 Assista AgoraAquém do que eu esperava. O uso de reconstituições por flashbacks em "câmera lenta" ficou meio tosco e tem falsas polêmicas (pelo menos na minha opinião, claro) incensadas à exaustão como se fossem o mais importante daquele episódio todo. Por exemplo, se o "canibalismo" deles seria justificável ou não. Claro que é, caramba. O pessoal já tava morto mesmo - que pelo menos o cadáver servisse para manter os demais vivos. Isso não faria de nenhum deles um sósia comportamental do Hannibal Lecter.